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Intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, na abertura da exposição alusiva aos 195 anos das relações diplomáticas entre a Rússia e o Brasil, Moscovo, 27 de novembro de 2023

2412-27-11-2023

Senhor Embaixador,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Reunimo-nos hoje para realizar mais um evento para assinalar um acontecimento significativo - o 195º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Rússia e o Brasil. Por ocasião desta data especial, foi preparada em Moscovo, com o apoio do Senhor Embaixador e da sua equipa, uma exposição de documentos de arquivo que conta os principais marcos da história dos nossos laços bilaterais. Estes documentos remontam ao decreto do Imperador Nicolau I, datado de 1828, que nomeou o diplomata russo Franz Borel (que eu saiba, ele não tem descendentes) como primeiro embaixador da Rússia no Brasil.

Estadistas dos nossos países como Grigori Langsdorf, Barão do Rio Branco e Andrei Gromyko desempenharam um papel direto no desenvolvimento e fortalecimento das relações entre os nossos dois países. O destacado diplomata brasileiro João Clemente Baena Soares, pai do Sr. Embaixador, também pertence a este ilustre grupo. Aproveitei a oportunidade para entregar ao Chefe da Embaixada do Brasil uma fotografia que está patente na nossa exposição e retrata o momento em que o seu pai assinou um acordo de cooperação científica e técnica entre o Brasil e a União Soviética em Moscovo, em 1981.

As nossas relações passaram por diferentes períodos, permanecendo, contudo, sempre inalterados a simpatia mútua dos dois povos e o seu interesse genuíno pela história, cultura e tradições da outra parte. Tudo isto contribuiu para a consolidação dos laços de amizade, compreensão mútua e respeito mútuo.

Atualmente, os laços entre os nossos dois países estão a desenvolver-se como parceria estratégica sustentável e não oportunista. O objetivo de reforçar a cooperação com a República Federativa do Brasil foi assinalado em especial no Conceito de Política Externa da Federação da Rússia, atualizado há seis meses. Moscovo e Brasília mantêm um diálogo político ativo e de confiança. Estão em funcionamento mecanismos permanentes de cooperação bilateral, principalmente a Comissão de Alto Nível de Cooperação e a Comissão Intergovernamental de Cooperação Económica e a Comissão para os Assuntos Políticos que dela fazem parte.

Estamos a reforçar a nossa cooperação prática. O Brasil tem o maior intercâmbio comercial com a Rússia entre os países da América Latina e das Caraíbas. Os principais setores de atividades conjuntas dos dois países são a indústria química e a agricultura. Os dois países têm projetos muito promissores nos sectores de energia e de energia nuclear, de produtos farmacêuticos e utilizações pacíficas do espaço exterior. O fornecimento de fertilizantes russos para as necessidades do setor agroindustrial brasileiro permite-nos contribuir conjuntamente para a estabilidade alimentar mundial.

Gostaria de salientar em especial a nossa cooperação no domínio cultural e humanitário: há muitos anos que a Escola do Teatro Bolshoi, a única fora da Rússia, funciona na cidade brasileira de Joinville. Em 2022, abriu as portas no estado do Rio de Janeiro uma escola bilingue intercultural russo-brasileira. Apraz-me saber que continua a haver um grande interesse entre os brasileiros em fazer cursos superiores em universidades russas. Estamos a tentar satisfazer esta procura na medida do possível.

Nos últimos anos, temos aumentado a nossa interação no cenário internacional. A Rússia e o Brasil têm posições idênticas ou próximas em relação a questões-chave da agenda global. Defendemos conjuntamente a necessidade de fazer com que as Nações Unidas voltem a ter um papel central de coordenação nos assuntos mundiais e a formação de uma arquitetura multipolar mais justa e mais democrática da ordem mundial. Valorizamos a política externa independente do Brasil para a reforma das instituições de governação global e o aumento da representação dos países em desenvolvimento nas mesmas. Neste contexto (já o dissemos muitas vezes), a Rússia apoia o desejo do Brasil de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Registamos a contribuição positiva dos nossos parceiros brasileiros para o reforço dos mecanismos de integração regional e a sua participação ativa nos esforços internacionais para a proteção do meio ambiente e adaptação às alterações climáticas e noutras questões da atualidade.

Cooperamos de forma frutuosa e construtiva no âmbito das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança. O Brasil é atualmente membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. Estamos a coordenar bem as nossas abordagens e posições neste organismo. Estamos a trabalhar em conjunto no G20 e no BRICS, que está agora a ganhar um novo alento, tendo admitido como membros um grande número de países. Em 2024, a Federação da Rússia assumirá a presidência do BRICS enquanto o Brasil presidirá ao G20. Esta será uma outra vertente para a harmonização das abordagens e a coordenação de iniciativas.

O reforço da amizade e da cooperação abrangente entre a Rússia e o Brasil é do interesse dos nossos povos, contribui para a manutenção da segurança internacional e dá um contributo importante para a resolução dos problemas do desenvolvimento global.