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Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 8 de dezembro de 2022

2517-08-12-2022

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

A Secretária de Estado Adjunta dos EUA, Victoria Nuland, visitou Kiev no passado dia 4 de dezembro. As suas visitas de inspeção à Ucrânia já não são uma surpresa para ninguém. É já normal ela vir verificar se o fogo ainda está aceso ou é tempo de "deitar lenha"?  O criminoso sempre volta ao local do crime.

Sabemos ao que se associa a figura de Victoria Nuland, aos distúrbios na Praça Maidan que foram apresentados à comunidade internacional como processo democrático. Na realidade, o que aconteceu naquela altura foi um golpe de Estado financiado e perpetrado pelo Ocidente e pelos políticos ucranianos a seu soldo. Os EUA e os países e forças políticas do continente europeu que agiram em uníssono com os EUA estiveram principalmente por detrás daqueles acontecimentos.

Todos se lembram das imagens de há nove anos que mostram Victoria Nuland a distribuir bolachas no centro de Kiev. A bem da verdade, ela continua a corrigir-nos e a dizer que não eram bolachas, mas pãezinhos. Não sei o que era no centro de Kiev, mas Victoria Nuland estava a distribuir "veneno" aos ucranianos, veneno esse que tinha um efeito retardado e pôs em ação os processos que culminaram com a situação atual. Naquela altura, Washington interferiu flagrantemente nos assuntos internos da Ucrânia e geriu os protestos de massas.

Recorde-se como Victoria Nuland debateu abertamente com o então embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, candidatos ao futuro governo do Estado "soberano" da Ucrânia. Para Kiev, ela foi o prenúncio da trágica convulsão causada pelo golpe de Estado sangrento orquestrado por Washington.

A sua atual visita a Kiev no meio das discussões nos círculos governantes ucranianos sobre a distribuição da ajuda ocidental não é acidental. Não podemos excluir a hipótese de um novo golpe palaciano ou uma remodelação do pessoal estarem a ser planeados. O regime de Vladimir Zelensky, que testou repetidamente a paciência de Washington, tem muito em que pensar. Quem quer que esteja agora no poder em Kiev é irrelevante para Washington. Assim foi sempre e assim será agora. Os EUA estão a controlar a Ucrânia, encarando-a como instrumento de concretização dos seus próprios interesses geopolíticos no combate à Rússia (até mesmo os meios de comunicação social dos EUA não conseguem resistir ao prazer de saborear os detalhes desta interminável maratona de corrupção que parte na Casa Branca, vai até Kiev e volta à Casa Branca). Isto explica o desejo da administração Biden de persuadir o Congresso a prever no orçamento de 2023 uma ajuda adicional a Kiev no montante de 37 mil milhões de dólares, cuja parte leonina "se destina" às necessidades das forças armadas ucranianas. E depois decidirão o que voltará aos "ultraliberais" norte-americanos e o que acabará em instituições bancárias europeias ou globais ou fundações privadas, e o que será gasto com as compras de armas. Dividirão tudo entre si mais tarde.

O contrato de três anos, no valor de 1,2 mil milhões de dólares, celebrado no final de novembro passado com a Raytheon para a compra de sistemas de defesa antiaérea NASAMS para Kiev também se enquadra nesta lógica.

Por outras palavras, Washington está a planear fomentar as hostilidades na Ucrânia pelo menos até ao final de 2025. Segundo os documentos disponíveis, os EUA têm estes planos e não escondem isso. Quanto à declaração de ontem de Vladimir Zelensky de que, em 2023, "tudo estará bem" e a paz far-se-á. Mostrem-lhe estes documentos. Washington tem outros planos. Tem muito dinheiro para ser dividido e distribuído. Expliquem ao cabecilha desta quadrilha sediada na Rua Bankovaia, em Kiev, o que deverá ocorrer até 2025. Talvez venha a compreender o que se está a passar.

A UE está a tentar não ficar atrás dos EUA. A 3 de dezembro, o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança da UE, Josep Borrell, visitou unidades da missão de treino militar da UE na Polónia. Já em 2013 e 2014, informámos que a Polónia e os países bálticos treinavam combatentes para a Ucrânia, mas ninguém acreditou em nós, dizendo que eram pessoas "comuns" com cocktails Molotov trazidos por camiões para a Rua Khreshchatyk. Diziam-nos que eram trabalhadores comuns que vieram para expressar o seu protesto, não organizado, aliás, contra as ações do governo e que nenhuns combatentes especialmente treinados para tais operações estavam ali presentes. Já informámos detalhadamente sobre isso. É verdade que, na Polónia, havia centros de treino onde foram treinados nacionalistas, que, mais tarde, se tornaram a força motriz de todos estes golpes. Agora os ocidentais estão a operar abertamente, treinando combatentes, conforme os mesmos esquemas. Naquela altura, era necessário lutar contra os seus próprios cidadãos na Ucrânia. Lembra-se de que os "cocktails Molotov" foram atirados contra ucranianos, e não contra as "forças armadas da Federação da Rússia".  A comunidade internacional contemplou tudo isso em silêncio. Muitos acreditavam no que dizia Washington que era um sinal de transição democrática. Dissemos que esta não era um sinal de transformação democrática, mas um golpe de Estado perpetrado pelos nacionalistas treinados na Polónia e nos países bálticos. Agora estes países continuam a treinar, já abertamente, nacionalistas ucranianos. O primeiro grupo de 15.000 "cadetes" já começou a treinar. Ao armar e financiar o regime de Kiev e ao treinar os seus soldados, a UE está a passar de uma aliança política e económica para uma estrutura paramilitar que está a fomentar ainda mais o conflito na Ucrânia.

Infelizmente, o Ocidente não repara que as forças armadas ucranianas e os mercenários estrangeiros utilizam as armas fornecidas para bombardear instalações civis, hospitais, escolas e jardins de infância nas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, nas Regiões de Kherson, Zaporojie, Belgorod, Kursk e Briansk. Lembre-se de como, em fevereiro e março passados, a imprensa ocidental veiculou certas "imagens" (encenadas, como se revelou mais tarde), afirmando que os projéteis russos atingiram instalações civis, hospitais e maternidades.

Estou curiosa para saber se os meios de comunicação social ocidentais têm uma lista de maternidades "certas" e "erradas", das que podem e não ser atacadas? Têm uma lista destas? Se a maternidade estiver em território do Donbass, é a "errada". Não se pode deixar de notar um bombardeamento. Aparentemente, as gestantes e os recém-nascidos ali internados pertencem a uma etnia e ao contexto cultural errados. E quando se trata (a julgar pelos mapas ou geolocalização) de uma maternidade "certa" localizada no território controlado pelo regime de Kiev, então se algo lá chega, um grande estardalhaço surge por uma coisa dessas. Tem de haver alguma lógica. Civis, entre os quais crianças, estão a ser mortos e feridos. Isso quando os alvos são escolhidos após consultas com os ocidentais. Houve declarações oficiais do regime de Kiev de que todos os alvos são escolhidos após uma consulta com os EUA. Recorde-se que a central nuclear de Zaporojie também é alvo de bombardeamentos maciços por parte das forças armadas ucranianas.

Já as forças armadas russas atacam instalações e infraestruturas militares e de dupla utilização. Advertimos repetidamente os países ocidentais de que as armas que fornecem se tornam automaticamente alvos legítimos em território ucraniano.

O regime de Kiev, na melhor tradição do totalitarismo, desencadeou um verdadeiro terror contra os civis. Após a retirada das tropas russas de Kherson, os neonazis ucranianos iniciaram uma campanha de repressão contra a população local. O que valem as nossas declarações quando existem vídeos de "filtragem" em massa da população local e execuções extrajudiciais tão terríveis que fazem estremecer personalidades públicas ocidentais. Em meados de novembro passado, a "chefe da administração militar-civil de Kherson" nomeada por Vladimir Zelensky apelou aos militares para "fuzilarem os traidores como cães". As suas palavras foram ouvidas. O Serviço de Segurança da Ucrânia fuzilou sumariamente o chefe do centro de prisão preventiva de Kherson, Kirill Rashin. Foi noticiado no outro dia que um grupo de agentes de serviços secretos e militares polacos disfarçados de soldados ucranianos havia sido enviado para a cidade de Marganets, na Região de Dnepropetrovsk, para identificar simpatizantes da Rússia. Não compreendo então porque estão disfarçados de soldados ucranianos? Estão orgulhosos do que estão a fazer? Estão a fornecer armas e a gastar dinheiro com isto, estão envolvidos no desenvolvimento de planos "no terreno" (refiro-me agora a Varsóvia). Fiquem então com os seus uniformes para serem reconhecidos por todo o mundo. Porque é que usam então a camuflagem ucraniana? Fiquem com a cabeça erguida! Deixe que o mundo os veja lá e saiba quem está envolvido nestes massacres.

No âmbito da política misantrópica das autoridades ucranianas, a verdadeira máquina repressiva entrou em ação em muitas regiões do país. Qualquer crítica ao regime é percebida num contexto totalitário. Abrem-se processos-crime ao abrigo de artigos sobre alta traição e colaboracionismo. No entanto, o regime de Kiev não se satisfaz em incitar ao ódio apenas no seu território nacional. Noticiou-se que o escritório de advocacia privado em Lviv lançou um serviço chamado "Denuncia um russo". Trata-se de uma atualização ideológica do website "Mirotvorets" (Pacificador). Não se contentaram com o que já haviam feito. Agora estão a seguir em frente. O objetivo do recurso supracitado é "limpar legalmente a Europa de potenciais invasores". Esta é a ideologia do Terceiro Reich:  limpar a Europa, e por extensão, a "melhor" parte da humanidade dos "fracassados geneticamente". Tudo isto já foi descrito anteriormente - a ideologia dos fascistas, nacionalistas e nazis. Já tivemos esta experiência. Os utilizadores do recurso são solicitados a escrever denúncias sobre russos residentes em países europeus. Os seus dados pessoais serão enviados às autoridades competentes dos países acolhedores. A questão é saber: de que democracia ou liberdade se pode tratar se se estas práticas, na pior tradição das ditaduras, são agora legalizadas no território controlado pelo regime de Kiev? Por outro lado, isto é "algo" novo. É provavelmente novidade para aqueles que ainda não ouviram falar da queima de pessoas na Casa dos Sindicatos de Odessa, para aqueles que nunca souberam da existência do sítio "Mirotvorets" e não faziam ideia de que as pessoas que exprimem a sua opinião ou têm uma visão alternativa da situação estão a ser fuziladas no centro das cidades ucranianas, entre as quais Kiev. Talvez para aqueles que nunca ouviram falar disso, haja aqui algo de novo. Para nós não há. Há oito anos que não só ouvimos falar disso, como "tocamos todos os sinos". Afirmamos que esta lógica está agora consagrada em toda uma série de leis e regulamentos que são produzidos em grande quantidade pelo regime de Kiev. Anteriormente, isso era atribuído a certos grupos, que atuavam à margem da lei. Não podiam ser encontrados, e quando o foram, foram presos para, depois, ser libertados ou para os seus casos serem encerrados. Hoje, o que foi experimentado durante oito anos, tomou forma de lei.

A confusão da mente dos nazis controlados pelo regime de Kiev chegou ao ponto de uma das clínicas de Lviv oferecer um teste de ADN para a presença de "genes russos". Por 175 dólares, os interessados podem testar o seu sangue para detetar a presença de impurezas "não ucranianas". De que impurezas "não ucranianas" se trata? Então existem impurezas "ucranianas" e "não ucranianas"? Isso está escrito no ADN? O que está a acontecer agora, se o compararmos com os acontecimentos de há 80 anos no centro da Europa, aqueles personagens não tinham tantas capacidades técnicas para levar à prática ideias como estas. Os nazis atuais dispõem destas coisas.  Têm a Internet, e testes de ADN para "genes russos", para impurezas "não ucranianas", têm armas e muito dinheiro, além do apoio Washington e todas as suas ferramentas de informação e de política. Se isto não parar, vai provocar um desastre sem precedentes.

O regime de Kiev agrupa personalidades a soldo do Ocidente que não se importam onde vivem. Não têm nenhum valor que não tenham vendido à Casa Branca. Na pior tradição de pessoas que professam ideologia terrorista, elas apoderaram-se da maior parte do território de um Estado (que havia anteriormente declarado a soberania) e estão a "conduzir o baile" no continente europeu.

Alguém pode perguntar-me qual o sentido de citar estes exemplos, é um caso especial, algum laboratório maluco. Não, este é um exemplo de ideologia ligada à situação "no terreno" e às atividades legislativas. Não é um grupo de pessoas, é um sistema que se apoia em "pontões" nacionalistas. Em 2021, a Ucrânia já aprovou uma lei discriminatória "Dos Povos Indígenas". O "teste" para a presença de "impurezas" é a sua implementação prática. O que se segue? Irão construir guetos para os russos, judeus e gregos, para aqueles que têm impurezas?

Outro passo para o ressurgimento do nazi-fascismo foi a recente recusa do Supremo Tribunal da Ucrânia em reconhecer como nazis os símbolos da divisão SS "Galicia". Quem estão a enganar aí? Esta decisão ignora diretamente a decisão do Tribunal de Nuremberga que reconhece como criminosos os símbolos do "Terceiro Reich" e de toda a estrutura SS, entre outras coisas. No caso da Ucrânia, trata-se divisão SS "Galicia". Não se trata de um nome simbólico, mas de uma divisão SS. O Tribunal de Nuremberga proibiu toda a simbologia da SS, enquanto o Supremo Tribunal ucraniano não o fez. Não há nenhuma contradição. Tudo está bem. Isto quando a simbologia nazi-fascista é proibida por lei na Ucrânia. Que outros símbolos nazi-fascistas existem, se não considerarmos como nazi a simbologia da SS? Quem criou tudo isto e implementou a ideologia fascista? Em primeiro lugar e acima de tudo, a SS e todas as suas divisões.

Claro que nem Washington, nem Bruxelas, nem organizações não governamentais nem organismos internacionais se apressam a qualificar as ações dos nacionalistas frenéticos na Ucrânia. Tudo isto só contribui para o reforço da sua convicção de que gozam de impunidade, prolongamento do conflito e aumento do número de vítimas.

Fico espantada ao ouvir algumas pessoas dizerem que é necessário criar uma situação em que a Rússia fique num beco sem saída. Não é para a Rússia, mas para todo o mundo que estão a querer criar um impasse. É óbvio. Criar ou tentar criar um impasse para 1/6 da Terra está definitivamente (sem qualquer outra interpretação) a empurrar o planeta para uma catástrofe de proporções sem precedentes.

 

 

Ponto da situação em torno dos gasodutos Nord Streams

 

Correndo o risco de parecer aborrecida, vou fazer uma pergunta: qual é a situação com os Nord Streams? Como está a decorrer a investigação? Antes, tudo se resolvia rapidamente: detetaram o agente Novichok, tudo bem, armas químicas, a pista leva diretamente ao Kremlin. O que está errado agora? Já passou tanto tempo. Não encontraram ninguém a quem culpar? Ou ainda não se atrevem a culpar novamente a Rússia? Continuamos a acompanhar de perto a situação no que diz respeito às investigações realizadas pelas polícias dinamarquesa e sueca sobre as explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2.

As autoridades dinamarquesas e suecas estão relutantes em cooperar com a Rússia nesta matéria, apesar, entre outras coisas, de uma mensagem oficial enviada aos Chefes de Governo destes países pelo Primeiro-Ministro russo, Mikhail Mishustin. O que é que isto significa? Apenas uma coisa: eles têm medo de permitir que a Rússia tenha acesso à investigação, porque, neste caso, o mundo saberá o que eles têm feito durante estes anos, ao que isso levou e quem está por detrás das manipulações nos mercados mundiais de energia. Então a grande maioria do planeta vai cobrar o Ocidente por tudo o que fez ao longo dos séculos.  Eles estão a esconder a informação ligada ao caso de todos: dos seus cidadãos, da Europa, de nós e de toda a humanidade.

Tencionamos continuar a insistir numa investigação completa e aberta com a participação de representantes das autoridades russas e da Gazprom. Entendemos que é só neste caso que os resultados da investigação podem ser vistos como credíveis e objetivos. Que as autoridades dinamarquesas, suecas e de Bruxelas não pensem que podem esconder alguma coisa. Já foi provado inúmeras vezes: não conseguirão destruir nem falsificar provas, por mais que nos contem histórias da Carochinha (eles próprios ou especialistas em relações públicas por eles contratados). Só aceitaremos a verdade. É assim que sempre foi em todos os lugares.

Há cem anos, eram necessárias décadas para que a verdade viesse à tona. Por isso, em termos de lógica ocidental criminosa, podia-se esperar que os falsificadores não chegassem a viver até passar a vergonha. Colin Powell, por exemplo, viveu. Viveu envergonhado durante muitos anos. Fora enganado: deram-lhe um frasquinho de vidro e mandaram-no contar histórias fantasiosas no Conselho de Segurança das Nações Unidas de que Saddam Hussein tinha alegadamente armas de destruição em massa. Era o destino de Colin Powell mostrar ao mundo o que falsificações tinham como consequências e o que era viver com elas. Ele morreu e entrou desonrado para a história. Assim será agora, se esta verdade for escondida de toda a comunidade internacional.

 

Ocidente acusa Rússia de altos preços de energia

 

O Ocidente acusa a Rússia de alta dos preços das fontes de energia através dos meios de comunicação por ele controlados. Na realidade, a alta de preços deve-se à política macroeconómica e energética míope, errónea e inconsistente dos países ocidentais que se recusaram, por motivos políticos, a importar recursos energéticos russos.

A política macroeconómica não é uma "tarefa escolar", mas uma visão global dos processos e a previsão dos mesmos com base nos interesses de um país para as décadas vindouras. Embora, por exemplo, em questões climáticas, a posição dos EUA mude periodicamente para uma posição diametralmente oposta, não apenas num contexto ideológico como uma espécie de conceito filosófico, mas como documentos doutrinários refletidos na legislação. Um dia, os norte-americanos fazem parte do acordo climático de Paris, no dia seguinte, ficam fora, no dia seguinte estão de volta.

De que planeamento macroeconómico nos EUA e em todo o mundo se pode tratar, quando Washington é um dos maiores atores industriais? Como o planeamento macroeconómico é possível, em princípio, se a sua posição muda não tanto de acordo com as "oscilações do vento" ou as mudanças na situação no "terreno", como conforme as atitudes políticas deste ou daquele partido, dos políticos que vêm para a Casa Branca? Não há maneira de ferir politicamente um concorrente a não ser desmascarar o seu conceito, inventar um conceito oposto e começar a implementá-lo.

Veja-se o que está a acontecer agora à ala liberal da política norte-americana, que sempre esteve empenhada em ideias de "transição verde". Estão a começar a anular os seus próprios conceitos. Fizeram de Greta Thunberg um símbolo, utilizaram uma criança para promover os seus conceitos e levá-los à prática. Agora "deram-lhe baixa". Agora faz discursos algures em círculos marginais ou em pequenas comunidades profissionais. A história acabou. Recorde-se que, na ONU (onde ela foi convidada, há alguns anos, a falar), na Casa Branca (que a descobriu e apresentou ao mundo), estrelas de cinema e de música (que a banhavam infinitamente nos seus raios de glória) estão as mesmas pessoas, todas vivas e de boa saúde. Então, o que mudou? Mudou a conjuntura política e económica. Como resultado, Greta e as suas visões e providências sumiram e nunca mais se viram.

Se analisarmos objetivamente a situação no paradigma energético mundial, a subida acentuada dos preços do gás teve lugar em 2021, altura em que os preços subiram de USD 200 para USD 1.950 por metro cúbico. O preço do petróleo durante 2021 subiu 150%.  Estimamos que este foi o resultado das flutuações da procura como resultado da pandemia de COVID-19, da injeção na economia (principalmente dos EUA) de dinheiro barato (cupões, instrumentos de pagamento não lastreados) para minimizar os efeitos do coronavírus, e do acentuado declínio do investimento no sector do petróleo e gás desde 2017 sob a influência de subsídios desenfreados para as energias renováveis. Não imaginam quantas conferências foram realizadas, quantos start-ups foram criados, quantos peritos financiados pelo Ocidente tentaram persuadir investidores privados a aplicar os seus capitais em energias renováveis. Este assunto foi profusamente comentado nos media. Foi-se criando um ambiente informativo para influenciar o processo decisório. Bruxelas havia anunciado publicamente os seus planos de se recusar a importar os recursos energéticos russos durante a preparação e adoção dos pacotes energéticos da UE. As restrições unilaterais ilegítimas ao sector energético da Rússia impostas devido à situação na Ucrânia só exacerbaram a situação. Agora as coisas chegaram ao ponto de a UE menosprezar os princípios da economia de mercado neste domínio. Tem-se a impressão de que algumas pessoas insensatas tomaram conta do sector e estão a carregar caoticamente nos pedais de acelerador e de travão. O sistema energético global está num completo desequilíbrio. Os políticos ocidentais procuram apressadamente explicar o que se está a passar, balbuciando sempre a mesma coisa: "a culpa é toda da Rússia". Bem, mas existem instituições independentes (mas patrocinadas pelo Ocidente) especializadas em produzir relatórios estatísticos. Deem uma olhada. Esta situação tem evoluído ao longo dos anos.

A volatilidade dos preços da energia é uma consequência direta da decisão deliberada do Ocidente de envolver o setor energético num confronto político com a Rússia (e a Europa), ao que Moscovo se tem oposto constantemente. Quando fazemos perguntas sobre as causas da crise energética, precisamos de ser objetivos e guiados por estatísticas e não por slogans políticos. Devemos ser honestos, pelo menos, connosco próprios.

 

UE fixa preço máximo para entregas de petróleo russo por mar

 

Temos dito repetidamente que a implementação de um teto máximo ao preço do petróleo russo é uma medida antinatural, contrária aos princípios da economia de mercado. Já não se trata do cumprimento de acordos e normas. Acontece que jamais as atuais elites políticas ocidentais encontrarão forças para voltar à legalidade. Os ocidentais são absolutamente descarados, sentindo permissividade e impunidade, agindo de forma contrária às normas legais que eles próprios produziram em grande parte. Esta medida anti-mercado perturbaria as cadeias de fornecimento e poderia agravar significativamente a situação nos mercados globais de energia. Poderiam pelo menos registar a nossa posição que temos vindo a expressar há mais de um mês e depois dizer que a Rússia avisou? O nosso país não exportará petróleo aos países que apoiam esta iniciativa provocatória antirrussa.

O diktat de preços e a formação de um "cartel de compradores" estabelecem um precedente muito perigoso para o comércio internacional.

Não é por acaso que muitos países com políticas independentes se opõem a esta medida. Estes não são países de "bolso" que são subsidiados pelos ideólogos da filosofia do "teto de preços" e que podem receber, a qualquer momento, um telefonema de Washington, dizendo-lhes para apoiarem uma decisão, mesmo suicida. Estes são países independentes, com políticas internas e externas independentes. São capazes de dizer a verdade e não o que agrada ao "Ocidente coletivo". Estes países pronunciaram-se contra, descrevendo os custos globais do processo. Isso interessa a alguém no Ocidente? Já perderam o controlo: carregaram nos pedais de acelerador e de travão ao mesmo tempo.

Porque é que os países, que estão fora das batalhas políticas, se manifestaram publicamente? Estão bem cientes de que hoje este estratagema tem como alvo a Rússia, e amanhã poderá ter na mira qualquer outro Estado por motivos políticos ou outros. Por exemplo, um grupo de países reúne-se para decidir que os ananases irão custar uma certa quantia de dinheiro. O país e a população que os cultiva irá perguntar: porquê? Porque "eles" assim o decidiram.

Os ocidentais costumam dizer que a Rússia está a seguir uma política agressiva. Mas a ex-Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, revelou como tudo acontecera. Os ocidentais encheram a Ucrânia de armas para a preparar para o conflito. Mesmo assim, continuarão a "não ver" a história real. Aparentemente, os autores desta medida empenhados em concretizar os seus objetivos não estão plenamente conscientes dos prejuízos que causam não só aos mercados de energia, mas a toda a economia global. Esta última não existe por si só. É a vida das pessoas, dos povos e países, e não "papel-moeda".

Todavia, as pessoas responsáveis por garantir a legalidade e o equilíbrio de interesses na Europa estão distribuídas em cargos dirigentes de modo a que as posições-chave sejam ocupadas por pessoas incompetentes que não sabem onde estão os mares que banham os países limítrofes aos seus respetivos países, onde estão os países e como são chamados. É a estas pessoas, com o conhecimento mínimo de geografia que compete tomar decisões geopolíticas e geoestratégicas. A Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, acredita que "centenas de milhares de quilómetros" separam os países. De que petróleo, de que gás se pode tratar? Ela está a cumprir diretrizes políticas recebidas, participando de vez em quando em eventos propagandísticos. Evidentemente, não compreende nada, já que faz declarações como esta. Há o que conversar com ela? Que opinião podem pessoas como ela ter sobre o que se passa?

 

 

Resultados do Fórum da ONU sobre a Governação da Internet

 

Mais uma tentativa dos EUA e dos seus seguidores de consolidar o seu domínio na Internet na 17ª Edição do Fórum de Governação da Internet da ONU (IGF) realizada em Adis Abeba entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro falhou.

Os países em desenvolvimento fizeram uma frente unida às tentativas das principais empresas ocidentais de manter a sua influência sobre os fluxos de informação. A moderação descontrolada e ilegal dos conteúdos por parte das multinacionais, o bloqueio de contas de utilizadores, meios de comunicação e figuras públicas em violação dos direitos e liberdades do homem, o excesso de desinformação e das falsificações da Internet, a promoção de uma agenda politizada - tudo isto foi amplamente criticado e denominado uma ameaça à segurança nacional dos países participantes.

A maioria das delegações salientou que a única forma de resistir à invasão de monopólios de países desenvolvidos (eu diria que os países desenvolvidos estão intensamente a degradar-se) é aumentar o papel dos Estados na governança da Internet. É o que os EUA temem, pois não querem o controlo sobre a World Wide Web. Afinal, cada Estado poderá então proteger o seu espaço de informação da propaganda e dos falsos valores impostos pelo Ocidente. Isto seria um golpe contra a "ordem mundial baseada em regras", contra a mania de democratizar todos e contra as tentativas de gerir as políticas internas e externas dos Estados soberanos. É de salientar que a controversa "Declaração sobre o Futuro da Internet" promovida pelos norte-americanos, que foi arrogantemente posicionada pelos seus autores como novo guia de ação para os Estados, foi acolhida pelos participantes sem entusiasmo. Pelo contrário, o foco do Fórum foi nas sessões organizadas pela delegação russa para analisar as falsificações ocidentais e na nossa tese de princípio que apela à implementação, o mais rapidamente possível, das decisões do Programa de Tunes da Cimeira Mundial sobre a Sociedade da Informação, de 2005, relativas à colocação da governança da Internet sob o controlo igual dos Estados. Promovemos ativamente esta nossa posição nos nossos contactos com delegações de outros países. Concordámos em defendê-la conjuntamente no próximo Fórum de Governação da Internet, em 2023.

 

Ponto da situação no Peru

 

Estamos a acompanhar de perto a situação no Peru, onde, a 7 de dezembro, o parlamento local aprovou uma moção de censura contra o Presidente do país e afastou-o do poder.

Esperamos que o processo de transição de poder no Peru decorra calmamente, de forma legal, sem interferência destrutiva externa, e contribua para a normalização da situação no país, no interesse do povo peruano.

Da nossa parte, reafirmamos o nosso desejo de continuar a desenvolver as relações tradicionalmente amistosas entre os nossos dois países.


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