17:36

Intervenção inicial e respostas do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, a perguntas da comunicação social durante a conferência de imprensa conjunta após a reunião com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Sultanato de Omã, Badr Albusaidi, Omã, 11de maio de 2022

Senhoras e Senhores,

Gostaria de começar por expressar os meus sinceros agradecimentos aos nossos colegas e amigos de Omã pelo caloroso acolhimento. Tivemos hoje um dia cheio. Tivemos reuniões com Sua Majestade o Sultão Haitham bin Tariq Al Said, o Vice-Primeiro-Ministro para o Conselho de Ministros de Omã, Fahd bin Mahmoud Al Said, e o meu colega e amigo, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Badr bin Hamad Albusaidi.

Discutimos toda a gama de relações Rússia-Omã e manifestámos a nossa satisfação com o intenso diálogo político e a cooperação entre os nossos dois países nas áreas de comércio, economia, cultura e educação.

Concordámos que o fluxo comercial entre os nossos dois países é bastante modesto e está aquém do seu potencial. Identificámos eventuais áreas de trabalho que possam favorecer o desenvolvimento de projetos conjuntos e mutuamente benéficos nos domínios da energia, turismo, transportes, telecomunicações, e outras áreas.

Acordámos em estimular e promover as atividades do Conselho Empresarial Rússia-Omã que se reuniu em janeiro passado. Trabalharemos para melhorar o quadro jurídico e concluir a elaboração de um acordo sobre a isenção de vistos para os cidadãos dos dois países. Continuaremos a concretizar projetos conjuntos nas áreas de cultura, investigação científica e educação, aproveitando a experiência rica e muito útil de cooperação entre o Museu Hermitage e o Museu Nacional do Sultanato de Omã.

Temos posições próximas ou idênticas em relação à maioria dos assuntos regionais e internacionais. Valorizamos a posição equilibrada e objetiva do Sultanato sobre a solução síria. Estou confiante de que o regresso da Síria à Liga dos Estados Árabes irá ajudar o processo. O Sultanato de Omã, que nunca fechou a sua embaixada em Damasco, pode desempenhar um papel importante neste processo.

Registámos o papel positivo de Omã e dos países do Conselho de Cooperação do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, no avanço do processo de paz no Iémen.

Somos unânimes em considerar que é necessário fazer os possíveis para a retomada das conversações palestino-israelitas diretas e para a resolução definitiva deste conflito de longa data com base nas soluções jurídicas internacionais existentes.

Valorizamos o papel de Omã no reforço da estabilidade e segurança na região do Golfo. A posição equilibrada de Mascate faz dele uma importante plataforma neutra para as mais diversas iniciativas diplomáticas. Esta posição ressoa completamente com o Conceito de Segurança Coletiva da Rússia para o Golfo Pérsico que foi atualizado em 2021 e que está a ser analisado a nível de peritos.

Fizemos o ponto da situação na Ucrânia, com destaque para o seu impacto geopolítico, aos nossos interlocutores omanianos no contexto da operação militar especial lançada pela Federação da Rússia. Não estamos a esconder os seus objetivos. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou sobre eles várias vezes, inclusive durante o desfile militar na Praça Vermelha de 9 de maio. Estes objetivos são os seguintes: proteger a população das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk do regime neonazi de Kiev e garantir que o Ocidente não utilizará a Ucrânia para criar uma ameaça militar à segurança da Federação da Rússia.

Demos ênfase às numerosas notícias falsas forjadas pelo regime de Kiev para justificar as suas ações criminosas.

Esperamos que a nossa operação militar quando for concluída após serem cumpridas todas as metas fixadas, ajude a pôr termo às tentativas do Ocidente de minar o direito internacional, ignorar e violar grosseiramente os princípios da Carta das Nações Unidas, incluindo o da igualdade soberana dos Estados, e faça com que o Ocidente deixe de promover a ideia de um "mundo unipolar" dominado pelos EUA e os seus aliados.

A diversidade cultural, religiosa e civilizacional do mundo atual deve ser respeitada. A época do colonialismo pertence ao passado. Isto tem de ser reconhecido.

Terminámos as conversações com a Federação da Rússia e o Sultanato de Omã a reafirmarem a sua fidelidade aos princípios em que as Nações Unidas se baseiam e a manifestarem-se a favor do papel central da ONU nos assuntos internacionais.

Pergunta (via intérprete do árabe): Gostaria que o senhor avançasse maiores detalhes sobre o seu encontro com o Sultão. O senhor vê alguma intenção da ONU de resolver a crise na Ucrânia?

Serguei Lavrov: Comentei os assuntos que foram abordados na reunião com o Sultão, o Vice-Primeiro-Ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Sultanato de Omã. Referem-se às nossas relações bilaterais e ao seu desenvolvimento, ao nosso intercâmbio comercial, aos nossos laços culturais e humanitários, ao desenvolvimento do turismo e aos temas internacionais que já comentámos detalhadamente.

Agora, sobre o papel das Nações Unidas. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, visitou Moscovo e manifestou-se preocupado com os problemas humanitários na Ucrânia. Foram-lhe dadas todas as explicações e factos necessários que provavam que o lado russo havia organizado, todos os dias, corredores humanitários para a retirada de civis. Todavia, os "batalhões nacionalistas" radicais mantinham civis como reféns para utilizá-los como escudo humano e instalavam armas pesadas em bairros residenciais para provocar a Rússia a bombardear instalações civis. Informámos o Secretário-Geral de que as pessoas que conseguem escapar às áreas controladas pelos nacionalistas ucranianos falam sobre os horrores que viveram quando eram mantidos reféns pela soldadesca ucraniana.

Continuamos a abrir corredores humanitários. Estão a ser usados por civis. Estamos interessados em que todos os civis abandonem estas zonas.

Considerando o interesse expresso por António Guterres, sugerimos-lhe que dirigisse os seus apelos às autoridades de Kiev e lhes pedisse que deixassem de impedir os civis de saírem das zonas de operações militares.

Representantes do Secretariado da ONU estão agora no local a tentar ajudar a resolver as questões que levantámos.

Relativamente a um papel mais amplo (do que um simples papel humanitário) que a ONU poderia desempenhar, infelizmente, o Secretariado, incluindo o Secretário-Geral da ONU, perderam a oportunidade de encontrar uma solução política, pois não reagiram de forma alguma, durante oito anos, às ações do regime de Kiev para sabotar a Resolução 2202 do Conselho de Segurança que aprovou os acordos de Minsk sobre a resolução do conflito no leste da Ucrânia.

Se, após esta resolução ter sido aprovada por unanimidade pelo Conselho de Segurança em fevereiro de 2015, o Secretariado tivesse tentado instar as autoridades ucranianas a cumprir os seus compromissos previstos naquele documento, não teríamos hoje os problemas criados por Kiev com a conivência e o apoio aberto dos EUA e dos seus aliados.

Pergunta (via intérprete do inglês): O que poderia ser uma saída para Omã e os países do CCG devido à rutura do abastecimento alimentar como as verduras e o óleo de coco e outros alimentos? Encontraram uma solução para minimizar os problemas em termos de abastecimento alimentar?

Serguei Lavrov: Não sou a pessoa certa para pedir para responder. As nossas ações não influenciaram, nem podem influenciar, os problemas que mencionou e que surgiram devido exclusivamente às proibições e sanções ilegais impostas por países ocidentais. Estas proibições destruíram num só dia cadeias de transporte e logística de longa data que eram cómodas e eficazes e que estão agora cortadas devido à posição do Ocidente. Acreditamos que esta é uma política absolutamente agressiva para a economia global e o comércio de todos os países.

No seu relatório recentemente divulgado sobre a segurança alimentar e energética, o Secretário-Geral da ONU não mencionou o enorme impacto negativo das sanções ocidentais na situação. Não é bom que a Organização internacional universal ignore o estado de coisas objetivo e evite fazer uma análise abrangente e honesta.

Gostaria de citar um facto concreto de toda esta história: as autoridades de Kiev não deixam dezenas de embarcações, incluindo as que transportam trigo para diferentes regiões do mundo, sair dos seus portos. Até minaram a saída dos seus portos, impedindo que os navios ali presos sejam resgatados.

Propusemos várias vezes abrir corredores humanitários para retirar os navios com mercadorias. No entanto, o lado ucraniano recusa-se a cooperar. Os seus patrões ocidentais ignoram completamente esta situação.

Pergunta (via intérprete do árabe): Durante a sua visita à Argélia, o senhor disse que o seu país estava a fazer tudo o que estava ao seu alcance para acabar com o "mundo unipolar". Qual é a estratégia para atingir este objetivo? Não acha que um conflito armado em grande escala pode surgir na Europa enquanto formos avançando rumo a este objetivo?

Serguei Lavrov: A estratégia é simples: cumprir os compromissos decorrentes da Carta das Nações Unidas, incluindo o respeito pela igualdade soberana dos Estados, abandonar os seus hábitos coloniais, renunciar às ambições neoimperialistas e cumprir fielmente os seus compromissos internacionais. Isto é o mais importante.

Os nossos objetivos na Ucrânia são muito claros: não permitir que os direitos da população russa e de língua russa na Região de Donbass que foi ameaçada de extinção pelo regime de Kiev sejam violados e impedir o Ocidente de transformar a Ucrânia numa cabeça-de-ponte para ameaçar militarmente a Federação da Rússia.

Se o senhor está preocupado com a perspetiva de uma guerra na Europa, digo-lhe que não o queremos de forma alguma. Por outro lado, faço notar que é o Ocidente que está constantemente a declarar que a Rússia precisa de ser derrotada nesta situação. Tire conclusões por si próprio.

Pergunta: Como Moscovo encara a posição do Sultanato de Omã sobre questões regionais e internacionais, em particular o processo de paz na Síria? O que o senhor tem a dizer sobre a posição omaniana em relação à crise ucraniana?

Serguei Lavrov: Já comentei as nossas conversas sobre assuntos regionais na minha intervenção inicial.

Valorizamos a posição bem equilibrada e responsável do Sultanato sobre o processo de paz na Síria e sobre as questões relacionadas com a criação de condições para o lançamento de um processo de negociação inclusivo entre todas as forças iemenitas, valorizamos a posição do Sultanato de Omã sobre a segurança no Golfo, entre os países árabes e a República Islâmica do Irão. A nossa avaliação é coerente e bem conhecida.

Quanto à posição de Omã sobre a crise na Ucrânia, acreditamos que é bem equilibrada e reflete os interesses racionais do seu povo. Esta abordagem é partilhada por todos os outros países da região e foi fixada nas decisões do Conselho de Cooperação do Golfo e da Liga Árabe.

Pergunta (via intérprete do inglês): Que medidas está o Governo russo a tomar para neutralizar as sanções ocidentais e até que ponto Moscovo pode suportar sanções por parte dos EUA, a UE e o Banco Mundial contra o seu sector energético? 

Serguei Lavrov: Temos uma noção clara do que devemos fazer. A principal conclusão que tirámos é a de que não devemos ver o Ocidente como parceiro com quem se pode chegar a um acordo. Provou que, para implantar a sua hegemonia (este objetivo é, evidentemente, ilusório), o Ocidente é capaz de violar os princípios que defendia e de cometer roubos. A inviolabilidade da propriedade privada e a presunção de inocência, ou seja, valores de que a civilização ocidental se jactanciou durante todos estes anos, apresentando-os como princípios fundamentais dos seus países, tudo isso foi "posto no lixo", foi grosseiramente violado.

Já tirámos as nossas conclusões. Contaremos com as nossas próprias forças e com os nossos parceiros confiáveis que, na sua esmagadora maioria, não fazem parte do ex-grupo dos "mil milhões de ouro".

Temos clientes suficientes para os nossos recursos energéticos. Iremos trabalhar com eles. Que o Ocidente pague muito mais do que pagou à Federação da Rússia e explique à sua população por que razão tem de se tornar mais pobre.

Pergunta (via intérprete do árabe): Como mencionado, a relação comercial entre os dois países está aquém do seu potencial. Existem planos de realizar investimentos ou de projetos?

Serguei Lavrov: Na minha intervenção inicial, expus as áreas que consideramos promissoras para o estreitamento da nossa cooperação económica: trata-se de energia, telecomunicações, transportes e logística. Temos o Conselho Empresarial e temos de aproveitar ao máximo as possibilidades que este proporciona. Vamos fazê-lo.

Zusätzliche Materialien

  • Foto

Fotoalbum

1 von 1 Fotos im Album

  • Allgemeine Informationen

    Bildergalerien

    • Украина
    • Украина
    • Украина
    • Украина
    • Украина