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Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, São Petersburgo, 15 de junho de 2022

1253-15-06-2022

Sobre o aniversário do 25º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo

 

Hoje, 15 de junho, foi inaugurado o 25º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF). O evento irá decorrer até 18 de junho deste ano sob o lema "Novo Mundo - Novas Oportunidades".

Estão programadas sessões sobre questões atuais da política e economia mundial, incluindo desafios e perspetivas de cooperação nas principais áreas da indústria. A programação está disponível no site do Fórum. Será realizada toda uma série de sessões sobre o desenvolvimento de laços bilaterais, inclusive com Egito, China, países da África e América Latina, bem como as relativas à interação no âmbito da ASEAN, BRICS, UEE, OCX, etc.

Tradicionalmente, o fórum atrai um grande número de convidados estrangeiros. Hoje esperamos a chegada de representantes procedentes de 135 países (o número pode mudar).

Por tradição, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, participará nos eventos do Fórum. Estão programadas conversações bilaterais à margem com vários parceiros estrangeiros no momento, foram confirmadas as reuniões com o Vice-Presidente do Conselho de Ministros da República de Cuba Ricardo Cabrisas, a Vice-Presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, o Primeiro-Ministro da República Centro-Africana, Félix Moloua, Representante Especial da Nicarágua para as Relações com a Rússia L. Ortega e vários outros convidados estrangeiros. Como sempre, iremos informar-vos, tendo em conta as alterações do horário.

Além disso, em 16 de junho deste ano, aproximadamente às 17 horas, o Ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, irá intervir numa sessão “Diplomacia de Todos os Caminhos”. O tema do discurso é "O Papel dos Instrumentos Tradicionais e Novos da Diplomacia na Promoção dos Interesses Nacionais da Rússia". Uma transmissão ao vivo do evento estará disponível no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e nas nossas contas da comunicação social.

 

Sobre os eventos do Ártico no SPIEF 2022

 

Como parte do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo deste ano, pela primeira vez, o stand "Ártico - Território do Diálogo" será aberto. O programa de negócios inclui mais de 15 eventos, incluindo os conforme o plano da presidência russa do Conselho do Ártico em 2021-2023. Entre eles:

 – Conferência sobre o desenvolvimento das telecomunicações e digitalização no Ártico. Os participantes discutirão a introdução de tecnologias digitais na região, o uso de telemedicina e veículos não tripulados, além de outros temas.

– Um workshop sobre construção e reparação naval no Ártico, durante o qual se pretende discutir o desenvolvimento dos serviços de reparação naval no Ártico e o aumento do número de navios quebra-gelos de classe elevada.

– O Creative Business Fórum, que acolherá discussões sobre as perspetivas e potencialidades para o desenvolvimento das indústrias criativas nos territórios do Norte.

Além disso, a sessão "Rota do Mar do Norte: Corredor de Transporte Internacional" será realizada no stand do Ártico. Os participantes pretendem discutir o impacto desta rota na economia da zona do Ártico da Federação da Rússia, as oportunidades para desenvolver os seus territórios usando a Rota do Mar do Norte no contexto da pressão devida às sanções impostas, bem como as perspetivas de fortalecer parcerias com os países amigos.

O potencial de investimento do Ártico será discutido à parte pelos dirigentes de nove unidades da zona do Ártico russo que farão apresentações para investidores.

Estão programadas ainda sessões sobre as perspetivas de desenvolvimento do setor de turismo no Ártico, tendências de mudanças climáticas e gestão de riscos ambientais na região, bem como questões da segurança integrada e coordenação eficaz para prevenir emergências em altas latitudes.

Espera-se a participação de uma ampla gama de especialistas russos e internacionais, chefes de regiões do Ártico, representantes de departamentos e estruturas empresariais relevantes, bem como dos povos indígenas da região do Ártico.

 

Ponto da situação na Ucrânia

 

Cada nova semana traz mais provas trágicas de crimes de guerra e violações do direito internacional humanitário cometidos pelo regime neonazista e mercenários estrangeiros lutando ao lado do regime de Kiev.

Aderir às táticas terroristas e extremistas de intimidar a população civil e usar os habitantes locais como um "escudo humano". Aparentemente, foi assim que os combatentes das chamadas Forças Armadas da Ucrânia foram treinados por instrutores da NATO. As formações armadas ucranianas disparam diariamente nos bairros pacíficos de Donetsk. Eles estão bem cientes de que não há instalações e alvos militares por lá. Apesar disso, eles estão a disparar. Fazem isso há muitos anos. Por muito tempo, os chamados parceiros ocidentais e, infelizmente, representantes da mass media ocidental não quiseram ver isso. Agora eles também tentam ignorá-lo. Vamos contar-lhes sobre isso.

As Forças Armadas sob o controlo do regime de Kiev (não sei se controla algo ou não) têm usado munições de fragmentação proibidas e sistemas de artilharia recentemente recebidas dos EUA, Grã-Bretanha, França e outros países do “Ocidente coletivo”, designados por eles próprios de pacificadores da paz que se manifestam a favor do pacifismo. Os investigadores da RPD estabeleceram de forma confiável que em 9 de junho deste ano no distrito de Voroshilovsky, em Donetsk, foram utilizados projéteis do calibre da NATO de 155 mm.

Em 13 de junho do ano corrente os nacionalistas ucranianos submeteram Donetsk ao bombardeamento mais bárbaro desde 2015, usando a artilharia de campanha e foguetes, disparando 620 unidades de várias munições. Como resultado, cinco pessoas foram mortas inclusive um menino de 11 anos. 39 civis ficaram feridos, incluindo três crianças. Como reagiu o Departamento de Estado? A delegação norte-americana terá passado por círculos sagrados ao redor da sala de reuniões do Conselho de Segurança da ONU? Onde está o embaixador dos EUA com discursos raivosos e gritos? Onde estão os círculos humanitários americanos? E todas as organizações não governamentais, plataformas internacionais? Ficam calados? Eles permaneceram criminalmente silenciosos no decurso desses anos, e continuam criminalmente silenciosos agora. Nós sabemos.

A maternidade, o Centro Republicano de Proteção da Maternidade e da Infância, sofreu bombardeamentos. Mulheres em trabalho de parto, mães com filhos e funcionários foram forçados a refugiar-se na cave. Não são instalações para onde o equipamento militar foi trazido a fim de provocar e atrair fogo. Estes são as verdadeiras caves da maternidade. Não se trata das mulheres em trabalho de parto no meio de provocar instabloggers e modelos de fotos, mas sim as mulheres reais em trabalho de parto que estavam lá.

Outras instalações sociais também foram atacadas - o hospital clínico central, centros de cuidados primários de saúde, edifícios escolares, ginásios e um jardim de infância. São cinco instituições médicas, oito educacionais e duas culturais no total.

Lembro-me bem da conferência de imprensa de Serguei Lavrov na Turquia. Apenas coincidiu no tempo com o aquilo que foi apresentado como bombardeamento efetuado pelas Forças Armadas russas da maternidade ucraniana. Lembro-me de como os jornalistas estrangeiros me cercaram densamente antes e durante a preparação desta conferência de imprensa. Como soaram gritos e reclamações. Já não era mais um trabalho jornalístico, mas sim um trabalho propagandístico. Foi tal a reação a todas as tentativas minhas no sentido de fornecer material ou fazer comentários, responder a perguntas, mostrar o texto do desmentido do lado russo. Eu vi como os correspondentes (que me perdoe o correspondente da CNN sentado no corredor. Lembro-me exatamente do colega dele) se afastaram da tela do telefone que eu estendi, na qual as informações sobre esse incidente estavam abertas. Não queria ver. Ao mesmo tempo, eles gritavam, clamavam, faziam barulho, criavam um pano de fundo para o que aconteceu a seguir. São os factos, não podem ser ignorados, por isso a minha pergunta é: onde estão todos eles agora? Um deles cercou Dmitro Kuleba, embaixador ucraniano em Berlim A. Melnik (que todos os dias “twitta” algo terrível, insultante a todos no Twitter) ou o Representante Permanente da Ucrânia na ONU, Serguei Kyslytsya? Talvez algumas manifestações sangrentas estejam a ocorrer sob o pano de fundo das missões estrangeiras ucranianas ou essas são as crianças erradas? Ou são de natureza diferente meninos e meninas, mulheres em trabalho de parto, maternidades? Serão as pessoas de segunda classe?

Mais uma tragédia em Donetsk finalmente forçou as estruturas internacionais (já não me refiro aos mass media mundial. Em comparação com a forma como eles “cobrem” essa situação, tem dominado uma completa “ignorância” e silenciamento desses crimes) a agitarem-se e de alguma forma começarem a reagir. O representante do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, qualificou o bombardeamento da maternidade em Donetsk de "uma clara violação do direito internacional". A impressão é que os representantes do Secretariado da ONU começaram a reagir somente após serem instados a fazê-lo por representantes da Missão Permanente Russa, chamando a atenção para o facto de que o mainstream ocidental silenciou completamente essa situação. A única pena é que os funcionários internacionais só o tenham feito quando se torna impossível não notar o crime.  

As autoridades de Kiev e os seus patronos ocidentais continuam a sua campanha de desinformação contra o nosso país: eles inventam e replicam informações absolutamente falsas, apesar do facto de que todas as suas falsificações e plantios de informação anteriores foram rapidamente expostos e desmentidos. No início de abril deste ano tentaram acusar militares russos dos massacres de civis em Bucha. Os factos apontaram para uma encenação realizada pelos serviços de inteligência ucranianos e ocidentais. Eu tenho uma pergunta para todos: o que é que se passa agora em Bucha? Nomes, fotografias de pessoas, histórias de vida específicas - onde estão? Eu gostaria de entender. Ou será como aconteceu os franco-atiradores na praça Maidan em 2014. Naquela época, toda a comunidade internacional “civilizada” (representada por um pequeno grupo de países) gritava que era o início de uma fase ativa, que depois se transformou em golpe de estado. Eles alegaram que nada disso teria acontecido se não fosse pelos franco-atiradores que foram "exatamente" (como eles alegaram) liderados por autoridades de Kiev legitimamente eleitas. Esses franco-atiradores impossibilitaram as negociações com as autoridades legítimas em Kiev em 2014 e, portanto, a oposição “deveria tomar o poder”, porque as autoridades supostamente, pela ordem de Yanukovych e de todos que estavam no governo, teriam atirado contra civis. Quanto tempo durou a investigação sobre quem eram esses atiradores, quem lhes deu ordens e como terminou? Resultou em nada. Foi uma provocação clássica. Restaram apenas fragmentos do comentário do representante da UE de 2014, de alguma forma encontrados na Internet, a evidenciar que até eles entendem que os atiradores não foram guiados pelas autoridades legítimas em Kiev, mas por aqueles que deram ordens do outro lado. Será o mesmo a acontecer com a Bucha? Sim, sucede a mesma coisa. Lembre-se da situação em torno da Casa dos Sindicatos em Odessa, quando as pessoas foram queimadas vivas, de pé nos parapeitos das janelas e pedindo misericórdia. Tudo isso foi visto pela mesma comunidade internacional “civilizada”, só que não compareceu alguém no banco dos réus. Os vestígios são perdidos. Vemos uma repetição desses eventos terríveis. A lógica é a mesma, está subjacente ao que acontece lá. O instrumento é o regime de Kiev. Os ideólogos, infelizmente, são o mesmo “Ocidente coletivo”.

Uma semana depois de Bucha, as Forças Armadas da Ucrânia atacaram a estação ferroviária de Kramatorsk com um míssil Tochka-U e novamente culparam o nosso país por isso. Essa mentira foi confirmada até por jornalistas ocidentais, que na época começaram a corrigir-se e pararam de reportar sobre esse assunto por completo. Eles verificaram o número da série do foguete disparado e estabeleceram a sua origem ucraniana. Como se não houvesse crime. Ocorre que a qualificação de um crime depende diretamente da nacionalidade de quem o comete ou não. Mas assim não pode ser!

Em 13 de junho deste ano Kiev novamente tentou culpar a Rússia por bombardear o centro de Donetsk com projéteis da NATO. Isso está à margem do bem e do mal. Tal cinismo não é compreensível nem pode ser qualificado.

Uma parte significativa da culpa pela tragédia em curso no Donbass é dos países ocidentais, que estão a aumentar o fornecimento das suas armas a Kiev. Nos últimos três meses e meio, somente os Estados Unidos, segundo os seus próprios cálculos, entregaram à Ucrânia cerca de 24 mil sistemas antimísseis, mais de mil sistemas antitanque, mais de mil sistemas de defesa aérea, cerca de um e meio milhar de mísseis, 90 sistemas de artilharia, dezenas de helicópteros, cerca de oito mil armas de fogo ligeiras. São pessoas que apoiam aqueles que avançam com slogans pacifistas. Tipo, aqui estão os verdadeiros heróis pedindo a paz e ao mesmo tempo aumentando os fornecimentos de armas. Eles vão colocar um LMF de grande alcance. Estes são os sistemas de fogo simultâneo que trarão a paz com certeza.

Hoje, em 15 de junho, as questões da entrega de lotes regulares de armas para a Ucrânia estão a ser discutidas em Bruxelas na terceira reunião do Grupo de Contato sobre apoio militar à Ucrânia chefiado pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin. O fornecimento de armas a Kiev, como vocês entendem, leva ao prolongamento das hostilidades, a novas baixas entre a população civil e contribui para a formação e expansão do "mercado negro" de armas, que se espalhará cada vez mais pelo continente europeu e outros regiões do mundo.

Em 9 de junho deste ano foram lavradas as primeiras sentenças aos mercenários estrangeiros. Avisávamos por muito tempo que seria mesmo assim. Agora vemos isso na prática. Os britânicos Aiden Aslin e Sean Pinner, assim como o marroquino Saadun Bragim, foram condenados pelo Supremo Tribunal da RPD à pena capital – a pena de morte. Esperamos que uma sentença tão dura por crimes contra a população civil de Donbass se torne um exemplo claro para todos os outros "soldados da fortuna" que estão a lutar ao lado dos neonazistas ucranianos ou que apenas pretendem se juntar a eles. Estes são crimes contra a população civil de Donbass. Os crimes de guerra de elementos radicais nacionais ucranianos e mercenários estrangeiros não ficarão impunes. Muito se tem falado sobre isso, e agora passou para um plano prático.

A Rússia continuará, como afirmou a liderança russa, a operação militar especial para proteger Donbass contra a agressão do regime de Kiev, desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e eliminar as ameaças ao nosso país, provenientes do território ucraniano.

 

Sobre os resultados da Cimeira das Américas

 

De 8 a 10 de junho deste ano foi realizada em Los Angeles a 9ª Cimeira das Américas.

O evento teve uma aparência "truncada" claramente expressa. Dos 35 Estados do Hemisfério Ocidental, quase um terço dos líderes estiveram ausentes. Por razões ideológicas e abusando (para dizer verdade) do seu status, os organizadores não convidaram Cuba, Venezuela e Nicarágua. Como sinal de desacordo com esta decisão, os chefes do México, Bolívia, Honduras e vários países caribenhos boicotaram o evento, diminuindo o número de delegações. Devido a divergências com o governo dos Estados Unidos, os presidentes de El Salvador e Guatemala não chegaram a Los Angeles.

A discussão realizada mostrou que, em vez de uma agenda unificadora, a Casa Branca se esforça por envolver os latino-americanos na construção de uma ordem renovada na região de acordo com os padrões de Washington. O Presidente Joe Biden promoveu o tema da "exclusividade regional". Anteriormente, apenas os Estados Unidos eram exclusivos, agora eles permitem que aqueles a quem tal convite foi enviado venham experimentar esse status. Não sei, alguém escreveu isso para o Presidente norte-americano (com certeza ajudando-o). Ele disse: "Nós somos primeiros." Estando em São Petersburgo, posso dizer que o tema "primordial" foi perfeitamente revelado por S. Shnurov na música "Exhibit".

Esse conceito supostamente possibilitará transformar o Hemisfério Ocidental em uma zona de "prosperidade de valores liberais". Que tipo de valores liberais permitirão que a região “brilhe” apenas agora (antes disso, por algum motivo, do ponto de vista de Washington, não brilhava assim) não está claro. A democracia e os regimes liberais destruíram todos os verdadeiros valores (liberdade de expressão, instituições democráticas do poder estatal, liberdade da economia, comércio). Não sobrou nada disso, apenas os mass media controladas manualmente pelo grande capital. É impossível falar hoje em liberdade de comércio e economia, já que o roubo dos bens, o bloqueio de contas, a imposição de sanções unilaterais, a proibição (direta e indireta) da cooperação já se tornaram a norma do pensamento liberal ocidental. De que tipo da liberdade de comércio e economia podemos falar hoje? Isso é importante para os potenciais investidores que estão a examinar diferentes regiões do mundo. Vejam só: existe a Organização Mundial do Comércio que tem regras gerais. Um processo demorado para pactuar novos membros, preparar a adesão do país, passar por um grande número de exigências e unificar legislações e normas para participar em pé de igualdade na OMC. Tudo está certo. Parece que todos estão incluídos. Entretanto, a China, a Rússia - tudo lá está. O que impede de agir normalmente, negociando? Assim que todos começaram a usar essas potencialidades da OMC, a arbitragem dentro dessa organização foi bloqueada pelos Estados Unidos, ou seja, vocês podem vir participar, desde que se trate de disputas que deveriam ser resolvidas por meio de arbitragem, esse sistema se vê bloqueado pela administração americana. O que significa a participação se os litígios que surgem não podem ser resolvidos. "Vocês podem cantar, só que não abram a boca."

De maneira consumista, sob a imagem da “liderança dos EUA”, foi construída uma agenda “centrada nos Estados Unidos”, foi selecionado um círculo de participantes da esfera empresarial, de ONGs e da comunicação social, as decisões benéficas para Washington foram implementadas num conjunto reduzido de temas (e muitos deles que dizem respeito à democracia, eleições, aos media, ao papel das ONGs encontram-se à beira da ingerência em assuntos internos), tendo sido  criados novos formatos regionais de coordenação com o envolvimento da desacreditada Organização dos Estados Americanos.

Por trás do cenário preparado de “demarcar” a influência exclusiva dos Estados Unidos naquela parte do mundo, fica claramente visível um dos objetivos mais importantes - minimizar a cooperação da região com Moscovo e Pequim. Tudo o que hoje se resume à agenda unificadora para Washington se baseia na destruição dos laços existentes e naturais de várias regiões e associações com a Rússia e a China.

Também se falou de nós. Os latino-americanos foram intimidados pelo papel de Moscovo “na desestabilização da situação nos mercados de alimentos e energia.” Isso ocorre apesar do facto de que há muitos anos temos construído parcerias e cooperação energética com todas as regiões do mundo numa base mutuamente benéfica e num quadro legal existente. Washington obrigou, manipulando, países e empresas a recusarem dessa interação sob a ameaça de sanções com o único propósito de impedir que fosse substituída como fornecedor de recursos energéticos. É até inconveniente falar sobre a situação alimentar. A crise eclodiu devido à pandemia, aos fenômenos naturais e após a imposição de sanções que bloquearam a possibilidade de efetuar pagamentos.... Existem fornecimentos humanitários, as entregas relacionadas com a ajuda gratuita. De uma forma ou de outra, os alimentos estão a ser comprados e vendidos. Se vocês bloquearem a possibilidade de fazer pagamentos, isso provocará outra vaga da crise. Também fomos acusados ​​disso.

Por trás da “tela”, por trás das declarações de organizadores sobre as perspetivas que se abrem em determinadas áreas (saúde, clima, transição energética, democracia, digitalização, migração), não se vislumbraram vias de resolver, de forma sistemática, os problemas que preocupavam os latino-americanos: a dívida externa, a superação da pobreza, o desemprego, o combate ao narcotráfico, a redução da migração. Tentando propor uma agenda unificadora, os próprios Estados Unidos, com as suas próprias mãos, por muitos anos bloquearam os Estados e as suas relações entre si com sanções impostas. Depois de se verem em maus lençóis, mais uma vez, a região se tornou necessária como território para o desenvolvimento de recursos, pessoal, em geral, para criar uma sensação de processos integracionistas. Alegadamente, Washington não estaria a destruir tudo, mas, pelo contrário, iria unir muitos. Todos foram convidados a participar. A quem se dirigiram convites? Àqueles em cujas relações interestatais eles tentaram entrar e destruir.

Isso não é surpreendente: a política de Washington em relação aos vizinhos do Sul há muito se vê moldada principalmente pelo prisma das diferenças partidárias. Isso se tornou num fator político doméstico nos Estados Unidos, dado o grande número de pessoas da América Latina e das Caraíbas nos Estados Unidos. As tarefas pré-eleitorais são definidas e os cientistas políticos, tecnólogos do género estão a cumpri-las abarcando diásporas. Além disso, as eleições para o Congresso (previstas para novembro de 2022) estão perto, “ao dobrar a esquina”. Há uma agenda política interna ativa. Ela começa a realizar-se a alguns meses do evento. Aqui está a resposta à sua pergunta - o que realmente era tudo isso.

Um traço característico que demonstra as prioridades dos Estados Unidos (e os líderes dos estados latino-americanos falaram abertamente sobre isso em Los Angeles) foi o facto de que, tendo como um pano de fundo mais de 40 bilhões de dólares destinados à assistência militar à Ucrânia, Washington há já muito que não consegue acordar 3-4 bilhões de dólares para ajudar os países da região na esfera da migração. De onde veio esta problemática esfera migratória nessa região? Das ações dos EUA para destruir a vida interna e as economias desses países e construí-las em suas bases de recursos. Daí todos os demais problemas, incluindo a migração. Para resolver este problema, é mister alocar 3-4 bilhões de dólares americanos. Para fazer isso em prol dos países da sua região, quando o regime de Kiev longínquo precisa de paz? Para tal, não se deve poupar um montante de 40 bilhões de dólares americanos para a guerra. É lógico.

Ao mesmo tempo, muitos latino-americanos nos seus discursos se manifestaram contra tal abordagem. Entre eles estão o Presidente da Argentina, que é o presidente rotativo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos - CELAC, e o Primeiro Ministro de Belize, que preside a Comunidade do Caribe - CARICOM. Eles manifestaram-se contra a atitude discriminatória, a falta de líderes de Cuba, Nicarágua e Venezuela não convidados. Pelos vistos, Washington subestimou a força de apoio de que esses países desfrutam na região.

Apesar das aspirações da Casa Branca, o evento "amarfanhado" em Los Angeles refletiu uma realidade importante: os dias da "Doutrina Monroe" estão objetivamente passados, por mais que alguém queira recuperá-los. Os Estados da América Latina e das Caraíbas lutam pela igualdade, já que não querem ser tratados como "subordinados". Aderindo a nuances objetivamente diferentes em suas abordagens e avaliações da situação mundial atual e muitas vezes enfrentando problemas difíceis, incluindo aqueles que exigem a cooperação internacional e a assistência externa, eles demonstram um grau considerável de autonomia em política externa, a prontidão para promover, de forma independente, os seus interesses, fazendo com que a sua voz “unida na diversidade” possa ser ouvida no cenário internacional.

Quanto ao nosso país posso dizer o seguinte. Estamos prontos para tal desenvolvimento da cooperação com os nossos Estados amigos da região nos alicerces pragmáticos, mutuamente respeitosos e mutuamente benéficos. Sempre confirmámos isso com os atos: somos fornecedores confiáveis, parceiros e amigos.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:     

Pergunta: A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs desenvolver um mecanismo para a restauração da Ucrânia, semelhante ao Plano Marshall. Segundo disse, a União Europeia neste projeto deve atuar como o principal investidor, e a tarefa de restaurar o país será decidida pelos próprios ucranianos. Como o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia avalia essa iniciativa? Não será uma tentativa, após o estabelecimento do controlo político sobre o país, de estabelecer um diktat econômico final do Ocidente na Ucrânia?

Maria Zakharova: Hoje em dia, fazem-se muitas declarações interessantes e às vezes chocantes por diplomatas europeus. Eles ora dizem ser necessário continuar a batalha até ao “fim”, sem indicar o que eles querem dizer com isso, ora falam de uma restauração pacífica e alguns planos. Tenho a impressão de que não existe um conceito integral e eles encontram-se em estado de absoluta incerteza. A certeza foi confirmada em relação ao nosso país que deve ser “contido”, eles empenham-se numa guerra híbrida contra nosso país. O que fazer com o resto e como construir um conceito coerente em ideologia, filosofia? Vemos uma dicotomia absoluta.

Quanto ao "Plano Marshall" - acho que esses paralelos históricos não são acidentais aqui. Eles mostram como os clichês da Guerra Fria já ultrapassados ​​e a lógica de confronto antagônico com o nosso país estão enraizados na mente da classe política do Ocidente. O "Plano Marshall" é um traço característico e indicativo do período de confrontação entre os dois sistemas. Não é segredo que a concessão de verbas foi proporcionada pelos norte-americanos e condicionada com um número significativo de ressalvas políticas e ideológicas para os países beneficiários. O mundo foi dividido de acordo com o princípio “ou-ou”: vocês recebem o dinheiro, vocês apercebem-se de tudo o que dizemos, vocês estão em subordinação. Por outro lado, se vocês não obedecem, se vocês não seguirem as instruções diretas – então não recebem dinheiro. Mas o Ocidente estabeleceu as condições mais severas. Acredita-se que esse mecanismo tenha desempenhado um papel significativo na reconstrução da Europa no pós-guerra, embora os outros países europeus, inclusive os que faziam parte do Bloco Oriental, também tenham tido grande sucesso no desenvolvimento da infraestrutura industrial. O "Plano Marshall" permitiu que os Estados Unidos consolidassem e mantivessem a Europa Ocidental na órbita da sua influência - isso é um facto consumado. Hoje em dia, tentam fazer o mesmo na Ucrânia. Mas aqui, desde o início, há um plano de destruir este país, a sua condição de Estado, a sociedade civil e agora se revela a ruína real.

Estamos acostumados ao facto de que os atuais políticos e funcionários da UE (Ursula von der Leyen, infelizmente, não é uma exceção da regra, mas o exemplo mais claro) estão a usar cada vez mais esses mesmos clichês ideológicos, emprestados aos mais fanáticos propagandistas antirussos do século passado. Não é segredo para ninguém que, no que diz respeito às promessas de assistência desinteressada aos "satélites", as suas palavras devem ser divididas, pelo menos, em dois, às vezes até multiplicadas por zero.

A política do Ocidente em relação à Ucrânia no passado recente não se assemelhava ao "Plano Marshall", mas a um curso direcionado para a desindustrialização do país, transformando-o em uma fonte de recursos. Isso apesar do facto de que durante o período soviético esse território se industrializou, teve a sua própria ciência, a sua própria educação, a sua própria indústria, a sua própria economia e o setor agrícola. Hoje vemos o que aconteceu ao país em 30 anos da independência a qual se afigura, como a dependência real de Washington. Nós regularmente disponibilizámos os nossos recursos à Ucrânia, devidos aos quais, em muitos aspectos, a sua indústria foi construída.

Há mais de uma década, a União Europeia, juntamente com os Estados Unidos, vem tentando implementar o seu projeto geopolítico na Ucrânia, visando simplesmente “conter” a Rússia. Começou muito antes de 2014. As enormes quantias de bilhões de dólares têm sido alocadas para esses propósitos. Que parte de alocações chega à Ucrânia e que parte imediatamente retorna “à base” é uma questão em aberto. De acordo com as informações disponíveis que, às vezes, chegam ao conhecimento dos mass media, torna-se óbvio que esses meios financeiros têm sido pura e simplesmente manipulados por especuladores na Ucrânia e, com menos de alguns pontos percentuais, são retrovertidos e devolvidos às contas de onde saíram. É um jogo maravilhoso. Todo o resto é alocado não para a possibilitar a prosperidade do país, mas para o fornecimento do equipamento militar.

Não há limites para a hipocrisia da liderança da UE quando se aponta para a necessidade de “restaurar a Ucrânia” e, ao mesmo tempo, continuar a fornecer armas letais. Isso se chama de investimentos na continuação das hostilidades e no arruinamento do país.

Surge uma lógica que é selvagem para o século XXI: primeiro, convém destruir tudo até ao chão e depois começar a construir novamente neste local. Além disso, é completamente incompreensível para o povo da Ucrânia o que eles pretendem edificar. Eles vão construir aquilo de que o Ocidente precisa: por exemplo, produzir algo para as necessidades das empresas transnacionais. Como foi feito na União Europeia. Vários países da UE abandonaram o seu modo de vida tradicional, a agricultura e a indústria. Tudo isso se mantém à tona graças aos subsídios para não morrer, mas, ao mesmo tempo, não se desenvolver normalmente.

Considero duvidoso que tal lógica seja do interesse de ucranianos comuns e residentes dos países da UE, que, nas condições da crise energética e alimentar provocada pelo Ocidente, dificilmente concordarão em pagar por tais planos belicosos de Bruxelas por conta própria.

Estão a circular ativamente nos círculos políticos da Europa e dos Estados Unidos as ideias de expropriar, para o efeito, os ativos de cidadãos e empresas russas implantadas no exterior, bem como as reservas cambiais "congeladas" pertencentes ao Banco da Rússia. Ao implementar o Plano Marshall, os norte-americanos, deixe-me lembrá-lo, investiram o seu dinheiro. É relevante agora ou não? Uma boa pergunta para eles. Achamos que eles deveriam responder, já que agora a ideologia mudou um pouco no Ocidente, e eles decidiram avançar os seus projetos geopolíticos à custa de outras pessoas, simplesmente apropriando-se desse dinheiro.

Aparentemente, ninguém se apressa a destinar recursos à atual liderança ucraniana - em princípio, o Ocidente não irá confiar as suas finanças para os objetivos da "recuperação". Acho que houve uma “imagem” indicativa quando, ainda enquanto o Vice-Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (que agora é o presidente dos Estados Unidos) veio a Kiev e “liderou” algum formato híbrido incompreensível. Esta não foi uma reunião ordinária do governo da Ucrânia na presença do Presidente da Ucrânia, que veio a ser presidida pelo Vice-Presidente dos Estados Unidos, sentado à cabeceira da mesa, dava dicas e recomendações aos membros do Gabinete de Ministros da Ucrânia. Tal cenário irá prosseguir, sem mais, nem menos, doravante. E nisso não há nada de novo.

Se os políticos e especialistas ocidentais referem-se à impossibilidade de controlar efetivamente onde e como as armas fornecidas à Ucrânia serão usadas, então o que podemos dizer sobre os bilhões da assistência financeira que “irão” para lá?

Obviamente, nem um único euro e nem um único dólar da ajuda ocidental será gasto no desenvolvimento e restauração da infraestrutura das repúblicas de Donbass, que tem sido consistentemente destruídas por Kiev desde 2014.

Pergunta: O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse durante a sua visita à Finlândia que a paz na Ucrânia é possível. A única questão é o preço a pagar. Esclareceu que o preço são os territórios, a independência, a soberania, a liberdade e a democracia. Segundo ressaltou, a aliança continuará a apoiar as autoridades de Kiev, mas ao mesmo tempo tentará por todos os meios evitar uma escalada da tensão com a Rússia. Como avaliaria essa afirmação?

Maria Zakharova: Não vai funcionar, não funcionou e não funcionará no futuro. Como lidar com a escalada da situação em termos práticos: fornecer armas, forçar outros a fornecer armas, impor sanções, declarar o principal “objetivo” na forma de “estrangular” o nosso país e, por outro lado, tentar evitar a escalada com a Rússia. O que é então a escalada na sua compreensão? Isso nem sequer é uma tentativa de se sentar em duas cadeiras, é uma dicotomia.

É difícil imaginar a paz em um país onde toneladas de armas letais são importadas todos os dias, procedentes, sobretudo, dos Estados membros da NATO. De que preço o Sr. Stoltenberg está a falar, acho seria melhor se perguntassem a ele. De qualquer forma, é óbvio que nem a NATO, nem o secretário-geral desta organização poupam a Ucrânia ou os cidadãos deste país quando se referem a um determinado “preço”. Aparentemente, eles estão a "pagar" com o destino da Ucrânia e dos cidadãos deste Estado.

Vamos lembrar qual é o problema. É que o confronto com a Rússia se tornou um fim para a NATO. Esta não é uma defesa contra alguma ameaça teórica. Esse objetivo foi expresso, foi camuflado nas formulações da ciência política. Então todos eles “irromperam” e foi anunciado: o confronto com o nosso país, as operações militares ou a situação “no terreno” deveriam ser decididas por si mesmas, etc. Neste caso, a Ucrânia e os cidadãos da Ucrânia são consumíveis para a NATO, sendo uma “ferramenta”, “custos associados”. Apenas o que é conveniente usar para atingir o objetivo. Quanto mais eles lutarem contra as nossas forças armadas, melhor (refiro-me agora às Forças Armadas da Ucrânia) para a aliança. Esta é a justificativa para a sua existência hoje.

Chamo a sua atenção para o facto de que este não é um tipo de "descoberta" minha, mas um discurso direto do ex-Presidente dos EUA George W. Bush, que disse: "A missão da Ucrânia é matar o maior número possível de russos". Não digo que ele é um homem de conhecimentos profundos (não quero falar sobre esse assunto agora), mas ele representa não apenas um Estado profundo (“deep state”) - o Estado profundo dos Estados Unidos, ele faz parte desse Estado profundo, a elite política. O seu clã governou o país por muitos anos: pai e filho foram presidentes por muito tempo. Eles têm a influência mais forte - tiveram e ainda têm nos círculos republicanos. Eles estão intimamente ligados aos serviços especiais e ao complexo industrial militar e, claro, ainda controlam o setor de energia. É, pois, uma história clássica. George Bush Jr. simplesmente expressou o que muitos ainda "camuflam" em frases mais ou menos simplificadas. Ele disse sem rodeios: "A missão da Ucrânia é matar tantos russos quanto possível." Isso é tudo. Isso precisa ser falado. Aparentemente, Jens Stoltenberg desenvolveu essa ideia e disse quanto custaria, que havia “algum preço” para isso. O preço é a vida das pessoas que vivem e que o Ocidente, ao longo de muitos anos, tentava colocar em oposição e confrontação. Se vocês me perguntarem (de uma forma ou de outra, isso se manifesta na sua pergunta) sobre a situação em torno da NATO, então me parece que se devia, há já muito, pensar se valia a pena continuar a fornecer o apoio político e material às ações dos nacionalistas ucranianos ou começar a procurar formas conjuntas de evitar uma escalada que conduzisse aos confrontos desnecessários. Isso é o que eles deveriam estar a pensar. Não lhes quero dar conselhos. Mas é tão óbvio, estando na superfície, que eu não poderia deixar de dizer.

Pergunta: Sabemos bem que os EUA e os seus aliados ocidentais ficam a fornecer armas cada vez mais modernas à Ucrânia, que instrutores estrangeiros estão a trabalhar ali. A senhora acredita que existe a probabilidade de a “guerra de proxies”, que está agora em curso na Ucrânia, converter-se num conflito direto entre a Rússia e os EUA?

Maria Zakharova: Este é um cenário mais desagradável e apocalíptico para a comunidade internacional que possa ser imaginado. É melhor não o imaginar. Nós nunca queríamos nenhum confronto com o bloco do Atlântico Norte. Encarámo-lo como algo que existia. Tentávamos construir certas relações, interagindo em áreas de interesse mútuo. Já tivemos a Ata Fundadora Rússia-NATO, tivemos a representação permanente, tivemos os diplomatas que, compreendendo que o bloco tinha a mentalidade da Guerra Fria, tentavam elevar as nossas relações a um novo patamar através da cooperação. Mostrar a prioridade, a vantagem mútua da solução conjunta dos problemas reais, e não criar problemas que ainda não existiam. Nós realmente buscávamos um meio de fortalecer juntos a estabilidade e a segurança no continente europeu. Isso foi feito por nós. Sugeríamos e levávamos a cabo muita coisa. Partindo dessa abordagem, a Rússia colocou no final de 2021 a questão da necessidade de garantias de segurança do nosso país por parte de Washington e dos seus aliados. Compreendíamos que a nossa atitude benévola estava a ser ignorada e que todos os processos que estavam a ganhar vulto na NATO, iam na direção contrária. Os Estados membros do bloco do Atlântico Norte não quiseram manter uma conversa séria sobre este assunto. Ficaram a incitar o regime de Kiev à solução pela força do problema de Donbass, gerando a ameaça de genocídio, inclusive dos numerosos cidadãos russos que habitam naquela região. Sim, com certeza, é essa a nossa definição, é uma “guerra de proxies” que está a acontecer na Ucrânia. E o nosso país é o alvo. O Ministro Serguei Lavrov falou disso em pormenor. A propósito, a Casa Branca nem oculta que considera a operação especial das forças armadas da Rússia um desafio existencial, é assim como a descrevem. Os EUA e outros países da NATO enviam a Kiev volumes sem precedente de finanças e armamentos, continuando assim a política da contenção ativa da Rússia. Eis também aqui as manipulações financeiras: há uma parte do dinheiro que é destinada a uns objetivos, porém gasta-se em outros. Nesta primavera, a administração de Joe Biden destinou13,6 mil milhões de dólares, tendo decidido recentemente acrescentar a este montante mais 40 mil milhões.

Os funcionários da NATO e dos seus Estados membros têm declarado várias vezes querer evitar um confronto direto. Contudo, acompanham estas declarações com atos práticos que vão em direção contrária. Vejamos quão firmes serão na lealdade a esta atitude. Por enquanto, as suas ações demonstram intenções contrárias.

Mais um aspeto. A Rússia e os EUA, sendo superpotências nucleares encarregadas de responsabilidade especial pelo destino do mundo, devem encontrar formas ótimas de coexistência pacífica em prol de toda a humanidade. É a responsabilidade das potências nucleares. A pergunta é a seguinte: quando Washington estará pronta para aceitar a nova realidade geopolítica e dizer adeus às ambições da hegemonia americana.

Não é um processo fácil, é doloroso para os EUA, porém inevitável.

Quando tocámos no assunto das armas nucleares, começa logo a histeria, a menor pretexto, com a deturpação dos factos, inclusive nos canais norte-americanos, na TV, nos jornais, nos sites, com o objetivo claro de apresentar a postura russa como ameaça à estabilidade e segurança nuclear. E todos – começando pelo Presidente, pelos ministros e militares e terminando pelos ativistas sociais – dizem qua nada muda para nós neste sentido. Ocupamos as mesmas posições. Já o deputado do Parlamento Europeu (não um deputado simples, mas o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia), Radosław Sikorski, fala direto, sem rodeios, que se deve fornecer ogivas nucleares ao regime de Kiev para que ele as use para a sua defesa ou faça outro uso delas. Qual é a reação da comunidade internacional: zero. Isso é uma violação do regime da não proliferação das armas nucleares e uma ameaça direta da sua proliferação, se tivermos em conta a falta total de controlo por parte do regime de Kiev, controlo esse, ausente durante décadas em qualquer área. Basta falar do regime de Kiev… A República Checa, membro da NATO, não sabia o que estava nos seus paióis e o que acontecia lá. Quando tudo isso explodiu e se queimou, a investigação durou muitos anos, sem chegar a um resultado qualquer. Inventaram que os culpados de tudo isso seriam Petrov e Bashirov. Era necessário “fazer a contabilidade”, inclusive no material. Isso ilustra o controlo dos países membros da NATO dos armamentos que estão no seu território. E aqui, neste caos absoluto que reina nos países membros da Aliança, surge uma ideia nova: fornecer ogivas nucleares à Ucrânia. Já imaginaram o que seria? O país não tem nenhuma indústria que não tivesse sido, nestas décadas, sujeita à corrupção total e caos. E agora, querem que tenha ogivas nucleares. Quem fala disso é o antigo representante da Polónia. Outro assunto é que ele está casado com uma cidadã norte-americana, propagandista anglo-saxônica, Anne Applebaum.  Ela não é uma russófoba que odeie o nosso país e tudo o que tenha a ver com ele. Ela finge ocupar-se de “estudos” históricos, publicando sem cessar mentiras monstruosas. E o representante, cidadão da Polónia, que compartilha a fronteira com a Ucrânia, sugere enviar armas nucleares para lá. Pois ele deve pensar no povo do seu país. Talvez acredite que vá partir, juntamente com a esposa, para longe, ao estrangeiro. Mas ele foi Ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, devendo compreender qual poderia ser o resultado. Lá, o muro não adiantaria resolver o problema. Eles lembram-se de Fukushima. As tecnologias japonesas não podiam fazer nada: a água estava contaminada e tudo. Chernobyl tinha sido o assunto número um durante muitos anos, e agora aconteceu aquilo. E quando se trata do átomo pacífico, de fornecimentos de tecnologias nucleares de acordo com as regras e normas existentes, em prol da energia, começam os protestos patrocinados por organizações “não governamentais” norte-americanas. Ouvem-se palavras de ordem, rescindem-se contratos. Teria sido muito perigoso, alegam. E agora apregoam: forneçamos ogivas nucleares à Ucrânia. É a única coisa que faltava para completar a apocalipse.

Pergunta: Em breve, a 14a cimeira dos BRICS vai ter lugar, presidida pela China. O mundo está a sofrer mudanças de grande escala e a tensão geopolítica. As consequências da pandemia afetam o relançamento da economia mundial. Neste contexto, qual é, a seu ver, o papel que os países do grupo BRICS devem desempenhar e o que a senhora espera desta cimeira? Em sua ótica, quais são as vantagens do mecanismo dos BRICS, comparado com os outros mecanismos internacionais?

Maria Zakharova: Quanto aos eventos dos BRICS, vou comentar só em termos gerais, porque é o Gabinete do Presidente que costuma comentar as cimeiras. Principalmente, o que esperamos desta cooperação e de todos os formatos da mesma é a troca construtiva de opiniões sobre os assuntos relevantes da agenda mundial, e vemos também uma perspetiva de aumentar a parceria estratégica dos BRICS no âmbito de três áreas magistrais: a política e a segurança, a economia e as finanças, as relações culturais e humanitárias. A presidência chinesa colocou no centro da agenda dos BRICS a questão de consolidação da multilateralidade, a cooperação na luta contra a pandemia da covid-19, a aceleração da recuperação da economia mundial e o cumprimento dos objetivos na área do desenvolvimento sustentável até 2030. Partimos da premissa – da qual temos certeza absoluta – de que todos estes assuntos serão discutidos de maneira concreta, refletindo-se na declaração final dos líderes. Consideramos que este evento de alto nível permitiria definir os resultados preliminares da presidência chinesa nos BRICS neste ano. Entre os avanços, já se pode listar o lançamento do Centro dos BRICS de pesquisa e produção de vacinas no formato virtual, o início do cumprimento prático do acordo sobre a cooperação na área do grupo de satélites de pesquisa da Terra à distância e a finalização da preparação do Acordo de Cooperação e Auxílio Administrativo Mútuo para os serviços aduaneiros dos BRICS; a aprovação da iniciativa de eliminação de “portos seguros” para corruptos e ativos ilícitos. Consideramos de importância especial a sessão no formato BRICS + com a participação dos chefes de Estado de vários países que são parceiros. O nosso grupo defende tradicionalmente os interesses dos Estados em desenvolvimento, manifestando-se a favor do aumento do seu papel na tomada de decisões globais sobre os problemas internacionais mais importantes. Hoje em dia, o grupo BRICS é uma das plataformas interestatais dinâmicas e contemporâneas. É um exemplo brilhante e bem-sucedido de multilateralidade real, de cooperação eficiente, quando a união dos esforços de Estados é ditada pelos seus interesses comuns, e se os mesmos não coincidem, faz-se um trabalho criativo para se adequarem uns aos outros. Nas condições internacionais bruscamente alteradas, os “cinco” são os guardiões da multilateralidade verdadeira, baseada no diálogo igualitário e mutuamente respeitoso, na abordagem coletiva dos problemas globais atuais e no equilíbrio são dos interesses. O papel dos BRICS nos assuntos internacionais tende a aumentar, de acordo com o crescimento e o potencial. É uma ampla base de recursos, inclusive recursos humanos, tudo o que tem a ver com os recursos, um lugar crucial nas cadeias globais de logística e produção. Em 2021, o PIB nominal do grupo equivaleu a cerca da quarta parte do indicador global. Já em termos de paridade do poder aquisitivo, os BRICS ultrapassaram o G7: 45,5 trilhões de dólares contra 44 trilhões, segundo os dados do FMI divulgados em 2021. Tudo isso permite que os “cinco” participem ativamente na formação da agenda mundial, estando na vanguarda dos esforços que visam garantir o desenvolvimento sustentável global. Uma das vantagens dos BRICS é o jeito democrático do formato e a falta de objetivos “subversivos” ou de “amizade contra alguém”. Nós temos os nossos interesses, precisamos de cooperar e não temos o objetivo de usar a nossa união de recursos e possibilidades contra ninguém. O facto de os Estados pertencerem a diferentes civilizações é um fator importante. O essencial é encontrar uma linguagem comum. Apesar de sermos de religiões diferentes, de culturas diferentes, todos somos autónomos. Isso faz este grupo atrativo a outros países, permitindo-lhe ocupar um lugar sólido no sistema de referências internacional e tornar-se um elemento indispensável da gestão global da crescente consolidação de posições, designadas de novos centros de crescimento.


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