Excerto do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 26 de junho de 2025

1104-26-06-2025

Sobre a Cimeira da NATO

 

Recebemos muitas perguntas relacionadas com a Cimeira da NATO. Gostaria de salientar mais uma vez que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, comentou detalhadamente esta matéria.

Resumindo as questões recebidas, posso dizer que o resultado da Cimeira da NATO realizada em Haia nos dias 24 e 25 de junho confirmou uma realidade há muito conhecida. Apesar da manifestação ostensiva de coesão quanto à necessidade de repelir "numerosas" ameaças à Aliança, a cimeira decorreu de acordo com os planos de Washington, sem ter em conta a opinião dos demais participantes. A administração norte-americana exerceu pressão sobre os aliados para que estes concordassem em aumentar as suas despesas militares de dois para cinco por cento do PIB. No entanto, esta decisão pode ser interpretada como opção voluntária dos aliados. Independentemente dos esforços para o ocultar, este passo constitui uma fonte de profundo desconforto para muitos aliados dos EUA, tendo as polémicas em torno do novo teto das despesas militares sido tornadas públicas. A Espanha foi o primeiro país a declarar que não poderia "sobreaquecer" tanto o seu orçamento de Estado. Vários outros países também declararam, à margem da reunião, que não teriam capacidade para atingir a nova meta. Não obstante, todos os países membros da NATO subscreveram este compromisso.

Como é que isto pode ter acontecido? Esta situação configura um fenómeno inédito? O aumento substancial das despesas militares e a intensificação drástica do programa de rearmamento radical da Aliança do Atlântico Norte devem-se, sem dúvida, à ameaça "duradoura" representada pela Federação da Rússia. Com o intuito de fomentar um ambiente de pânico, o Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, reiterou a tese de que a Rússia poderia atacar os países da Aliança no horizonte temporal dos próximos três, cinco ou sete anos. Neste contexto, gostaria de lhe dirigir uma pergunta. Não dispõe de informações precisas quanto à data da ocorrência? Ou está a tentar transmitir de forma diplomática a todos os participantes que as apostas irão continuar a subir e que terão de efetuar pagamentos adicionais. O sujeito em questão não conseguiu fornecer uma resposta satisfatória à questão que lhe foi colocada, sobre as razões que o levaram a tirar estas conclusões. Na reunião, foram apresentadas inúmeras perguntas relacionadas com este assunto. Em resultado, o responsável limitou-se a afirmar que a Rússia estaria, alegadamente, a "revigorar-se".

A imagem da Rússia pintada pelos países da NATO “com cores negras” demonstrou ser, em última análise, a "melhor ideia" das últimas décadas. Outras ideias não lhes ocorreram. Acham que apenas a tese de uma alegada "ameaça russa" lhes permitirá arranjar uma justificação para a nova campanha de esvaziamento dos bolsos dos cidadãos comuns. É evidente que tal medida visa, acima de tudo, fazer as vantagens aos EUA e convencê-los de que a Europa está preparada para "pagar o seu quinhão". Este é um projeto comercial de Washington destinado a fornecer encomendas de longo prazo à indústria de guerra norte-americana à custa dos contribuintes ocidentais e europeus.

Em simultâneo, a NATO pretende aumentar as suas despesas militares e acelerar a produção na indústria de guerra durante um período de dez anos, até 2035. Contudo, emerge a seguinte questão lógica: que relação existe entre esta situação e a alegada ameaça russa, que se supõe que se materializará dentro de três, cinco ou sete anos? O clima emocional no encontro atingiu um ponto tão elevado que podia pensar-se que as tropas russas se encontravam preparadas para invadir o local.

Foram instigados novos mitos, nomeadamente os de que a Rússia bloquearia o Corredor de Suwalki ainda no outro dia, ou que efetuaria um ataque anfíbio à ilha de Bornholm. Em suma, não imaginam quantos mitos lá foram debatidos nem quantas ameaças alarmistas lá foram inventadas. A verdade reside numa coisa. Os Estados Unidos da América pretendem assegurar o fornecimento de encomendas à sua indústria de guerra. Precisam de dinheiro. Como é que podem obtê-lo? Explorando aqueles que foram condenados por eles ao declínio económico e aos quais impuseram juros adicionais para beneficiar a sua indústria de guerra e aos quais não é permitido expressar essa opinião. Por que razão? Porque nesta  circunstância, os  eleitores votarão de uma forma diferente nesses países.

Em 2024, o montante total do orçamento militar combinado dos Estados-membros da Aliança do Atlântico Norte ascendeu a aproximadamente 1,5 biliões de dólares. As despesas militares dos EUA representam um valor superior ao de todos os países do mundo. Contudo, eles continuam a estar com medo. Surge a questão: se as despesas militares na Europa Ocidental excedem as de todos os países em conjunto, não sabem aplicar este montante de forma eficaz? Ou os seus armamentos são assim? Tudo indica que sim. Sabemos muito bem o que aconteceu com os alardeados armamentos alemães. Colocámo-los, incluindo os tanques alemães que foram abatidos nos campos de batalha, em exposição nas praças centrais das nossas cidades. No próximo ano, antevê-se um acréscimo nos orçamentos militares combinados dos países da Aliança do Atlântico Norte. De que natureza defensiva das suas atividades podem os países membros da NATO continuar a falar? Se gastam mais com a defesa do que o resto do mundo, contra quem é que se estão a defender?

Na cimeira, os países da NATO não lograram alcançar um consenso em relação a um vasto leque de outras matérias, nem relativamente à questão ucraniana. No entanto, a NATO não tenciona deixar de apoiar o regime de Kiev. Foi anunciado que, este ano, os países da Aliança prometeram disponibilizar mais de 35 mil milhões de euros para apoiar o regime de Kiev. Continuarão a fazê-lo, porque é importante para o Ocidente coletivo que o conflito que este provocou nesta região continue. Dizem abertamente que o seu objetivo é "manter a Ucrânia em combate hoje" para, supostamente, garantir uma paz duradoura amanhã.

Se a palavra "paz" é interpretada por eles como "silêncio sepulcral" na Ucrânia, podemos concordar com esta interpretação, mas, neste caso, deveriam utilizar esta designação. As ações empreendidas pelos países da NATO têm consequências devastadoras para a Ucrânia.

Relativamente a outras promessas feitas à Ucrânia, o Secretário-Geral da Aliança assegurou que a omissão de uma menção à futura adesão do regime de Kiev à NATO na declaração final da cimeira "não significa nada". Segundo o mesmo o “caminho da Ucrânia para a Aliança continua a ser irreversível". Fantástico!

De um modo geral, a Cimeira de Haia representou o regresso da Aliança do Atlântico Norte aos seus “primórdios”, ao sentido original da sua existência. Tal como no período da Guerra Fria, o nosso país é, novamente, alvo de oposição. A declaração sublinha que é necessário proteger "mil milhões dos nossos cidadãos" da Rússia, ou seja, os "mil milhões dourados", cuja superioridade o Ocidente coletivo procura zelosamente "preservar".

 

Sobre a Semana de Ciência Aberta do BRICS+

 

A Semana de Ciência Aberta do BRICS+ ocorrerá no Rio de Janeiro, de 30 de junho a 7 de julho. O projeto em questão constitui uma das principais iniciativas da Década da Ciência e Tecnologia anunciada pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, no nosso país. Este evento é implementado no âmbito do projeto federal "Divulgação da Ciência e da Tecnologia" do Programa Estatal da Federação da Rússia "Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Federação da Rússia". O projeto foi concebido com o intuito de suscitar interesse junto do público mais vasto possível, de forma a facilitar o acesso ao fascinante mundo da ciência e a fomentar a criação de uma comunidade de divulgadores da ciência.

A Semana da Ciência Aberta do BRICS+ no Rio de Janeiro incluirá o Fórum de Divulgadores da Ciência, o Festival Internacional NAUKA 0+, o Dia da Inovação, a exposição "Ciência em Rostos", a ação "Cientistas para as Escolas" e muitos outros eventos interativos de divulgação científica, nomeadamente masterclasses, passeios com cientistas de renome, exibições de filmes, concursos intelectuais e espetáculos científicos.

A organização do evento está a cargo do Ministério da Educação e Ciência da Rússia e da Universidade Estatal de Moscovo Lomonosov, contando com o apoio da Academia das Ciências da Rússia. Do lado brasileiro, as entidades responsáveis pela organização do evento são o governo do estado do Rio de Janeiro, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e a universidade local.

A Semana de Ciência Aberta do BRICS+ contará com a participação dos principais centros científicos e educacionais da Rússia e do Brasil, bem como das principais empresas de tecnologia dos dois países. Do lado russo participarão mais de 50 cientistas, académicos e membros correspondentes da Academia das Ciências da Rússia.

Os principais eventos terão lugar em universidades, no planetário e na prefeitura do Rio de Janeiro.

Os temas predominantes do evento coincidem com as áreas prioritárias do BRICS, nomeadamente: segurança alimentar e agricultura, segurança e soberania energética, saúde, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial e exploração espacial.

Gostaria de convidar os profissionais de comunicação social a cobrirem a Semana de Ciência Aberta do BRICS+. Vai ser uma experiência interessante!