Resumo dos principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 22 de novembro de 2022
Ponto da situação na crise da Ucrânia
Atualmente, sondagens de opinião, inquéritos na Internet de toda espécie estão todas dedicadas à busca da palavra do ano, norteando-se os seus autores pelas suas visões e a sua metodologia. O que se passa em torno da Ucrânia, da operação militar especial e da prolongada crise ucraniana esta não é uma palavra do ano, mas das últimas décadas. Para mim, a palavra seria "teste" de força das realidades geopolíticas e do nosso mundo, "teste" de humanidade, de probidade, de espírito e de sinceridade no amor. Estamos todos a ser testados. É um teste global. Não pode haver perguntas aqui.
A Rússia e as novas regiões do nosso país estão a ser testadas. Apesar dos ataques regulares de artilharia e foguetes dos neonazis ucranianos e das suas provocações e atos de sabotagem, as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, assim como as Regiões de Zaporojie e Kherson estão a começar a viver uma vida pacífica. A liderança russa tem afirmado repetidamente que tudo será feito para o conseguir. Na minha opinião, as nossas regiões (entre as quais Moscovo, embora aqui eu não "calcule" nem compare) estão a fazer tudo para mostrar à população do Donbass e às nossas novas quatro regiões que estamos juntos e que nós não abandonamos os nossos, que nos ajudamos e apoiamos uns aos outros. Ao entrarmos nesta nova realidade, manter-nos-emos fiéis a estes princípios.
Especialistas de outras regiões da Federação da Rússia repararam e restauraram quase 1,5 mil casas, instalações de serviços urbanos e habitacionais, estabelecimentos de ensino e saúde, cerca de 500 quilómetros de autoestradas. Mais de 60.000 pessoas de todo o país estão a trabalhar em praças de obras dia e noite.
Isto causa não só irritação, mas ódio àqueles que tinham planos absolutamente diferentes para o Donbass. Eles falaram sobre isso sem rodeios. Lembre-se da declaração do Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko. Dirigindo-se à comunidade internacional, ele disse que "eles lá" (aqueles que estavam sob o regime de Kiev) iriam estudar, desenvolver-se e construir as suas instalações, enquanto "aqueles" (população do Donbass) ficariam em caves (ele disse isso muito antes de 2022). Foi por isso que, quando estas pessoas foram tiradas das caves e voltaram a ver a luz do dia e lhes deram a esperança, a fé, elas readquiriram estes símbolos. Isto causa ódio e raiva, um verdadeiro frenesim daqueles que prepararam para elas um futuro completamente diferente. Mas tudo acontecerá da forma como nós decidirmos. Estas regiões serão restauradas. As suas populações compreendem que isto é o que vai acontecer.
Um evento cultural verdadeiramente importante para a República Popular de Lugansk foi a chegada de atores do Teatro Dramático Estatal Evgueni Vakhtangov que exibiram um espetáculo no Teatro Dramático Russo de Lugansk. Jornalistas nacionais e estrangeiros perguntam como encaramos os atores e cantores que partem do país? Eu pergunto sempre: partem para onde? Todos saem com destinos diferentes. Alguns artistas partem à procura de uma outra "pátria" e podem ter muitas delas porque são traidores e não porque estão aqui numa situação difícil. Outros partem para dar concertos nas novas regiões cujas populações sofreram durante quase 10 anos e que foram levadas a acreditar que não havia futuro para elas porque eram de segunda categoria e ninguém as ajudaria. Os artistas são todos diferentes e têm espíritos diferentes. Quando alguns dizem que se vão embora, não pensem que se vão necessariamente embora à procura de uma outra "terra prometida". Não é verdade. Muitos vão às regiões onde prosseguem combates e onde é perigoso ficar, mantendo as tradições e os valores que foram colocados em nós pelas nossas gerações anteriores. A nossa história conhece episódios diferentes, mas é nisso que reside a essência dos nossos valores em que o que de melhor existe é selecionado e preservado as gerações futuras.
O estabelecimento de uma vida pacífica nos territórios libertados, cujos habitantes escolheram o seu futuro juntamente com a Rússia, é motivo de ódio e raiva do regime de Kiev, que em acessos de raiva emite ordens criminosas para atacar a população civil das novas regiões russas. O regime de Kiev declara os habitantes destas regiões "seus compatriotas", cidadãos da Ucrânia, continuando, contudo, a bombardeá-los. Até os nazis alemães não chegaram a este extremo. O regime de Kiev bombardeia áreas residenciais, escolas, jardins de infância, estabelecimentos de ensino, lojas e mercados. Nos dias 18 e 19 de dezembro, os militares ucranianos bombardearam quase todos os bairros de Donetsk, utilizando as armas fornecidas pela NATO. O ataque ao hospital Mikhail Kalinin, o maior da República Popular de Donetsk foi o cúmulo da barbaridade. Eles sabiam contra quem estavam a disparar. Alguns dos prédios do hospital foram danificas após um impacto direto de mísseis. Há registo de pelos menos dois mortos e vários feridos.
A 19 de dezembro, um míssil ucraniano caiu perto do escritório da missão do Comité Internacional da Cruz Vermelha em Donetsk, danificando a fachada e partindo os vidros das janelas. Por puro acaso, não há vítimas mortais nem feridos. No entanto, nem mesmo isso será razão para os burocratas internacionais terem a coragem de desmentir as declarações descaradas do regime de Vladimir Zelensky que o Donbass faz auto-bombardeamentos? Não é a hora de eles dizerem quem tem vindo a exterminar a população civil do Donbass nos últimos oito anos?
Nos territórios de onde as tropas russas foram retiradas, o regime de Kiev continua a perseguir os civis por suspeita de "colaboracionismo", torturando e interrogando os detidos. Os seus sequazes não se limitam mais a amarrar os suspeitos a postes de eletricidade com fita adesiva, a regá-los com produtos químicos e a submete-los a tratamentos degradantes. As detenções são feitas às pessoas suspeitas de cooperação com as autoridades russas, havendo igualmente pessoas que ficam presas só por trocarem correspondência com os seus familiares na Rússia.
O rabino J.I. Wolf que permanece em Kherson foi acusado de "alta traição" por ter permitido que os soldados russos rezassem na sua sinagoga, enfrentando uma pena de prisão perpétua. Tenho uma pergunta, inclusive para os meus colegas israelitas. Lembro-me de como reagiram ao desrespeito (na sua opinião) pela sua religião, cultura e história. O que está a acontecer desta vez? Como podem deixar coisas destas passar despercebidas?
As rusgas e campanhas de filtragem não param. Mais de 700 pessoas estão detidas. O Serviço de Segurança da Ucrânia não faz segredo do facto de estarem a criar um "stock" para futuras trocas de prisioneiros de guerra com a Rússia.
Outro dia, foi publicado nas redes sociais um vídeo arrepiante de um soldado ucraniano a fuzilar dois civis, perto de Artiomovsk, suspeitos de simpatizar com a Rússia. As autoridades competentes russas estão a documentar cuidadosamente todos os crimes cometidos pelo regime vil de Kiev. Todos os que estiveram envolvidos nos seus crimes serão presentes à justiça. Ninguém escapará à justiça. Veja-se a característica marcante dos seus crimes. Anteriormente, crimes tão violentos como estes eram cometidos por terroristas extremistas que o mundo inteiro odiava. Lembramo-nos perfeitamente bem de como eles fuzilavam e decapitavam pessoas capturadas, gritando ao mesmo tempo os seus slogans. Tudo isso aconteceu fora da Europa. A Europa "civilizada" dizia na altura que estas coisas não eram típicas dela.
Agora vemos que os crimes do regime de Kiev, cujos representantes (que nem sempre estiveram no poder, passando, por vezes, para a oposição, mas estiveram sempre presentes nos círculos políticos ucranianos) juraram, durante trinta anos, a fidelidade ao "Ocidente coletivo", têm as mesmas características marcantes. Importa não só salientar que as atividades do regime de Kiev são criminosas, como também ver o que ele se tornou diante dos nossos olhos. O regime de Kiev produziu terroristas e extremistas semelhantes aos que o "Ocidente coletivo" fabricara e declarara outrora como mal universal. Nesta altura, isto pode ser dito sobre o regime de Kiev e aqueles que cumprem as suas ordens criminais.
Dentro da Ucrânia, o regime de Vladimir Zelensky enfrenta o descontentamento popular com os problemas económicos e sociais e com a política seguida pelo governo central. A turbulência política está a crescer. Intensifica-se a perseguição aos dissidentes, entre os quais há governadores regionais. Há desavenças no partido governante. O Secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei Danilov, pediu publicamente ao Supremo Comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhniy, que abandonasse as suas ambições políticas e a não estabelecesse alianças com os opositores de Vladimir Zelensky. Aparentemente, esta é uma democracia liberal em ação.
Nestas circunstâncias, o regime de Kiev optou por apertar a censura no espaço mediático. A 13 de dezembro, apesar das críticas mordazes do seu departamento jurídico, o parlamento ucraniano aprovou, em definitivo, a escandalosa Lei "Dos Meios de Comunicação Social" após ter sido devolvido para alterações e atualização. Pelos vistos, consideraram insignificante o facto de o diploma ir contra a Constituição, limitar a liberdade de expressão, ampliar consideravelmente os poderes do Conselho Nacional de Televisão e Rádio, permitindo-lhe regular os meios de comunicação eletrónicos e impressos, retirar, de forma extrajudicial, as licenças de comunicação social, exigir a remoção dos conteúdos e multar os meios de comunicação infratores. Tudo o que o regime de Kiev tem aplicado na prática durante todos estes anos tem agora forma de lei. Anteriormente, o projeto desta lei foi criticado no Conselho da Europa, enquanto o Comité para a Proteção dos Jornalistas dos EUA exortara os deputados ucranianos a absterem-se de o aprovar. No entanto, nem os EUA nem a UE reagiram oficialmente, agindo com base no princípio de que Vladimir Zelensky era o seu "filho da mãe" e, portanto, tudo lhe era permitido. Ele não é apenas o seu "filho da mãe", mas também o seu instrumento para fazer frente ao nosso país. Esta atitude "democrática" reforça ainda mais o sentimento de permissividade e impunidade do regime de Kiev e encoraja-o a dar para passos extremamente perigosos que podem ter consequências imprevisíveis.
Prestámos atenção à nova ação propagandística de Vladimir Zelensky ligada à sua alegada visita, a 20 de dezembro, das posições das tropas ucranianas na cidade de Artiomovsk onde estão atualmente a ser travadas violentos combates comparados por muitos militares ucranianos à " Batalha de Verdun", de 1916, entre tropas alemãs e francesas. Aparentemente, a sua ação foi concebida para impressionar uma audiência externa, principalmente os EUA, para onde o Presidente ucraniano partiu naquele mesmo dia para se apresentar aos seus supervisores norte-americanos como "cowboy destemido" e para pedir o aumento da já grande ajuda militar.
O "Ocidente coletivo" está a investir cada vez mais esforços e recursos na luta contra a Rússia. Os peritos europeus estimam que a assistência financeira e militar ao regime de Kiev desde o início da operação militar especial ultrapassou os 90 mil milhões de dólares. Isso quando as infraestruturas energéticas do Ocidente, assim como as ligações, contactos e fornecimentos estão destruídos (após as explosões nos gasodutos no Mar Báltico). Desta quantia, 45 mil milhões de dólares foram disponibilizados pelos EUA e 28 mil milhões de dólares, pela UE. Há dias, deu entrada no Congresso dos EUA a proposta de Orçamento do Estado para 2023 que prevê a alocação de 44,9 mil milhões de dólares em ajuda à Ucrânia. Boa parte da quantia prevista irá para as suas necessidades militares. Esta é outra razão por que Vladimir Zelensky foi convocado para Washington: apoiar esta proposta orçamental.
Os EUA e os seus aliados continuam a fornecer armas ao regime de Kiev em grandes quantidades e a treinar os ucranianos mobilizados. O Pentágono anunciou o fornecimento de sistemas de defesa antimísseis Patriot, equipamento de defesa antiaérea, e novos lotes de munições no valor de 2 mil milhões de dólares às forças armadas ucranianas. A Casa Branca está a considerar (registamos isto) a possibilidade de treinar militares ucranianos em países terceiros para utilizarem armas mais modernas, entre as quais carros de combate, sistemas de defesa antiaérea e até aeronaves.
O Reino Unido está a liderar o processo de capacitação do pessoal ucraniano. Ora, tem todos os problemas internos resolvidos, o "dragão está vencido". Não tem outros problemas a não ser ajudar o regime de Kiev. Este ano, o país treinou 10 mil soldados ucranianos, pretendendo aumentar, em 2023, o número de treinados para 23 mil. Prossegue a capacitação de militares ucranianos em bases militares da Polónia e da Alemanha como parte da missão de apoio militar da UE à Ucrânia. Um total de 1.500 ucranianos iniciaram o curso de treino militar.
Moscovo tomou nota da declaração do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, de que Washington reconhece o direito de Kiev de planear e realizar operações militares na Crimeia e determinar as suas proporções, ritmos e cronograma. Esta é outra prova de que os EUA confessam, de facto, estarem a participar nos combates na Ucrânia do lado das forças armadas ucranianas. O exército ucraniano tornou-se mercenário e é composto de armas, de instrutores e de mercenários estrangeiros, liderados principalmente pelos EUA.
Os factos acima referidos confirmam que o "Ocidente coletivo" está determinado para um confronto a longo prazo com a Rússia. Mesmo assim, por muito que o Ocidente tente armar o regime neonazi de Kiev, prolongar as hostilidades e fechar cinicamente os olhos aos seus crimes atrozes, não se sairá bem nos seus esforços. Como a liderança do nosso país declarou, os objetivos da operação militar especial, tendo em conta a situação no terreno e as realidades existentes, serão alcançados.
Sobre o " caso Skripal "
Outro exemplo "fantástico" de incumprimento, de desrespeito pelo direito internacional, é o "caso Skripal".
O incidente de Salisbury continua na agenda dos nossos contactos com Londres. Podemos mesmo utilizar o termo "incidente"? Talvez seja um segredo. O caso ainda não foi resolvido. O que foi que aconteceu em torno de pináculos, lagoas, gatos, bancos, patos (também havia patos envolvidos), agentes da polícia, etc. As autoridades britânicas utilizaram o acontecido para complicar deliberadamente as nossas relações bilaterais. Como consequência, Londres começou a pressionar outros países a expulsarem diplomatas russos, a cortarem contactos connosco, etc.
Gostaria de recordar que o lado britânico se recusou a cooperar com as autoridades competentes russas na investigação do incidente que causara danos aos cidadãos russos Sergei e Yulia Skripal. O lado britânico ignora persistentemente numerosos pedidos do lado russo para fornecer informações completas sobre o acontecido e para permitir o acesso consular aos cidadãos russos.
As autoridades britânicas ignoram não só os pedidos do lado russo, como também as perguntas dos seus jornalistas. As suas perguntas são simples: Onde estão os Skripal? O que é que se passa com eles? O que aconteceu? Qual é o resultado da investigação? Alguém foi castigado? Quem foi considerado responsável, para além dos dois a quem todos os problemas do mundo foram imputados. Apesar de Londres ter ignorado tão descaradamente os seus compromissos internacionais, incluindo os decorrentes da Convenção Consular bilateral de 1965, continuamos a insistir em realizar-se uma investigação profissional, objetiva e imparcial do incidente que (como nos foi dito e ao mundo) causou danos aos cidadãos russos. Continuaremos a pedir esclarecimentos sobre o seu destino.
Vemos também que as autoridades britânicas estão a tentar utilizar o caso Skripal como parte de uma campanha de propaganda antirrussa mais ampla desencadeada pelos britânicos, juntamente com os seus aliados ocidentais, em fóruns internacionais, entre os quais a OPAQ.
Ao mesmo tempo, podemos afirmar com certeza que as inconsistências óbvias na investigação da Scotland Yard, a base probatória duvidosa e a pressão direta sobre os parceiros estrangeiros impediram Londres de levar à prática os seus planos de instrumentalizar o "incidente de Salisbury" para criar uma ampla coligação antirrussa.
Continuamos determinados em esclarecer a verdade. Continuaremos a pressionar as autoridades britânicas para obter informações oficiais exaustivas sobre o acontecido (pelo menos alguma informação). É como se o lado britânico tivesse fechado uma "torneira". Anteriormente, não se passava um dia sem que tabloides não apresentassem nas suas primeiras páginas manchetes acompanhadas de fotografias a gritar que "alguém" ouvira algo, algumas fontes em serviços secretos disseram, etc. Que lógica monstruosa é essa? Vamos insistir em que nos seja permitido acesso aos nossos cidadãos. A resposta à pergunta: onde estão os Skripal e o que lhes aconteceu, interessa a muita gente e deve ser obtida.
Sobre as observações do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, sobre a Ucrânia
Relativamente à declaração do Secretário-Geral da ONU sobre a falta de oportunidades para conversações de paz com Kiev num futuro próximo, acreditamos que a atitude de António Guterres para com esta questão não pode ser um ponto de orientação. Até agora, nem ele nem os seus funcionários tomaram uma posição realista e imparcial. Por conseguinte, estas declarações não podem servir de guia para nada. O Secretariado da ONU tem uma série de objetivos, tarefas e responsabilidades funcionais que precisam de ser abordados. Em vez disso, ouvimos desculpas, desatenção e a falta de vontade de lidar com eles. Quando as coisas estão fora das suas competências, fazem-se conclusões de dimensão cósmica.
Não sabemos se tomaram em consideração o facto de os funcionários russos nunca terem manifestado uma aversão agressiva ao processo de negociação e se terem recusado a negociar. Está o Secretariado da ONU consciente de que foi o regime de Kiev que interrompeu as negociações em abril passado? Gostaríamos de saber se estão conscientes de que Vladimir Zelensky coloca condições impossíveis de cumprir para negociações, tendo proibido oficialmente, em outubro passado, qualquer negociação com a Rússia? O que é que isto tem a ver connosco? Se os representantes da ONU estão dispostos a especular sobre o tema das negociações, talvez devam começar com isto.
Depois de a Assembleia Geral da ONU ter adotado, sem consenso, na sua 11ª sessão extraordinária, em março passado, uma série de resoluções que condenavam a Rússia, o Secretariado da ONU dificilmente pode permitir-se uma avaliação completamente imparcial. As alegações de que o Secretariado é obrigado a cumprir as resoluções aprovadas pelos Estados membros, não permitem ao Secretário-Geral agir como um "medianeiro" imparcial.
Ao mesmo tempo, sabemos que a Assembleia Geral tem um bom número de resoluções não consensuais sobre outras questões prementes, onde as posições dos Estados membros são diametralmente opostas. Isto não impede, porém, os funcionários das Nações Unidas de manterem uma posição equidistante e de comentarem de forma equilibrada e imparcial a situação sem exacerbá-la. Gostaria de ver esta prática alargada aos comentários sobre a Ucrânia.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: O Washington Post escreveu que a Rússia, de acordo com as suas fontes, não estava envolvida nas explosões nos gasodutos Nord Stream. Acha que assim se admite indiretamente o envolvimento de países ocidentais nestes atos de sabotagem?
Maria Zakharova: Não vou jogar este "jogo". Há e deve haver uma posição oficial dos países. Se falamos de relações interestatais, deveriam assentar-se numa base jurídica internacional, nomeadamente nos resultados das investigações. Deixemos fugas, referências a fontes anónimas e análises baseadas em dados não verificados.
Hoje já falei o bastante sobre o caso Skripal. Sempre fizemos perguntas que nunca foram respondidas. Está em curso uma investigação. É de dimensão internacional e deve basear-se no direito internacional. Os países precisam de cooperar entre si neste caso. Os políticos destes países que exercem o poder em nome do seu povo, podem e devem fazer declarações. Uma situação em que eles utilizam alguns meios estranhos para que as informações anónimas "fujam" para a imprensa e formem assim a perceção da realidade é inadmissível.
Somos a favor da atitude que mencionei: investigação, factos, estudos, análise, conclusão, e depois declarações oficiais. Só depois disso será possível organizar "fugas". Se a situação nos países ocidentais avançar como avançou até agora, não haverá mais nada a não ser "fugas". Em princípio, terão medo de exprimir o seu ponto de vista e posição.
Quanto ao incidente em si, a Rússia condenou veementemente os atos terroristas contra os gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2. Ambos fazem parte de uma infraestrutura energética transfronteira crítica. Desde o início rejeitámos firmemente as especulações que surgiram no Ocidente relativamente ao "envolvimento" do nosso país nas explosões. Gostaria de chamar a vossa atenção para o facto de ter sido a Rússia que os construiu, superando uma enorme resistência e envidando grandes esforços para provar a sua necessidade. Não fizemos isso verbalmente, participámos financeiramente, fornecendo os nossos projetos e investimentos. Os investidores não eram apenas da Rússia, mas também de países ocidentais. Este setor do Mar Báltico está na área de responsabilidade dos países que têm posições comuns e compõem o "Ocidente coletivo". Esta é a sua área de responsabilidade - um lugar "recheado" com equipamento de reconhecimento destes países e da NATO. O que é que isto tem a ver connosco? Deixam as informações "fugir" para a imprensa para impor a sua visão à opinião pública.
Dado o volume de gás exportado pelo Nord Stream 1 e o dinheiro investido na construção do Nord Stream 2, é evidente que o nosso país, em particular a empresa russa Gazprom, é a parte lesada.
A dada altura, também fizemos uma análise das declarações e ações que poderiam ter inspirado este ataque. Preciso de vos lembrar? O Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, que disse que este projeto não iria acontecer. Depois dela, o Presidente dos EUA, Joe Biden, repetiu a mesma coisa, dizendo que eles iriam encontrar formas de destruir este projeto. Estes são altos funcionários de um grande país, que há muitos anos está interessado em destruir as infraestruturas energéticas existentes e em desenvolvimento na Europa, tanto politicamente como em termos de fornecimento de energia. É de lamentar que os países ocidentais continuem a ignorar os apelos a uma investigação transparente, objetiva e despolitizada para esclarecer todas as circunstâncias do que aconteceu e para identificar e punir os responsáveis.
Esta questão permanecerá na ordem do dia. Continua a ser relevante. Este é não só o maior ato de sabotagem de sempre contra as infraestruturas de transporte, mas também um precedente extremamente perigoso que requer uma resposta coletiva e firme da comunidade internacional baseada em factos, nos resultados da investigação e nas conclusões tiradas de forma legítima. Ao contrário dos nossos colegas ocidentais, abster-nos-emos de especular sobre quem organizou e realizou estes atos de sabotagem.
Os ocidentais estão a tentar acusar-nos de estarmos a "afixar" rótulos. Que rótulos? Tudo é bem conhecido e foi estudado há muito tempo.
Qualquer história policial começa com o investigador a dizer que deve ser identificado um motivo. Quando o motivo for encontrado, então será mais fácil investigar o caso. Falámos sobre os motivos. E não em teoria, mas sobre motivos verbalizados neste contexto particular por personalidades oficiais. Não apresentámos artigos e publicações pagos, baseados em "fugas". Não divulgámos gravações de negociações mantidas nos bastidores. Recordámos simplesmente a posição oficial dos EUA sobre esta questão. Esperamos que os países interessados reconsiderem a sua visão, comecem a cooperar connosco e não politizem o assunto e muito menos falsifiquem os dados.