13:41

Excerto do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Makhatchkala, 27 de maio de 2025

885-27-05-2025

Sobre o relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia «Sobre a situação em alguns países europeus decorrente da vandalização e destruição de monumentos erguidos em homenagem àqueles que lutaram contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial»

 

O sítio eletrónico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia divulgou hoje o relatório «Sobre a situação em alguns países europeus decorrente da vandalização e destruição de monumentos erguidos em homenagem àqueles que lutaram contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial», elaborado em russo e inglês.

Citei factos concretos. A hipótese de tal ter sido perpetrado por vândalos ou por pessoas alucinadas ou com perturbações mentais, é a única que se afigura como plausível. O relatório analisa as ações de determinados países, sobretudo os países bálticos, a Polónia e a Ucrânia, que, utilizando a operação militar especial conduzida pela Rússia para a desnazificação e desmilitarização da Ucrânia e a proteção da população civil do Donbass como pretexto, intensificaram significativamente a sua prática de longa data de destruição do património memorial soviético e russo nos seus respetivos territórios nacionais, e, nalguns casos, do seu próprio património memorial.

A "descomunização", a destruição de monumentos da nossa história e cultura partilhados, a profanação de sepulturas de soldados soviéticos, as marchas com tochas dos neonazis, a glorificação de nazis e colaboracionistas, a aniquilação de oponentes ideológicos — muitas destas manifestações, e frequentemente em simultâneo, tornaram-se recorrentes nos países citados no referido relatório. Estes países invocam as leis nacionais de "descomunização" como justificação para a demolição de monumentos erigidos aos soldados soviéticos. De facto, os governos dos países em questão têm envidado esforços no sentido de "cimentar a frente antirrussa".

Esta situação não está relacionada com o conceito de "descomunicação", mas antes com outros fatores inteiramente distintos. Reitero que estamos perante o ressurgimento do nazismo. Em simultâneo com a demolição de monumentos erigidos aos heróis da Segunda Guerra Mundial e da Grande Guerra Pátria, observa-se a construção de monumentos aos criminosos nazis. Simultaneamente, assiste-se ao fortalecimento do quadro legislativo que protege esses monumentos e à perseguição severa de qualquer ação por parte de ativistas antifascistas contra monumentos aos nazis. O objetivo principal destas ações é apagar a memória histórica e revirar pelo avesso as realidades do mundo contemporâneo.

Em termos de conteúdo, o documento em apreço fundamenta-se nas disposições da resolução temática da Assembleia Geral das Nações Unidas «Combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e de outras práticas que contribuem para a escalada de formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância conexa».

A resolução, em particular, sublinha que a Assembleia Geral manifesta profunda preocupação com as tentativas e casos cada vez mais recorrentes de profanação ou destruição de monumentos erigidos em homenagem aos que combateram o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, bem como à exumação e traslados ilegais dos seus restos mortais. A resolução condena veementemente os incidentes associados à glorificação e propaganda do nazismo, incluindo pichações e desenhos de cariz nazi em monumentos às vítimas da Segunda Guerra Mundial. Em geral, é aceitável a prática de desenhos e inscrições em monumentos?

A Rússia, como país que sofreu tantas perdas na Segunda Guerra Mundial e na Grande Guerra Patriótica para restaurar a paz, jamais permitirá que as lições do passado sejam esquecidas.

O nosso país, em conjunto com os seus aliados e correligionários, perseverará no trabalho contínuo para combater quaisquer tentativas de distorcer a verdade histórica, incluindo a libertação dos países da Europa Oriental e Central do nazismo, que foi o desfecho das ações conjuntas da coligação anti-Hitler.

A divulgação não se ficará pelo relatório em questão. Ademais, será prestado apoio ao trabalho dos representantes da sociedade civil que, em paralelo com as instituições estatais e com base nas histórias das suas famílias, talvez, ou simplesmente na ideia de que também é preciso lutar pelo bem, realizam este trabalho. Consequentemente, será prestado apoio a todas as suas ações e materiais factuais.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: As despesas militares registam um aumento a nível global, com um montante total de 2,1 biliões de dólares em 2021, dos quais 806 mil milhões foram imputados aos EUA. No ano de 2024, o montante em questão atingiu os 2,72 biliões de dólares, dos quais 997 mil milhões foram atribuídos aos EUA e 314 mil milhões, à China. Ao longo de um período de três anos, as nações do mundo aumentaram os seus orçamentos militares em 620 mil milhões de dólares. Adicionalmente, perspetiva-se um crescimento contínuo, com um possível aumento para algo entre 4 e 4,5 biliões de dólares até 2029. A tensão a nível global encontra-se em ascensão. A Rússia dispõe de alguma possibilidade de garantir a sua própria segurança e de impedir que o mundo entre numa terceira guerra mundial em grande escala?

Maria Zakharova: Sim, dispõe.

Considero que esta matéria deve ser da competência do Ministério da Defesa e das autoridades competentes, que devem fornecer uma análise pormenorizada e uma resposta à questão colocada. No entanto, vou abordar brevemente este tema.

Num exercício de planeamento militar e geopolítico, a Rússia procede a uma avaliação meticulosa das ameaças em constante mutação, tendo em consideração os factos concretos. É dada especial atenção aos riscos com potencial para romper a estabilidade estratégica. Já mencionei hoje a declaração russo-chinesa, de 8 de maio deste ano, a qual poderá constituir um exemplo concreto de como respondemos, recorrendo a medidas políticas e diplomáticas. O documento apresenta uma exposição pormenorizada das medidas implementadas pelos EUA, outros países nucleares ocidentais e seus aliados para implementar conceitos doutrinários e programas técnico-militares com um elevado potencial desestabilizador.

A neutralização destes riscos pode ser alcançada através da implementação de contramedidas destinadas a restaurar o equilíbrio estratégico, ou por intermédio de métodos político-diplomáticos. No que diz respeito ao primeiro ponto, a Rússia age de forma sistemática. Uma análise pormenorizada pode ser fornecida pelo Ministério da Defesa. No que diz respeito às medidas político-diplomáticas, estas estão a ser implementadas em colaboração com os nossos aliados. No caso de se fazer referência aos países não aliados ou a representantes de regimes hostis, é provável que as condições para o reinício de um diálogo substancial em pleno formato com os EUA sobre todos os fatores interligados da estabilidade estratégica ainda não surgiram. Conforme reafirmado pela liderança do nosso país, a normalização das relações bilaterais, incluindo a concretização da disposição de Washington de respeitar os interesses fundamentais da Rússia e de eliminar as causas raiz das contradições fundamentais na área da segurança, exigirá uma base política sólida.

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de manifestar profunda preocupação com a tese infundada impingida pelas elites dos países europeus da NATO, as quais insinuam que um conflito com a Rússia é "inevitável" ou que uma "grande guerra" se avizinha no futuro. Os sujeitos em questão sonham com este cenário. Esta é uma trajetória que conduz diretamente à confrontação e que vai de encontro ao objetivo de garantir a paz e a segurança internacionais.

Estas declarações não consideram a vontade dos seus povos. Os políticos que concorrem às eleições nos países da Europa Ocidental apresentam os seus programas eleitorais, sem nunca mencionarem a possibilidade de uma grande guerra no futuro, nem exortando os cidadãos a votar a seu favor. Em contraste, enfatizam o pacifismo e garantem que lograrão atingir a normalização da situação em termos de segurança no continente. Imediatamente após a tomada de posse, começam a exortar à militarização, à agressão e ao desencadeamento de conflitos. Em suma, as populações não são consultadas ou, até, são ludibriadas.

Gostaria de citar novamente a situação específica da Suíça. O país, para dizer o mínimo, possui um sistema ramificado de referendos sobre qualquer assunto. Como é sabido, até questões como a instalação de uma cerca são submetidas a um processo de consulta popular. Em suma, qualquer assunto que afete a vida da população local é submetido a um referendo a nível local. Muitos países não conseguem conceber a possibilidade de ocorrência de práticas similares nos seus territórios nacionais. Em contrapartida, as deliberações de importância crucial para a vida da população são tomadas pelo governo da Suíça, país localizado no centro do continente europeu, sem qualquer consulta à população e muito menos através de referendos. Pergunte-se a qualquer pessoa, digamos na  Suíça, sobre o que pensa sobre a eventualidade de uma grande guerra, estou certa de que a maioria da população votará a favor da paz.

Por trás destas declarações estão as tentativas de pedir o aumento dos gastos militares (o que os ocidentais, juntamente com Volodimir Zelensky, têm feito nos últimos anos), as tentativas de ganhar «pontos» dentro das estruturas da NATO para obter cargos. Tivermos a oportunidade de observá-lo muitas vezes.

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de observar a forma como os governos ocidentais retiram, de maneira astuta, fundos da própria população em benefício da indústria de guerra, num contexto de grave recessão económica, que era previsível, tendo-se em conta a aplicação de sanções antirrussas. Atualmente, os governos europeus defendem que o único meio de alcançar o crescimento resida no aumento dos seus orçamentos militares, que, em conjunto, atingiram valores sem precedentes, bem como na militarização geral às custas dos contribuintes comuns sem consulta prévia aos mesmos. É precisamente para este objetivo prático que necessitam do mito duradouro da "ameaça russa".

Demonizando a Rússia, a Aliança do Atlântico Norte iniciou os preparativos para uma grande guerra. O processo de criação das Forças Armadas Conjuntas (FAC) da NATO passou da resolução de tarefas de resposta a crises para a condução de operações militares em grande escala e de alta intensidade com um «adversário comparável». As fases do processo preparatório compreendem a constituição de grupos de forças combinadas no "flanco leste" da Aliança, a mobilização de forças de ataque e sistemas de defesa antiaérea e antimísseis nas regiões do Báltico e do Mar Negro, bem como o desenvolvimento de infraestruturas de transporte e logística. Adicionalmente, é pertinente mencionar as declarações surpreendentemente absurdas que sugerem que o Mar Báltico se tornará um mar interno da NATO.

No decurso do treino operacional e de combate das Forças Conjuntas da Aliança, a atenção é predominantemente canalizada para as questões associadas à utilização das forças aliadas contra a Rússia. Neste contexto, são realizados anualmente cerca de 50 treinos, envolvendo um total de mais de 300 mil militares, nas proximidades das fronteiras da Rússia. Os treinos de coordenação das unidades de nível de brigada e divisão são ministrados, os planos operacionais são ajustados e as novas técnicas, táticas e soluções técnicas são ensaiadas.

É evidente que a determinação concreta dos países da NATO em confrontar a Rússia e o rápido aumento do potencial militar aumentam os riscos de incidentes militares perigosos e de um confronto direto.

Todos estes aspetos são devidamente considerados pela Rússia no âmbito do planeamento em matéria de defesa e segurança.

Contudo, é de dizer que estamos a realizar um briefing sobre a política externa e abordagens russas às questões internacionais. Gostaria de aproveitar a sua pergunta para perguntar às populações dos países em questão se estão conscientes das ações a que estão a ser submetidas e a que foram submetidas há 85 anos, altura em que foram impelidas de maneira provocatória para uma grande guerra. Gostaria de lhes perguntar sobre se se lembram do desfecho. No entanto, estão a destruir monumentos e a reescrever os manuais de história para não se lembrarem de nada e para não saberem nada.


Zusätzliche Materialien

  • Foto

Fotoalbum

1 von 1 Fotos im Album

Falsche Datumsangaben
Zusätzliche Such-Tools