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Briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, à margem da 3ª Edição do Fórum Eurasiático da Mulher, São Petersburgo, 14 de outubro de 2021

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Sobre a 3 Edição do Fórum Eurasiático da Mulher

 

Tenho o grande prazer de vos dar as boas-vindas a São Petersburgo. Hoje o nosso briefing itinerário decorre à margem da 3ª Edição do Fórum Eurasiático da Mulher.

Gostaria de recordar que o evento se realiza por iniciativa da Presidente do Conselho da Federação (câmara alta do parlamento russo – N. da R.), Valentina Matviyenko, sob a égide da Assembleia Interparlamentar dos Estados membros da CEI e do Conselho da Federação da Assembleia Federal da Federação da Rússia e reúne mulheres líderes dos Estados membros da CEI e de outros países do mundo (mais de 100 países), parlamentares, representantes de órgãos do poder executivo, organizações internacionais, comunidades empresarial e científica, organizações sociais e caritativas, movimento internacional de mulheres, mass media: jornalistas, secretárias de imprensa, representantes da área de relações públicas. 

Ontem tivemos uma discussão frutuosa sobre uma parceria eficaz no campo da informação, o papel e a influência das mulheres na formação da cultura dos meios de comunicação digitais e o equilíbrio de gênero no jornalismo.

As principais discussões do Fórum centraram-se no papel da mulher na segurança global, na transição para novos modelos de crescimento económico, no progresso social, na superação dos efeitos negativos da pandemia do coronavírus, na obtenção de um equilíbrio no contexto da digitalização global, e na resolução dos problemas ambientais e climáticos globais.

O Fórum Eurasiático da Mulher pode ser justamente considerado um mecanismo eficaz de interação e diálogo entre as mulheres que influenciam a tomada de decisões sociais, políticas e económicas.

 

Sobre as relações inter-regionais de São Petersburgo e da Região de Leninegrado

 

São Petersburgo é um local importante para fóruns e conferências internacionais relevantes. Com estrita observância dos requisitos de segurança epidemiológica. A cidade acolheu recentemente o Fórum Económico Internacional e outros grandes eventos internacionais. São Petersburgo está entre os líderes do rating nacional de investimento. Apoiamos os esforços do governo da cidade para atrair investimento estrangeiro e desenvolver o turismo.

O trabalho consistente do governo de São Petersburgo para apoiar e desenvolver projetos e programas humanitários destinados a promover a língua russa em cidades parceiras estrangeiras contribui significativamente para a defesa dos interesses nacionais e para a preservação da memória histórica do nosso país.

Durante a sua visita a 6 de setembro deste ano, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, mencionou o elevado nível de interação entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e o governo da cidade, em particular, o Comité de Relações Externas de São Petersburgo, que celebrou este ano o seu 30º aniversário.

Um fator importante que contribuiu para o crescimento dos contactos comerciais e do fluxo turístico foi a introdução, desde o dia 1 de outubro de 2019, de vistos eletrónicos para estrangeiros desejosos de visitar São Petersburgo e a Região de Leninegrado. Infelizmente, a situação epidemiológica fez os seus ajustamentos, não positivos, complicando a implementação desta decisão. Apesar disso, continuaremos a facilitar viagens de turistas e homens de negócios a São Petersburgo e à Região de Leninegrado.

A componente humanitária das relações externas de São Petersburgo no quadro do combate à infeção pelo coronavírus merece especial atenção e apreço. É impossível sobrestimar a contribuição dos profissionais de saúde locais e a sua assistência humanitária aos nossos parceiros estrangeiros: Chisinau, Palestina, Síria, Sérvia, Itália, Uzbequistão e muitos outros Estados.

A cidade e a Região de Leninegrado têm acordos de cooperação com 96 cidades estrangeiras e 30 regiões, bem como acordos "diagonais" com os governos da Bielorrússia, Quirguistão, Turquemenistão. A 10 de setembro deste ano, foi assinado um Acordo entre o Governo de São Petersburgo e a Câmara Municipal de Belgrado sobre cooperação comercial, económica, social, humanitária e cultural.

A Região de Leninegrado está entre as regiões que mais desenvolvem os seu contactos inter-regionais. No primeiro trimestre de 2021, o comércio externo da Região de Leninegrado movimentou 2.667,7 mil milhões de dólares. As trocas comerciais da Região aumentaram 8,3%, com as exportações a crescer 4,3% e as importações, 15,6%. Registamos o desenvolvimento ativo das relações humanitárias da Região de Leninegrado, especialmente os seus contactos com regiões de países estrangeiros no domínio das iniciativas ambientais e sociais.

Um elemento importante da interação entre a Região de Leninegrado e os países europeus é a cooperação a nível municipal. Atualmente, a Região tem em vigor mais de 100 acordos deste tipo. Vamos continuar a apoiar o desenvolvimento dos seus contactos com os países da CEI.

 

Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, participa em reunião comemorativa dos 25 anos da Casa Aleksander Solzhenitsyn

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, participa, no dia 18 de outubro, numa reunião comemorativa dos 25 anos da Casa da Rússia no Estrangeiro Aleksander Solzhenitsyn. 

Desde maio de 2019, por ordem do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e com o seu apoio, a Casa alberga um Museu da Rússia no Estrangeiro e constitui um núcleo museológico que combina as funções de uma biblioteca e de um centro de investigação, informação e divulgação e cultura e educação. 

Atualmente, a Casa da Rússia no Estrangeiro Aleksander Solzhenitsyn é um importante centro cultural e intelectual para a preservação e promoção do património russo no estrangeiro e para um diálogo frutuoso com os russos residentes no estrangeiro e para manter viva a memória daqueles que nunca se esqueceram da sua pátria e defenderam as suas tradições enquanto se encontravam numa terra estrangeira.

 

Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe homóloga da Guiné-Bissau

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 18 de outubro, a Ministra dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Internacional e das Comunidades da Guiné-Bissau, Suzi Barbosa, que estará em visita de trabalho a Moscovo entre os dias 17 e 19 de outubro. Os dois Ministros pretendem discutir formas de intensificação da cooperação bilateral nos domínios político, comercial e económico, humanitário e outros, e assinar um Memorando de Entendimento entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação Internacional e Comunidades da República da Guiné-Bissau sobre consultas políticas.

Também pretendem trocar opiniões sobre questões candentes da agenda global e regional, incluindo a solução de crises e o combate ao terrorismo em África. Abordarão as perspetivas de interação na ONU, noutros fóruns internacionais e formatos multilaterais, bem como a continuação da promoção da cooperação russo-africana no contexto dos preparativos para a 2ª Edição da Cimeira Rússia-África em 2022.

 

Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, participa na reunião do Clube Valdai

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, participa, no dia 19 de outubro, na 18ª reunião anual do Clube de Discussão Valdai em Sochi.

O tema é "Choque Global - XXI: Homem, Valores, Estado". Há muitas tendências controversas no desenvolvimento global neste momento. Os peritos russos e estrangeiros têm o que conversar neste fórum que já se tornou prestigiado. O Clube de Discussão Valdai existe há quase 20 anos e tem vindo a desenvolver-se ativamente.

O Ministro exporá a visão russa dos aspetos-chave da situação internacional e, como sempre, responderá às perguntas dos participantes. 

 

Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe homólogo de Chipre

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 21 de outubro em Moscovo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da República de Chipre, Nikos Christodoulides, que fará uma visita de trabalho à Rússia. 

Na reunião, serão abordadas perspetivas de um maior aprofundamento do diálogo político, esforços conjuntos para enfrentar a propagação do novo coronavírus e superar as suas consequências económicas, bem como as questões relacionadas com a intensificação das relações culturais e humanitárias entre os dois países.

Os dois Ministros trocarão pontos de vista sobre questões prementes da agenda internacional e regional, com destaque para a busca de soluções para a questão cipriota, a situação no Mediterrâneo Oriental, Médio Oriente e Norte de África.

Está prevista a assinatura de atos bilaterais. 

 

Ponto da situação no Afeganistão

 

Estamos preocupados ao verificar que as atividades do grupo terrorista EIIL neste país continuam intensas. No dia 8 de outubro, os terroristas do EIIL perpetraram um grande ataque terrorista na mesquita xiita de Kunduz, no norte do Afeganistão, matando cerca de 150 pessoas e ferindo cerca de 200 outras. Este grupo também reivindicou o ataque a uma escola religiosa na província de Khost que matou sete pessoas. Esperamos que as declarações das novas autoridades de Cabul de que são capazes de enfrentar sozinhas o EIIL sem apoio externo serão concretizadas na prática. 

Prestámos atenção à visita de dois dias ao Qatar de uma delegação talibã chefiada pelo ministro interino dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão, Amir Khan Muttaqi, que teve ali conversações, inclusive com representantes do Departamento de Estado dos EUA. Esperamos que uma delegação talibã representativa chegue a Moscovo na próxima semana para participar na terceira reunião do formato Moscovo de consultas sobre o Afeganistão.

 

Sobre os resultados da Cimeira Extraordinária do G20 sobre o Afeganistão com a participação de Igor Morgulov

 

No dia 12 de outubro, realizou-se, sob a presidência da Itália, uma Cimeira Extraordinária virtual do G20 dedicada à problemática do Afeganistão. A delegação russa era chefiada pelo Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Igor Morgulov. O Representante Especial do Presidente da Federação da Rússia para o Afeganistão e Diretor do Segundo Departamento de Ásia do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Zamir Kabulov, também participou.

Os participantes assinalaram a necessidade de se prestar ajuda humanitária ao povo do Afeganistão, a fim de manter a estabilidade e segurança na região em geral. Confirmaram ser urgente fazer frente às ameaças da propagação do terrorismo e do tráfico de droga provenientes do território afegão.

O lado russo salientou a importância de formar um governo inclusivo que tenha em conta os interesses de todas as forças étnicas e políticas do país como passo fundamental para a conclusão do processo de paz no Afeganistão. Ressaltou que é esperada uma atitude responsável na assistência à reconstrução pós-conflito da economia afegã por parte dos países cuja presença de 20 anos no país resultou no atual estado de cosias deplorável. Fez um apelo no sentido de conjugar os esforços para prevenir uma crise no Afeganistão e as suas consequências indesejáveis como o crescimento do terrorismo e da produção de drogas na região e no resto do mundo, um novo surto de fluxos de refugiados afegãos, e riscos de infiltração de terroristas disfarçados de refugiados nos países vizinhos, principalmente na Ásia Central.

 

Ponto da situação na Ucrânia

 

A situação na Ucrânia é motivo de crescente preocupação. A distância entre as palavras, declarações, declarações e atos da atual administração de Kiev continua a aumentar.

Em palavras, ela promete resolver o conflito em Donbass pacificamente, assinalando o seu compromisso com os acordos de Minsk, alternando estas declarações com comentários de que os acordos de Minsk estão irremediavelmente desatualizados. De facto, as autoridades ucranianas estão a fazer tudo para levar a situação a um impasse. Nas últimas duas semanas, a Missão Especial de Monitorização da OSCE registou 2.800 bombardeamentos na linha de contacto, e desde julho de 2020, quando a Ucrânia assinou "Medidas de Reforço do Cessar-fogo" adicionais, o número de violações passou de 60.000. Pensem sobre estes números. A seguir ao Comandante Supremo das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zalujni, o Comandante da Operação das Forças Conjuntas, Oleksandr Pavlyuk, permitiu oficialmente que os militares ucranianos abrissem fogo sem pedir autorização do comando, o que viola as medidas adicionais acima mencionadas e aumenta o número de vítimas entre civis em Donetsk e Lugansk. O parlamento ucraniano está a analisar um projeto de lei sobre uma política de "período de transição" que, caso seja aprovado, porá fim ao estatuto especial de Donbass. Este documento vai contra os acordos de Minsk e cria uma base jurídica para que Kiev se retire deles. 

Neste contexto, não é surpreendente que as reuniões do Grupo de Contacto sobre a resolução do conflito em Donbass e dos seus subgrupos realizadas nos dias 12 e 13 de outubro deste ano, tenham mais uma vez terminado em nada. Os representantes ucranianos fizeram mais uma vez tudo o que estava ao seu alcance para que isto acontecesse.

Dada a difícil situação na resolução do conflito no leste da Ucrânia, os líderes dos países do formato Normandia concordaram, durante a sua conversa telefónica de 11 de outubro, em instruir os seus conselheiros políticos e Ministérios dos Negócios Estrangeiros para intensificarem os seus esforços. Da nossa parte, continuaremos os nossos esforços de mediação no Grupo de Contacto Trilateral e no formato Normandia, inclusive através do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, para encorajar Kiev, Donetsk e Lugansk a cumprir as suas obrigações no âmbito do Pacote de Medidas de Minsk.

Infelizmente, em vez de encorajarem os seus protegidos a cumprir o Pacote de Medidas de Minsk, os curadores ocidentais de Kiev estão, pelo contrário, a estimular as autoridades ucranianas a responsabilizar Moscovo pela resolução do conflito interno ucraniano.

Neste contexto, a cimeira Ucrânia-UE de 12 de outubro foi reveladora. Foi como se os nossos parceiros ocidentais estivessem em algum tipo de realidade paralela. Os líderes da União Europeia e da Ucrânia instaram a Rússia a "cumprir na íntegra os acordos de Minsk". Aparentemente acreditam que Moscovo pode, em vez de Kiev, conceder a Donbass um estatuto especial dentro da Ucrânia, declarar uma anistia para os habitantes de Donetsk e Lugansk, e levar a cabo uma reforma constitucional na Ucrânia com enfoque na descentralização da sua estrutura territorial. Poderia ter sido isto o que a UE tinha em mente, em caso afirmativo, é uma novidade no direito internacional. Faço lembrar que todas as medidas acima referidas a serem tomadas estão consagradas no Pacote de Medidas de Minsk e são condições-chave para uma solução política abrangente do conflito. Só podem ser concretizadas pela Ucrânia se estivermos a falar de uma reforma constitucional, anistia, etc. Então porque é que estão a fazer tais declarações?

É também motivo de preocupação o plano de Bruxelas de instalar na Ucrânia uma missão de treino militar da UE. A implementação desta iniciativa, que vai contra os acordos de Minsk, contribuirá para a militarização do país e uma escalada da tensão em Donbass e encorajará as autoridades de Kiev a continuar a sabotar o Pacote de Medidas de Minsk. Exortamos Kiev a abandonar esta ideia, e usemos uma linguagem moderada, irrefletida.  Se este passo é deliberado, então gostaríamos de perguntar quais são os seus objetivos. 

Outro exemplo de que as palavras das autoridades ucranianas divergem dos atos é a sua atitude para com a memória histórica, para com a sua própria história e os seus factos. Durante as atividades para marcar os 80º da tragédia de Babi Yar, o Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, disse que a "condigna homenagem aos que morreram é o nosso dever para com as gerações anteriores". Apesar destas declarações, a destruição de memoriais e sepulturas de soldados soviéticos que morreram na Grande Guerra Patriótica continua na Ucrânia - em violação da legislação nacional e do direito internacional.

No dia 30 de setembro deste ano, na cidade de Kolomyia da Região de Ivano-Frankivsk, foi removido um monumento e foram partidas lápides com os nomes dos soldados enterrados numa vala comum. Tudo isto está a acontecer no mesmo período de tempo sob o mesmo Presidente da Ucrânia. Estas declarações são feitas pelas mesmas pessoas e estas ações são levadas a cabo com a conivência das autoridades oficiais que fazem tais declarações sobre a necessidade de preservar a memória de todos os tombados na Guerra. A 8 de outubro, a Câmara Municipal de Lviv decidiu desmantelar o elemento central do memorial "Campo de Marte”, uma réplica em grande escala da Ordem da Grande Guerra Patriótica.

Estas são realidades. Acreditam que o Presidente Vladimir Zelensky não tem conhecimento disso? Não sei se sabe. Pode ser que ele não saiba. Então gostaria de perguntar como pode ele não saber, porque não o sabe? Ele não está a ser informado sobre isso? Deu instruções apropriadas para não lhe serem comunicadas? Como pode ele não saber? Afinal, não foi ele nem a sua comitiva que ergueu estes memoriais e construiu estes monumentos. Isto é o que foi feito pelas gerações anteriores.

Vladimir Zelensky fala do "horror, dor e sofrimento que o nazismo, o racismo, o antissemitismo, a xenofobia e a intolerância trazem à humanidade". O que é que vemos na prática? Tudo isto se prende com a questão de saber se os atos correspondem às palavras. Todos os anos, a Ucrânia vota contra as resoluções da Assembleia Geral da ONU sobre o combate à glorificação do nazismo, neonazismo e xenofobia. Faz isto em conjunto com os EUA. Dois países. Por vezes, gozam de apoio algum outro país. Orgulhosamente sozinhos, ano após ano, eles votam contra a resolução da Assembleia Geral da ONU que propõe medidas práticas concretas e o seu enquadramento jurídico internacional para impedir a glorificação do nazismo, da xenofobia e de todas as práticas relacionadas. Há uma explicação para isto. A Ucrânia glorifica mesmo os nazis e os seus cúmplices, e é exatamente por isso que têm votado contra esta resolução ano após ano durante anos. Não é porque não tenham lido a resolução ou estejam apenas a formar uma atitude para com a mesma. Isto era possível se fosse uma questão de alguns anos, mas já se passaram décadas. As ruas têm o nome de cúmplices de fascistas e colaboracionistas, monumentos são erguidos em sua honra. Nas regiões de Lviv e Ivano-Frankivsk, 2022 é proclamado como Ano do Exército Insurreto Ucraniano. Podem imaginá-lo? Hoje, dia 14 de outubro, a Ucrânia celebra o aniversário da fundação desta organização fascista punitiva.

Mais uma vez chamamos a atenção da comunidade internacional para a política hipócrita das autoridades ucranianas e apelamos a que se exerça influência sobre elas a fim de encorajar Kiev a cumprir as suas obrigações de resolver o conflito em Donbass e preservar a memória histórica que se baseia em factos, em realidades e não em mitos e falsificações.

 

Sobre declarações do Primeiro-Ministro do Japão, Fumio Kishida

 

Prestámos atenção à declaração do novo Primeiro-Ministro do Japão, Fumio Kishida, no Parlamento japonês, segundo a qual Tóquio não concordaria em celebrar um tratado de paz com a Rússia sem resolver a questão territorial.

Se o Japão pretende colocar esta condição para dar continuidade às negociações sobre um tratado de paz, isso torna a perspectiva de resolver a questão ainda mais remota.

Partimos sempre da premissa de que o primeiro passo neste sentido deve ser o reconhecimento total pelo Japão dos resultados da Segunda Guerra Mundial, incluindo a legalidade da pertença das ilhas Curilas do Sul à Rússia. A procura de uma solução mutuamente aceitável para a questão do tratado de paz deve ser efetuada no âmbito do desenvolvimento abrangente das relações russo-japonesa através da intensificação da cooperação comercial, económica e de investimento, da criação de medidas de confiança na área político-militar e da aproximação das posições das partes em assuntos internacionais.

 

Subsecretária de Estado, Victoria Nuland, visita Moscovo

 

Avaliamos as conversações com Victoria Nuland realizadas a 12 de outubro no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, como, de modo geral, úteis e oportunas.

A conversa foi extremamente franca sem deixar de lado questões agudas e fatores “irritantes” nas nossas relações bilaterais, incluindo os obstáculos artificialmente criados por Washington às atividades das missões diplomáticas russas e a constante introdução de restrições na concessão de vistos e outras restrições, às quais somos forçados a responder.

Faço lembrar que a visita de Victoria Nuland que estava na "lista de stop” russa (aprovada como retaliação da “lista de stop” americana) foi possível depois de os Estados Unidos terem emitido um visto a um diplomata russo que teve o seu pedido de entrada nos EUA em missão de serviço várias vezes negado. Precisava de ir trabalhar na ONU que se encontra no território americano. Este é um ponto importante. Os EUA, como país anfitrião desta estrutura internacional, tem obrigações de assegurar o seu funcionamento normal, incluindo a concessão de vistos aos diplomatas, figuras públicas e peritos estrangeiros que chegam à sede da ONU em Nova Iorque para trabalhar e participar em conferências e simpósios. Esta é uma responsabilidade direta dos EUA. Não tem de depender de relações bilaterais ou de quaisquer outros fatores na política dos EUA e está estipulada nos respetivos documentos. Eles não podem simplesmente desistir desta obrigação. Recusando o visto ao diplomata russo, os EUA violaram grosseiramente o seu compromisso muitas vezes. No final de contas, o diplomata russo foi autorizado a entrar nos EUA, tendo obtido o respetivo visto. Esta troca permitiu resolver esta situação particular. Todavia, num plano mais amplo, como o lado russo deixou claro durante as negociações, todas as restrições impostas numa base de reciprocidade devem ser levantadas para que as Embaixadas e Consulados possam trabalhar normalmente. 

Resumindo as consultas entre a diplomata americana e o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Riabkov, com a presença do Vice-Ministro da Defesa, Coronel General Aleksandr Fomin, e as suas conversas com outros funcionários russos, podemos constatar, apesar do potencial de crise que persiste nas relações bilaterais, Moscovo e Washington desejam manter o diálogo para as tornar mais estáveis e mais previsíveis. Neste contexto, uma nova escalada em relação à Rússia, ao que exortam as forças russófobas nos EUA (refiro-me ao recente apelo de congressistas antirussos para expulsar 300 ou 400 diplomatas russos e muitas outras coisas a nosso respeito que vêm atualmente de Washington), só pode exacerbar o já demasiadamente intenso confronto entre os nossos dois países.

O lado russo declarou a Victoria Nuland a sua disponibilidade para estabelecer contactos a todos os níveis, em conformidade com os acordos alcançados pelos Presidentes da Rússia e dos EUA durante a Cimeira de Genebra. Como exemplo positivo foi mencionado o diálogo bem-sucedido sobre estabilidade estratégica e interação no domínio da segurança da informação.

O lado russo salientou que não havia alternativa a uma abordagem equilibrada, consoante com as novas realidades geopolíticas, dos EUA para com relações com a Rússia com base na igualdade de direitos e no respeito pelos interesses uns dos outros.

Durante as conversas com Victoria Nuland enfatizámos que a parceria "AUKUS", que está a ser criada, para não dizer forjada, pelos EUA, Reino Unido e a Austrália, não só ameaça minar a arquitetura de segurança existente na região Ásia-Pacífico, como também representa riscos potenciais para o regime internacional de não-proliferação.

Por iniciativa do lado russo, foi também abordado tema da perigosa intensificação das atividades da NATO na vizinhança imediata das fronteiras da Rússia, principalmente na Europa de Leste e no Mar Negro. A recente decisão de Washington e Varsóvia de instalar permanentemente no território polaco um contingente rotativo de tropas americanas e elementos do sistema global americano de defesa antimísseis causa especial preocupação. 

Ao discutir questões internacionais, foi dada especial e considerável atenção ao problema e à situação no Afeganistão após a retirada do contingente militar dos EUA que terminou em colapso. A Rússia parte da premissa de que, apesar das mudanças substanciais na situação política interna no Afeganistão, os mecanismos da Tróica alargada, bem como o formato Moscovo que integra os principais países da região e os EUA, não perderam relevância e podem prestar uma assistência eficaz no processo de reconciliação afegão e na formação de um governo inclusivo que reflita os interesses de todas as forças étnicas e políticas do país.

O lado russo declarou mais uma vez sem rodeios que não aceita categoricamente a instalação de uma infraestrutura militar dos EUA e da NATO na Ásia Central. A nossa posição firme nesta matéria, exposta pelo Presidente da Rússia durante a Cimeira de Genebra, permanece inalterada.

As partes concordaram em continuar os contactos sobre toda a gama de questões prementes da agenda russo-americana.

 

Sobre as comemorações do 160º aniversário natalício de Fridtjof Nansen

 

Nestes dias, decorrem atividades comemorativas do 160º aniversário do nascimento de Fridtjof Nansen que aconteceu no dia 10 de outubro.

O mundo honra Fridtjof Nansen, um explorador polar norueguês, cientista, figura pública e político, laureado com o Prémio Nobel da Paz, que esteve na origem da Liga das Nações. A sua contribuição para a resolução dos problemas dos refugiados, inclusive com a ajuda do chamado passaporte Nansen - um bilhete de identidade para apátridas, repatriamento de prisioneiros de guerra e combate à fome - foi enorme. É sabido que todos os anos, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados atribui um prémio com o seu nome.

O nome de Fridtjof Nansen é bem conhecido em todo o mundo e na Rússia, que ele amava sinceramente, sendo o apoiante convicto da construção de relações mutuamente respeitosas entre a Rússia e a Noruega.

Por ocasião do 160º aniversário do seu nascimento, foram organizados vários eventos no nosso país. A Academia Diplomática realizou uma mesa redonda sobre as atividades multifacetadas desta pessoa lendária. Realizam-se exposições, conferências e eventos de divulgação. Vários livros novos sobre o norueguês foram publicados por ocasião do seu aniversário. 

Esperamos que os eventos comemorativos não só prestem homenagem a Nansen, incluindo no contexto das relações russo-norueguesas, mas também nos recordem os princípios fundamentais do humanismo, a importância de uma interação baseada na igualdade de direitos e respeito mútuo, a relevância dos esforços conjuntos para garantir a segurança e a estabilidade em todo o mundo.

 

Sobre o projeto "Casamentos dos Povos do Mundo: Património Cultural

 

Somos participantes no Fórum Eurasiático da Mulher. Muito se fala aqui das mulheres, dos valores tradicionais, que são, em grande parte, preservados graças a elas. Para a maioria das mulheres, não há nada mais importante do que a família, o casamento, a educação dos filhos e a manutenção das tradições. Neste contexto, gostaria de relatar um projeto russo, que na minha opinião está de acordo com o espírito e os temas do Fórum.

A Rússia tem um projeto chamado "Casamentos dos Povos do Mundo: Património Cultural". Quando recebi uma carta do autor do projeto, ela fez-me sorrir e eu quis conhecê-lo porque é um tema realmente interessante, atual e divertido. Está na encruzilhada de tradições, historiografia, estudos culturais, relações interculturais, inter-religiosas, intercâmbio entre países, povos e dedica-se a temas históricos, etnográficos.

Quem é o autor deste projeto? O seu nome é Denis Kniazev. O seu projeto visa preservar as tradições matrimoniais originais dos povos do mundo. Começou por estudar as tradições matrimoniais do nosso país, depois interessou-se por tradições matrimoniais estrangeiras. 

Em seis anos de existência deste projeto, foram organizadas expedições às regiões remotas do nosso país para filmagens e reconstituições. Denis Kniazev não só fotografa artefactos, trajes ou peças dos acervos de museus, mas também faz reconstituições de casamentos tradicionais dos povos indígenas. Publicou dois álbuns sobre os casamentos dos povos udmurt e nenets, com descrições das suas cerimónias matrimoniais em três línguas - russo, inglês e no idioma local. Está no prelo um livro sobre as tradições de criação de famílias russas. O projeto conta com o apoio mediático do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Missão Permanente da Rússia junto das Nações Unidas em Nova Iorque porque, em muitos aspetos, estes temas se harmonizam com a agenda da Organização mundial.

A história de uma família, como regra, começa quando é criada, ou seja, com o casamento e todos os rituais matrimoniais. Cada nação tem as suas próprias tradições e costumes matrimoniais. Estes são livros interessantes com fotografias únicas. ´Foi feito um trabalho fantástico. Recomendo que tomem conhecimento deste projeto.

Pergunta: Surgiram recentemente investigações mediáticas alegando que a ONU teria favorecido a tentativa de golpe de Estado na Bielorrússia em agosto de 2020. Como a senhora avalia a reação (ou, melhor, o silêncio) da ONU à pressão económica, sancionatória ocidental sobre a Bielorrússia e ao envolvimento na tentativa de golpe?

Porta-voz Maria Zakharova: Não vi essas investigações.

O objetivo e a tarefa da ONU consistem na proteção das bases do direito internacional para que os Estados construam relações de respeito mútuo. Destaca-se a importância e a relevância da não intervenção mútua nos assuntos internos, o respeito da soberania, da integridade territorial e do direito dos povos à vida própria no âmbito do seu Estado.

É bem conhecida a postura da Rússia a respeito dos acontecimentos na Bielorrússia. Condenamos de um modo claro, sem possibilidade de leitura ambígua, as tentativas de vários países (eram esforços coletivos) de intervir nos assuntos internos de um Estado soberano, de incitar ações e eventos ilegais, contrárias às leis fundamentais da Bielorrússia. A nossa posição é caraterizada pela linha coerente e consequente. Não é condicionada pelo facto de a Bielorrússia ser parte da União Estatal com a Rússia. Claro que temos umas relações especiais com este país, com o seu povo, mas esta é a nossa atitude básica, essencial. Temos a mesma atitude para com todos os países.

Pergunta: Comente por favor a decisão adotada pelo Conselho da UE a 11 de outubro de ampliar a lista dos cidadãos russos atingidos pelas sanções da União Europeia alegadamente por “ações que minam ou ameaçam a integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia”.

Porta-voz Maria Zakharova: Vou lembrar a nossa posição básica, baseada no direito internacional: todas as ditas soluções sancionatórias adotadas sem consultar o Conselho de Segurança da ONU são ilegítimas do ponto de vista do direito internacional. É assim que devem ser tratadas.

Existe a avaliação política. São uns verdadeiros “jogos de sanções” da UE. São lastimáveis porque só têm a razão política. Nada têm a ver com o direito, senão é o contrário. As sanções foram adotadas na véspera da cimeira Ucrânia-UE, de 12 de outubro.

É um sinal a Kiev que favorece a sabotagem do Pacote de Medidas de Minsk. Os parceiros da UE apelam a nós a cumprirmos os Acordos de Minsk plenamente. Já ao regime de Kiev, enviam um sinal em forma destas ações que, a seu ver, devem conter ou acusar a Rússia. Não posso qualificá-lo com outra palavra, senão “jogos” e hipocrisia. É que Bruxelas não consegue compreender algo simples. A crise interna ucraniana, que surgiu, antes de tudo, em virtude da intervenção dos países do “Ocidente coletivo” e imediatamente de Bruxelas na vida interna da Ucrânia, transformando-se de uma crise local em um conflito armado ativo, é uma vergonha para estes países. Primeiro, intervinham, manipulavam os interesses do povo ucraniano, para abandoná-lo depois. Agora, empreendem essas ações para criar a impressão de estarem envolvidos no destino do povo ucraniano. Não é nenhum envolvimento, senão uma baixeza.

Os nossos parceiros da UE deveriam conhecer o grande Antoine de Saint-Exupéry. Ele escrevera: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Não vamos avaliar as ações, fizemos isso muitas vezes. Bruxelas deve perceber a sua responsabilidade pelos experimentos que conduziam sobre o povo ucraniano. O sentimento de “cativação”, que tem sido imposto por Bruxelas ao longo de muitos anos de maneira absolutamente artificial, exige uma responsabilidade dupla perante o povo da Ucrânia. Nenhuma lista ou ampliação das mesmas, novas sanções, confirmação das velhas, não lhes tirará a responsabilidade perante a Ucrânia e o seu povo por todas as manipulações que fizeram neste sentido. Talvez seja patético. Nós partimos da premissa de que Bruxelas deve ouvir e reconhecer que é impossível brincar com os destinos das pessoas para trai-las depois sem piedade. Tais coisas e sinais agravam o cisma interno que o mundo todo está a assistir e a verificar na Ucrânia.

Estas restrições ilegítimas da UE também atingiram os magistrados da Federação da Rússia. É uma tentativa descarada de pressionar o poder judiciário, que tem cumprido as suas funções de maneira independente e imparcial. Como isso correlaciona-se com a declaração do chefe da Representação da UE na Rússia, Markus Ederer, que disse em entrevista de 8 de outubro à RBC que “não há nenhuma intervenção da UE nos assuntos internos da Rússia”? Como que não? É óbvia.

Claro que este passo hostil da UE não vai ficar sem resposta adequada da nossa parte.

Pergunta: O MNE da Ucrânia declarou que Natália Poklónskaia “não conseguirá escapar à justiça ucraniana na África”. Como a senhora comentaria isso? Especialmente levando em conta que o antigo Vice-Promotor-Geral da Ucrânia, Gunduz Mamedov, não excluía que a parte ucraniana poderia lançar o procedimento de extradição da ex-promotora da Crimeia. Terá Kiev justificação destas ações?

Porta-voz Maria Zakharova: Natália Poklónskaia foi designada para o cargo de Embaixadora da Rússia pelo Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin. Ela vai representar a Federação da Rússia no estrangeiro. Isso não tem nada a ver com a Ucrânia.

Enquanto chefe de uma representação diplomática, a Convenção sobre Relações Diplomáticas de 1961 de Viena garante a Poklónskaia a imunidade absoluta contra tais ações, de quem quer seja que partirem, inclusive na hora de viajar. Todos devem compreender isso.

Eu já comentei isso ontem. Li o comentário do MNE da Ucrânia alegando que a “justiça ucraniana” seria aplicada a Natália Poklónskaia nos países da África. Quero aconselhar aos parceiros ucranianos que tentem fazer a legislação ucraniana valer afinal na Ucrânia. É preciso começar pelas coisas primárias. Quando conseguirem isso, puderem fazer valer a sua própria legislação no seu próprio país, já podem abordar tarefas de maior envergadura. Por enquanto, têm pouco êxito. Que se esforcem.

Pergunta: Como a Federação da Rússia vê o direito da Coreia do Norte à autodefesa? Levando em conta a postura de Pyongyang apresentada recentemente na ONU?

Porta-voz Maria Zakharova: A resposta é simples, baseada no direito internacional. Partimos da premissa de que o artigo 51 da Carta da ONU instaura o direito inalienável dos Estados membros à defesa individual ou coletiva, se tornem-se alvos de ofensiva armada. Esta cláusula aplica-se plenamente a todos os Estados membros da ONU, inclusive à Coreia do Norte.

Pergunta: O formato Normandia a nível dos Ministros dos Negócios Estrangeiros. Já que Kiev sabotou os acordos de Paris, de 2020, há o que discutir? Pode-se esperar que Kiev aceite a “fórmula Steinmeier”?

Porta-voz Maria Zakharova: Eu já comentei este assunto na parte inicial. Posso repetir que no decurso da conversa telefónica de 11 de outubro, os líderes da Rússia, Alemanha e França combinaram em encarregar os seus conselheiros políticos e os seus Ministérios dos Negócios Estrangeiros de intensificar o trabalho neste sentido. O assunto está a ser acompanhado.

Quanto à esperança de Kiev de aceitar a “fórmula Steinmeier”, pergunte isso primeiro à parte ucraniana. Ou faça isso em segundo lugar, mas, primeiro, pergunte àqueles quem vigia do estrangeiro as ações do regime de Kiev.

Pergunta: Já se conhece a agenda das negociações com a delegação afegã, planeadas para 20 de outubro? Que prioridades tem a parte russa nestas negociações? Será discutida a defesa dos direitos humanos, particularmente os direitos das mulheres?

Porta-voz Maria Zakharova: Planeia-se fazer o enfoque principal nas questões da recuperação pós-conflito do país e da mobilização da ajuda consolidada da comunidade internacional no intuito de prevenir a crise humanitária no Afeganistão. Serão um assunto importante as perspetivas do processo interno afegão com uma particular ênfase na representação dos interesses de todas as forças etnopolíticas deste Estado nas novas estruturas do poder. Os direitos humanos não fazem parte dos temas prioritários da agenda, podendo sempre ser mencionados no decurso da discussão.

Isso não quer dizer que não seja relevante. Se acompanha o que está a acontecer no Afeganistão, sabe que há ali uma atividade terrorista, a catastrófica situação humanitária que atinge todos, não somente as mulheres, mas também os homens, as pessoas idosas, as pessoas com deficiências. É isso o que os esforços da comunidade internacional devem visar antes de tudo: satisfazer as necessidades básicas do ser humano.

Os média ocidentais tentam sempre fazer-nos parecer diferentes deles. Isso não é assim. Só que não podemos ignorar o direito à vida, proclamando a prioridade dos direitos humanos, porque os direitos humanos incluem o direito à vida. Sem a vida, fica impossível o exercício de todos os outros direitos humanos. Se o Afeganistão é um palco de atentados terroristas, já não se trata dos direitos das meninas e das mulheres, mas, primeiro, da solução dos problemas básicos de segurança, de infraestrutura que garanta a vitalidade do país, o fornecimento de remédios, a ajuda médica. Mas isso não quer dizer, de modo algum, que os direitos humanos não sejam um problema importante ou relevante para nós. Espero ter-me equivocado ao pensar que a sua pergunta continha esta ideia.

Pergunta: Tiveram início, em Haia, as audiências sobre a ação criminal ucraniana relativa ao incidente do Golfo de Kerch em novembro de 2018. A senhora considera que este processo é politizado? Que argumentos a Rússia tem em defesa da sua postura?

Porta-voz Maria Zakharova: O lançamento do processo do “incidente de Kerch” no tribunal de Haia é mais um exemplo de abuso que Kiev faz dos meios internacionais de solução pacífica de litígios tentando impugnar a soberania sobre a Crimeia.

Para lembrar, em novembro de 2018, as autoridades ucranianas, guiadas exclusivamente pelos seus interesses políticos internos, em função dessa abordagem que prevalece na sua agenda internacional, organizaram uma provocação premeditada com o uso dos navios da Marinha nacional. As embarcações “Nikopol” e “Berdyansk”, munidos com armamentos de combate, e também o rebocador “Yany Kapu” com militares a bordo cumprindo ordens, continuaram o seu movimento apesar da advertência recebida dos guardas de fronteira russos, provocando assim um incidente perigoso. Isso ocorreu no contexto de um aumento significativo do potencial bélico de Kiev na região dos mares de Azov e Negro e de outras provocações empreendidas pelo regime de Kiev na tentativa de impugnar a soberania do nosso país sobre a Crimeia.

Numa tentativa de justificar esta aventura militar perigosa, a Ucrânia está a tentar envolver no assunto o Tribunal de Arbitragem, estabelecido conforme a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982.

A Rússia parte da premissa de que as petições de Kiev neste processo não cabem na jurisdição do Tribunal de Arbitragem, sendo que a declaração que o nosso país fez ao ratificar a Convenção do Direito do Mar isenta-o de cumprir os procedimentos previstos na secção 2 da parte XV da mesma, que acarretam decisões vinculantes para ambas as partes a respeito dos litígios que dizem respeito às atividades militares, inclusive a atividade militar de navios de combate.

Além disso, a Ucrânia não utilizou o intercâmbio direto de opiniões como um meio de solução de disputas, estipulado pelo artigo 283 da Convenção como a exigência obrigatória para se iniciar um processo de arbitragem.

Pergunta: Muitos média gregos, cipriotas e turcos voltam a alegar que a Rússia estaria a discutir com a Crimeia um eventual “reconhecimento mútuo” da Crimeia enquanto parte da Federação da Rússia e as zonas do Norte do Chipre ocupadas pelo exército turco enquanto um Estado autônomo. Há verdade nestas publicações? Essas discussões acontecem? Estas publicações costumam basear-se na opinião do conhecido analista Aleksander Duguin, apresentado como conselheiro do Presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ele é conselheiro do Presidente Putin ou de outros dirigentes do Governo da Rússia ou manifesta a sua opinião pessoal?

Porta-voz Maria Zakharova: Eu conheço Aleksander Guelievitch Duguin como um filósofo, cientista político, ativista social. Recomendo-lhe considerar as suas declarações neste sentido. Talvez ele possa contar mais sobre as suas atividades enquanto jornalista, pois a questão é mais bem para ele.

Já nos acostumámos a esta “brincadeira” divertida: aparecem “fakes” nos média gregos ou turcos (eu mesma já tornei algumas vezes o objeto dessas publicações), e depois somos convidados a prestar explicações. Eu acho que são os próprios média que devem prestar explicações a este respeito, pois publicam informações sem solicitar comentário da parte interessada antes de publicar.

Se mencionam a atitude russa, a posição de Moscovo oficial, acho necessário (pelo menos, é o que a comunidade profissional de jornalistas fica sempre a dizer) pedir a nossa opinião para incluí-la nestes artigos. Isso não acontece, apesar de estarmos abertos à cooperação e comentarmos quase tudo em regime online. Apelo aos média gregos a se dirigirem a nós. Teremos prazer em comentar.

A República da Crimeia é uma parte inalienável, uma das unidades da Federação da Rússia com o desenvolvimento mais rápido. O território do nosso país nunca foi e nunca será objeto de negociação. Permitir publicações alegando o oposto aparenta provocação.

Traçar analogias entre a Crimeia russa e a dita República Turca do Chipre do Norte é incorreto e até, diria eu, inseguro, mesmo perigoso. Semelhantes insinuações induzem o público internacional ao erro, minam a confiança, geram emoções negativas, inclusive no âmbito da solução da situação em torno do Chipre.

É bem conhecida a posição russa a respeito do problema cipriota. É formulada por nós, pela Rússia que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, e permanece inalterada. Manifestamo-nos consequentemente pela solução da questão no âmbito do direito internacional, estipulado pelas resoluções do CS da ONU prevendo criar no Chipre uma federação bizonal, bicomunitária com a jurisdição, soberania e cidadania únicas. Apoiamos os esforços aplicados pelo Secretário-Geral da ONU no âmbito da missão de “bons ofícios” visando retomar as negociações intercomunitárias.

Temos observado recentemente uma agitação que visa obter o reconhecimento internacional da formação ilegal no Norte do Chipre. Apelamos a abster-se de passos capazes de escalar a tensão entre as comunidades, desequilibrar a situação na ilha.

Pergunta: Já que senhora se encontra em São Petersburgo (antiga Leningrado), pergunto sobre a notória decisão do governo alemão de pagar compensações aos sobreviventes do cerco de Leningrado e a algumas outras categorias de cidadãos, mas só de origem judaica. As compensações que os judeus recebiam ao longo de setenta anos originavam da cooperação entre organização social Jewish Claims Conference, sediada em Nova Iorque, e as autoridades alemãs. A senhora considera importante e possível criar uma organização social que tenha o apoio da Rússia para fazer valer a justiça? Porque agora, resulta que só um povo sofreu.

Porta-voz Maria Zakharova: A nossa visão do problema foi relatada no comunicado publicado no site do MNE da Rússia. Também comentámos este assunto num briefing.

Contactámos a parte alemã, solicitando evitar essa segregação.

Canalizámos os subsídios pagos por encargo do Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin.

Apelávamos à parte alemã considerar todos os factos históricos. Não se deve segregar as pessoas em função da origem étnica, apoiando uns e ignorando a universalidade do sofrimento. Pode-se falar infinitamente sobre este assunto. Mas nós sabemos as lições do século XX, inclusive aquelas relacionadas com estes pagamentos. Deviam ensinar-nos que a segregação étnica, religiosa não deve existir no nosso planeta. Lá onde há o menor sinal de tal segregação, deve-se fazer tudo para evitá-lo.

Conversávamos muito com a parte alemã. Eram negociações prolongadas. Fizeram o que fizeram. Nós emitimos a nossa avaliação, constante do nosso comunicado e comentários. Podem lê-los. Mas é preciso tirar conclusões das lições trágicas do passado para evitar estes erros.

Pergunta: Nesta semana, teve lugar uma reunião do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, com o Primeiro-Ministro da Arménia, Nikol Pashinian. O primeiro-ministro arménio qualificou a reunião de “frutuosa”. Nas negociações, declarou também que “o conflito de Nagorno-Karabakh não foi resolvido” e que era ainda cedo falar em estabilização da situação. Como o MNE da Rússia encara o resultado da reunião? Que caminho, a seu ver, vão seguir as relações entre os países no sentido de solução completa da situação na região?

Porta-voz Maria Zakharova: A avaliação essencial das reuniões ao alto nível é da competência do Gabinete do Presidente da Federação da Rússia. Nós temos uma divisão de deveres.

Quanto à situação em geral, a Rússia manifesta-se consequentemente pelo cumprimento incondicional de todas as cláusulas dos acordos trilaterais que os líderes da Rússia, do Azerbaijão e da Arménia assinaram a 9 de novembro de 2020 e a 11 de janeiro do ano corrente.

Esperamos que isso venha criar as condições necessárias para a normalização das relações entre Baku e Yerevan, inclusive no que toca às questões complicadas bilaterais pendentes.

Pergunta: Como a Rússia avalia a importância da reunião entre o Patriarca Kirill, o Xeque do Islão, Allahshukur Pashazadeh e o Patriarca Catholicos Karekin II para a gestão pós-guerra das relações entre o Azerbaijão e a Arménia?

Porta-voz Maria Zakharova: Como pode saber, esta reunião entre o Patriarca Kirill, o Patriarca Catholicos Karekin II e o Xeque do Islão Allahshukur Pashazadeh não é a primeira. Os líderes religiosos mantêm o contacto por décadas e este contacto carateriza-se pela confiança, segundo as suas próprias palavras. Vemos que este formato é inédito. Sem dúvida, favorece o aprofundamento da compreensão mútua entre as partes e a promoção do diálogo interconfessional.

Partimos da premissa de que a reunião, que teve lugar a 13 de outubro em Moscovo, sirva para normalizar as relações arménio-azeris e para sanear a situação geral na Transcaucásia, inclusive o reforço da confiança, a solução de tarefas humanitárias pendentes, a preservação de lugares de patrimônio cultural e religioso. É mais um formato importante para superar os problemas, criar a atmosfera de confiança e de diálogo.

Pergunta: Recentemente, um franco-atirador azeri baleou um civil que trabalhava no seu próprio jardim, praticamente aos olhos dos pacificadores russos. Como a Rússia planeia, em função da sua missão pacificadora que visa garantir a segurança a Nagorno-Karabakh, apelar ao Azerbaijão a cumprir as cláusulas da Declaração trilateral de 9 de novembro de 2020?

Porta-voz Maria Zakharova: É verdade que um habitante pacífico do povoado de Madaguiz foi morto em resultado de disparos que partiram do lado azeri no distrito de Mardakert a 9 de outubro. Transmitimos as nossas profundas condolências a todos os próximos e familiares da vítima.

A direção do contingente pacificador russo está a investigar a situação envolvendo representantes de ambas as partes. Para coordenar os esforços visando evitar incidentes na zona de sua responsabilidade, os pacificadores russos mantêm a cooperação constante com os Estados-Maiores das Forças Armadas da Arménia e do Azerbaijão.

Esta tragédia vem confirmar a importância de cumprir incondicionalmente todas as cláusulas das declarações assinadas pelos líderes da Rússia, do Azerbaijão e da Arménia a 9 de novembro de 2020 e a 11 de janeiro do ano corrente. Apelamos a ambas as partes a eliminar rapidamente os fatores irritantes na área humanitária, trocando os prisioneiros de guerra conforme a fórmula “todos por todos” e todos os mapas de campos de minas.

Pergunta: A 12 de setembro, o cidadão russo Alexander Franchetti foi detido no aeroporto de Praga por acusação de terrorismo, emitida pela Ucrânia. O MNE da Rússia tem novas informações sobre este caso?

Porta-voz Maria Zakharova: Estamos a acompanhar esta situação e todos os assuntos semelhantes, relativos à detenção, prisão e dificuldades desta índole que acontecem aos cidadãos da Rússia. A Embaixada da Rússia em Praga recebeu instruções correspondentes. Os diplomatas estabeleceram contactos de trabalho com os representantes da defesa, com a polícia checa, com a filha de Alexander Franchetti, residente na República Checa.

Em virtude da decisão que o Tribunal municipal de Praga tomou a 14 de setembro, de colocar o cidadão russo sob custódia, prestamos atenção especial ao respeito dos seus direitos legítimos, inclusive levando em conta o estado atual da sua saúde.

Além disso, os funcionários do MNE da Rússia entraram em contacto com a sua irmã, residente na cidade de Voronezh.

Fazemos tudo para que o cidadão russo seja rapidamente libertado. A defesa do detido também trabalha neste sentido.

Pergunta: Eu gostaria de voltar ao tema do Fórum das Mulheres. Uma das sessões de hoje leva o título de “Missão das Mulheres na Diplomacia Mundial”. A senhora acredita que exista uma missão específica feminina na diplomacia? Em que consiste? Quais dos “fogos ardentes” que a senhora mencionou hoje podem ser apagados por esta “força branda” (se for realmente branda)?

Porta-voz Maria Zakharova: Acompanhe a sessão, ouça quais são o papel e a missão específica da mulher, se existe no contexto das relações internacionais. Para que antecipar esta discussão interessantíssima, a meu ver?

Se a pergunta é pessoal, eu falei disso muitas vezes. Sem dúvida, nós (falo das mulheres) temos a nossa própria perceção do mundo. Acho que isso pode ser uma componente importante de muitos temas e questões atuais, relevantes, pendentes. É a proteção social, inclusive da família, da maternidade, da infância.

Isso não quer dizer que a contribuição dos diplomatas, peritos, especialistas de sexo masculino não tenha importância. Muita coisa daquilo que foi feito era elaborado e sugerido precisamente por homens. Mas as sugestões, a visão e a experiência que as mulheres possuem e podem compartilhar não têm preço. São os problemas humanitários, as questões da igualdade de direitos dos homens e das mulheres, os novos desafios e o seu impacto na vida das meninas, das mulheres, etc.

No entanto, no Ministério dos Negócios Estrangeiros trabalhamos juntos. Não temos “equipas” femininas ou masculinas. Trabalhamos num coletivo único, unido por objetivos e tarefas comuns. Esta é uma união alicerçada em diferentes pontos de vista e a sua conjugação.   A meu ver, tudo isso aumenta a eficácia do nosso trabalho.

 


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