Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, durante a mesa redonda do Fórum “Leituras Primakov” no âmbito da Conferência de Segurança de Munique, Munique, 15 de Fevereiro de 2020
Estimados amigos, colegas,
Agradeço o convite. É realmente muito importante guardar a tradição das “Leituras Primakov”.
Evgueny Primakov foi um grande homem, pensador e prático. Esse facto assume importância especial hoje em dia. Pouco posso acrescentar à análise da situação mundial, apresentada pelo Presidente do Instituto de Política Mundial e Relações Internacionais da Academia das Ciências da Rússia, Alexander Dynkin. A multipolaridade predita outrora por Primakov continua a formar-se, adquirindo contornos reais, seja onde for: nas áreas de economia, finanças e no campo de tecnologia. Claro que, aliada a isso, está ainda a influência política: acontece que, ao alcançarem determinados êxitos nesses domínios, os Estados querem vir a ser mais influentes no palco internacional. Todavia, temos observado tentativas de parar ou impedir o processo de formação da multipolaridade, mas tais passos vão-nos afastando da meta final e de boas “negóciatas” (se usarmos essa palavra nos assuntos internacionais) cujos resultados estão à vista. De acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional, o PIB conjunto do BRICS já supera o do Grupo dos Sete. E esta tendência deve manter-se.
Deste modo, podemos usar discussões no âmbito das “Leituras Primakov”, da Conferência de Munique, das sessões do Instituto Real de Relações Internacionais, de outras plataformas de ciência política, para avaliar a situação atual. Há ainda outra opção – e aqui vale a pena evocar novamente o nome de Evgueny Primakov que era um homem prático – o quê fazemos com isso tudo? Se vocês estão a acompanhar as discussões nesta Conferência, podem fazer certas conclusões. Segundo assinalou Alexander Dynkin, o Secretário da Defesa dos EUA, Mark Esper, declarou uma nova “guerra fria” contra a China. Há quem tenha dito que nessa Conferência seria vital elaborar planos para conter a China, para lidar com os desafios que estão a ser lançados pela Rússia e pela China, e, por conseguinte, contê-las em separado ou as duas ao mesmo tempo.
A pauta dessa discussão e o relatório da Conferência já divulgado aparentam a falta de desejo de reunir as pessoas sábias e experientes para prepararem recomendações a respeito de “coisas de primeira importância”. Uma das desvantagens desta Conferência é que os enfoques, delineados e anunciados aqui, se destinam, sobremaneira, para eventuais títulos da comunicação social, sem poderem mudar algo nas relações reais entre os Estados.
Tal bipolaridade policêntrica, como Alexander Dynkin a descreveu, pode estar a surgir, e nós ficamos perante duas opções: podemos simplesmente observar este processo ou devemos fazê-lo mais construtivo.
Não tenho na mente qualquer iniciativa concreta, mas gostaria de lembrar que há umas semanas, em Jerusalém, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs organizar uma cimeira dos países, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – não por esse órgão ser uma espécie de “clube fechado” de certos países, mas porque, conforme a Carta da ONU, que graças a Deus ainda está vigente, eles se responsabilizam pela segurança global e por tudo o que acontece no mundo. A proposta está em cima da mesa. Seria interessante saber a vossa opinião a este respeito.