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Artigo do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov,para o jorna egípcio Al-Ahram, o jornal congolês Dispatch de Brazzaville, o jornal ugandês New Vision e o jornal etíope Ethiopia Herald, 22 de julho de 2022

1516-22-07-2022

Rússia e África: uma parceria voltada para o futuro

 

Nas vésperas das minhas visitas a uma série de países africanos, gostaria de partilhar com distintos leitores as minhas reflexões sobre as perspectivas das relações Rússia-África no atual contexto geopolítico.

Atualmente, os países africanos desempenham um papel cada vez mais importante na política e economia global, participando de forma empenhada na solução dos principais problemas da época. A sua voz solidária soa cada vez mais harmoniosamente nos assuntos mundiais.

A Rússia tem defendido consistentemente o reforço das posições da África na arquitetura mundial multipolar que deve basear-se nos princípios da Carta das Nações Unidas e ter em conta a diversidade cultural e civilizacional do mundo. Neste contexto, saudamos o desenvolvimento bem sucedido de estruturas de integração como, por exemplo, a União Africana, a Comunidade da África Oriental, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a Comunidade Económica dos Estados da África Central, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD). Consideramos o lançamento da Zona de Comércio Livre Continental Africana como passo importante para a verdadeira independência económica do continente, a sua libertação final de quaisquer manifestações de discriminação e coerção.

As relações Rússia-África baseiam-se nos laços de amizade e cooperação testados pelo tempo. O nosso país que não se manchou com os crimes sangrentos do colonialismo, sempre apoiou sinceramente os africanos na sua luta pela libertação do jugo colonial, prestando  assistência prática e, por vezes, sem contrapartidas aos povos do continente na formação dos seus sistemas estatais, na criação dos alicerces das suas economias nacionais, no desenvolvimento das suas  capacidades defensivas, na formação de pessoal qualificado. Hoje somos solidários com as exigências dos africanos para levar a termo o processo de descolonização e apoiamos as respectivas iniciativas na ONU.

O desenvolvimento de uma parceria abrangente com os países africanos continua a estar entre as principais prioridades da política externa russa. Estamos dispostos a contribuir para a sua intensificação, em conformidade com as decisões estratégicas tomadas na primeira Cimeira Rússia-África realizada nos finais de outubro de 2019 em Sochi.

Neste contexto, gostaria de salientar em especial: o nosso país não impõe nada a ninguém nem ensina os outros como devem viver. Respeitamos muito a soberania dos países de África, e o seu direito inalienável de determinar por si próprios o caminho do seu desenvolvimento. Seguimos firmemente o princípio do "soluções africanas para os problemas africanos". Esta nossa atitude para com as relações interestatais difere dramaticamente da lógica "líder - liderado” imposta pelas antigas metrópoles e que reproduz o modelo colonial obsoleto.

Sabemos que os nossos colegas africanos são contra as tentativas abertas dos EUA e dos seus satélites europeus de lhes impor a sua vontade, de impor uma ordem mundial unipolar à comunidade internacional. Valorizamos a posição ponderada dos países africanos quanto à situação dentro e em trono da Ucrânia. Apesar de uma pressão externa sem precedentes, os nossos amigos não se juntaram às sanções antirrussas. Esta sua política independente merece um grande respeito.

Claro que a atual situação geopolítica requer certos ajustamentos nos  mecanismos da nossa interação: em primeiro lugar, trata-se de garantir uma logística sem descontinuidades e de criar um sistema de desembolsos protegido contra as intervenções externas. Em cooperação com os seus parceiros, a Rússia toma medidas para ampliar a utilização das moedas e  sistemas de pagamento nacionais. Estamos a trabalhar para reduzir gradualmente a participação do dólar e do euro nas nossas relações comerciais. Defendemos, em princípio, o estabelecimento de um sistema financeiro eficiente que seja invulnerável ao potencial impacto por parte dos países hostis.

Em primeiro plano está o desafio de colocar operadores económicos russos e africanos nos mercados um do outro e incentivá-los a participar em projetos infraestruturais de grande escala. Partimos do princípio de que, a busca de soluções para este e outros desafios será estimulada pela segunda cimeira África – Rússia. Começámos, juntamente com os nossos amigos africanos, a trabalhar nas concretas da sua agenda.

As questões da segurança alimentar ocupam um lugar de destaque na agenda internacional. Estamos bem cientes da importância dos fornecimentos russos de bens socialmente importantes, entre os quais alimentos, para muitos países do mundo. Estamos cientes de que estes fornecimentos desempenham um papel importante na manutenção da estabilidade social e no cumprimento das metas previstas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Gostaria de salientar que as especulações da propaganda ocidental e ucraniana de que a Rússia está alegadamente a “exportar a fome” são completamente infundadas, representando, na verdade, mais uma tentativa de “fazer o justo pagar pelo pecador”. Como é sobejamente conhecido, já nos tempos da "coronacrise”, o Ocidente colectivo, utilizou o mecanismo da emissão de moeda para "absorver" os fluxos comerciais e alimentares, agravando assim a situação nos países em desenvolvimento dependentes das importações de alimentos. Foi então que a grave situação no mercado alimentar começou a tomar forma. As sanções ocidentais impostas à Rússia nos últimos meses exacerbaram ainda mais as tendências negativas.

É essencial que todos os nossos amigos africanos compreendam que a Rússia continuará a cumprir de boa fé as suas obrigações ao abrigo de contratos internacionais de exportação de alimentos, fertilizantes, energia e outros bens vitais para África. A Rússia está a tomar todas as medidas necessárias para este fim.

Moscovo continuará a seguir uma política externa amante da paz e a desempenhar um papel de equilíbrio nos assuntos internacionais. Somos a favor de uma ampla cooperação interestatal em pé de igualdade, baseada nas disposições da Carta das Nações Unidas, sobretudo no princípio da igualdade soberana dos países. Continuaremos a reforçar a nossa interação frutífera com os nossos parceiros estrangeiros que se manifestem dispostos a cooperar connosco.

Neste contexto, partimos da tese de que as relações entre a Rússia e África, sejam elas políticas, humanitárias ou comerciais ou de investimento, são valiosas de per si e não dependem de flutuações da conjuntura internacional. Muito me apraz ver que os nossos amigos africanos têm um entendimento semelhante. Juntos seremos ainda mais fortes.


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