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Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, discursa e responde a perguntas de jornalistas em conferência de imprensa conjunta com o Ministro das Relações Económicas Externas e dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjarto, Budapeste, 24 de agosto de 2021

1647-24-08-2021

Senhoras e Senhores,

Tivemos boas conversações com o meu colega e amigo Peter Szijjarto. Passámos em revista as questões relativas às nossas relações bilaterais e à nossa cooperação no cenário internacional. 

Estamos ambos satisfeitos com um bom andamento do diálogo político e dos contactos substantivos entre as entidades económicas e outras e da cooperação entre os Ministérios dos Negócios Estrangeiros dos dois países, apesar da grave situação pandémica. 

Analisámos o estado das relações bilaterais em todas as áreas no contexto dos acordos alcançados em outubro de 2019 durante a visita do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, a Budapeste, a convite do Primeiro-Ministro húngaro, Viktor Orban. 

Assinalámos que as nossas relações apresentam um desenvolvimento progressivo, com o intercâmbio comercial a crescer quase 35% nos cinco primeiros meses de 2021. Este é um bom indicador. Temos em andamento projetos tão importantes como a construção de novas unidades da central nuclear de Paks pela companhia “Rosatom” russa, o desenvolvimento do sistema de transporte de gás na Hungria, a cooperação em matéria de hidrocarbonetos com o Grupo MOL, a cooperação no fornecimento de vagões ferroviários ao Egito e muitos outros projetos que seguem o cronograma fixado e que foram detalhadamente relatados hoje pelo Ministro das Relações Económicas e dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjarto.

Concordámos em continuar a trabalhar no sentido de utilizar mais plenamente um enorme potencial da cooperação prática entre os nossos dois países. É este o objetivo das atividades da Comissão Intergovernamental Rússia-Hungria de Cooperação Económica, co-presidida, pelo lado húngaro, por Peter Szijjarto. A reunião anterior ocorreu em novembro de 2020 em Budapeste. A próxima será realizada na Federação da Rússia. 

Consideramos que a nossa cooperação no combate à infeção pelo coronavírus é importante e emblemática. A Hungria foi o primeiro Estado-Membro da União Europeia a utilizar com sucesso a vacina russa “Sputnik V” para imunizar a sua população. Agora, em termos práticos, estamos a discutir o início da produção desta vacina no território da Hungria. É nossa opinião comum que a politização desta questão e, em geral, da situação no domínio da produção e utilização de vacinas não deve ser permitida. Qualquer politização irá impedir o objetivo principal de vencer a COVID-19 à escala global.

Tivemos uma conversa franca sobre questões internacionais, incluindo os problemas que surgiram entre a Rússia e a União Europeia como resultado da política manifestamente antirrussa imposta a Bruxelas por uma minoria russófoba agressiva. Valorizamos a posição realista e pragmática da Hungria, segundo a qual, apesar de todos os desacordos que estarão sempre presentes em maior ou menor grau, é necessário não tornar reféns dos jogos ideológicos e políticos os interesses do desenvolvimento e da cooperação económica progressiva. 

A parte russa pôs a tónica nas atividades desenvolvidas pela NATO para agravar as tensões na Europa sob a bandeira de conter a Rússia. Recordou as iniciativas que o nosso país tem vindo a apresentar à NATO desde 2018. Têm como objetivo diminuir as tensões militares dos dois lados da linha de contacto entre a Rússia e a Aliança do Atlântico Norte. Até agora, não recebemos nenhuma resposta. 

Abordámos a situação na Ucrânia. Temos uma posição comum de que não há alternativa à implementação total e consistente do Pacote de Medidas de Minsk, cuja implementação está a ser teimosamente sabotada pelos líderes ucranianos. Estamos muito preocupados com a política discriminatória das autoridades de Kiev que viola os direitos dos russos, húngaros e outros povos que viveram no território da atual Ucrânia durante séculos.

Estamos satisfeitos com a cooperação entre a Rússia e a Hungria em fóruns multilaterais, incluindo o apoio recíproco às candidaturas às estruturas das Nações Unidas.

Tive também hoje a oportunidade de atender ao amável convite de Peter Szijjarto para fazer uma intervenção na Reunião dos Embaixadores e Representantes Permanentes da Hungria. O diálogo com os diplomatas profissionais foi construtivo e mutuamente proveitoso. Estamos convictos de que esta troca de pontos de vista, bem como os resultados das conversações de hoje, irão contribuir para o reforço da confiança e criação de novas perspetivas da cooperação entre os nossos países em benefício dos dois povos. 

Agradeço mais uma vez a Peter Szijjarto o convite que me permitiu realmente falar francamente com os meus colegas num formato invulgar. Peter Szijjarto disse que a Hungria não foi o primeiro país da União Europeia a convidar o Ministro russo para uma reunião com Embaixadores, mas sublinharia que a Hungria foi o primeiro país da NATO a fazê-lo. 

Em resposta, convido Peter Szijjarto a visitar Moscovo mais uma vez. Daríamos continuidade ao nosso diálogo amigável, útil e profissional.

Pergunta: Em que medida é que as relações entre a Rússia e a Hungria mudaram após Budapeste ter aprovado a vacina “Sputnik-V” que teve tanto sucesso no país? O senhor acha que isto terá um impacto nas nossas relações bilaterais no futuro?

Serguei Lavrov: Já demos uma avaliação às nossas relações bilaterais. Não compreendo a pergunta sobre como a vacina “Sputnik V” poderia ter influenciado as relações entre a Hungria e a Rússia.  A cooperação sobre a vacina “Sputnik V”, o seu fornecimento e o próximo início da sua produção na Hungria reflete uma natureza muito confiante da nossa relação verdadeiramente estratégica. O que pode a Hungria fazer para obter o registo da “Sputnik V” na UE? Esta não é uma questão para políticos, mas para profissionais. Somos contra a politização da situação com vacinas, as tentativas de acusar alguém de iniciar uma "guerra de vacinas" e encorajar as determinações anti vacinas. 

Os produtores russos da “Sputnik V” mantêm há meses um diálogo com a Agência Europeia de Medicamentos. Defendemos que tenha como resultado a confirmação da alta qualidade e eficácia desta vacina. Todos aqueles que utilizam a “Sputnik V” são precisamente desta opinião. Espero que os especialistas da Agência Europeia de Medicamentos se norteiem pelo seu dever profissional. Estamos interessados em estabelecer uma cooperação mais ampla possível em matéria de vacinas. 

Em agosto de 2020, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou a criação da primeira vacina do mundo, a “Sputnik V”, tendo convidado todos os países para uma cooperação multilateral. Esta proposta permanece "em cima da mesa". Ficaríamos felizes se fosse atendida pelos profissionais que, como nós, estão convencidos de que a politização deste tópico impede alcançar o objetivo principal de vencer na luta contra a infeção pelo coronavírus. 

Pergunta: A data de emissão da licença Paks II é sempre adiada. Em tempos, o Presidente húngaro, János Áder, disse que a central nuclear iria entrar em funcionamento em 2023. Agora a data mudou para 2029 ou até mesmo para 2030. Quando o senhor acha que a Paks II estará operacional?

Serguei Lavrov: No que diz respeito à central nuclear Paks II e à cooperação no fornecimento de gás, as respectivas empresas estão a negociá-la. Estes projetos estão em andamento. Serão alcançados acordos de interesse mútuo. Não vejo razões para que se levantem questões a este respeito.

Pergunta: Sempre houve ameaças de sanções pelo Nord Stream 2, mas em julho deste ano, Berlim e Washington chegaram a uma “decisão” sobre a construção. Como o senhor comenta isso?

Serguei Lavrov: O Turk Stream e o Nord Stream 2 resolvem a tarefa de reforçar a segurança energética da nossa região comum, antes de tudo da Europa, inclusive da União Europeia. Quem se guia por estes interesses básicos, compreende as tentativas de jogos políticos em torno destes projetos meramente económicos. Nós estamos contra impedimentos artificiais da cooperação mutuamente vantajosa na área de negócios entre a Rússia e a UE.

Pergunta: Quero voltar a falar da sessão da Plataforma da Crimeia. O que o senhor acha disso?

Serguei Lavrov: A Plataforma da Crimeia é uma ação russófoba artificial. Eles vão tentar manter estas tendências para fomentar as manifestações ultrarradicais neonazistas na Ucrânia contemporânea. As autoridades de Kiev e os líderes do mundo ocidental facilitam-nas. Conhecemos os métodos usados para forçar os aliados a “se aderirem” a tais ações privadas de sentido. Não nos surpreende que esta falsa “solidariedade” dos membros da UE e da NATO veio lançar os fundamentos para uma ideia propagandística absolutamente vazia, que não tem perspetiva alguma.

Baseamos as nossas relações com a Hungria na política real. É exatamente isso que fazíamos hoje. Vai haver também uma reunião com o Vice-Primeiro-Ministro, Zsolt Semjen. Também será política real.

Pergunta: Quanto à mediação da Rússia no Afeganistão. Como o senhor imagina essa mediação agora?

Serguei Lavrov: Faz muito que temos auxiliado as partes afegãs, os seus políticos, grupos etnoconfessionais. Foi convocado na Federação da Rússia o “formato de Moscovo”, que reuniu todos os cinco países da Ásia Central, a China, o Paquistão, a Índia, o Irão, os EUA e a Rússia, com a participação do antigo governo e do movimento Talibã. No intuito de promover este formato abrangente, foi criado um formato mais estreito, um “trio” (a Rússia, a China e os EUA). No ato seguido, formou-se um “trio ampliado”, com a adesão do Paquistão. O “trio +” tem operado até recentemente em Doha, ajudando a incentivar as partes a chegarem a acordos.

Independentemente de como encaramos o que aconteceu no Afeganistão, é uma realidade. Vamos ter que levá-la em conta. Havia contatos com os chefes das diplomacias dos EUA, da China, do Paquistão. Todos estão interessados em continuar o trabalho. Chamem isso de mediação ou de cooperação visando criar condições favoráveis ao consenso dos afegãos, o nome não muda nada. Estamos sempre leais à tarefa de instaurar a paz e a segurança no território do Afeganistão, para que esse país não apresente mais ameaças à região inteira (terrorismo, tráfico ilegal de drogas). Espero que todos que estão a acompanhar agora os acontecimentos no Afeganistão, se guiem exatamente por esses fatores e não por fobias politizadas, ideologizadas.

O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, declarou logo após a saída dos EUA do Afeganistão que não se podia permitir que o Afeganistão “caísse nas mãos” da Rússia e da China. Se o chefe da diplomacia da UE pensa em tais categorias, eu sinto dor dos países membros da UE que se veem obrigados a escutar e a apoiar essa filosofia. A preocupação de Josep Borrell é equivocada. Deve-se desejar que os afegãos “acalmem” logo o seu país. A mentalidade de que “não se deve entregar o Afeganistão à Rússia e à China” assemelha-se ao discurso de “ou-ou”: que os países escolham ou o Ocidente ou a Rússia e a China. É triste se tais pessoas elaboram a política externa da União Europeia.

Pergunta: O Conselho de Segurança da ONU vai querer chegar a um ponto de vista comum sobre o Afeganistão? Se for assim, a Rússia vai juntar-se a isso? Há algumas condições a este respeito? Se for assim, quais são?

Serguei Lavrov: Isso já está a acontecer. Há resoluções do Conselho de Segurança da ONU, as decisões do comité especial criado para controlar o cumprimento destas resoluções. Não percebi a pergunta. Se se trata de uma nova suspeita de bloquearmos o trabalho do CS da ONU, isso não é assim.

Em conversa com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, a 19 de agosto, o Presidente da França, Emmanuel Macron, sugeriu que os cinco membros permanentes do CS da ONU se reunissem para trocar opiniões sobre o Afeganistão. Estamos prontos. Nova Iorque sugere convocar uma reunião do CS da ONU na composição completa (com os membros não permanentes). Também estamos prontos.

O essencial é que as conversas nestes formatos não se dediquem à propaganda de uma ação concreta, mas que visem perceber a realidade do que está a acontecer, que não ignorem esta realidade. As discussões devem visar a elaboração de abordagens que permitam chegar a acordos entre os talibãs e o resto das forças políticas, dando a continuação aos contatos já iniciados.

Pergunta: O The Wall Street Journal escreveu, referindo-se ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que “a Rússia não quer ver soldados norte-americanos na Ásia Central”. Quero perguntar o senhor se é verdade. Se for assim, qual é o motivo por trás desta atitude?

Serguei Lavrov: Compartimos um espaço de segurança único. Temos as nossas obrigações. A OTSC prevê que todos os aliados manifestem o seu consentimento a respeito da colocação das forças armadas estrangeiras no seu território. É a causa jurídica formal, no âmbito do direito internacional. Eis agora a causa principal, a essencial. Ao saírem do Afeganistão, os EUA queriam estacionar a sua infraestrutura, os armamentos, os militares no território dos países vizinhos para assestar de lá golpes contra o Afeganistão se “se comportar mal”. Duvido que exista um país, seja na Ásia Central ou em algum outro canto do mundo, que esteja interessado em se tornar um alvo assim para que os EUA possam levar a cabo as suas iniciativas. Duvido que alguém queira isso. Acolher os soldados norte-americanos, que já declararam diretamente o objetivo de manter o Afeganistão na mira para bombardeá-lo se for necessário, significa converter-se em alvo de vez.

Pergunta: As autoridades húngaras, e talvez os cidadãos comuns, estão preocupados pelo eventual problema dos refugiados do Afeganistão? Planeiam adotar medidas a esse respeito?

Serguei Lavrov (acrescenta depois de Péter Szijjártó): O mesmo vale para as ações insistentes, obstinadas de Washington na sua tentativa de persuadir vários países da Ásia Central e de outras regiões a acolherem cidadãos afegãos que tinham colaborado com os EUA e os países da NATO. Dizem que isto vai ser para uns meses, que depois vão levá-los para si. Alegam ser necessário algum tempo para emitir vistos de entrada. Se os afegãos tinham passado anos a cooperar com os norte-americanos, deviam ser testados de todos os lados. Para que precisam de mais dois meses para certificar-se que é seguro emitir o visto? Se os EUA preveem dois ou três meses para o visto, por que não respeitam os interesses dos países aos quais tentam “canalizar” os afegãos seus colaboradores? Resulta que os EUA acham que esses países não precisam de verificar os cidadãos, nem de tempo para atender aos seus pedidos. Seja como for, isso não facilita a estabilidade dos países em que os norte-americanos querem “penetrar” com as suas sugestões. Em todo o caso, os Estados em questão tomarão as decisões definitivas.

A 23 de agosto, teve lugar uma conferência de imprensa dos Estados membros da OTSC. O Presidente do Uzbequistão, Shavkat Mirziyoyev, foi convidado. Estes assuntos foram discutidos de maneira sincera e concreta. Combinámos organizar a cimeira da OTSC em Dushanbe em meados de setembro de 2021. A cimeira da OCX também acontecerá lá.

Claro que o assunto do Afeganistão e das consequências com que estão a lidar os vizinhos e outros países por causa das ações não coordenadas dos EUA, vão permanecer no centro das atenções. Vamos informar os media sobre a situação.

Pergunta: Se a Hungria perder a sua filiação à UE ou se a mesma “enfraquecer”, isso seria “desejável” para a Rússia?

Serguei Lavrov: É uma pergunta para a Hungria. Nós sempre respeitamos a escolha dos Estados soberanos. Especialmente daqueles que condicionam a sua política externa pelos seus interesses nacionais. É assim que vamos avaliar as ações dos amigos húngaros em diferentes formatos internacionais.


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