Resumo do briefing realizado pelo Vice-Diretor do Departamento de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Ivan Nechayev, Moscovo, 18 de agosto de 2022
Ponto da situação no Donbass e na Ucrânia
A operação militar especial continua na Ucrânia e no Donbass. Os seus objetivos de defender as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, de desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e eliminar as ameaças à segurança da Rússia serão alcançados. As forças aliadas da Rússia e das repúblicas do Donbass estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para evitar baixas civis, atacando unicamente alvos militares com armas de precisão.
A vida pacífica está a voltar às regiões libertadas. Realizam-se trabalhos de limpeza de minas e outros engenhos explosivos. Mais de 17.000 hectares de terra foram limpos de minas onde foram detetadas e desativadas mais de 500.000 minas e munições não explodidas. Estão em andamento as obras de reconstrução das habitações e instalações infraestruturais danificadas por bombardeamentos e construção de novas. Os habitantes da Ucrânia e do Donbass receberam mais de 56.000 toneladas de ajuda humanitária russa desde o início de março passado.
Enquanto isso, o regime de Kiev continua a demonstrar uma indiferença criminosa para com a vida dos civis. As tropas ucranianas e unidades neonazis utilizam métodos de guerra inaceitáveis, usando civis como escudo humano e organizando posições de fogo em escolas e infantários e bombardeando instituições de ensino das regiões libertadas, o que parece particularmente cínico na véspera do novo ano letivo.
No entanto, os casos óbvios de terrorismo nuclear realizados pelo lado ucraniano são os seus passos ainda mais irresponsáveis. Desde meados de julho, as tropas ucranianas têm vindo a bombardear diariamente a central nuclear de Zaporozhye e territórios adjacentes, incluindo a cidade de Energodar. No início, os ucranianos usaram drones, passando mais tarde a disparar lançadores múltiplos de foguetes e canhões de 155mm fornecidos pelos EUA. Os ataques ucranianos podem vitimar não só a população da Ucrânia como também de muitos outros países europeus. É necessário obrigar as tropas ucranianas a parar de bombardear a central nuclear para evitar um desastre nuclear.
Esperamos que peritos da AIEA visitem muito em breve a central nuclear de Zaporozhye. A sua visita foi coordenada em junho passado e acabou sabotada pela liderança do Secretariado da ONU. Os peritos devem ver com os seus próprios olhos a conduta criminosa do regime de Kiev. O regime de Kiev demonstrou muitas vezes a sua capacidade de encenar provocações e a sua incapacidade de controlar grupos nacionalistas. Por esta razão, quaisquer propostas de criação de uma zona desmilitarizada em torno da central nuclear de Zaporozhye são inaceitáveis. Isso só tornaria a central nuclear ainda mais vulnerável.
Gostaríamos de chamar a vossa atenção para os casos de retenção ilegal de cidadãos russos em território ucraniano. Trata-se, em particular, de mais de 60 marinheiros russos retidos há cerca de seis meses nos seus navios mercantes em Izmail. Apesar dos nossos repetidos pedidos, o regime de Kiev mantém-nos como reféns, aparentemente considerando-os como “acervo de trocas”. O paralelo com as ações terroristas é óbvio. Levantámos esta questão perante os dirigentes da ONU e do Comité Internacional da Cruz Vermelha e esperamos que tomem medidas práticas para a libertação dos cidadãos russos.
Na semana passada, falámos sobre a utilização de minas “borboletas” pelas forças armadas ucranianas em violação da Convenção de Otava, ratificada por Kiev. Desta vez, gostaríamos de declarar termos encontrado 50 minas anticarro francesas EMP F2 nas posições ucranianas abandonadas perto de Artyomovsk. Quando ativadas, estas minas são impossíveis de remover ou desativar. A sua utilização constitui uma violação flagrante do Protocolo II sobre Proibições ou Restrições ao Uso de Minas, Armadilhas e Outros Dispositivos que faz parte da Convenção de Genebra de 1980 sobre proibições ou restrições ao uso de armas com efeitos indiscriminados. Lamentamos que o Ocidente "democrático" apoie o regime criminoso de Kiev e lhe forneça armas, partilhando assim a responsabilidade pelos crimes de guerra que estão a ser cometidos.
Enquanto o regime de Kiev continua a cometer crimes de guerra, as taxas de criminalidade na Ucrânia vêm aumentando. O Ministro do Interior ucraniano, Denis Monastyrsky, declarou, outro dia, que, nos próximos meses, a taxa de criminalidade no país irá aumentar dramaticamente, atribuindo-o ao aumento de armas ilegais em circulação no país devido aos fornecimentos descontrolados de armas ocidentais ao regime de Kiev e às suas decisões irresponsáveis de distribuir milhares de armas entre civis. Escusado será dizer que isto provocará o aumento das taxas de criminalidade na Europa, o que já foi observado por representantes da Interpol e da Europol. Obviamente, o regime de Kiev não se importa com o destino dos habitantes da Ucrânia, do Donbass ou de países europeus.
O que acontece hoje na Ucrânia, as ações criminosas das autoridades ucranianas e das unidades nacionalistas mostram que os objetivos da operação militar especial são justos. Só quando forem alcançados, será possível garantir a paz, a estabilidade e a segurança na região.
Plataformas digitais norte-americanas impõem censura às missões russas no estrangeiro
As plataformas digitais ocidentais continuam a impor censura a contas e recursos da Internet russos. A medida atinge agora não só os meios de comunicação social, bloggers e utilizadores comuns, que não concordam com opiniões russofóbicas, como também as contas das missões russas no estrangeiro.
Por exemplo, no passado dia 15 de agosto, o YouTube apagou 29 vídeos do canal oficial da Embaixada da Rússia no Reino Unido, entre os quais uma entrevista com o Embaixador da Rússia no Reino Unido, Andrey Kelin, e vídeos a relatar crimes de guerra cometidos pelas forças armadas ucranianas e unidades neonazis contra a população civil do Donbass. Estes vídeos foram publicados entre 2 de março e 15 de agosto do corrente ano.
Fiel às piores tradições das plataformas ocidentais e à sua política de máxima não transparência, a administração desta plataforma de vídeos não se deu o trabalho de dar uma explicação mais ou menos inteligível para a remoção dos nossos vídeos, citando como sempre como pretexto "violações das regras comunitárias". Compreendemos que, na realidade, o objetivo é remover conteúdos inconvenientes para silenciar a verdade sobre a operação militar especial da Rússia, os seus objetivos e causas.
A remoção dos vídeos do canal da Embaixada é uma tentativa grosseira de restringir as atividades de divulgação desta missão diplomática russa e de privar a audiência estrangeira de uma fonte de informação veraz cujo conteúdo, a propósito, foi ativamente consumido pelos utilizadores britânicos. As ações discriminatórias desta plataforma de alojamento de vídeos provam mais uma vez que esta teme a concorrência leal.
A liberdade de expressão na interpretação ocidental distorcida é quando os que estão do seu lado podem fazer tudo enquanto os que estão contra devem ser bloqueados por decisões “de cima”.
Exortamos a administração do YouTube a mostrar maturidade, a reconhecer o seu erro e a recuperar os vídeos apagados sem demora.
Aliás, os vídeos apagados no YouTube foram publicados e estão agora disponíveis nas contas oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e nas plataformas russas RuTube e VKontakte.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: A ONU propôs criar uma missão para investigar o bombardeamento do centro de detenção pré-julgamento de Elenovka. Tenciona a Rússia cooperar com a mesma? Quando poderá ser a sua primeira visita ao local? Podemos esperar que a missão faça conclusões imparciais?
Ivan Nechayev: A iniciativa de investigar a morte de prisioneiros de guerra ucranianos encarcerados no centro de detenção pré-julgamento de Elenovka da República Popular de Donetsk, ocorrida a 29 de julho passado em consequência do bombardeamento realizado pelas forças armadas ucranianas pertence à Rússia. A 31 de julho passado, o Ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, enviou a respetiva proposta ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres.
Atualmente, a Rússia está em contacto com o Secretariado da ONU para identificar as modalidades da missão da ONU. Este assunto foi abordado num contacto telefónico de 15 de agosto, entre Serguei Shoigu e António Guterres. Estamos interessados em fazer com que a referida visita aconteça quanto antes, depois que todos os detalhes sejam acordados.
Quanto às conclusões da missão, esperamos que a investigação seja imparcial e apure todos os factos relacionados com este trágico incidente.
Pergunta: Vladimir Putin qualificou a visita de Nancy Pelosi a Taiwan de provocação bem orquestrada. Todavia, menos de duas semanas após a visita de Nancy Pelosi, a ilha foi visitada por senadores norte-americanos. O que pensa sobre esta posição dos EUA? Qual é o objetivo desta nova provocação norte-americana num espaço de tempo tão curto? Que consequências terá?
Ivan Nechayev: Consideramos as recentes visitas das delegações do Congresso dos EUA a Taiwan como provocação óbvia e desajeitada da administração norte-americana e voltada para conter e pressionar ainda mais a China. Por outro lado, vemos que os EUA não atingiram o resultado desejado, acelerando as tensões à volta de Taiwan, o que é lógico na nova realidade geopolítica emergente do mundo multipolar moderno, no qual não há lugar para a hegemonia norte-americana.
A resolução da situação no Estreito de Taiwan é um assunto exclusivamente interno da China. A este respeito, consideramos como oportuna a publicação de um Livro Branco sobre Taiwan pelo Conselho de Estado da China.
A posição de princípio da Rússia sobre a questão de Taiwan permanece inalterada: acreditamos que existe uma só China e que o seu governo é o único governo legítimo que representa toda a China, da qual Taiwan é uma parte inseparável.
O lado chinês tem todas as razões para proteger a sua soberania e integridade territorial no Estreito de Taiwan.
Pergunta: A AIEA começou a preparar uma nova missão à Central Nuclear de Zaporozhye. Já a Rússia declarou que tomaria todas as medidas necessárias para que os peritos da AIEA tivessem acesso à Central. Que resultado pode dar a sua visita? Quais são as expectativas da Rússia em relação à sua visita?
Ivan Nechayev: Esperamos que a missão internacional da AIEA à Central Nuclear de Zaporozhye, prevista para junho deste ano, venha a realizar-se, no final de contas. Estamos em contacto constante com os dirigentes da AIEA sobre esta matéria. Como sabem, o Diretor-Geral da AIEA tenciona visitar pessoalmente a Central.
Hoje em dia, tal como antes, quando a visita praticamente coordenada à Central Nuclear de Zaporozhye não aconteceu devido à interferência do Secretariado da ONU e aos obstáculos criados pela Ucrânia, a visita planeada da missão da AIEA é contestada por muitos. Tomámos nota das recentes declarações do porta-voz do Secretário-Geral da ONU de que o Secretariado da ONU não tinha autoridade para bloquear ou cancelar ações da AIEA. Tenhamos esperança de que seja este o caso. O porta-voz, Stephane Dujarric recordou também que a AIEA era totalmente independente e podia decidir por si própria sobre como deveria atuar dentro do limite das suas atribuições. Assim, é prerrogativa da AIEA decidir sobre como lidar com todas as questões organizacionais relacionadas com a próxima missão.
Esperamos que o regime de Kiev e os seus supervisores ocidentais não consigam mais esconder-se atrás das costas do Secretário-Geral da ONU, António Guterres. Registamos as tentativas frenéticas das autoridades ucranianas de apresentar a situação de modo a ser a Rússia a dificultar a visita da uma missão internacional da AIEA à Central. No entanto, toda a gente vê a intensidade dos ataques efetuados pelos banderites contra a Central e a cidade de Energodar onde moram o pessoal da Central e os seus familiares. Os bombardeamentos são quase ininterruptos, com projéteis a caírem cada vez mais perto das instalações de armazenamento de combustível nuclear usado e dos sistemas de arrefecimento. As linhas de transmissão de energia elétrica que alimentam a Central são bombardeadas regularmente. É óbvio que, nesta situação, os lacaios de Vladimir Zelensky não querem nenhuma visita de inspetores internacionais. Dispõem-se a queimar tudo para esconder os vestígios dos seus crimes que os peritos da AIEA não deixarão de detetar.
Estamos profundamente preocupados não só com a atuação desatinada da Ucrânia, como também com o desejo dos norte-americanos e europeus de esconder os crimes cometidos pelos nazis ucranianos, que estão a brincar com as vidas tanto dos seus próprios cidadãos como das pessoas de todo o continente. A conivência criminosa do Ocidente com os bombardeamentos e ataques de mísseis ucranianos à Central de Zaporojie não tem explicação sensata. É inaceitável que fragmentos de projéteis de calibre usado na NATO sejam cada vez mais encontrados ao lado das instalações de importância vital da Central. Deve ser por esta razão que Washington e as capitais europeias são tão ativas em ajudar o regime de Vladimir Zelensky a fazer abortar mais uma missão da AIEA à Central. Na verdade, são absolutamente indiferentes às questões da segurança nuclear. Ao que tudo indica, estão a esforçar-se por fazer abortar a visita de Rafael Grossi à Central e responsabilizar por isso a Rússia.
Daí o desejo do Ocidente de apoiar as insinuações de Kiev. Esta atitude é irresponsável.
A missão à Central, como as atribuições da AIEA em geral, são de natureza puramente técnica. Consideramos inaceitáveis os sinais provocatórios do Ocidente de que a Rússia deveria primeiro devolver o controlo sobre a Central a Kiev e só então, alegadamente, os peritos poderão visitar e inspecionar as suas instalações. Em junho passado, a AIEA e a Rússia acordaram todos os parâmetros e detalhes da visita sem quaisquer condições prévias.
Estamos decididos a continuar a nossa cooperação construtiva com a AIEA. Naturalmente, teremos de ter em conta e eliminar novos riscos e ameaças criados pela Ucrânia e resultantes dos bombardeamentos maciços da Central e das regiões adjacentes. Estamos confiantes de que a missão irá cumprir as suas tarefas e que os resultados obtidos ajudarão a evitar uma catástrofe e a consolidar os esforços globais para fazer frente às ameaças nucleares causadas pela atuação da cúpula ucraniana ensandecida pela russófoba.