Porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, comenta a pedido dos mass media a declaração do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, sobre a situação na Ucrânia
Pergunta: A senhora poderia comentar a declaração do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, de 14 de julho, em que este se manifestou “chocado com o disparo de mísseis contra a cidade de Vinnitsa, na região central da Ucrânia?
Maria Zakharova: É verdade, prestámos atenção a esta declaração de António Guterres. Gostaria de dizer o seguinte a este respeito.
O que estamos a ver agora é algo que remonta no tempo. Apesar das exigências da Carta das Nações Unidas, o Secretariado não se mantém equidistante, como seria de esperar do Secretariado de uma organização internacional de maior credibilidade, cuja função é, entre outras coisas, promover a resolução de disputas.
Agora no que diz respeito a este caso em particular. Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, os mísseis de alta precisão “Kalibr” foram disparados contra a Casa dos Oficiais que, naquele momento, albergava uma reunião do comando da Força Aérea Ucraniana com representantes de fornecedores de armas estrangeiros. A ONU está provavelmente ciente disso. Caso contrário, sugerimos que António Guterres pergunte à Ucrânia por que razão o regime de Kiev coloca instalações militares perto de edifícios civis.
Ao mesmo tempo, por alguma razão, o Secretário-Geral, como muitos outros representantes da ONU, não vê quando as Forças Armadas da Ucrânia disparam mísseis contra alvos civis e bairros residenciais de cidades. Vou citar exemplos. Durante os bombardeamentos de Kursk e de Belgorod efetuados a 3 de julho e os bombardeamentos de Novaya Kakhovka, de 12 de julho, foram atingidas instalações de armazenamento de salitre, edifícios residenciais, uma igreja e outros prédios. A explosão foi tão forte como a ocorrida no porto de Beirute. De acordo com o Ministério do Interior regional, cerca de 190 pessoas tiveram de receber assistência médica. Nem António Guterres, nem o seu porta-voz, nenhum outro representante do Secretariado da ONU condenaram o “ataque contra civis e infraestruturas civis”, como no caso de Vinnitsa. Mais do que isso, solicitado a comentar o incidente em Novaia Kakhovka, o porta-voz adjunto do Secretário-Geral, Farhan Haq, disse que não tinha comentários sobre o assunto. Em ocasiões anteriores, a ONU havia ignorado repetidamente relatos de mortes de civis e crianças em consequência dos ataques efetuados pelas tropas ucranianas. Além disso, o porta-voz do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric, não tinha informações de que a Ucrânia utilizava civis como escudo humano (briefing de 3 de março https://www.un.org/press/en/2022/db220303.doc.htm).
Gostaria de lembrar aos nossos estimados colegas do Secretariado da ONU que a sua função não é tomar o lado de uma das partes em disputa, mas ajudar a manter a paz e a estabilidade. É por isto que lhe pagam o seu salário, sendo estas as suas atribuições.