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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 30 de agosto de 2023

1656-30-08-2023

Sobre a problemática do "G20"

 

Nos dias 9 e 10 de setembro, Nova Deli (Índia) acolherá a cimeira do G20. Por ordem do Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, a delegação russa na referida cimeira será chefiada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.

Prevê-se que o Ministro intervenha em duas sessões plenárias: na sessão "Um Só Planeta", centrada no desenvolvimento sustentável e no crescimento económico estável, que se realizará a 9 de setembro; e na sessão dedicada ao tema "Um Só Futuro", a 10 de setembro, com destaque para as tarefas fundamentais da democratização e do reforço do papel dos países da maioria mundial nas instituições económicas mundiais, bem como para a transformação digital. Serguei Lavrov manterá ainda uma série de reuniões bilaterais à margem da cimeira. Destacamos a natureza unificadora da presidência indiana do G20, a sua determinação em promover os interesses dos países em desenvolvimento e criar um ambiente construtivo na cimeira. Congratulamo-nos com a decisão esperada de admitir a União Africana no G20 como membro permanente. A Rússia foi dos primeiros países a apoiar esta iniciativa e a contribuir para a sua implementação prática.

O potencial produtivo do G20 está atualmente artificialmente limitado pela política de confronto do "Ocidente coletivo". A tensão é ainda maior devido à divulgação de informações falsas antirrussas pelos EUA e os seus aliados, principalmente no que diz respeito à questão ucraniana. Qualificamo-lo de "ucranianização" da agenda internacional – os ocidentais não desejam ver os verdadeiros problemas decorrentes da crise ucraniana, as suas causas nem as vias para a resolver. Ao mesmo tempo, continuam a pedalar este assunto em todos os lugares, inclusive naqueles onde este assunto não deve ser abordado.

As tendências alarmantes estão a crescer devido às tentativas do Ocidente de desvalorizar o princípio da tomada de decisões por consenso no G20 e extrapolar para este fórum acordos duvidosos aprovados pelo G7. Os anglo-saxónicos estão a urdir as mais diversas “sujeiras”.

Durante a cimeira, pretendemos promover abordagens de princípio para com a problemática dos objetivos de desenvolvimento sustentável e dos principais desafios nesta área, do abalo da economia mundial provocado pelas sanções ocidentais, dos ataques terroristas, dos conflitos e da rutura das cadeias de fornecimento. Exporemos as nossas visões dos riscos que implica uma "ecologização" acelerada da economia, especialmente para os países mais vulneráveis do mundo. O Ocidente conseguiu politizar ao extremo o tema da ecologia. Isto não é apenas irrefletido, mas também prejudicial, porque a sua posição não tem nenhum fundamento científico.

Exporemos em pormenor os nossos pontos de vista sobre a necessidade de reformar o sistema de governação económica global à luz da emergência de uma ordem mundial policêntrica e da redistribuição das forças produtivas a favor dos países em desenvolvimento, e de contrariar as sanções unilaterais arbitrárias e ilegítimas impostas pelo Ocidente. Procuraremos soluções equilibradas no domínio de transformação digital, redução dos riscos no domínio de segurança energética e alimentar a busca de vias otimizadas de transição energética.

Prestaremos especial atenção à reafirmação do estatuto da Rússia como fornecedor fiável de recursos energéticos e produtos de exportação, bem como às propostas concretas da parte russa no sentido de expandir a cooperação multilateral, em especial através da implementação da Grande Parceria Euroasiática.

Estamos empenhados em contribuir de todas as formas possíveis para o êxito da Cimeira de Nova Deli e para a eficácia da presidência indiana em geral. Esperamos que todos os outros membros do G20, especialmente os do perímetro ocidental, adotem a mesma atitude responsável.

Opor-nos-emos ativamente, juntamente com os países parceiros e amigos no G20, com o apoio dos países BRICS, a quaisquer processos prejudiciais.

 

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

Esta noite, o regime de Kiev atacou com drones várias instalações em regiões russas. Na cidade de Pskov, foi atacado um aeródromo civil-militar, na cidade de Briansk foi danificado um edifício administrativo e no distrito de Dzerzhinski da Região de Kaluga, um drone atingiu um tanque vazio de armazenamento de produtos petrolíferos. Nas Regiões de Moscovo, de Orel, de Riazan e de Tula foram abatidos vários drones ucranianos. De acordo com dados preliminares, não há registo de vítimas. Os ataques dos drones ucranianos a instalações civis confirmam, mais uma vez, que o regime de Kiev é um regime terrorista. É também evidente que os drones ucranianos não poderiam ter percorrido uma distância tão grande sem que a sua rota tivesse sido cuidadosamente planeada com base nas informações via satélite fornecidos pelos ocidentais.

O regime de Kiev, apoiado e encorajado pelos países do "Ocidente coletivo", continua a bombardear todos os dias instalações civis e áreas residenciais em regiões russas, utilizando, entre outras coisas, munições de fragmentação que representam um perigo particular para os civis. Recorde-se que estas munições foram fornecidas pelos EUA.

A 25 de agosto, as forças ucranianas bombardearam a cidade de Donetsk, matando um civil. A 26 de agosto, os neonazis ucranianos bombardearam o vilarejo de Urazovo, na Região de Belgorod, fazendo seis feridos. No dia seguinte, um ataque ucraniano a Gorlovka e Donetsk fez seis feridos entre civis, entre os quais quatro crianças. A 29 de agosto, duas pessoas foram mortas na sequência de bombardeamentos ucranianos na Região de Briansk.

De acordo com o Governador interino da República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, o número de civis mortos pelas forças armadas ucranianas aumentou drasticamente desde que os ucranianos começaram a utilizar munições de fragmentação norte-americanas. As munições de fragmentação não deflagradas também representam um perigo. A sua explosão em Donetsk, a 18 de agosto, fez três mortos. Esta é uma prova direta de que o fornecimento de armas à Ucrânia pelos países ocidentais, em particular os EUA, faz aumentar o número de vítimas civis. Os projéteis ocidentais estão a matar civis. Terão os meios de comunicação social norte-americanos incluído os sofrimentos desta população civil na sua agenda? Têm a intenção de saber junto da Casa Branca e do Departamento de Estado dos EUA se estão a fazer uma contagem das pessoas que morreram às mãos do regime de Kiev munido de armas norte-americanas?

As ações do regime ucraniano não ficarão impunes. As autoridades policiais russas estão a investigar e a documentar cuidadosamente todos os factos relacionados com o bombardeamento de regiões russas por militantes ucranianos e com as suas outras atividades criminosas. Os responsáveis estão a ser levados à justiça. Gostaria de dizer aos militantes do regime de Kiev que estão atualmente a bombardear bairros residenciais de Donetsk e de outras cidades e povoações russas que acreditam sinceramente que os seus crimes não serão conhecidos, serão esquecidos ou não serão investigados porque são maciços, que estão enganados.

Os tribunais russos condenaram recentemente vários militantes ucranianos com base em provas recolhidas pelo Comité de Investigação russo. O comandante ucraniano D. Khrapach foi condenado à revelia a prisão perpétua por ter dado a ordem de bombardear um bairro residencial da cidade de Donetsk no final de dezembro de 2022. O nazi ucraniano A. Novik foi condenado a uma pena de 15 anos de prisão numa colónia penal de segurança máxima por ter disparado um lança-granadas contra uma casa residencial em Severodonetsk em maio de 2022.  O ucraniano S. Boychuk recebeu uma pena de 20 anos de prisão numa colónia penal de segurança máxima por ter disparado uma arma de cano liso montada num veículo de combate de infantaria contra uma casa residencial no distrito de Popasnyansky em junho de 2022, matando um civil idoso.

Os ucranianos R. Petrenko e A. Khrolenko foram condenados a 25 anos de prisão numa colónia de segurança máxima por terem disparado, em março de 2022, contra um carro com civis em Mariupol, cumprindo a ordem criminosa do seu comandante. Como resultado, quatro civis foram mortos. O nacionalista Y. Kulinich, foi condenado a 17 anos de prisão numa colónia de segurança máxima por ter atirado uma granada a uma mulher idosa no vilarejo de Rubejnoe, na República Popular de Lugansk, por não gostar das suas palavras sobre a Ucrânia. A mulher morreu no local enquanto ele continuará a viver.

Os esforços para a identificação e punição dos criminosos ucranianos que combatem civis vão continuar. Não faz diferença se cometem os seus crimes espontaneamente ou por ordem do regime de Kiev. A justiça apanhá-los-á. Neste contexto, os representantes das atuais autoridades ucranianas não param de intensificar a sua retórica antirrussa agressiva. No outro dia, o chefe do Gabinete de Vladimir Zelensky, A. B. Yermak, ameaçou que toda a nação russa seria responsabilizada pelos "crimes" alegadamente cometidos pelos russos. Mikhail Podoliak, conselheiro do chefe do Gabinete de Vladimir Zelensky, faz-lhe eco, dizendo que os países da NATO deram luz verde ao regime de Kiev para atacar a Crimeia: "Hoje existe um consenso absoluto de que podemos destruir tudo o que é russo, por exemplo, na Crimeia”. Lembrar-nos-emos das suas palavras. Responderemos com palavras e atos.

Os países da NATO, encorajando crimes ainda mais selvagens dos seus protegidos de Kiev, continuam a fornecer-lhes armas mortíferas. Em simultâneo com os fornecimentos de armas, discute-se a hipótese de os países ocidentais enviarem aviões de caça para Kiev. Condenamos veementemente tais ações. Têm como objetivo uma nova escalada do conflito. Para nós, não importa se se trata de aviões F-16 ou de qualquer outro tipo de aeronave. A conclusão é a mesma - o Ocidente está a ficar cada vez mais envolvido no conflito em torno da Ucrânia. As palavras de que não estão num confronto "direto" com o nosso país perdem o seu significado.

Tudo isto confirma a natureza geopolítica da atual fase de agressão do "Ocidente coletivo" contra a Rússia. Começou muito antes de 2022, sob a forma de sanções, restrições, raptos de cidadãos russos, atos de sabotagem, interferência nos assuntos internos, tentativas de mudar tudo no nosso país ao seu gosto e de colocar sob o seu controlo tudo o que é nosso (dos recursos à cultura).

Os ocidentais criaram um regime neonazi na Ucrânia e agora estão a usá-lo para atacar a Rússia na esperança de se vingarem dos fracassos sofridos, em tempos, por Carlos XII, Napoleão, Hitler. Esta situação de confrontação global com a Rússia e o desejo dela de repelir a agressão dos países ocidentais, não difere em nada da Guerra da Crimeia do século XIX, da Grande Guerra Patriótica, etc. Os players são os mesmos. O território de confronto é, em grande medida, o mesmo. Mas há uma diferença. Consiste no facto de, a cada tentativa, o conjunto de instrumentos usados pelos   ocidentais se tornar cada vez mais imoral.

Os países da NATO encobrem os seus planos agressivos contra a Rússia promovendo a "fórmula de paz" de Vladimir Zelensky. É uma espécie de "jogo". Primeiro, proibir o regime de Kiev de negociar com o nosso país, obriga-lo a recusar-se a contactos pacíficos (refiro-me a 2022 e não estou a falar dos antecedentes do que está a acontecer na Ucrânia), a adotar atos legislativos que bloqueiam qualquer interação com a Rússia. Depois apresentam uma "fórmula de paz", afirmando, porém, que tudo deve ser decidido "no campo de batalha". Como assim? Na verdade, tudo é simples. A "fórmula de paz" de Vladimir Zelensky não tem nada a ver com a paz, devido aos seus defeitos políticos e jurídicos. O Ocidente está a usar todas as oportunidades para sair do impasse em que se meteu. Mas as suas tentativas são vãs, porque não se dão a oportunidade de se aperceberem de que o caminho que escolheram é errado.

Nos dias 5 e 6 de agosto, Jeddah (Arábia Saudita) acolheu consultas sobre a resolução da crise ucraniana. Na sequência daquela reunião, os ocidentais criaram alguns grupos de trabalho virtuais sobre as principais disposições da famigerada "fórmula", apesar de não terem sido alcançados nenhuns entendimentos sobre esta questão durante a reunião acima referida na Arábia Saudita. Quiseram realizar uma reunião reservada, mas não obtiveram a aprovação da comunidade internacional. Não conseguiram impor nada à maioria mundial. Depois, o "Ocidente coletivo" começou a enviar alguns links para algumas conferências online e a convidar países a participar virtualmente na discussão de questões relacionadas com a Ucrânia. Isto já não é apenas indecoroso, mas parece uma trapaça. Aqueles que recebem estes links não sabem sequer quem vai falar com eles do outro lado do ecrã. Os meios de comunicação social liberais não gostavam de pregadores de partidas. As ações dos EUA são agora o que é uma partida diplomática. Parabéns por um novo género, diplomacia cor-de-rosa.

O Ocidente está a tentar atrair a ONU e outras organizações internacionais para a implementação dos seus planos. Não se coíbem de violarem diretamente o princípio da imparcialidade consagrado no Artigo 100º da Carta das Nações Unidas. Verifica-se que isso não preocupa o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, mas deveria.

O objetivo final de tais esforços é fazer crer que existe um apoio internacional à famigerada "fórmula de paz" e atrair países neutros ou amigos da Rússia do Sul Global para a coligação antirrussa. No entanto, a maioria do mundo recusou-se publicamente a tudo o que lhe foi oferecido ou imposto por Washington. Então os ocidentais decidiram mudar de tática. Estão a tentar atrai-los para certos grupos de trabalho virtuais sem os informar, sem lhes explicar o formato, o objetivo final nem as "regras do jogo". No entanto, os nossos parceiros têm sabedoria e experiência suficientes para se aperceberem de que "fórmula" de Vladimir Zelensky e os referidos formatos são perigosos para não sucumbir a estas provocações.

Segundo a imprensa, a Ucrânia está a ampliar os seus cemitérios. Aparentemente, as autoridades ucranianas, encorajadas pelos seus patrões ocidentais, tencionam não só continuar a pilhar o outrora próspero país "até ao último cêntimo”, mas também privá-lo do seu bem mais valioso, ou seja, do seu povo. Neste contexto, é de mencionar a notícia veiculada pelos mass media de que o regime de Kiev e o Ocidente estão a planear continuar a sua "contraofensiva" no próximo ano. Os ocidentais, exigindo que o regime de Kiev seja mais resoluto, estão determinados a travar um confronto desumano até ao "último ucraniano". Esta não é uma imagem de retórica, é uma realidade. Estão a recrutar os últimos cidadãos do país. Compreendo que a inadequação das pessoas na administração ucraniana não lhes permite responder às nossas perguntas, nem a nós perguntar. Mesmo assim, gostaria de lhes perguntar: era mesmo este o plano inicial? Colocar comparsas ocidentais em cargos dirigentes da Ucrânia, destruir o seu sistema estatal e o povo e cultura ucranianos? Acontece que é este o caso.

As ações do regime neonazi de Kiev conduziram à pilhagem total da Ucrânia, que continua até hoje. A trágica desintegração e destruição da Ucrânia estão a ser usadas para uma pilhagem ainda maior. A fim de fazer crer que o governo está a combater a corrupção e de aclamar a sociedade insatisfeita com a política medíocre do governo, Vladimir Zelensky planeia apresentar para a apreciação do parlamento ucraniano um projeto de lei destinado a equiparar a corrupção em tempo de guerra à alta traição, segundo a imprensa ucraniana. Boa iniciativa, só que neste caso a equipa de Kiev terá de se demitir na íntegra.

A necessidade de desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia é óbvia para todas as pessoas sensatas, incluindo os próprios ucranianos, que se tornaram vítimas do cínico engano por parte do Ocidente. Tenho a certeza de que muitas pessoas acreditaram sinceramente, por várias razões, no Ocidente, que se aproveitou da sua ingenuidade, estupidez, ganância, dúvidas e incerteza. E, como sempre, enganou todo o mundo. Mas este engano é fatal para a Ucrânia.

 

Rodion Mirochnik é nomeado embaixador itinerante do MNE da Rússia para os crimes do regime de Kiev

 

Agora vou dizer-lhes algo que vai fazer o espaço mediático explodir, com razão.

O tempo em que nos limitávamos a declarar as violações dos nossos direitos e o uso de padrões duplos nas relações com a Rússia, esperando por uma reação da chamada "comunidade internacional" ou do "mundo civilizado", passou.

Hoje, não podemos mais permitir-nos o luxo de esperar por reações e avaliações adequadas por parte de organizações inclinadas a “avaliações seletivas” porque, em muitos aspetos, são tendenciosas. Falamos disto todos os dias, incluindo hoje.

Para que o princípio da inevitabilidade da punição e da perseguição penal seja levado à prática, todas as autoridades competentes russas devem conjugar os seus esforços nesta vertente, o já está a ser feito.

Ontem o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, emitiu um despacho que cria o cargo de Embaixador Itinerante para os Crimes do Regime de Kiev para o qual foi nomeado Rodion Mirochnik, destacado estadista e ativista social, ex-embaixador da República Popular de Lugansk na Rússia e membro do Grupo de Contacto para a resolução do conflito no Donbass que sempre defendeu firmemente a sua posição em vários fóruns russos e internacionais.

A sua missão será cooperar, em nome do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, com outras autoridades federais e regionais empenhadas na recolha, compilação de informações e avaliação jurídica dos crimes do regime de Kiev, bem como elaborar relatórios sobre os resultados das investigações dos crimes de maior repercussão pública contra civis, prisioneiros de guerra, médicos, jornalistas, clérigos e outras pessoas.

Este trabalho será sistémico. Penso que, num futuro próximo, Rodion Mirochnik falará com a imprensa e informará regularmente a comunidade internacional sobre os crimes do regime de Kiev.

 

Sobre o livro "Crimes Ucranianos contra a Humanidade"

 

Gostaria de chamar mais uma vez a atenção para o facto de, a 16 de agosto, ter sido publicado um novo livro de Maksim Grigoriev e Dmitri Sablin intitulado "Crimes ucranianos contra a humanidade". Este livro contém provas dos crimes cometidos pelos neonazis ucranianos e pelos seus cúmplices nos anos 2022 e 2023. Como se sabe, os crimes do regime de Kiev não se limitam a estes anos. Este não é o primeiro livro desta série. Já foram publicados os livros "Fascismo vulgar. Crimes de guerra das Forças de Segurança ucranianas (2014-2016)" e "Fascismo vulgar. Crimes de guerra e violações dos direitos humanos na Ucrânia (2017-2020)".

Comentámos isso em pormenor. Dissemos que o regime de Kiev praticava torturas, bombardeamentos, tomada de reféns, ataques a hospitais e unidades hospitalares, facilitando o desaparecimento de civis. Todos os dados sobre estes crimes hediondos foram recolhidos pelo Tribunal Público Internacional e apresentados no novo livro de Maksim Grigoriev e Dmitri Sablin.

Os autores citam informações concedidas por mais de 600 testemunhas, vítimas e prisioneiros de guerra ucranianos. Muitos deles falam de intermináveis bombardeamentos ucranianos, da perda de entes queridos e de tentativas de fuga sob fogo do território controlado pelas forças ucranianas.

O livro relata a destruição sistemática na Ucrânia do valor da vida humana, da fé e da dignidade, e dos direitos humanos comuns. O regime de Kiev permite-se tudo: matar mulheres e crianças, fuzilar prisioneiros, espancar clérigos, reescrever a história a seu critério.

Estes crimes do regime de Kiev não têm e não terão prazo de prescrição, e nós continuaremos a denunciá-los, a responder-lhes e a avaliá-los juridicamente.

 

O jornal Dagens Nyheter noticia o fornecimento a Kiev de equipamento sueco de acesso à Internet de dupla utilização

 

Prestámos atenção às notícias publicadas pelos meios de comunicação suecos sobre o fornecimento de terminais de Internet de banda larga a Kiev pela empresa local "Satcube". Segundo consta, estas tecnologias podem tornar-se uma alternativa aos dispositivos Starlink. A Satcube afirma que os terminais serão utilizados exclusivamente para fins civis. Naturalmente, o regime de Kiev é uma organização "pacífica", um clube de amantes do neonazismo à qual os empresários suecos "amantes da paz" fornecem equipamento civil para "jogar Tetris" e nada mais.

Vamos falar seriamente sobre o que é e para que tudo isso serve. A empresa sueca não nega que os seus produtos têm dupla utilização. Não planeia impor quaisquer restrições à utilização do seu equipamento e não se opõe a que estas tecnologias venham a ser utilizadas para fins militares, em particular, para fornecer comunicações no terreno.

Para nós, este é mais um exemplo da hipocrisia e da natureza criminosa do Ocidente: as tecnologias anunciadas pelos suecos como "pacíficas" serão utilizadas pelo regime de Kiev para coordenar operações militares.

Consideramos este passo hostil e consoante com outras ações russofóbica. Foi dado para agradar aos EUA e sob a sua supervisão direta.

Gostaríamos de sublinhar que os sistemas ocidentais de comunicação via Internet em órbita baixa representam há muito uma ameaça para todos os países. A sua principal caraterística - o acesso direto à Internet via satélite, contornando os operadores nacionais - é amplamente utilizada para interferir nos assuntos internos de países independentes. Nomeadamente, para a disseminação descontrolada de desinformação ocidental e para a organização de protestos ilegais. A comprová-lo está a utilização de terminais Starlink para a coordenação dos protestos antigovernamentais no Irão no outono de 2022.

Ao anunciar as suas entregas à Ucrânia, os suecos tinham obviamente a intenção de demonstrar a eficácia dos seus terminais Internet. Na realidade, "puseram em evidência", sem querer, que as suas tecnologias têm dupla utilização e podem ser usadas para fins militares. A Rússia responderá à altura.

 

Sobre a situação do mercado mundial de cereais

 

Gostaria de me debruçar hoje sobre dois mitologemas implantados nos últimos anos pelos meios de comunicação controlados por Washington, Londres e Bruxelas na narrativa ocidental, como se costuma dizer (a opinião pública, nas avaliações de analistas políticos como conceito imposto).

Em primeiro lugar, gostaria de comentar a situação do mercado mundial de cereais e alimentos. O que é que os ocidentais nos disseram há um ano? Eles disseram-nos e a todo o mundo que era necessário salvar os países mais pobres da fome, lutar para que as pessoas deixassem de passar fome e aumentar a segurança alimentar em geral. Para isso, eram necessários os chamados "acordos de cereais". Depois, a sua iniciativa adquiriu uma forma civilizada e passou a chamar-se "Iniciativa do Mar Negro", tornando-se uma espécie de um "pacote" de acordos, etc. Quando todos estes mitos foram desfeitos e se tornou claro que nenhum dos esforços da Rússia para implementar o que estava escrito no papel dava resultado porque tudo estava bloqueado pelo Ocidente e, em geral, ficou claro quem ganhava com tudo isso. Quando a Rússia se retirou do “acordo”, foi lançada uma monstruosa campanha de informação, cujos autores acusaram a Rússia de disparada dos preços dos alimentos e da impossibilidade de "salvar" os países mais pobres. Este é o primeiro tema sobre o qual gostaria de me debruçar hoje. A monitorização da situação nos mercados mundiais de cereais após o termo da “Iniciativa do Mar Negro” permite-nos afirmar com certeza que os mercados não registam flutuações dramáticas dos preços dos produtos cerealíferos.

Depois de a Rússia ter anunciado, a 17 de julho passado, a sua retirada da Iniciativa do Mar Negro, os preços de mercado do trigo registaram uma ligeira alta. No entanto, nos dias seguintes, o preço do contrato futuro de cereais voltou ao patamar anterior e até desceu: 1,13%, para 261 dólares por tonelada na Bolsa de Commodities de Chicago. No final de agosto, a tendência de queda nos preços é confirmada por outras praças ocidentais, onde o preço de uma tonelada de trigo se mantém na faixa de 250 a 255 dólares. Uma tendência semelhante verifica-se nas cotações do milho. A 17 de julho passado, o preço do milho desceu 1,51%, para 199 dólares por tonelada. Atualmente, o milho é negociado a 188 dólares por tonelada.

De modo geral, os indicadores de preços agregados nas principais categorias de produtos agrícolas são comparáveis com o nível de 2021. De acordo com as estatísticas do Ministério da Agricultura da Rússia, o custo médio mensal de uma tonelada de trigo entregue Free on Board (isso significa que o vendedor é responsável por todo o processo até a entrega das mercadorias a bordo do navio, após o que caberão  ao comprador lidar com todas as responsabilidades sobre perdas e possíveis danos) no porto de  Novorossiysk em agosto, foi de 249 dólares norte-americanos por tonelada, o que é inferior ao preço cobrado no mesmo período há dois anos - 284 dólares norte-americanos por tonelada (sublinhe-se que isso foi há dois anos). Compras Free on Board no porto francês de Rouen: 252 dólares por tonelada contra 295 dólares por tonelada em 2021. Tenho uma pergunta a fazer: somos os únicos a ver estes números? São confidenciais e estão escondidos do público mundial? Não, estão disponíveis para consulta. A segunda pergunta é: onde estão todos esses jornais e publicações online, televisão? Onde estão todos eles? Porque não trabalham com os factos disponíveis para consulta? Porque é que escrevem o contrário?

De acordo com as previsões dos especialistas, as cotações dos cereais a médio prazo podem sofrer uma ligeira volatilidade devido a muitos fatores. Em primeiro lugar, os fenómenos naturais causados por alterações climáticas (secas, furacões, inundações), as ações especulativas nas bolsas setoriais e, em terceiro lugar, as situações de emergência (incêndios em elevadores de cereais em França e na Turquia no corrente mês de agosto).

De acordo com as estimativas do Conselho Internacional dos Cereais, divulgadas na sua 58ª sessão realizada a 14 de junho passado em Londres. (As informações que temos não foram obtidas pelos nossos serviços secretos e estão disponíveis para consulta). Atualmente, não existem crises globais na produção e no comércio de cereais. Tenho uma pergunta a fazer: onde estão todos os jornalistas estrangeiros (norte-americanos, britânicos, franceses, alemães e canadianos) especializados nas questões da segurança alimentar? Somos os únicos a ver e a ler tudo isto? Além disso, o Conselho Internacional dos Cereais registou uma rápida descida dos preços mundiais em comparação com a época anterior: o preço do trigo apresenta uma baixa de 35%, do milho, 26%, a cevada, 41%.

Tudo isto confirma claramente que as afirmações de que a operação militar especial na Ucrânia, bem como o fim da Iniciativa do Mar Negro teriam causado uma alta dramática dos preços dos alimentos e que a Rússia é, supostamente, a principal causa da turbulência nos mercados alimentares mundiais não têm razão de ser.

Concordo que a Rússia é um fator inconveniente nesta "história" dos alimentos desde que recuperou, há cerca de uma década, a sua produção agrícola. Foi então que começaram os problemas com a Rússia. Tornámo-nos não apenas competitivos, mas líderes neste domínio. Durante décadas disseram-nos que não éramos capazes de produzir alimentos, disseram-nos que não precisávamos de o fazer, porque, ao fim de pouco tempo, iríamos ser admitidos no clube dos países "civilizados" e que nos iriam alimentar de acordo com o "horário" deles e não quando nós próprios achássemos necessário comer. Graças a Deus, recobrámos os sentidos a tempo e entrámos rapidamente no clube dos verdadeiros líderes da produção agrícola. E foi nessa altura que o Ocidente começou a ter verdadeiros problemas. Não porque tivéssemos feito algo de errado. Eles tinham um problema em termos de ideologia. Não podiam deixar isto acontecer nem nos seus piores sonhos porque eles consideram a si próprios excecionais.

Vemos na intensa campanha de desinformação desencadeada pelos EUA e os seus satélites as tentativas de forçar a Rússia a sair do mercado mundial de alimentos e obter vantagens para as suas grandes empresas agrícolas. Toda esta histeria ao longo do último ano em torno dos cereais e do "acordo de cereais", da "ajuda" do Ocidente aos países mais pobres, só serve para diminuir a nossa atratividade como produtor e fornecedor fiável de produtos agrícolas perante os olhos da "comunidade mundial", a fim de controlar esta esfera e continuar a tentar fazê-lo para prolongar mais uma vez o seu domínio. Tudo é banal. Vou dizer o que já devia ter sido dito há muito tempo. É impossível alimentar o nosso planeta sem a Rússia. Nós, ao contrário dos EUA e de outros países ocidentais, nunca o utilizámos como fator político. Fomos sempre um fornecedor fiável de produtos, inclusive aqueles agrícolas.

Prevê-se que os principais fornecedores de trigo no ano agrícola de 2022/2023 sejam a Rússia (45,5 milhões de toneladas), os países da UE (35 milhões de toneladas), a Austrália (28,5 milhões de toneladas), o Canadá (25 milhões de toneladas), os EUA (21 milhões de toneladas) e a Ucrânia (14,5 milhões de toneladas).

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, cerca de 800 milhões de toneladas de trigo serão colhidas no ano agrícola de 2023/2024, resultado ligeiramente superior ao registado no ano agrícola de 2022/2023 (788,5 milhões de toneladas). Ao mesmo tempo, os stocks mundiais desta cultura aumentarão 1,5 % para 270,1 milhões de toneladas em 2023/2024. Os volumes de produção significativos contribuirão para o aumento do comércio mundial de trigo em 0,8%, para 215 milhões de toneladas. Prevê-se que a Rússia aumente as suas vendas externas em 4,5%, para 46,5 milhões de toneladas.

Gostaria de citar uma fonte ocidental. A The Economist Intelligence Unit, do Reino Unido, assinala que a colheita de trigo na Ucrânia no atual ano agrícola diminuirá 32%, para 22,5 milhões de toneladas, em comparação com o ano agrícola de 2021/2022. A produção de trigo na Ucrânia para o ciclo 2023/2024 deverá somar 19 milhões de toneladas, enquanto as exportações cairão para 10 milhões de toneladas. É uma pena que a The Economist Intelligence Unit do Reino Unido não tenha escrito sobre o facto de o solo na Ucrânia estar agora contaminado com resíduos radioativos devido ao fornecimento de projéteis com urânio empobrecido pelo Reino Unido. Estes fornecimentos ao regime de Kiev têm vindo a ser feitos há meses, como já dissemos repetidamente. A comprová-lo estão os dados referentes aos níveis de radiação, entre outras coisas. Isto afeta a qualidade dos produtos agrícolas do território da Ucrânia. É uma pena que as publicações britânicas, norte-americanas, canadianas e da UE não escrevam sobre este assunto.

Ao mesmo tempo, a Rússia continua a cumprir, de forma responsável e de boa fé, as suas obrigações ao abrigo de contratos internacionais para a exportação de produtos agroindustriais, fertilizantes, fontes de energia e outros produtos de importância crítica. Estamos bem cientes da importância do fornecimento de bens socialmente importantes, incluindo géneros alimentícios, para o desenvolvimento socioeconómico dos países asiáticos, africanos, latino-americanos e do Médio Oriente, para a consecução dos indicadores de segurança alimentar e dos ODS.

A comprová-lo estão as iniciativas apresentadas pelo Presidente Vladimir Putin de entregas gratuitas de dezenas de milhares de toneladas de fertilizantes russos (retidos em portos europeus) e cereais (lotes de 25 a 50 mil toneladas cada um para o Burkina Faso, Zimbabué, Mali, Somália, República Centro-Africana, Eritreia) para os países necessitados. Ao mesmo tempo, a Rússia está a considerar opções para o fornecimento alternativo de alimentos aos países mais pobres como indenização dos danos causados pela suspensão forçada da Iniciativa do Mar Negro.

Recorde-se que todos os problemas associados à Iniciativa do Mar Negro foram causados pelas sanções ilegítimas, ilegais e imorais impostas pelos EUA e pela UE, bem como por todos os países que aderiram a essas sanções ou as aplicaram contra o nosso país sob pressão dos EUA.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia tem algum comentário sobre as discussões nos meios de comunicação turcos, segundo as quais o acordo de cereais pode ser prorrogado sem a participação da Rússia, "serão tomadas medidas unilaterais e serão criadas rotas alternativas". Estas afirmações são uma forma de pressão sobre a Rússia ou uma ameaça? Anteriormente, os meios de comunicação social noticiaram que as autoridades turcas, juntamente com a ONU, estão a ponderar realizar negociações sobre o acordo de cereais com uma delegação russa em Istambul. Faz sentido manter estes contactos antes da reunião entre os presidentes da Rússia e da Turquia?

Maria Zakharova: A sua pergunta é muito ampla. A primeira parte diz respeito aos meios de comunicação social turcos. Penso que qualquer meio de comunicação social pode apresentar o seu ponto de vista. Este ponto de vista não é o do governo, mas o de alguns jornalistas, analistas políticos, etc.

Em segundo lugar, o que é que significa "o acordo de cereais” pode funcionar sem a Rússia"? É o mesmo que perguntar se o G8 será o G8 sem a Rússia. Não. Sem a Rússia, o G8 será um G7. Tem de haver alguma lógica em todas estas histórias. Se estamos a falar de um acordo do qual a Rússia faz parte, este não pode funcionar sem a Rússia. É fisicamente impossível. Se estamos a falar de outros acordos em que a Rússia não participa, então devemos escrevê-lo sem rodeios.

Agora, quanto à posição do nosso país em termos globais. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem falado repetidamente sobre esta questão. Falou sobre o facto de nos termos retirado da "iniciativa do Mar Negro" ou, como se diz, do "acordo de cereais", porque os nossos interesses não foram respeitados. Ficou claro de onde vinham os "bloqueios" à concretização daquilo de que todos falaram e que foi garantido pela ONU. O Presidente Vladimir Putin e os dirigentes do nosso país de diferentes escalões têm afirmado repetidamente que, sem a concretização na íntegra de tudo o que é devido, prometido e garantido à Rússia, é estranho falar do eventual regresso da Rússia ao acordo. Só podemos falar e discutir este assunto quando todas as disposições forem integralmente cumpridas.

Espera-se que um dos tópicos das próximas conversações entre Serguei Lavrov e o Ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, seja a situação em torno dos acordos de Istambul - a "Iniciativa do Mar Negro" que terminou a 17 de julho passado e o Memorando vigente entre a Rússia e a ONU sobre a normalização das exportações agrícolas nacionais.

Consideramos que será possível fazer perguntas sobre estas questões na conferência de imprensa conjunta após a reunião dos Ministros. Ao mesmo tempo, é de salientar que a nossa posição de princípio continua em aberto. Foi repetidamente explicada pelo Presidente Vladimir Putin e por representantes do Governo. Somos a favor da plena implementação dos nossos requisitos bem conhecidos ao abrigo do Memorando Rússia-ONU. Já comentei o resto.

Pergunta: Quem vai assumir a missão do Grupo "Wagner" no Níger e no Mali após a morte de Evgueni Prigojin? O Kremlin tem uma posição oficial sobre o Grupo "Wagner"?

Maria Zakharova: A sua pergunta é supérflua. Não é necessário recordar o aspeto jurídico do caso. Os dirigentes russos já comentaram este assunto, com destaque para a falta de estatuto jurídico das empresas militares privadas e deste grupo em particular. Deste ponto de vista, a sua pergunta não tem razão de ser.

Temos afirmado repetidamente que os países soberanos independentes, em particular os que mencionou, contrataram, se desejavam, achavam necessário e importante, empresas, representantes, pessoas singulares e coletivas para resolver os problemas por eles enfrentados como a segurança, o combate ao terrorismo, proteção, etc. Por isso, a pergunta sobre quem nos países que mencionou, assumirá esta missão deve ser dirigida a esses países.

Pergunta: À margem da cimeira dos BRICS, Serguei Lavrov excluiu a hipótese de a Alemanha e o Japão obterem um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Argumentando a sua posição, o Ministro não mencionou que estes dois países estão novamente a enveredar pelo caminho da militarização. Tóquio, em particular, aumenta drasticamente as suas despesas militares, oferece aos EUA a sua tecnologia militar e acolhe os escritórios de importantes empreiteiros da indústria de guerra, além de enviar os seus caças F-35 para a Austrália. Como pensa que Moscovo deve reagir a estas ações?

Maria Zakharova: Relativamente às reivindicações da Alemanha e do Japão de assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A sua participação produzirá algum valor acrescentado? Tem de fazer algum sentido.

Recorde-se que estes dois países se associam plenamente às políticas de Washington. Nesta fase, não há áreas em que possam, pelo menos, defender os seus interesses nacionais e não ir na esteira dos EUA. O mundo terá mais dois votos a favor de tudo o que os EUA disserem.

Relativamente à participação e ao alargamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Temos falado repetidamente sobre este assunto. Para além do que já existe, o que é que temos hoje? Entre os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas temos uma "troika" (EUA-Bretanha-França) cujos elementos assumem posições quase idênticas por estarem a ir na esteira dos EUA. Aos votos dos três (em questões básicas as suas posições não divergem e certamente não se contradizem há várias décadas) que votam da mesma forma juntam-se os votos dos membros não permanentes da Europa Ocidental, que, fazendo parte da UE e da NATO, também votam de forma idêntica e tem uma visão idêntica à dos países da NATO e da UE ou a elas se associam. Há um termo chamado “voto associado”. Isso acontece em todas as ocasiões.

Na minha opinião, é necessário analisar a participação dos países em alianças e organizações político-militares para ver se os seus documentos constitutivos contêm uma cláusula referente ao voto solidário e à obrigação de harmonizar a sua política externa com a política da aliança, e ter este aspeto em conta quando se trata da sua participação nos trabalhos do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do seu alargamento. Se um país tem obrigações no seio de uma organização para desenvolver as suas atividades internacionais de acordo com a política da mesma, qual o sentido da sua participação na discussão das questões políticas ou na elaboração e implementação de questões políticas como membro independente do Conselho de Segurança da ONU? É absurdo.

Já sabemos que a posição de todos os membros da NATO sobre a questão do conflito ucraniano é idêntica e não pode ser diferente. Não podem sequer defender os seus interesses nacionais e muito menos votar em quaisquer comités da AGNU ou em qualquer outro lugar.

Colocaram ao serviço dos EUA não só as suas qualidades nacionais como também a sua soberania e as suas obrigações na Aliança (em particular a Alemanha). Agora, o Japão e outros países da região estão a ser "puxados" para um "eixo" natocêntrico. Optaram por uma associação total com os EUA em termos de geopolítica, mas têm também obrigações em diferentes alianças.

O tema da remilitarização do Japão é abordado em briefings, discursos estratégicos e artigos de programa dos dirigentes do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, em declarações e discursos dos nossos representantes no estrangeiro. Chamamos a atenção do lado japonês para a inadmissibilidade de qualquer atividade militar que represente uma ameaça à segurança do nosso país e que tenha também um efeito desestabilizador na Ásia-Pacífico. A nossa preocupação é partilhada por outros países asiáticos.

Estamos a fazer démarches contra Tóquio por via diplomática devido, inclusive, à intensificação dos exercícios militares japoneses e daqueles conjuntos com os EUA e outros países da NATO na proximidade imediata das fronteiras da Rússia. Informamo-los regularmente sobre este assunto.

No outro dia, fizemos uma apresentação sobre um exercício do género realizado pelo lado japonês na zona marítima a leste das Ilhas Curilas.

Alertámos que tais ações provocatórias podem provocar uma escalada da tensão e não ficarão sem uma resposta adequada destinada a proteger as nossas fronteiras do Extremo Oriente.

Pergunta: O Governo alemão declarou que a investigação das explosões nos gasodutos Nord Stream e Nord Stream 2 continua. O que pode dizer sobre a forma como esta questão está a progredir no Conselho de Segurança da ONU?

Maria Zakharova: Antes, eles eram mais rápidos. Não posso dizer nada. Relativamente ao "novichok” e a Aleksei Navalny, tudo foi "investigado" de imediato. O caso atingiu uma dimensão internacional. Tudo foi feito numa ou duas semanas. Imaginem, um agente de guerra química e nada. O homem foi colocado num avião, num automóvel, em hospitais. A Chanceler Merkel veio visitá-lo. Não teve medo de visitar um homem envenenado por um agente químico. Uma mulher extraordinária. O caso foi investigado num instante. Todas as conclusões foram feitas, declarações políticas foram feitas. Deveriam ter encontrado pelo menos a fórmula deste agente químico de guerra, mas aparentemente acharam que isso não era necessário, pois perceberam tudo de imediato.

No entanto, no caso dos gasodutos a investigação marca passo por alguma razão. Já se passou quase um ano, mas a investigação parece estar parada. É difícil falar seriamente sobre o assunto. Lembremo-nos. Vemos um grande número de especulações, versões postas propositadamente em circulação nos meios de comunicação social. Porque isso acontece? Porque primeiro houve uma longa pausa de muitos meses. Não foi dada nenhuma explicação clara sobre o que se estava a passar na investigação. Não disseram absolutamente nada. Depois de muitos meses de silêncio, o conceituado jornalista norte-americano Seymour Hersh publicou os resultados da sua investigação baseada nos factos obtidos sobre a destruição dos gasodutos russos no Mar Báltico. A publicação teve ampla repercussão pública. Seguiu-se um comentário do porta-voz do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric, segundo o qual a ONU não tinha mandato para investigar. Depois, por um lado, a imprensa ocidental começou a publicar várias hipóteses, uma mais absurda do que a outra. Por outro lado, a Rússia, a fim de tirar o processo do ponto morto, apresentou um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de dar à ONU a autoridade para realizar uma investigação internacional transparente e legal.

A 21 de fevereiro passado, por nossa iniciativa, o Conselho realizou uma reunião sobre esta questão. No entanto, a 27 de março, durante a votação do documento, a troika ocidental (EUA, França e Grã-Bretanha) recusou-se a apoiar a criação de um mecanismo de investigação. Obviamente, isto teve causa.

As declarações da Alemanha, da Dinamarca e da Suécia de que estariam a informar a Rússia sobre os progressos nas suas investigações não correspondem à verdade, não corresponderam naquela altura, não correspondem à verdade agora. Ninguém está a informar-nos de nada. Os nossos pedidos de uma investigação conjunta ou para nos juntarmos às investigações em curso foram rejeitados. Os pedidos de cooperação enviados pelo primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, também foram ignorados. Para comprová-lo, publicámos, a 14 de março passado, a troca de correspondências com as autoridades competentes dos países europeus mencionados como documento oficial do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas (S/2023/193) da qual consta que os países ocidentais não desejavam permitir que a parte russa participasse nas suas investigações dos atos de "sabotagem" (como eles dizem). A 25 de agosto, voltámos a distribuir oficialmente uma carta (S/2023/627) no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral em que expusemos detalhadamente a cronologia dos acontecimentos e a nossa opinião.

Estamos a ver como, na ausência de motivos sérios para acusar a Rússia, os ocidentais estão a tentar fazer crer que não estiveram implicados na destruição de infraestruturas energéticas críticas. Divulgam várias versões sob a forma de "fugas de informação", "lançamentos" e fontes não identificadas, a fim de criar mais ou menos a impressão de a investigação está a ser realizada. É difícil supor até onde é que estes esforços vão levar. Uma coisa é certa: as investigações na Alemanha, Dinamarca e Suécia estão a ser realizadas secretamente e são cada vez menos credíveis.

Continuaremos a chamar a atenção da comunidade mundial para este (não sei como lhe chamar), na minha opinião, ato de terrorismo e a insistir na necessidade de uma investigação imparcial e minuciosa. É um ato gritante. Foi posto em causa um projeto pacífico que fornecia a segurança energética e em que participavam diferentes países. Foi destruído de acordo com os cânones de um ato terrorista, segundo consta da literatura jurídica internacional. Além disso, foram causados danos ao meio ambiente. Além disso, tanto países participantes como operadores privados sofreram perdas financeiras colossais. Não adianta fingir que não aconteceu nada.

Pergunta: No âmbito da cooperação económica, os países BRICS tem planos de abrir sucursais dos seus bancos na Rússia e vice-versa?

Maria Zakharova: Os países BRICS prestam muita atenção ao desenvolvimento da cooperação financeira e à cooperação interbancária. Prosseguem os contactos em várias áreas para desenvolver instrumentos de pagamento eficientes e independentes do Ocidente, bem como uma plataforma segura para os pagamentos transfronteiras multilaterais. Estão a ser estudadas as práticas de utilização de moedas digitais e de outras tecnologias financeiras inovadoras.

A Declaração de Joanesburgo-2 aprovada pela cimeira (realizada entre 22 e 24 de agosto de 2023) refere-se à intenção dos países membros de reforçar as redes de bancos correspondentes dos países BRICS e de possibilitar os desembolsos recíprocos nas moedas nacionais. O respetivo diálogo está a ser travado entre os Ministérios das Finanças e entre os bancos centrais dos países BRICS.

Ao mesmo tempo, é de notar que a questão da abertura de sucursais de bancos em países estrangeiros é comercial e é, evidentemente, resolvida em conformidade com a legislação nacional e, sobretudo, em contactos bilaterais.

Pergunta: O conselheiro do chefe do Gabinete do Presidente ucraniano, Mikhail Podoliak, afirmou que os países parceiros deram luz verde a Kiev para lançar ataques à Crimeia. Ele também disse que os aliados ocidentais deram autorização a Kiev para "destruir tudo o que é russo no território ocupado". Diga-me, tais passos por parte da coligação ocidental significam que os países ocidentais estão prontos para uma escalada do conflito e o subsequente confronto direto com a Rússia?

Maria Zakharova: O facto de os países ocidentais estarem prontos para uma escalada do conflito com a Rússia é comprovado não tanto pela declaração de um primeiro, 21º ou 49º Conselheiro do Presidente Vladimir Zelensky, mas pelas suas ações concretas. Já falámos sobre isso - entregas de armas (desde munições com urânio empobrecido até às bombas de fragmentação, armas pesadas e letais) com o único objetivo de matar o maior número possível de pessoas. Isso mostra a sua vontade de fazer escalar o conflito.

O apoio político e material, o tratamento ideológico, o fornecimento de informações de inteligência utilizados pelo regime de Kiev para atacar as infraestruturas civis do nosso país - tudo isto mostra que o Ocidente tinha, desde o início, quando colocou o regime de Kiev no lugar do governo legítimo da Ucrânia, os planos de criar uma cabeça de ponte no território da Ucrânia. Daí os intermináveis exercícios da NATO nas águas do Mar Negro, no território da Ucrânia. Realizaram-nos desde 2014. A Rússia foi sempre declarada como inimigo potencial. No entanto, os seus planos abortaram porque tudo deveria terminado com uma guerra relâmpago. A criação de condições políticas ilegítimas na Ucrânia, a infiltração dos chamados “políticos”, fornecimentos de armas, implantação dos padrões da NATO, sanções económicas, injeções de dinheiro, tráfico de armas, fluxos financeiros, tráfico de órgãos (refiro-me à transplantologia negra) – tudo isso deveria ter tido resultados completamente diferentes. Agora, graças à resposta que o nosso país está a dar, eles estão a cair a pique. Daí o nervosismo e a escalada não disfarçada. Não devemos julgar pelas declarações vindas da administração ucraniana. Elas testemunham apenas o facto de o regime de Kiev estar verdadeiramente num impasse e já começar a chantagear e a comportar-se agressivamente com os seus criadores, exigindo-lhes que sejam mais ativos na defesa do regime de Kiev, sabendo perfeitamente que eles também estão num impasse. Esta é a única nuance nova, tudo o resto é velho e óbvio e conduz apenas à desestabilização e ao caos que é um ex-líbris do "Ocidente coletivo".

Pergunta: O Presidente da Republika Srpska, Milorad Dodik, sugeriu que a Bósnia e Herzegovina se candidatasse a membro dos BRICS devido aos atrasos na adesão à UE. Como é que Moscovo encara a adesão da República Srpska a esta associação?

Maria Zakharova: Comecemos por analisar os factos. Até à data, a Bósnia e Herzegovina não nos pediu para estabelecer uma cooperação com o BRICS, não existem contactos ou negociações oficiais a este respeito. No caso de tais pedidos serem recebidos, serão certamente tidos em conta. É sobre a situação atual.

Consideramos que a contribuição ativa e construtiva da República Srpska para a formação de uma política externa equilibrada e multivetorial da Bósnia e Herzegovina, que vá ao encontro dos interesses de todos os povos constituintes do país e respeite os princípios constitucionais, é um elemento natural e integrante da arquitetura de Dayton da Bósnia e Herzegovina. Isto é particularmente importante em circunstâncias em que, sob pressão das forças ocidentais, em Sarajevo se registam cada vez mais casos de violação do postulado fundamental de que não há alternativa ao consenso interétnico em questões de política externa.


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