Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 31 de agosto de 2022
Ponto da situação no Donbass e na Ucrânia
A operação militar especial na Ucrânia e no Donbass prossegue há seis meses. Todos os dias temos a oportunidade de ver que a Rússia não teve outra escolha senão levantar-se, sem mais delongas, em defesa da população sofredora das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e proceder à desmilitarização e desnazificação da Ucrânia e à eliminação das ameaças à segurança da Rússia provenientes do seu território. Como a liderança do nosso país tem dito repetidamente, todos estes objetivos serão definitivamente atingidos.
Ultimamente, o regime de Kiev não tem escondido ter começado, há muito tempo, a preparar-se para um confronto armado com a Rússia. Esta é a resposta àqueles que afirmaram que não sabiam nem compreendiam nada e que tudo aconteceu inesperadamente, enquanto o "regime pacífico de Kiev" tentava e não conseguia cumprir os acordos de Minsk.
A 26 de agosto, o Secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei Danilov, admitiu publicamente (por enquanto, durante uma entrevista e não um interrogatório) que, quase no dia seguinte à cimeira de Paris do “formato Normandia”, em dezembro de 2019, a liderança ucraniana inferiu que uma “grande guerra contra a Rússia era inevitável”. O cinismo de tais afirmações passa dos limites. Foi o Presidente Vladimir Zelensky que tudo fez naquela altura para que nenhum passo real fosse dado para resolver o conflito no sudeste da Ucrânia e acusou a Rússia de violar alegadamente os acordos alcançados. Em seguida, chegou ao ponto de dizer que o regime de Kiev deveria possuir armas nucleares para resolver a situação. Como costumamos dizer, a verdade acaba sempre por vir à tona. Conscientes de que acabarão, mais cedo ou mais tarde, por ser presentes à justiça, os políticos ucranianos começam a aparecer na televisão para dar confissões, dizendo quem realmente torpedeou os acordos de Minsk, quem se preparou para a guerra, quem o fez em teoria e quem o fez na prática, recebendo armas ofensivas ocidentais e planeando ações militares. Estas são revelações dos "coveiros" do seu próprio país.
Outras provas que confirmam a natureza neonazi do atual regime ucraniano foram as declarações russofóbicas do embaixador ucraniano no Cazaquistão, Petro Vrublevski. Aqui está uma citação direta de um homem que se intitula não só como representante da Ucrânia, mas também como embaixador ucraniano. A 22 de agosto, esta criatura (não lhe posso chamar diplomata) declarou publicamente o seguinte: "Estamos a tentar matar o maior número possível de russos. Quanto mais russos matarmos agora, menos os nossos filhos terão de matar. É tudo”. Numa coisa ele tem razão: é tudo. Eles próprios confessaram tudo.
Nazismo, fascismo, nacionalismo são novas manifestações daquilo que deveria ter ficado na memória histórica (não apenas as tatuagens da suástica e os símbolos do batalhão Azov que remetem aos batalhões das SS). Antes de mais, a ideologia que impede a evolução da identidade das etnias nas suas terras históricas e que é tão misantrópica que incita o ódio e o desejo de exterminar uma etnia, um grupo cultural simplesmente porque não agrada ou é vista como concorrente em alguns domínios. Foi contra isto que o povo do Donbass se revoltou e o que a população da Crimeia não quis na sua terra. É o que não podemos aceitar, pois, de contrário, teríamos de nos resignar à ideologia neonazi e nos tornar colaboracionistas.
O regime de Kiev começou a falar por iniciativa própria. É-me difícil dizer se foi por medo, estupidez ou choque. As pessoas deixam o seu consciente agir (ou o seu consciente atua sem pedir autorização) para revelar segredos cuidadosamente guardados. Esta questão é da conta dos psicólogos, psicoterapeutas, analistas políticos e historiadores. Eles começaram a denunciar-se por iniciativa própria. Antes, este processo não era tão generalizado, houve alguns episódios isolados. Agora começaram a falar todos à uma.
Comentámos as declarações feitas pelo embaixador ucraniano no Cazaquistão. Vimos a reação dos nossos colegas cazaques. Não deixaremos isso ficar sem resposta.
Uma das razões por que o regime de Kiev está a fazer isto é a de que espera receber novas armas modernas e nova ajuda financeira do Ocidente e dos Estados Unidos. Porque é que estou a associar as atividades nacionalistas e neonazis e a lógicas e a ideologia do regime de Kiev aos EUA? Poderiam dizer-me que as minhas associações são um tanto exageradas. Não. Gostaria de recordar a declaração do ex-Presidente norte-americano (filho de um ex-Presidente norte-americano), George W. Bush? Há uns meses, ele dissera aquilo que o embaixador ucraniano reiterou no Cazaquistão. Estas foram as palavras de um representante do establishment político (financeiro, económico e energético) norte-americano, do famigerado “Estado profundo”, Estado Paralelo. Confiante de estar a conversar com Vladimir Zelensky, George W. Bush disse que a missão da Ucrânia é "matar o maior número possível de russos”. Assim, quando comento a lógica nacionalista, refiro-me imediatamente a Washington e àqueles que inspiram o regime de Kiev neste caminho.
Segundo os meios de comunicação social norte-americanos, a hipótese de nova ajuda financeira e a situação in loco serão abordadas na quinta reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia que será realizada presencialmente em Rammstein no dia 8 de setembro e será presidida pelo chefe do Pentágono, Lloyd Austin. O círculo está fechado.
As forças aliadas estão a avançar lenta, mas seguramente, libertando passo a passo o Donbass dos neonazis que haviam transformado as suas cidades e aldeias em povoados fortificados ao longo dos últimos oito anos. A atual situação irrita a liderança político-militar de Kiev que continua a emitir ordens loucas e criminosas para bombardear instalações civis das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e dos territórios libertados das Regiões de Zaporojie e de Kherson para danificar o mais possível a sua infraestrutura e causar o maior número possível de vítimas entre os civis. As tropas ucranianas estão a bombardear com especial intensidade jardins de infância, escolas e outras instituições de ensino, o que é blasfemo com o dia 1 de setembro a aproximar-se. Já tínhamos visto isso antes. Lembramo-nos bem da tragédia de Beslan ocorrida no dia em que as crianças foram à escola. Aqueles que perpetraram isso foram apelidados de terroristas em todo o mundo. Aqueles que bombardeiam as instituições infantis (especialmente no dia 1 de setembro) são terroristas. Não pode haver outro nome para eles.
Estamos extremamente preocupados com as crescentes tensões em torno da Central Nuclear de Zaporojie, a maior da Europa. Surpreende-nos ver que só a Rússia é que está preocupada, como se a central nuclear estivesse localizada muito longe da Europa e a sua população estivesse bem protegida. É como se se tratasse de uma outra história cuja trama não atinge ninguém nem a população europeia, de um “sonho de razão”. Os neonazis ucranianos utilizam armas da NATO, incluindo artilharia de grande calibre, lançadores múltiplos de foguetes, drones, para alvejar as instalações da central nuclear, incluindo aquelas cuja destruição pode ter consequências imprevisíveis.
Os representantes dos regimes liberais ocidentais nem sequer se preocupam em saber se a Ucrânia está a utilizar as armas recebidas para bombardear a central nuclear de Zaporojie. Nem se dão trabalho de supor que as munições por eles fornecidas à Ucrânia e utilizadas pela mesma para bombardeamentos possam causar uma tragédia, pois os alvos são unidades geradoras, instalações de armazenamento de combustível nuclear usado e ainda não utilizado, etc.
Esperamos que a visita dos inspetores da AIEA à central nuclear marcada para 31 de agosto permita conter as autoridades ucranianas desfaçadas nos seus esforços para provocar um desastre nuclear e ajude a pôr fim à chantagem nuclear.
Fizemos notar repetidamente que o regime de Kiev é desumano para com a vida das pessoas. As tropas e os grupos nacionalistas ucranianos continuam a utilizar métodos de guerra inaceitáveis, utilizando civis como escudos humanos. Há dias noticiou-se que as tropas ucranianas utilizaram armas químicas contra o pessoal das tropas russas na Região de Zaporojie.
A posição assumida pelos países ocidentais e pelo Secretariado da ONU faz-nos pasmar. Quando questionados diretamente sobre quem está a bombardear a Central Nuclear de Zaporojie, dizem que não sabem e que não têm opinião sobre isso. Como assim, não têm opinião? Têm opinião sobre os casos de “violações coletivas” alegadamente praticadas pelos militares russos. Têm opinião sobre outros crimes, atribuindo a sua autoria a Moscovo. Neste caso, porém, mostram-se estranhamente amorfos. De que mais precisam eles? Drones para monitorização, dados de satélite, informações sobre a situação “no terreno”? O que os impede de chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes e de ver que os bombardeamentos são realizados a partir dos territórios controlados pelo regime de Kiev? Podem pelo menos definir a direção do vento? Se podem, devem ser capazes de saber de onde vêm os bombardeamentos. O que há com eles? Porque se esqueceram de repente?
Ao mesmo tempo, a administração civil-militar da região relata que as autoridades ucranianas podem optar por provocações bacteriológicas e terror contra a população local. Com os incessantes bombardeamentos das cidades das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e de outras regiões do sudeste da Ucrânia pelas forças armadas ucranianas, é há muito tempo claro que o regime de Kiev não se importa de saber o que acontece à população destas e outras regiões, já que estão a bombardear uma instalação nuclear.
Vejo que a UE está agora mais interessada em decidir sobre se deve ou não emitir vistos aos russos. No entanto, a radiação não tem um passaporte e não precisa de um visto para cruzar fronteiras. Se algo acontecer na Central de Zaporojie, a questão dos vistos, passaportes, fronteiras deixará imediatamente de ser relevante. Por alguma razão incompreensível, a União Europeia não se mostra preocupada. Os regimes liberais europeus tomaram muitas medidas de natureza autodestrutiva e suicida. Talvez esta seja outra moeda no mealheiro.
Estamos confiantes que, uma vez concluída a operação militar especial, toda a população da Ucrânia poderá iniciar uma vida pacífica num país livre, sem nazis, sem bombardeamentos, sem discriminação (por motivos étnicos ou linguísticos) onde as normas humanitárias internacionais e os direitos e liberdades de cada cidadão são respeitados.
Romênia fornece armas à Ucrânia
Segundo uma das agências noticiosas romenas, o Ministro da Defesa romeno, Vasile Dîncu, conversou há dias ao telefone com o seu par ucraniano, Aleksei Reznikov. Este último agradeceu ao governante romeno o quinto pacote de ajuda militar romena às forças armadas ucranianas que incluía, entre outras coisas, armas ligeiras, munições e peças de reposição para equipamento militar.
Esta é a primeira vez que este tema se torna público, embora já tenham circulado nas redes sociais vídeos que mostravam como as forças armadas ucranianas utilizavam munições de fabrico romeno. Contudo, não havia provas “diretas”.
O governo romeno evita a publicidade nestas matérias, preferindo contar à opinião pública romena e internacional sobre o apoio exclusivamente “humanitário” à Ucrânia. Agora sabemos o que significa a palavra "humanitário". Empenhadas em cumprir as diretrizes da NATO de enviar à Ucrânia novos e novos lotes de equipamento mortífero, as autoridades romenas devem estar a sentir um desconforto moral, apercebendo-se das consequências da sua política ideologicamente motivada. Livrem-se da falsa vergonha e digam ao seu povo e ao mundo inteiro o que estão a fazer na realidade. Não tenham medo.
Os fornecimentos maciços de armas aos nacionalistas ucranianos que lutam contra o seu próprio povo só (para a informação do governo romeno se, de repente, não sabe disso) fazem durar o conflito e provocam o aumento de vítimas humanas. Aqueles que contribuem para isso partilham com o regime nacionalista de Kiev a responsabilidade pelos crimes, banhos de sangue e sofrimento das pessoas. Se os responsáveis governamentais romenos pensam que tudo isso não passa de uma imagem de retórica, essa é a sua opinião. Mesmo assim, seria bom se fizessem revelações sobre os seus fornecimentos de armas à Ucrânia. O que estão eles a fornecer ao regime de Kiev?
Alemanha luta contra "propaganda" e "desinformação" russas
Prestámos atenção ao facto de a Alemanha estar a martelar o tema da suposta ameaça russa de difusão de desinformação e propaganda.
No passado dia 17 de agosto, o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição da Alemanha divulgou uma declaração sobre o impacto que o conflito na Ucrânia pode ter na segurança interna da Alemanha, acompanhada de comentários do Chefe do Gabinete, Thomas Haldenwang. O serviço de contra-informação alemão prevê o aumento da intensidade da "propaganda russa" para assustar os alemães com a ameaça crítica de escassez de energia e alimentos e, consequentemente, com a divisão da sociedade alemã.
Vamos ver o que temos na realidade. Somos nós quem diz aos alemães como devem tomar banho e quanto tempo deve durar um banho? É a Embaixada russa em Berlim que informa regularmente os alemães sobre como devem poupar energia, lavar louça e tomar banho? Quem se permite fazer isso? Que eu saiba, é o Chanceler alemão, Olaf Scholz, e vários ministros alemães que fazem isto todos os dias em entrevistas ou em sessões de perguntas e respostas. Senhor Haldenwang, acha que os seus colegas no governo alemão são desinformadores e propagandistas empenhados em dividir a sociedade alemã? Ou acha que eles têm o direito de fazê-lo?
Nunca dizemos uma só palavra sobre a escassez de energia. Fizemos os possíveis para evitar que a Alemanha se deparasse com isso. Colaborámos com empresas alemãs na construção de um gasoduto. Compreendo que é conveniente fingir que não sabe ou não se lembra disto. Mas isto é um sinal, não tanto de amnésia como de um problema psicológico profundo que beira a psicose. Não sabe que estávamos e estamos a exportar recursos energéticos para a Alemanha? Não sabe que o atual governo alemão mandado por Washington está empenhado em destruir a cooperação energética com o nosso país? Não é a Alemanha que exporta recursos energéticos para a Rússia. Muito pelo contrário, é a Rússia que exporta recursos energéticos para a Alemanha. Numa altura em que vocês estão a destruir a cooperação energética com o nosso país se atrevem a acusar-nos de ameaça de escassez de energia? Está doido? Não é uma metáfora.
O website do Ministério do Interior alemão publicou um guia de instruções para a população do país sobre como fazer frente à propaganda e desinformação russas. Com as atividades de desinformação dos meios de comunicação social estatais russos, recursos da Internet próximos de Moscovo e contas do Ministério dos Negócios Estrangeiros e das missões diplomáticos russas nas redes sociais a aumentarem de intensidade, o guia de instruções exorta o povo alemão a ficar alerta, a não acreditar nas informações divulgadas por fontes russas e a não participar na divulgação de notícias não verificadas. De que notícias se trata? Porque não citar no guia alguns exemplos de "notícias não verificadas" que os cidadãos alemães poderiam difundir acidentalmente? Quem vai dizer o que se pode e o que não se pode divulgar? O Ministério do Interior alemão? Terão um website especializado em verificar as notícias “permitidas” e “proibidas”? Isto tem outro nome: não é uma censura, não, é um controlo total sobre os cidadãos. Devem chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes.
O guia de instruções recomenda consultar somente os mass media alemães e websites do governo alemão como "fontes de informação fiáveis". Isto também não é censura? Há um ano, os meios de comunicação social alemães descobriram terem divulgado um grande volume de materiais de desinformação. Como resultado, houve averiguações internas, despedimentos e discussões sobre os problemas dos mass media locais. Isto tem alguma importância? Ou se a desinformação for de fabrico alemão, não há problema? Se este for o caso, então devem encarar tudo isso de um modo diferente. Devem dizer que a Alemanha implanta a censura total, encontrou um “inimigo externo” para ser responsabilizado por todos os problemas e que só a ideologia e informação produzida pelos órgãos oficiais de Berlim é verídica. Acontece que só Berlim e ninguém mais pode falar da escassez de energia (esta informação, aliás, é verídica). Acho necessário que cite exemplos para que todos, incluindo os alemães, tenham a ideia do que se trata.
Neste contexto, gostaríamos de salientar que as insinuações infundadas produzidas pelas autoridades alemãs sobre “propaganda e desinformação russas” reproduzidas e divulgadas na Alemanha pelos mass media locais ao longo de muitos anos já não nos surpreendem há muito tempo. Foi Berlim que bloqueou o Canal RT em alemão, utilizando todos os recursos à sua disposição, e privatizou o direito de utilizar a língua alemã, aparentemente porque ficou assustada com alguma coisa. Todo este "drama" durou cerca de um ano. No entanto, desta feita, os alemães superaram-se a si próprios, acusando-nos daquilo que os seus meios de comunicação social sistémicos praticam todos os dias, divulgando mitos de que a Rússia seria a responsável pelo agravamento da situação socioeconómica na Alemanha e a política de austeridade energética seria necessária para “fazer mal a Putin”. Bem, decida-se! Afinal, a Alemanha tem ou não problemas energéticos. Se a Alemanha os tiver, publiquem os nomes daqueles que podem e que não podem ser informados sobre isso. Em plena conformidade com o que escreveu George Orwell, Berlim está, ela própria, a semear o pânico entre a população alemã, atribuindo a atual situação às “intrigas do Kremlin”. Outra vez têm de decidir: se isso são consequências das “intrigas do Kremlin”, isso quer dizer que a Alemanha tem problemas dos quais, porém, não se pode falar. Se não há problemas, não há intrigas ou há intrigas as quais, porém, não atingem Berlim.
Com efeito, ao publicar os referidos materiais, Berlim demonstrou publicamente que está a perder o controlo sobre a lógica. Isto explica a sua atitude estranha que já não é simplesmente russofóbica, mas está a tornar-se cada vez mais mórbida e que está a ser implantada no espaço mediático alemão. Acontece que a sua campanha agressiva não está a funcionar e não está a produzir o efeito desejado na sociedade alemã. A julgar pelo que vemos, cresce o número de pessoas que se sintam fartas da absurdidade dos materiais publicados pelos mass media locais. Como resultado, fazem perguntas incómodas e começam a duvidar de que o governo alemão tenha uma posição adequada em relação à Rússia e às relações internacionais em geral. Nestas circunstâncias, o governo alemão utiliza as ferramentas já ensaiadas para limpar o espaço mediático de todas as opiniões alternativas, estigmatizando qualquer desvio da "linha geral" oficial. Este é o pluralismo de opiniões na Alemanha, país que tem tanto empenho em ensinar os outros a apreciar os "valores democráticos". Tais valores não existem na Alemanha.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Uma missão da AIEA deslocou-se à Central Nuclear de Zaporojie. A senhora tem alguma informação sobre como está a decorrer a visita, os seus primeiros resultados? Quais são as expetativas do lado russo?
Maria Zakharova: Já comentei esta questão muitas vezes hoje, mas vou dizê-lo novamente. A missão da Agência está a caminho. O lado russo está a fazer o necessário e até mais do que é necessário. Há três meses que nos ocupamos desta questão, coordenando a visita em si, a inspeção, a composição, as datas, a rota e assim por diante. Estamos a fazer tudo para que a missão à Central Nuclear de Zaporojie chefiada pelo Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, planeada há meses venha a acontecer, decorra em segurança e cumpra todos os seus objetivos.
Isto foi precedido por um trabalho meticuloso. Todos os pormenores da viagem foram acordados pelos nossos peritos na matéria até ao mais ínfimo pormenor. Foram realizadas reuniões entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, e o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi. Depois que a visita de Rafael Grossi à Central em junho passado não aconteceu devido a uma interferência grosseira do Secretariado da ONU e do regime de Kiev, muitas coisas tiveram de ser acordadas novamente.
Não pode haver nenhumas reclamações contra a Rússia. Saliento mais uma vez que, da nossa parte, tudo foi acordado há três meses, a 3 de junho. A ONU só apoia verbalmente a missão da AIEA, não se apressando, infelizmente, a admitir os seus erros. Claro que as perguntas devem ser endereçadas a eles, mas não posso deixar de o constatar.
Presumimos que a missão da Agência que devem chegar, em breve, à Central, terá a oportunidade de conhecer a situação localmente e as consequências dos desumanos ataques ucranianos às instalações e unidades da Central e ver que a informação fornecida pelo lado russo quase todos os dias de que a situação na Central se torna cada vez mais perigosa e que as ameaças vêm do regime de Kiev e das suas unidades armadas, corresponde à verdade. A missão deve ser objetiva e, o mais importante, competente. O seu principal objetivo é ver tudo o que ali existe neste momento e os resultados das ações destrutivas contra a Central ao longo dos últimos meses. As tentativas do lado ucraniano de dificultar a missão internacional da AIEA, intensificar os ataques à Central e usar para o efeito armas cada vez mais pesadas fazem tábua rasa das garantias do regime de Vladimir Zelensky de que o regime de Kiev está interessado em fazer com que a visita da equipa de Rafael Grossi tenha êxito.
Os projéteis lançados pelos ucranianos caem cada vez mais perto das instalações de importância crucial, entre as quais as de armazenamento de combustível nuclear usado e ainda não utilizado. Os habitantes da cidade de Energodar, próxima da Central, dos quais muitos trabalham na Central, e os seus familiares vivem há meses sob bombardeamentos. Não há justificação para isto, tal como não há justificação para o desejo da liderança ucraniana de pôr em risco não só a segurança da Central como também o destino dos povos de todo o continente. Gostaria de salientar mais uma vez que a radiação não conhece os limites geográficos. Não vai ver se cruzou ou não uma fronteira, se o continente europeu já terminou ou ainda continua. Todos nós sabemos exatamente do que se trata. A ONU e a AIEA estão bem cientes disso. Esperamos que os planos dos "estrategas" ucranianos de entravar novamente a missão da AIEA não venham a concretizar-se e que esta missão venha a acontecer. Um evoluir diferente vai significar que o regime de Kiev reconhece a sua culpa pelo que está a acontecer.
A missão da AIEA, tal como o mandato da Agência é de natureza técnica. No entanto, acreditamos que a visita de Rafael Grossi à Central ajudará a melhorar a situação e fará com que os grupos armados ucranianos voltem à razão e parem de bombardear a Central e as áreas circundantes.
Apelamos a todos os países, antes de mais aos que têm influência direta sobre o regime de Kiev, para que continuem a pressionar as autoridades ucranianas para que caiam em si, parem com a arbitrariedade e a chantagem nuclear, deixem de aterrorizar o mundo e praticar ações capazes de provocar uma catástrofe que pode ter consequências irreversíveis e muito graves.
Pergunta: O Chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que a UE deveria abandonar o princípio da unanimidade na tomada de decisões-chave a favor do princípio da maioria simples. O Ministério dos Negócios Estrangeiros compreende que esta emenda pode simplificar o processo de adoção de novas sanções contra a Rússia porque deixa de lado os países que são mais céticos quanto à aplicação de novas restrições.
Maria Zakharova: Eles têm agora algum impedimento para adotar sanções? Onde está o processo de discussão das consequências que podem advir ou já advieram das sanções? As opiniões destes países estão a ser levadas em conta? Não há nada disso, nenhum destes mecanismos está previsto. Sabemos disso pela imprensa, inclusive ocidental que dificilmente pode ser acusada de simpatias "pró Moscovo".
Qualquer dissidência é reprimida por chantagem e ameaças diretas na imprensa ocidental. Se não votarem a favor da prorrogação das sanções existentes ou da aplicação de novas, nós lhes faremos isso, aquilo, e assim por diante. Este princípio aplica-se não só na votação sobre as determinações ou sanções antirrussas, como também em todas as atividades internas da UE.
Basta lembrar as tentativas da Polónia, Hungria e de outros países de obter algumas vantagens individuais. Qual foi o resultado? Processos de arbitragem, ameaças políticas e pressão. Tudo isso faz lembrar a trama de uma fábula de Ivan Krylov (em que quatro animais decidiram tocar um quarteto e não conseguiram) cuja moral é a seguinte: “E vós, amigos, não importa quais lugares ocupem, todos vós sois músicos inaptos”. O problema está na ideologia. Deixou de ser pragmática e chegou a dominar tudo, a lei, a esfera jurídica, os princípios e valores proclamados como invioláveis. A ideologia política tem suplantado a democracia e as manifestações liberais, na boa acepção da palavra, e passou a reinar. Que ideologia é esta? Isto, sim, é que é interessante. Acontece que esta é a ideologia do mais forte, de impor a vontade dos mais fortes aos menos fortes, vontade daqueles que têm a mão colocada no “botão” da tomada de decisões. Pessoas e players vão e vêm, novos atores mudam superestruturas ideológicas e não se importam com o facto de as pessoas que, durante muitos anos, estiveram a implementar a vontade dos donos anteriores do botão, estarem a sofrer com isso. Para eles, isso são coisas que acontecem. Este é, infelizmente, um ex-líbris do que está agora a acontecer à UE.