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Intervenção inicial e repostas do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, na conferência de imprensa conjunta com a Ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Liz Truss, após as conversações, Moscovo, 10 de fevereiro de 2022

210-10-02-2022

 

Boa tarde, Senhoras e Senhores,

Tivemos a primeira e principal etapa das nossas negociações. As relações entre a Rússia e o Reino Unido deixam a desejar, falando de forma suave. Estão provavelmente no seu ponto mais baixo em muitos anos. A culpa disso não é nossa. Não me vou debruçar sobre isto. Quero apenas dizer que somos a favor da normalização das nossas relações, da sua melhoria e do seu regresso ao caminho do desenvolvimento construtivo. Evidentemente, isto só é possível com base nos princípios de igualdade, respeito pelos interesses da outra parte. A política de seletividade, de impor condições, ultimatos, ameaças é um caminho do nada. As relações devem ser uma "via de dois sentidos".

Um bom exemplo das ações baseadas nos interesses nacionais e na necessidade de ambas as partes obterem um valor acrescentado dos seus contactos são os números estáveis do nosso intercâmbio comercial que no período entre janeiro e novembro do ano passado, se manteve no nível alcançado nos 12 meses de 2020 e ultrapassou a marca de 24 mil milhões de dólares. As comunidades empresariais da Rússia e do Reino Unido continuam a sua cooperação prática mutuamente vantajosa e estão à procura de formas adicionais de investimento de recursos e fundos. A retomada, o mais rapidamente possível, das atividades do Comité Intergovernamental para o Comércio e Investimento e do Diálogo de Alto Nível sobre Energia ajudaria a consolidar esta tendência e serviria de apoio para as nossas comunidades empresariais. A Rússia está pronta para a retomada das suas atividades.

Outro bom exemplo é a dinâmica das trocas culturais e humanitárias, que se baseiam numa longa e firme tradição positiva. Em 2019 e 2020, foram realizadas com sucesso as atividades no âmbito do Ano Dual da Música Rússia-Reino Unido. Para 2022 e 2023, está previsto um Ano do Conhecimento. Mantemos contactos entre os representantes das sociedades civis dos nossos países.

Todavia, ainda não discutimos isso hoje. Esperamos podermos falar sobre assuntos bilaterais durante um pequeno-almoço de trabalho. Outra razão por que ainda não discutimos isso foi a de que pedimos à Senhora Ministra que nos dissesse quais os temas que ela gostaria de discutir. A Senhora Ministra citou a Ucrânia, Bielorrússia, China e Irão. Fizemos um ponto da situação da implementação dos acordos de Minsk, que não só não estão a ser cumpridos por Kiev, como estão a ser rejeitados ostensivamente pelo regime ucraniano. Expusemos os nossos passos para persuadir aqueles que têm influência sobre o regime de Kiev a forçar Vladimir Zelensky e o seu governo a cumprirem os seus compromissos decorrentes dos acordos de Minsk aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU. Temos interpretações diferentes dos acordos de Minsk, embora eu não veja como podem ser interpretados de forma diferente os acordos escritos preto no branco. Informámos o lado britânico das nossas relações com a República da Bielorrússia, assim como da preparação dos exercícios militares que estão a começar nestes dias e que preocupam Londres e o Ocidente. A presença das nossas tropas no nosso território nacional causa uma preocupação incompreensível e emoções muito fortes aos nossos colegas britânicos e aos outros representantes ocidentais. A pedido da Senhora Ministra, informei-a das nossas relações com a República Popular da China, incluindo as recentes conversações realizadas em Pequim entre o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o Presidente da China, Xi Jinping. Eu disse-lhe que estávamos a construir as nossas relações com a China tanto no âmbito bilateral como no âmbito de estruturas regionais e multilaterais exclusivamente em pé de respeito mútuo, equilíbrio de interesses, igualdade sem que um mande e o outro obedeça, como é praticado na Aliança do Atlântico Norte.

Quanto à questão iraniana, fomos unânimes em constatar que existe a possibilidade de o processo de implementação do Plano de Ação Conjunto Global ser retomado num futuro próximo, havendo, contudo, um longo caminho a percorrer.

Durante a discussão da questão ucraniana, a Senhora Ministra abordou as iniciativas avançadas pela Federação da Rússia em meados de dezembro passado sobre as garantias de segurança na Europa. Informámo-la sobre as nossas posições em relação ao nosso futuro trabalho, principalmente com os Estados Unidos da América. Manifestámos o nosso interesse de não receber desculpas, mas uma resposta concreta ao nosso pedido de esclarecimento da interpretação dada pelos nossos colegas ocidentais aos compromissos aprovados ao mais alto nível na OSCE e que implicam, entre outras coisas, a inadmissibilidade de reforçar a segurança de um país em detrimento da segurança dos outros. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia exposto detalhadamente as nossas posições sobre este problema, inclusive numa conferência de imprensa após as suas conversações com o Presidente Emmanuel Macron. Ele havia manifestado a nossa convicção de que o alargamento da NATO violaria de forma grosseira os compromissos assumidos por todos os líderes da OSCE nas cimeiras de Istambul e Astana. Sugeriu que deveríamos elaborar em conjunto abordagens aceitáveis para com a segurança da Ucrânia, dos países europeus e da Federação da Rússia. Não posso dizer que temos aqui pontos de convergência, mas espero que as conversações de hoje permitam aos nossos colegas britânicos compreender melhor a importância que esta questão tem para a Federação da Rússia.

Espero que, durante o pequeno-almoço de trabalho, possamos também falar sobre a nossa interação no Conselho de Segurança da ONU. A Rússia e o Reino Unido são membros permanentes deste importante organismo das Nações Unidas. Temos uma responsabilidade particular em tomar medidas para garantir a segurança e estabilidade internacionais. Espero que prestemos uma maior atenção a estas tarefas quando falarmos de temas internacionais que nos permitem conjugar os nossos esforços construtivos, e que evitemos que sejam criados artificialmente problemas que, com o tempo, se tornam dominantes no nosso diálogo, em detrimento das tarefas que devem ser resolvidas no interesse da paz e da estabilidade no mundo.

Pergunta (endereçada a Liz Truss, tradução do inglês): Há alguns dias, a senhora disse nas redes sociais que as ações da Rússia mostram que as suas afirmações de que não tem planos de invadir a Ucrânia são falsas. Depois das conversações de hoje, ainda acredita que a Rússia está a planear invadir a Ucrânia?

Serguei Lavrov (acrescentando depois de Liz Truss): Falámos detalhadamente sobre isso hoje. Estou desapontado ao verificar que a nossa conversa faz lembrar uma conversa entre um surdo e um mudo. Parece que estamos a ser escutados, mas não estamos a ser ouvidos. As nossas explicações detalhadas "caíram" num "terreno" despreparado. É como quando eles dizem que a Rússia está à espera que o solo congele e se torne sólido como uma pedra, para que os seus tanques possam entrar em segurança no território ucraniano. Os nossos colegas britânicos parecem terem estado hoje num solo congelado. Os numerosos factos que citámos "deitavam-se" e "saltavam" dele. Recordámos-lhes as explicações detalhadas dadas pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e pelos nossos outros representantes. Senti que os nossos colegas não as conheciam ou estavam a ignorá-las completamente.

O senhor citou as palavras da Senhora Ministra de que as declarações da Rússia de que não tinha planos de atacar a Ucrânia eram falsas. Não é apenas o governo russo que faz estas declarações, o Pentágono também faz declarações semelhantes. Li recentemente sobre isso. As pessoas que ali trabalham são sérias, observam via satélite tudo o que acontece. Gostaria de salientar que tudo o que ali acontece, acontece no território nacional russo. Declarações semelhantes são feitas pelo Ministro da Defesa ucraniano, Aleksei Reznikov. O Presidente Vladimir Zelensky insta a não entrar em pânico. Aparentemente, os nossos colegas ocidentais só precisam de Vladimir Zelensky como instrumento para tirar a Rússia do equilíbrio. Ninguém quer saber o que ele pensa e que impacto negativo esta histeria tem na economia e orçamento ucranianos. Os investimentos estão a "fugir" à Ucrânia devido a estes soluços e lamentações. O pessoal das embaixadas está a ser retirado, os cidadãos anglo-saxónicos estão a ser exortados a deixar a Ucrânia, o mais rapidamente possível. Isso nos levou a supor que possam ser os anglo-saxões a estar a preparar alguma coisa uma vez que estão a retirar o seu pessoal do país.  Analisámos as suas ações. Pode ser que também aconselhemos o pessoal de apoio das nossas missões diplomáticas a regressar a casa por algum tempo. Não sei o que os nossos colegas anglo-saxões têm em mente. Isto é de lamentar.

Explicámos detalhadamente hoje ao lado britânico que as tropas russas (que a Senhora Ministra mencionou e que preocupam Londres) se encontram no nosso território nacional. Ao contrário das centenas e milhares de militares britânicos instalados nos Países Bálticos. O Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, declarou que as tropas britânicas deveriam também ser enviadas à Roménia e à Bulgária. Quando lhe dissemos que as tropas da Rússia estavam no seu território nacional, ele disse que essas tropas também estariam no seu território, porque os países mencionados eram membros da NATO.

A ideia de papel central da NATO permeou a nossa conversa de hoje. Foi-me útil compreender quão indoutrinados os nossos colegas estão ao abordar as questões da segurança no continente europeu, quão egoístas, no que respeita à tese de papel central da NATO, eles são em relação às legítimas preocupações da Rússia com a sua segurança, quão seletivos eles estão ao interpretar os seus compromissos assumidos no âmbito da OSCE sobre a indivisibilidade da segurança. Há um pacote inteiro dentro de um parágrafo único. Reconhece-se o direito de cada Estado de escolher aliados e alianças. Ao mesmo tempo, estipula-se o dever de cada Estado de não reforçar a sua segurança em detrimento da segurança dos outros. Salienta-se o respeito por uma política de neutralidade, a inadmissibilidade de uma situação em que o espaço da OSCE seja dominado por um país, grupo de países ou organização, a inadmissibilidade das esferas de influência no espaço europeu. Citámos numerosos exemplos de como a NATO e a União Europeia estabelecem arbitrariamente as suas esferas de influência. A UE declara que os "russos não têm nada a fazer" nos Balcãs (e na África). Os EUA nomeiam um enviado especial para reformar a legislação eleitoral da Bósnia e Herzegovina. Não será isto uma esfera de influência? Não é a reivindicação dos EUA de dirigir todos os processos nos Balcãs? Penso que este é um facto óbvio.

Respondemos às perguntas de Liz Truss sobre o que estamos a fazer com a Bielorrússia, quais são os nossos planos. Tudo parece ser uma abordagem unilateral baseada numa confiança irreparável de que o Ocidente tem o direito de nos exigir algumas garantias quando ninguém nos promete nenhuma. Esta discussão muito ilustrativa será, infelizmente, reproduzida em respostas às nossas perguntas sobre como o Ocidente interpreta o princípio da indivisibilidade da segurança. Estamos à espera das respostas de todos os países que compõem a OSCE. A julgar pelas informações que tenho, haverá uma resposta coletiva da União Europeia em que todas as nuances das posições nacionais serão niveladas, em vez de respostas concretas de cada país. Estou convencido de que, neste caso, não poderemos conversar. Iremos pensar em como sair desta situação.

Pergunta: (via intérprete do inglês): Ouvimos constantemente falar da "diplomacia coerciva". Este tipo de diplomacia funciona para si? Podemos esperar que tais ferramentas sejam utilizadas? Como irá a Rússia agir a partir de agora?

Seguei Lavrov: Está a falar do desejo da Rússia de combinar a "diplomacia coerciva" que combina exigências políticas e ameaças físicas (se bem entendi). Não temos desejo de coagir ninguém. É o Ocidente que nos acusa de coagirmos alguém ao exigir a implementação das decisões das cimeiras da OSCE. Somos a favor da diplomacia.

Os nossos colegas ocidentais aprenderam de cor o termo "desescalada". Digam o que disserem em relação à Rússia, exigem sempre a "desescalada". A segunda tese é que eles "esperam" que Moscovo opte pela diplomacia. Temos optado pela diplomacia todos estes anos e continuamos a querer contar com ela. A Carta de Istambul para a Segurança Europeia, de 1999, e a Declaração de Astana, de 2010 são produtos da diplomacia, da diplomacia ao mais alto nível.

Dizem-nos agora que acordaram uma fórmula: ninguém deve reforçar a sua segurança à custa da segurança dos outros. Mas isto, dizem eles, é apenas para que hoje possam defender o direito de qualquer país de escolher alianças. Fomos enganados várias vezes (após a reunificação da Alemanha, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou detalhadamente sobre isso). Agora estão a tentar enganar-nos sobre os compromissos que todos nós acordámos e saudámos no seio da OSCE, ou seja, sobre a indivisibilidade da segurança.

Citámos um exemplo. Existe um pacote acordado, do qual eles "arrancam" o direito de escolher alianças, ignorando a obrigação de não prejudicar a segurança dos outros. Uma semelhante atitude seletiva é demonstrada pelo Ocidente em relação aos acordos de Minsk, não falando sequer da posição de Kiev. Os acordos de Minsk é uma solução para os problemas da segurança, cessar-fogo, anistia, estatuto especial para Donbass, reforma constitucional com vista à descentralização e eleições sob a égide da OSCE e de comum acordo com Donetsk e Lugansk. Depois disso, o lado ucraniano poderá retomar o controlo sobre toda a fronteira. "Arrancam" deste pacote apenas este último aspeto.

Quando hoje levantei este tema, a Senhora Ministra disse que precisavam de ver a sequência de passos. Referem-se apenas à cláusula de interesse para o regime de Kiev referente à retomada do controlo sobre as fronteiras. Todavia, este ponto dos compromissos de Minsk aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU está condicionado às restantes cláusulas. Kiev não quer fazer tudo o resto, afirma-o publicamente. Uma atitude semelhante à que se verifica em relação aos compromissos sobre a indivisibilidade da segurança: primeiro se dispõem a acordar tudo para acalmar todo o mundo, depois arrancam do pacote acordado o que lhes interessa e rejeitam o resto como algo artificialmente inventado. Esta atitude não vai funcionar.

Não queremos ameaçar ninguém. Vejam as nossas declarações públicas. Não contêm nenhuma ameaça. Somos nós que estamos a ser ameaçados. As ameaças contra nós foram também lançadas pela Senhora Ministra durante a sua recente intervenção na Câmara dos Comuns. Durante as conversas de hoje, ouvimos as mesmas teses proferidas por responsáveis governamentais britânicos de que, se não pararmos com a "agressão", enfrentaremos gravíssimas consequências, as quais lamentaremos. De que agressão se trata? Quando começou? Contra quem? Alguma vez ouviu de nós algo parecido? Estou certo de que não poderão citar nenhum exemplo.

Gostaria de salientar que queremos que o espírito de compromisso, a procura de um equilíbrio de interesses, cooperação, respeito mútuo e igualdade, tudo o que tornou possível a adoção de documentos-chave ao mais alto nível no seio da OSCE, nos ajudem a levar à prática estes acordos, já consagrados no papel. Chegou o momento em que as palavras não podem mais continuar a ser apenas palavras. Estamos prontos para uma cooperação.

Pergunta: (via intérprete do inglês): A Ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido deu algumas garantias ou concessões sobre as principais preocupações da Rússia relativamente ao alargamento da NATO?

Serguei Lavrov: A exigência de retirar as tropas russas do território russo não mudou em nada em resposta aos nossos argumentos. Não ouvimos nenhumas outras teses. Isto é de lamentar, no mínimo. Quando se refere ao facto de o Presidente Emmanuel Macron ter confirmado que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, lhe disse que a Rússia não tinha planos de invasão, Liz Truss deseja que as palavras não divirjam dos atos. É uma conversa interessante. Há muito tempo que não participo em conversações diplomáticas que poderiam ser transmitidas em direto porque não ouvimos nada de secreto ou confidencial, além do que se declara publica e regularmente em Londres.

Quanto às palavras e aos atos. Defendemos sempre que os atos não divirjam das palavras. Neste sentido, chamo a atenção para os numerosos e detalhados materiais utilizados nas entrevistas do Presidente russo, Vladimir Putin, nas entrevistas concedidas pelos dirigentes do nosso Ministério, distribuídas por todo o mundo, que confirmam que nos prometeram que a NATO não iria alargar-se ao Leste. Após estas promessas, houve cinco ondas de expansão. Como resultado, a Organização, sendo uma aliança de defesa, como a Senhora Ministra nos confirmou agora, havia-se aproximado das nossas fronteiras. O conceito de aliança de defesa era compreensível quando existia o Pacto de Varsóvia, quando havia um Muro de Berlim, real e imaginário. Era uma linha de defesa e todos o compreendiam. Neste momento, não há mais o Pacto de Varsóvia, nem o Muro de Berlim, e a NATO decide sempre sozinha onde passará a sua linha defensiva.

Mencionei hoje que Jens Stoltenberg havia declarado muitas vezes que a NATO deveria arcar com uma responsabilidade especial pela segurança no Indo-Pacífico, em particular no Mar do Pacífico Sul. Se a NATO decidir traçar aqui a sua linha defensiva, insistirá também que é o direito de todos os países de se deslocarem para onde a NATO quiser? Este é um jogo perigoso. Não deixamos de ouvir os "cânticos rituais" sobre a natureza defensiva da Aliança do Atlântico Norte, apesar de termos apresentado repetidamente aos nossos colegas da NATO informações sobre como eles bombardearam a Jugoslávia, o Iraque por um motivo qualificado posteriormente por Tony Blair como errado e falsificado. Temos muitos exemplos de como esta aliança defensiva funciona. Londres e outras capitais ocidentais acusam-nos de ingerência em todos os lugares e assuntos. Uma nova tese de guerra cibernética foi mais uma vez verbalizada hoje. Os meios de comunicação aparentemente renomados noticiam que estamos a preparar uma "operação" para tomar Kiev e todas as outras cidades ucranianas ou que estamos a preparar um "golpe de Estado" para derrubar e meter na cadeia o "regime fantoche" na capital ucraniana. Tudo isto é uma história do gênero "highly likely". Fiz notar hoje a Liz Truss que o "highly likely" é sempre o "highly likely". Quanto às acusações de a Rússia estar envolvida no envenenamento de Aleksandr Litvinenko em 2007, nenhuma prova foi até hoje apresentada. Não foi apresentada nenhuma prova da implicação da Rússia no caso Skripal. Não sabemos sequer onde eles estão. A sua filha tem nacionalidade russa. Negam-nos acesso, não nos dizem nada sobre isso. Nenhuma prova foi apresentada no caso Alexei Navalny. O Reino Unido está a desempenhar um papel de liderança na campanha de difamação da Rússia.

Falámos muito sobre a necessidade de basear o nosso trabalho em factos, caso contrário, seria pura propaganda. Infelizmente, não ouvimos nenhuns factos. Além disso, não ouvimos nenhuma reação à nossa declaração sobre a necessidade de sustentadas com provas as acusações lançadas contra a Rússia. A Senhora Ministra mencionou o Memorando de Budapeste. Lamento que esteja a fazê-lo pela segunda vez nesta sala, apesar das explicações detalhadas que demos durante as negociações sobre esta questão. O Memorando de Budapeste entre a Rússia, o Reino Unido e os EUA deu garantias de segurança à Ucrânia como Estado não nuclear, garantias de segurança padronizadas para qualquer Estado não nuclear. O memorando em causa não obrigava a Rússia, o Reino Unido ou os EUA a reconhecer o golpe de Estado inconstitucional perpetrado por neonazis e ultrarradicais em fevereiro de 2014. O memorando de Budapeste foi acompanhado por uma declaração assinada, para além dos três países acima citados, pela Ucrânia e França. Esse documento exige que todos os participantes, incluindo a Ucrânia, não permitam qualquer violação dos princípios fundamentais da OSCE, incluindo (destacado em especial) o princípio do respeito pelos direitos das minorias nacionais. A Ucrânia pôs tudo isso no lixo.

Ninguém jamais nos imporá a necessidade de reconhecer regimes inconstitucionais em violação de todas as obrigações internacionais da Rússia e de justificar a discriminação praticada por estes regimes contra a população de língua russa e representantes de outras minorias nacionais, o que acontece diariamente, inclusive nas atividades legislativas do regime ucraniano com o apoio ativo do Presidente Vladimir Zelensky.

Já que estamos a falar da Ucrânia, recordei hoje a Liz Truss que tanto Vladimir Zelenski como os seus ministros, o chefe do Conselho de Defesa e Segurança declararam publicamente que não iriam cumprir os acordos de Minsk. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, declarou sem rodeios que não haveria nenhum diálogo direto com Donetsk e Lugansk, uma vez que nenhum diálogo não está previsto nos acordos de Minsk. Escola de Joseph Goebbels e até ultrapassa o principal propagandista do Terceiro Reich, porque é bastante confortável para os demagogos que agora defendem a sua visão, tentando reescrever os acordos de Minsk, dizer mentiras e rejeitar o que foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU e escrito preto no branco, sem se preocuparem minimamente com o que Londres, Paris, Berlim ou Washington lhes dirão. Infelizmente, os nossos parceiros não deram ouvidos aos nossos argumentos, embora tenhamos falado detalhadamente sobre este tópico.

Pergunta (via intérprete do inglês): A situação entre os países é extremamente tensa. A desescalada poderia nos ajudar a diminuir estas tensões. Seria possível enviar as tropas de volta às bases, por exemplo, após os exercícios na Bielorrússia? Está pronto para mostrar alguns gestos significativos a fim de conseguir uma desescalada e diminuir um pouco a tensão?

Serguei Lavrov: Após os exercícios militares, as tropas regressam aos quartéis. É assim que normalmente acontece. Quanto à duração dos exercícios, este é o direito soberano de cada governo soberano. Em contraste com os exercícios que a Rússia realiza no seu território, após os quais as tropas regressam aos quartéis, as tropas que estão longe do território britânico, americano e canadiano são enviadas para os Estados Bálticos e países que se encontram na costa do Mar Negro, essas tropas e armas geralmente nunca regressam a casa. Também falámos sobre isto hoje, mas Liz Truss explicou-nos claramente que isso não é da nossa conta. Por outro lado, as nossas tropas no território nacional russo é o principal motivo de preocupação para Londres, e o slogan da desescalada que acaba de repetir corretamente. É um fator unificador para toda a comunidade ocidental. O senhor está a seguir a lógica que as elites políticas ocidentais lhe têm vindo a impingir há meses. A sua pergunta era se estava a Rússia pronta a fazer algum gesto significativo para diminuir a tensão. Primeiro, tem de me provar que fomos nós que criámos esta situação, que estamos a instiga-la e que estamos a fazer algo que não diz respeito à nossa soberania e ao nosso direito soberano de agir no nosso próprio território nacional. Deixo ficar na consciência dos nossos parceiros ocidentais as alegações sobre a presença de tropas russas e de armamento pesado na Ucrânia. Tudo isto é da categoria de "highly-likely". Citei os exemplos: Litvinenko, os Skripal, Navalny, em resposta vêm as mesmas acusações. Nenhuma prova foi apresentada. Quando lhes dizemos várias vezes que não há factos, as nossas observações são ignoradas. Eles não nos querem ouvir, porque o Reino Unido pensa provavelmente que temos outros direitos no cenário internacional, não tão importantes como os seus. O senhor disse que estamos a realizar exercícios na Bielorrússia, enquanto a Senhora Ministra disse que o principal para ela é evitar uma guerra na Ucrânia. Para que ela está aqui.

Posso prever o desfecho do drama orquestrado pelo Ocidente. Está a tentar fazer dele uma tragédia, embora se pareça mais com uma comédia. Dentro de algum tempo, os países ocidentais descobrirão que os exercícios russo-bielorrussos terminaram e que as nossas tropas regressaram ao seu território nacional. Um grande alvoroço será feito para mostrar que o Ocidente conseguiu uma desescalada da Rússia, embora, na realidade, isso equivalha a "vender o ar". Todos sabem muito bem, pois declarámos isso, que, após o fim dos exercícios, as tropas russas voltariam sempre ao seu território. Li uma publicação de um veículo de comunicação canadiano que o tema da Ucrânia é "uma muleta para a popularidade em declínio dos políticos ocidentais". Uma metáfora interessante.

Espero que abordemos com responsabilidade as importantes questões relacionadas com a segurança europeia e a segurança de todos os países membros da NATO, da Ucrânia e da Rússia sem exceção e evitemos coisas propagandísticas com vista às aventuras eleitorais.


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