Briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 16 de fevereiro de 2022
Desculpem-me pelo atraso, eu estava a verificar se estamos ou não a invadir. Não estamos!
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, recebe homólogo italiano
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 17 de fevereiro, em Moscovo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional da República Italiana, Luigi Di Maio.
As partes trocarão opiniões sobre questões correntes da agenda internacional, com destaque para a situação na região euro-atlântica no contexto das iniciativas da Rússia em matéria de garantias de segurança. A reunião versará também sobre a situação na Ucrânia, as relações da Rússia com a UE e a NATO.
Também serão analisadas as perspetivas da cooperação bilateral nas áreas política, comercial e económica, cultural e humanitária.
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, reúne-se com homólogo sírio
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 21 de fevereiro, em Moscovo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Expatriados da Síria, Faisal Mekdad.
Os dois Ministros pretendem trocar opiniões sobre a situação dentro e em torno da Síria, com destaque para a promoção de uma solução política abrangente para o país. Também planeiam discutir as atividades do formato Astana no contexto dos resultados da 17ª Reunião Internacional sobre a Síria realizada em dezembro de 2021 em Nur-Sultan e analisar a agenda do Comité Constitucional da Síria em Genebra.
Também serão abordadas questões relacionadas com o reforço e ampliação das relações multifacetadas entre a Rússia e a Síria em diversas áreas e a assistência prática russa à Síria na superação das consequências da crise político-militar que abala há anos o país.
As partes dispensarão especial atenção à situação humanitária na Síria e ao problema do regresso dos refugiados sírios e dos deslocados internos aos seus locais de residência permanente.
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe homólogo turcomeno
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, no dia 22 de fevereiro, o Vice-Presidente do Gabinete de Ministros e Ministro dos Negócios Estrangeiros do Turquemenistão, Rashid Meredov, que fará uma visita de trabalho à Rússia.
As partes planeiam discutir temas-chave da cooperação russo-turcomena, questões correntes das agendas regional e internacional e a interação dos dois países em formatos multilaterais (CEI, ONU, OSCE, G5 do Mar Cáspio).
Consideramos a próxima visita como componente importante de um conjunto de medidas para o estreitamento das relações bilaterais que está a ser concretizado ao abrigo do Acordo de Parceria Estratégica entre os nossos dois países assinado a 2 de outubro de 2017.
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, reúne-se com Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU para a Síria
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, reúne-se, no dia 23 de fevereiro, com o Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU para a Síria, Geir Pedersen, para discutir questões relacionadas com a solução síria, com destaque para a promoção do processo político que está a ser efetivado pelos sírios com o apoio da ONU, através inclusive do Comité Constitucional, em conformidade com a Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU.
As partes pretendem também abordar questões relacionadas com a intensificação da assistência humanitária internacional aos necessitados, conforme disposto na Resolução 2585 do Conselho de Segurança das Nações Unidas a atual situação in loco na Síria e na região.
Maiores informações estarão disponíveis no nosso sítio web após o fim das conversações.
Sobre falsificações
Esta é provavelmente uma secção que ainda não tivemos e que já deve aparecer: não sei se rir ou chorar. Isto é o que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, qualificou como terrorismo de informação por parte dos países anglo-saxónicos, tendo em mente o dueto entre escalões oficiais e mass media. Por um lado, é absurdo e cómico, por outro, é trágico, demonstrando claramente o que se passa na vida política interna e externa dos maiores países ocidentais que estão à frente dos processos na NATO, por exemplo. Eles até estão a tentar exercer pressão sobre os processos que se operam nas associações das quais não fazem sequer parte. Refiro-me à UE. Eles foram os que reivindicaram o papel de liderança do nosso mundo, de "garantes" da segurança e liberdade. Agora todos podem ver para onde eles nos levaram. É surpreendente verificar que foram estes países que criaram dentro das suas organizações (refiro-me à NATO e à UE) um monte de estruturas de combate às falsificações. Acho que terão muito que fazer nos próximos anos, pois há muito que eu não via tantas falsificações, desinformações, insinuações, calúnias e mentiras. Até mesmo no caso da Síria, não houve tantas desinformações.
Sobre as provocações sobre a questão ucraniana
Hoje estamos a celebrar mais um dia de "não agressão" contra a Ucrânia, mais um dia sem uma guerra anunciada. O Ocidente, em particular Washington e Londres, publicaram notícias e até fotos (agência noticiosa Blomberg e a cadeia televisiva CNN) do "ataque efetuado". Ontem a cadeia televisiva CBS lançou uma reportagem bizarramente estúpida. O The New York Times, o Sun, os tabloides britânicos e outros meios de comunicação social seguiram o seu exemplo.
Para o descontentamento de muitos meios de comunicação social ocidentais, esta "guerra" anunciada não aconteceu novamente. Seria engraçado se não se tratasse de uma palavra que assusta todo o mundo, o seja, a "guerra". Eles fizeram os possíveis para que a guerra acontecesse e encheram, talvez, páginas com reportagens sobre "violentos combates". Todavia, isso não tem nada a ver com a realidade. Publicámos na secção "Antifake» do sítio web do nosso Ministério um artigo detalhado dedicado a este assunto. Hoje publicamos mais um artigo sobre como algumas agências noticiosas e outros meios de comunicação social que passam a ser para nós meios de desinformação social fomentaram a histeria ao anunciar que a Rússia estava "prestes" a atacar a Ucrânia.
Para o descontentamento do Washington Post, do The New York Times, da Bloomberg, do Daily Mirror, do Bild, do Sun e outros meios de desinformação social, a guerra não chegou a acontecer. No entanto, eles não se desanimam e continuam a esperar por ela com uma tenacidade digna de uma melhor aplicação. Esta noite, de acordo com a imprensa, a CNN havia obrigado os seus correspondentes e operadores de câmara a trabalhar dia e noite para poderem filmar uma "invasão por tanques russos", como eles disseram, enquanto a agência Reuters organizou uma transmissão em direto, aparentemente na esperança de que algo de mau acontecesse. Quero saber se o tempo de comercial na TV subiu de preço durante este período? Até o regresso de algumas unidades militares russas às suas bases após o fim dos exercícios foi apresentado como "manobra de diversão" efetuada pelos russos para desviar a atenção da comunidade internacional da futura invasão. Os senhores podem dar sozinhos uma avaliação moral a estas ações enquanto a comunidade jornalística (refiro-me às associações de jornalistas) e as famigeradas estruturas de combate à desinformação devem tomar medidas mais sérias, devem finalmente permitir-se trabalhar. Ainda há espaço no sítio web do Departamento de Estado dos EUA onde foi publicado o relatório sobre alegadas falsificações divulgadas pelos meios de comunicação social russos, em particular o canal RT? Por favor, publiquem ali um relatório sobre as falsificações divulgadas pelos meios de comunicação social dos EUA. Precisam de exemplos? Vou enviar-lhos.
O que surpreende, porém, é a dimensão, porque tudo o que eu disse já havia tido lugar. A diferença é que, pela primeira vez, talvez, na história da humanidade, tanto o presumível "país agressor" (este papel foi reservado à Rússia pelo Ocidente coletivo) como o presumível "país vítima" (este papel foi reservado no espetáculo mediático norte-norte-americano à Ucrânia) desmentiram todas as notícias sobre os alegados planos de guerra veiculadas pelos mass media anglo-saxónicos. Penso que a humanidade ainda não assistiu a uma situação em que tanto a Rússia como a Ucrânia, apesar das suas avaliações diametralmente opostas de muitas questões e, para o dizer de forma suave, abordagens divergentes para com muitos problemas bilaterais e internacionais, tenham afirmado aproximadamente a mesma coisa. Em primeiro lugar, não existem factos que sugiram qualquer "invasão", e, em segundo lugar, tudo o que lemos nos meios de comunicação ocidentais sobre este assunto é desinformação. Como pode ser? Fomos declarados como países que estão à beira de uma grande guerra europeia enquanto somos dois países, cujas relações bilaterais não estão na sua melhor fase e que desmentiram, a quase mesmo tempo, todas estas informações. A Ucrânia também tentou (falaremos disso adiante) explicar aos seus patrões ocidentais que as suas declarações eram prejudiciais à sua economia e transformaram a vida dos ucranianos num verdadeiro inferno. Mas quem a ouviu lá? Estavam ocupados em transferir as suas embaixadas de Kiev para Lviv e assim por diante. Quanto custou tudo isto, o show de transferência da Embaixada e de destruição do equipamento, ao orçamento norte-americano? Pelos vistos, chegou a hora de trocarem o equipamento. Não terá sido esta a principal causa das intensas "atividades" do Departamento de Estado dos EUA?
O Ministério da Defesa ucraniano afirma que todas as alterações na situação registadas perto da fronteira ucraniana são, como eles dizem, "esperadas e ocorrem dentro das previsões anteriormente anunciadas". Escolheram este meio para pedir tacitamente aos EUA e ao Reino Unido para não fomentarem a histeria que minava a já frágil ordem pública interna na Ucrânia. O Ministro da Defesa ucraniano, Aleksei Reznikov, fez declarações todos os dias, dizendo ser baixa a "probabilidade de agressão por parte da Rússia". A quem no Ocidente interessa o que ele diz? O beaumonde político do regime de Kiev não o consegue compreender. Os seus representantes só são ouvidos pelo Ocidente quando é do seu interesse. Quando isso não está nos planos da Casa Branca e Downing Street, as declarações feitas por Kiev passam despercebidas porque não interessam a ninguém.
O Conselheiro da Presidência ucraniana, Mikhail Podoliak, consciente de que o pânico no espaço mediático estava a ser provocado pelos mass media ocidentais, exortou todos (refiro-me a estes jornalistas e meios de comunicação) a "serem equilibrados e a evitarem usar um tom alarmista". Não deu certo. As transmissões em direto já começaram. Para eles, a guerra estava prestes a deflagrar. Segundo o chefe do Gabinete do Presidente ucraniano, não havia provas de que os preparativos para uma "invasão em grande escala" tivessem começado.
O Secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Aleksei Danilov, disse que não via razões para uma invasão da Ucrânia começar no dia 16 ou no dia 17 de fevereiro.
O próprio Presidente do país, Vladimir Zelensky, tentou acalmar os seus concidadãos, pedindo aos responsáveis governamentais e oligarcas que voltassem ao país e àqueles que tinham alguma informação sobre a invasão no dia 16 de fevereiro que o informassem sobre isso. Ao mesmo tempo, o dinheiro dos contribuintes ucranianos estava a ser gasto com o seguro de voos no espaço aéreo ucraniano. Devido à histeria desencadeada pelo Ocidente, as companhias de leasing recusaram-se a segurar as aeronaves que sobrevoavam a Ucrânia. Os senhores não imaginam quanto dinheiro foi gasto com a fabricação de pistolas-metralhadoras de madeira e pistolas de papel. Graças a Deus, não seremos nós a calcular estes gastos.
Os dois países declararam a todos os níveis que não haveria nenhuma guerra, que ninguém iria atacar ninguém, desmentindo constantemente as notícias sobre os preparativos para uma "invasão". Todavia, isso não ajudou a fazer parar a máquina de propaganda ocidental que produzia declarações oficiais aos magotes. Agora podem ver para onde tudo isto levou.
Testemunhámos outra ronda da campanha de desinformação lançada pelo Ocidente sobre a mítica "invasão" russa da Ucrânia. O Ocidente investiu recursos colossais e mobilizou meios de comunicação social conhecidos e desconhecidos, políticos e diplomatas renomados e até Chefes de Estado para fazer passar este enredo. Até os países que distavam milhares de quilómetros da Europa e que não estavam ligadas de nenhum modo à Ucrânia recebiam estas desinformações que os deixavam preocupados com os eventuais desdobramentos negativos na Ucrânia. Todavia, fizeram bem em pedir esclarecimentos diretamente aos representantes russos. Como resultado, receberam explicações cabais.
Havia planos concretos de provocações. O Washington Post enviou uma equipa de filmagem à Ucrânia para recolher materiais sobre a segurança no Mar Negro para falar sobre as ameaças provenientes da Crimeia russa e o estado da marinha ucraniana. Deveria sair para o mar num navio de guerra ucraniano para descrever uma "situação real" no Mar Negro.
Todavia, nem sempre as ações dos jornalistas estavam de acordo com os planos aprovados por Washington e Londres. Houve quem tentasse dar uma cobertura objetiva aos acontecimentos. Na semana passada os repórteres franceses relataram a situação real em Donetsk falando num dos canais de televisão centrais da França. Para muitos, a sua reportagem foi uma "revelação tão indesejável" que a Embaixada ucraniana em Paris telefonou ao canal para expressar a sua indignação. Como puderam eles mostrar a verdade?
Aparentemente, não ouviram os apelos dos seus dirigentes em Kiev para mostrar tudo "como está" e relatar factos reais e não inventados.
Aparentemente, a fim de evitar "incidentes" semelhantes no futuro, quando a verdade vaza e surge uma visão objetiva, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, e o Ministro da Cultura e Política de Informação da Ucrânia, Aleksandr Tkachenko publicaram, no passado dia 10 de fevereiro, uma mensagem conjunta aos meios de comunicação social ucranianos e estrangeiros em que lhes pediram para seguirem a posição oficial ucraniana ao cobrir a situação no sudeste do país. Interessa salientar que, quando a agência Bloomberg diz que a Rússia "invadiu" a Ucrânia e que tudo na Ucrânia está em colapso: a economia, as finanças, a moeda local, que a população começa a fugir com o que tem e que os funcionários governamentais saem em massa da Ucrânia em massa, os representantes oficias da Ucrânia dizem: "não, não, não, isto não é verdade". "Vamos escrever a verdade". Por outro lado, quando alguém procura relatar mais ou menos objetivamente o que está a acontecer na realidade e o que se discute há anos e dá origem a histórias pouco decorosas, os mesmos representantes do regime de Kiev dizem: "não, só há uma versão correta, a nossa", não usem as outras. Esperem, vocês escolheram a democracia, o pluralismo dos meios de comunicação e a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e assim por diante, votando a favor destes valores sem fazer parte da União Europeia (dirijo-me agora ao regime de Kiev), assinando os documentos e dizendo que estavam unidos no esforço de defender a liberdade e a democracia. Agora têm a possibilidade de o fazer na prática: não fechem os vossos canais de televisão que não são nada oposicionistas e só tentam dizer alguma coisa, deixem de perseguir jornalistas, deixem em paz os jornalistas ocidentais interessados em compreender o que se passa na realidade.
Telefonaram-nos a pedir que lhes explicássemos a razão por que Kiev não quer cumprir os acordos de Minsk. Pode ser que tenham a possibilidade de fazer reportagens sobre o que veem na realidade e não sobre as histórias com que lhes martelam os ouvidos.
Por isso, apelamos à OSCE, que tem praticado ultimamente uma espécie de "diplomacia silenciosa", para que acorde da anabiose e dê uma avaliação adequada a esta descarada e cínica pressão sobre os jornalistas. Os dois ministros do governo ucraniano pediram aos jornalistas que utilizassem o seu ponto de vista oficial sobre os acontecimentos.
Os países da NATO continuaram a encher a Ucrânia de armas a coberto da cortina de informação por eles criada. Estão completamente despreocupados com a hipótese de estas armas poderem facilmente acabar no mercado negro e ser utilizadas não tanto contra um agressor mítico, mas contra os seus próprios cidadãos. Temos visto isto repetidamente. Dada a histeria e a psicose fomentas pela NATO na Ucrânia, tudo pode acontecer lá. Já dissemos que, segundo as informações da Procuradoria-Geral da Ucrânia, a quantidade de armas em circulação ilegal vem aumentando. Gostaria de salientar a que a informação é da Procuradoria-Geral da Ucrânia e não de um país em que a Ucrânia independente e a comunidade internacional não acreditam. No futuro, estas armas poderão ir parar nas mãos de grupos criminosos dos países que agora as fornecem à Ucrânia.
A histeria instigada pelo Ocidente exerceu grande pressão psicológica sobre o povo da Ucrânia. É a eles que compete lidar com isto, estamos interessados noutra coisa. O que nos interessa é que a condição moral da população do país que se encontra numa fase "quente" do conflito interno. Qualquer movimento brusco, incluindo na linha de contacto, um tiro, uma provocação pode, infelizmente, ter consequências fatais. É preciso acalmar as pessoas e persuadi-las a permanecer pacíficas, e não fazer o que o Ocidente e os políticos da Ucrânia estão a fazer. Porque os interesses da Ucrânia e dos seus cidadãos não interessam a ninguém no Ocidente, por mais que eles se esforcem por nos fazer crer no contrário. Políticos e cidadãos comuns estão realmente a começar a acordar e a perceber que são uma ferramenta nas mãos dos seus supervisores ocidentais. O seu destino não interessa ao Ocidente. Os deputados, funcionários governamentais, homens de negócios simplesmente fugiram do país. Hoje foram publicados vídeos a mostrar como grandes quantidades de dinheiro foram exportadas do país. Aqueles que estão atualmente no poder em Kiev ridicularizaram, em tempos, o que estava a acontecer na Ucrânia no início de 2014, zombando dos funcionários do governo anterior forçados a abandonar Kiev com pneus a arder sob pressão da oposição. Onde é que está o seu ímpeto democrático? Para onde foi tudo isto? Acontece que levaram oito anos para fazer o mesmo e tudo em vão?
Neste contexto, merece atenção a mensagem do Presidente Vladimir Zelensky aos ucranianos. Mais uma vez eu gostaria de salientar que ele disse sem rodeios que havia quem estivesse a assustar a Ucrânia com uma "grande guerra" (reparem, não foi de nós que ele falou), marcando "datas de invasão". Não foi de nós que ele falou, porque havíamos dito sempre exatamente o contrário: não iríamos atacar, não tínhamos tais planos, estávamos apenas a treinar tropas (falarei disso adiante). Quanto às datas da invasão, todos, dos funcionários governamentais e políticos aos jornalistas, fizeram tudo para mostrar a insignificância dos boatos criados no Ocidente e ali transformados nas falsificações e desinformação.
Exortamos os países ocidentais a pararem de instigar a histeria antirrussa (e de facto, já anti ucraniana) e a pararem de encher a Ucrânia de armas. As suas ações têm um impacto negativo tanto no processo de resolução do conflito em Donbass como na situação geral em termos de segurança e estabilidade na Europa.
Sobre o exercício russo-bielorrusso "Determinação Aliada - 2022"
O Ocidente continua a fazer afirmações absurdas sobre os exercícios militares russo-bielorrussos "Determinação Aliada - 2022".
Gostaria de lembrar que, já durante o briefing de 20 de janeiro passado, ou seja, há quase um mês, avisámos os jornalistas e o público em geral de que a propaganda ocidental iria martelar no tema "do ataque russo à Ucrânia a partir da Bielorrússia". De facto, este tema ficou nas manchetes. Os acontecimentos ocorridos nas últimas semanas permitem-nos afirmar com certeza que o objetivo dessa campanha era criar uma cortina de informação para fornecer armas ao regime de Kiev. Opina-se que esta situação pode ser utilizada pelo regime de Kiev para uma agressão suicida contra Donbass. Empenhados em semear o pânico, os estrategas de Washington e Londres assustaram não só os ucranianos, mas também a si próprios e os seus concidadãos, anunciando a retirada dos diplomatas de Kiev e aconselhando os seus compatriotas a deixarem a Ucrânia, Bielorrússia e Moldávia.
Quanto ao exercício "Determinação Aliada", as manobras estão a ser realizadas em plena conformidade com os planos anunciados. As informações detalhadas sobre os objetivos, fases e datas das manobras foram divulgadas pelo Vice-Ministro da Defesa da Rússia, Aleksander Fomin, no briefing de 18 de janeiro passado. Naquele mesmo dia, o lado bielorusso fez um briefing semelhante para militares estrangeiros em Minsk. A CNN e a Bloomberg não irão certamente informar sobre isso. Foram organizadas visitas de jornalistas aos locais de exercícios. Os adidos militares e jornalistas foram convidados a assistir à fase final dos exercícios na Bielorrússia. Apesar das acusações absurdas de que somos alvo, nunca tentámos furtar-nos a explicar as nossas atividades para o reforço da defesa conjunta do Estado-União anunciadas nos nossos contactos políticos.
Não temos nada a esconder. Agimos de forma aberta, transparente e estamos prontos a responder a perguntas. O problema é que nós fazemos isso enquanto os mass media escondem deliberadamente a nossa posição da sua audiência.
Instamos os nossos parceiros a pararem de fomentar a histeria e canalizarem a sua energia para atividades construtivas. A verdadeira ameaça à segurança na região não reside nos exercícios concebidos para melhorar a capacidade defensiva da Rússia e Bielorrússia, mas nas ações provocatórias do Ocidente para aumentar a presença militar da NATO na fronteira do Estado-União e para encher a Ucrânia de armas. Estamos a dizer isso pela enésima vez. Talvez nos deem ouvidos finalmente.
Países da NATO não deixam de fornecer armas à Ucrânia
No último mês e meio, mais de 40 aviões de carga militares chegaram à Ucrânia procedentes de diferentes países: os EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Polónia e Lituânia.
Em dezembro passado, o Presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou outros 200 milhões de dólares em ajuda militar para a Ucrânia. Trata-se de sistemas de mísseis anticarro, lança-granadas, armas de fogo, munições e outro equipamento militar. Desde 2014, os EUA disponibilizaram à Ucrânia um total de 2,7 mil milhões de dólares em ajuda militar, de acordo com o Departamento de Estado (em 2021, 650 milhões de dólares).
Voltemos a perguntar: porque é que a Rússia está a realizar exercícios no seu território nesta região? Estranho, não é? Um país vizinho instável em que golpes anticonstitucionais são frequentes e há um conflito armado tem recebido grandes quantidades de armas nos últimos anos. O que há de surpreendente em realizarmos exercícios militares numa região onde o imprevisível pode acontecer e onde os países da NATO podem fazer o que normalmente fazem nestes casos?
Existem planos de entregar helicópteros MI-17 que se destinavam ao Afeganistão. Os norte-americanos permitiram que os seus aliados fornecessem armas e equipamento fabricado nos EUA à Ucrânia. A Casa Branca ameaça reforçar o contingente militar da NATO nos países leste-europeus com 8.500 efetivos norte-americanas.
O Reino Unido dispõe-se a enviar várias centenas de militares aos países bálticos e à Polónia, para completar o contingente de 830 militares britânicos instalado na Estónia e o contingente de 140 militares na Polónia. Londres já entregou a Kiev mais de 2.000 armas anticarro.
Além disso, o Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, anunciou o envio de aviões de caça Eurofighter Typhoon à Roménia e a transferência de 1.000 efetivos para a reserva da Força de Reação da NATO para a rápida intervenção em caso de "crise humanitária" nas fronteiras leste da aliança.
O Ministério da Defesa do Canadá anunciou pretender entregar à Ucrânia pistolas, fuzis de precisão, metralhadoras e 1,5 milhões de munições. Estas pessoas são certamente a favor da paz e desejam naturalmente tudo de bom à Ucrânia.
O governo polaco aprovou o fornecimento de MANPADS, munições e drones à Ucrânia.
A Estónia anunciou planos de fornecer à Ucrânia obuses de 122mm D-30. Estas bocas de fogo de artilharia haviam fabricadas na União Soviética, depois foram instaladas na República Democrática da Alemanha e, nos anos 90, após a reunificação da Alemanha, foram entregues por Berlim à Finlândia. Esta última entregou-as à Estónia em 2009. Mas a Estónia não poupa nada para a Ucrânia. Porque não ajudar um país amigo num momento difícil e não o presentear com um cacareco. Isso, sim, é que é a amizade. Segundo o "The Wall Street Journal", os governos alemães não permitem que a Estónia forneça à Ucrânia armas de origem alemã. Que pena, não é? Poderia ter deitado outra lenha na fogueira. Os Países Baixos disseram estar prontos a ampliar o seu programa médico de reabilitação de militares ucranianos. Com efeito, em vez de ajudar a pôr fim ao conflito, acham preferível tratar aqueles que nele ficaram aleijados ou, por exemplo, disponibilizar cinco milhões de euros ao "Fundo Fiduciário da NATO para a Ucrânia". Não podem deixar de fazê-lo. O povo da Ucrânia pagará por tudo isto, incluindo com as vidas das gerações futuras. Alguém tem de usar estas armas, alguém tem de pagar por estas armas. Encontraram para tanto um país infeliz.
Sobre resultados práticos de um projeto da FAO para a Síria financiado pela Rússia
Em janeiro passado, o projeto de assistência técnica "Apoio à População Rural e Reforço da Resiliência dos Agregados Familiares Rurais na Província de Aleppo, na Síria" foi concluído com êxito. O projeto foi implementado conjuntamente pela Rússia e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Orçado em três milhões de dólares, o projeto foi financiado pelo nosso país desde dezembro de 2018, tendo como principais objetivos superar as consequências devastadores do conflito militar na agricultura e infraestruturas agrícolas do país e restaurar o potencial de segurança alimentar da população da província de Aleppo.
Cerca de 45.000 agregados domésticos beneficiaram do projeto. A produção hortícola aumento em 1.600 explorações agrícolas familiares através da criação de viveiros de mudas e do fornecimento de sementes.
Um laboratório veterinário de diagnóstico foi reabilitado. Cerca de 20.000 pequenas explorações agrícolas têm livre acesso aos seus serviços. Mais de 596 000 animais já foram vacinados.
Mais de 3.000 agregados familiares obtiveram acesso à água após a reabilitação do equipamento de irrigação, o que permitiu recuperar a produção agrícola numa área de 5.000 hectares. Foram realizados cursos de aperfeiçoamento profissional em irrigação para 47 peritos técnicos.
O projeto proporcionou bons resultados práticos. Apesar das dificuldades ainda existentes no país, a FAO, juntamente com as autoridades locais, prestou ao povo sírio um apoio concreto e muito necessário após o fim dos combates.
Instamos os nossos parceiros internacionais a participar de forma mais ativa na recuperação pós-conflito da Síria, fazendo pleno uso dos conhecimentos acumulados no sistema da ONU.
Estão a ver como isto é interessante. Não é o mesmo que fornecer armas antigas à Ucrânia. Este é um apelo para ajudar os civis que foram auxiliados pela Rússia a sobreviver quando foram atacados por terroristas internacionais. Todavia, as questões relacionadas com a prestação de ajuda, fornecimento de alimentos e água, tratamento médico àqueles que lutaram contra a verdadeira ameaça não fazem parte dos planos do Ocidente. Este prefere cuidar daqueles que lutam entre si para, depois de curá-los, enviá-los de volta à guerra civil. O Ocidente cria fundações e junta doações para canalizá-las para o apoio à oposição, o que não contribui para a consolidação das forças sociais da Síria, mas para a divisão da sociedade síria. Os nossos parceiros da NATO sabem fazê-lo muito bem.
Ponto da situação com Capacetes Brancos na Jordânia
Quando o conflito na Síria começou, o Ocidente apoiou as forças que se opunham às autoridades legítimas daquele país, fazendo vista grossa à presença cada vez maior de radicais e terroristas nas suas fileiras. Cunhou um novo termo para designá-los: terroristas moderados, militantes, extremistas e prestou-lhe apoio financeiro e logístico, não disponibilizando, contudo, um só tostão para a reconstrução das infraestruturas civis e o restabelecimento da vida pacífica no país. O Ocidente optou por apoiar os extremistas e terroristas na esperança de que estes o ajudassem a derrubar o "regime de Assad". Apostou tudo neste plano. A administração dos EUA dizia: "ele deve ir", pagando todos os gastos e despesas daí decorrentes.
Até o surgimento de um monstro como o EIIL não fez voltar à razão aqueles que acreditavam que todos os meios eram bons para alcançar objetivos geopolíticos. Todavia, o EIIL era demasiadamente odioso: os seus líderes permitiram-se desafiar os interesses ocidentais em declarações públicas e ações práticas. Outra coisa são os terroristas "moderados" da organização Hayat Tahrir al-Sham, antiga Jabhat al-Nusra, e outras estruturas semelhantes e afiliadas, especialmente como a famigerada organização pseudo-humanitária "Capacetes Brancos".
Os serviços secretos do Ocidente continuam a colaborar com estas estruturas, em particular com os "Capacetes Brancos", organizando provocações de toda a espécie para minar a concórdia social, denegrir o Governo da Síria e os seus apoiantes.
Gostaria de recordar que em abril de 2017 e abril de 2018, os falsos ataques com armas químicas encenadas pelos Capacetes Brancos motivaram a NATO a bombardear instalações militares e civis sírias. Hoje em dia, aqueles que há alguns anos bombardearam a Síria sob um pretexto falso criado com o seu próprio dinheiro, pedem-nos para dizer se ainda temos planos de atacar a Ucrânia. A sua hipocrisia não é nova. Sabemos do que os nossos parceiros ocidentais são capazes.
Os ataques falsos com armas química e outras falsificações sobre os alegados crimes de Damasco tornou-se uma tendência dominante na guerra de informação do Ocidente contra a Síria. Hoje em dia ouvimos as declarações de Washington de que a Rússia poderia fabricar um motivo para uma "invasão". Não, não é a Rússia que fabrica motivos para uma «invasão", são os "Capacetes Brancos", os terroristas "moderados" que criam motivos para bombardeamentos. Sabemos quem procurava um bom motivo para uma "invasão". Como sempre, os nossos parceiros norte-americanos. Eles nunca irão lavar a sua vergonha de terem criado provavelmente um dos maiores motivos para a agressão e ocupação do Iraque. Refiro-me aos famosos frasquinhos de vidro nas mãos de Colin Powell no Conselho de Segurança da ONU que continham, segundo afirmou, esporos de antrax, arma de extermínio em massa que estava à disposição de Saddam Hussein. Portanto, os EUA deveriam "salvar" o mundo de Bagdade, porque os iraquianos estavam prestes a empregar as substâncias contidas nos frascos apresentados. Com o tempo, verificou-se que o pó branco apresentado nos frasquinhos era uma substância semelhante ao sabão em pó e que não havia nenhuns dados alegadamente obtidos pelos serviços secretos. Tudo isso era uma mera fantasia. A decisão de ocupar o Iraque, de derrubar o regime iraquiano e de realizar uma operação militar contra um país soberano havia sido tomada muito antes de ser anunciada e de serem apresentados os dados alegadamente obtidos pelos serviços secretos. Primeiro, tomaram uma decisão política, depois elaboraram uma base probatória.
No caso da Síria, foram criados os Capacetes Brancos que encenaram provocações e falsos ataques com armas químicas atribuídos posteriormente ao governo de Bashar Assad e ao nosso país.
Eu "gosto" daqueles que dizem que "quão bons são os ocidentais", aprenderam a inventar e a realizar as suas encenações, e que devemos aprender a fazer o mesmo. Dizem isso a sério, sem sarcasmo, "censurando" a nossa diplomacia e exortando-a a deixar de se aferrar ao direito internacional e a aprender a usar este mecanismo potente de influência. De que mecanismo de influência se pode tratar? Trata-se de crimes que causam o sofrimento de milhões de pessoas, a destruição de Estados, conflitos entre povos e crimes contra a humanidade.
A cretinização coerente da opinião pública permitiu ao Ocidente aprovar duras medidas repressivas e sanções, em particular a Lei de César, que empurram a Síria para uma catástrofe humanitária, impedindo-a de restaurar a sua economia e o regresso de milhões de refugiados. Não conseguiram derrubar o regime militarmente, decidiram fazê-lo por meios de bloqueios e sanções económicas e não só.
O que torna a situação particularmente cínica é que esta política desumana tem, na sua base "factual", "provas" que emanam de um material humano desprezível que não merece um aperto de mão. O detalhe é que a Jordânia vizinha aloja várias dezenas de ativistas dos Capacetes Brancos. Os serviços secretos ocidentais transferiram-nos para lá em 2018, quando a zona de desescalada sul deixou de existir e o governo sírio retomou o controlo da fronteira com a Jordânia. Os supervisores dos Capacetes Brancos prometeram ao governo jordano que, preenchidas todas as formalidades (o processo deveria ter levado alguns meses, segundo garantiram) os Capacetes Brancos mudar-se-iam para o Ocidente. Como terminou esta história? Após anos de inspeções e verificações, verificou-se que nenhum país estava preparado para acolher estes pseudo-humanitários, que, como se tornou evidente, constituiriam uma ameaça real à sua segurança. Os EUA prometeram ajudar financeiramente (esta informação está disponível para consulta, o Departamento de Estado disse-o). O Reino Unido infiltrou nos Capacetes Brancos agentes dos seus serviços secretos e dizia a todo o mundo que os Capacetes Brancos era uma entidade de direitos humanos, treinando-os no solo sírio para os virar contra o povo sírio, acusando-nos de passagem em fóruns internacionais de apoiarmos alegadamente o governo de Damasco no uso de armas químicas. Quando o jogo terminou, os Capacetes Brancos tornaram-se desnecessários; o seu ideólogo, James Le Mesurier, partiu desta para melhor em circunstâncias estranhas, e ninguém quis retirá-los da região. Quem precisa deles? Em primeiro lugar, eles sabem demasiado e provavelmente dariam de bom grado entrevistas por dinheiro às maiores empresas de televisão e rádio, e em segundo lugar, são simplesmente perigosos, considerando o número de migrantes do Médio Oriente e do Norte de África que já entrou nos países europeus e nos EUA e a que se acrescentaram imigrantes provenientes do Afeganistão. Dadas estas circunstâncias, os ocidentais aconselharam os jordanos a vigiar bem os seus ex-pupilos. Alguma vez era de uma forma diferente? Eles alguma vez cumpriram os seus compromissos, as normas do direito internacional?
UE e PNUD participam na restauração da casa de um cúmplice nazi
Estamos indignados com a participação da UE e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no projeto lançado no passado dia 2 de fevereiro, no sul de Mitrovica, de reconstrução da casa do cúmplice nazi Xhafer Deva. Foi Presidente da Câmara de Kosovska Mitrovica e mais tarde "Ministro do Interior" na pró-fascista "Grande Albânia", esteve por detrás da criação da divisão SS "Skanderbeg", e esteve envolvido na perseguição de sérvios, judeus, ciganos e outros não albaneses.
O cinismo e absurdo da situação agrava-se pelo facto de este projeto estar a ser levado a cabo no âmbito da iniciativa da UE "Património Cultural como Motor do Diálogo Intercomunitário e da Convergência Social".
A julgar pela declaração conjunta do PNUD e da UE de 8 de fevereiro, o projeto de restauração da Casa de Xhafer Deva foi suspenso. Esperamos que as estruturas da Organização Mundial, que foi criada na sequência da vitória sobre o nazismo, em nenhuma circunstância, participará em ações provocatórias semelhantes destinadas a branquear os criminosos nazis e a reescrever a história.
Ativista de direitos humanos é condenado a 18 meses de prisão na Letônia
O tribunal letão condenou o conhecido ativista de direitos humanos Aleksandr Gaponenko, que já se encontra com pena suspensa de três anos, a uma pena suspensa de 18 meses de prisão por «incitamento ao ódio nacional e étnico" e "ajuda a um país estrangeiro (subentende-se a Rússia) em atividades contra a Letónia.
Desta vez foi processado devido às suas publicações em que deu a sua opinião sobre os acontecimentos atuais, contrária à posição oficial de Riga, ridicularizando a posição das autoridades letãs sobre um "possível ataque" da Rússia aos países bálticos.
A sentença totalmente politizada lavrada contra Aleksandr Gaponenko fez lembrar o ambiente de terror político real e de arbitrariedades contra representantes da sociedade civil da Letónia, que têm a coragem de declarar abertamente o desacordo com a política de discriminação contra as minorias nacionais e de glorificação do nazismo na Letónia.
Insistimos em que as organizações internacionais especializadas façam uma avaliação de princípio da intolerável situação dos direitos humanos neste país báltico, cujas autoridades estão a utilizar a justiça punitiva para combater a dissidência. Partilhamos inteiramente a opinião do destacado ativista de direitos humanos Aleksandr Brod de que as estruturas das Nações Unidas, da OSCE e do Conselho da Europa demonstram uma "indiferença vergonhosa" em não apoiar Aleksandr Gaponenko.
Itália inaugura marco comemorativo "Para as Crianças de Beslan"
Beslan, como sabem, é uma das palavras, um dos símbolos que podem ser compreendidos sem tradução e que tem eco doloroso no coração de todos. De tempos a tempos relatamos as iniciativas, incluindo em Itália, destinadas a perpetuar a memória das vítimas da tragédia de Beslan. Florença tem uma praça chamada "Crianças de Beslan", Turim tem um parque chamado "Jardim das Crianças Vítimas de Beslan", Rovereto tem um parque e uma tábua memorial, Roccagorga tem uma escola em homenagem às crianças de Beslan, Castelnovo di Sotto tem um monumento "Memória e Esperança", Lurago d'Erba tem um parque infantil "As Crianças de Beslan". Ruas de muitas cidades italianas receberam denominações em memória da tragédia. Ao contrário dos países europeus onde as ruas receberam os nomes dos terroristas que causaram a tragédia no Norte do Cáucaso nos anos 90, princípios de 2000, uma escultura de bronze foi instalada no centro histórico da República de San Marino.
No dia 18 de fevereiro, a cidade de Sardzana (região da Ligúria) realiza uma cerimónia de inauguração do marco comemorativo "Para as Crianças de Beslan, instalado com o apoio da Câmara Municipal e da comunidade local numa instituição de ensino da cidade. O marco representa um disco de mármore com a imagem de crianças iluminadas pelos raios do sol a saírem de uma escola. A cerimônia contará com a participação do Presidente da Câmara, do Embaixador russo em Itália, Serguei Razov, autoridades locais e representantes da cidade de Beslan, além de professores e estudantes e jornalistas russos e italianos. Espero que deem cobertura a este evento.
Agradecemos ao povo italiano por mais uma manifestação de solidariedade e amizade. A atitude para com a tragédia de Beslan, que chocou o mundo inteiro e se tornou um símbolo de luta contra um dos principais desafios do nosso tempo, o terrorismo internacional, é um marco que define a civilização, o humanismo e a maturidade de uma sociedade, o seu desejo de seguir valores humanos universais na prática e não em palavras. Estamos convencidos de que o mal fundamental do terrorismo só pode ser erradicado através de esforços coletivos e consolidados com base nas normas e princípios do direito internacional.
Rússia entrega ajuda alimentar ao Djibuti
O terceiro lote de ajuda humanitária russa (193,5 toneladas) foi entregue às autoridades do Djibuti no dia 10 de fevereiro na base logística regional do Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM). A referida ajuda representa uma contribuição voluntária do nosso país para o PAM em 2022, no montante de 2 milhões de dólares, e destina-se às camadas populacionais menos abastadas e aos refugiados (mais de 30.000 pessoas) que se encontrar no território do país. A Federação da Rússia pretende continuar a dar a sua contribuição importante para a segurança alimentar dos países do Corno de África.
Relações diplomáticas entre Rússia e Burkina Faso completam 55 anos
O dia 18 de fevereiro marca o 55º aniversário das relações diplomáticas entre a Federação da Rússia e o Burkina Faso
Mantendo relações tradicionalmente amigáveis, os nossos países cooperam com sucesso no cenário internacional, coordenando as suas ações nas Nações Unidas e outros fóruns multilaterais. Mantêm uma boa cooperação económica, comercial e humanitária e na área de investimento, ampliando o seu o quadro jurídico.
Hoje, o Burkina Faso enfrenta novos desafios e uma situação política interna difícil após o golpe militar ocorrido naquele país a 24 de janeiro passado. Consideramos que é necessário que o país regresse, o mais rapidamente possível, à ordem constitucional e ao governo civil. Continuaremos, juntamente com a comunidade internacional e organizações regionais, a ajudar a população daquele país na procura de soluções para a crise e no combate à ameaça terrorista.
Como já é tradição, desejamos paz, prosperidade e bem-estar para o povo do Burkina Faso.
Relações diplomáticas entre Rússia e Sri Lanka completam 65 anos
No dia 19 de fevereiro, completam-se 65 anos das relações diplomáticas entre a Federação da Rússia e a República Democrática Socialista do Sri Lanka com cujo povo estamos há muito ligados pelos laços de amizade-
O diálogo político russo-srilankês tem sempre por base a igualdade, boa vontade e disponibilidade para considerar os interesses da outra parte. Mantemos uma cooperação produtiva no cenário internacional, nas Nações Unidas e noutros organismos e fóruns multilaterais. O nosso país tem sido tradicionalmente um importante parceiro comercial do Sri Lanka e um dos principais importadores do seu principal produto, o chá do Ceilão. As atividades bem-sucedidas da Comissão Intergovernamental Rússia-Sri Lanka de Cooperação Económica, Comercial, Científica e Tecnológica contribuem para o reforço dos laços económicos e comerciais bilaterais. Com a retomada dos voos diretos entre Moscovo e Colombo em julho passado, o número de viagens de turistas russos a este país começou a aumentar.
Na véspera do nosso aniversário comum, felicitamos os nossos amigos do Sri Lanka e expressamos a nossa confiança no desenvolvimento progressivo de todo o conjunto de relações bilaterais.
Dia Internacional da Língua Materna
O Dia Internacional da Língua Materna, proclamado pela UNESCO em 1999 por iniciativa do Bangladesh, é celebrado em todo o mundo a 21 de fevereiro e desempenhar um papel essencial na promoção da diversidade linguística e cultural e do multilinguismo.
Este ano, o Dia Internacional da Língua Materna é dedicado à utilização da tecnologia na promoção do multilinguismo na área de ensino.
Neste dia, serão realizados na Rússia e no resto do mundo grandes eventos e mesas redondas. Em particular, no âmbito de um evento temático organizado pela Delegação Permanente do Bangladesh na UNESCO, será realizada uma apresentação do projeto da Região Autónoma de Khanty-Mansi, o Yugra "Acampamento de TI. Acampamento de Escola-Jardim», um recurso educativo digital único destinado a ministrar aulas à distância para crianças indígenas. Além disso, terá lugar neste dia a primeira reunião do Comité Organizador Nacional para a Preparação e Implementação da Década Internacional das Línguas Indígenas 2022-2032 na Federação da Rússia.
Organização Internacional de Normalização (ISO) completa 75 anos
O dia 23 de fevereiro marca o 75º aniversário da Organização Internacional de Normalização (ISO), criada com a participação ativa da União Soviética. Atualmente, a ISO integra 167 países. Os membros da ISO não são governos, mas organismos nacionais de normalização. A sede é em Genebra, Suíça. A Rússia faz parte da ISO como sucessora dos diretos da ex-URSS e é representada pela Agência Federal de Regulamentação Técnica e Metrologia (Rosstandart) como comité membro da ISO.
A cooperação internacional no domínio da normalização e metrologia vem apresentando uma dinâmica positiva de ano para ano, apesar das tensões políticas no mundo.
A utilização de normas internacionais é um dos meios eficazes para melhorar a competitividade dos produtos e serviços das empresas russas no mercado mundial. Neste contexto, uma participação ativa dos nossos peritos e a aplicação de realizações nacionais é um objetivo estratégico importante. Pela primeira vez nos seus vinte anos de história, em 2021, o número de normas internacionais desenvolvidas por iniciativa da Federação da Rússia atingiu um novo nível.
A nossa participação no desenvolvimento de normas internacionais é efetivada através do trabalho dos nossos peritos nos comités técnicos internacionais de normalização e permite resolver, inclusive, questões relacionadas com o aperfeiçoamento do acervo nacional de normas nacionais de normalização com base nas melhores práticas internacionais, o desenvolvimento de normas internacionais para novos produtos e tecnologias competitivas de modo a considerar a opinião do nosso país; o apoio normativo à cooperação económica e comercial e científica e tecnológica da Federação da Rússia com outros países. Esta é também uma das áreas importantes.
A Agência Federal de Regulamentação Técnica e Metrologia (Rosstandart), que representa a Federação da Rússia em organizações internacionais especializadas presta o apoio necessário na ampliação da representação de empresas nacionais nos comités técnicos internacionais de normalização.
Felicitamos a ISO pelo seu 75º aniversário e desejamos aos seus membros novos êxitos em todas as áreas do seu trabalho frutuoso e necessário.
Atualmente, a ISO possui 763 comitês técnicos (TC) e subcomitês (SC). O nosso país participa em 588 TC/SC como membro participante (P-membro) e em 112 ISO TC/SC como membro observador (O-membro). A participação da Federação da Rússia na IEC como membro participante está fixada em 130 dos 184 organismos técnicos existentes. Em 54 organismos a Rússia está presente como membro observador.
Atualmente, a Rússia preside e realiza atividades em 14 organismos da ISO e da IEC, a saber:
ISO/TC 254 "Segurança de carrosséis e parques de diversão"
SC 7 ISO/TC 8 "Transporte hidroviário interior"
SC 6 ISO/TC 20 "Atmosfera padronizada"
SC 8 ISO/TC 20 "Terminologia aeroespacial"
SC 2 ISO/TC 59 "Terminologia e harmonização na construção"
SC 2 ISO/TC 67 " Sistemas de Dutos de Transporte"
SC 8 ISO/TC 67 "Operações de Petróleo e Gás do Ártico"
SC 4 ISO/TC 71 "Requerimentos de desempenho para o concreto estrutural"
SC 4 ISO/TC 96 "Métodos de ensaio"
SC 6 ISO/TC 108 "Sistemas de vibração e choque"
SC 3 ISO/TC 122 "Embalagem"
IEC/TC 1 "Terminologia"
IEC/TC 22F "Eletrónica de potência para sistemas de transmissão e distribuição de energia"
IEC/TC 45 "Instrumentação nuclear"
e assim por diante.
Este é um trabalho prático que temos realizado no cenário internacional.
Respostas a algumas perguntas:
Pergunta: O Secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, mencionou a possibilidade de enviar unidades de combate à Roménia, para perto do Mar Negro. Como a senhora vê esta declaração e as consequências do seu cumprimento? Como a Rússia vê as perspetivas das negociações futuras após a receção e avaliação da resposta dos EUA sobre as propostas de garantias de segurança?
Maria Zakharova: As decisões a respeito do novo grupo multinacional de batalhões da Aliança na Roménia, que a França pretende encabeçar, serão adotadas na sessão dos Ministérios da Defesa dos países da NATO a 16-17 de fevereiro. Também será discutida a possibilidade de deslocamento destes grupos de batalhões na Bulgária, Eslováquia e Hungria. A militarização da região do Mar Negro é uma ideia antiga da NATO, que pretende transformar esta região de cooperação pacífica em mais um palco de batalhas geopolíticas e rivalidade que ficam longe da competição normal na área das finanças e da economia, mas para utilizar instrumentos ilegítimos, ilegais para “conquistar” os seus próprios objetivos, tarefas e consolidar as suas posições. Um esquema velho, não inventaram nada de novo.
O bloco do Atlântico Norte explica, como sempre, o seu reforço militar pela mítica “ameaça” russa. A histeria das últimas semanas também tem a ver com isso. Dizem que a presença das forças armadas da Rússia perto da fronteira ucraniana força a Aliança a defender-se. Absurdo inimaginável. Não apenas para os adultos, mas para as crianças, que nem sabem o que é Estado e que a sua fronteira é protegida por forças armadas. Os países podem chamar isso de maneiras diferentes, mas seja como for, não existe sem isso a proteção das fronteiras. As forças armadas fazem manobras neste sentido no seu território, fazendo-o com respeito a todos os países e grupos que participam nelas, contam sobre elas, convidam observadores, média (o que foi feito). Têm o direito para isso. É especialmente relevante se está por perto um Estado em que hostilidades já duram vários anos no âmbito duma verdadeira guerra civil.
Gostaria de reiterar: a Rússia não ameaça os países da NATO e não planeia atacá-los, nem qualquer outro Estado. Promovemos uma política de paz, manifestamo-nos pela preservação da paz. A paz é um dos valores mais importantes para a Rússia. Constantemente vimo-nos forçados a combater um agressor no território do nosso país, que invadia sem ser convidado, destruindo tudo (cidades, pessoas, infraestrutura). Sabemos o que é a paz e como deve ser defendida. Por isso desenvolvemos as forças armadas, pois sabemos que provas o nosso país já enfrentou. Sublinho que tudo isso eram provas que nós passávamos historicamente. Os exercícios atuais das forças armadas tiveram lugar no nosso território soberano.
Mencionarei também que a Aliança fala da sua lealdade ao Ato Fundamental Rússia-NATO de 1997. O mesmo estipula a obrigação dos países da NATO de “garantir a sua defensa coletiva e outras missões por meio da interoperabilidade, integração e capacidade de reforço necessárias, e não por meio de estacionamento adicional permanente de forças de combate substanciais no território dos novos países membros”. Ou têm que dizer que já não é vigente e que já não se aderem às suas cláusulas fundamentais, ou têm que observá-lo. Mas não declarar coisas que contradizem manifestamente o Ato, já que ainda não o revogaram para si. Já o novo reforço da presença militar da Aliança não põe em causa apenas esta cláusula, senão o Ato Fundamental na sua integridade, que postula que a Rússia e a NATO já não se consideram adversários.
Repito para quem não compreenda. Nós estamos no nosso território, e a NATO expande-se a territórios dos novos membros, apesar de o Ato Fundamental que regulava as relações entre a Rússia e a NATO, essencialmente, proibir isso.
Quanto à reação dos EUA às propostas russas sobre garantias de segurança, o Ministro Serguei Lavrov comunicou ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em reunião de trabalho de 14 de fevereiro do ano corrente, que a resposta negativa de Washington às exigências prioritárias para os interesses da segurança nacional da Rússia (não ampliação da NATO, não implantação perto da fronteira russa dos armamentos ofensivos que possam ameaçar-nos e regresso da configuração técnico-militar da Aliança à situação de 1997) “não pode satisfazer-nos”.
Contudo, supomos que as capacidades da diplomacia estão longe de estar esgotadas. Não é do nosso interesse negociar sem fim, mas estamos prontos para continuar o diálogo sempre que a complexidade e a integridade da nossa iniciativa das garantias de segurança sejam mantidas. Trata-se, primeiro, de três elementos essenciais, mencionados acima. Estaremos prontos para discutir os aspetos auxiliares práticos de garantia de segurança, inclusive o afastamento dos exercícios da linha de contato Rússia-NATO, a definição da distância mínima de aproximação de aviões e navios militares, a moratória recíproca de implantação de mísseis de alcance intermediário e menor na Europa.
Pergunta: A Duma de Estado aceitou o pedido ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, de reconhecer a independência das Repúblicas Populares de Lugansk e de Donetsk. Kiev declarou que tal passo seria considerado uma violação dos Acordos de Minsk. A senhora concorda com esta avaliação? O MNE não acha que tal cenário constitui um ponto de não retorno para as negociações no formato de Normandia?
Maria Zakharova: O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, comentou este assunto ontem. O MNE também compartilhou as suas avaliações.
Os Acordos de Minsk são a única base para a solução do conflito em Donbass, sem alternativa. Em fevereiro de 2015, quando o Pacote de Medidas foi assinado, Donetsk e Lugansk aceitaram permanecer partes da Ucrânia, sempre que a Constituição lhes garantisse um estatuto especial e que haja decentralização do país. O significado desta frase é crucial para compreender a situação. Os média estrangeiros (os maiores) passam a perguntar-nos agora. Acabam de “acordar-se”: tantos anos escrevendo sobre os Acordos de Minsk, e agora pedem para explicar de que se trata, por que isso não é cumprido.
É importante compreender que a assinatura dos Acordos de Minsk não tem a ver com a melhora da situação política interna na Ucrânia, com a “nomeação” de certas regiões do país como “vencedores do quinquênio”. Nem tinha a ver com a cooperação transfronteiriça com as regiões da Ucrânia. Era uma situação crítica para a integridade da Ucrânia. Duas grandes regiões do país, que tinham as mesmas razões para isso, anunciaram que não queriam e não aceitaram continuar a ser partes da Ucrânia naquelas condições e naquelas circunstâncias. Intermediação internacional foi necessária para elaborar uma fórmula que permitisse algo que até não era reintegração (é uma palavra branda demais), mas a unificação do país numas condições que permitissem fazê-lo tanto no contexto jurídico, quanto praticamente. Os chefes de vários Estados dedicaram muitas horas à elaboração da fórmula que pudesse ser a base para um documento capaz de ser implementado. Esta fórmula foi encontrada, consolidada por assinaturas, passou por algo mais do que a legalização (que nem precisava), pelo reforço do status jurídico internacional, tornando-se parte da Resolução do Conselho de Segurança da ONU. Restava um processo complexo, de grande escala: o cumprimento. Aqui é que começaram os “trucos” e tudo o que temos acompanhado por muitos anos. Estamos convencidos que, de haver vontade política, o Pacote de Medidas pode ser cumprido num prazo razoável (em uns meses). É isso que apoiamos e facilitamos ativamente na nossa qualidade de intermediários no Grupo de Contacto e no formato de Normandia.
A comunidade mediática ocidental está tão “zombificada” que as pessoas e os jornalistas que são comentaristas de política internacional nos maiores média passam os dias a falar dos Acordos de Minsk, de sanções contra a Rússia pela situação na Ucrânia, do seu não cumprimento por Moscovo (por que seria?). Perguntam se queremos realmente que Donetsk e Lugansk apareçam neste Grupo de Contacto trilateral. De que falar com essas pessoas? Imaginam o nível de perícia? Nós perguntamos a eles a quem consideram integrantes do Grupo de Contacto trilateral. Respondem: a Rússia, a Ucrânia e a OSCE. E a Ucrânia é quem? Ficam surpreendidos ao saber que Donetsk e Lugansk também estão lá. Onde é que queriam que fossem? Que fossem entidades autónomas? A própria Ucrânia protestava contra isso. O nível de profissionalismo das pessoas que escrevem sobre isso gera muitas perguntas.
Devemos fazer tudo para resolver o problema existente de Donbass, priorizando as possibilidades ainda não aproveitadas de cumprimento dos Acordos de Minsk. Se calhar, nem começaram a ser cumpridas. As leis adotadas na Ucrânia nos anos recentes em manifesta contradição ao Pacote de Medidas consolidam um “antiplano”, “anti-Minsk”.
O senhor alega as declarações de Kiev. Dizem que se o eventual reconhecimento pela Rússia das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk afetaria e rasgaria os Acordos de Minsk. Quem rasga é o regime de Kiev e os seus representantes concretos, ao longo do último ano e meio. Antes, era a prolongação, o não cumprimento lento. No último ano e meio ouvimos as autoridades ucranianas declararem abertamente que os Acordos de Minsk “não refletiam a realidade”, que “precisam ser reescritas”, compreender de que se tratava na altura, alterar completamente toda a estrutura. Por que estão preocupados por alguém ver estes acordos de outros olhos? Que combinem tudo entre si. Será que reconhecem o Pacote de Medidas? Vão cumpri-lo? Ou não? Há um ano e meio havia apenas alegações indiretas (por parte de comentaristas etc.). Depois, começaram as declarações diretas do regime de Kiev: Presidente, Ministros, representantes do poder legislativo, a própria Rada cujos integrantes todos correram à Europa para defender-se da “agressão” russa inexistente. Começaram a falar que não há nada a cumprir. Vladimir Zelensky também disse não compreender o que está escrito lá. Se as pessoas declaram isso, por que fazem pretensões a alguém que, do seu ponto de vista, tem pouco respeito para algo que eles não respeitam completamente?
Manifestámos muitas vezes a nossa lealdade ao Pacote de Medidas de Minsk. Fazíamos de tudo, inclusive as negociações incessantes com os parceiros ocidentais, pedindo-os incitar Kiev a implementar os Acordos de Minsk. Mesmo se isso não fazia parte da nossa tarefa. Seja como for, um acordo foi alcançado: cada país que tinha influência sobre os participantes do processo, devia facilitar o cumprimento do Pacote de Minsk pela parte concreta. Por exemplo, a Rússia tinha possibilidade de diálogo e de participação na formação da posição das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk. A França e a Alemanha (enquanto membros do formato de Normandia) asseguravam todos ter influência sobre o regime de Kiev. Há muitos anos que nós, além de tudo o mais, tentamos fazer os curadores ocidentais da Ucrânia a incitar o regime de Kiev a cumprir os Acordos de Minsk. Ninguém combinava isso, mas nós o fazemos.
Pergunta: A senhora poderia comentar o artigo do The Financial Times que alega, citando uma fonte na inteligência ocidental, que a Rússia estaria a planear um golpe de Estado na Ucrânia, encabeçado pelo ex-deputado da Suprema Rada, Oleg Tsarev? Como Moscovo avalia tais especulações? Pois não é a primeira vez que os média ocidentais lançam tais acusações contra a Rússia.
Maria Zakharova: É ridículo ler que um golpe de Estado é iminente na Ucrânia. Parece que há um a cada dia: ora um golpe anticonstitucional, ora um na mente do regime. Acontece alguma coisa sem cessar. Já falando de fontes “anónimas” da inteligência britânica, poderia alguma vez citar uma fonte “com nome”. Há muitas estruturas de inteligência no Reino Unido. Em função da organização do serviço público, estão integradas em entidades civis, podendo delegar o pronunciamento de tais coisas “sensacionais” aos colegas civis (por exemplo, através do MNE). Quanto pode-se “alimentar” as pessoas de fontes anónimas? Todo o caso de Salisbury apoiava-se nelas. Ficou por ali. Ninguém compreendeu o que aconteceu e como terminou. Aqui passa a mesma coisa. Com o “ataque” da Rússia contra a Ucrânia e com esta revolta e golpe de Estado. Alguém já escreveu sobre isso, nós desmentimos.
Vejamos os factos. A coisa mais interessante é que é uma fonte com nome no MNE russo quem faz isso. Volto a lembrar que a Ucrânia teve o seu primeiro “grande” golpe de Estado em 2004. Foi uma “revolução laranja” apoiada pelos países ocidentais, quando após a repetição ilegítima do segundo turno – essencialmente, um terceiro turno das eleições presidenciais foi inventada – o poder foi tomado pelo candidato Viktor Yuschchenko, não pró-ocidental, senão ocidental. Voltaram a tentar fazer um segundo golpe de Estado no decurso das eleições. Não deu. Isso aconteceu com a participação ativa dos países ocidentais após as eleições de 2014. Naquela altura, não conseguiram repetir a façanha do primeiro “maidan” (isso já era evidente). Por isso permitiram que Viktor Yanukovitch ganhasse, mas só “aguentaram” até 2014. Naquela altura, os representantes dos EUA distribuíam salgadinhos e doces no “maidan”, e três países europeus que manifestaram ser garantes do acordo entre o poder e a oposição não fizeram nada quando a oposição pisou neste acordo, derrubando o Presidente legítimo. Lembram-se dos tiroteios, dos franco-atiradores? Nada de investigação. Como se nada tivesse acontecido. A tragédia, o grande número de vítimas – tudo ficou sem investigar.
Após o “maidan” de 2014, a Ucrânia ficou coberta por uma avalanche de casos de alta traição (algo que tem a ver com golpes de Estado). De acordo com os dados do escritório do Presidente da Ucrânia, mais de um mil e meio tais casos foram lançados a partir de então. Muitas pessoas dignas e inocentes, como, por exemplo, o jornalista Kirill Vyshynsky, ficou por trás das grades. Ao ver deles, ele também estava envolvido em “golpes de Estado”. Agora, imputa-se o mesmo a Viktor Medvedchuk, um dos líderes da oposição. Reina um verdadeiro caos na Ucrânia contemporânea, a luta contra opiniões diferentes, eliminam-se os média e os jornalistas independentes (algo próprio do golpe de Estado na mente ou na política), fecham-se os canais de televisão. Pode-se imputar alta traição virtualmente a qualquer pessoa.
Não se deixe levar pelas fontes anónimas dos meios de desinformação em massa britânicos. Oriente-se pelos factos, que são muitos. Falam por si.
Pergunta: A chefe do Foreign Office, Elizabeth Truss, que acabou de visitar Moscovo, fez algumas declarações a respeito da alegada “invasão” da Ucrânia pela Rússia. Particularmente, declarava que a Rússia iria “atacar” sem distintivos, que as tropas iam ocupar Kiev em uns dias. Como Moscovo avalia tais especulações, feitas pela chefe da diplomacia do Reino Unido? Como isso carateriza as negociações? Moscovo vai tentar convencer a parte britânica da inexistência de tais planos ou não veem sentido nisso?
Maria Zakharova: A chefe da diplomacia britânica deve pedir desculpa pela divulgação de mentiras aos povos da Rússia, da Ucrânia e do Reino Unido. E também aos média que consideraram as suas declarações verdadeiras. Não tem sentido discutir em chave concreta as declarações de Elizabeth Truss, não por não serem justificadas, senão por serem absurdas. Não há nenhum vestígio de lógica lá.
A chefe da diplomacia britânica permanece fiel a si, ao utilizar a tática predileta dos ingleses de vazamento de fakes antirrussas no espaço mediático, feitas no estilo de “highly likely”. Especialmente se, como conclui-se das alegações de Elizabeth Truss, não há factos e o que há é o desejo de tomar “medidas” “punitivas”. Não vemos nada de essencialmente novo. Surpreende o nível de insolência extrema, que não deve caraterizar uma pessoa que ocupa este cargo. Tudo o que ouvimos são as combinações de acusações e exigências, estabelecidas nas últimas semanas. Mais do que isso, estão lá incorporadas também as exigências de sanções. Já conhecemos tudo isso: Salisbury, Novichok, os Skripal. Aqui funcionam as sanções e a “condena”, sem que a investigação tivesse chegado a um fim. Ninguém viu Skripal.
As declarações que ela fez cabem perfeitamente na campanha de desinformação mantida pelos países da NATO, liderada por Washington e Londres (ela tornou-se essencialmente a sua cara). Tudo isso visa escalar a tensão, promover o mito da possível “invasão” russa da Ucrânia, servindo de “escudo” para a ativa exploração militar desse Estado pelos países da NATO, para a transformação da Ucrânia numa plataforma militar contra a Rússia. E esta histeria ajuda a tirar a atenção do incumprimento por Kiev do Pacote de Medidas, a justificar as suas eventuais tentativas de resolver por força o conflito em Donbass. Há também tarefas políticas internas. Os problemas que a equipa do Primeiro-Ministro Boris Johnson (da qual Elizabeth Truss também faz parte) enfrenta ameaçam com a demissão do governo. Necessita-se uma força externa, uns pretextos que permitissem distrair da situação com os seus eventos sensacionais no contexto das suas próprias restrições em virtude do coronavírus. Conseguiram-no. Vejam os tabloides britânicos. Há um mês, publicavam fotos de tertúlias de Boris Johnson, e agora, fotos da “invasão” inexistente da Ucrânia pela Rússia. Mas a quem interessa? Se a Ministra britânica dos Negócios Estrangeiros fala disso com tanta certeza. Mera mentira.
Repetimos mais uma vez, especialmente para Londres. Se ligam. Já dizíamos muitas vezes que a Rússia não atacou ninguém, nem pretende fazer isso. Já os países da NATO precisam explicar-se. Não é tão óbvio com eles. Que o Reino Unido prove agora que não pretende atacar ninguém. Foi um navio de combate britânico que invadiu as águas russas no Mar Negro. Foi em junho de 2021, mas agora é que tivemos uma forte impressão: talvez o Reino Unido queira atacar-nos. Será que foi um ensaio? Tem que explicar. Convença-nos que esse não é o seu plano, senhora Truss.
Na conferência de imprensa após as negociações com a chefe do Foreign Office, a 10 de fevereiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, chamou a conversa de “conversa de sordo com mudo”. A parte britânica disse que não foi “muda”. Aqui, tudo se compreende. Começaram as velhas clichés da “agressão russa” contra a Ucrânia e da falta de justificação das nossas preocupações a respeito da segurança europeia. Vemos a falta de prontidão de Londres para um diálogo direto e para a troca de opiniões construtiva. Não foi nossa escolha. Sem dúvida, vamos levar isso em conta no futuro. Aguardamos desculpas.
Pergunta: O Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, assinou o decreto proclamando 16 de fevereiro – o dia anunciado pelos média ocidentais como o dia da “invasão” da Ucrânia pela Rússia – como o Dia da Unidade do Povo Ucraniano. Já os funcionários, inclusive do Ministério da Defesa desse país, diziam muitas vezes que não havia sinais duma “invasão” russa. Este decreto de Vladimir Zelensky deve ser visto como uma nova tentativa de ajudar, essencialmente, os EUA e o Reino Unido, que não param de falar da “agressão russa”?
Maria Zakharova: Falámos disso muito hoje. Na sua intervenção, Vladimir Zelensky disse que a Ucrânia precisava de eventos para melhorar a sua imagem. É um desses eventos. Se é bom ou ruim, depende da situação. Em certas circunstâncias, é ótimo. No contexto dum Estado em vias de dissipar-se, melhora de imagem não consegue esconder os problemas que existem.
É impossível organizar um dia da unidade nacional quando milhões de cidadãos não têm condições para viver normalmente. O próprio Vladimir Zelensky não os chama de pessoas, senão de “espécies”, sugerindo que os que têm opiniões diferentes saiam do país, sem supor que as pessoas podem ter as suas convicções, visões, ideais. Não leva em conta os interesses das minorias, nem a existência delas. Desculpe, mas como pode-se chamar de minorias a população da Ucrânia, muitos milhões de pessoas para as quais o russo é a língua materna. E surge o dia da tal unidade. Aquelas não são pessoas? Então deve-se dizer que não pretendem cumprir os Acordos de Minsk e que não consideram a população de Donbass habitantes do seu país. Precisa fazer a escolha. Não se pode continuar assim.
No centro mesmo da Europa, cemitérios infantis surgiram nos últimos vários anos. As crianças morreram no decurso das hostilidades e dos tiroteios por parte das forças armadas da Ucrânia, explodiram em minas etc. Isso são apenas os mortos. E as crianças com lesões, que ficaram deficientes. É o centro da Europa. Não adianta promover a “unidade”, deve-se pedir desculpas. Pensar como vão coexistir no futuro, em que bases, já que não aceitam os Acordos de Minsk. Deve-se proclamar o dia do silêncio para ter a oportunidade de pensar de todo aquele horror que fizeram do país nos últimos anos, inchando-o de armamentos, roubando, traindo as gerações anteriores que deram as suas vidas pelo futuro da Ucrânia e por estas pessoas. Geralmente, traíram a sua própria população.
Desculpe-me por falar assim. Não se pode falar de outro jeito. Todas as histórias de quem incita quem e quem tolera quem não são tão relevantes. Todos sabem quem está por trás de quem. Todos viram quem foi para onde com o que tinha roubado. Num momento em que a Ucrânia precisava unir-se realmente, levando em conta o que acontecia lá não do ponto de vista dos média ocidentais e da Casa Branca, senão do ponto de vista da consciência propriamente nacional, as “elites” os traíram. Pegou quanto pôde e vazou. Para a Europa, para Israel e para mais longe. E as pessoas ficaram. Os trabalhadores ficaram que garantem a existência da Ucrânia. E agora sugere-se a eles melhora da imagem para demonstrar a lealdade à pátria. Fazem-no a cada dia, sobrevivendo.
Pergunta: O Ministro Serguei Lavrov disse que os países do Ocidente responderam afinal de modo positivo às iniciativas de segurança russas, depois de tê-las recusado por longo tempo, mas isso “não é o fim da história”. Pode-se dizer que ocorreu uma virada rumo à desescalada da situação em torno da Ucrânia? Pode-se esperar um degelo nas relações com o Ocidente?
Maria Zakharova: Já que muito foi dito sobre este assunto pelas autoridades do nosso país, não vou repetir-me. Quero indicar o facto de que a resposta oficial coletiva às propostas da parte norte-americana está na fase final de preparação. Aguardemos, como o Ministro Serguei Lavrov disse, que tudo isso seja publicado para continuar a conversa depois, apoiando-nos na base correspondente. Não é porque não eu não queira, senão exatamente porque existem muitos materiais sobre isso, para evitar repetir-se. Estamos na beira duma nova etapa na evolução desta situação.
Pergunta: Por que a Polónia aceita, atualmente, a acolher um grande contingente de militares norte-americanos?
Maria Zakharova: O senhor não me pergunta sobre o nosso país, senão sobre a Polónia. Ontem, esteve aqui a delegação polaca, seria mais oportuno perguntar-lhes. Acho que é possível enviar uma solicitação à Embaixada polaca ou imediatamente à parte polaca, a Varsóvia. Que eles contem. Infelizmente, durante muitos anos os políticos da Polónia não seguiam o rumo dos interesses reais do seu país, senão o rumo das tarefas e premissas colocadas pelos EUA. Se olharmos para o mapa, fica claro que é mais vantajoso comunicar-se imediatamente com um Estado vizinho da região, ligado a si por rotas terrestres e marítimas, que tem tanto em comum consigo. Deixar o património histórico aos historiadores e ir para frente. Havia problemas, que aprendemos a superar. Mas, apesar da lógica, da geopolítica, da estratégia, vimos quantas vezes as elites polacas “foram parar” numa parte completamente oposta. Havia outros exemplos também, quando uníamos os nossos esforços, desenvolvendo a cooperação regional, conversando em formatos interessantes, mantínhamos discussões úteis sobre temas da política exterior, a cooperação desenvolvia-se no contexto prático. É isso que deve guiar-nos. Mas muitos anos passaram seguindo os interesses nem apenas da NATO, que é uma estrutura que prevê a participação de pleno direito da Polónia, senão partindo das premissas de Washington. Isso nada tem a ver nem com a segurança, nem com a estabilidade na região, apenas traz elementos de desestabilização e faz a situação imprevisível.
Pergunta: Qual dos países ocidentais concreto ganha com a histeria em torno da situação com a Ucrânia?
Maria Zakharova: Falávamos tanto hoje! Antes de tudo: o duo anglo-saxônico, Washington e Londres. De onde partem todas estas ondas? Quem é que faz isso? Washington e Londres, a Casa Branca, o Departamento de Estado e os média que controlam: o Bloomberg, a CNN, Downing Street, Foreign Office e, por consequente, os tabloides. Lá é o início. Se olhar os média europeus, quase tudo é artigo copiado. Fizemos uma investigação, preparámos uma “antifake”. Temos a seção no site especial, preparámos uma espécie de relatório. Publicámos hoje a segunda parte. Os média anglo-saxônicos lideram a dança. A Europa segue, geralmente, com artigos copiados. As agências copiam as declarações dos funcionários (Elizabeth Truss, Anthony Blinken, Jen Psaki, Boris Johnson) e os jornais preparam a factualidade fazendo referência aos seus “grandes irmãos”. Ninguém o oculta. Para que? Diziam também: a prazo médio, a longo prazo, assunto momentâneo. São tarefas próprias da política interna. Os EUA e o Reino Unido estão a passar por uma crise política grave. É uma situação terrível: a NATO e o Afeganistão. Após uma presença dos EUA de muitos anos, há um grande número de vítimas entre civis, nenhuma das tarefas colocadas pelo CS não foi resolvida. Tudo terminou na retirada catastrófica. Nem sei como qualificar isso: retirada com uma esteira de sangue.
Mais uma causa. A cooperação energética da Rússia com os países da Europa. É um obstáculo para Washington, que precisa reconquistar mais um mercado: o mercado do gás. A desestabilização da situação na Ucrânia, através da qual o nosso gás ia à Europa, era vantajosa para eles durante todos estes anos. Por isso a Nord Stream é o projeto que eles tentavam frear, impedir, parar a construção, criar um pretexto para adiar a sua entrega. E agora ainda tenta reunir os esforços para tentar fazê-lo criando mais uma “ameaça russa” para introduzir ainda mais sanções e obter mais argumentos para amedrontar os europeus pela perspetiva de não recebimento da energia de nós. Nós somos um fornecedor seguro do gás e de outras fontes da energia, para a Europa e para outros países de outras regiões, durante décadas. Fornecíamos, fornecemos, forneceremos. Fazendo-o em condições mutuamente vantajosas. Não é vantajoso apenas por ser “Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria”, porque são ainda tecnologias, investimentos, desenvolvimento, inclusive a ecologia. Globalmente: a expansão da NATO, o deslocamento dos contingentes, a ampliação infinita do orçamento, pagamentos pelo deslocamento. Há muitos objetivos e muitas tarefas. Quem ganha? Eu já disse. Digamos contra quem é feito tudo isso. Sem dúvida, contra a Rússia. Mas quem sofre primeiro é o povo da Ucrânia. Agora todos vieram como nunca. Sim, o conflito ucraniano interno (de longa data já), com pessoas morrendo, sendo mortas, ficando deficientes, não somente no sentido físico da palavra, é um golpe colossal contra a visão do mundo duma pessoa. Já toda uma geração de pessoas cresceu em condições de guerra. As crianças nascem sem saber o que é a paz, o que é a vida normal. É a Europa. Agora ficou evidente que isso afeta todo o povo ucraniano. Em dois meses, romperam todos os projetos de investimentos, levaram as pessoas à histeria, dividiram a sociedade num número ainda maior de fragmentos. Talvez haja nisso algo de “bom”. Não imediatamente. Não me alegro com isso, mas há algo, objetivamente. Mostraram quem são todos esses gritadores que mais gritaram lá na Rada, alegando os interesses do país, da Pátria e da necessidade de combater um mal universal, e depois foram os primeiros a pegar as malas e abandonar a “tão amada” pátria ucraniana. O resto é apenas destrutivo. O que há de novo nisso? É o clássico. Primeiro, “domesticar”, prometer, dizer coisas, para depois abandonar. Quando é que a sociedade ocidental agiu de maneira diferente? Me contem.
Pergunta: Quanto à visita do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, queria perguntar o que os nossos diplomatas e políticos pensam sobre o que a Rússia recebeu em resposta à ajuda – que não foi somente a permissão – na unificação da Alemanha? O que, a seu ver, ficou nas cabeças da elite política da Alemanha?
Maria Zakharova: É uma cimeira, portanto, a pergunta sobre o conteúdo das cabeças deve ser feita aos participantes. Se a senhora pergunta sobre a unificação da Alemanha, vemos, com efeito, uma tendência que não pode senão surpreender. Promove-se a tese na sociedade, nos círculos de peritos, na área da educação, alegando que a unificação da Alemanha se tornou possível apenas graças à “valentia” dos cidadãos da República Democrática Alemã, famintos da liberdade e da democracia, no decurso da “revolução pacífica” de 1989, e também à “sábia” política da República Federal da Alemanha, que lhes lançou a mão. O papel da URSS na unificação alemã é silenciado ou nivelado. Isso é estranho, já que foi precisamente a União Soviética o país que garantiu este processo, por isso ignorar isso e passar essa ignorância à geração futura é um grande erro histórico. Porém, ouvimos aqui e ali agradecimentos aos parceiros ocidentais da Alemanha Ocidental, aos vizinhos da Europa do Leste pelo apoio, e como se a União Soviética não tivesse tido papel algum. Mas nós já falámos disso, que o papel era precisamente da União Soviética, falando da unificação da Alemanha. Já o papel de Washington era diferente, e os políticos de Washington estavam contra.
Da nossa parte, tentamos opor-nos a essa amnésia histórica. Fazemos lembrar que foi a URSS quem fez a contribuição decisiva no processo de reunificação alemã. Sem a vontade das nossas autoridades, que auxiliou este processo em muitos sentidos, nenhuma dita “revolução pacífica” não poderia desempenhar papel nenhum.
Além deste ponto de vista imposto, outro ponto de vista existe a este respeito. Diz o mesmo que o que aconteceu há mais de 30 anos não era, de facto, uma reunificação, senão a absorção da Alemanha Oriental pela Alemanha Ocidental. Foram completamente ignorados os postulados do artigo 146 da Constituição da Alemanha Ocidental, que previa o seu cancelamento com a adoção da Constituição única após a reunificação da Alemanha. Em vez disso, a estrutura estatal, política, económica e financeira da Alemanha Ocidental ficou automaticamente expandido sobre a parte oriental do país. A Alemanha Oriental foi proclamada um Estado ilegítimo e “ditadura”, e tudo o que ela tinha de positivo, de construtivo e de significativo, inclusive a sua contribuição para a reconciliação histórica do nosso país com a Alemanha, ficou na República Federal da Alemanha atual esquecido ou deturpado. Este ponto de vista também existe. Não é o nosso ponto de vista. Existe essa escola do pensamento. Em qualquer caso, trata-se da postura da sociedade alemã. A nossa tarefa principal é garantir que não haja deturpação histórica, que não haja troca de conceitos e falsificações a este respeito. Os eventos podem ser interpretados de maneira diferente, só não adianta deturpar os factos, nem silenciar os factos.
Pergunta: Continuando a primeira pergunta. Cria-se a impressão de que praticamente depois da reunificação em 1990, o primeiro que Bonn, e depois Berlim, com o apoio de Bruxelas, começaram a fazer era tentar mexer no espaço pós-soviético e tentar dividir a Ucrânia da Rússia. A Alemanha quase conseguiu isso?
Maria Zakharova: Não quero explicar em nome Alemanha quais eram os seus planos estratégicos. É uma longa conversa. Não estou certa se precisamos dela agora. Houve também exemplos de cooperação positiva, boa, normal da Alemanha com os países do espaço pós-soviético. Temos tantos projetos conjuntos. Houve exemplos também de envolvimento ilegítimo, indevido, absolutamente inoportuno na política interna desses países. Citei hoje os maidans, onde o papel da Alemanha e das autoridades políticas desse país era enorme, o que levou ao colapso. Ou seja, não era simplesmente ruim por contradizer ao direito internacional, à ética e às normas universais, mas porque isso, além de tudo o mais, levou a resultados trágicos para a própria Ucrânia. Me desculpam, mas a Alemanha estava ativa neste sentido. Há exemplos ambíguos. Duma vez, ser copatrocinador da solução, declarando-se nesta qualidade no âmbito da crise ucraniana interna era parte do formato de Normandia. De outro lado, não fazer valer a totalidade das suas capacidades. Registamos da nossa parte que não há essa plenitude de influência. Não porque sim, senão em virtude das obrigações assumidas. Esta influência sobre o regime de Kiev deve ser maior. Pois lembramo-nos o quão ativo estava a Alemanha quando era preciso, a seu ver, gerenciar manualmente os golpes de Estado na Ucrânia. E agora, ligaram o regime delicado, de incapacidade de influenciar, alegam isso. São capazes de trocar os regimes, mas não podem fazer cumprir o prometido, sendo, grosso modo, garantes dos acordos. Não se pode pintar tudo de preto e branco. O mundo é policromático, consiste de várias cores, por isso existem esses exemplos.
Pergunta: Há planos de organizar a cimeira do RIC neste ano? A Rússia já consultou a China e a Índia?
Maria Zakharova: Como o senhor sabe, a Rússia foi a organizadora da primeira cimeira do RIC em 12 anos, que teve lugar nas margens da cimeira do G20 em Buenos Aires, em novembro de 2018. Depois, de conformidade com a ordem de rotação de acordo com a sequência das letras na sigla RIC em inglês, a Índia organizou a reunião ao nível dos líderes em junho de 2019 em Osaka, também no âmbito da sessão do G20.
Em virtude da complicada situação epidemiológica no mundo e das ondas da pandemia em vários países, as cimeiras da Rússia, da Índia e da China não se organizavam em 2020-2021. As reuniões dos Ministros dos Negócios Estrangeiros aconteciam no “formato híbrido”, usava-se o formato online.
Hoje, é a parte chinesa quem tem a iniciativa da cimeira do RIC. Por sua parte, a Rússia está sempre pronta para ajudar a reforçar o diálogo neste formato entre os três maiores Estados da Ásia, que têm responsabilidade especial pela garantia da segurança, pelo aperfeiçoamento da arquitetura das relações interestatais na região Ásia-Pacífico e também pelo progresso da integração económica no espaço euroasiático. A nossa postura é bem conhecida por Pequim e por Nova Deli.
Pergunta: Espera-se que o Primeiro-Ministro do Paquistão visite a Rússia. No ano passado, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia visitou o Paquistão. As relações tensas entre o Paquistão e a Índia são bem-sabidas. Muitos vão ver uma cooperação mais ativa de Moscovo com o Paquistão, porque assuntos sensíveis para a Índia não são levados em consideração.
Maria Zakharova: Espero que a sua publicação ajude a transmitir a nossa postura ao público amplo. A cooperação entre a Rússia e o Paquistão não alveja terceiros países, perseguindo a paz, a segurança e a estabilidade na região. As áreas principais da nossa cooperação são o combate ao terrorismo e o desenvolvimento das relações comerciais e económicas.
A Rússia está interessada em que Nova Deli e Islamabad tenham relações de boa-vizinhança e as divergências que existem entre elas, inclusive a respeito da Caxemira, sejam reguladas bilateralmente por meios político-diplomáticos. O senhor conhece a nossa postura de acordo com o Tratado de Simla de 1972 e a Declaração de Lahore de 1999. Neste sentido, aplaudimos o facto de a Índia e o Paquistão terem confirmado, em fevereiro de 2021, o acordo de 2003 sobre o cessar-fogo na linha de controlo na Caxemira, e também a declaração das autoridades paquistanesas de estarem interessadas em normalizar as relações indo-paquistanesas.
Quanto ao aspeto da sua pergunta que trata da dita não consideração das preocupações da Índia pela Rússia. Isso não é verdade. Mantemos contacto estreitíssimo com os nossos parceiros do seu maravilhoso país. Acaba de acontecer uma série de contactos. Apesar das restrições em função da covid, aconteceu a cimeira. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou à Índia, manteve negociações ricas com o Primeiro-Ministro Narendra Modi, que duraram muitas horas. O diálogo com a Índia está a desenvolver-se em todas as áreas: segurança, cooperação técnico-militar, economia, área humanitária, combate à propagação do coronavírus; trabalhamos também no âmbito dos formatos criados por nós e em plataformas internacionais. Percebemos a responsabilidade dos nossos enormes países no âmbito do mundo e da região. E aquele nível de contacto de confiança que foi alcançado entre os gerentes dos nossos países a respeito de todo o leque de outras áreas torna evidente que nós temos em consideração as posturas de cada um.
Pergunta: Que tipo de cooperação a Índia e a Rússia têm sobre o Afeganistão?
Maria Zakharova: Isso faz parte do nosso diálogo com Nova Deli. Observamos a nossa cooperação no âmbito do formato de Moscovo de consultas sobre o Afeganistão. Desenvolve-se de maneira bastante ativa (a terceira sessão teve lugar em Moscovo a 20 de outubro de 2021). Colaboram os Conselhos de Segurança dos nossos dois países. Um dos exemplos é a participação da Rússia no “Diálogo de Deli para a Segurança Regional” (Índia, Irão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Turquemenistão) que teve lugar a 10 de novembro de 2021 em Nova Deli.
Vamos continuar este diálogo, discutir este problema, elaborando passos práticos, conjuntos, e coordenando os nossos passos na qualidade nacional em todas as áreas em contexto bilateral, em plataformas internacionais, utilizando os mecanismos mencionados. Vamos conferir as nossas posturas sobre a situação atual no Afeganistão e sobre as perspetivas de facilitação da solução pacífica da situação nesse país.
Pergunta: A NATO declarou que não pretende recusar-se à política das portas abertas. Em que medida a Rússia não concorda com esta postura? Há um espaço para negociações? O que pode ajudar a resolver este problema?
Maria Zakharova: Eu já disse que nós estamos a preparar uma resposta aos EUA e à NATO. Também dissemos estar prontos para continuar o diálogo construtivo sobre estas áreas. Indicámos a interconexão de todo um leque de assuntos que devem ser considerados na sua integridade. São prioritários para nós. Eu citei hoje o documento que celebrámos com a NATO em 1997. O Ato Fundamental. Todas estas questões exigem uma conversa detalhada, concreta, caso contrário, acontecerá o que aconteceu com a Ministra dos Negócios Estrangeiros britânica em Moscovo: conversa de “mudo” com “surdo”. Não gostaríamos que isso aconteça. Gostaríamos que as partes ouvissem a si mesmas e não se ocupassem de dar aulas ou fazer declarações vazias, que não visam respeitar as preocupações de cada um, senão sacudir o ar. Para isso, apelamos a iniciar um diálogo concreto, prático, construtivo, não com microfones, não às portas fechadas de “clubes fechados”. Dissemos isso abertamente. Importam para nós as garantias da nossa segurança. Vemos tendências que não podem senão preocupar-nos: a expansão da NATO para perto das fronteiras russas, o aumento dos contingentes de combate dos países da NATO (não em seu território, senão em territórios alheios), o prevalecimento da política e retórica agressiva anglo-saxônica no discurso político dos países membros da NATO e já da UE, as operações ofensivas, agressivas, ilegítimas da NATO e de seus membros concretos em todo o mundo, que nada têm a ver com a política de paz, a destruição dos fundamentos do direito internacional, que eram os pilares da segurança e da estabilidade internacionais. São os acordos bilaterais com os EUA, os acordos multilaterais que os EUA abandonaram. Muito do que foi criado nas últimas décadas no âmbito do direito internacional, impedindo as partes de fazerem passos não ponderados, agressivos, eram garantias. Agora, ficaram destruídas pelos países ocidentais.
Mais um momento. Recusa de cumprir as suas obrigações. Vimos isso também, a respeito de documentos concretos ou de promessas concretas. Ou seja, era violado aquilo que tinha sido escrito sobre papel e aquilo que tinha sido prometido oralmente. Neste sentido, perguntámos sobre a perceção do conceito e sobre a lealdade ao conceito assinado por todos: a segurança indivisível. Não nos interessam as declarações de Jens Stoltenberg, que pode ser o Secretário Geral da NATO ou um banqueiro. Ainda não percebi. Já não nos interessam. Ele não é a pessoa cujas declarações serão consideradas por Moscovo como argumentos sérios. É um “piloto abatido da NATO”. Vamos esperar uma conversa séria, se os nossos parceiros ocidentais estiverem prontos para ela, como o Presidente da Rússia disse, como o Ministro dos Negócios Estrangeiros disse, como o Ministro da Defesa do nosso país disse. A resposta já está na fase final de preparação, será entregue e publicada. Voltaremos a confirmar, mais uma vez, o nosso desejo de conversa concreta, aberta e mutuamente respeitosa sobre as garantias de segurança e de que as preocupações das partes sejam reciprocamente levadas em consideração.