Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 10 de maio de 2023
Ponto da situação na crise da Ucrânia
Ontem, dia 9 de maio, a Rússia e a maioria dos países pós-soviéticos celebraram solenemente o nosso feriado especial, o Dia da Vitória sobre os invasores nazis. Em Moscovo, os líderes dos países da CEI assistiram ao Desfile Militar na Praça Vermelha. Infelizmente, a Ucrânia, cujo território esteve sob o inimigo durante 40 meses, desde as primeiras horas da guerra até ao final de outubro de 1944, não esteve entre os Estados que comemoraram o feito dos povos da URSS e prestaram homenagem aos veteranos da Grande Guerra Patriótica.
De facto, dizemos "Ucrânia" convencionalmente apenas por uma razão simples. Estamos a falar do regime ilegítimo, ilegítimo, de Kiev, que se "manchou" com atividades extremistas e terroristas. Este regime não pensou sequer em consultar o povo da Ucrânia sobre se este quer ou não participar nas comemorações. O problema é outro.
Em 2015, o regime de Kiev retirou cinicamente o Dia da Vitória ao seu povo (os povos da Ucrânia), considerando-o inaceitável (assim foi dito) para um país "renovado", e equiparou blasfemamente os soldados do Exército Vermelho aos criminosos do Terceiro Reich e aos seus cúmplices da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e do Exército Insurreto Ucraniano (UPA). Como resultado, os neonazis radicais chegaram ao poder e fixaram o objetivo de acabar com tudo o que estava associado aos russos na Ucrânia. O regime de Kiev começou a celebrar um "dia de reconciliação" com os nazis, que exterminaram civis em campos de concentração, queimaram mulheres e crianças em fornos, retiraram sangue de crianças russas e ucranianas (não é uma imagem de retórica, esses fatos tiveram mesmo lugar) para o transfundir em alemães e outros soldados europeus que trouxeram a guerra para as nossas terras.
Em 2023, o regime de Kiev aboliu o Dia da Vitória celebrado a 9 de maio. É evidente que, desta forma, os nazis ucranianos tentaram "desforrar-se” da derrota esmagadora sofrida pelos seus ídolos ideológicos há 78 anos. No entanto, empenhado em reescrever a história, o regime de Kiev não pode abolir o que aconteceu em 1945. Manipulando datas e nomes históricos, zombificando a população e suprimindo qualquer voz da razão, o regime de Kiev empenha-se em inventar uma "nova história", distorcendo os factos históricos reais. Gostaria de me debruçar em especial sobre um ato vergonhoso do regime de Kiev que demonstra vividamente a sua subserviência, o seu desejo de bajular os seus patrões ocidentais, para o que se prontifica a trair a memória dos seus antepassados e das suas próprias famílias. Na véspera de 9 de maio, Vladimir Zelensky aboliu o Dia da Vitória, sagrado para a maioria esmagadora dos ucranianos e criou o Dia da Europa. Não encontrou outra data para o Dia da Europa entre as 365 existentes, nem outro período histórico. Para se compreender a intenção subjacente à sua decisão, basta dar-se uma olhada na lista de personalidades oficiais vindas para participar nas chamadas comemorações. Entre elas esteve a Presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, que representa os meios revanchistas europeus que procuram vingar-se do nosso país pelos seus antepassados nazis e pela derrota devastadora que sofreram há 78 anos. Pergunto-me: terá sido possível substituir o Dia do Holocausto? Dar-lhe um novo nome, reescrevê-lo, dizer que "não aconteceu", anulá-lo, reescrevê-lo? Podemos imaginar uma coisa destas? No entanto, a memória daqueles que salvaram vidas não é menos importante do que a memória daqueles que foram vítimas dos carrascos. Deve haver um limite, não deve? Afinal de contas, as pessoas para quem a memória do Holocausto é sagrada têm de ver o que está a acontecer diante dos seus olhos. Não adianta fazer vista grossa. Chega de fazer vista grossa. Eles estão a trair a memória daqueles que salvaram os humanos da aniquilação total. Tendo assinado este decreto, Vladimir Zelensky reduziu a nada o feito de milhões de ucranianos e traiu a memória daqueles que defenderam esta terra perante a Europa fascista e do seu avô. Se calhar, vão resolver isso em família, se é que ainda a têm. Há alguns anos, ele visitou a campa do seu avô. Foi uma hipocrisia ou uma zombaria com a memória do seu antepassado? Esta decisão traidora de abolir o Dia da Vitória para este regime é lógica: os nazis ucranianos teriam, mais cedo ou mais tarde, de renegar os seus avós que lutaram contra o nazi-fascismo durante a Grande Guerra Patriótica. Não o poderiam ter feito antes porque estes ainda estavam vivos, lutando contra o esquecimento nos últimos 30 anos. Atualmente, quase não resta nenhum deles e quem resta está tão fraco fisicamente que não consegue levantar a sua voz. E foi então que a escumalha brutalizada entrou em cena e "deu arrancada”. É provável que ouçam muitas vezes dos cidadãos russos, de todos nós, as palavras "a vitória será nossa". Gostaria de dizer ao Ocidente - porque é que estão surpreendidos? Vladimir Zelensky e todo o seu regime recusam-se à vitória. Se eles desistiram da vitória de 1945, não verão mais nenhuma vitória. Ninguém deveria ficar surpreendido com a reação dolorosa dos neonazis ucranianos à participação dos líderes da CEI nas comemorações do Dia da Vitória em Moscovo. Ficar "chocados" ao verificar que as pessoas de diferentes países, representando povos de diferentes nacionalidades, recordam as suas raízes, as respeitam e, apesar dos acontecimentos geopolíticos e das opiniões comuns ou divergentes, não considerarem possível pôr em dúvida esta data e a sua atitude para com ela. De facto, ontem assistimos ao choque de duas escolas de pensamento, de duas filosofias. Foi realmente um choque histórico de duas visões do mundo: por um lado, uma visão honra aqueles que deram a vida para que as gerações futuras vivessem e aqueles que deram a vida na luta por uma causa justa, não só deles mas de todo o mundo, defendendo a justiça, a bondade, a humanidade, o amor, o cuidado com o próximo e, por outro, a outra visão cujo objetivo é espezinhar e destruir tudo o que está fora do seu conceito de mundo limitado aos seus parcos conhecimentos e noções sobre o mundo, a história, o ser humano, reduzir tudo a um denominador comum mínimo e instintos inferiores e aprovar apenas aquilo que "se harmoniza” com as suas noções como a única coisa possível de existir, enquanto todo o resto deve ser posto no lixo, destruído e espezinhado.
Parece-me que, ontem, cada um mostrou ao mundo inteiro o que tinha a mostrar. Nós mostramos que guardamos a memória sagrada da vitória e de todos os que contribuíram para ela (que sobreviveram, morreram, lutaram, trabalharam na retaguarda, regressaram a casa ou morreram numa terra estrangeira), apesar de os monumentos serem regularmente demolidos. Aqueles para quem tudo isto não significa nada mostraram que traíram tudo. Traíram como sempre, cobrando pela traição preços diferentes em épocas diferentes: numa época, trinta moedas de prata, em outras épocas, um “centavo”, em outras ainda, "um frasco de compota".
Os representantes do regime de Kiev têm consciência de que são traidores. É por isso, entre outras coisas, que estão tão "chocados". Nunca serão perdoados pelos de fora, nem pelos seus, nem por ninguém. Já não têm "os seus". Eles abandonaram-nos, fizeram-no ontem, perante o mundo inteiro. Quero sublinhar mais uma vez: o regime de Kiev não tem qualquer direito moral de comentar o Dia da Vitória, de condenar quem quer que seja, de aconselhar ou recomendar e muito menos de exigir. Este regime não tem nada a ver com a Grande Vitória, nem com as cidades-heróis de Kiev e Odessa, nem com os mais de dois mil ucranianos que são Heróis da União Soviética. Eles próprios abdicaram de tudo e de todos. Ontem admitiram-no oficialmente. Vladimir Zelensky fez a sua escolha. Não posso dizer se a escolha foi dele, se foi uma escolha livre ou forçada. A história é omissa. Talvez um dia venhamos a saber. Mas a escolha foi feita. Ele aprecia mais as cruzes nazis do que as estrelas dos heróis da Guerra. Para ele, esta questão está encerrada para sempre. Ele próprio o admitiu.
Há mais de nove anos que o regime de Kiev faz tudo para privar os povos que vivem na Ucrânia da sua história, para denegrir e remeter para o esquecimento a memória dos seus antepassados heróis, milhões de pessoas que se sacrificaram por uma vida livre e pacífica para as gerações seguintes. Ao reabilitar os nazis e os seus capangas, as autoridades ucranianas estão a demolir monumentos aos soldados do Exército Vermelho. Neste contexto, vêm à mente as cenas dos nazis a queimar livros "desnecessários", "inconvenientes", "irrelevantes", como diziam, na Alemanha. O número de monumentos destruídos pelos banderitas (só imaginem!) chega a três mil e está a aumentar. Têm um instinto bestial de destruir tudo o que não criaram. No dia 3 de maio, o parlamento ucraniano aprovou, em definitivo, a lei que simplifica o procedimento de retirada do cadastro nacional dos monumentos "que são os símbolos do Império Russo e da política e ideologia totalitárias soviéticas". Existem outros monumentos? Se tudo é abolido, como é que foram então criadas as cidades, ruas e edifícios? Existe outra história? Vão inventar algo novo ou quê? Agora, a guerra contra os monumentos na Ucrânia vai atingir uma dimensão ainda maior. À medida que o Dia da Vitória se aproximava, as atividades terroristas e de sabotagem dos militares ucranianos e de todos aqueles que se juntaram ou estavam associados a estas forças "maléficas" ganhavam ímpeto. Na noite de 3 de maio, foi realizada uma tentativa de ataque com drone contra o Kremlin de Moscovo. A 4 de maio, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo emitiu uma declaração para condenar veementemente este crime. Estamos convencidos de que por detrás do ataque está o regime de Kiev apoiado sem reservas pelos países ocidentais. Estes atos são encobertos e encorajados pelo Ocidente. Por isso, se atos como estes não forem condenados, censurados, então eles terão “luz verde”, o que, de facto, acontece, dados os enormes recursos materiais, financeiros e armamento disponibilizados ao regime de Kiev. Acrescentem a isso as declarações políticas de que "não haverá nenhuma paz", a vitória só deve ser conquistada no campo de batalha, "não é altura própria para negociar". O Comité de Investigação da Rússia está a investigar tudo o que ouvimos da Casa Branca, do Departamento de Estado, etc. Todos os culpados serão encontrados e punidos. Gostaria de me referir ao ataque terrorista contra Zakhar Prilepin e o seu camarada de armas falecido Aleksandr Shubin. Zakhar Prilepin ficou gravemente ferido. Desejamos-lhe recuperação e força para superar o que lhe aconteceu. Apresentamos as nossas sinceras condolências aos parentes, familiares e amigos do falecido. Apelamos à comunidade internacional e às organizações internacionais para que condenem veementemente a nova investida criminosa do regime de Kiev. Refiro-me à série de "acontecimentos" designados por atos terroristas extremistas. Exortamos a comunidade internacional e todos aqueles que apoiam o regime de Kiev a obrigá-lo a cumprir as suas obrigações no âmbito da luta contra o terrorismo e do direito humanitário internacional. Estamos conscientes de que isto parece irrealista, mas temos de chamar a atenção de todos aqueles que "criaram” Vladimir Zelensky para não dizerem mais tarde que "não sabiam de nada", que não ouviram nada e que ninguém lhes contou sobre isso. Já assistimos a esta abordagem muitas vezes.
Não é de todo coincidência que um dos novos nazis de Kiev, o chefe dos seus serviços de informações militares, Kirill Budanov, se tenha permitido uma declaração monstruosa sobre a sua disponibilidade para "matar russos em todo o mundo". Pergunto-me de que mais precisam a Casa Branca, Downing Street, o Palácio do Eliseu, Berlim, Madrid e Roma para verem elementos de extremismo em tais declarações? Mais uma vez, gostaria de citar: o regime de Kiev está a planear "matar russos em todo o mundo". Gostaria de fazer uma pergunta direta: se isto não é terrorismo, então o que é? Ou o terrorismo é quando cidadãos da NATO são mortos em ataques terroristas e extremistas e isso deve ser censurado, condenado e punido. De facto, não é. Há normas comuns e, embora não haja ainda uma definição única da palavra terrorismo, há indícios qualificados gerais que permitem dizer que esta ou aquela declaração feita por um responsável governamental, um representante de um serviço de segurança cujas visitas são recebidas no Ocidente é de índole extremista e terrorista. Não pode ser de uma forma diferente. Se verificarem uma atitude diferente, isso significa que vocês têm na sua frente pessoas que, no mínimo, estão a enganar, a iludir e a "mentir".
Os fornecimentos maciços de armas ocidentais à Ucrânia deram origem a uma corrupção em grande escala e ao contrabando de armas na Ucrânia e no estrangeiro. Nos últimos meses, personalidades oficiais norte-americanas e europeias e jornalistas realizaram várias investigações e concluíram que, entre 60% e 70% da ajuda ocidental, não chega às mãos dos militares ucranianos, as armas fornecidas acabam no mercado negro. Este não é um recommerce nem vendas clandestinas, mas um fornecimento a "não destinatários".
No verão passado, o Secretário-Geral da Interpol, Jurgen Stock, avisou que, "após o fim do conflito na Ucrânia, há uma grande probabilidade de o tráfico ilícito de armas originalmente destinadas a Kiev se intensificar" e acabar nas mãos de grupos de crime organizado e terroristas. O responsável enganou-se quanto ao prazo. Tudo está como ele disse. Só que não tivemos de esperar muito tempo. O processo está a desenvolver-se em paralelo com o evoluir da situação na Ucrânia, e não “após o fim”, mas durante o conflito. Em novembro de 2022, o Congresso dos EUA e, em dezembro de 2022, o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, anunciaram que todos os fornecimentos e tranches financeiras à Ucrânia serão auditados. A razão é clara: a Ucrânia é um "buraco negro". Alguns estão satisfeitos, outros não. Aparentemente, alguém no continente europeu está a começar a pensar em como é que vai olhar nos olhos dos seus eleitores quando os seus concidadãos forem mortos com as armas fornecidas à Ucrânia? Estas armas foram fornecidas “em papel” ao regime de Kiev. Afinal, terão de responder como estes fornecimentos eram controlados e dizer para onde as armas fornecidas foram. Então todos os que estão agora a emitir sem hesitar faturas de matança de russos e ucranianos irão apanhar o suficiente.
Já o dissemos muitas vezes, sem sarcasmo nem rancor e avisámos que tudo voltará para eles. Não porque esta seja a teoria do boomerang, mas porque estas armas não chegaram sequer às fronteiras da Ucrânia, "dissolvendo-se" imediatamente nos "mercados negros" ocidentais. Algumas armas regressaram à Europa após passar pelo campo de batalha. Há exemplos disso. As entregas foram feitas por pessoas que as aguardavam no campo de batalha. Chegaram outras armas, não as que estavam a ser enviadas. Em janeiro passado, uma equipa de auditores do governo dos EUA chegou à Ucrânia para auditar a ajuda militar e financeira dos EUA. Pobres ingênuos, pensaram que alguém lhes diria alguma coisa e que, de alguma forma, conseguiriam descobrir alguma coisa.
O nível de corrupção dos responsáveis governamentais ucranianos foi claramente descrito no relatório de 2022 da Transparency International dedicado à corrupção em 180 países. Recorde-se que se trata das organizações que "aplaudem" o regime de Kiev, colocam nos seus sítios web símbolos de apoio à Ucrânia e são solidárias com o Ocidente, organizações essas que não podem ser suspeitadas de simpatizar com o nosso país. Mesmo assim, a Ucrânia recebeu uma das notas mais baixas (33 pontos em 100 possíveis), com os peritos a concluir que o risco de grupos criminosos de se apoderarem de ajuda financeira estrangeira é grande, tanto durante as hostilidades na Ucrânia como após o seu fim. Os autores do relatório não têm dúvidas quanto ao destino da ajuda financeira. A questão não é que isso seja mau, porque se trata de corrupção, a questão é que isso é perigoso. Trata-se não só do desvio de recursos financeiros como também do desvio de armas que acabam nas mãos de elementos criminosos, do crime organizado, de terroristas e de extremistas.
A Alemanha também fez as suas próprias conclusões sobre este assunto: a Fundação Ciência e Política, próxima do Governo, declarou, após as suas investigações anticorrupção na Ucrânia, que "as reformas pararam". Estou curiosa para saber quanto terá sido pago aos seus autores alemães para chegarem a uma conclusão tão profunda e certa. Nós podíamos tê-lo feito de graça.
O relatório afirma que seria sensato responsabilizar o Presidente ucraniano e a sua comitiva pela "paralisação das reformas". Talvez tenham querido atribuir a culpa à Rússia, mas não conseguiram. Acharam possível associar a paralisação das reformas ao Presidente ucraniano.
A história é cíclica. Oitenta anos depois da derrota do nazi-fascismo, estamos a braços com o ressurgimento desse horror no Ocidente e na Ucrânia. Desta vez, o inimigo tentou colocar parte da população das terras russas nativas contra nós, doutrinando-a com a ideia de superioridade nacional. Guardando a memória dos nossos antepassados tombados, não podemos permitir que os neonazis na Ucrânia conquistem a vitória. Os objetivos declarados são mais relevantes do que nunca e serão atingidos, segundo disseram os dirigentes russos.
Sobre as atividades comemorativas dos 78 anos da vitória na Grande Guerra Patriótica no estrangeiro
Como já é tradição, os diplomatas russos, juntamente com os seus compatriotas, realizaram em dezenas de países centenas de eventos comemorativos dos 78 anos da Vitória na Grande Guerra Patriótica em 2023. Não sei se posso dizer quantas foram, pois foram tão numerosos e diversificadas. A principal ação global de 9 de maio foi o "Regimento Imortal": esta reuniu milhares de pessoas de diferentes partes do mundo. Os projetos "Janelas da Vitória", "Jardim da Memória", "Canções da Vitória" e "Chama da Memória" foram bem-sucedidos, tendo sido organizadas cerimónias de deposição de coroas de flores em monumentos aos soldados soviéticos, bem como manifestações de automóveis, exposições fotográficas e exibições de filmes. Hoje em dia, quando o nazismo tenta de novo erguer a cabeça, é mais importante do que nunca preservar e reforçar a memória da Grande Vitória, da façanha do povo soviético na luta contra a "peste castanha", e partilhar verdades, informações e documentos.
Todos os eventos mais significativos dedicados ao Dia da Vitória realizados no estrangeiro foram noticiados em tempo real (e ainda agora continuamos a fazê-lo e continuaremos a fazê-lo na próxima semana) nos perfis do Ministério nas redes sociais. Existe também uma secção especial no sítio Web do Ministério, que está constantemente a ser atualizada. Para se ter uma ideia da dimensão (que é impressionante) e do mapa das celebrações do Dia 9 de Maio, recomendo que consultem as compilações publicadas nos nossos perfis nas redes sociais com links para todos os eventos realizados com a participação de diplomatas russos, bem como um vídeo com as melhores imagens. Contámos sobre a história da Grande Guerra Patriótica, das proezas do Exército Vermelho e do papel desempenhado pelo nosso país na libertação da Europa e do mundo do nazi-fascismo. Todos os anos, ao recordarmos estes acontecimentos e ao mergulharmos na história da época, é como se vivêssemos de novo com eles os momentos trágicos e heroicos da Guerra.
Lamentamos constatar que o governo de alguns países (o que era de esperar) voltaram a colocar obstáculos àqueles que quiseram homenagear os heróis da Grande Guerra Patriótica. Os países bálticos e a Moldávia proibiram a utilização dos símbolos do Dia da Vitória e até a exibição da fita de São Jorge. Alguns países estabeleceram multa pelo uso da fita georgiana. Uma loucura absoluta. É óbvio que eles têm um medo tremendo, apercebem-se de que estão encurralados ao reescreverem livros de história, ao contarem às jovens gerações histórias da carochinha e ao divulgarem-nas através dos meios de comunicação social. Têm medo que os seus cidadãos, os jovens e a sociedade civil se apercebam das suas mentiras, ao ver (infelizmente, é pouco provável que o vejam através dos meios de comunicação social onde a verdade está bloqueada e apagada) a marcha do "Regimento Imortal", as manifestações, a colocação de coroas de flores, os retratos exibidos pelos manifestantes. Têm medo que o mito criado pelos regimes ocidentais venha a ser quebrado. Na verdade, já está a quebrar-se diante dos nossos olhos. Na Letónia, várias pessoas foram detidas, foram abertos processos-crime e administrativos. Qual é a situação da liberdade de expressão nesse país? As autoridades letãs provavelmente não ouviram falar nada disso? Imaginem: as pessoas foram presas por ter querido homenagear os seus entes queridos, os heróis que lutaram contra o mal absoluto. Lembram-se de como nos disseram: se querem prestar homenagem, procurem monumentos em outros lugares e aí derramem lágrimas e depositem flores? Lembram-se do tema promovido pelos representantes da "opinião pública"? Isto, sim, é o neonazismo, o racismo, a xenofobia do século XXI. Esta é uma prática semelhante à existente no Ocidente até meados do século XX quando as pessoas com outra cor de pele, outro tipo de olhos, outras formas de crânio foram metidas em guetos e foram proibidas de usar os transportes públicos, estudar com outras crianças “certas”. Nesta altura, os governos dos países bálticos, nomeadamente da Letónia, proíbem prestar homenagem aos soldados que libertaram os seus antepassados e a Europa, dizendo "saiam do nosso país", "deixem este espaço", "não queremos ver isto no nosso país". Há apenas uma nuance importante: as flores, as coroas de flores destinam-se aos que foram declarados heróis pelo Tribunal de Nuremberga (a sua decisão ainda não foi revogada e não tem prazo de prescrição). Não é preciso ir a outro país para prestar homenagem nos locais onde há um monumento, uma campa, uma lápide, um monumento ou um complexo memorial. Está é a liberdade e o dever sagrado de cada pessoa. A liberdade não tem a ver com destruição. Estas coisas são muitas vezes confundidas. O problema é que hoje em dia os países bálticos, a Ucrânia estão sob aqueles que adoram o mal. Não gostam de ser mencionados como os que adoram o mal. Querem colocar o mal num pedestal, glorificar os criminosos nazis, regressar aos tempos da segregação, dividir as pessoas de acordo com a cor da pele e a forma do crânio. Não querem que alguém os explique onde há branco e onde há preto.
Infelizmente, este ano, as autoridades de Berlim decidiram também aderir à proibição. É uma vergonha para toda a sociedade alemã. Podemos gostar ou não de filosofia, de ideologia, de ideias políticas, mas não temos o direito de pôr em causa as decisões do Tribunal de Nuremberga. Tudo o que foi feito pelas autoridades de Berlim para limitar as comemorações é certamente um ataque à decisão de Nuremberga. A polícia de Berlim fez parar várias vezes a manifestação “Regimento Imortal” a caminho do complexo memorial de Tiergarten, o que não impediu, no entanto, que os manifestantes depositassem flores. Apesar das medidas draconianas tomadas pela polícia, cerca de 1000 pessoas participaram na manifestação "Regimento Imortal". Vladimir Zelensky está na vanguarda desta lógica destrutiva (do já falámos hoje). Ele arruinou, aboliu, distorceu tudo. Não tenho resposta para a questão de saber se ele o faz conscientemente, inconscientemente ou se o fazem por ele. Não posso dizer.
Pergunto-me o que diria hoje ao seu neto o avô do Presidente da Ucrânia, detentor de duas medalhas da Ordem “Estrela Vermelha”. Talvez aconselhasse o seu neto a fazer um curso de reabilitação para se curar do nazi-fascismo. Pergunto-me se, o Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, empenhado em realizar uma campanha de descomunização, poderia tirar ao seu avô duas medalhas da Ordem “Estrela Vermelha”, tal como tiram as estrelas das paredes e dos monumentos, vandalizando-os com tinta e palavrões. Ou esta pergunta é inconveniente?
Podemos dizer que os eventos tradicionais dedicados ao Dia da Vitória tiveram este ano como pano de fundo a campanha e histeria antirrussa desencadeadas pelo "Ocidente coletivo" e, em alguns países, as tentativas de "ativistas" ucranianos de impedir as comemorações.
Em algumas capitais europeias - Berlim, Paris, Madrid, Varsóvia - bem como em Barcelona, as marchas do "Regimento Imortal" foram acompanhadas de provocações por parte de apoiantes do regime de Kiev refugiados nos países quentes da Europa. Na capital polaca, uma multidão de bandidos que, segundo as autoridades locais, estavam a realizar (perdoem-me a palavra) um "happening", não posso encontrar uma palavra normal para descrever essa ação, bloqueou a delegação russa chefiada pelo Embaixador Serguei Andreev e impediu-a de depositar coroas de flores no cemitério em homenagem aos soldados soviéticos tombados em Varsóvia. A Rússia vai declarar um veemente protesto ao lado polaco. Posso assegurar-vos que estas não são as únicas contramedidas. Consideramos que esta é mais uma manifestação de uma atitude selvagem do lado polaco e um insulto à memória de mais de 600 000 soldados soviéticos que morreram a libertar a Polónia da ocupação nazi e um incumprimento das suas obrigações de suprimir tais incidentes.
É bom que nem todos na Europa se tenham esquecido da contribuição do nosso país para a vitória (e não tenham perdido a memória histórica). Foi uma luta comum contra a "peste castanha". Os movimentos antifascistas ganharam força em toda a Europa, embora isso não acontecesse nos primeiros dias da Guerra. Travámos uma luta comum, quando os soldados do Exército Vermelho lutaram lado a lado com os soldados dos países que não se opunham ao nazismo no início da Guerra. Mas depois, durante a Segunda Guerra Mundial, em resultado de uma série de processos internos e de circunstâncias externas, mudaram ou foram forçados a mudar a sua posição e começaram a lutar contra os nazis, empurrando-os cada vez mais para oeste.
Muitos cidadãos estrangeiros não tiveram medo, e juntamente com os nossos compatriotas e diplomatas, em Roma, Paris e noutros locais, participaram em eventos comemorativos e marcharam pelas ruas das cidades europeias. Pessoas de outras regiões do mundo (Ásia, África e América Latina) também participaram nos nossos eventos. Participaram também personalidade oficiais. O líder da Revolução Cubana, Raul Castro, e o Presidente de Cuba, Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez, participaram nas comemorações em Cuba. Em Manágua, Nicarágua, vários Ministros, entre os quais o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Denis Moncada, participaram na manifestação “Regimento Imortal”. Agradecemos a atenção e a participação dos nossos amigos. De acordo com os dados preliminares, até à data, as manifestações "Regimento Imortal" foram realizadas em mais de 70 países (130 eventos em várias cidades) nos cinco continentes. Além disso, já se realizaram receções e eventos comemorativos em mais de 80 países, além de cerimónias de colocação de coroas de flores em monumentos aos soldados soviéticos e tradicionais dias de limpeza e cuidados nos túmulos dos nossos heróis. As celebrações do Dia da Vitória continuam, com alguns eventos no estrangeiro a decorrer durante a semana. Faremos a cobertura de tudo isto nos nossos recursos na internet: no nosso sítio web e nos nossos perfis nas redes sociais.
Muito nos apraz saber que em muitos países o Dia da Vitória foi celebrado pelos nossos diplomatas juntamente com os diplomatas da CEI e da OTSC, ex-repúblicas da União Soviética, que também prezam e honram a memória sagrada dos seus heróis. Concretizámos na ONU, juntamente com os nossos parceiros dos países da CEI, um projeto conjunto #ПамятьПобеды (Memória da Vitória), uma série de publicações nas redes sociais, para contar sobre monumentos, museus e exposições dedicados à Grande Guerra Patriótica. O principal objetivo da campanha era recordar às pessoas a importância de preservar a memória histórica e mostrar como os nossos países honram o feito dos nossos antepassados.
Na OSCE, os Representantes Permanentes da Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Bósnia e Herzegovina, Cazaquistão, Quirguizistão, Rússia, Sérvia, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão aprovaram a tradicional Declaração por ocasião do 78.º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial. A Representação Permanente da Rússia em Genebra organizou uma "Jornada de Maio" tradicional em que participaram diplomatas das Representações Permanentes da Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguizistão.
Dispensámos especial atenção aos nossos veteranos que vivem no estrangeiro: os diplomatas russos não deixam de os visitar, ajudando-os e apoiando-os, ao longo do ano e, na véspera de 9 de Maio e no feriado, entregaram-lhes mensagens do Presidente russo, Vladimir Putin. Fazem isso regularmente e não só nos feriados. O feriado é uma ocasião para celebrar. Também falamos sobre isso nos nossos recursos.
Tratamos sempre esta grande Data com especial reverência, fizemos, fazemos e faremos tudo para manter a memória da nossa vitória, do preço pago por ela e de todos aqueles que deram as suas vidas por um mundo sem nazismo. Temos sempre presente isso.
Sobre a publicação no sítio Web do MNE russo de materiais de consulta sobre a responsabilidade histórica e jurídica internacional da Grã-Bretanha pelos crimes do período colonial e pós-colonial
A 25 de abril passado, o sítio Web do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo publicou, sob o título "Materiais Históricos", na secção "Política Externa", informações que resumem alguns dos factos de crimes gritantes cometidos pelo Império Britânico no período colonial e pós-colonial. A expansão do Império Britânico foi a mais extensa entre os outros países da Europa Ocidental, abrangendo praticamente todas as regiões do mundo. Foi em grande parte construída em torno do postulado, promovido por Londres, do alegado excecionalismo cultural e religioso dos britânicos. É um tema familiar para eles. Os britânicos conquistaram países e territórios ricos e depois exploraram-nos economicamente, desviando recursos e utilizando-os como apêndices de matérias-primas e mercados para os seus produtos manufaturados. Londres não hesitou em utilizar os métodos mais sofisticados para manter outras nações sob o seu controlo. Ainda hoje nos faz estremecer a crueldade feroz com que os colonizadores britânicos lutaram contra o movimento de libertação nacional na Índia ou criaram os primeiros campos de concentração da história (os primeiros do mundo, de facto) durante a Guerra dos Bóeres de 1899-1902, em que até crianças foram utilizadas como mão-de-obra. Tudo isto está interligado. Quando ouço agora declarações de alguns peritos dos países bálticos, que vivem a soldo dos EUA ou chantageados com “materiais comprometedores” que os campos de concentração nos países bálticos foram organizados por nazis (Salaspils, etc.) e que não havia ali nada de terrível do ponto de vista dos atuais políticos e dos "peritos" dos regimes bálticos. Imaginem, eles chamam-lhes "campos de trabalho". Quando lhes perguntamos se têm conhecimento do que foi feito às crianças, dizem que sabem, que todos sabem. Dizem que sabem, que todos sabem, que elas foram ali "reeducadas". Não acho que a retirada de sangue às crianças, as experiências médicas e a colheita de órgãos possam ser chamados de "reeducação". Não. Isto não é reeducação. É aniquilação. É assim que isso se chama. Dada a influência que o Reino Unido tem tido historicamente na região do Báltico, é evidente de onde "sopra o vento". As primeiras experiências com crianças em campos de concentração, etc. - tudo vem de lá. São as "descobertas" do Império Britânico. A máquina colonial britânica "triturou" literalmente milhões de africanos, alterando radicalmente a demografia do continente. Há todas as razões para dizer que o Reino Unido é responsável pelo genocídio dos povos de África, da Índia (o Império Britânico provocou sistematicamente a fome nos territórios indianos, na convicção de que isso suprimiria naturalmente o movimento de libertação), da população indígena da Austrália e da Tasmânia, em resultado do qual, segundo algumas estimativas, até 90% dos nativos foram aniquilados. Confrontada com uma ação judicial coletiva movida por veteranos da revolta anticolonial Mau Mau do Quénia, que foram presos e brutalmente torturados pelos militares britânicos entre 1952 e 1963, Londres começou a destruir documentos de arquivo, a fim de dificultar a avaliação dos outros crimes cometidos pelo Império Britânico.
O Reino Unido regeu-se pele princípio “divide para reinar” nas suas colónias, colocando os povos uns contra os outros e explorando as diferenças entre grupos religiosos e étnicos. As fronteiras artificiais traçadas pelos britânicos "ao longo das linhas de contradição" lançaram as bases para a maioria das atuais disputas territoriais e conflitos étnico-religiosos em África, no Médio Oriente e no Sudeste Asiático.
O exemplo mais ilustrativo é o da divisão da Índia britânica, em 1947, em dois Estados independentes, a Índia e o Paquistão, que provocou violentos confrontos entre hindus e muçulmanos, fluxos de refugiados e uma fome que matou cerca de um milhão de civis, com 18 milhões a tornarem-se refugiados e quase quatro milhões a desaparecerem. Recorde-se que estes números não se referem a esta altura em que a população mundial soma milhares de milhões de habitantes. Estes números referem-se a 1947. Imaginem a dimensão e comparem estes números com a população total. Coisas incomparáveis. Assusta imaginar o que se estava a passar naquela época. Devido à incerteza da linha de fronteira, as relações entre a Índia e o Paquistão continuam tensas até hoje.
Curiosamente, os britânicos não se dão ao trabalho de esconder as suas atitudes flagrantemente racistas da era colonial, retocando-as ligeiramente nos dias de hoje. O período colonial continua a ser um fator de orgulho nacional para a sociedade britânica, graças à posição da sua elite - um sistema de valores específico está firmemente enraizado na sociedade britânica - a ideologia do "messianismo" e do "fardo pesado do homem branco", supostamente a fonte de "progresso" para todo o mundo. O facto de centenas, dezenas, centenas, milhões de pessoas continuarem a sofrer em consequência deste "progresso"... É completamente errado acreditar que o progresso seja sempre uma coisa boa. "Bom" é quando o objetivo declarado é certo, correto e puro. Mas e se for o contrário? A palavra de verificação é "doença progressiva". É por isso que ninguém se arrependeu dos seus crimes que não são nada erros e não pretende pagar por eles.
A abordagem racista de Londres em relação ao mundo "incivilizado" é particularmente evidente no caso da Ucrânia. Vale a pena ver o que o Daily Telegraph (26.02.2022), pró-governo, escreve sobre os ucranianos. Olhem, é um jornal. É importante. Uma publicação oficial que é legalmente responsável pelas suas palavras, tem renome, prestígio, etc. Não é um blogue, não é uma página de autor numa rede social. Este é o Daily Telegraph: "Eles são como nós, e isto é de chocar. A Ucrânia é um país europeu, os seus cidadãos vêem Netflix e têm contas no Instagram, votam nas eleições, têm uma imprensa livre". Conseguem imaginar? É um país independente. É evidente que, após a década de 1990, entrou em colapso sob a influência do Ocidente. Muitas coisas foram destruídas. Mas, de um modo geral, a Ucrânia, fazendo parte da União Soviética, tinha desenvolvido a ciência, a indústria, as fábricas, os aviões. Tinha indústrias, tinha uma cultura. A Ucrânia tinha celebridades de referência internacional que não se dividiam em "ucranianos" e "russos", dizendo que eram influenciados por culturas diferentes. Escreviam em russo, consideravam-se a si próprios malorussos, etc. De repente, no século XXI um jornal londrino afirmou que as pessoas que viviam lá eram "como" os britânicos. Descobriram a Ucrânia. As pessoas vivem lá porque também sabem utilizar as redes sociais. É como um novo Colombo. Lamento, mas é de assustar. É a isso que nos opomos. Dito isto, nunca ninguém falou seriamente, nesta publicação nem na imprensa britânica em geral, sobre os crimes sangrentos do regime de Kiev, que se apoia, entre outras coisas, na corrente sanguínea britânica, contra o povo do Donbass.
Estamos certos de que os materiais que publicamos no sítio web do nosso Ministério serão de interesse para a compreensão do tipo de ideologia com que estamos a lidar atualmente. Quem é que no Ocidente alimenta tanto a sua própria comunidade como manifestações tão dolorosas como o regime de Kiev. Para compreender os antecedentes históricos, como era antes e como está a ser implementada agora, seria correto e útil analisar. O mais interessante é comparar os factos históricos a que nos referimos (não se trata apenas de história antiga, mas também de história recente) - como tudo se correlaciona com as declarações sobre a liberdade, democracia, proteção dos direitos. A conclusão é óbvia. Cada um fará a sua escolha. Eu fiz a minha. As pessoas que não se arrependeram do que fizeram, do que o Reino Unido fez não tem o direito moral de falar sobre toda uma série de temas.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: À luz dos acontecimentos recentes e das tentativas de isolar a Rússia, até que ponto é intensa a nossa aproximação à Índia e a outros países BRICS?
Maria Zakharova: A parceria estratégica no formato BRICS está a ganhar força. Temos uma bagagem sólida: adotámos a Estratégia de Segurança Alimentar, o Documento-Quadro de Parceria para a Economia Digital, iniciativas sobre comércio e investimento para o desenvolvimento sustentável e sobre o reforço da cooperação no domínio das cadeias de fornecimento. No final de 2022, o PIB agregado dos cinco países ultrapassou o do G7, o que demonstra a crescente contribuição dos BRICS para a economia mundial. Estas são apenas uma pequena parte das verdadeiras realizações. Não são raciocínios cínicos e humorísticos sobre a dívida pública dos Estados Unidos, sobre as bolhas de inflação, não são ações ritualistas. É a verdadeira contribuição das economias mundiais para a economia global. Por detrás destes sucessos dos BRICS está um interesse comum em construir um diálogo mutuamente benéfico, em construir uma nova arquitetura política, financeira e económica global mais justa que reflita o desejo de uma verdadeira multipolaridade e os interesses da maioria dos países do planeta.
As relações da Rússia com o Brasil, nosso amigo de longa data e um dos nossos parceiros estratégicos e solidários, tanto a nível bilateral como no cenário internacional, estão a desenvolver-se de forma muito intensa. O carácter prioritário do reforço da cooperação com este país latino-americano está consagrado no Conceito de Política Externa russa recentemente aprovado. Contatos aos mais altos e elevados níveis e interação em fóruns multilaterais, especialmente no BRICS, no G20, na ONU e no seu Conselho de Segurança, onde o Brasil é membro não permanente este ano. O comércio mutuamente benéfico e a cooperação em áreas promissoras estão em bom andamento.
Para surpresa dos EUA e dos seus satélites, as suas tentativas de isolar o nosso país contribuíram para o reforço da parceria estratégica particularmente privilegiada entre a Índia e a Rússia. Apesar da pressão das sanções ocidentais, os contatos com Nova Deli mantêm-se a um nível elevado e, em algumas áreas, tornaram-se ainda mais estreitos. Isto diz igualmente respeito ao diálogo, tanto a nível bilateral como em fóruns internacionais como a ONU, a OCX, os BRICS e o G20. Os nossos amigos indianos demonstram um forte empenhamento na sua intensificação. Mantiveram sempre a neutralidade relativamente à situação na Ucrânia e apelaram de forma construtiva à sua resolução por via diplomática. A Índia não aderiu à cruzada contra Moscovo orquestrada pelos EUA e pelos países da Europa Ocidental nem à iniciativa de implementar um teto máximo ao preço do petróleo russo.
De facto, as restrições antirrussas criaram algumas dificuldades temporárias ao desenvolvimento do comércio bilateral, mas, ao mesmo tempo, também se tornaram um catalisador, acelerando a adoção do sistema de desembolsos recíprocos nas moedas nacionais e os esforços conjuntos para o desenvolvimento de uma infraestrutura de transportes, logística e financeira autossuficiente. No ano passado, a nossa cooperação comercial e económica recebeu um forte impulso, tendo as trocas comerciais entre os dois países atingido um valor recorde na história moderna da Rússia. Este ano, a tendência mantém-se. Ao contrário dos países ocidentais, transferimos tecnologias-chave para a Índia nos domínios militar e espacial, bem como no domínio da energia nuclear.
As relações russo-chinesas continuam a desenvolver-se em crescendo, independentemente dos fatores externos e dos esforços destrutivos dos malfeitores. Mantemos uma estreita coordenação no cenário internacional; os nossos pontos de vista sobre os acontecimentos e processos globais mais importantes coincidem plenamente ou estão em sintonia. Promovemos conjuntamente o desenvolvimento de mecanismos de integração regional, entre os quais os BRICS.
A estabilidade dos nossos laços bilaterais foi confirmada de forma convincente pela visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, à Rússia em março passado. A Cimeira de Moscovo foi um acontecimento político de grande importância, cujo significado vai muito além das relações bilaterais. Consideramo-la como um dos passos decisivos para o desmantelamento da ordem mundial unipolar a favor da criação de um sistema mais justo e racional de relações internacionais, assente não nas famosas "regras" do Ocidente, mas no direito internacional e na Carta das Nações Unidas.
Apesar das tentativas frenéticas do Ocidente de dessangrar a nossa economia e causar à Rússia o maior dano económico possível, por meio de sanções unilaterais, a visita do chefe de Estado chinês deu um impulso ao desenvolvimento de uma cooperação mutuamente benéfica na esfera comercial e económica, onde conseguimos alcançar resultados muito bons (por exemplo, em 2022, o intercâmbio comercial aumentou cerca de 33%, para 185 mil milhões de dólares, atingindo um valor recorde). No que diz respeito à África do Sul, a cooperação com este país continua a desenvolver-se de forma progressiva, atingindo o nível de parceria estratégica. Foi estabelecido um diálogo político de confiança ao nível alto e mais alto. Em 2022, os Presidentes da Rússia e da África do Sul mantiveram três conversas telefónicas, durante as quais confirmaram a sua intenção mútua de intensificar a cooperação.
Em janeiro passado, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, visitou a República da África do Sul, onde manteve conversações com a sua homóloga sul-africana, Naledi Pandor, e foi recebido pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
A 17 e 20 de março passado, à margem da segunda conferência parlamentar internacional Rússia-África em Moscovo, o Presidente da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), Viacheslav Volodin reuniu-se com a Presidente da Assembleia Nacional, Nosiviwe Mapisa-Nqakula. A Presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, reuniu-se com o Presidente do Conselho Nacional das Províncias, Amos Masondo. Entre os dias 27 e 30 de março passado, realizou-se, em Pretória, a 17ª reunião da Comissão Mista Rússia-África do Sul de Cooperação Económica, copresidida, do lado russo, pelo Ministro dos Recursos Naturais e da Ecologia, Aleksander Kozlov, e, do lado sul-africano, pela Ministra dos Negócios Estrangeiros, Naledi Pandor.
Por isso, no contexto da interação com os BRICS, não podemos dizer que a Rússia está isolada.
Pergunta: A Rússia tenciona convocar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a tentativa de ataque com drones ao Kremlin?
Maria Zakharova: Por favor, não se esqueçam de que, precisamente naqueles mesmos dias, foi perpetrado um ataque terrorista contra cidadãos russos. Não estou a falar dos combates, porque estão a decorrer a todo o momento. Estão a ser mortos civis inocentes. Estou a dizer isso para que não se esqueçam de que houve um ataque terrorista planeado, durante o qual um cidadão do nosso país foi morto e outro ficou gravemente ferido. Estas pessoas foram declaradas alvos pelo regime de Kiev durante muitos anos. Não se trata de um acidente, não se trata de um ataque terrorista como expressão da natureza bestial do regime de Kiev. Trata-se de um assassinato planeado realizado por métodos terroristas.
Chamaremos constantemente a atenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas para as atividades terroristas do regime de Kiev durante as reuniões e consultas oficiais. Este tema é e continuará a ser abordado no âmbito do trabalho diário da nossa Missão Permanente junto da ONU.
Pergunta: O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, espera que o Conselho da UE aprove, sem mais delongas, um mecanismo de sanções contra qualquer país acusado de corrupção. O que é que os advogados do seu Ministério podem dizer sobre esta questão?
Maria Zakharova: Parece-me que ele tem algumas analogias diretas com aquilo de que é suspeita a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Talvez ele queira ocupar o lugar dela. Porque ela é suspeita de corrupção no valor de cerca de nove mil milhões de euros aquando da compra de uma vacina a um fabricante norte-americano para o mercado da UE. Isto levantou muitas questões e até mesmo causou um choque quando a pandemia estava a grassar. Porquê o fabricante norte-americano? Porquê a vacina deveria ser comprada em tantas quantidades? Porquê foi escolhida essa empresa? Descobriu-se que ela tinha estado em contato direto, quase privado, com o diretor daquela empresa norte-americana. O resultado foi um contrato de nove mil milhões de euros e avaliações contraditórias no que respeito à eficácia e à qualidade do seu produto. Que eu saiba, o caso está a ser investigado. Mas há acusações de corrupção. Por isso, talvez Josep Borrell estivesse a referir-se a Ursula von der Leyen neste caso. Isto não é uma brincadeira. Eles já aprovaram tantas coisas controversas. Em particular, fiquei impressionada com a forma como, no âmbito de um "brainstorming" UE-NATO, foram aprovadas restrições ou ameaças de restrições contra aqueles que atentassem contra a soberania da Moldávia. Ninguém estava a pensar na Roménia naquele momento nem no facto de a atual cúpula do regime moldavo estar intimamente ligada a esse país e estar sistematicamente a tomar medidas para reduzir a soberania da Moldávia. Na minha opinião, depois de o documento de restrição ter sido elaborado, a primeira prioridade deveria ter sido visar aqueles que defendiam a decisão de renomear a língua moldava para romeno. Foram as mesmas pessoas que tentaram provar que o regime de Kiev tinha o direito de apoiar apenas a língua ucraniana no seu território, porque a língua era, segundo eles, um dos princípios fundamentais da soberania do Estado. O Estado da Ucrânia tem o direito de ter a sua própria opinião sobre a política linguística e deve desenvolver a língua ucraniana.
Não importava que quase toda a gente falasse russo. Muitos não falavam nenhuma outra língua para além do russo, falavam-no, historicamente, quando ainda viviam na União Soviética. Eles enfatizavam o aspeto da soberania. Por conseguinte, deveria haver uma lógica inversa. Se a língua moldava for renomeada para romeno, isso significará renunciar à sua soberania. Não há qualquer lógica por detrás dessa decisão, uma vez que já citei dados segundo os quais o idioma moldavo é mais antigo do que o romeno, apesar de todas as suas semelhanças e proximidade, mas é mencionado mais cedo do que o romeno. Isto pertence à categoria das contradições absurdas. Temos defendido sistematicamente a natureza não intrusiva, inclusiva e técnica da cooperação internacional no combate à corrupção, baseada nos princípios da igualdade e da consideração mútua dos interesses nacionais. Condenamos veementemente as tentativas persistentes dos países ocidentais de politizar a interação nesta área. Este é um exemplo concreto. Politizaram, estão a politizar e chegaram ao extremo. Este é o caso de começarem a inventar instrumentos de luta que, se não são dirigidos contra eles, são definitivamente de dois gumes. Esta abordagem não só os impede de trabalhar em conjunto de forma eficaz, como também destrói os mecanismos que foram desenvolvidos ao longo dos anos, sobretudo através da Convenção universal das Nações Unidas contra a corrupção. Este ano celebra-se o 20º aniversário da abertura do tratado à assinatura. O amplo consenso e desejo de uma cooperação aberta, baseada na confiança, está agora a ser minado pelo desejo persistente de alguns países de impor regras e soluções politicamente motivadas que lhes são convenientes. Um exemplo disso é a recente proposta de Josep Borrell de impor sanções a pessoas singulares e coletivas de países estrangeiros envolvidas em "crimes graves de corrupção". Estou à espera que os funcionários corruptos dos EUA, que são bastantes, sejam incluídos nas respetivas listas e fiquem sob sanções. E o que dizer do regime de Kiev? Parece-me que lá um em cada dois responsáveis governamentais é corrupto. Quando os oligarcas de Kiev serão incluídos nesta lista? Esta questão está há muito na ordem do dia.
Os motivos declarados para a aplicação de medidas repressivas como o impacto da "corrupção sistémica ou em grande escala" em países terceiros nos "valores e interesses fundamentais da UE" ou a realização de objetivos comuns de política externa e de segurança, incluindo o "apoio à democracia e ao Estado de direito" noutros países, permitem não só aplicar de forma arbitrária sanções como também interpretar de forma muito vaga as normas do direito internacional. Dito de forma simples: se é a corrupção ameaça os valores da UE, está corrupção é má. Portanto, sanções, listas de paragem devem ser aplicadas. Se a corrupção não ameaça os valores da UE, da NATO, esta corrupção não é tão má. Lembre-se da expressão: "ele pode ser um filho da mãe, mas é o nosso filho da mãe". Esta regra vigora neste caso: esta é uma corrupção, mas é a nossa corrupção. Tudo deve ser correto, tudo deve ser bom. Não há motivo para preocupações. E se algo der errado, restrições são impostas. Trata-se de mais um instrumento de influência política e não de um mecanismo de punição dos criminosos que foram legalmente reconhecidos como tais.
Pergunta: Respondeu parcialmente à pergunta relativa ao escândalo de Ancara...
Maria Zakharova: Parcialmente? Penso que comentei tudo.
Pergunta: Gostaria de especificar. A cimeira da Assembleia Parlamentar da Cooperação Económica do Mar Negro em Ancara foi ensombrada por uma façanha da delegação ucraniana. Os representantes do parlamento ucraniano tentaram impedir a intervenção da delegação russa. Houve uma luta a socos entre diplomatas. Devemos esperar agora ataques a delegações russas em todos os eventos diplomáticos? Serão as lutas a socos uma nova era da escola diplomática? Poderá haver consequências legais para a delegação ucraniana?
Maria Zakharova: Porque é que devemos esperar isso? Já disse que isto se passa há anos e citei exemplos concretos. Um exemplo diz respeito ao meu colega. Ele foi para participar numa reunião da Comissão de Informação da Assembleia Geral da ONU. Isso foi há cerca de cinco anos. Representantes de muitas dezenas de países discutem a agenda da informação. Durante a reunião e as atividades "à margem", ele foi perseguido e ameaçado nos bastidores por representantes do regime de Kiev, verdadeiros bandidos vestidos, por razões desconhecidas, de uniformes de camuflagem. Comentamos o caso nos nossos briefings, nos quais o senhor ainda não participou. Solicitámos ao Secretariado das Nações Unidas, através de uma nota oficial, que apurasse quem eram, por que razão estas pessoas entraram no edifício, qual era o seu estatuto e que tomasse todas as medidas adequadas para garantir que isto não voltasse a acontecer. E também que tomasse medidas contra esta delegação em particular, porque houve uma ameaça direta à vida de um dos nossos funcionários. Não porque esta "correria” nos corredores da ONU fosse perigosa, mas porque o ameaçaram de morte, dizendo que o matariam. O Secretariado da ONU não respondeu durante muito tempo. Depois nos enviou a sua resposta. Disseram que isto era inaceitável, que foram tomadas medidas e que haviam dito à Missão Permanente da Ucrânia junto da ONU que "não se podia comportar desta forma". Mas os do regime de Kiev não podem comportar-se de outra forma. O que se quer dos funcionários isolados do regime de Kiev se as suas ações, as ações dos seus líderes são qualificadas como terrorismo, extremismo? O mais importante é que se trata de um regime que chegou ao poder por meios ilegais, num golpe inconstitucional. Acham mesmo que aqueles que chegaram ao poder ilegalmente, vão fazer tudo o resto de acordo com a lei? Tiveram a oportunidade de ver que podem conseguir tudo, violando a lei. Agora tem isso como guia de ação. Foi por isso que lançámos uma operação militar especial. Porque eles ficaram fora da lei e as suas ações começaram a ultrapassar os limites internos do seu país. Dado que eles não obedeciam a nenhumas leis, não era difícil prever como tudo isto ia acabar.