Principais pontos do briefing proferido pelo Diretor-Adjunto do Departamento de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Aleksei Zaitsev, Moscovo, 9 de agosto de 2023
Ponto da situação na crise da Ucrânia
As forças armadas da Federação da Rússia continuam a repelir os ataques das tropas ucranianas e a libertar sistematicamente novos territórios dos neonazis. Entretanto, os países ocidentais, fechando os olhos às numerosas perdas das tropas ucranianas, exigem ao regime de Kiev que continue uma contraofensiva" insensata e mortífera. Há dias, a imprensa norte-americana noticiou, citando fontes ucranianas, que até à data, de acordo com várias estimativas, mais de 400.000 soldados são considerados mortos.
Impossibilitado de demonstrar aos seus patrões ocidentais os resultados positivos no campo de batalha, o regime neonazi de Kiev continua a usar de forma pérfida métodos terroristas contra os habitantes da Rússia, atacando instalações civis, inclusive aquelas situadas longe da linha da frente.
Na noite de 4 de agosto, as forças ucranianas tentaram atacar o porto de Novorossiysk, a 6 de agosto, bombardearam as pontes entre a Crimeia e a região de Kherson, continuando a tentar a atacar instalações civis em Moscovo e na região metropolitana. A 6 de agosto, a defesa antiaérea russa abateu um drone ucraniano no distrito de Podolsk, na Região de Moscovo. Na madrugada de 5 de agosto, um drone marítimo ucraniano atacou um navio mercante russo num ancoradouro perto do Estreito de Kerch. Por sorte, uma catástrofe ambiental de grande porte no Mar Negro não ocorreu. Esta noite, dois drones foram abatidos perto de Moscovo.
Todos estes ataques não têm qualquer sentido militar e são de natureza puramente terrorista.
Todos os crimes cometidos por militares ucranianos, nacionalistas ucranianos e representantes do regime de Kiev são cuidadosamente registados pelas autoridades competentes russas. Os criminosos ucranianos terão uma punição inevitável.
Na semana passada, foram lavradas sentenças, com base nas provas recolhidas, contra Aleksei Prilutskiy, que disparou um lança-granadas contra um civil em Severodonetsk (República Popular de Lugansk); Alekdsander Pinkovskiy por ter atirado uma granada para o quintal de uma casa privada em Lisichansk, ferindo uma mulher; Eduard Kolesnik por ter ferido um civil com um lança-granadas em Popasnaya; Evgueni Kozlov por ter matado um civil com um lança-granadas, disparando um lança-chamas contra um miniautocarro com civis que seguia do vilarejo de Rubizhnoe para a Rússia, ferindo uma mulher; Evgueni Sokolov, por ter lançado uma granada contra civis em Rubizhnoe, ferindo uma mulher de 60 anos; e Roman Kosenko por ter lançado uma granada contra dois moradores de Mariupol. Todos foram condenados a penas de prisão de longa duração.
É indicativo que os países da NATO estão a apoiar as ações bárbaras do regime de Kiev, continuando a fornecer-lhe armas, a treinar soldados ucranianos e a fornecer-lhe informações para atacar com mísseis e drones instalações puramente civis.
Neste contexto, registamos a decisão aventureira das autoridades francesas de fornecer aos neonazis ucranianos mísseis de cruzeiro de longo alcance "SCALP", decisão essa que foi qualificada como lamentável pelos cidadãos sensatos da República Francesa.
Além disso, de acordo com a agência noticiosa norte-americana CNN, o Pentágono aprovou, há dias, o envio do primeiro lote de tanques ABRAMS para a Ucrânia. Os EUA planeiam enviar à Ucrânia 31 tanques da versão antiga M1A1.
Prestámos atenção à notícia veiculada pelos meios de comunicação social polacos sobre o aumento do nível de radiação nas regiões ocidentais da Ucrânia e no leste da Polónia. Segundo eles, isso aconteceu depois da destruição, em maio passado, de munições de urânio empobrecido fornecidos por Londres a Kiev num depósito de munições de Khmelnytsky. É óbvio que os patrões ocidentais do regime de Kiev estão dispostos a tudo para atingir os seus objetivos. Não querem saber da ameaça à vida e à saúde da população representada pelas armas fornecidas, nem se importam se parte da Ucrânia ou da Polónia se transformará numa nova zona de exclusão.
Note-se, neste contexto, que o governo polaco solicitou mil milhões de euros à Comissão Europeia para a criação de infraestruturas para a exportação de cereais ucranianos através do seu país. Não é de excluir que este montante, tão impressionante, tenha sido solicitado também para efeitos de recuperação de terras contaminadas.
Sem qualquer interesse numa resolução pacífica do conflito na Ucrânia, os patrões ocidentais do regime de Kiev continuam a promover a "fórmula de paz" de Vladimir Zelensky, que nada tem a ver com a paz e é uma compilação incoerente de ultimatos à Rússia.
Ao mesmo tempo, outros países, os nossos parceiros do Sul Global, compreendem-no perfeitamente, a julgar pelas consultas sobre a crise ucraniana realizadas em Jeddah, na Arábia Saudita, nos dias 5 e 6 de agosto, por iniciativa do regime de Kiev e do G7. Sem a participação da Rússia e a consideração dos seus interesses, tais eventos sobre a crise ucraniana não têm qualquer valor acrescentado.
É de notar que os países do Sul Global estiveram em minoria na reunião de Jeddah, somando cerca de 15 dos cerca de 40 participantes. Destes, alguns participaram por videoconferência. Assim, dois terços dos participantes eram países ocidentais que orquestram a crise ucraniana e fornecem armas ao regime de Kiev, fazendo assim escalar o conflito.
O Ocidente "coletivo" demonstra uma atitude exclusivamente consumista para com a Ucrânia e a sua população, utilizando ucranianos comuns no campo de batalha como "carne para canhão".
Muitos ucranianos que se mudaram para a Europa Ocidental enfrentam dificuldades de integração. Assim, de acordo com o Instituto de Investigação do Emprego de Nuremberga, quase metade dos ucranianos empregados não trabalham em profissões em que são formalmente altamente qualificados. O salário médio mensal dos ucranianos que trabalham o dia inteiro é quase mil euros inferior ao dos trabalhadores na Alemanha.
Além disso, o tráfico de seres humanos é galopante na Ucrânia, o que é, em grande parte, uma consequência do facto de o país estar a ser explorado pelos países ocidentais em seu benefício. Nos últimos anos, o país tornou-se um dos líderes mundiais da "transplantologia negra", graças, em grande medida, a uma legislação liberal neste domínio. Não há dúvida de que a corrupção e a ilegalidade sem precedentes na Ucrânia favorecem esses crimes.
Tudo o que foi dito acima confirma mais uma vez, de forma convincente, que os neonazis no poder em Kiev e os seus patrões ocidentais não se importam com o destino de milhões de ucranianos, onde quer que estejam. Os países da NATO estão a usar a Ucrânia no seu interesse político, procurando infligir uma derrota estratégica à Rússia por todos os meios ao seu alcance.
Sobre o 43º aniversário da Associação de integração latino-americana
O dia 12 de agosto marca o 43º aniversário da assinatura do Tratado de Montevideu, que deu início à Associação de integração Latino-Americana, um dos grandes projetos de integração da região que une 13 países, num espaço do México à Argentina.
Desejamos êxitos à Associação na formação de um mercado comum baseado no pluralismo, na flexibilidade e numa abordagem diferenciada dos seus participantes, bem como na utilização de diversos métodos de regulação do comércio mútuo.
Estamos interessados em desenvolver uma cooperação mutuamente benéfica com esta associação, inclusive no âmbito da União Económica Eurasiática. Estamos dispostos a considerar mecanismos de cooperação.
Neste contexto, gostaríamos de salientar que a Rússia foi sempre a favor de uma América Latina unida, coesa e economicamente forte, um dos pilares importantes do mundo multipolar moderno.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Na sequência da "cimeira de paz" na Arábia Saudita, houve notícias de que a parte ucraniana não teria insistido na retirada das tropas russas dos territórios que considera seus. Poderia comentar este facto? Como é que avalia esta reunião?
Aleksei Zaitsev: Relativamente à posição alegadamente expressa pelo lado ucraniano, sugerimos que o senhor procure esclarecimentos junto das pessoas que participaram na reunião de Jeddah. A Rússia não foi convidada. Que saibamos, o regime de Kiev e os países ocidentais estiveram a promover ali a "fórmula de paz" de Vladimir Zelensky que exige, entre outras coisas, que a Ucrânia tenha as fronteiras que tinha em 1991, o que é impossível em princípio.
Já apresentámos as nossas avaliações da reunião na Arábia Saudita. Dois terços dos seus participantes representavam os países que estão a orquestrar a crise ucraniana, enquanto os países do Sul Global estiveram em minoria, participando muitos deles por videoconferência. Sem a participação da Rússia e a consideração dos seus interesses, todas as reuniões do gênero não têm valor acrescentado e não fazem sentido.
Ao mesmo tempo, valorizamos as iniciativas de paz dos países do Sul Global. Ao contrário do regime de Kiev, que se proibiu de negociar com a Rússia, nós estamos abertos a propostas sérias e estamos prontos a discuti-las.
Pergunta: Qual foi o verdadeiro objetivo da cimeira de Jeddah, se desde o início ficou claro que, sem a participação da Rússia, o evento não tinha nenhum significado?
Aleksei Zaitsev: Já comentei este assunto. Posso apenas repetir que nós, Ministério dos Negócios Estrangeiros, tomámos nota das consultas sobre a crise ucraniana realizadas em Jeddah nos dias 5 e 6 de agosto, por iniciativa do regime de Kiev e dos países do G7. Nessas consultas participaram os nossos parceiros do BRICS e outros e esperamos que partilhem connosco as suas avaliações, conforme o acordado. Reiteramos a nossa posição sobre a chamada "fórmula de paz" de Zelensky, que o regime de Kiev e o Ocidente estão a tentar fazer passar nas reuniões do gênero. Nenhum dos seus 10 pontos tem como objetivo buscar uma solução negociada, política e diplomática para a crise, representando em conjunto um ultimato sem sentido à Rússia.
Qual era o seu objetivo? É difícil dizer. Talvez seja melhor perguntar aos organizadores do evento.
Pergunta: O jornalista norte-americano C. Morris descreveu a Ucrânia como capital mundial do tráfico de crianças e da gestação de substituição. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia dispõe de factos que confirmem a declaração de C. Morris? Em caso afirmativo, de quantas crianças traficadas se tem conhecimento?
Aleksei Zaitsev: A Ucrânia é, de facto, dos poucos países a permitir a gestação de substituição comercial transfronteiriça, o que significa que as crianças podem ser "encomendadas" por casais estrangeiros sem filhos. De acordo com o Ministério da Justiça ucraniano, todos os anos cerca de 1,5 mil crianças nascem desta forma. Destas, mais de 90 por cento vão para o estrangeiro com pais estrangeiros.
No entanto, este tráfico legalizado de crianças é apenas a ponta do icebergue. Na semana passada, foi descoberto na Ucrânia um esquema de contrabando de recém-nascidos para o estrangeiro sob o pretexto de barriga de aluguer. Entre os organizadores estiveram os diretores de clínicas que prestam serviços de medicina reprodutiva em Kiev e Kharkiv. Foi apurado que oito bebés foram levados para o estrangeiro, outros 40 casos estão a ser investigados.
As crianças também são traficadas através de outros "canais". Em junho passado, na fronteira ucraniano-eslovaca foi detido um homem que comprava crianças aos pais e as vendia a países da União Europeia, incluindo para transplante de órgãos. O homem já conseguiu efetuar pelo menos três contratos deste tipo.
Temos chamado repetidamente a atenção para esta história horrível. A situação é agravada pelo facto de o suspeito ser ex-diretor de escola e professor de orfanato. Ninguém sabe quantas outras crianças, que não têm familiares nem amigos, poderiam ter sido suas vítimas.
O tráfico de crianças e a transplantologia negra são, desde há muito, um negócio lucrativo na Ucrânia. Nas condições de hostilidade, quando o governo do país permite a retirada forçada de crianças e milhares de crianças de orfanatos foram levadas para o estrangeiro, este negócio atingiu proporções sem precedentes. A Ucrânia está a transformar-se sistematicamente para o Ocidente não só num campo de ensaio de armas, mas também num fornecedor de órgãos humanos.