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Serguei Lavrov fala em teleconferência de imprensa sobre a situação internacional Moscovo, 14 de abril de 2020

Como a maioria dos nossos colegas de outras especialidades e profissões, estamos em regime de teletrabalho. Por isso, suspendemos, por enquanto, formas tradicionais de atividades diplomáticas como trocas de visitas, negociações seguidas de conferências de imprensa e comentários. Uma vez que não deixamos de receber perguntas sobre como, nestas circunstâncias, a Rússia atua no cenário internacional, atendemos ao vosso pedido para darmos uma conferência de imprensa. 

Pergunta: Considera-se a hipótese de alteração dos procedimentos de saída de cidadãos russos ao estrangeiro devido à pandemia do coronavírus e após a abertura das fronteiras? O que será necessário para o efeito: vistos de saída, um teste de coronavírus negativo ou outras coisas? Esta questão está a ser discutida com os nossos parceiros?

Serguei Lavrov: Por enquanto, ninguém está a discutir esta questão. Penso que agora não temos na Rússia ninguém disposto a ir ao estrangeiro. Em princípio, não pode haver proibições, porque o direito à liberdade de locomoção está consagrado na nossa Constituição. Acho que, neste momento, se trata de fazer com que o menor número possível de pessoas fique doente e morra. Todas as medidas que estão a ser tomadas pelo Comité de Combate ao Coronavírus do Governo da Federação da Rússia são bem conhecidas. Estamos a cumprir rigorosamente as suas decisões. Voltarei ao tema da saída do país. Não temos nenhuma intenção de adotar a prática de vistos de saída. Não consigo imaginar uma situação em que esta ideia venha a ser discutida em termos práticos. Não encontro razões para me preocupar com aqueles que desejem gozar do seu direito constitucional quando as respectivas possibilidades, inclusive a circulação aérea e outros métodos de locomoção, forem restabelecidas.   

Pergunta: A minha pergunta também está ligada ao coronavírus. Washington continua a criticar as ações da Organização Mundial de Saúde (OMS). O que pensa a Rússia desta conduta norte-americana numa altura em que todo o mundo, todos os países quase sem exceção, e a OMS continuam a lutar contra a pandemia do coronavírus? O senhor acha que esta crítica é útil e construtiva ou os EUA não deveriam ter-se comportado desta forma agora?

Serguei Lavrov: Em princípio, é bem sabido o que e quando a OMS fez. Existem os respectivos dados estatísticos. Acho que qualquer um que queira conhecer o cronograma das medidas, declarações e decisões tomadas pela OMS terá a oportunidade de ver que a OMS atuou de forma eficaz. Mais do que isso, o facto de a OMS ter desempenhado e continuar a desempenhar um importante papel de coordenação para ajudar a combater a pandemia tem reflexos na recente resolução de consenso da Assembleia Geral da ONU e na declaração final da cimeira de emergência do G20. Em ambos os casos, os EUA apoiaram ativamente o consenso. Entendemos que esta é uma posição oficial do país. Gostaria de advertir contra as tentativas de politizar o tema do coronavírus, o que se verifica agora não só no caso da OMS. Alguns países também são criticados. Acho preferível voltarmos as atenções para a tomada de medidas concretas para fazer frente à pandemia e minimizar os danos por ela causados à saúde e à vida humanas. Só depois é que poderíamos proceder à análise das lições da “campanha” passada, dos erros cometidos e do papel desempenhado pelas instituições multilaterais. 

Mais uma vez sobre a OMS: quando falamos da forma como este organismo atuou, não devemos esquecer que os EUA são o maior contribuinte da OMS. O maior contribuinte tem sempre uma representação prioritária nas estruturas e nos secretariados das organizações internacionais por ele financiados. A OMS tem o maior número de norte-americanos em posições-chave. Não duvido que eles são bons profissionais e tomam decisões conscientes e competentes.

Pergunta: Constatámos também que a propagação do coronavírus alterou a  vida internacional, os seus aspectos económico e político. Qual mecanismo o senhor acha que deveria ser criado agora para que os maiores países do mundo combatam solidariamente a pandemia? Existe uma ameaça à paz e à estabilidade internacionais se a epidemia não for derrotada num curto espaço de tempo?

Serguei Lavrov: A pandemia pôs a descoberto problemas muito graves, em primeiro lugar, aqueles que decorrem do principal desafio: salvar vidas humanas, garantir a sua segurança, a sua segurança médica e biológica, manter um “habitat” humano confortável e livre de ameaças à vida e à saúde humanas.

O segundo desafio, parece que só o preguiçoso não fala disso hoje, é a economia. A economia de países individualmente e a economia mundial, o impacto da pandemia do coronavírus no comércio, nas atividades de  investimento e nas cotações cambiais. Vocês estão a ver o que se passa em termos de procura por alguns produtos, até recentemente muito procurados.  O mesmo pode ser dito sobre as fontes de energia. Tudo isso exige decisões urgentes por parte de países e de organizações em que eles são membros. Este é o segundo desafio mais importante enfrentado atualmente pela humanidade. 

O terceiro desafio. Esta situação põe à prova não só os países como também as associações de integração e outras organizações das quais elas fazem parte. Acho que, depois de vencermos juntos esta ameaça global e obtermos um "antídoto" para enfrentar situações como esta no futuro, teremos de rever  as atividades de estruturas multilaterais. Talvez passemos a compreender melhor o que os europeus pensam, por exemplo, sobre a União Europeia e a Aliança do Atlântico Norte. Teremos uma melhor compreensão de como abordar a cooperação no espaço pós-soviético, as atividades da União Económica Eurasiática (UEE), da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) e de outras estruturas. Serão, talvez, muito promissoras discussões em formatos como o G20 e o grupo BRICS. Por falar nisso, gostaria de recordar que, em 2018, no âmbito dos BRICS, foi tomada uma decisão sobre um programa de cooperação para o desenvolvimento e aplicação de vacinas. Os nossos parceiros chineses e nós consideramos que estes trabalhos são muito importantes.   

No que respeita às relações russo-chinesas no contexto da pandemia, 

desde o início da crise temos vindo a cooperar uns com os outros. No início de fevereiro deste ano, retirámos os nossos cidadãos de Wuhan e enviámos lá ajuda humanitária. Agora estamos a receber ajuda dos nossos amigos chineses. Eles conseguiram ultrapassar o pico da pandemia e normalizar a vida do país e das pessoas. A ajuda mútua é, a meu ver, o princípio fundamental que todos os países devem seguir neste período difícil. 

Pergunta: O senhor acha que a situação em termos de propagação do coronavírus pode afetar os planos de convocar uma cimeira dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU programada para setembro deste ano em Nova Iorque? É possível que esta cimeira aconteça mais cedo do que o previsto devido à necessidade de dar uma resposta coletiva à crise provocada pelo coronavírus? Discute-se a possibilidade de realizar esta reunião por videoconferência?

Serguei Lavrov: Digo desde já que nenhum acordo sobre as data da cimeira foi alcançado. Queremos dizer (e todos os nossos parceiros, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU estão de acordo) que a cimeira em causa acontecerá em regime presencial e reunirá fisicamente os líderes dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Existe um acordo de princípio de que o evento terá como objetivo fazer uma análise abrangente aos acontecimentos ocorridos no mundo em todas as áreas relacionadas, de alguma forma, com a segurança humana e a estabilidade estratégica. A sua agenda está a ser discutida a nível dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros.

Sei que se falava de setembro como data para a reunião, mas nenhuma decisão a este respeito foi tomada. As datas da cimeira devem ser aprovadas por consenso pelos líderes de todos os países. No que respeita à possibilidade de uma videoconferência, não a excluímos. Todavia, uma videoconferência não substituirá a cimeira e só será possível se os Chefes de Estado considerarem, já nesta fase, necessário consultarem-se mutuamente sobre as tarefas imediatas e medidas extra para combater o coronavírus.

Pergunta: Haverá uma reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países do Conselho da Europa em maio deste ano em Estrasburgo? Por exemplo, o seu colega alemão, Heiko Maas, disse recentemente que está muito ansioso por se encontrar consigo pessoalmente, o mais rapidamente possível, e que está mesmo pronto a usar uma máscara nas negociações. Em que medida estes planos são realistas quanto ao mês de maio?

Serguei Lavrov: Uma vez que Heiko Maas disse isto publicamente e não me disse nada diretamente, eu também quero transmitir-lhe, por seu intermédio, o meu convite para uma visita a Moscovo a qualquer data e hora se ele encontrar uma forma de chegar cá. Assim que ele aterrar aqui, garantir-lhe-emos a segurança total da sua vida e saúde e a saúde da sua comitiva. Que ele venha. Heiko, se me estás a ouvir, estou a falar a sério.

Quanto à sessão do Comité de Ministros do Conselho da Europa  que deveria realizar-se em maio e encerrar a Presidência georgiana. Os georgianos pediram para mudá-la para Estrasburgo devido aos seus problemas internos que não vou sequer comentar. Todavia, o Conselho da Europa atendeu à situação em termos de coronavírus e propôs convocar a reunião em novembro, na Grécia, país que sucede à Geórgia na presidência rotativa do Conselho da Europa. 

Pergunta: Pode ser que, depois de a epidemia acabar, a telediplomacia por videoconferência continue a ser mais preferível do que as negociações tradicionais?

Serguei Lavrov: Penso que os acentos de toda a atividade diplomática serão transferidos para o formato de videoconferências. Este formato era utilizado já antes da pandemia. Mesmo assim, este formato jamais substituirá o contato pessoal. Há coisas que, por definição, não podem ser conversadas sem se olhar nos olhos. Eu disse isso muitas vezes. Nunca os meios técnicos modernos, os quais você deve dominar, virão a substituir a comunicação pessoal, tanto mais que há coisas que não podem ser registadas no papel nem podem ser transmitidas através dos meios de comunicação electrónicos e só podem ser discutidas em um ambiente de absoluta confiança e confidencialidade.

Pergunta: No fim-de-semana passado, o Vice-Ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Riabkov, disse que a Rússia e os EUA haviam concordado em criar um grupo de trabalho sobre o espaço. Porque isso é importante agora, durante a pandemia? O que é que a Rússia quer exatamente obter com este grupo?

Serguei Lavrov: Não é que queiramos obter alguma coisa. Este é um simples resultado do nosso diálogo de há muito  com os EUA sobre os mecanismos que ambas as partes, Moscovo e Washington, consideram relevantes e sobre as questões em que a cooperação russo-norte-americana pode ser o mais proveitosa possível. Sem dúvida, o espaço exterior e tudo o que lhe está associado, é uma das questões em que os nossos dois países ocupam posições de liderança, o que foi recentemente confirmado durante o contato do Presidente russo, Vladimir Putin, com a tripulação russo-norte-americana na Estação Espacial Internacional (ISS) e durante os contactos telefónicos entre os nossos Presidentes, em particular, durante a sua conversa telefónica no Dia do Cosmonauta, a 12 de abril deste ano. Os EUA e nós temos a intenção de retomar os trabalhos concretos sobre a estabilidade estratégica em geral. 

Há algumas semanas, recebi um telefonema do Secretário de Estado dos EUA. Quero conversar outra vez com ele ao telefone nos próximos dias. Mike Pompeo falou sobre o reinício das negociações sobre o controlo dos armamentos e a estabilidade estratégica em geral. Elogiamos muito este interesse dos nossos parceiros norte-americanos, pois há muito tempo que os encorajamos a abordar esta problemática de forma mais empenhada. 

Os nossos vices tiveram uma ronda de consultas. A Rússia fez-se representar pelo Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Riabkov. Todavia, queremos discussões muito mais concretas, inclusive aquelas sobre o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START) e o seu destino. Estamos igualmente abertos a falar de novos projetos avançados, entre os quais as armas hipersónicas, de modo que, gostaria de o salientar em especial, sejam tidos em conta todos os aspectos e fatores sem exceção,  relevantes para a estabilidade estratégica. Entre eles os planos de colocação de armas no espaço exterior, armas estratégicas não nucleares, o futuro do Tratado de Proibição Total de Ensaios Nucleares (CTBT) e muitos outros aspectos. Queremos discutir todas estas questões, inclusive aquelas  referentes ao espaço. 

Quanto à problemática espacial, dispomo-nos a falar com os nossos colegas norte-americanos não só sobre a iniciativa russo-chinesa de longa data que impede a colocação de armas no espaço. Os EUA são, de facto, o único país a não querer dar “luz verde” a esta iniciativa. Nós, porém, estamos dispostos a discutir a nossa cooperação no uso do espaço para fins pacíficos e a dar continuidade às discussões sobre a iniciativa acima citada. Prestámos atenção ao memorando assinado pelo Presidente dos EUA, Donald Trump,  sobre as perspectivas da exploração do espaço, inclusive a Lua. Ele salientou que os EUA encaram esta questão através do prisma das disposições do Tratado sobre os Princípios que Regem as Atividades dos Estados na Exploração e Utilização do Espaço Sideral, Incluindo a Lua e Outros Corpos Celestes, de 1967. A Rússia, como os EUA, é parte deste Tratado e, como os EUA, não é parte de um outro acordo sobre as atividades dos Estados na Lua e outros corpos celestes, de 1979. Este acordo conta com pouco mais de dez países signatários, entre os quais não há nenhuma das grandes potências espaciais. Ao mesmo tempo, nós e os EUA somos fieis aos princípios consagrados no Tratado de 1967. Por isso, à luz das iniciativas avançadas por Donald Trump (no memorando ele salienta a necessidade de apoio internacional aos planos de desbravamento da Lua, em particular, em conformidade com o Tratado de 1967), consideramos que esta abordagem é correta e estamos dispostos a cooperar a fim de encontrarmos posturas universalmente aceitáveis.

Pergunta: No início de abril, as autoridades municipais de Praga removeram a estátua do marechal soviético Ivan Konev, cujas tropas haviam participado na libertação da capital checa. O lado russo pediu que a estátua removida fosse entregue à Rússia. Como se sabe, o Ministério da Defesa da República Checa recusou o pedido da Rússia. Quais outras medidas serão tomadas pela Rússia? Seguiremos insistindo em que a República Checa nos entregue o monumento? 

Serguei Lavrov: Claro que as ações das autoridades municipais de Praga  não podem ser vistas senão como indignantes e cínicas e contrárias ao Tratado sobre Relações de Amizade e Cooperação fechado entre a Rússia e a República Checa em 1993 e que estipula os compromissos das partes de preservar e cuidar dos monumentos e memoriais militares e de garantir livre acesso aos mesmos. As declarações das autoridades checas de que as disposições do referido Tratado não foram violadas não correspondem à verdade. 

Podemos avaliar, mais ou menos negativamente, aquilo que aconteceu. Prestei atenção à declaração do Presidente checo, Milos Zeman. Ele disse: “Aquilo que foi feito a este monumento é tolo e ridículo. Na verdade, isso tem pouco de ridículo. O facto é que esta medida torpedeou os acordos que têm sido a base das nossas relações nos últimos 30 anos”. 

Dizem-nos que este monumento era propriedade municipal. Mas sabemos bem que não o é, porque, antes de ser retirado, o monumento figurava no registo nacional da República Checa como objeto memorial. Consideramos que esta controvérsia só poder ser resolvida em conformidade com o referido Tratado de 1993. A propósito, as personalidades públicas do país que não estão indiferentes ao ocorrido manifestaram o seu desacordo e indignação. Algumas organizações sociais e não-governamentais da República Checa intentaram uma ação judicial contra as autoridades municipais de Praga-6. Muitas organizações não-governamentais locais enviam à Embaixada russa correspondências em que partilham a nossa opinião de que esta atitude para com os resultados da Segunda Guerra Mundial é inadmissível. Um detalhe interessante veio à tona. Como se sabe, a decisão foi tomada pela câmara municipal de Praga-6 presidida por Ondřej Kolář. O seu pai era funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros checo, embaixador nos EUA e na Rússia, exercendo atualmente as funções de conselheiro de uma empresa de consultoria norte-americana que, ressalto, elaborou para as autoridades municipais checas um parecer para justificar a remoção do monumento. 

Vamos insistir em que a parte checa cumpra os seus compromissos estipulados no Tratado de 1993. Esperamos muito que eles tenham consciência dos riscos decorrentes do agravamento desta situação.

Pergunta: Numa altura em que a ONU, a OMS e as principais capitais mundiais exortam à consolidação dos esforços face a uma ameaça comum, algumas forças parecem estar a aguardar o momento certo para agir. A comprová-lo estão a situação em torno do monumento ao marechal Ivan Konev e as tentativas de provocar um escândalo em torno da ajuda russa a alguns países europeus. Que forças são estas? Quem está por trás delas? Quais são os seus objetivos?

Serguei Lavrov: Assistimos aos reflexos “russofóbicos”, semelhantes aos descobertos pelo nosso grande cientista Ivan Pavlov. Acho que estes reflexos existiam antes da pandemia, continuam a existir durante a pandemia e continuarão a existir quando a pandemia acabar.  Há políticos que se dedicam exclusivamente à russofobia, porque não são capazes de mais nada. Como a prática mostra, a sua conduta russofóbica permite-lhes ter um conforto material e apoio de algumas capitais. É desnecessário citá-las. Penso que isso é triste.

Ao responder a uma das perguntas anteriores, eu disse que seria necessário rever o papel e as capacidades de alguns países de resistir às ameaças globais comuns, bem como o papel, as capacidades e a consistência das estruturas multilaterais das quais estes países fazem parte. Refiro-me a  todas as associações da Eurásia, do espaço euro-atlântico e de outras regiões do mundo. Teremos de compreender o que pretendemos fazer:  moralizar ou agir moralmente. Esta é uma das principais conclusões a tirar. Penso que os conceitos que enfatizarão a comunhão da humanidade terão futuro. Os nossos amigos chineses avançaram o conceito de construção de uma comunidade de destino comum da humanidade. Este conceito é criticado, os seus críticos suspeitam que as belas palavras escondam alguns interesses. Pode ser. Mas este conceito foi apresentado para a consulta pública e visa a conjugação dos esforços. Quando se apresentam os conceitos de dissuasão da Rússia, da China e de outros países, esta é uma filosofia um pouco diferente e negativa que tem por base a acentuação dos confrontos e o fomento das contradições. Penso que a popularidade e a procura pelas pessoas que mandam hoje nesta vertente irá diminuir após o fim da pandemia do coronavírus.

Pergunta: Há uns dez dias, a Rússia enviou aos EUA um avião carregado de materiais para combater o coronavírus. Moscovo continuará a prestar ajuda aos seus parceiros norte-americanos?

O senhor falou da intenção da Rússia de desenvolver um diálogo com os norte-americanos sobre temas como armas estratégicas e espaço, mas isso requer contactos. Os seus vices mantêm hoje contactos com o lado norte-americano em regime remoto? 

Serguei Lavrov: Equipamento médico, consumíveis e equipamento de proteção individual foram enviados aos EUA por acordo direto entre o Presidente da Rússia e o Presidente dos EUA. Donald Trump manifestou interesse em receber esta ajuda e esta ajuda foi enviada. Sabem que esta ajuda foi paga por estruturas empresariais da Rússia e dos EUA. Se recebermos outros pedidos dos EUA para fornecer equipamento ou meios de proteção, iremos certamente considerá-los. Vladimir Putin e Donald Trump falaram disso anteontem ao telefone.  O Presidente dos EUA salientou que, se a Rússia tiver necessidades de algum equipamento, os EUA, depois de instalarem a sua produção em quantidades suficientes, poderão enviá-lo ao nosso país. Acho que esta é uma parceria normal que merece todo o tipo de  apoio.

Quanto às negociações, como eu já disse, estamos todos em regime de teletrabalho. Há questões, inclusive aquelas relativas à estabilidade estratégica em todos os seus aspectos mencionados por si, que podem ser discutidas tranquilamente em formato de videoconferências e conferências telefónicas. Mas há assuntos, os quais  seria melhor adiar até que a situação no mundo permita o reatamento de contactos diplomáticos diretos. Esta é a nossa posição neste momento. 

Pergunta: Quais das sanções norte-americanas ou europeias o senhor acha que devem ser levantadas em primeiro lugar? Como pode isto estar realmente relacionado com a pandemia do coronavírus?

Serguei Lavrov: Pode estar diretamente relacionado. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, já disse isso muito claramente. A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, avançou a mesma iniciativa, exortando, no contexto da mobilização de esforços para o  combate ao coronavírus, entre outras medidas, ao abandono das sanções unilaterais que impedem o fornecimento de produtos médicos e de outros bens de primeira necessidade tão necessários às pessoas comuns para cumprir as recomendações dos médicos. As sanções unilaterais em si são ilegítimas, enquanto as sanções que contornam as Nações Unidas e reduzem a capacidade de combater a pandemia nestas circunstâncias são imorais e desumanas.

Assistimos a coisas como a ajuda do empresário chinês Jack McMoney, fundador do “Grupo Alibaba” aos países da América Latina. Esta ajuda chegou aos seus destinatários. Tal não foi o caso de Cuba. A ajuda destinada a Cuba foi interceptada pelos EUA e não chegou a Havana. Do mesmo modo, os norte-americanos proíbem os cubanos de comprarem o equipamento médico necessário por dinheiro, utilizando a sua posição no mercado destes bens e equipamento e o papel do dólar nas operações bancárias. Ao mesmo tempo, os EUA (para o meu grande pesar, não é digno de um grande país) lançaram uma campanha para desacreditar os médicos cubanos que trabalham em dezenas de países do mundo, contribuindo para a solução de difíceis problemas do setor de saúde. Há muitos anos que o fazem, trabalham na América Latina e em outras regiões do mundo, desde antes da pandemia. Atualmente, os cubanos trabalham em quase 60 países, incluindo países europeus, entre os quais a Itália, mostrando as suas melhores virtudes e ajudando a resolver problemas muito importantes. A dignidade deste povo merece o maior respeito.

É importante que haja um acordo internacional que qualifique de inadmissíveis as sanções unilaterais, especialmente aquelas que afetam os interesses humanitários das pessoas comuns. A Assembleia Geral da ONU adotou a primeira resolução que estipula os princípios da luta contra o coronavírus. Penso que uma outra está por vir. Também aprovou e divulgou a título de documento oficial da ONU uma declaração conjunta do Grupo dos 77 e da China, a qual a Rússia apoiou sem reservas. O documento deixa bem claro que as sanções unilaterais são inadmissíveis, especialmente numa altura em que uma ameaça tão grave paira sobre toda a humanidade.

Discutimos também a reação do Conselho de Segurança da ONU ao que se passa no mundo devido à infeção pelo coronavírus. Estou convencido de que, em qualquer decisão sobre esta questão, o Conselho de Segurança não pode deixar de lado o problema das sanções ilegítimas unilaterais, que são impostas sem a aprovação deste importantíssimo órgão da ONU. Durante muitos anos, muito antes de a situação atual ter surgido, a Rússia, juntamente com uma série de outros países, tem vindo a defender o conceito de limite humanitário das sanções. Quando os nossos colegas ocidentais “fazem passar” as suas sanções durante as negociações do Conselho de Segurança da ONU, quando eles impõem unilateralmente medidas restritivas, eles dizem que estas restrições não são contra os povos, mas contra os “regimes”, como eles dizem, e visam “induzi-los a mudar o seu comportamento”. Nada disso. Vejam-se os resultados das sanções na Venezuela, Irão, Coreia do Norte, Síria, Cuba e outros países. Eles prejudicaram diretamente as pessoas comuns. Por isso, o tema das sanções ilegítimas e da inadmissibilidade de ultrapassar os critérios humanitários manter-se-á e tornar-se-á ainda mais relevante depois de sairmos desta situação de crise.

Pergunta: O que o senhor pensa da recolha de assinaturas pelas forças progressistas em países como o Reino Unido e a França e dos esforços de alguns países para o levantamento do embargo norte-americano a Cuba? Esta política de Washington está-se a tornar totalmente cínica e desumana numa altura em que todo o mundo luta contra a pandemia do coronavírus. 

Serguei Lavrov: Praticamente ninguém apoia a política de embargo contra Cuba seguida pelos EUA durante muitas décadas. Todos os anos, a Assembleia Geral da ONU aprova uma resolução em que afirma que este embargo é inadmissível e defende o seu levantamento imediato. A mais recente resolução aprovada em novembro de 2019 obteve um número recorde de votos favoráveis, 187.  Apenas três países votaram contra: os EUA, Israel e, infelizmente, o Brasil. Dois países abstiveram-se: a Colômbia e a Ucrânia, o que também é muito triste. A esmagadora maioria dos votos favoráveis ao fim desta prática ilegal é um sinal muito importante.

Infelizmente, estes sinais ainda não tiveram qualquer efeito visível em Washington. Nos nossos contactos com os nossos colegas norte-americanos apontamos que esta posição é contraproducente. O povo de Cuba está interessado em boas relações com todos os países, incluindo os EUA. Certificamo-nos disso sempre que contactamos com os nossos amigos cubanos. Claro que isso só é possível com base no respeito mútuo e nos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, no respeito pela soberania e o direito dos povos de escolher livremente o seu destino.

Pergunta: Há pouco o senhor pediu para não politizar o tema da epidemia do coronavírus. Mas isto está a acontecer e a Rússia está a ser acusada de politizar a situação causada pelo coronavírus. Numa entrevista, o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, afirmou que a Rússia e a China prestam ajuda a  outros países, por exemplo, à Itália, para reforçar o seu papel geopolítico no mundo. Tem algum comentário sobre isso? Como é que a política externa da Rússia muda na situação provocada pelo coronavírus? Como pode a geopolítica mundial mudar depois desta pandemia?

Serguei Lavrov: Quanto à primeira parte da sua pergunta: há vários provérbios a este respeito. Por exemplo, “cada um mede com a sua régua”,  ou seja, a maneira como cada um pensa mostra o seu nível de educação, “a língua sempre se volta para o dente doente”. Isso é a título de comentário em relação ao uso das questões puramente humanitárias para fomentar o confronto geopolítico. É triste saber que Josep Borrell afirmara o que o senhor citou e que há pessoas que tentam fazer de uma mosca um elefante e apresentar as iniciativas realizadas, digamos, na Itália como quase invasão militar do território da NATO e da UE.

Infelizmente, tais materiais também aparecem em alguns meios de comunicação social italianos. Muito recentemente, o jornal “La Stampa” publicou um artigo deste gênero em que tentou depreciar a importância da ajuda prestada pela Rússia à Itália. Vou recordar uma coisa muito simples àqueles que fazem declarações semelhantes, incluindo o meu bom camarada Josep Borrell. A Rússia prestou ajuda à Itália a pedido direto do Primeiro-Ministro deste país, Giuseppe Conte. Penso que este é um argumento suficiente. 

O facto de a nossa Embaixada em Roma estar a receber dezenas, centenas de telefonemas e mensagens de agradecimento de italianos comuns é a melhor resposta a todas as insinuações utilizadas para depreciar a importância daquilo que está a acontecer e conferir a estes acontecimentos uma conotação política.

O senhor disse que a China também está a ser criticada. Estamos cientes disso. Isto também é lamentável, porque os nossos amigos chineses, que ultrapassaram o pico da epidemia no seu país, estão a trabalhar para que a sua economia volte ao normal e a procurar ajudar outros países, a partilhar a sua experiência que adquiriram no combate a este mal no seu país. Quando ouvimos dizer que a China "terá de pagar a todos por esta infeção" e que, supostamente, “alguém não informou oportunamente alguém”, consideramos que isso ultrapassa todos os limites e cruza a linha da decência. Ouvi dizer que alguém em Londres calculou que a China devia à União Europeia 3 biliões 700 mil milhões de dólares ou euros pelos danos causados pela pandemia. Algumas pessoas sugerem arrestar os bens imóveis chineses no estrangeiro, se a China se recusar a indemnizar. No final de contas, há quem declare isso a sério em público. Entre eles personalidades oficiais. Acho que isso é inaceitável. Não adianta usar a sua medida para julgar os outros.

Por falar da má fama, recentemente, verificou-se  que 550 tripulantes do porta-aviões T.Roosevelt estavam contagiados pelo coronavírus, ou seja, o coronavírus infetou um quarto ou até um terço do pessoal do porta-aviões. Alguns relatos diziam que o coronavírus atingiu outros porta-aviões da Marinha dos EUA. A imprensa norte-americana relata que a situação nas bases militares norte-americanas em todo o mundo está longe de ser favorável. Trata-se de cerca de 800 instalações localizadas à volta da Rússia e da China. O que fazer com isso? 

Neste caso, acho que é muito importante não apontar o dedo e perceber que enfrentamos um risco comum e que só podemos lutar juntos, conjugando os esforços, e não antagonizar países. 

Pergunta: A minha pergunta é sobre as condições de trabalho do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo na atual situação: o Departamento de Estado norte-americano afirmou recentemente que o coronavírus já infetou mais de 300 diplomatas norte-americanos, havendo mesmo quatro mortes. Qual é a situação no Ministério dos Negócios Estrangeiros russo?

Serguei Lavrov: Imediatamente após o Comité de Combate ao Coronavírus ter tomado as decisões pertinentes, aplicámos medidas de precaução no nosso Ministério e nas nossas repartições estrangeiras. Cerca de 50% dos funcionários do Ministério, dos seus órgãos centrais e territoriais foram colocados em regime de teletrabalho. Apenas o pessoal, sem o qual é difícil ficar nos edifícios do Ministério dos Negócios Estrangeiros, permanece em regime de trabalho presencial. Trabalhamos cumprindo o “distanciamento social” e todas as normas de higiene sanitária, o que todos deveriam fazer.

Quanto às nossas repartições estrangeiras, cancelámos férias, viagens em missão de serviço. Todos os nossos colegas trabalham nas embaixadas, nos  consulados gerais, cumprindo todas as prescrições das nossas autoridades sanitárias. Isto implica, naturalmente, alguns elementos de quarentena. Em particular, as nossas escolas localizadas em países estrangeiros adotaram um regime de ensino remoto. Nem tudo corre bem, nem todas as escolas têm potencialidades técnicas adequadas, mas a situação exige que apliquemos estas medidas. Todo o pessoal que está em regime de trabalho presencial é submetido todos os dias aos testes prescritos. Por enquanto, Deus tem piedade de nós. Espero que, se continuarmos a cumprir todas as prescrições do Serviço Federal de Supervisão em matéria de Proteção dos Direitos do Consumidor e Bem-Estar Humano (Rospotrebnadzor) e do Ministério da Saúde, passemos bem por esta situação. 

Pergunta: A minha pergunta é sobre o futuro.  Durante todos os 75 anos após o fim da última guerra mundial, quando foi estabelecida a última ordem mundial, países, inclusive a Rússia, tentaram conter o início de uma outra guerra de grande envergadura. Mas, infelizmente, esta começou recentemente. Esta é uma guerra pela vida. Ela atingiu todo o mundo, por mais pomposo que isso soe. Mais cedo ou mais tarde, a pandemia acabará, mas o mundo não será o mesmo. Para já, cada país luta sozinho, apesar de hoje termos falado muito sobre a ajuda da Rússia à Itália, aos EUA, à Sérvia. Também recebemos e continuamos a receber ajuda da China. Mas globalmente, não há coesão, não há trabalho conjunto para lidar com a pandemia global. Além disso, as alianças existentes mostraram que não funcionam nestas circunstâncias. O senhor acha que esta situação terá reflexos na presente ordem mundial? O que ela será após o fim da pandemia?

Serguei Lavrov: Ao responder a uma das primeiras perguntas, eu disse que o terceiro grande desafio, a par do combate à pandemia propriamente dito e da resolução dos problemas difíceis enfrentados pelas economias de todos os países e pela economia mundial, é o destino das estruturas multilaterais, o seu papel e a sua consistência. Os resultados da luta contra o coronavírus mostrarão quais os países, quais as estruturas multilaterais que passaram no teste a que haviam sido submetidos por esta terrível ameaça, por esta crise. Compreendo os seus receios de que as manifestações egoístas de alguns países a que estamos a assistir neste momento possam prevalecer no futuro e que alguns países tentem fechar as suas fronteiras. Desde já, os países Schengen estão a discutir preocupados como poderão continuar a conviver. Não obstante, acredito que um espírito de coletivismo acabará por  prevalecer. Isso pode não ocorrer de imediato. Para que isso aconteça, teremos de realizar reuniões e falar. Não temos outra saída. Todos devemos ter esperança e fazer os possíveis para que esta crise se torne em uma “vacina” contra o egoísmo, o messianismo e a tentação de  continuar a resolver os seus problemas à custa dos interesses de outros países. Provavelmente, Isto não vai acontecer de imediato. Temos de confiar em factos, que se tornam cada vez mais numerosos, para ver quão difícil é lutar sozinho contra tais ameaças. Temos de possuir o poder de persuasão. Na cimeira dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, proposta pela Rússia, os seus líderes considerarão não só as questões da estabilidade estratégica e da segurança como também abordarão inevitavelmente os problemas relacionados com o futuro funcionamento e o papel das instituições multilaterais.

Pergunta: Tenho uma pergunta sobre ajuda humanitária a outros países. Quais são as reações no mundo, o que o senhor ouviu, podemos esperar a melhoria da atitude dos países europeus para com Moscovo e até mesmo o levantamento das sanções?

Serguei Lavrov: Já dissemos muitas vezes que as sanções são um tema que não vamos sequer discutir. Se a União Europeia compreender que este método já se esgotou e abdicar das decisões tomadas em 2014, certamente,    retribuiremos. Mas não vamos pedir-lhe que faça isso. Além disso, eu já disse várias vezes que, numa situação em que os nossos parceiros nos decepcionaram, renunciaram aos seus compromissos em muitas questões, enveredámos por um caminho que deve proporcionar-nos a possibilidade de nos apoiarmos nas nossas próprias forças, sejam quais forem as novas reviravoltas na posição dos nossos colegas ocidentais. Isso não significa, de forma alguma, que nos isolemos. Estamos sempre abertos a uma cooperação igual e mutuamente vantajosa. Mas, tendo em conta a forma como o Ocidente se comportou após 2014, devemos precaver-nos contra a recorrência destas reviravoltas na posição dos nossos colegas ocidentais.

Mais uma vez: quanto aos acontecimentos de 2014 na Ucrânia, sentimo-nos magoados pelo Ocidente que, por intermédio da França, da Alemanha, da Polónia e dos EUA, se esforçava por promover um acordo entre o então Presidente da Ucránia, Viktor Yanukovych, e a oposição. Finalmente, o acordo foi assinado. O ato foi testemunhado e aprovado por escrito pelos governos de Paris, Berlim e Varsóvia. Quando, no dia seguinte, este acordo foi espezinhado, todos os nossos colegas ocidentais disseram que a “democracia venceu”. Hoje em dia, vemos todos os dias o que esta democracia significa: marchas das tochas sob bandeiras de divisões SS e bandeiras de organizações ultra-extremistas proibidas também no Ocidente.

Já falei muitas vezes sobre este tema. Somos terminantemente contra as sanções que contornam a Carta das Nações Unidas, mas não temos nenhuma intenção de priorizar a questão do levantamento das sanções, a todo o custo, nas nossas relações com a União Europeia. Seremos pacientes e concentrar-nos-emos em um trabalho criador dentro do nosso país e em desenvolver relações com os países que estão prontos para isso sem quaisquer reservas. A propósito, tais países são muitos, inclusive na União Europeia. Espero que as lições desta crise sejam úteis a todos nós. 

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