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Briefing proferido pela porta voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, Moscovo, 27 de janeiro de 2023

122-27-01-2023

Sobre a reunião de Serguei Lavrov com Françoise Joly, Ministro e Representante Pessoal do Presidente da República do Congo para os Assuntos Estratégicos e Negociações Internacionais

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe hoje, dia 27 de janeiro, o Ministro e Representante Pessoal do Presidente da República do Congo para os Assuntos Estratégicos e Negociações Internacionais, Françoise Joly, que se encontra em Moscovo para uma visita de trabalho.

As partes pretendem discutir uma vasta gama de questões de cooperação russo-congolesa nos domínios político, comercial e económico, humanitário e outros, com destaque para os projetos promissores de cooperação empresarial na produção e processamento de hidrocarbonetos, geração de energia e construção de infraestruturas.

Pretendem ainda trocar opiniões sobre questões prementes da agenda global e regional, assim como a resolução das crises em África, a luta contra o terrorismo, o extremismo e outros desafios e ameaças existentes no mundo atual.

 

Sobre a reunião de Serguei Lavrov com o Ministro do Exterior do Paquistão

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 30 de janeiro, em Moscovo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, para analisar o estado das relações bilaterais e as questões da agenda internacional e regional. Será dada especial atenção ao desenvolvimento do comércio e das relações económicas entre os dois países.

 

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

O "Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia" realizou, no passado dia 20 de janeiro, na base militar norte-americana de Ramstein, na Alemanha, a sua 8ª reunião. O resultado deste encontro mostra claramente a total irresponsabilidade do Ocidente e o seu desejo de continuar a fazer escalar o conflito. Os países da NATO reafirmaram a sua intenção de aumentar os fornecimentos de armas ofensivas pesadas modernas ao regime de Kiev. Não têm piedade de ninguém em território ucraniano. Agora podemos ver que não têm piedade dos que estão do seu lado, afinal, os tanques não andam sozinhos. Deve haver quem os conduza e os mantenha em ordem, sobretudo quando de se trata de veículos desconhecidos pelos militares ucranianos. Posso dizer o seguinte: aqueles que irão acompanhar os tanques fornecidos como integrantes de unidades militares devem saber o destino que os seus governos lhes traçaram pelo exemplo dos cidadãos dos seus países, e, infelizmente, da Ucrânia, dos quais ninguém no Ocidente sente pena (do regime de Vladimir Zelensky nem falo). São tidos como "bucha de canhão".

O Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, declarou que a NATO não estava a enviar soldados ou aviões para a Ucrânia e não se ia tornar um dos "lados no conflito". Costumamos comentar imediatamente declarações como esta para apresentar e explicar a nossa posição oficial.

Tenho uma pergunta a fazer a Jens Stoltenberg: acha mesmo que os cidadãos da UE e dos países da NATO são cretinos? Pensa que ao enviar tanques, que deveriam ser tripulados, ao criar pontos de recrutamento, inclusive nas embaixadas ucranianas no estrangeiro, para recrutar cidadãos de outros países, a NATO continua a não ser um dos lados no conflito? Quem é então? Adotem um outro nome se vocês não são um dos lados no conflito.

Outro aspeto a destacar. Elaborem uma posição única, ou o quê - a Alemanha já não está mais na NATO? A Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse que os países europeus e, portanto, a Alemanha estão em guerra com a Rússia. Como é possível estar em guerra com alguém sem ser um dos lados no conflito? Que "truques" políticos são estes? A quem pretendem enganar com isso? Há anos que enganam o povo da Ucrânia, atiçando-o contra a Rússia para instrumentalizá-lo. Tem vindo a enganar os seus parceiros de negociação.

Lembrem-se das recentes revelações de Angela Merkel de que os ocidentais não iam seguir o caminho das negociações e precisavam de tempo para "tornar a Ucrânia mais forte". Compreendemos agora que o seu objetivo era não tanto "tornar a Ucrânia mais forte" como enchê-la de armas e destrui-la. A quem a Aliança do Atlântico Norte pretende continuar a enganar? Os seus próprios cidadãos?

 Os cidadãos dos países da NATO devem saber: a Aliança está totalmente envolvida no confronto com o nosso país, confronto esse que se vem intensificando. Não vamos analisá-lo agora. Cabe aos militares decidir sobre a eficácia das ações realizadas no âmbito dos fornecimentos de tanques. Parece-me que eles estão mais preocupados em produzir um efeito. Parece que as duas palavras são parecidas e têm a mesma raiz (não sei como se correlacionam nas suas línguas), mas o sentido é diferente. Sim, o efeito está aí: a Europa está chocada. Apesar de tentarem assegurar-lhe que se trata apenas de "solidariedade" e "apoio" e que os europeus não são parte no conflito. Todavia, os que passaram por vários acontecimentos históricos compreendem do que se trata e para onde a Europa está a ser arrastada. Bem, o efeito está à vista, e o que dizer da eficácia? Ou será determinada com base no número de vítimas?

Todas as declarações feitas pelo Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, foram anuladas pela afirmação da Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock. Falando no Conselho da Europa no passado dia 25 de janeiro (e não para imprensa que pudesse apresentar a sua declaração como a sua opinião pessoal) e representando oficialmente o seu país a um nível tão elevado, ela chamou as coisas pelo seu verdadeiro nome, dizendo sem rodeios o seguinte: "Estamos a travar uma guerra contra a Rússia".

O envolvimento direto de Washington na gestão do exército ucraniano foi também reconhecido pelo Presidente Joe Biden. Deixo a critério dos profissionais (de saúde, de preferência) verificar o quanto ele se deu conta das suas declarações dirigidas ao nosso país. Mas ele disse-o, não tendo a sua declaração sido, até agora, retratada. Ele disse, e até anunciou, que "com a chegada da primavera, as Forças Armadas ucranianas passarão à contra-ofensiva". Quem decide sobre o que deve acontecer na Presidência ucraniana sediada na Rua Bankovaia? Compreendemos que não é Vladimir Zelensky. Embora este último esteja a fazer de conta que é ele que decide. Não, não é ele que manda. O Presidente dos EUA disse o que o espera na primavera. Obviamente, a nova parcela de armas norte-americanas no valor de 2,5 mil milhões de dólares, que compreende blindados, peças de artilharia e munições, deve ajudar o Presidente ucraniano.

A reunião de Ramstein deu início à criação de uma "coligação blindada" tão longamente almejada por aqueles que tinham criado "toda esta embrulhada" na Ucrânia e que era exigida pelos "falcões" ocidentais mais ferozes e, naturalmente, por aqueles que têm cadeiras na sede da Presidência ucraniana. Eles fazem parte desta "cadeia". Eles têm uma verdadeira conspiração à escala global para dividir os fundos que lhes são atribuídos para a "defesa da democracia". Depois tudo rebentou e o mundo inteiro viu aquela terrível "rede". Não é sequer corrupção, é uma terrível mistura de partilha e redistribuição de tremendos fundos. Se o Presidente dos EUA sabe o que o regime de Kiev estará a fazer dentro de alguns meses na Primavera, será que a Casa Branca não sabia para onde iam os fundos atribuídos ao regime de Kiev? Sabia. Trata-se de um esquema internacional de desvio e distribuição dos fundos entre os participantes nesta terrível "cadeia sangrenta".

Gostaria de lhes lembrar que o início foi dado por Londres, que tinha prometido anteriormente enviar 14 tanques de guerra Challenger 2 ao regime de Kiev. O seu exemplo foi seguido a 25 de janeiro pelos Estados Unidos e a Alemanha, que anunciaram a sua decisão de enviar ao regime ucraniano vários batalhões de cavalaria blindada que integram Abrams norte-americanos e Leopard alemães. Ao mesmo tempo, Berlim permitiu aos seus parceiros da NATO reexportar Leopards para a Ucrânia. Continuarão a afirmar que vocês não são parte no conflito? Repito, elaborem uma posição única a este respeito. Deixem de fazer declarações discordantes e zumbificar as pessoas, deturpar os conceitos, pondo em circulação novos e novos termos. Digam tudo como está.

A 26 de janeiro, Vladimir Zelensky declarou, referindo-se ao fornecimento dos carros de combate prometidos, que o regime de Kiev iria agora exigir que os aliados lhe entregassem aviões de combate e mísseis de longo alcance. É assim como fazem as partes "não envolvidas no conflito nem nos combates", não é?

Note-se que os blindados a serem entregues à Ucrânia se destinam a operações de combate ofensivas. A Administração Biden não faz segredo do facto de as novas entregas se destinarem a ajudar a Ucrânia a "libertar" as suas terras, entre as quais a Crimeia. Não, a Crimeia não é território ucraniano. É território russo. Foi, é e será. Mikhail Podoliak, conselheiro do Chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia, que ainda não foi despedido e continua no seu posto (talvez lhe seja permitido sair tranquilamente ou será também expulso? Vamos ver), faz eco aos seus patrões norte-americanos, dizendo que "o aparecimento de 300 a 400 tanques de guerra ocidentais no campo de batalha" permitiria ao seu país passar à "fase final da guerra" pela "desocupação". A sério? Sei que tudo o que as pessoas da equipa de Vladimir Zelensky dizem não pode ser levado a sério. A sua doença é contagiosa. No entanto, não pode ser que tudo o que elas dizem só seja digno da atenção dos utilizadores do TikTok. Há quem entenda da estratégia e das táticas das operações de combate. Anteriormente, ele anunciou a intenção do regime de Kiev de utilizar armas da NATO para atacar Moscovo, São Petersburgo, Ekaterimburgo e outras cidades russas.

Tudo isto é mais uma prova da intenção do Ocidente de aumentar a sua aposta no conflito, o que leva ao seu prolongamento e ao aumento do número de vítimas. As máscaras caíram. Não se fala mais em defender a Ucrânia. O regime de Kiev e os seus supervisores da NATO estão preparados para fazer tudo para prejudicar o mais possível a Rússia.

Gostaríamos de lembrar mais uma vez que qualquer arma ocidental que entre na Ucrânia se torna um alvo legítimo para as Forças Armadas russas. As entregas de carros de combate não irão alterar a situação a favor do regime de Kiev, colocando, contudo, os países ocidentais num novo patamar de confrontação com a Rússia.

A ajuda financeira, militar e humanitária ocidental à Ucrânia tornou-se uma fonte de corrupção crescente no país. Mas a corrupção é uma coisa completamente diferente, leiam as respetivas publicações. A corrupção é quando existem leis e órgãos de controlo. Estes órgãos, por muito mal que funcionem, de qualquer maneira existem e são, pelo menos, viáveis. Qual destas coisas tem a Ucrânia? Leis? Mudam umas vinte vezes por dia. Órgãos de segurança pública? Estes só entram em ação quando há necessidade de capturar novos recrutas para enviá-los para morrer no campo de batalha. O resto está há muito fora do seu controlo, pelo que se dedicam ao roubo e banditismo. Talvez a Ucrânia tenha algumas instituições especiais de combate à corrupção que estão a funcionar e a lutar contra a corrupção. Não, claro que não. Nada disso existe no país.

E isso quando os supervisores ocidentais de Vladimir Zelensky o aconselharam insistentemente que prestasse atenção ao problema da corrupção. Ao que parece, ele compreendeu-o à sua própria maneira, pensando que a corrupção na Ucrânia só poderia ser destruída juntamente com a Ucrânia e que não havia outras formas de vencê-la. O que vemos na Ucrânia não é um combate à corrupção, é uma "lavandaria" do "Ocidente coletivo" que funciona há muitos anos, desviando e redistribuindo fundos entre diferentes contas. Há anos que falamos disso e há provas reais disso. Sim, a palavra "corrupção" é pronunciada. Todavia, usemo-la com um asterisco para se ter uma ideia de que, no contexto da Ucrânia, é um verdadeiro banditismo.

A ajuda ocidental é um "sistema sanguíneo", um terreno fértil para o banditismo. A corrupção no país atingiu um nível tão alto que nenhuma análise é possível. Trata-se de dezenas de milhares de milhões de dólares, euros e outras moedas estrangeiras que vêm à Ucrânia não só sob a forma de "ajuda" financeira direta e que ninguém sabe onde este dinheiro pára. Este esquema envolve muitas pessoas que tomam o seu desejo por realidade, desviando os fundos atribuídos à escala global. O mesmo pode ser dito sobre o material de guerra fornecido. Indicam nos documentos de carga uma coisa, transportam outra, para não dizer que, nalguns casos, não transportam nada. É por isso que alguns políticos dos EUA dominados pelo frenesim eleitoral começaram a pedir uma auditoria para tornar este sistema mais ou menos transparente, mais ou menos ordenado para que seja possível escrever algo semelhante a um relatório sobre a execução financeira. Têm pela frente eleições. Os eleitores norte-americanos vão chamá-los a capítulo.

A julgar por tudo, a administração de Washington está preocupada com esta tendência, tendo enviado, na semana passada, o diretor da CIA, William Burns, a Kiev. O resultado da sua viagem foi a demissão de alguns titulares de altos cargos públicos não só na Rua Bankovaia (sede da Presidência ucraniana), como também nas regiões. Vladimir Zelensky despediu o chefe adjunto do seu gabinete, Kirill Timochenko, vários governadores e procuradores regionais. Foram demitidos alguns altos funcionários de alguns Ministérios ucranianos, entre os quais o Ministério da Defesa. Todos eles são acusados de desvio e fraude com fundos públicos. Que crime de peculato e fraude, de que se está a falar? Só estas 20 ou 30 pessoas, só elas? Este esquema foi ensaiado antes de chegarem aos órgãos de poder, quando, num lapso de uma semana, os fundos enviados à Ucrânia por países ocidentais acabaram depositados nos mesmos bancos. Foram à Ucrânia e regressaram às contas de origem ou às contas vizinhas. E todos sabiam muito bem disso. Contámos repetidamente que grandes empresários especializados em vender artigos de luxo tinham um "cronograma de ajuda à Ucrânia" elaborado pelas instituições financeiras do mundo. Assim que uma nova tranche de ajuda financeira chegava à Ucrânia, representantes do "beau monde" ucraniano vinham à Europa para comprar artigos de luxo. Ninguém o escondia. A bem da verdade, naquela altura não havia tantos danos causados pelo regime de Kiev ao seu país e ao seu povo. Agora a situação é um pouco diferente. No entanto, os montantes envolvidos em desvios também aumentaram.

Entretanto, este escândalo de corrupção (um grupo de 20 a 50 pessoas que impediam que o regime de Kiev se tornasse "limpo e transparente" foi expulso) não afetou os planos dos EUA de apoiar financeiramente o regime de Kiev. O seu apoio continuará, mas talvez sob uma fiscalização mais rígida por parte dos EUA, o que lhes dá novas alavancas de ação sobre o já submisso regime ucraniano. Isto é muito necessário no período pré-eleitoral para mostrar que mantêm o "dedo no pulso". A bem da verdade, o pulsar da vida ali não se sente mais, mesmo assim continuam a manter o dedo no pulso.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, fez uma outra invetiva antirrussa. Em artigo publicado recentemente no jornal Politico, o responsável comenta as lições das negociações com a Rússia usando como exemplo o processo de Minsk. Tremenda mentira. Entremeia as suas declarações demagógicas com as alegações de que "a Rússia não estaria a fazer um jogo limpo", a "simular a diplomacia" e a não honrar os seus compromissos. É uma mentira absoluta. A questão é saber por que razão o periódico não qualifica estas afirmações como falsificação deliberada. Dmitro Kuleba instou a não permitir a repetição dos "erros de Minsk", que, na sua opinião, deveriam "servir de exemplo de como não se deve negociar com a Rússia". Isto depois da ex-Chanceler alemã, Angela Merkel, ter dito que, para eles, os acordos de Minsk eram uma oportunidade de dar tempo ao regime de Kiev para se reforçar. Isto faz lembrar uma situação em que os carros de combate serão enviados em grande número enquanto os instrutores serão enviados em número ainda maior. Ao mesmo tempo, dizem que não são parte no conflito e que estão apenas a ajudar a Ucrânia. O mesmo se verifica neste caso. Não quiseram cumprir um único ponto dos acordos de Minsk, mas estão a culpar-nos a nós, não escondendo sequer o facto de que não tinham a menor intenção de os cumprir. Dizem coisas cada vez mais novas sem se lembrar do que disseram há apenas um mês.

Para o ministro ucraniano, qualquer acordo hipotético com Moscovo teria apenas um resultado - "uma guerra ainda mais sangrenta".

Tais afirmações não são mais do que uma tentativa de pôr os factos de cabeça para baixo. Recorde-se que, durante oito anos, o regime de Kiev negociou em Minsk (para a informação de Dmitro Kuleba) com o Donbass e não com a Rússia (assim diz o texto assinado, entre outros, pelo Presidente Petro Poroshenko e transmitido ao seu sucessor sem mais nem menos) com a mediação do nosso país e da OSCE. O texto diz exatamente isso e nada mais. Vladimir Zelensky começou a dizer que os acordos de Minsk, na forma como os recebeu, não estavam em consonância com as "tendências atuais", que ele não os havia assinado e, de facto, deveriam ser revistos.

Desde o início, a Ucrânia não tencionava observar os acordos de Minsk, como o ex-presidente Petro Poroshenko, um dos seus coautores e signatários, admitiu publicamente no ano passado (permitam-me que recorde isto para Dmitro Kuleba). Segundo ele, Kiev precisava destes acordos para se preparar para uma guerra contra a Rússia. Isso foi confirmado em dezembro passado pelos ex-líderes da Alemanha e da França, Angela Merkel e François Hollande, coautores do Pacote de Medidas de Minsk e copatrocinadores do processo de paz. Estes políticos não são mais respeitados pelos funcionários aquartelados na Rua Bankovaia? Ou não se importam mais com o que dizem aqueles que estão agora em liga com eles? Esta é uma outra referência à necessidade de se identificarem e se lembrarem do que dizem uns dias antes.

Portanto, as alegações de Dmitro Kuleba de que a "Rússia estaria a fazer um jogo desleal, a simular a diplomacia e a não honrar os seus compromissos" descrevem claramente as posições do regime de Kiev, de Berlim e de Paris relativamente ao processo de negociação. Disseram-no sem rodeios.

Fomos nós que dissemos, durante oito anos, que era necessário implementar os acordos de Minsk porque precisávamos deles em segundo lugar. A Ucrânia precisava deles em primeiro lugar. Estes acordos eram uma garantia da integridade da Ucrânia, da paz e da coexistência das pessoas que, durante muitos anos, foram separadas, reconfiguradas e forçadas a alterar as suas "configurações". Explicámos que os acordos de Minsk eram necessários, relevantes e úteis à Ucrânia. Não impusemos nada a ninguém à força. Foi o resultado de um processo de negociação e de compromissos das partes negociadoras. Corremos atrás de todos para lhes dizer que isto era precisamente o que se poderia tornar um verdadeiro milagre, o que evitaria a degradação da situação e levaria a Ucrânia realmente à categoria de democracias livres.

Lembram-se de como escarneciam do termo "federalização"? Lembramo-nos muito bem disso. Citámos como exemplos a Suíça e o Canada. Não quiseram ouvir nada, dizendo que tinha o seu próprio caminho a seguir. Washington disse-lhes que eles eram especiais, diferentes, pelo que deveriam seguir o seu próprio plano. "Não cumpram os acordos de Minsk", diziam-lhes sempre os norte-americanos. Muitas publicações escreviam na altura que os EUA se opunham aos acordos de Minsk de todas as maneiras porque não faziam parte do formato Normandia e gostariam de lá estar. E não adianta fingir-se que não se pode chegar a acordo com Moscovo.

Deixem-me lembrar a Dmitro Kuleba (talvez, da próxima vez, ele se lembre, pelo menos, das publicações que dão espaço à sua "obra" ou lhe fazem perguntas) os acontecimentos de abril de 2022. Estou curiosa para saber se ele ainda se lembra daqueles acontecimentos ou os apagou da sua memória como "informação desnecessária e incomodante". Em abril de 2022, foi ele, na condição de representante do regime de Kiev, e o gangue da Rua Bankovaia que se recusaram a continuar as negociações de que eles próprios falaram.

Garanto que, passado algum tempo, eles dirão, como fizeram no caso dos acordos de Minsk, que foi Moscovo que se recusou. Que diferença é que isso faz? Agora é permitido mentir. É agora a marca registada do "Ocidente coletivo" dizer inverdades e fingir que esta é a verdade de última instância. Por muito que lhe peçamos para se lembrarem das suas declarações anteriores e dos documentos por eles assinados, eles dizem a mesma coisa: "temos de pensar no futuro e olhar em frente. Não devemos viver no passado". Como a inesquecível Liz Truss costumava dizer, em breve, saberemos que o regime de Kiev foi novamente enganado, que ele queria negociações, mas por alguma razão, ninguém atendeu ao seu pedido. Garanto, dentro em breve ouvirão eles dizer que eles "sempre foram pela paz e pelas negociações".

É agora que lhes mostraram tanques que eles dizem que tudo deve ser resolvido "no campo de batalha". E quando tudo "for resolvido", eles (aqueles que conseguirão sobreviver) explicarão às suas gerações futuras que queriam muito a paz, negociações, imploraram por uma solução diplomática, mas tiveram todos os seus pedidos negados. Assim será, verão.

Ultimamente, a população das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e das Regiões de Kherson e de Zaporojie da Rússia assistiu a uma intensificação da propaganda do regime de Kiev. As autoridades ucranianas lembraram-se subitamente dos milhões de pessoas que lá vivem e tentam atraí-los para o seu lado, usando para o efeito os recursos mediáticos. Durante oito anos, descreveram-nas como "não-humanos", ou "espécimes", aconselhando-as a fazer as malas e ir para a Rússia, e agora lembraram-se dos seus ex-cidadãos. Lembre-se do que disse sobre elas Petro Poroshenko: aqueles que estavam sob o regime do regime de Kiev (e, portanto, do Ocidente) iriam frequentar escolas, universidades enquanto aqueles que estivavam nas regiões acima citadas viveriam em caves. Como se costuma dizer, os sonhos tornam-se realidade. Houve um pequeno "ajustamento".  Agora, como Petro Poroshenko assustou o povo do Donbass, eles vivem noutras regiões da Ucrânia. Mas estes eram os sonhos do regime de Kiev. Era o que ele queria. Eles tinham um plano de paz em cima da mesa. A Rússia estendeu-lhes uma mão amiga e paciente para ajudar, como sempre tinha ajudado. Mas tinha-lhes sido dito que "tinham uma opinião alternativa" e que nenhum "Plano Minsk" era do seu interesse. O Ocidente tinha prontos outros planos para o regime de Kiev.  

É de salientar que esta "preocupação" ostensiva do regime de Kiev com a população é acompanhada por incessantes bombardeamentos de cidades e aldeias que matam e ferem civis inocentes que pertencem a esta população.

Segundo as autoridades competentes das novas regiões russas, desde fevereiro de 2022, as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk foram bombardeadas pelas Forças Armadas ucranianas quase 16.000 vezes. Foi assim que eles "se preocuparam" com os seus cidadãos? Os militares ucranianos dispararam contra eles 105.000 projéteis de grande calibre. Os ataques de artilharia contra as Repúblicas de Donetsk e de Lugansk e as áreas libertadas das Regiões de Kherson e de Zaporojie em 2022 mataram 4.574 civis, entre os quais 153 crianças, e feriram vários milhares de pessoas, entre as quais 279 crianças.

O regime de Kiev nunca precisou destas pessoas, uma vez que elas não quiseram reconfigurar-se e jurar a fidelidade ao que sempre consideraram estranho, prejudicial e mortal para si e ser "espécimes" mudas e submissos à vontade do seu patrão. O que foi que vocês disseram, durante muitos anos, sobre a liberdade e que era o regime de Kiev que conduziria a Ucrânia à liberdade? Não tem ideia do que é a liberdade. A liberdade é poder-se falar a sua língua materna, é ser-se independente das opiniões impostas e não se sucumbir à pressão quando é pressionado a esquecer-se dos seus antepassados. A liberdade não é anarquia nem massacre dos seus jornalistas, não é intimidar as pessoas, não é queimar os cidadãos do seu país com a multidão a berrar de alegria. A liberdade é a capacidade de se recusar a encarar como normal as coisas acima citadas, mesmo que se aperceba que se está a arriscar a sua vida.

Mais uma vez, o regime de Kiev nunca precisou destas pessoas como pessoas livres, como seres humanos. Era-lhe importante desestabilizar a situação social e provocar as determinações antirrussas. No entanto, estes planos não estavam fadados a tornar-se realidade. Em setembro de 2022, os habitantes destas regiões fizeram uma escolha consciente e livre a favor da Rússia (não é a primeira vez!). A primeira vez foi em 2014. Em 2022, foi feito novamente. O período entre 2014 e 2022 não foi um período de espera lânguida em que esta gente esperava que a situação voltasse ao normal. Este foi um período de luta por decisões de princípio que foram tomadas de acordo com as leis ucranianas, as normas do direito internacional, da consciência e da honra. Em setembro de 2022, os habitantes daquelas regiões fizeram uma escolha consciente e livre a favor da Rússia, sabendo que esta seria capaz de os proteger bem das ações dos neonazis ucranianos.

Alguns políticos perguntam, rindo-se: onde estão os nazis na Ucrânia? Têm suásticas tatuadas? Não se preocupem, são erros de juventude. Temos ouvido regularmente estas declarações. Dizem que estão a glorificar algumas personagens históricas? Isto porque, entre outras coisas, elas "amaram" a Ucrânia de forma peculiar.

Recentemente li uma notícia (daremos com certeza mais alguma informação sobre o assunto) sobre como as autoridades da cidade de Lviv mandaram emitir selos que glorificam a divisão da Waffen SS Galizien. Quem ainda não os viu, dê uma vista de olhos. São selos de correio oficiais. Ostentam um uniforme SS. Agora estamos em 2023. Isso correu nestes dias.

Falaremos ainda sobre isto no contexto do facto de muitos países celebrarem o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto criado por uma resolução da Assembleia Geral da ONU. Enquanto isso, a cidade de Lviv emite selos em que aparecem personagens históricas da divisão da Waffen SS Galizien fardadas de uniforme que foi amaldiçoado, anatematizado e condenado durante os Julgamentos de Nuremberga.

Estes factos confirmam que o "Ocidente coletivo" está determinado a confrontar a Rússia e não conhece limites morais. Se considerar necessário mentir, vai mentir, se julgar necessário fornecer armas para fazer escalar o conflito, vai fornecer armas, se considerar necessário matar mais pessoas, falá-lo-á. Para eles, isso é normal, é o que deve ser, porque eles são um "belo jardim" enquanto todos os outros são uma "selva".

No entanto, por muito que os Estados Unidos e os seus aliados tentem armar o regime de Kiev, prolongar o conflito e fazer vista grossa aos seus crimes atrozes, não terão êxito.

 

Sobre o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

 

No dia 27 de janeiro de 1945, ou seja, há 78 anos, as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração nazi de Auschwitz-Birkenau. Em 2005, através de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, da qual o nosso país, a Rússia, foi um dos coautores, este dia foi declarado Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

A maior tragédia militar da história da civilização, a Segunda Guerra Mundial, trouxe um sofrimento sem precedentes à humanidade, sendo o Holocausto uma das suas páginas mais tristes.

Faz parte da Segunda Guerra Mundial. Devido às suas proporções e brutalidade, o Holocausto está entre os piores crimes de lesa-humanidade. Hoje, 78 anos após o fim da guerra, ainda sentimos uma profunda dor pelos milhões de pessoas que sofreram o inferno dos campos de concentração e guetos nazis: judeus, ciganos, eslavos. A memória das vítimas e daqueles que libertaram o mundo da praga do nazismo, dando as suas vidas, deve permanecer sagrada e ser transmitida de geração em geração.

Nos últimos anos, temos assistido cada vez com maior frequência às manifestações de antissemitismo, intolerância racial e nacionalismo agressivo. Temos registado a intensificação das tentativas de divulgar as ideias misantrópicas, das atividades de extremistas de toda a espécie e das tentativas de dividir os países e as sociedades por motivos étnicos ou religiosos. Tudo isto ameaça os princípios fundamentais da democracia e dos direitos humanos na sua melhor e verdadeira acepção, da segurança e da estabilidade internacionais. Esquecer as lições de história pode provocar uma repetição das tragédias.

Estamos a ver isso. Naquela altura havia câmaras de gás, nos nossos tempos houve um incêndio na Casa dos Sindicatos de Odessa. O significado é o mesmo: destruir os dissidentes da forma mais brutal possível, regozijar-se com a sua façanha e não se arrepender. Verifica-se o mesmo passados 78 anos desde que os soldados do Exército Vermelho libertaram o campo de concentração de Auschwitz e o mundo viu a máquina da morte.

Desde então, a humanidade fez muitos filmes de suspense, de terror. Hollywood mostrou maravilhas de engenho: fatos, efeitos especiais, maquilhagem, mas nada se pode comparar em poder de influência com as fotografias do que os soldados do Exército Vermelho viram em Auschwitz. Deem uma vista de olhos. Coloquem-nas na mesa à sua frente, falem com as suas famílias, com os seus filhos, contem-lhes sobre isso. Afinal, não é só o país e o governo que deveriam falar sobre estes tópicos. Algo deve mexer-se algures no nosso íntimo, onde, dizem, está a nossa alma. Algo deveria estimular-nos a fazer isso agora, neste dia. Há muitos outros dias para isto, mas vamos apenas recordar e falar sore isso humanamente, sem política, sem tomar posições, apenas lembrando, como isso ocorreu há 78 anos.

É nosso dever comum fazer tudo para garantir que crimes como os que acabei de mencionar nunca mais voltem a acontecer. Temos de guardar a memória sagrada dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, opor-nos firmemente a quaisquer tentativas (que estão a ser feitas) de reescrever a história, rever a contribuição do nosso país para a Grande Vitória e defender a honra, dignidade e bom nome dos vivos e dos tombados.

Acredito sinceramente que a memória daqueles que deram as suas vidas por aqueles que foram submetidos a tratamentos degradantes não merece menos honra.

O trabalho sistemático para combater a glorificação do nazismo deve continuar a ser uma prioridade importante na agenda internacional. A Rússia continuará a opor-se ativamente à revisão dos resultados da Segunda Guerra Mundial e a opor-se ao neonazismo, ao extremismo e à intolerância religiosa.

 

Sobre atividades durante a Semana da Memória das Vítimas do Holocausto

 

Gostaria de mencionar algumas atividades previstas no nosso país por ocasião do Dia 27 de Janeiro.

De 16 a 31 de janeiro, está a decorrer em Moscovo e nas regiões da Rússia um ciclo de eventos anuais por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto assinalado a 27 de janeiro e da libertação do campo de concentração de Auschwitz pelo Exército Vermelho a 27 de janeiro de 1945.

Este ano, o evento oficial mais importante será a inauguração da exposição de documentos históricos sob o lema "Holocausto: Destruição, Resistência, Salvação" preparada pelo Centro "Holocausto" na Duma da cidade de Moscovo em cooperação com o Congresso Judaico Russo (RJC). O evento terá lugar a 27 de janeiro.

O evento principal é uma noite comemorativa intitulada "O Guardião da Memória" teve lugar ontem, a 26 de janeiro, no Teatro Musical Stanislavski e Nemirovich-Danchenko.

O evento central foi a exibição e discussão do documentário animado "263 Noites". Exibida na Casa dos Povos da Rússia no dia 25 de janeiro, a película conta a história dos 26 judeus do Gueto de Minsk a escaparem milagrosamente ao Holocausto.

Como já é tradição, as escolas da maioria das regiões da Rússia terão lições dedicadas a este tema. De acordo com a carta dirigida ao Congresso Judaico Russo, "em conformidade com o conceito de ensino da disciplina «História da Rússia" nos estabelecimentos de ensino da Federação da Rússia e o currículo preliminar de ensino secundário geral, o Holocausto é um tema obrigatório para o estudo", recordou o Ministério da Educação da Federação da Rússia.

Durante a "Semana da Memória", uma ação internacional intitulada «Lembramo-nos" terá também lugar em redes sociais, unindo aqueles que se opõem a todas as formas de xenofobia.

"A Semana da Memória" realiza-se na Rússia a nível nacional desde 2015. Em 2022, mais de mil eventos comemorativos, culturais, educativos e de esclarecimento foram realizados em 82 regiões da Rússia.

 

Sobre o pedido do MNE holandês à Embaixada russa em Haia para se abster de participar em eventos dedicados ao Holocausto

 

Muitos países, entre os quais os Países Baixos, realizam hoje, dia 27 de janeiro, eventos por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Infelizmente, os Países Baixos que estão na vanguarda em "iniciativa" antirrussas e anti-históricas, decidiram reformatar a verdade histórica.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros local exigiu que a Embaixada russa se abstivesse de participar numa cerimônia comemorativa prevista pelo Comité Auschwitz local para o dia 29 de janeiro em Amsterdão. Mais do isso, as autoridades locais decidiram pressionar os organizadores do evento a retirarem o convite enviado aos diplomatas russos.

Um convite semelhante tinha sido enviado à nossa Embaixada pelo Centro Cultural Judaico de Yiddishism de Haia e foi também retirado a pedido das autoridades locais feito ao telefone.

Por muito que as autoridades neerlandesas tentem nos assegurar de que os Países Baixos se lembram do papel decisivo da União Soviética na derrota da Alemanha de Hitler e na libertação da Europa do nazi-fascismo, os factos dizem o contrário. O que mais querem falsificar? Querem dizer que não foi o Exército Vermelho que libertou o campo de concentração de Auschwitz? Até onde querem ir? Pergunto eu quem é que então o fez: uma inteligência alienígena, representantes de outros continentes que, de repente, vieram e libertaram o campo? O que é que mais podem inventar para impedir que o país que tem tentado defender, durante décadas, a memória dos heróis que libertaram o campo de concentração de Auschwitz participe nos eventos comemorativos?

Uma pergunta para os Países Baixos e para os funcionários, o Ministério dos Negócios Estrangeiros neerlandês: digam-me, se são tão resolutos nas suas avaliações, já alguma vez, apenas uma vez, se pronunciaram contra a demolição de monumentos e a vandalização dos túmulos daqueles que libertaram estes campos de concentração? Terão dito alguma vez aos seus vizinhos na Europa, na UE e na NATO que é inadmissível distorcer a história, zombar da memória dos mortos que deram as suas vidas para libertar aqueles que ali foram martirizados? Em nenhum momento. Nem uma única vez. Penso que eles não sabem que um "furacão" atingiu a Europa, derrubando estes monumentos, furacão político e não natural.

Pensem sobre isso. Quando já quase não há pessoas que tenham participado nesses acontecimentos e que possam defender a verdade por serem testemunhas, as autoridades dos Países Baixos consideraram "inapropriado" homenagear os soldados do Exército Vermelho que libertaram os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz e de outros campos por razões políticas. Isto não é mera inverdade, traição ou blasfémia. É uma perversão da essência da nossa civilização, um golpe nos seus alicerces. Depois disso, não dá jeito perguntar: em que acreditam então? Acontece que esta campanha pouco decorosa de reescrever a história da Segunda Guerra Mundial, que faz parte deste bacanal político, já está a envolver o Ministério dos Negócios Estrangeiros neerlandês.

Ao longo dos anos vimos como várias capitais europeias mancharam a memória dos libertadores que haviam dado as suas vidas para libertar a Europa do nazi-fascismo, glorificaram os criminosos de Hitler e os seus cúmplices como Stepan Bandera e Roman Shukhevich, tentaram deliberadamente distorcer a verdade sobre quem havia aberto as portas da fábrica de morte nazi em Auschwitz e havia dado ao mundo outra oportunidade de sobrevivência e esquecer-se dos 27 milhões de soviéticos que morreram durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi esta negligência histórica criminosa que, em muitos aspetos, prefigurou os acontecimentos de hoje. A revisão da história fez com que as suas lições, heróis e anti-heróis fossem relegados ao esquecimento.

O nosso dever é guardar a memória das vítimas desses terríveis acontecimentos, homenagear aqueles que deram as suas vidas para libertar o mundo dos seus horrores. Sempre o afirmámos e continuamos a afirmá-lo. Não foi hoje que assumimos esta posição.

 

Sobre a detenção do editor-chefe do portal Sputnik-Litva na Letônia

 

Recorde-se que o regime letão tem perseguido, durante muitos anos, Marat Kasem, editor-chefe do portal Sputnik-Litva, por razões de atividade profissional. Estamos a fazer os possíveis para o tirar da prisão letã. Ninguém que compreenda do que estamos a falar se pode contentar com outra coisa que não seja a libertação de Marat Kasem e a retirada de todas as acusações falsas que lhe foram imputadas. Na semana passada, a sua advogada disse que o tribunal de Riga se recusou a deferir o seu pedido de libertação, dizendo que a sua decisão era transitada em julgado e, portanto, não era passível de recurso no país. Estamos a assistir a mais uma manifestação das arbitrariedades da máquina punitiva letã que está a ajustar contas com um jornalista que não quer trair as suas convicções. Não há outra palavra para designar isso.

A verdadeira natureza do Estado letão revela-se com toda a clareza se nos lembrarmos de como a detenção do jornalista ocorreu. O serviço de segurança letão não deixou de tirar partido da vinda de Marat Kasem a Riga para visitar a sua avó doente. Ela morreu. Imediatamente após a morte da sua avó Taissia que não podia suportar a notícia da sua prisão, Marat Kasem passou mal, o que, no entanto, não levou a justiça letã a mostrar ... não digo misericórdia. O que é que isso tem a ver com isto? Existe uma lei, e existem normas que os países bálticos referem constantemente em todos os lugares como sendo os seus principais objetivos. Poderia ter sido uma boa oportunidade de provar que a democracia não é uma concha vazia, nem uma forma de gestão política destes países exercida por Washington. As condições em que o jornalista é mantido e o desrespeito pelos compromissos de prestar cuidados médicos atempados demonstrado pelas autoridades letãs permitem qualificar o seu comportamento como desumano que beira a tortura.

Exigimos a libertação imediata de Marat Kasem e instamos todos os organismos internacionais especializados a reagirem a esta flagrante violação das obrigações em matéria de direitos humanos por parte de Riga.

 

Sobre o aniversário dos acontecimentos de Racak de 1999

 

Outro tópico "curioso". Podem ver como o "Ocidente coletivo" intensifica os seus ataques contra o país de que, como diz, gosta cuida e quer "incluir", o mais rapidamente possível, nas suas fileiras. Todavia, não inclui e faz o contrário. Estou agora a falar da Sérvia.

Estamos a assistir a outra onda de propaganda anti-sérvia nos meios de comunicação social ocidentais e balcânicos por causa do aniversário dos acontecimentos que tiveram lugar no auge do conflito do Kosovo, na aldeia de Racak. Algo semelhante ao que está agora a acontecer em torno da Ucrânia: os mesmos métodos, as mesmas técnicas: a verdade é banida e substituída pelas mentiras que são feitas passar por verdade.

Recorde-se que, a 15 de janeiro de 1999, a polícia sérvia foi alvejada quando tentava capturar um grupo de terroristas do Exército de Libertação do Kosovo. Atuando em plena conformidade com a lei, os polícias sérvios abriram fogo em resposta aos disparos e mataram dezenas de terroristas.   Contudo, o chefe da missão da OSCE para a verificação no Kosovo, o norte-americano William Walker, teve uma hipótese do "criativa" do que aconteceu, segundo a qual os bandidos albaneses "subitamente" se transformaram em "civis" e os polícias sérvios, em "assassinos implacáveis", que mataram alegadamente os civis inocentes.

Essa falsificação foi usada para fazer dos polícias sérvios criminosos de guerra. Que coisas parecidas, só que as proporções e os meios técnicos são diferentes. De resto, a mesma coisa: traição e engano. Os sérvios foram acusados de crimes de guerra e começaram a ser transformados num objeto de censura total. Em poucas horas, esta interpretação distorcida foi tomada, como se fosse por ordem de alguém, pelas maiores agências noticiosas mundiais e tornou-se, como dizem, universalmente aceite no Ocidente, e certamente não sujeita a dúvidas nem críticas. Foi lançado um trabalho de tratamento da opinião pública mundial para justificar os planos de agressão da NATO contra a Jugoslávia que foi atacada dois meses mais tarde. Um esquema clássico. Mais tarde, este mesmo esquema seria usado conta o Iraque. Primeiro, seria exibido um frasquinho de vidro, depois começariam os bombardeamentos e os anos de ocupação. Washington precisava desesperadamente de um pretexto para intervir militarmente no país e o pretexto, como sempre, foi encontrado.

O "massacre de Racak" está tão longe (na versão apresentada pela propaganda ocidental) da realidade que até o Tribunal Internacional para a ex-Jugoslávia, por mais antissérvio que fosse, não encontrou uma base probatória para responsabilizar penalmente ninguém por este episódio. Em 2006, a Câmara de Julgamento do Tribunal proibiu a divulgação de provas relativas àquele incidente.

O caso do grupo de peritos forenses da União Europeia chefiado pelo finlandês H. Ranta é também revelador. O seu relatório enviado ao Tribunal ainda não foi tornado público. Porque não o divulgam? A razão deve ser a mesma do caso do envenenamento de Aleksei Navalny e utilização do agente Novichok, do que a Rússia é acusada. Não recebemos resposta a nenhum dos nossos pedidos formulados e entregues oficialmente pela nossa justiça e pelas nossas missões diplomáticas a vários países para nos esclarecerem o que realmente aconteceu. A mesma coisa. Não recebemos nenhuma informação.

Querem que eu lhes recorde os incidentes nos Nord Streams? O mundo ficou a saber, praticamente em direto, que a infraestrutura civil destinada a fornecer recursos energéticos à Europa foi dinamitada. E daí? A Rússia foi afastada da investigação internacional a pretexto de eles precisarem de chegarem à verdade por si próprios.

E o caso do Boeing malaio? Houve algo diferente depois de a aeronave ter sido abatida no espaço aéreo da Ucrânia? Lembram-se? Quem não foi chamado lá? Não só a Rússia, como até a Malásia não foi convidada a participar na investigação. Levou um mês para que lhe fosse permitido investigar o que lá aconteceu. Estranho, o Boeing era malaio e a Malásia foi barrada. Como podia isto ser? Aqui está um exemplo. Existe um relatório, um laudo pericial elaborado pela comissão internacional criada para investigar estes crimes. No entanto, este relatório não chegou a ver a luz do dia. Qual é o problema? Ainda não passaram anos suficientes? Vocês querem fazer com que, tal como no caso da Segunda Guerra Mundial, gerações de testemunhas tenham desaparecido e depois seja possível interpretar o caso a seu bel-prazer porque as pessoas que assinaram os documentos e os próprios peritos forenses não serão capazes de responder a nenhuma pergunta porque não estarão vivos? É isto que vocês estão a esperar? Esta sua tática é bem conhecida.

Por sua vez, após vários anos de silêncio, a chefe do grupo admitiu que, durante a elaboração do documento, foi pressionada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros finlandês e o referido William Walker, que ficou furioso (literalmente: quebrou e atirou-lhe um lápis) quando ela se recusou a incluir no relatório as conclusões por ele apresentadas e destinadas a denegrir os sérvios. É por isso que não vemos estas conclusões nem relatórios forenses do Tribunal para a ex-Jugoslávia. É por isso que o público acredita nos produtos de Hollywood e nos materiais de " investigações documentais" exibidos pelas cadeias de televisão norte-americanas. Na realidade, tudo é mais simples: deixem-nos ver estes documentos. Basta torna-los públicos.

Hoje William Walker é uma pessoa bem-vinda para os albaneses e um convidado de honra em Tirana e Pristina. Na Albânia, foi agraciado com uma ordem, no Kosovo foi chamado "embaixador da verdade". Tem no prelo um livro sobre "massacre" em Racak, atribuindo-lhe para o efeito os kosovares gratos 70 mil euros recebidos da "cidadela da verdade" para gastarem a seu critério com a publicação de tais materiais.

Mas quem está realmente à nossa frente? Um provocador cínico, que abusou do estatuto de representante da OSCE e usurpou o direito exclusivo de interpretar os acontecimentos, tendo declarado arrogantemente que o mundo iria acreditar nele e não nos factos objetivos. Ele continua a desculpabilizar publicamente os líderes do Exército de Libertação do Kosovo (ELK) e a atribuir a culpa pelos crimes de guerra no Kosovo unicamente aos sérvios.

William Walker não só violou deliberada e grosseiramente o mandato de observador internacional, como também mostrou ao mundo os métodos utilizados pelos norte-americanos para falsificar factos e distorcer a realidade.

Todos pensávamos (penso eu, o mundo inteiro) que, após a Guerra Fria e o confronto de sistemas, quando os países declararam em voz alta que queriam iniciar uma nova era de paz, confiança, igualdade, não-conflito e abandono da prática de provocações, ninguém mais precisaria destes métodos e que estes métodos não passariam de um vestígio das hostilidades do período da Guerra Fria. O mundo errou.

Na década de 1980 houve, de facto, uma oportunidade de "reinício" das relações. No entanto, o "reinicio" não passou da mera retórica. Teve várias fases: apertos de mãos, trocas de sorrisos e oferecimento do "botão de reinício". Todo o mundo pensou que, quando Hillary Clinton ofereceu a Serguei Lavrov uma caixa com um botão onde se deveria ler "botão de reinício" e se lia 'peregruzka' (sobrecarga), que foi um acidente. Acontece que era uma profecia.

Infelizmente, estas anti-tradições ocidentais ainda se mantêm: um roteiro semelhante tem sido apresentado na Ucrânia diante dos nossos olhos. A provocação de Racak ficará para sempre como mancha na reputação dos Estados Unidos e dos seus aliados, como manifestação de serviofobia patológica. Nem a Rússia nem a Sérvia se esquecerão disso.

 

Sobre a revogação da reabilitação criminal dos criminosos de guerra japoneses

 

Sobre o prazo de prescrição. Gostaríamos de atualizar sobre o tema dos crimes do militarismo japonês durante a Segunda Guerra Mundial, que, como temos repetidamente sublinhado, não têm prazo de prescrição. Os procedimentos nesta área prosseguem com vista a punir todos os responsáveis.

A Procuradoria-Geral da Federação da Rússia notificou oficialmente S. Akikusa, R. Sejima e T. Mineki, de nacionalidade japonesa, das decisões emitidas em 2022 para revogar a sua reabilitação criminal. Os três chefiaram a inteligência militar japonesa durante a guerra e estiveram envolvidos em atividades subversivas contra a União Soviética.

As instâncias de cassação e de fiscalização reviram as respetivas decisões judiciais e determinaram que a reabilitação não pode ser concedida aos nacionais do Japão em questão e que a sua culpa tinha sido totalmente provada.

 

Sobre a situação em torno do Centro Russo de Ciência e Cultura em Berlim

 

As autoridades da Alemanha continuam a seguir a sua política antirrussa (a Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse que eles estão em guerra contra nós) começaram a tomar medidas para restringir as atividades do Centro Russo de Ciência e Cultura em Berlim. Em dezembro passado, as suas contas em bancos alemães foram congeladas. A 20 de janeiro deste ano, soube-se que o Ministério Público alemão tinha iniciado um processo de auditoria ao Centro. Assim, o lado alemão viola flagrantemente as disposições do Acordo, de 4 de fevereiro de 2011, entre o Governo da Federação da Rússia e o Governo da República Federal da Alemanha sobre as atividades dos centros culturais e de informação. Este documento regulamenta as atividades do Centro Russo na Alemanha e do Instituto Goethe alemão na Rússia.

Fica assim clara a razão por que a Ministra alemã disse que o seu país estava em guerra contra a Rússia. Este não é um bom momento para tratar da cultura. O lado alemão deve compreender que, se a situação em torno do Centro Russo de Ciência e Cultura em Berlim não voltar ao normal, a retaliação contra as filiais do Instituto Goethe em Moscovo, São Petersburgo e Novosibirsk não se fará esperar.

Parece-me que o embaixador alemão na Rússia deve ter algo a dizer para responder às perguntas que estão a ser feitas aqui e ali sobre a posição oficial de Berlim. Não estou a perguntar quem toma decisões em Berlim. Isso já foi dito oficialmente. Esperamos que o embaixador alemão na Rússia nos explique a posição do seu país nesta questão. Ontem, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão começou a publicar algo mais. Todavia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão é uma estrutura subordinada à Ministra dos Negócios Estrangeiros alemão. Como pode isto ser? A Ministro diz uma coisa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, outra. Por outro lado, vemos muitas coisas semelhantes no Ocidente. Por isso, gostaríamos de ouvir explicações oficiais do embaixador alemão na Rússia.

 

Sobre a recusa de embarque aos russos que viajam para países terceiros através dos aeroportos de Istambul

 

Têm sido frequentes ultimamente os casos de recusa de embarque aos russos, que viajam para países terceiros através dos aeroportos de Istambul, em voos operados pela Turkish Airlines e companhias aéreas europeias (KLM e Lufthansa). De acordo com informações recebidas pelo Consulado Geral da Rússia em Istambul, as dificuldades surgem, apesar de haver todos os documentos necessários, principalmente devido às decisões das autoridades do país de trânsito (na maioria dos casos, no aeroporto alemão de Frankfurt e no aeroporto de Amesterdão) ou do país do destino final que se norteiam, como se informa, por instruções internas e documentos regulamentares.

A este respeito, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia lembra aos cidadãos russos que devem contactar a transportadora aérea antes da partida para obterem confirmação da sua disponibilidade para lhes permitir embarcar em toda a rota e, se necessário, pedir consulta às representações dos países de trânsito ou do destino na Rússia, se existem obstáculos aos voos/entradas em trânsito nestes países.

 

Sobre o 25º aniversário do Acordo sobre a Estação Espacial Internacional

 

Temos uma data menos triste. O dia 29 de janeiro deste ano marca o 25º aniversário da assinatura do acordo intergovernamental entre a Rússia, os Estados Unidos, os Estados membros da Agência Espacial Europeia, o Canadá e o Japão sobre a criação da Estação Espacial Internacional (ISS). Apenas alguns meses após este acontecimento marcante, o nosso país colocou em órbita o bloco Zarya, o primeiro elemento da Estação.

Passados 25 anos, a ISS continua a ser o maior projeto multinacional de atividades espaciais. As suas capacidades como laboratório científico único permitem resolver uma vasta gama de tarefas científicas e aplicadas no interesse de toda a humanidade. A Rússia continua a desempenhar um papel fundamental no programa da ISS.

A nossa experiência adquirida durante os anos de operação bem-sucedida da ISS fornece uma boa base para o desenvolvimento de uma cooperação mutuamente benéfica e igual no espaço com todos os parceiros interessados.

 

Sobre reuniões de política externa em homenagem a Vitali Churkin

 

No período de 20 a 22 de fevereiro, realiza-se em Moscovo o primeiro Fórum da Juventude "Reuniões de Política Externa em homenagem a Vitali Churkin", organizado pela Fundação Aleksandr Gorchakov de Apoio à Diplomacia Publica".   O projeto visa preservar a memória de Vitali Churkin, aplicar na prática o seu legado de política externa, bem como desenvolver atividades de investigação de jovens cientistas e preservar as relações científicas entre universidades e centros de análise. O evento reunirá jovens especialistas em assuntos internacionais com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos provenientes da Rússia e de outros países. O programa incluirá reuniões com estadistas e destacadas personalidades públicas, palestras, mesas redondas, painéis de discussão e uma parte interativa.

As inscrições estão abertas até ao dia 29 de janeiro.

Aconselho aqueles que ainda não tiveram oportunidade de ler as memórias de Vitali Churkin escritas durante a sua vida e publicadas após a sua morte a lê-las. Será de interesse para aqueles que escolheram a diplomacia como sua profissão, para os historiadores e para o público em geral.

 

Sobre o 80º aniversário do fim da Batalha de Estalinegrado

 

A 2 de fevereiro de 1943, a Batalha de Estalinegrado terminou, mudando a história e virando a maré da Segunda Guerra Mundial. É uma outra referência à questão dos tanques de guerra, não àqueles que atuam num jogo cibernético, mas aos tanques alemães que atuaram na história. No final de janeiro de 1943, o agrupamento alemão de mais de 330 mil efetivos ficou preso, após violentos combates, num pequeno território nas ruínas de Estalinegrado e foi completamente destruído a 2 de fevereiro.

A Batalha de Estalinegrado foi uma brilhante prova da coragem, firmeza e do espírito de sacrifício de todos os povos da URSS que fizeram abortar os planos criminosos e misantrópicos dos nazis, prevenindo uma catástrofe global. Em homenagem à defesa heroica da cidade, o governo soviético criou, a 22 de dezembro de 1942, a Medalha de Defesa de Estalinegrado que foi atribuída a mais de 700 mil soldados. Cento e doze militares receberam o título de Heróis da União Soviética.

A proeza dos soldados soviéticos causou uma reação arrebatadora no estrangeiro, reforçou o prestígio internacional do nosso país. A 5 de fevereiro de 1943, três dias após o fim da Batalha de Estalinegrado, o Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, chamou-lhe luta épica, cujo resultado decisivo foi celebrado por todos os norte-americanos. Numa carta que enviou mais tarde a Estalinegrado em nome do povo norte-americano, sublinhou que a "força de espírito e abnegação" dos corajosos defensores da cidade "inspirará para sempre o coração de todos os homens livres".

Gostaria de aconselhar a todos aqueles que, alguma vez, estarão na cidade que defendeu a nossa Pátria, a história futura do nosso país e para sempre gravou o seu nome na história (a cidade mudou de nome várias vezes, não obstante, todos sabemos de que cidade estamos a falar), a passear por todos os lugares associados a esta batalha: museus, monumentos. O grande feito teve reflexos nestes fantásticos e inesquecíveis monumentos, esculturas e complexos memoriais. Verão que a história pode ganhar vida desta forma.

A 21 de fevereiro de 1943, o Rei George VI da Grã-Bretanha enviou uma mensagem a Mikhail Kalinin, Presidente do Presídium do Soviete Supremo da URSS, em que assinalou: "Hoje eu e o meu povo juntamo-nos aos povos da União Soviética em sincera homenagem às qualidades heroicas e à magnífica liderança que ajudaram o Exército Vermelho a lutar contra o nosso inimigo comum e a escrever novas páginas na história com as suas gloriosas vitórias. A resistência tenaz em Estalinegrado virou a maré dos acontecimentos e serviu de prenúncio de golpes demolidores que semearam confusão entre os inimigos da civilização e da liberdade...".

A 26 de novembro de 1943, durante a Conferência de Teerão, o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill entregou, em nome do Rei George VI e na presença do Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, a Joseph Stalin uma espada honorária, que posteriormente se tornou uma das mais famosas peças do acervo do Museu "A Batalha de Estalinegrado". Na lâmina de dois gumes, lê-se uma inscrição em russo e inglês gravada pessoalmente por Winston Churchill: "Aos cidadãos de Estalinegrado, firmes como o aço, do Rei George VI, como sinal da profunda admiração do povo britânico". Franklin Roosevelt disse após ler em voz alta a inscrição: "De facto, eles têm corações de aço".

Em conformidade com a Lei Federal nº 32-FZ, de 13 de março de 1995, "Dos Dias da Glória Militar e Datas Comemorativas da Rússia", o dia 2 de fevereiro de 1943 é celebrado como Dia da Glória Militar da Rússia. Nesse dia, o Exército Vermelho derrotou as tropas nazis na Batalha de Estalinegrado.

A 15 de julho de 2022, o Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, assinou o Decreto "Das comemorações do 80º aniversário da derrota das tropas nazi-fascistas na Batalha de Estalinegrado pelo Exército Soviético".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros soviético contribuiu para o esforço global de derrotar o inimigo, concentrando-se, desde os primeiros dias da guerra, em formar e reforçar a coligação anti-Hitler e em assegurar um fornecimento ininterrupto de material de guerra, alimentos e outros bens essenciais.

Poderão tomar conhecimento de tudo isto na exposição documental que está disponível no sítio web do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Convidamos todos os representantes dos meios de comunicação social a familiarizarem-se com esta exposição, e a contar aos seus leitores e ouvintes a verdade sobre a Batalha de Estalinegrado. Poderão ver com os seus próprios olhos documentos históricos que testemunham a coragem, firmeza e sacrifícios de todos os povos da URSS, que fizeram fracassar os planos criminosos e misantrópicos dos nazis. Este é um caminho para nós próprios. A melhor contra-ação à falsificação de informação e história.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: O Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, declarou que a NATO não é nem será parte no conflito na Ucrânia, não está a enviar tropas ou aviões para lá. Poderia comentar a sua declaração?

Maria Zakharova: O senhor disse muito bem. Já abordámos este assunto hoje na apresentação. Estou surpreendida ao ouvir algumas pessoas dizer que elas não são lado no conflito porque não irão enviar infantaria e aviões. E quanto aos carros de combate, podem enviá-los? Estou a tentar encontrar uma lógica, pelo menos o sentido primário e não o encontro, porque não existe. Repito, os tanques não andam sozinhos. São conduzidos e mantidos por seres humanos, podemos também receber sinais dos seus operadores. Não são apenas uma caixa metálica.

Tudo isto é pura hipocrisia criminosa. Não é apenas uma tentativa de desviar a atenção de uma pergunta desconfortável. É uma mentira. Temos ouvido estas declarações desde o início da atual situação na Ucrânia.

As verdadeiras ações dos ocidentais mostram o contrário. De facto, a NATO e o "Ocidente coletivo" em geral estão a usar o regime nacionalista de Kiev para lutar contra nós. É por isso que eles estão a manipular o tema das negociações de paz. Lembra-se: ou falam da paz ou da necessidade de conquistar a vitória no campo de batalha, ou novamente da paz. Mais tarde, dizem que "esta não é altura própria para negociações", depois aceitam negociar se a "Rússia parar de lutar", depois afirmam que "não aceitam negociar até os territórios ucranianos serem completamente libertados" e citam, entre outros territórios, a Crimeia. É absurdo!

Esta tática não é nova e, de um modo geral, nem sequer geopolítica. Visa simplesmente fazer com que o interlocutor perca o seu rumo e deixe de entender. Depois disso, qualquer ponto de vista pode ser "imposto» e qualquer ideia pode ser "implantada".

Vou citar um exemplo simples. Se uma pessoa se olhar durante longo tempo num espelho torto (e todos os espelhos na sua casa e no seu trabalho forem substituídos por espelhos tortos), a dada altura ela perderá completamente o sentido de si próprio, ficará habituado a ver a sua imagem distorcida e começará a perceber como algo pervertido a sua imagem refletida num espelho comum.

Os autores destas declarações tentam impor modelos inexistentes e tirar o chão factual debaixo dos pés.

Os países da NATO ajudados e coordenados pelo "Ocidente coletivo", estão a fornecer armas e material de guerra à Ucrânia, injetando no país avultadas somas dinheiro e treinado o seu pessoal militar, com o único objetivo de esta continuar a lutar militarmente contra o nosso país. A Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, declarou sem rodeios "há uma guerra contra a Rússia". Pode haver erros e lapsos, neste caso, o autor do lapso ou do erro (ou um representante seu) diz claramente que o que foi dito no dia anterior é um erro ou a sua opinião pessoal. No caso da governante alemã, isso não acontece. Vemos teses ditas adicionalmente, mas ninguém retratou a declaração principal. São as armas da NATO que estão a matar civis e a destruir as infraestruturas civis das novas regiões da Federação da Rússia. Assim, os países da NATO tornam-se, de facto, cúmplices dos crimes do regime de Kiev. Ao fazê-lo, devem lembrar-se de que estes crimes não têm prazo de prescrição. Tanto as declarações de Angela Merkel como as de Annalena Baerbock constituem uma base probatória.

Sobre se participam direta ou indiretamente no conflito. Existem factos. Antes de 2022, foi feito um ultimato à população de origem e de fala russa da Ucrânia: ou deveria renunciar à sua identidade (cultural-histórica, tradicional, linguística) e então seria poupada, ou …. Ficou claro que, nesse caso, seria aniquilada. Não posso dizer que a aniquilação moral e ideológica seja de alguma forma inferior à aniquilação física. Durante a Segunda Guerra Mundial, as pessoas foram transformadas em escravos em campos de concentração. Quantos anos foram necessários para que as vítimas da experiência nazi voltassem a perceber normalmente a si próprias, as pessoas ao seu redor e o mundo em geral?

Agora vimos a mesma coisa. As pessoas de uma certa identidade cultural e étnica foram diretamente confrontadas com uma escolha entre "reconfigurar-se" e renunciar ao seu passado a favor do seu futuro e… Depois foram-lhes oferecidas duas opções: abandonar o país ou ser alvo de medidas repressivas que o regime de Kiev, totalmente apoiado pelos seus supervisores ocidentais, escolherá. Tudo isto foi acompanhado de uma chacina praticada durante oito anos pelo regime de Kiev no Donbass. Agora o Ocidente "deu a ordem" para a aniquilação completa e não está a escondê-lo: primeiro planeia infligir uma derrota estratégica ao nosso país e depois atacar a China. Dizem isso sem rodeios e escrevem isso nos seus documentos doutrinários, fornecendo ao mesmo tempo armas. Já não se trata apenas de ameaças, mas de um plano posto em prática.

Pergunta: As autoridades moldavas afirmam que precisam de "fazer parar" a Rússia e ajudar a Ucrânia. Chegou recentemente ao país o primeiro lote de veículos blindados de transporte de pessoal alemães Piranha. As autoridades de Chisinau estão a pedir à NATO que lhes forneça sistemas de defesa antiaérea. Que impacto isso pode ter nas relações russo-moldovas?

Maria Zakharova: Comentei este assunto muitas vezes. Após o início da operação militar especial, as autoridades moldavas solidarizaram-se com o regime de Kiev e puseram em pausa o nosso diálogo político. O governo moldavo aplica, de facto, sanções antirrussas na banca e no domínio da reexportação de bens russos, apoia as iniciativas do Ocidente e do regime de Kiev antirrussas nos fóruns internacionais. Da sua retórica antirrussa nem falo. Estamos constantemente a ser forçados a responder.

A Moldávia está a estreitar a sua cooperação com a NATO, acentuando constantemente o estatuto neutro do país consagrado na sua Constituição. Em entrevista ao jornal Politico concedida a 20 de janeiro, a Presidente moldava, Maia Sandu, mencionou a "discussão séria" na Moldávia sobre a conveniência da mudança do seu estatuto neutro e a adesão a uma "grande aliança militar". Que tipo de discussão séria pode haver, Sra. Sandu, após ter mandado fechar todos os meios de comunicação social? Se houver meios de comunicação social, pode haver uma discussão. As autoridades moldovas fecham os meios de comunicação social que expressam a sua opinião. Esta não é uma discussão, mas sim propaganda.

As autoridades moldavas estão a combater as forças políticas que defendem o desenvolvimento de laços com a Rússia, a estreitar o âmbito da língua russa, a limpar o espaço de informação dos meios de comunicação social russos e de língua russa, e a glorificar os colaboracionistas e nazis romenos. De facto, estão a seguir o caminho percorrido outrora pelos países bálticos e Ucrânia sob a direção do Ocidente. Tais ações do governo moldavo causam-nos grande preocupação e têm um impacto negativo nas nossas relações bilaterais. Temos sempre dito aos nossos colegas moldavos que a "assistência" dos ocidentais se baseia unicamente nos seus interesses e nada tem a ver com os anseios do povo moldavo. Eles não se importam com isso.

A jugar pelo que estamos a ver, o "Ocidente coletivo" não "se importa" com o povo moldavo, o povo ucraniano nem com o seu próprio povo. Eles também não poupam o seu próprio povo. Não imaginam para onde o Ocidente envia sem necessidade os seus cidadãos. Apesar das tendências negativas nas políticas externa e interna moldavas, é claro, não queremos deixar de cooperar com este país. As relações comerciais e económicas, os contactos humanitários entre os nossos dois países prosseguem, as embaixadas continuam a funcionar, os acordos concluídos no âmbito da CEI continuam a vigorar.

Gostaria de salientar mais uma vez: a Rússia está aberta a uma cooperação construtiva e pragmática com a Moldávia. Deixem-me lembrar para que mais tarde ninguém possa dizer que não dissemos isso. Continuamos ainda hoje ligados ao povo deste país por uma rica história e cultura comum, tal como há décadas. Acreditamos que a nossa cooperação seria do interesse da Moldávia e do seu povo.

Pergunta: O que é que acha Moscovo da decisão dos EUA de enviar 31 tanques M1 Abrams para a Ucrânia?

Maria Zakharova: Já comentei muitas vezes este assunto hoje e vou repetir mais uma vez. As decisões (por quem quer que sejam tomadas) de fornecer tanques a Kiev indicam que o "Ocidente coletivo" está deliberadamente a fazer escalar e a aumentar as apostas no conflito na Ucrânia. É evidente que nem Kiev nem o Ocidente são a favor de qualquer acordo diplomático. A comprová-lo está a decisão legal de bloquear as negociações com a Rússia, represálias contra negociadores no país, e exigências (já não pedidos) de fornecimento de novas e novas armas, declarações de diplomatas ocidentais de que agora é a altura para soluções no "campo de batalha" e não para a diplomacia.

Os ocidentais não fazem segredo do facto de que o seu principal objetivo é infligir uma derrota estratégica à Rússia. Para alcançar este objetivo, os Estados Unidos e os seus aliados continuam a fornecer armas ao regime neonazi de Kiev e estão dispostos a sacrificar toda a Ucrânia, todos os seus habitantes, cujos interesses não são tidos em conta em Washington e Bruxelas. Vladimir Zelensky não se preocupa nada com a sua população.

Alguns me perguntam porque pensamos assim? Alegadamente, ele faz "tudo" para o bem das pessoas. Responder-lhe-ei. Vladimir Zelensky não tem experiência política. Quando decidiu candidatar-se à Presidência ucraniana, não se cansava de dizer que, se fosse eleito, seria Presidente da "paz" e que a única coisa que ele pretendia fazer era alcançar a "paz". Jurou de joelhos. É difícil dizer por que deuses estava ele a jurar naquela altura. Os seus atos levavam a crer que ele não era crente. Agora parece-me que ele é um crente, mas acredita em algumas forças do mal e forças trevosas. Havia de tudo. Foi feita uma longa-metragem. Foi elaborada a sua imagem. A população foi levada a crer que ele seria um homem "do povo" preocupado em levar à prática a vontade do povo, etc. O mais importante era produzir efeito. Naquela altura, ninguém prestou atenção, mas deveria ter prestado. Com que dinheiro tudo isto foi feito? Quem esteve por detrás disto? Que tecnologias foram usadas? Ele enganou a sua população de um modo tão cruel que ninguém, penso eu, enganou na história recente.

Se ele enganou naquela altura, pode alguém acreditar nele quando diz que todos estes tanques, dinheiro, material de guerra lhe são necessários para construir um futuro da Ucrânia. Ele está a mentir, tal como mentiu quando estava de joelhos perante o povo ucraniano, tal como mentiu quando lhe perguntaram diretamente se era viciado em drogas. Ele mentiu naquela altura e está a mentir agora. Porquê? Porque não tem nada a ver com o povo ucraniano. Ele nunca se importou com os ucranianos comuns cujas vidas estão agora nas suas mãos. Para ele, eles são peças insignificantes, de valor inferior ao de um peão no xadrez porque no xadrez cada peão tem valor por poder tornar-se uma dama. Para ele, as pessoas não são sequer peões. Eles não são nada. Só o dinheiro, as bravatas políticas, os aplausos e as suas ambições têm importância para ele. O resto tem importância secundária, não existe para este homenzinho agressivo e sanguinário.

A Rússia sempre se manteve aberta à possibilidade de utilizar instrumentos diplomáticos e de negociação. Temos dito isso repetidamente. Tudo isto foi aplicado e foi bloqueado pelo regime de Kiev orientado pelo Ocidente.

O "Ocidente coletivo", a NATO, a UE abandonaram há muito a diplomacia, escolheram um caminho diferente e começaram a criar ameaças à segurança, fomentando conflitos e empurrando o continente europeu para uma catástrofe global.

O que está a acontecer agora não é uma questão da Ucrânia, Rússia ou do continente europeu. Trata-se de uma coisa muito maior que atinge uma dimensão global.

O senhor perguntou-me sobre a decisão dos EUA de fornecer tanques norte-americanos. A sua posição é compartilhada por todos os outros países. Apenas um país se destaca. É a Alemanha. O seu caso é específico.

Lembramo-nos bem de como eram os tanques alemães. São máquinas que se tornaram um símbolo não só de morte e ideologia mortal, mas de misantropia, uma ameaça global e existencial para todo o planeta.

Quando se lê sobre o fascismo, o nazismo e os tempos da Segunda Guerra Mundial, penso ser claro que os uniformes das SS, os tanques alemães com a simbologia do Terceiro Reich, se tornaram um símbolo global da queda da humanidade num abismo de ódio, horror e assassinato. Todos nós (tanto os que viviam naquela altura como os que nasceram mais tarde) fomos "tirados" deste abismo pelos soldados do Exército Vermelho e da coligação anti-Hitler. Foram os jovens que lutaram no campo de batalha e todos os que trabalharam na retaguarda. Foram os tanques alemães que se tornaram o anti símbolo que ficou para sempre "impresso" na memória da humanidade. Agora estes tanques, como eles sugerem, irão marchar novamente pelo nosso solo. Pelo menos, foi esta missão que lhes foi atribuída.

Do que é que a Alemanha espera? De que veículos blindados de cores protetoras com cruzes, símbolos das Forças Armadas alemãs, avancem novamente pelas nossas cidades e aldeias, como na época da Grande Guerra Patriótica? Lembramo-nos de como acabou a história naquela altura. Os responsáveis governamentais de Berlim também se lembram disso? O mais importante é que os alemães devem compreender que não têm o direito moral de fornecer os seus veículos blindados para operações militares contra a Rússia.

Gostaria de chamar a sua atenção para as declarações feitas no parlamento alemão no dia 25 de janeiro. O deputado P. Bystron, dirigindo-se a Olaf Scholz, disse: "Senhor Chanceler, hoje é um dia histórico. Acaba de destruir todos os fundamentos da política externa alemã do pós-guerra. A Alemanha tem uma responsabilidade especial pelas vítimas da Segunda Guerra Mundial. Há muito que isso tem sido a espinha dorsal da existência do nosso país. Refiro-me aos 6 milhões de judeus e aos mais de 20 milhões de homens, mulheres e crianças que morreram em território soviético. Os seus grandes antecessores sociais-democratas, Willy Brandt e Helmut Schmidt, fizeram muito pela paz e reconciliação. Willy Brandt foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz. O slogan "Nunca mais!" significava a recusa em fornecer armas a zonas de conflito. Este tem sido sempre o cerne da política externa alemã".

Todos escreveram os seus nomes na história de maneiras diferentes. A própria Alemanha entende bem que não tem o direito moral, legal ou ético de fornecer veículos blindados, tanques para matar russos.

Há muitas imagens de vídeo em que muitos militares ucranianos (dos quais muitos foram zombificados pelo regime de Kiev e foram "empurrados" para a primeira linha dos combates porque foram apanhados por toda a Ucrânia pelos nazis, que, aliás, não saem dos bunkers) falam russo. Povos, pessoas, membros de uma mesma família foram atiçados uns contra os outros, tornando-os, como sói dizer-se, partes em conflito. Uma mãe tem o coração partido ao meio porque um dos seus filhos está de um lado das barricadas, e o outro, do outro lado. Porque tudo tinha sido feito para que a Ucrânia fosse "despedaçada", dada a sua difícil história, a sua composição multiétnica e os primeiros anos da sua "independência" tão almejada por muitos. Todavia, a sua independência deveria ter começado com a responsabilidade e não com a permissividade.

Agora as linhas de divisão sangrentas passaram pelos corações de um grande número de pessoas. Estas regiões ainda vão sentir as lagartas dos tanques alemães. No entanto, Olaf Scholz optou por isso. Porquê? Sejamos honestos, porque há figuras históricas e há aquelas que são "mais ou menos". Há pessoas que são capazes de morrer pelas suas crenças, não por serem demasiadamente orgulhosas nem por pensarem que são excecionais, mas por compreenderem que isto é humanidade. Outras pessoas têm poder político, possibilidades financeiras, apoio, incluindo apoio eleitoral, mas não têm a coragem de fazer a escolha certa, de não repetir os erros dos seus antepassados pelos quais o povo alemão também pagou um preço enorme.

Quero lembrar a Olaf Scholz (não estou a falar de Annalena Baerbock, penso que não faz sentido) e talvez até lhe contar. Provavelmente, ele não sabe. Quando os prisioneiros de guerra alemães estiveram no território da União Soviética após a nossa vitória, não foram torturados nem submetidos a tratamentos degradantes ao contrário dos nossos prisioneiros de guerra e os nossos civis mantidos nos campos de concentração alemães. Eram alimentados por aqueles que, durante muitos anos, não tiveram nada para comer (estou a usar uma linguagem moderada, em casa usaria um termo mais grosseiro).

A minha avó contou-me sobre isto. Ela passou toda a sua vida a olhar para o pão como se este fosse o mais requintado pitéu. Contou-me sobre como os soviéticos partilhavam o seu pão com os prisioneiros alemães que tinham incendiado aldeias inteiras, matado crianças, empurrando para dentro de casas e incendiando-as. Perguntei-lhe eu: "Avó, vocês não tinham pão suficiente. Como vocês poderiam, tendo passado por tudo isto, ainda partilhar o seu pão com aqueles que os matavam"? Sabe, Sr. Scholz o que a minha avó me disse? Disse ela: "Masha, nós tivemos piedade deles". Não é esse o tipo de pena a que chama tolerância. Piedade significa amor, caridade, significa que os soviéticos tiveram o coração para partilhar o que tinham mesmo com o seu inimigo.

Vocês no Ocidente perderam há muito qualquer noção de valores verdadeiros, que se baseiam no amor. É impossível acreditar que agora o Ocidente esteja a enviar tanques alemães aos locais onde já trouxeram tantos problemas e sofrimento e mataram dezenas de milhões de pessoas. É também impossível imaginar que vocês saibam o que é o amor, a compaixão, a honra, a consciência.

Lembro-me bem quando, em 2015, o Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, veio a Volgograd como integrante de uma delegação oficial. Arrependeu-se e curvou a cabeça perante os túmulos dos soldados soviéticos e dos soldados alemães, dizendo que isso nunca mais deveria voltar a acontecer. Está a repeti-lo agora.

Outra razão por que o dia da decisão de fornecer Leopardos à Ucrânia, como disse o deputado alemão, é histórico porque acabou por testemunhar e cimentou o que temos vindo a falar há muito tempo, ou seja, a perda da soberania pela Alemanha. Olaf Scholz confirmou, de facto, a recusa da Alemanha em seguir uma política externa independente. Rejeitou tudo o que os seus antecessores tinham vindo a construir com êxito durante décadas após a Segunda Guerra Mundial. Devemos dizer que não ficaríamos surpreendidos ao ver que o lugar dos Leopardos alemães na Bundeswehr seria ocupado pelos Abrams norte-americanos e não pelos novos tanques de fabrico alemão. Isto é, acima de tudo, do interesse de Washington. Os EUA podem deixar de consultar o governo alemão. Angela Merkel tentou ao máximo defender os interesses alemães, balançando-se entre os interesses do seu país e uma fortíssima pressão exercida sobre ela e o povo alemão pela administração norte-americana. É assim que os norte-americanos tratam sempre um país ocupado.

Os objetivos de Washington foram declarados no Congresso norte-americano em 2022. A Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, disse que era necessário infligir uma derrota estratégica à Rússia.

Pergunta: O Vice-Primeiro-Ministro e Ministro das Infraestruturas da Moldávia, Andrei Spinu, acredita que a Rússia está alegadamente a tentar controlar Chisinau e está a usar propaganda para o efeito. Poderia comentar estas declarações do governante moldavo?

Maria Zakharova: Gostaria de perguntar (já o fiz hoje indiretamente) de que tipo de propaganda se pode tratar numa situação em que as autoridades moldavas impõem cada vez mais proibições e restrições aos meios de comunicação social russos e de língua russa no país. Portanto, quem faz propaganda são os meios de comunicação moldavos? Vejamos as coisas de forma realista. O motivo oficial é "propaganda", mas na realidade, o motivo é estarem a seguir uma política editorial independente e expressarem opiniões diferentes das do Ocidente e das que são agora "pregadas" por Maia Sandu e pela sua equipa.

Quanto às declarações do Vice-Primeiro-Ministro, Andrei Spinu, sobre o desejo da Rússia de "controlar" Chisinau, elas não têm qualquer fundamento. A Rússia, ao contrário do Ocidente, nunca interferiu nos assuntos internos de outros países, em particular da Moldávia, respeitando os processos operados nestes países e defendendo o desenvolvimento de uma cooperação nas áreas de interesse para as duas partes.

Hoje em dia, as autoridades moldavas estão a ser cada vez mais controladas pelos EUA e a União Europeia que lhes impõe as suas visões sem lhes oferecer nenhuns benefícios em troca em detrimento das relações pragmáticas normais com a Rússia e das suas relações no seio da CEI. É do interesse dos cidadãos da Moldávia? A resposta é obviamente não.

Depois de tantas declarações sobre a nocividade dos media russos, que os media em língua russa são propaganda, ou que os media moldavos, que refletem uma posição não idêntica à atual de Chisinau, também estão "errados", quero fazer uma pergunta concreta aos que estão agora no comando na Moldávia. Dê-me um exemplo de um meio de comunicação social no seu país que, do seu ponto de vista, seja exemplar, ou pelo menos correto. Gostaria de compreender quem deveria servir de exemplo para os outros. Que meio de comunicação social não é propaganda e é certo? Aponte o seu dedo para que possamos comparar.

Pergunta: Qual é a situação com o corredor de Lachin, que está bloqueado há quase dois meses? Estão previstas reuniões trilaterais com Baku e Erevan num futuro próximo?

Maria Zakharova: Relativamente à situação no corredor de Lachin, o Ministério da Defesa russo e o comando da Força de Paz russa cooperam com o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo e estão em contacto com todas as partes interessadas. Os esforços enérgicos no sentido de normalizar a situação prosseguem. Ao contrário da maioria dos atores externos, que se limitam aos apelos à desescalada, o lado russo procura soluções reais e presta assistência humanitária "no terreno".

Pedimos o desbloqueio total do corredor de Lachin em conformidade com a declaração dos líderes da Rússia, Azerbaijão e Arménia de 9 de novembro de 2020. Apelamos a Baku e Erevan para que mostrem vontade política para resolverem as suas divergências, o mais depressa possível.

Como já anteriormente declarámos, o lado russo reafirma a sua disponibilidade para organizar negociações entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Djeyhun Bayramov, e da Arménia, Ararat Mirzoian, em Moscovo, sob os auspícios do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov. Os governos de Baku e de Erevan foram informados sobre isto. Tem havido repetidas declarações públicas a este respeito.

Acreditamos que as complicações recorrentes "no terreno" não devem servir de pretexto para congelar o processo de negociação. É necessário retomar os trabalhos, o mais rapidamente possível, em todas as vertentes do processo de normalização das relações entre a Armênia e o Azerbaijão, entre as quais o desbloqueio das vias de transporte, a delimitação das fronteiras, a conclusão de um tratado de paz e os contactos com a sociedade civil.

Pergunta: A Alemanha cruzou a linha e decidiu enviar tanques Leopard para a Ucrânia. Os EUA declararam que o destino dos Abrams depende do destino dos Leopards. Ou seja, os países ocidentais já estão a fornecer abertamente armas ofensivas. Como é que isto irá impactar as relações com Berlim, Washington? Qual será a nossa resposta?

Maria Zakharova: Como? Acha que estas relações estão a desenvolver-se? Estão há muito bloqueadas pelo outro lado que encontra novas razões para complicá-las ainda mais, fazer escalar o conflito, etc. Como é que isto pode ser percebido? Não o compreendo realmente.

Vejo uma "escola de pensamento" de ciência política diferente. Alguns jornalistas, cientistas políticos permitem-se dizer para "esperar por agora", que este ainda não é um conflito direto. Que outro conflito deve ocorrer para ser chamado "direto" e não "indireto"? Tudo foi feito para destruir politicamente a Ucrânia. Um regime pró-Washington foi levado ao poder para atingir o principal objetivo, ou seja, destruir as relações com a Rússia e criar um posto avançado do Ocidente na Ucrânia. Depois, passaram para a fase seguinte, a fase político-militar. Depois os ocidentais puseram de lado a palavra "político" e procederam à concretização da fase militar. Acho que quem não compreende isto, não é competente como cientista político ou analista. Caso contrário, poder-se-ia pensar que o fazem para fins de propaganda, a fim de justificar algo ou de alguma forma "desviar" a atenção da opinião pública. Não sei quem precisa de fases de constatação de um facto óbvio. Penso que todos compreenderam há muito tempo do que se trata. Trata-se do confronto com o nosso país, das tentativas de o isolar. Nenhum meio económico, político ou financeiro, nem os apelos aos operadores privados para deixarem de fazer contratos lucrativos com a Rússia permitiram atingir este objetivo. Sanções, listas, stop-lists e ameaças falharam todas. Passaram então para a fase seguinte. Como podemos chamar a isso? Assim, o "desenvolvimento das relações" decorrerá da situação real "no terreno" e não de declarações secundárias.

Ouvi dizer hoje que alguém em Washington disse que, se a Rússia fizer algo assim, talvez sejam levantadas algumas sanções. Quem ouve estas declarações? Quem precisa delas? Quem presta atenção a isso? Alguém disse alguma coisa sobre sanções. Esta não é a questão.

Agora que os ocidentais estão a fornecer armas pesadas é desnecessário comentar o que irá acontecer se alguém fizer alguma coisa lá. Temos uma situação "no terreno", é disso que tratamos. Tudo.

Se o senhor fez esta pergunta, deve compreender o que se passa também noutro contexto. A Europa está a pagar um preço sangrento e terrível pela falência dos EUA.

Pergunta: Jens Stoltenberg disse que, ao fornecer tanques à Ucrânia, a NATO não estava a tornar-se parte no conflito, porque a Aliança não estava "a enviar aviões e soldados para o país". Já Joe Biden, ao anunciar o fornecimento de tanques Abrams, salientou que a ajuda militar "não constitui uma ameaça para o território da Rússia", embora a Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, afirme que eles estão em guerra com a Rússia. O que pode então ser considerado uma "ameaça ao território da Rússia" e que tipo de reação pode ser esperada da Rússia se a Ucrânia receber, digamos, aviões "F-16"?

Maria Zakharova:  Já respondi. Quer que eu encontre uma nova "tonalidade" neste "quadro"? Que tipo de reação deve haver? Já demos todas as reações. Agora estamos a reagir no "terreno", é o que a atual situação exige. Para mais informações sobre a nossa reação no "terreno", consulte o Ministério da Defesa da Rússia.

Pergunta: Haverá reuniões oficiais a nível de Ministério dos Negócios Estrangeiros e tem a informação sobre quando a nova Embaixadora dos EUA na Rússia, Lynne Tracy, apresentará as suas credenciais?

Maria Zakharova: De facto, estamos à espera de Lynne Tracy no Ministério na próxima semana, onde ela será recebida pelo Vice-Ministro, Serguei Riabkov. Esta é uma necessidade que dá início aos preparativos para que a Embaixadora possa desempenhar as suas funções. Durante a reunião, a Embaixadora Tracy apresentará cópias das suas credenciais, após o que poderá entrar em funções como Embaixadora dos EUA na Rússia. Assim que a data for confirmada, faremos a divulgação quando for possível.

Pergunta: O Comité Olímpico Internacional sugeriu permitir que os atletas russos que não apoiam as ações dos militares russos na Ucrânia pudessem competir oficialmente. O COI disse que nenhum atleta deveria ser impedido de competir "unicamente por causa do seu passaporte". Poderia comentar esta declaração? Considera-a como passo do COI ao encontro da Rússia?

Maria Zakharova: Apraz ver os meios de comunicação social anglo-saxónicos interessarem-se pelos desportos no meio dos acontecimentos em curso e dos fornecimentos de tanques. É bom.

A sua pergunta tem vários aspetos que, na minha opinião, se contradizem. Não estou a referir-me à sua pergunta, estou a referir-me às citações. O senhor expôs a posição dos representantes do COI de que os atletas que não apoiam as ações dos militares russos podem ser autorizados a competir. Ao mesmo tempo, um atleta não pode ser impedido de competir "apenas por causa do seu passaporte". O que quer dizer com isso? É uma contradição. Ou todos os atletas não estão autorizados a participar ou são impedidos de competir nas Olimpíadas. É novamente uma espécie de duplicidade. Por um lado, há a declaração política de que todos os atletas devem ser representados como atletas e, consequentemente, há regras do COI sobre a não propaganda da agenda política, etc. Por outro lado, há uma ressalva: todos, mas apenas aqueles que têm uma determinada posição.

Parece-me que quaisquer exigências artificiais, especialmente de natureza política, feitas aos nossos atletas, ou outros atletas como condição ou ultimato para a sua participação em competições desportivos mundiais realizadas pelo COI são inaceitáveis.

Não estou preparada para comentar isto como a nossa declaração definitiva. Na minha opinião, há contradições nos trechos que citou.   

Vou dar-lhe uma resposta global. Qualquer retórica falsa deste tipo tem dois lados, é falsa e é um beco sem saída. Esta abordagem, quando se começam manipulações, uma violação grosseira das normas geralmente aceites do direito internacional no desporto está fundamentalmente em desacordo com a posição de princípio da Federação da Rússia (e não só), que tem apoiado tradicionalmente o desenvolvimento equitativo da cooperação na área dos desportos que exclui a politização e o preconceito, a competição leal e igual e a garantia de acesso igual para todos os países sem exceção à plena participação nos movimentos olímpicos e paraolímpicos.

Esta situação deve ser vista de um "ângulo" diferente. Atualmente, os nossos atletas estão a ser criticados porque eles estão (como já foi dito) a apoiar politicamente a coisa errada. E quantos anos, antes disso, foram mantidos de fora? Porquê? Havia o tema do doping. Agora vão escolher entre os atletas "politicamente corretos" e os suspeitos de doping? Quem será escolhido pelo COI? Aqueles que são politicamente «corretos», mas dopados, ou aqueles que são "limpos" em termos de uso de doping, mas politicamente "errados"? É um beco sem saída. Absurdo. Desporto é desporto. Não tem agendas políticas. Sim, noutros momentos, fora do desporto, um atleta, treinador, equipa pode participar em qualquer atividade social, política de acordo com as suas crenças políticas. Já no ringue, no tapete, no campo, deve haver apenas desporto, ou seja, as realizações desportivas de um atleta, de uma equipa, de uma associação desportiva que o preparou e o orientou. Isto, sim, é o que importa, e não a cor da pele, religião, opiniões de um atleta. Nada disso deve interessar aí.  Aí só se deve tratar do desporto.

Gostaríamos de salientar mais uma vez que todas as tentativas de "expulsar" o nosso país para fora do desporto internacional (são óbvias e se fazem sob diversos pretextos) estão condenadas ao fracasso. Até mesmo aqueles que fazem declarações altissonantes sobre os princípios morais e a independência do desporto em relação à política têm de perceber isto.

Pergunta: A 23 de janeiro, apoiantes de Alexei Navalny expuseram em frente da Embaixada russa na capital alemã, Berlim, uma réplica da solitária com a inscrição SHIZO (sigla russa para a cela solitária) semelhante à cela onde se coloca regularmente Aleksei Navalny como punição por mau comportamento, segundo os ativistas. O protesto envolveu opositores russos que haviam deixado a Rússia. O que o Ministério dos Negócios Estrangeiros tem a dizer sobre esta ação? O protesto afetou o trabalho da Embaixada russa?

Maria Zakharova: Posso dizer que este é quase um caso único (não posso dizer que nunca tenha acontecido antes, provavelmente aconteceu). Está entre os poucos a quem digo "obrigada pela sua pergunta".

A minha atitude para com este protesto é exatamente igual ao termo escrito na réplica: "ESQUIZO". Não posso ter outra atitude. Uma encarnação brilhante do diagnóstico.

Quanto ao trabalho das nossas Embaixadas, é um tema à parte, não relacionado com o protesto em causa. Esta questão deve ser dirigida ao lado que dá garantias e é obrigado a proporcionar a possibilidade de as nossas missões funcionarem normalmente de acordo com as respetivas obrigações internacionais da parte anfitriã.

Portanto, se uma "ação" interferir com o trabalho, criar uma ameaça e impossibilitar a segurança do pessoal, a Embaixada informa a parte anfitriã. Neste caso, as manifestações não podem ser divididas em "boas" e "más". Existem certos critérios e obrigações de segurança que são estipulados tanto em acordos bilaterais como na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 18 de abril de 1961.

Pergunta: O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou que a Rússia está alegadamente a violar os direitos das crianças ao emitir passaportes russos a crianças ucranianas e a entregá-los para adoção em território russo. Poderia comentar esta questão?

Maria Zakharova: Os nossos peritos estudarão esta declaração mais atentamente.

Relativamente aos direitos das crianças, gostaria de me dirigir ao referido representante da ONU e perguntar onde ele esteve, durante os oito anos, quando o regime de Kiev bombardeou instalações civis do Donbass, matando crianças, entre outras pessoas. Qual era a situação em matéria de direitos da criança naquela altura? Terá havido declarações semelhantes naquela altura?

Gostaria que esses funcionários da ONU tomassem nota da nossa enorme ajuda (ajuda humanitária, medicamentos, vestuário, infraestruturas) que estava a ser prestada aos habitantes das regiões ucranianas na altura, ao longo de todos esses anos. Nenhum desses funcionários quis prestar apoio político.

Talvez algures, nalguns relatórios, houvesse frases em letras pequenas, em notas de rodapé com as palavras "necessidade", "possibilidade», «assistência" e assim por diante. Mas não houve declarações em voz alta por parte desses funcionários da ONU que chamassem a atenção para os sofrimentos das crianças do Donbass.

Para que este representante da ONU se certifique de que as crianças sofreram durante todos estes oito anos, a nossa Missão Permanente junto da ONU irá certamente enviar-lhe materiais sobre a "Alameda dos Anjos".

Pergunta: Em poucos meses os países europeus libertaram-se da sua dependência energética da Rússia criada durante anos, disse o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell. Tem algum comentário sobre isso?

Maria Zakharova: Os que sofrem de bulimia acreditam que se estão a livrar do seu vício em comida. Infelizmente, esta é uma doença grave. Para muitos esta crença é falsa e tornou-se parte do processo de autodestruição. É o que verificamos neste caso.

Durante décadas, a Europa recebeu recursos energéticos da União Soviética e da Federação da Rússia. Nem uma vez ouvi falar de problemas com a dependência energética e o desejo da Europa de se livrar dela. Pelo contrário, a palavra "dependência" foi utilizada para reafirmar, para garantir estes fornecimentos no futuro. Caso contrário, é uma questão da saúde mental. Se "sofreram" de dependência energética durante tantos anos, porque é que investiram milhões de dinheiro no desenvolvimento de infraestruturas para diversificar os gasodutos, transporte dutoviário para o transporte de recursos energéticos.

Se considerarmos que o seu ritmo e nível de desenvolvimento não é tão elevado para que possam desistir de consumir recursos energéticos em grande escala, isso não é uma questão para nós. Cabe a eles e aos Verdes determinar se atingiram ou não o "patamar" certo.

Esta é uma política imposta à UE por Washington. Mais importante ainda, a resposta (também conhecida como prova) é muito simples: se a dependência energética fosse realmente um problema para a Europa, eles não teriam caído numa dependência real. Afinal de contas, eles estão agora totalmente dependentes de Washington.

É ótimo ter muitas fontes para escolher. Escolha, a capacidade de escolher é, se não uma panaceia, então uma boa cura para o "vício". Neste caso, a falta da liberdade de ação é o verdadeiro vício. É isso que Washington tem procurado.

Sabe-se porque o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, não compreende isto - eles não compreendem muita coisa. Eles têm uma visão distorcida do nosso mundo. Muitos deles acreditam que os nossos países estão a centenas de milhares de quilómetros um do outro, que o Mar Báltico e o Mar Negro são o mesmo mar, que para chegar ao Báltico a partir da Grã-Bretanha, é preciso ir ao Mar Negro. Um monte de coisas estranhas e absurdas. Depois da declaração de Josep Borrell de que eles são um "belo jardim" e todos os outros são uma "selva", não há dúvida sobre a competência dos seus analistas.

Pergunta: A nova Embaixadora dos EUA na Rússia, Lynne Tracy, chegou a Moscovo. O que espera da nova Embaixadora dos EUA? O que pensa sobre as perspetivas de melhoria das relações bilaterais entre a Rússia e os EUA?

Maria Zakharova: Já respondi anteriormente à pergunta sobre a Embaixadora.

Quanto à possibilidade de melhorar as relações russo-norte-americanas no contexto da guerra híbrida praticamente declarada por Washington, não operamos com estas categorias. Como pode haver alguma melhoria se os EUA decidirem fornecer armas pesadas destinadas a matar os nossos cidadãos? O progresso seria uma não deterioração nas relações bilaterais. Mas é difícil acreditar nisso.

A nova Embaixadora norte-americana, dada a russofobia na elite política dos EUA, independentemente da filiação partidária, praticamente não tem uma margem de manobra. Compreendemos isso.

Esperamos que Lynne Tracy tenha em conta os erros de um dos seus antecessores, o agora ferrenho russófobo McFaul. Ele não começou "muito bem" a desempenhar as suas funções e acabou mal. Foi prematuramente "retirado" de Moscovo. A ingerência nos nossos assuntos internos sob o pretexto de trabalhar com a "sociedade civil" transformou instantaneamente este personagem num pária. Não aconselhamos a nova Embaixadora a seguir este caminho errado.

Poderíamos recomendar (embora no contexto da diplomacia norte-americana, que está a perder rapidamente o seu profissionalismo, esta não é uma causa nobre) que fosse mais comedida, não pisasse no mesmo ancinho, não se tornasse um messianista e mentora, o que é simplesmente deselegante. Um bom começo é o respeito pela história, cultura e valores do país para onde se é enviado para trabalhar.

É estranho que a vinda de Lynne Tracy a Moscovo tenha coincidido com a decisão de fornecer tanques norte-americanos à Ucrânia. O pior cenário para uma Embaixadora recém-nomeada não poderia ser imaginado. Porque é que ela é tão antipática em Washington é um grande mistério para mim. Não é discriminação de género?

Pergunta: A UE decidiu enviar uma nova missão de observação à Arménia por dois anos, o que consolida a influência dos europeus na região, enquanto a situação no corredor de Lachin se mantém inalterada, as partes continuam a acusar-se mutuamente de violação dos acordos. Isto mostra que ainda existem contradições entre Baku e Erevan. A senhora afirmou que o processo está agora num estado "congelado".

Maria Zakharova: Eu não o disse. Eu disse que não há necessidade de "congelar" o conflito ou de lutar por isso.

Pergunta: Moscovo tem uma noção da razão por que o processo de negociação entre a Arménia e o Azerbaijão está a marcar passo? Como pensa Moscovo que deve realmente agir para que todos os apelos e declarações pacíficas se traduzam em resultados reais?

Maria Zakharova: A julgar pela sua pergunta, o senhor não precisa de uma resposta. Demonstrou um conhecimento profundo da situação.

Vou usar como base a sua última frase. Já declarámos que o lado russo reiterou a sua disponibilidade para organizar negociações entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Djeyhun Bayramov, e da Arménia, Ararat Mirzoian, em Moscovo sob os auspícios do seu colega russo Serguei Lavrov. Estamos sempre abertos a isso. Faremos tudo o que for necessário para que eles terminem positivamente, se as partes concordarem.

Pergunta: O Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, disse que esperava visitar a Rússia em fevereiro próximo. Como é que Moscovo avalia os planos da AIEA? Está atualmente em curso alguma conversa sobre a visita de Rafael Grossi?

Maria Zakharova: Mantemos um diálogo com o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, sobre todas as áreas de atividade da Agência, o que é importante para ambas as partes e para o funcionamento da central nuclear de Zaporojie e a criação de uma zona de segurança e proteção nuclear nesta instalação. Os contactos com Rafael Grossi estão também a ser realizados regularmente através da Missão Permanente da Rússia junto das organizações internacionais em Viena.

Não excluímos a possibilidade de uma delegação da AIEA chefiada por Rafael Grossi visitar a Rússia num futuro próximo para discutir os parâmetros da nossa futura cooperação. Quando tivermos datas concretas, iremos informá-los.

Pergunta: O Supremo Tribunal da Noruega começou a julgar a questão sobre se o país tem direitos exclusivos de extrair recursos na plataforma de Spitsbergen, em hidrobiontes, entre os quais o caranguejo das neves. Qual é a posição da Rússia sobre a questão da plataforma de Spitsbergen?

Maria Zakharova: É um caranguejo opílio. Gostaria de pedir mais respeito.

A 24 de janeiro, o Supremo Tribunal da Noruega começou a julgar a questão relativa ao âmbito geográfico do Tratado de Spitsbergen de 1920 e à regulamentação da pesca do caranguejo opílio na plataforma continental norueguesa.

A Federação da Rússia tem defendido consistentemente que a base para a soberania do Reino da Noruega sobre o Arquipélago de Spitsbergen é o Tratado de Spitsbergen, de 9 de fevereiro de 1920.

A posição da Rússia é que a plataforma continental é uma extensão natural da terra do arquipélago e forma com ela um todo único e inseparável.

A Rússia orienta-se pelo facto de o regime jurídico estabelecido pelo Tratado de 1920 se aplicar integralmente à plataforma do arquipélago no âmbito do Tratado, com todas as consequências daí decorrentes. Consequentemente, a exploração dos recursos de plataforma do arquipélago, tanto minerais como vivos, deve ser realizada de acordo com as disposições do Tratado de 1920.

Pergunta: O Conselho da UE aprovou recentemente o envio de uma missão de dois anos à Arménia para monitorizar a fronteira convencional entre a Arménia e o Azerbaijão. A missão virá sem consultar o Azerbaijão. Anteriormente, as definições eram mais arcanas. Agora as mesmas resoluções do Parlamento Europeu criticam tanto a Rússia como o Azerbaijão. Qual é o objetivo final na região? Como tenciona Moscovo reagir a esta situação?

Maria Zakharova: Gostaria de chamar a sua atenção para o nosso comentário de ontem.

A 23 de janeiro, o Conselho da UE decidiu estabelecer uma nova missão civil da UE na Arménia por um período de dois anos. Os parâmetros concretos da presença da UE serão definidos num futuro próximo. Mas já é claro que será maior do que o mecanismo de monitorização da UE que esteve em funcionamento na Arménia de outubro a dezembro do ano passado.

A posição de princípio da Rússia sobre a consolidação de um fator extrarregional na Transcaucásia não se alterou. Não vemos nenhum "valor acrescentado" na intenção da UE enviar peritos para monitorizar a situação nas proximidades da fronteira entre a Arménia e o Azerbaijão. Se Bruxelas estivesse genuinamente interessada na paz no sul do Cáucaso, teria examinado juntamente com o Azerbaijão os parâmetros do trabalho da sua missão.

O aparecimento dos representantes da UE (que se tornou um apêndice dos EUA e da NATO e segue políticas de confronto no espaço da CEI) nas regiões fronteiriças da Arménia só pode trazer confrontos geopolíticos e exacerbar as contradições existentes na região. A natureza civil declarada da missão da UE também não deve enganar ninguém: a missão está a ser formada no quadro da Política Comum de Segurança e Defesa da UE, com todas as consequências daí decorrentes.

No essencial, o nome "UE" permanece para encobrir o papel da NATO em assuntos mundiais. Quando a NATO atua sob a bandeira da UE, as afirmações de que os objetivos foram fixados pela aliança militar estão fora da questão. É a União Europeia: asteriscos sobre um fundo azul, paz, amizade, economia, cooperação, desenvolvimento, etc. Os acordos e tratados assinados ligam a política da UE à política da NATO; a minimização do papel da própria UE; pessoas que representam a União, "jardineiros" arrogantes, que correm entre o "jardim" e a "selva" e que não decidem nada e não compreendem o que dizem porque não viram sequer muito do que lhes é atribuído e é publicado em seu nome - tudo isto mostra que a UE, enquanto instrumento político, foi desalojada. Não há lugar nas estruturas euro-atlânticas para a política sob a forma de diplomacia. Só há lugar para a política sob a forma de esforços político-militares (com um sinal de menos neste caso).

As tentativas da União Europeia de conquistar uma posição na Arménia a qualquer custo e de desalojar a Rússia como mediadora podem prejudicar os interesses fundamentais dos arménios e dos azerbaijaneses e o seu desejo de regressar ao desenvolvimento pacífico da região.

Estamos convencidos de que a Força de Paz russa estacionada na região de acordo com a Declaração, de 9 de novembro de 2020, dos líderes da Rússia, Azerbaijão e Arménia, bem como a guarda fronteiriça russa continuarão a ser um fator-chave para a estabilidade e segurança da região num futuro previsível. Responderão à atuação dos observadores da UE em função da situação in loco.

Notamos que Erevan não concluiu os trabalhos para enviar uma missão da OTSC e optou pela UE. Se os nossos aliados arménios continuarem interessados em aproveitar as potencialidades da OTSC, a sua missão poderia ser prontamente enviada para a Arménia. Ouvimos muitas declarações sobre a necessidade de envolver a OTSC. Envolvam-na. Quais são os impedimentos?

Continuamos a acreditar que a base mais duradoura e mais estável para a normalização das relações entre a Armênia e o Azerbaijão e a melhoria global da situação na região é a implementação rigorosa e consistente dos acordos trilaterais alcançados pelos líderes da Rússia, Azerbaijão e Arménia a 9 de novembro de 2020, 11 de janeiro de 2021 e 31 de outubro de 2022, entre os quais o  acordo sobre o desbloqueio de todas as vias de transporte e económicas, a delimitação e demarcação da fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão, o acordo sobre os parâmetros de um convénio de paz entre o Azerbaijão e a Arménia, e o desenvolvimento da cooperação tripartida. A Federação da Rússia contribui para isto de todas as formas possíveis. Muito já foi feito.

Pergunta: Muitas pessoas dizem que a missão da UE não se parece com uma missão civil.

Maria Zakharova: A UE também não se assemelha a uma organização política há muito tempo. Existe um "negócio" que muda o seu slogan e o seu letreiro, enquanto os produtos permanecem os mesmos. Há outros casos em que o letreiro é o mesmo e os serviços são renovados. Aqui está o segundo caso. Chamamos-lhe a União Europeia.  Na realidade, o "irmão maior", o parceiro principal (aliança) paralisou completamente a vontade da UE.

Quanto à questão sobre quem manda, na NATO quem manda são os EUA. "Gostei" da declaração feita em Washington: os norte-americanos não vêem e não estão dispostos a considerar a possibilidade de a Finlândia e a Suécia aderirem à NATO separadamente. Devem fazê-lo juntas, dizem eles. Cabe aos EUA decidir como estes países devem aderir à Aliança. Não são os países candidatos que decidem como ir para a aliança: ou de mãos dadas ou rastejando, ou de alguma outra maneira. Tudo é decidido por um país que não faz vizinhança à Finlândia nem à Suécia nem partilha um continente com elas. Esse país distante já tomou a sua decisão.

Infelizmente, é assim que acontece na região euro-atlântica com aqueles que estão prontos a curvar a cabeça como escravos para aceitar tal conceito. Aqueles que não estão preparados para isso defendem a sua soberania e o seu direito à vida e ao futuro.

Pergunta: A nova Embaixadora dos EUA chefiou a missão diplomática dos EUA na Arménia. Sabemos que ela trabalhou intensamente sobre a Rússia e o espaço pós-soviético em geral. Vê alguma "ligação" aqui?

Maria Zakharova: Não sei dizer. Há muitos excelentes restaurantes arménios em Moscovo. Se ela se aborrecer, poderá refrescar as suas memórias.

Pergunta: A Rússia tem contribuído muito para o processo de normalização das relações entre o Azerbaijão e a Arménia. Qual é a situação atual? Quais são as perspetivas de negociação? Haverá necessidade de as partes reconsiderarem as suas posições?

Maria Zakharova: Eu já respondi a esta pergunta.

Pergunta: O processo de adesão conjunta da Finlândia e da Suécia à NATO está suspenso. A fúria da Turquia foi dirigida em primeiro lugar à Suécia, especialmente depois do provocador Rasmus Paludan, de cidadania sueca, ter queimado um Corão em frente da Embaixada turca. O Ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, disse que as reuniões com a Suécia e a Finlândia foram consideradas inúteis. Rasmus Paludan prometeu queimar outros três Corões, dos quais um em frente à Embaixada turca em Copenhaga e outro numa mesquita. Ele não é sequer obrigado a pedir autorização para a sua ação, deve apenas informar as autoridades locais. Poderia comentar este caso?

Maria Zakharova: Já comentámos o que aconteceu na Suécia em diferentes formatos. Como o Embaixador itinerante e Representante Especial do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia para a cooperação em matéria de observância do direito à liberdade religiosa, G. I. Askaldovich, salientou, o lado russo considera o que aconteceu como mais um ato provocador de islamofobia.

Estes atos blasfematórios provocaram previsivelmente uma reação dura no mundo islâmico e na comunidade muçulmana russa. Em geral, esta é uma questão não só de todas as religiões do mundo, mas de qualquer ser humano adequado, sobretudo de um ocidental que professa a liberdade de escolha da religião. E a democracia como nova religião. É tempo de se perguntarem que tipo de metamorfose lhes está a acontecer, revelando tais manifestações selvagens da doença óbvia do homem. As pessoas, sem criarem elas próprias nada (em regra, aqueles que realizam tais ações não se destacam por realizações pessoais na vida), consideram possível destruir o que as pessoas têm vindo a criar e a preservar durante milhares de anos. Diz respeito não só ao Corão, mas também a relíquias cristãs, valores do judaísmo e assim por diante.

Quando o mundo, que defende os valores tradicionais, percebe isto como comportamento inadequado, os ocidentais aplaudem e dizem que não é apenas normal, mas é bom. Porquê é bom?

Por exemplo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Tobias Billström, afirmou: "Tais provocações são terríveis, a Suécia tem liberdade de expressão e opinião". Então é uma opinião terrível. Se um homem exprimir a sua opinião desta forma, é terrível. O que está a acontecer com a comunidade ocidental? O que fizeram eles às pessoas, uma vez que são forçadas a expressar a sua visão "horrível" do mundo de formas tão bárbaras? É incompreensível. Não quero entrar nos pormenores dos cultos e rituais religiosos. Teria sido melhor se este homem tivesse queimado um dos seus pertences para ser justo. Não fica bem destruir coisas alheias e dizer que isso é a liberdade de expressão. Que ele crie alguma coisa e depois destrua a sua obra. Veríamos então como a sua liberdade funcionaria nesse momento.

As desculpas das autoridades suecas empenhadas em esconder-se atrás das declarações sobre a "liberdade de expressão" são, no mínimo, cobardes. A polícia só deu alegadamente a autorização para a manifestação em frente da Embaixada turca e que a queima do Corão não tinha sido aprovada por ninguém, disseram eles. O organizador da ação, político radical dinamarquês-sueco Rasmus Paludan não escondeu os seus planos e a exigência das autoridades turcas de retirar a autorização para a manifestação foi ignorada pelas autoridades de Estocolmo.

Além disso, as autoridades suecas não tomaram medidas para investigar o incidente. Este é o seu ex-líbris. Adorando ensinar os outros a respeitar os direitos e as liberdades do homem e gritando a cada passo sobre a sua democracia e tolerância, as autoridades suecas não respeitam outros povos, governos estrangeiros legítimos, religiões mundiais nem os seus locais sagrados nem, como se verifica, boa parte da sua população.

Onde terminam os limites de tolerância? Se o Ocidente a proclama como nova visão do mundo, deve responder à pergunta: deve a visão do mundo de apenas uma pessoa ou de um grupo de pessoas ser respeitada? É como no caso dos direitos humanos: só um grupo de pessoas pode exigir que os seus direitos sejam respeitados? O resto não pode? Só um grupo de pessoas pode exigir que seja tratado com tolerância? Josep Borrell respondeu por todos a esta pergunta, dizendo que alguns estão num "belo jardim" e os outros, numa "selva". Esta é a sua atitude.

Pergunta: O New York Times escreve que os EUA estão a considerar a transferência de armas armazenadas em Israel para a Ucrânia. O lado israelita manifestou receios de que este gesto pudesse estragar as suas relações com a Rússia. O que é que acha disso?

Maria Zakharova: Esta pergunta não deve ter uma resposta hipotética. É necessária uma resposta prática. Deve pedir aos lados norte-americano e israelita que lhe digam quais são os seus planos, intenções e atitudes para com este assunto. Depois faremos um comentário.

Pergunta: A Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que Berlim não terá nada contra se a Polónia entregar tanques Leopard 2 à Ucrânia. Acha que a entrega de tanques irá, de alguma forma, alterar a situação "no terreno"?

Maria Zakharova: Já disse tudo o que podia. Não é uma questão de adivinhar, mas da nossa avaliação do que está a acontecer. Baseia-se na situação "no terreno" e em declarações de políticos ocidentais.

Dado que todas as negociações foram terminadas pela Ucrânia, esta questão será resolvida "no terreno". O regime de Kiev proibiu-se legalmente, sob pressão ou por iniciativa própria, de negociar com a Rússia. Tudo bem. Dirija o resto aos peritos militares.

Pergunta: Disse que a UE iria instalar uma missão na Arménia e que a palavra "civil" não deveria enganar ninguém, pois a referida missão foi criada no âmbito do mecanismo de defesa e segurança da UE, com todas as consequências daí decorrentes. De que consequências se trata?

Maria Zakharova: As consequências devem funcionar para o bem dos povos dos países para onde as missões são enviadas. Não devem servir os interesses de uma elite política, mas trabalhar pela paz na região. A diplomacia, a política, os instrumentos de negociação e o direito internacional podem ajudar. Quando a obra fica nas mãos de alianças político-militares que atuam sob a bandeira de instituições políticas e das quais só restam componentes militares (e agressivos), tudo pode ficar comprometido.

A OTSC nunca foi um bloco militar e não usa métodos autoritários de gestão. Os países membros atuam no cenário internacional como atores independentes, consolidado, quando julgam oportuno, uma plataforma pública e política ou mantendo a sua visão individual do mundo.

As coisas são diferentes na NATO. As diretivas são formadas em Washington e enviadas para serem aplicadas. Quem não cumprir é severamente punido.

Uma tal ideologia pode ser construtiva? Não. É, na maioria dos casos, destrutiva. E não só porque não é boa. O Ocidente não tem experiência de soluções pacíficas. Onde os ocidentais foram bem-sucedidos na busca de soluções pacíficas? Em lado nenhum. O que é necessário aqui é uma agenda construtiva, relações pragmáticas, respeito por todos e o desejo de obter um resultado verdadeiramente pacífico. Isto requer conhecimentos, capacidade de analisar e compreender, etc. Quando o sistema baseado em métodos autoritários de gestão emite diretivas, não há foco neste tipo de trabalho.

Pergunta: A senhora está de volta de uma digressão africana. Qual é a sua impressão sobre a selva? Qual é a atitude dos governos africanos para com a Rússia, no meio das sanções ocidentais em particular?

Maria Zakharova: Nós não fomos para a selva. Estivemos com pessoas. Pessoas como nós, pessoas que têm os seus próprios problemas, realizações, experiências, sentimentos e emoções. Estivemos com as pessoas que percorreram o difícil caminho do desenvolvimento dos seus países e defesa dos seus interesses, que têm os seus próprios pontos de vista e que se lembram do papel desempenhado pelo nosso país na conquista da sua liberdade. Compreendem o que é a responsabilidade pelas decisões tomadas e pelas gerações vindouras.

É Josep Borrell que vai para a "selva". Nós vamos para falar com as pessoas. A sua pergunta sarcástica tem por base, entre outras coisas, comentários racistas que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha se permite, ao tentar "trollar" o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov. De facto, os alemães atuam como racistas e traficantes de escravos. A bem da verdade, a Alemanha não se fez notar muito no tráfico de escravos, destacando-se, porém, na vertente nacionalista.

Pergunta: Muitos países sofreram sob o regime de colonizadores (Reino Unido, França, Espanha). Mas não devemos esquecer as atrocidades alemãs na Namíbia. Discutiu a cooperação entre a Rússia e os países africanos. Estão gratos pela ajuda soviética. Como será estruturada esta relação hoje?

Maria Zakharova: Preste atenção às conferências de imprensa do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov. Ele falou detalhadamente. Respondeu a todas as perguntas com grande detalhe. Todas as transcrições estão disponíveis no website do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e nos nossos perfis nas redes sociais.

De 23 a 26 de janeiro, uma delegação chefiada por Serguei Lavrov visitou a África do Sul, o Reino de Eswatini, a República de Angola e o Estado da Eritreia. Não anunciámos em pormenor as agendas das suas visitas, porque foram elaboradas na véspera. O facto de não podermos sobrevoar o território da UE também influenciou a logística e o mapeamento das rotas. Antes de mais, gostaria de expressar os nossos agradecimentos a todos os nossos amigos africanos pela sua hospitalidade e atitude sincera durante as negociações. De facto, as viagens a África, por mais curtas que sejam, deixam impressões positivas para uma vida inteira.

Durante as numerosas reuniões com os líderes destes países e os nossos colegas dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, outros Ministérios e com o público, foram discutidas em pormenor questões relacionadas com o reforço e ampliação das relações bilaterais, perspetivas de melhoria das relações comerciais, económicas e de investimento e oportunidades para o desenvolvimento da cooperação científica e humanitária.

Foi dada especial atenção ao tema da preparação e realização da Cimeira Rússia-África no próximo verão, uma vez que este fórum é extremamente importante para a construção de uma parceria a longo prazo com o continente africano.

Acertámos agulhas, num ambiente de confiança, sobre as questões de importância crucial da agenda global e regional. Expusemos a nossa visão da situação dentro e em torno da Ucrânia, reafirmámos a nossa fidelidade aos nossos compromissos de fornecer produtos críticos para enfrentar as ameaças à segurança alimentar. Abordámos questões relacionadas com a resolução de conflitos militares no continente e o combate ao terrorismo. Concordámos em coordenar as nossas ações em organismos internacionais, sobretudo nas Nações Unidas, no BRICS e outros fóruns multilaterais.

Podemos constatar a disponibilidade recíproca para desenvolver o diálogo russo-africano, implementar os nossos planos bilaterais e solucionar conjuntamente questões no formato Rússia-África.

Pergunta: Muitos países africanos estão gratos pela ajuda da União Soviética. A assistência russa será diferente da União Soviética no futuro?

Maria Zakharova: Eu poderia falar muito sobre este assunto. Vou tentar ser breve. A principal diferença é que a cooperação soviética com os países da região se baseava na ideologia. Aqueles que apoiavam a ideologia comunista construíam os seus modelos de desenvolvimento socialistas e escolhiam a URSS como parceiro. Aqueles que escolhiam outros caminhos ou tinham as suas próprias opiniões sobre o desenvolvimento não estavam entre os parceiros e aliados da URSS.  Esta é a principal diferença fundamental.

Não há agora uma abordagem ideologizada. Respeitamos diferentes sistemas, diferentes pontos de vista, nuances políticas existentes nos países. Estamos a construir as nossas relações em pé de respeito mútuo, pragmatismo e direito internacional.

Pergunta: Quais são as perspetivas das tentativas dos EUA de dificultar a cooperação Rússia-África objetiva?

Maria Zakharova: As suas tentativas de nos limitar de alguma forma ou de limitar os contactos de outros países com o nosso país são óbvias. Ninguém nos EUA as está a esconder. Eles proclamaram isto como sua estratégia. Penso que a Ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Naledi Pandor, falou muito bem sobre este assunto numa conferência de imprensa conjunta com Serguei Lavrov. Também havia publicado uma série de artigos, entrevistas na véspera das conversações em que disse, numa referência às declarações dos EUA, que a África iria decidir sozinha como iria construir as suas relações com os seus parceiros. Naledi Pandor salientou que o continente africano sabe em primeira mão o que é o "mundo ocidental", o seu empenho infinito em fazer provocações, incitar confrontos entre povos, nações e países para beneficiar os seus interesses. As suas avaliações são interessantes e perspicazes. Eu não diria sequer que são "corretas" porque são tão analíticas que não posso dar-lhes a minha avaliação. Seria interessante estudá-las. Leiam as declarações da Ministra.

Vemos que existe uma solidariedade continental. Baseia-se no entendimento de que, face às pressões políticas e económicas do "Ocidente coletivo" e às suas políticas predatórias, em grande parte, neocoloniais, ninguém pode esperar ter um futuro radiante (se depender de supervisores ocidentais). Isto diz respeito ao continente africano e a todos os outros.

Há uma necessidade de os países defenderem novamente a sua soberania, de lutarem pelos seus interesses, tanto individual como coletivamente, inclusive juntamente com a Rússia.

Todos compreendem que os EUA podem e estão a impedir que isso aconteça. Como é que o estão a fazer? Não vou fantasiar, vamos ver os factos. Já aprovaram leis sobre as atividades da Rússia em África, sanções de toda a espécie e listas de atividades irrelevantes, ameaças. As ambições imperialistas têm novas formas técnicas de implementação, mantendo, porém, o seu princípio fundamental. Temos de contrariar isto com uma cooperação mutuamente benéfica e mutuamente respeitosa.

Pergunta: Extremistas de direita queimaram um exemplar do Alcorão Sagrado durante uma manifestação em Estocolmo contra a Turquia que se opôs à adesão da Suécia à NATO. Esta ação causou muita dor e raiva no mundo muçulmano. Tem algum comentário sobre isso?

Maria Zakharova: Logo após o incidente, divulgámos um comentário oficial do Ministério. Gostaria de dizer mais uma vez que aquilo que vimos como a licenciosidade e a permissividade na política, disfarçadas de declarações sobre a "liberdade de expressão", está a redundar num incitamento ao ódio religioso e num insulto a sentimentos religiosos, neste caso, aos sentimentos dos muçulmanos.

Condenamos e rejeitamos tais ações criminosas. Qualificamo-las como criminosas e contrárias aos compromissos assumidos pela Suécia, inclusive em organizações internacionais. Deve tomar medidas para investigar o incidente e punir os extremistas.

Pergunta (tradução do inglês): As negociações sobre o fornecimento de petróleo barato entre o Paquistão e a Rússia quase estão na fase final. A proposta da Rússia foi acolhida favoravelmente, uma vez que o Paquistão pode pagar a compra de petróleo em qualquer moeda. Pode a Rússia oferecer outras facilidades ao Paquistão nesta situação?

Maria Zakharova: As empresas russas e paquistanesas estão a negociar o fornecimentos e recursos energéticos ao Paquistão. As negociações ainda não foram concluídas. Os nossos especialistas estão a trabalhar de forma empenhada para resolver as questões pendentes. A Rússia acha preferível que os pagamentos futuros sejam feitos em moedas locais ou em moedas de países terceiros, que estão protegidas de riscos de sanções. Muitos têm medo e não podem falar sobre isso, mas a moeda norte-americana é uma bolha de sabão que não tem lastro e continua a ser emitida mesmo apesar da enorme dívida nacional dos EUA.

A cooperação russo-paquistanesa na área de energia não se resume ao fornecimento de hidrocarbonetos. Na reunião da Comissão Intergovernamental de Cooperação Económica, Comercial e Tecnológica Rússia-Paquistão realizada em Islamabad entre os dias 18 e 20 de janeiro deste ano, foi decidido discutir um plano abrangente de cooperação energética que inclui tanto a construção de infraestruturas como o fornecimento de fontes de energia. Se implementado, o plano garantirá o desenvolvimento sustentável da indústria de gás do Paquistão.

Para mais informações, recomendamos-lhe que contacte o Ministério da Energia russo.

Pergunta: A British Broadcasting Corporation tem um relatório em que responsabiliza o Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, pelo massacre de Gujarat em 2002. O relatório está sob uma proibição. Qual é a opinião da Rússia sobre este relatório e a opressão das minorias na Índia?

Maria Zakharova: Não tenho a certeza se esta é uma pergunta para nós. Antes de mais, deve ser comentada em Nova Deli.

Os nossos amigos indianos já comentaram o assunto. Gostaria de salientar que esta é mais uma prova de que a British Broadcasting Corporation está a travar uma guerra de informação em diferentes frentes, não só contra a Federação da Rússia, mas também contra outros centros de poder globais destacados por seguirem políticas independentes. Passados alguns anos, ficamos a saber que a BBC está a travar lutas mesmo dentro do establishment britânico como instrumento de diferentes grupos opostos. Temos de encará-lo de modo conforme. Não é uma emissora independente, é uma emissora dependente que muitas vezes menospreza os princípios básicos do jornalismo.

Pergunta: A senhora disse que por agora não se fala em pôr fim às relações com a Moldávia. Hoje em dia, fala-se cada vez mais sobre a probabilidade de a Moldávia se retirar da CEI e deixar de ser neutra. Existe um roteiro em que seja possível uma rutura total das relações com a Moldávia no futuro? Será isso possível?

Maria Zakharova: Sugere-me que escreva um guião para um blockbuster, que me afaste do que estou a fazer e comece a escrever livros de ficção? O que quer dizer com a frase sobre se existe um roteiro?  Ministérios, diplomatas, analistas, cientistas políticos consideram os mais diversos roteiros e fazem previsões e análises. Normalmente, comentamos publicamente os nossos passos e explicamo-los.

É objetivamente desvantajoso para a Moldávia abandonar a CEI e os 285 acordos, dos quais faz parte. Trata-se dos acordos que foram assinados pela Moldávia de livre vontade, sem coação por ter achado isso atrativo, vantajoso e necessário.

É por isso que, como podemos ver, as suas autoridades não se precipitam a tomar decisões, percebendo os verdadeiros benefícios socioeconómicos da sua presença na Comunidade de Estados Independentes. Veja-se o regime de Kiev. Não imagina quantas críticas negativas foram feitas por ele, mas os acordos que lhe são vantajosos continuam a funcionar.

Trata-se, antes de tudo, dos acordos de isenção de vistos, de uma área de livre comércio, de preferências sociais e outras para os trabalhadores migrantes. Não devemos esquecer que cerca de 25% das trocas comerciais da Moldávia recai sobre os países da CEI, subindo para mais de 90% a taxa de exportações moldavas para os países da CEI em algumas áreas.

Quanto às relações diplomáticas entre a Rússia e a Moldávia, não há razão para alterar o seu nível nem para as romper. Estamos certos de que este roteiro não seria do interesse dos nossos países e dos seus povos.

Quanto aos planos da atual elite política da Moldávia, deve dirigir a sua pergunta para eles para que contem sobre os seus planos.

Pergunta: Considera provável o envolvimento direto da Moldávia no conflito na Ucrânia, à luz dos recentes acontecimentos: outra queda dos destroços de um míssil, o pedido de fornecimentos de sistemas de defesa antiaérea, a possibilidade de o país abdicar da neutralidade?

Maria Zakharova: Os representantes da liderança moldava, por mais antirussos que sejam, admitem que não existe ameaça por parte da Rússia. Estes são factos. Não iremos considerar desdobramentos hipotéticos. Neste momento não há razão para falarmos da participação da Moldávia no conflito.

Quanto às discussões sobre a sua intenção de abdicar da neutralidade e aos seus pedidos de compra de armas ocidentais, dissemos muitas vezes que tais passos da Moldávia não iriam aumentar a sua segurança. Mas esta é uma questão para aqueles que utilizam o país para os seus fins sujos.

Pergunta: A minha pergunta é sobre o bombardeamento da central nuclear de Zaporojie e o armazenamento de munições nas centrais nucleares da Ucrânia. A senhora acha que as questões em matéria de segurança nuclear acumuladas no último ano justificariam uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU sobre a segurança das centrais nucleares que se encontraram em zonas de guerra? Talvez tais reuniões tenham sido realizadas?

Maria Zakharova: A declaração feita pelo Diretor do Serviço de Inteligência Exterior, Serguei Naryshkin, de que a Ucrânia está a armazenar no território das centrais nucleares as armas e munições recebidas de países ocidentais, deveria causar, como dizem os diplomatas, profunda preocupação na comunidade internacional, porque o regime de Kiev utiliza as suas centrais nucleares para acumular ajuda militar ocidental e defendê-la contra-ataques. O regime de Kiev já fazia isso antes, pelo que dizíamos que fazia chantagem nuclear, bombardeando a central nuclear e expondo-a ao perigo.

A informação publicada pelo Serviço de Inteligência Exterior não surgiu "do nada" e provêm de fontes confiáveis.

Neste contexto, consideramos necessário que a direção do Secretariado da AIEA considere cuidadosamente estas informações e não confie no relatório apressado dos seus inspetores de que não se apercebem de qualquer atividade deste tipo na central nuclear. É bastante óbvio que as Forças Armadas ucranianas não o anunciam. Nenhuns "tweets" a este respeito foram publicados, por enquanto. Mas isto não significa que não haja informação. Obviamente, o pessoal da AIEA precisa de estar vigilante e disposto a ir ao fundo da verdade. Tanto mais que as centrais nucleares são conjuntos enormes, que não podem ser controlados por dois ou três inspetores.

Por isso, é impossível afirmar que não têm conhecimento disto ou que não viram nada do género ali, dado o número muito limitado de agentes que vieram inspecionar uma instalação que desconhecem porque não a mantêm ou não a construíram. Só poderão fazer estas conclusões se tiverem feito um trabalho aprofundado e se tiverem informações. Assim que recebemos a informação, divulgámo-la através dos canais apropriados.

O mesmo pode ser dito acerca das declarações sobre as fortes explosões alegadamente ocorridas perto da central nuclear de Zaporojie. Esta informação não corresponde à verdade e já foi desmentida por nós. Os combates ocorrem longe da central.

Instamos o Secretariado da AIEA a não se precipitar a fazer conclusões e avaliações e a prestar atenção ao que se passa nas centrais nucleares ucranianas.

Em relação ao Conselho. Esta informação é regularmente levada ao conhecimento dos membros do Conselho de Segurança e do Secretariado das Nações Unidas pelo Representante Permanente da Rússia junto da ONU, Vassili Nebenzia. Quando uma informação e materiais relevantes se acumulam ou um acontecimento extraordinário ocorre, tomam-se medidas para iniciar debates especiais. Se decidirmos fazer algo semelhante ou se houver necessidade de o fazermos, informá-los-emos imediatamente.

Pergunta: Um colega do Azerbaijão disse que as instituições europeias começaram a referir-se à Rússia e ao Azerbaijão em conjunto. Ontem, a APCE votou a criação de um tribunal para julgar os dirigentes máximos da Rússia e da Bielorrússia. Dois deputados do Azerbaijão votaram a favor. Um deles condenou a agressão da Rússia e terminou a sua intervenção dizendo " Glória à Ucrânia". Gostaria de saber a atitude do país alegadamente amigo da Rússia para com tais ações?

Maria Zakharova: Consegue imaginar quantos indivíduos e forças políticas dizem coisas como estas? Nós comentamos as tendências, as pessoas que estão no poder e que estão envolvidas na política externa. Se dermos atenção a cada pessoa que fala, não teremos forças suficientes para comentá-lo.

Pergunta: A minha pergunta é sobre a declaração feita ontem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo sobre a missão civil da UE. Dois pontos geraram muita discussão. Primeiro: por alguma razão a Europa tem de consultar o Azerbaijão sobre a missão na Arménia, embora o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão já tenha feito a sua avaliação, dizendo que tomou nota e expressou as suas sugestões às estruturas europeias. Em geral, a UE está a cooperar bem com o Azerbaijão no setor da energia no intuito de substituir os recursos energéticos russos. Gostaria de saber o que mais a UE deveria ter feito com o Azerbaijão para ter a sua missão na Arménia?

Maria Zakharova:  Pergunte ao Azerbaijão.

Pergunta: Não, a senhora representa o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo e disse que deveríamos ter consultado o Azerbaijão sobre as condições de trabalho.

Maria Zakharova: Não vi que o tivessem feito.

Pergunta: O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão emitiu uma declaração há dois dias.

Maria Zakharova: Alguém o consultou?

Pergunta: Disseram que tinham expressado as suas sugestões e tomaram nota do envio da missão em consideração. A questão da missão da UE não foi discutida por Baku.

Maria Zakharova: Nós não somos o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, somos o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Estou a falar da nossa posição. O resultado final do que deveria acontecer é uma resolução pacífica do problema. Para que isto aconteça, deve haver uma atitude de respeito para com todas as partes: a compreensão, as avaliações das partes de quem está certo e quem está errado em cada caso concreto. Medidas como estas são, primeiro, submetidas à consulta das partes e depois são aprovadas. Porque, de acordo com as leis da física, não há uma, mas há várias partes. É preciso compreendê-lo. Se houver duas partes e alguém pretender instalar uma missão no território de uma delas, acha que será possível obter o valor acrescentado se a outra parte for notificada desta forma? Ninguém consultou a outra parte. Ou o que é que esta missão vai lá fazer? Se se dedicar ao acolhimento de extraterrestres espaciais, à observação de estrelas, então, tudo bem, não faz sentido consultar a outra parte em conflito. Mas se o seu objetivo é ajudar a resolver o conflito, não há maneira de evitar consultar a outra parte. É um malabarismo verbal, realmente, porque consultar a outra parte quando tudo já está resolvido. O resultado será o mesmo, se não pior. É preciso compreender as "leis do género".

Pergunta: Foi dito que a Força de Paz e os guarda-fronteiras russos reagirão à atuação dos observadores da UE em função da evolução da situação "no terreno". O que significa isso? Quererá isso dizer que não os deixarão passar?

Maria Zakharova: É simples, não há necessidade de fantasiar. Se houver ações, haverá uma reação. Se não houver ação, não haverá reação. Tudo é claro.

Pergunta: Voltemos ao corredor de Lachin.

Maria Zakharova: Já disse tudo sobre esta questão. Não vamos repeti-lo. Há coisas que requerem uma análise mais aprofundada. E há as que são comentadas no momento em que ocorrem. Já disse tudo o que podia dizer sobre este assunto. Não tenho mais informações.

Se me enviar as suas perguntas, transmiti-las-ei a peritos para fazerem avaliações mais aprofundadas.

Pergunta: Na semana passada, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, disse, em conferência de imprensa, que o lado azerbaijanês havia referido o transporte de minas, embora o controlo estivesse a cargo da Força de Paz russa. Disse uma frase muito interessante que foi muito discutida na Arménia, a saber, que a Declaração Trilateral, de 9 de novembro de 2020, "estipula à parte que nenhuma carga militar deva ser transportada por esta via". No entanto, não há nada do género na declaração. Algumas declarações dos lados russo, azerbaijanês e mesmo arménio deixam uma pessoa comum com a impressão de que existem algumas cláusulas secretas ou acordos verbais.

Maria Zakharova: Tem uma má atitude para com uma pessoa comum. Ela não se interessa pelo que vê nem pelo que não existe. Penso que uma pessoa comum tem uma questão concreta, substantiva e simples. Por exemplo, uma pergunta semelhante à que me fez, e que lhe dirigi relativamente à posição de Erevan sobre a questão de Nagorno-Karabakh extremamente importante para o país e o seu estatuto. Esta é a questão que preocupa uma pessoa comum. Há muito que quer saber qual é a posição oficial das autoridades arménias sobre esta questão. Acontece que ainda não foi elaborada. E está a tentar formular uma pergunta hipotética de uma pessoa comum sobre algo que não existe, mas que pode existir, porque é um "segredo" e não pode ser visto. Há o que é visível e o que requer realmente a formulação de uma posição básica. Então muitas dúvidas tirar-se-ão por si próprias.

Pergunta: Neste caso, a declaração de Serguei Lavrov mostra que existem alguns acordos que faltam ao texto do acordo trilateral. Gostaria de compreender isto.

Maria Zakharova: Vou-me informar sobre o que podemos dizer a este respeito.

Mais uma vez, não vamos procurar nuances em algo que não existe, mas "poderia existir".

Não insisto, mas dada a sua pergunta (este tópico surgiu repetidamente), vamos esperar pela formulação de uma posição fundamental sobre esta questão muito importante para que todos compreendam (em primeiro lugar, as pessoas comuns de quem está a falar, e todos os que estão envolvidos neste assunto) qual é a posição básica da liderança arménia. Então muitas coisas ficarão automaticamente claras. Enquanto isso, este tópico tem sido interpretado de diferentes maneiras, fazendo-se diferentes referências a diferentes documentos. A elaboração de uma posição básica sobre esta questão crucial clarificará automaticamente muitos outros pontos. Há que começar por aí.

Pergunta: Gostaria de fazer uma pergunta da ONG italiana "Humanidade em Guerra". Foi formulada pelo seu Presidente, Professor P. Pasculo. É o filho de um soldado italiano em Donetsk que, mais tarde, se tornou antifascista, foi salvo por uma mulher russa. A ortografia e o estilo de escrita foram mantidos:

"Sabemos que os russos pagaram a maior dívida de sangue da Segunda Guerra Mundial, e não houve ódio pelos soldados que, apesar deles, foram enviados para a Rússia por governos vilões.

A NATO é agressiva. O que pode a Rússia fazer, que sacrifícios ou negações está disposta a fazer para salvar o mundo e trazer a paz, sabendo que o Ocidente não a apreciará"?

Maria Zakharova: Já respondi hoje parcialmente a esta pergunta. No entanto, por muito que pensem que os tempos estão a mudar, a humanidade está a progredir, é um tema polémico. Em geral, nenhum avanço na ciência e na tecnologia muda a natureza humana. Os problemas da humanidade continuam os mesmos: o que é bom e o que é mau? O que é mais importante: amor, compaixão, ajuda mútua, respeito, apoio ou lucro, interesse próprio, conforto, etc.?

A questão do que o nosso país pode fazer, que sacrifícios ou negações está disposto a fazer para salvar e trazer a paz, a Rússia está a responder agora mesmo, todos os dias. Não foi a 24 de fevereiro de 2022 que isso começou. Isso começou muito antes. Na nossa história, sempre respondemos às mesmas perguntas.

No século XX, respondemos globalmente. Pensámos que a humanidade teria presente esta resposta durante muito tempo. Mas como pode ver, a memória parece estar a ficar mais curta. Provavelmente porque há muitos meios de armazenar informação, as pessoas não precisam de manter tanta coisa na sua cabeça, esquecem-se do que aconteceu há 50, 60 ou 70 anos. Infelizmente, a memória desses tempos vai evaporando. Desapareceram as pessoas, os membros da família que se lembravam. Ler um livro ou consultar uma enciclopédia, ir à biblioteca não faz parte da nossa vida hoje em dia. Há muitas falsificações na Internet, trabalhos de propaganda.

Aconteceu que, mais uma vez na sua história e na história do mundo, a Rússia é forçada a responder às mesmas perguntas. Fez a sua escolha. O povo russo também a fez para preservar os valores civilizacionais que são o verdadeiro património do nosso planeta, da humanidade, aquilo de que acabámos de falar: amor, respeito mútuo, respeito pelos antepassados, glorificação dos verdadeiros heróis, anátema aos traidores e inimigos que matam os seres humanos. O fator mais importante é o desejo e a capacidade de defender aqueles que têm sido desavergonhadamente torturados e atormentados durante anos sem fundamento. A Rússia está agora a responder a todas estas questões não só à comunidade internacional, mas também, em grande medida, a si própria.

Pergunta: As ONG italianas gostariam de participar nos briefings. Haverá uma língua italiana? Neste momento, os briefings são realizados em russo e têm tradução para inglês.

Maria Zakharova: Em relação aos briefings. Este é um evento para os media, jornalistas, profissionais da comunicação social.

Estamos prontos a cooperar com as ONG em termos de transmissão da nossa posição e informação. Temos esta prática. Ponha-nos em contacto, envie-nos os seus contactos. Penso que a nossa Embaixada em Itália provavelmente as conhece. Dar-lhe-emos uma ficha informativa para completar a minha resposta.

Pergunta: Na reunião do nosso Presidente com alunos universitários, uma das estuantes da Universidade Russa da Amizade dos Povos (RUDN) contou como fora expulsa da Universidade de Viena por se recusar a tomar uma posição russófoba. Em que países os estudantes russos foram expulsos de universidades estrangeiras e terão todos os que regressaram à Rússia conseguido continuar os seus estudos nas universidades russas?

Maria Zakharova: Este não é um episódio isolado. Durante o ano passado, recebemos numerosas cartas dos nossos compatriotas a dizer que muitos estudantes russos foram discriminados e pressionados a assinar documentos em condenação às ações da Rússia e a opor-se, de facto, à sua pátria em troca da oportunidade de estudar. Foram submetidos à violência psicológica e terríveis provações.

Os nossos opositores ocidentais mostraram mais uma vez a sua verdadeira face, deixando de se esconder atrás dos slogans sobre a liberdade e democracia. Passaram a ações repressivas ativas contra as pessoas que não são culpadas de nada, e continuaram a lutar contra tudo o que é russo, a cultura e educação.

No ano passado, cerca de dois mil estudantes russos que estudavam no estrangeiro pediram para serem transferidos para universidades nacionais porque não podiam continuar os seus estudos no país de acolhimento. Tinham os seus cartões emitidos por bancos russos bloqueados (era impossível pagarem as propinas, estadia, refeições, viagens, etc.). Os próprios bancos recusam frequentemente os nossos cidadãos a abrir contas e a solicitar novos cartões, explicando isto pelo facto de serem cidadãos russos ou por algumas "razões políticas". É extremamente difícil obter um visto para um certo número de países se uma pessoa já estiver a estudar ou planear estudar lá.

Cerca de 800 dos estudantes que solicitaram a transferência estudam na Ucrânia. Não é de surpreender que, para além da Ucrânia, a maioria dos pedidos chegou de países europeus, entre os quais a República Checa (cerca de 400 pedidos), Polónia, Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Áustria, Espanha e Letónia. Entre os países do Novo Mundo encontram-se os EUA e o Canadá.

Graças aos esforços conjuntos dos departamentos russos especializados no assunto, dois terços dos estudantes que solicitaram a transferência foram matriculados em universidades russas.

Recebemos muitos pedidos do gênero. Por determinadas razões, não podem mudar o seu local de residência e estudo, tornando-se alvo de todas as "coisas" acima mencionadas. Tentamos ajudá-los a encontrar uma saída.

***

Gostaria de terminar este briefing com um anúncio.

No próximo dia 2 de fevereiro, às 10h30 (hora de Moscovo), a cadeia de televisão "Rossia 24" irá transmitir em direto uma entrevista do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, ao Diretor-Geral da Agência de Notícias Internacional "Rossiya Segodnya", autor e apresentador do programa "Vesti Nedeli", Dmitri Kiselev, sobre questões atuais da política externa e da agenda internacional.

Também transmitiremos esta entrevista em direto através dos recursos oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (no website e nos perfis do Ministério nas redes sociais).

 

 

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