die Sozialistische Republik Vietnam
Intervenção inicial e respostas do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, a perguntas dos jornalistas após a reunião com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Socialista do Vietname, Bui Thanh Son, Hanói, 06 de julho de 2022
Cumprimos a primeira parte da nossa visita à República Socialista do Vietname. Tivemos longas e intensas conversações com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Bui Thanh Son. Discutimos as relações bilaterais através, particularmente, do prisma da implementação dos acordos alcançados pelos Presidentes dos nossos dois países nos finais de 2021 e da concretização da Declaração Conjunta sobre o Reforço da Parceria Estratégica Global entre a Federação da Rússia e a República Socialista do Vietname que completa o seu décimo aniversário este ano.
Abordámos detalhadamente a agenda internacional, a nossa cooperação nas Nações Unidas e os processos que decorrem na Ásia-Pacífico, com destaque para o desenvolvimento de uma parceria estratégica entre a Rússia e a ASEAN. Passamos em revista os problemas criados para a economia global pelos países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos. Temos uma compreensão de como continuar a construir os nossos laços comerciais, económicos e de investimento nas atuais circunstâncias para que não sejam impactadas negativamente pelas sanções ilegítimas e unilaterais anunciadas pelos EUA, a UE e os seus aliados na região.
As nossas conversações foram muito oportunas e permitiram-nos traçar novos passos concretos para aprofundar a cooperação bilateral em todos os domínios sem exceção, incluindo o humanitário, o educativo e o técnico-militar.
Pergunta: As relações entre os nossos dois países estão a desenvolver-se e têm um caráter estratégico. Como o senhor avalia a vontade das empresas vietnamitas de continuarem a operar no mercado russo no meio de sanções e numa altura em que os EUA continuam a exercer pressão sobre as empresas internacionais que decidiram permanecer na Rússia?
Serguei Lavrov: As empresas vietnamitas veem muito bem o interesse e os benefícios de continuar a desenvolver os seus laços económicos e de investimento com a Federação da Rússia. Temos uma cooperação estreita e estruturada no setor de energia. Temos empresas mistas especializadas na produção e fornecimento de hidrocarbonetos aos mercados internacionais. Hoje assinalámos que estas empresas vão continuar o seu trabalho. Também discutimos projetos económicos e comerciais, inclusive os da indústria automóvel, dos setores de saúde, farmacêutica e de outras áreas de atividade conjunta.
É sintomático que, apesar das restrições pandémicas e das sanções ilegais, o nosso intercâmbio comercial cresceu 25% em 2021, mantendo-se esta tendência estável nos primeiros meses deste ano. Penso que os números falam por si.
Pergunta: O senhor poderia comentar as alegações de Kiev de que o exército russo estaria a bombardear as cidades russas para impedir os fornecimentos de armas ocidentais à Ucrânia?
Serguei Lavrov: Em resumo, eles estão a mentir. Os factos são bem conhecidos e são apresentados diariamente pelo nosso Ministério da Defesa. Sejam quais forem as interpretações que sejam dadas pelo Presidente Vladimir Zelensky e a sua equipa, o Ocidente deve estar consciente da sua responsabilidade pela morte de civis, sobretudo na Região de Donbass e noutras regiões da Ucrânia, onde o regime de Kiev está a utilizar estas armas contra a população civil em grande parte como meio de intimidação. É terror de Estado.
Pergunta: Alguns países ocidentais que fazem parte do G20 exortaram a excluir a Rússia deste formato. Houve tentativas concretas de impedir que o senhor participasse nas conversações de Bali? Em caso afirmativo, porque falharam?
Serguei Lavrov: Não sei se houve ou não. Recebemos convites do lado indonésio para a reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros que abre amanhã em Bali e para a cimeira do G20 que se realiza em novembro próximo. Se estas tentativas tiveram mesmo lugar, as autoridades indonésias deixaram-nas passar despercebidas.
Pergunta: No último fim-de-semana, Paris tornou públicas as conversações confidenciais entre Vladimir Putin e Emmanuel Macron. Se esta é uma nova atitude para com a diplomacia, qual é a posição do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em relação à realização de conversas delicadas? É possível evitar tais fugas?
Serguei Lavrov: Por uma questão de princípio, realizamos as negociações de modo que nunca nos envergonhemos. Dizemos sempre o que pensamos. Estamos prontos a assumir a responsabilidade pelas nossas palavras e a explicar a nossa posição. Acredito que a ética diplomática não implica uma fuga unilateral de gravações. Já comentámos esta situação.
Na nossa prática só foi uma única vez que foi publicada a gravação das minhas conversas com os chefes das diplomacias da Alemanha e da França. Na altura, ainda estávamos a trabalhar no âmbito do formato Normandia, tentando convencer Berlim e Paris de pressionar o regime de Kiev a deixar de sabotar a implementação dos acordos de Minsk que foram coordenados com os alemães e franceses e aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU. No que respeita à política de padrões duplos seguida na altura pelos meus colegas, Ministros dos Negócios Estrangeiros da França e da Alemanha, as suas respostas a estes argumentos foram bastante reveladoras.
Posicionando-se como garantes dos acordos de Minsk, eles fizeram tudo para "inocentar” o regime de Kiev e justificar o seu desejo flagrante de fazer abortá-los. Petro Poroshenko diz ter assinado os acordos de Minsk sem nenhuma intenção de os cumprir. Diz que era necessário ganhar tempo e receber armas ocidentais para tirar desforra. Este é um facto objetivo. Agora podemos afirmar com certeza que a posição assumida por Berlim e Paris com vista a “inocentar” o regime de Kiev tinha por objetivo apoiar tais ações e tal lógica. Antes de tornar públicas as minhas conversas com os meus colegas franceses e alemães, avisámo-los três vezes de que, se não recebêssemos uma explicação inteligível para a rejeição dos documentos acordados com a sua participação direta, seríamos forçados a tornar públicas as nossas discussões. Paris e Berlim não responderam a nenhum dos nossos três avisos. Obviamente, existe uma "pequena” diferença entre estes dois casos.
Pergunta (traduzida do inglês): O que o senhor espera da reunião do G20? Tem contactos bilaterais agendados à margem da reunião?
Serguei Lavrov (resposta traduzida do inglês): O G20 tem a sua própria agenda. Discutiremos as questões incluídas na ordem de trabalhos. Recebemos vários pedidos de reuniões bilaterais, que serão devidamente organizadas.
Pergunta (traduzida do inglês): Qual é o objetivo da sua visita ao Vietname? Que resultados foram alcançados nas conversações bilaterais realizadas hoje? Terá sido abordado o tema das relações entre a Rússia e a Ucrânia? Qual é a posição do lado vietnamita sobre esta questão?
Serguei Lavrov (reposta traduzida do inglês): O objetivo da minha visita é promover uma parceria estratégica abrangente. Estou a retribuir a visita feita pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Socialista do Vietname, Bui Thanh Son, a Moscovo em setembro de 2021. O intercâmbio de visitas anuais é uma prática diplomática normal.
Durante as nossas conversações, discutimos muitas questões, incluindo a situação criada em resultado de políticas ocidentais abertamente russofóbicas com vista a criar uma ameaça para a Federação da Rússia em território ucraniano e a manter a determinação neonazi do regime de Kiev.
Valorizamos a posição equilibrada e objetiva do Vietname, que se recusou a aderir às sanções ilegais anti-russas, e o seu desejo de desenvolver uma cooperação plena com a Federação da Rússia, tanto a nível bilateral como internacional.