Excerto do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 20 de março de 2025
Excerto da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Em caso de aquecimento das relações entre a Rússia e os EUA, é expectável que a Rússia continue a dedicar atenção aos países do Sul Global, como tem feito nos últimos três anos?
Maria Zakharova: Não quero ofendê-lo, mas como é que pode pensar isso de nós? Não se trata de uma conjuntura momentânea. Trata-se de uma transformação profunda das relações internacionais que já está madura e até sobremadura há muito tempo. Amadureceu por si só, sendo uma continuação lógica do processo de descolonização e dos elementos positivos do processo de globalização. Tornou-se parte da realidade. Não está correto dizer que, se as relações da Rússia com aqueles com quem foram cortadas não por nossa iniciativa forem agora restabelecidas, então, consequentemente, o vetor da sua política mudará. Não é nada disso.
Temos sempre dito que não se trata de uma cooperação oportunista. Esta cooperação é mutuamente vantajosa e vai ao encontro dos interesses dos nossos países e dos nossos povos. Está ligada ao desenvolvimento e faz parte das novas realidades mundiais. Trata-se de multipolaridade e não de um conceito que foi inventado por alguém e redigido no papel com vista a atravessar um momento difícil. É uma descrição e uma análise da realidade, uma previsão do seu desenvolvimento no futuro.
O conceito de política externa russa tem como objetivo concentrar esforços criativos nos vectores geográficos que têm perspectivas óbvias do ponto de vista da expansão da cooperação internacional mutuamente vantajosa. Trata-se, em primeiro lugar, dos países da Ásia, da África e da América Latina.
Na presente sessão do briefing abordámos a crise económica, política, espiritual, moral e ética dos países da UE. Mesmo que amanhã eles digam que cometeram um erro e queiram “reconsiderar a sua posição", os fenómenos da crise não deixarão de existir. Pode ver quantas empresas e estruturas empresariais abandonaram os países da UE. Algumas mudaram-se para além do oceano, outras, para outros continentes, e outras ainda estão a mudar-se para o nosso país, tentando aproveitar todas as oportunidades para regressar ao nosso mercado.
Outro aspecto importante a destacar: não se deve trair os amigos. Os amigos certos conhecem-se nas adversidades. Aqueles que estiveram connosco durante os anos difíceis e não nos traíram, podem contar com a nossa amizade, porque ela realmente se fortaleceu e endureceu. São coisas que não se esquecem.