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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 21 de junho de 2023

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Sobre a reunião do Conselho Empresarial junto do Ministro dos Negócios Estrangeiros

 

No âmbito da preparação da segunda cimeira Rússia-África, realiza-se, a 23 de junho, sob a presidência do Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, uma reunião do Conselho Empresarial dedicada ao desenvolvimento da cooperação comercial e económica com África. O evento contará com a presença de altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de ministérios interessados e de executivos de grandes empresas e associações empresariais russas.

 

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

A 14 de junho, a cidade de Sebastopol celebrou o seu 240º aniversário. Estamos orgulhosos desta cidade, que tem muitas páginas heróicas na sua história. Durante a Grande Guerra Patriótica, Sebastopol resistiu aos ataques nazis durante 250 dias e, durante a Guerra da Crimeia de 1853-1856, os nossos soldados haviam defendida a cidade e principal base naval da Frota do Mar Negro durante 349 dias. Em ambos os casos, os defensores da cidade enfrentaram forças inimigas superiores. Hoje, a cidade ostenta merecidamente o título de Cidade-Herói e, mais uma vez, enfrenta os ataques dos países da UE e da NATO que estão a lutar contra a Rússia e a utilizar para atingir os seus objetivos geopolíticos o regime neonazi de Kiev que foi criado nos moldes do passado. Lembramo-nos bem de como e com que dinheiro os nazis foram "levados" ao poder na Alemanha nos anos 1930. Mas por muito que os nossos inimigos tentem, as suas tentativas não darão em nada. Os habitantes de Sebastopol, que prezam a memória dos seus lendários antecessores, tudo farão para não desvalorizar a sua proeza militar nem as suas conquistas de trabalho.

A 14 de junho, foi inaugurada no Louvre uma exposição de ícones bizantinos antigos levados da Ucrânia. Afirma-se que os ícones teriam sido “retirados para serem resgatados”. No entanto, não se sabe exatamente o que ameaçava as obras-primas antigas. Não se conhece o número total de peças levadas para a França, apenas cinco ícones foram expostos ao público. Qual é, então, o número total? Tudo isto faz lembrar a maneira como os países europeus trataram o património histórico das suas antigas colónias africanas. Muitas peças foram levadas da África a pretexto de “resgate” e acabaram nos acervos de museus europeus e em coleções particulares. Os povos da África nunca mais as viram. Da mesma forma, os colonizadores lidaram não só com o continente africano, mas também com os seus vizinhos, com os países que eram colónias ou semicolónias na vizinhança imediata da Europa ou mesmo no seu território. Lembro-me de quantos pedidos foram feitos pelos museus do Egito e da Grécia àqueles que, em tempos, levaram obras de arte desses países por meios fraudulentos. Até agora esses países não receberam nada de volta.

Os ícones raros que se encontram atualmente em França têm uma longa história. Eles sobreviveram a muitas perturbações, entre as quais a queda do Império Bizantino, períodos de iconoclastia. Durante a Grande Guerra Patriótica, parte da coleção foi saqueada pelos nazis e perdeu-se sem deixar rasto. Atualmente, os ícones, cuidadosamente conservados pelos historiadores de arte soviéticos, estão em perigo. Resistiram a muitas provações, mas não sobreviveram ao regime de Vladimir Zelensky que, para a Ucrânia, se tornou pior do que uma invasão de gafanhotos que destrói tudo o que encontra no seu caminho. A pilhagem do país continua a um ritmo recorde. Tudo isto é legalizado por Vladimir Zelensky e legalizou eu gangue. Duvidamos que estas obras de arte alguma vez regressem a Kiev.

Os nazis na administração Zelenski continuam a vandalizar a memória dos nossos grandes antepassados como parte da campanha absurda desencadeada pelo Ministro da “Cultura” ucraniano, Aleksander Tkachenko, com vista a dar nomes ucranianos às instalações e espaços públicos que ostentam os nomes russos. Como resultado, três famosos pintores russos: Ilia Repin, Arkhip Kuindzhi e Ivan Aivazovski, foram declarados ucranianos. Compreendo que não faz sentido chamá-los à razão. O regime de Kiev está doente há muito tempo e a sua doença não tem cura. Esta doença é o neonazismo. Quando ele chega e "conquista" uma pessoa ou uma sociedade, a lógica, o bom senso, a moralidade, a ética acabam. Não estou a propor refletir sobre as ideias e os princípios que guiaram a decisão da administração Zelensky. Proponho dar a palavra aos próprios pintores. Talvez valha a pena ouvir o que eles disseram sobre si próprios. Arkhip Kuindzhi escreveu: "Sou russo, os meus antepassados são gregos que, sob a Imperatriz Catarina, se mudaram da costa sul da Crimeia e fundaram a cidade de Mariupol e 24 aldeias”. Numa carta ao pintor Vassili Polenov, Ilia Repin sublinhou: "Terás a oportunidade de ver como a nossa realidade russa irá brilhar perante ti ...". Ivan Aivazovski costumava dizer ser de origem arménia e russo de coração. Nenhuma das regiões do Império Russo, onde estes pintores viveram e trabalharam, fazia parte da Ucrânia, que não existia nos mapas geográficos da altura. Tanto mais que nenhum deles podia sequer pensar em dizer ser ucraniano. Não vou falar da sua cidadania. Subsistem os seus documentos de identificação pessoal. Sei o que são os documentos e o regime de Kiev. São dois pólos que nunca se juntarão. Mesmo assim, pode-se consultar os seus documentos de identificação pessoal para ver o que dizem.

Iniciativas não científicas e muito politizadas do gênero são típicas do regime de Kiev e dos seus patrões ocidentais. Museus famosos dos países da NATO estão a mudar as placas junto a obras de arte russas, a mudar o nome de quadros. Já vimos de tudo. A vanguarda russa, por exemplo, passou a ser chamada de ucraniana. Exortamos as organizações internacionais competentes a prestarem a maior atenção a este processo - as ambições geopolíticas dos "mil milhões dourados" e o seu desejo de causar o maior dano possível à Rússia e causam danos colossais à arte e à ciência mundiais e distorcem a história mundial. A partir daqui, as coisas irão de mal a pior, porque tudo estará sujeito a este processo. Como resultado, todos os editores, galeristas e conhecedores de arte vão dar a seu belo prazer nomes às obras de pintura, identificar a nacionalidade dos pintores, datar as obras de arte sem levar em conta os relatos de especialistas e fazer passar as obras contemporâneas por antigas. No passado, isso se chamava-se adulteração de obras de arte. Agora este processo está a ganhar força. Aqueles que agora apoiam energicamente a desrussificação global também serão atingidos.

Os monumentos continuam a incomodar Vladimir Zelensky e os seus capangas. Já viram exatamente a mesma coisa nos países da NATO, onde foram erguidos monumentos aos soldados do Exército Vermelho. O regime de Kiev trata esta questão com o estilo.  A 19 de junho, o busto do primeiro cosmonauta Yuri Gagarin foi desmantelado no pátio do Centro de Tecnologia e Orientação Profissional de Alunos Escolares, no distrito de Daritas, em Kiev. Estou curiosa para saber: do ponto de vista do regime de Kiev Yuri Gagarin não é o primeiro cosmonauta ou o primeiro não-cosmonauta, ou ele não é Yuri Gagarin? O que é que lhe aconteceu? O monumento estava no seu lugar e tudo estava bem. O absurdo é que também chamam ucranianos aos cientistas soviéticos que nasceram na atual Ucrânia (independentemente da forma como estes cientistas se identificaram de acordo com o seu código cultural). Que eu me lembre, noticiou-se (ninguém desmentiu esta notícia) que o projetista Serguei Korolev também se tornou ucraniano. Então tenho uma pergunta: se Serguei Korolev é ucraniano, porque é que o regime de Kiev destrói as suas "realizações” (monumentos a Yuir Gagarin)? Isto é absurdo. O regime de Kiev não tem nenhuma lógica. Quando uma pessoa ou uma sociedade é afetada pelo neonazismo, falta tudo, desde as leis da física à lógica.

A moral e os bons costumes são os primeiros a ser erradicados. O mesmo destino teve, a 17 de junho, o busto do professor e escritor soviético Anton Macareno erguido na cidade de Vinagrado, na Ruténia dos Cárpatos. As autoridades locais não deram nenhuma atenção ao facto de este homem ter tido o apelido ucraniano. Não têm nenhuma lógica. Esta é a manifestação terminal da doença chamada "neonazismo".

O regime de Vladimir Zelensky destruiu quase todos os monumentos do país dedicados à Grande Guerra Patriótica e a figuras proeminentes da cultura e da história russas. Não houve ucranianos entre os que combateram durante a Grande Guerra Patriótica? E se olharmos para os apelidos? Muitos foram registados como ucranianos. Destacados comandantes militares do Exército Vermelho? Não foram ucranianos? Só há uma resposta a esta pergunta: é uma doença, o neonazismo e o fascismo com todas as manifestações de discriminação racial, racismo e xenofobia. Esta doença não tem cura. Parece que o regime de Kiev já destruiu tudo. Aparentemente, o hábito de destruir continua a existir.

A 15 de junho, a base de Ramstein, na Alemanha, acolheu mais uma reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia. Os participantes declararam que o apoio à Ucrânia iria continuar. Tendo reconhecido que a contraofensiva das forças armadas ucranianas (preparada com a ajuda de todas as forças da NATO) falhou, eles persistem em empurrar o regime de Kiev para uma ação militar suicida, prometendo fornecer à Ucrânia “tantas armas quantas forem necessárias”. Só nos resta conjeturar quantas pessoas terão de morrer até que a Ucrânia pare, ganhe juízo e se pergunte: talvez os ucranianos estejam a ser usadas ou exterminados (não por aqueles que foram declarados inimigos, mas por aqueles que lhes estão a dar armas)? Este é um jogo cínico e terrível do Ocidente com as pessoas que acreditaram e confiaram neles. Além disso, cada reunião na base de Ramstein significa o aumento do encargo fiscal para os contribuintes norte-americanos e europeus. Mas quem se importa com eles? É também uma "carta" que só se tira do baralho para ganhar uma eleição. Avultados fundos estão a ser lançados ao turbilhão sangrento do regime de Kiev em vez de ser investidos nas necessidades sociais da população da UE e dos EUA, na melhoria dos cuidados de saúde, da educação ou do desenvolvimento económico. Como é sabido, a parte leonina da ajuda humanitária europeia e norte-americana à população ucraniana acaba nas mãos dos funcionários do regime de Kiev atolados em corrupção. Tornam-se públicos novos e novos factos de organização de esquemas "cinzentos" de "desvio” de bens vindos a título de ajuda humanitária e a sua venda em pontos de comércio em todo o país. Cerca de um terço destas remessas perde-se no caminho para os seus destinatários. Esta informação está em plena sintonia com a imagem corrente das atuais autoridades da Ucrânia, que há muito se esqueceram das necessidades da sua população e só pensam no enriquecimento pessoal. Quando se trata da possibilidade de a Ucrânia aderir à UE ou, pelo menos, se aproximar deste seu sonho mais querido), os cientistas políticos, os peritos e os funcionários de Bruxelas continuam a dizer que, com o nível de corrupção na Ucrânia, os ucranianos não pode sequer sonhar com a adesão à UE. A questão é diferente. Não importa se é possível ou impossível sonhar. Afinal de contas, a corrupção na Ucrânia ultrapassou todos os indicadores anteriores exatamente quando a UE, Washington e Londres começaram a praticar o protetorado pré-colonial no território da Ucrânia, quando ministros e conselheiros norte-americanos chegaram ao país, quando as reuniões do governo ucraniano foram presididas não pelo primeiro-ministro ucraniano nem pelo Presidente do país, mas pelo Vice-Presidente dos EUA (na altura, Joe Biden), quando até o Presidente em exercício Petro Poroshenko estava sentado entre os seus ministros a ouvir a "lição" norte-americana como simples aluno escolar. vemos o que está a acontecer à família de Joe Biden. Aparentemente, extrapolou a sua experiência pessoal para toda a Ucrânia. Deixaram e cimentaram o seu legado na Ucrânia. Não passa uma semana sem que um neonazi ucraniano faça uma declaração de estilo Goebbels sobre os seus planos de matar os russos. O conselheiro do chefe de gabinete de Vladimir Zelensky, Mikhail Podoliak, continua a emitir declarações extravagantes. Desta vez, falando da tão longamente almejada contraofensiva ucraniana, disse o seguinte: “Há um plano: avançar o mais possível com o maior número de mortes de russos nesta rota”. Podia não ter tentado tanto. Lembramo-nos bem dos recentes conselhos do senador Lindsey  Graham e de George W. Bush sobre o que esperam da Ucrânia, qual é a sua missão, por que razão estão a investir no regime de Kiev:  "matar o maior número possível de russos". Um raciocínio vão. A Rússia não deixará tais planos e apelos impunes (como foi repetidamente afirmado, incluindo no Fórum Económico de São Petersburgo pelo Presidente russo, Vladimir Putin). Todos os criminosos nazis terão um castigo que merecem e responderão pelos seus crimes. Os objetivos de desnazificação e desmilitarização da Ucrânia serão certamente atingidos.

A 19 de junho, realizou-se em Donetsk uma conferência sobre os crimes cometidos pelas forças armadas ucranianas em Artemovsk. Entre as abundantes provas das suas atrocidades estavam os depoimentos de habitantes locais. Os militares ucranianos massacraram os soldados russos feridos feitos prisioneiros, mataram cidadãos comuns e, ao retirarem-se, fizeram explodir casas onde se encontravam civis.

As provas dos crimes cometidos pelos militares ucranianos em Artemovsk serão entregues à ONU e a outras organizações internacionais. Os depoimentos dos seus habitantes constituirão a base de uma série de processos penais. Como confirmou Daria Morozova, Provedora de Justiça da República Popular de Donetsk, as ações criminosas dos combatentes ucranianos devem ser qualificadas não só pela legislação nacional russa. O regime ucraniano está a violar de forma flagrante o direito humanitário internacional.

Os crimes de guerra não têm prazo de prescrição. Mais cedo ou mais tarde, será criado um tribunal para a Ucrânia e os combatentes do regime de Kiev e todas os seus funcionários serão levados à justiça.

Amanhã, 22 de junho, o nosso país assinalará o Dia da Memória e da Tristeza. Há 82 anos, teve início a Grande Guerra Patriótica, na qual os nossos antepassados derrotaram o nazifascismo, livrando a Europa da "peste castanha". Hoje, a Rússia enfrenta mais uma vez uma tarefa semelhante - erradicar o nazismo que está a revigorar-se. Não temos outra opção senão cumprir honrosamente esta missão até ao fim vitorioso.

 

Sobre o apoio a projetos em África através do Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação da UNESCO

 

Terminou, na semana passada, em Paris, a reunião ordinária do Escritório do Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação da UNESCO, o único fórum intergovernamental do sistema das Nações Unidas dedicado à defesa da liberdade de expressão e ao apoio aos meios de comunicação social nos países em desenvolvimento.

Na reunião, a Federação da Rússia anunciou a sua intenção de efetuar, este ano, uma contribuição voluntária de até 250.000 dólares para a execução de projetos humanitários nos países africanos. É importante salientar que as iniciativas aprovadas foram avançadas pelos países africanos, pelo que refletiam as suas necessidades reais, e não as impostas externamente, no domínio das comunicações de massas e do jornalismo em África. A Federação da Rússia é fiel à prioridade global da UNESCO “África” e faz parte do "Grupo de Amigos" informal constituído em novembro de 2022 pelos países que defendem um maior peso africano nas atividades da Organização. O nosso apoio aos nossos parceiros continuará noutras áreas de competência da UNESCO.

 

Sobre o 82.º aniversário do início da Grande Guerra Patriótica

 

O dia 22 de junho marca o 82º aniversário do início da Grande Guerra Patriótica. Esta é uma página especial na história da Rússia. Na lista oficial de datas comemorativas, este dia é designado como Dia da Memória e da Tristeza. O ataque traiçoeiro da Alemanha nazi e dos seus satélites contra a União Soviética ainda hoje causa tristeza, dor e indignação com o facto de milhões de vidas terem sido mutiladas e de a memória das vítimas dever, na opinião de alguns políticos no Ocidente, ser remetida ao esquecimento. Mas nós não o permitiremos. As provações sofridas naquela época terrível pela URSS estão gravadas na memória histórica do nosso povo. Não há uma única família que não tenha sido afetada por essa terrível guerra, de uma forma ou de outra.

A União Soviética envidou esforços colossais para vencer a Grande Guerra Patriótica e derrotar a ideologia misantrópica do nazismo, ideologia essa  que foi condenada pela comunidade internacional durante os Julgamentos de Nuremberga. No entanto, essa ideologia não foi erradicada completamente na Europa Ocidental porque muitos dos colaboradores nazis escaparam ao justo castigo. Os invasores destruíram total ou parcialmente mais de 1,7 mil cidades e povoações, mais de 70 mil aldeias e vilas do nosso país. A União Soviética carregou sobre os seus ombros o principal fardo da Segunda Guerra Mundial - as perdas humanas da URSS representaram 40% do total das perdas humanas dos países envolvidos neste conflito global: quase 27 milhões de pessoas.

Infelizmente, o tempo mostrou que a ideologia nazi é vivaz. O nazismo foi feito ressurgir na Ucrânia nos moldes do passado no âmbito das monstruosas experiências geopolíticas destinadas a conter a Rússia. Teve como base colaboradores e criminosos nazis que se tinham refugiado no Ocidente depois da guerra, foram perdoados pelas elites políticas ocidentais empenhadas em promover os seus interesses e deixados na reserva para um “futuro lavado de pecados passados”, embora estes pecados não possam ser lavados. Temos de ser francos: ainda não há 80 anos que os anglo-saxónicos tentaram usar o nazismo como aríete para derrotar a Rússia, reservando, desta feita, à Ucrânia (ao regime de Kiev) o papel desempenhado pela Alemanha nazi nos anos 30. Isto está para além do bem e do mal, uma vez que este país viveu todas as atrocidades da ocupação nazi durante a guerra. Se lerem os documentos ou virem os filmes sobre a conspiração de Munique, compreenderão como o Ocidente é capaz de realizar negócios escuros. Agora compreendemos que todos esses cenários, planos e esquemas nunca foram rejeitados pelos ocidentais, mesmo apesar da condenação universal do que então criaram na Alemanha, cultivando o nazismo e apoiando o fascismo com o dinheiro dos seus contribuintes. O Ocidente tem vindo a cultivar sistematicamente  pessoas associadas ao nazismo e ao fascismo do século XX e orientadas contra a Rússia nas últimas décadas. Recorde-se: a 20ª Cimeira da NATO de Bucareste de 2008 aliciou a Ucrânia, prometendo-lhe admiti-la na Aliança. Apercebendo-se de estarem sob o patrocínio geopolítico, os neonazis ucranianos, com a aprovação tácita dos Estados Unidos e dos seus aliados, começaram a reforçar as suas posições, incluindo nos órgãos do poder do país. Os resultados da votação da resolução russa sobre o combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e das práticas conexas (o nosso projeto de resolução contou sempre com o voto contra dos EUA e da  Ucrânia até 2022, e agora conta com o voto contra de todos os países ocidentais, entre os quais os do "Eixo": Alemanha, Itália e Japão) mostram claramente que os anglo-saxões estão envolvidos na formação da ideologia nazi do atual regime de Kiev.

Washington e os seus aliados fecharam os olhos a todas as atrocidades e ilegalidades que estavam a ocorrer na Ucrânia. Primeiro, as "reformas" legislativas sob a bandeira da "descomunização". Não se tratou da "descomunização", se o quisessem fazer, teriam prestado atenção a outra coisa. Tudo o que foi feito sob a bandeira da "descomunização" foi, de facto, dirigido contra a Rússia. Ao mesmo tempo, dedicaram-se a glorificar os colaboradores ucranianos dos nazis alemães da OUN-UPA (Organização dos Nacionalistas Ucranianos e Exército Insurgente Ucraniano) e a perseguir os veteranos da Grande Guerra Patriótica. Depois, começaram a implantar as práticas terríveis da Alemanha nazi dos anos 1930. A população russófona do país foi hostilizada e submetida a perseguições e atrocidades medievais (recorde-se o massacre da Casa dos Sindicatos de Odessa, em maio de 2014), dissidentes e opositores políticos passaram a ser sumariamente executados e a Igreja Ortodoxa Ucraniana canónica passou a ser perseguida. Os seguidores ideológicos de Stepan Bandera começaram a bombardear os habitantes do Donbass. Atualmente, faltam apenas algumas formalidades para a canonização de Stepan Bandera e Romanb Shukhevich no território controlado pelo regime de Kiev. Os ícones com as suas imagens já foram benzidos pelo "metropolita" da chamada Igreja Ortodoxa da Ucrânia, líder dos cismáticos, ou melhor, daqueles que romperam com a Igreja Ortodoxa Ucraniana. Como os ícones com as suas imagens já estão a ser benzidos, não é de excluir que, em breve, os seus rostos comecem a ser pintados de acordo coma técnica utilizada na pintura dos santos.

O neonazismo ucraniano foi cultivado durante anos no estrangeiro e implantado passo a passo no solo ucraniano e armado pelo Ocidente coletivo que se tornou, de facto, uma parte no conflito na Ucrânia. No entanto, os descendentes daqueles que conquistaram a Grande Vitória não têm o direito moral de permitir que a ideologia nazi tire a desforra. Lembramo-nos muito bem dos horrores trazidos pelo nazismo e dos grandes esforços envidados pelo mundo inteiro para o derrotar. Vemos que o trabalho de erradicação do nazismo que não foi concluído naquela altura  está hoje a dar os seus terríveis frutos. Curvamo-nos perante a memória dos nossos pais, avós e bisavós tombados na Grande Guerra Patriótica. Os nossos militares continuam hoje a sua causa justa, combatendo uma vez mais a hidra nazi no âmbito da operação militar especial.

No dia 22 de junho, dia da memória das vítimas da Grande Guerra Patriótica, as bandeiras nacionais em todo o país serão postas a meio pau e será observado um minuto de silêncio às 12h15.

Lembramo-nos! Não traiamos e tudo faremos para que haja justiça, porque por detrás disto está a história dos povos que não só foram vítimas, mas que encontraram a força para sacrificar voluntariamente as suas vidas em prol da vida dos seus entes queridos, dos estranhos e das gerações futuras.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: A UE está a elaborar um pacote de ajuda de 50 mil milhões de euros para a Ucrânia em preparação à "cimeira de doadores". Pretendem obter dinheiro de três fontes: sob a forma de "contribuições voluntárias" dos países europeus, "fundos emprestados" e ativos russos congelados. O que pensa de mais uma tentativa de utilizar dinheiro russo efetivamente roubado para financiar o regime ucraniano?

Maria Zakharova: O Ocidente, liderado por Washington tem um único desejo - prolongar o conflito na Ucrânia o mais possível e causar mais vítimas. Inculcam ideias nazis que recebem depois uma “moldura” em imagens "artísticas": já chegaram ao ponto de "representar” Roman Shukhevich e Stepan Bandera em ícones "ortodoxos" e submete-los á bênção pelos religiosos declarados e reconhecidos ali como líderes de uma nova corrente "religiosa" (na verdade, sectária).

O Ocidente promete à Ucrânia, bem como a muitos outros dos seus pupilos, um boom de investimentos (ainda não há nenhum, mas há um boom), de um progresso tecnológico (destruindo tudo na Ucrânia, fornecendo armas e equipamento militar, contribuindo assim para o prolongamento do conflito), de um crescimento industrial. Muitos países já tiveram esta experiência, tiveram acordos firmados com o Ocidente. Mas quantas vezes o Ocidente os enganou? O único objetivo é que o país continue o seu caminho de russofobia e de confronto com a Rússia.

É precisamente por isso que a UE e a NATO, para além de prolongar o conflito, fornecendo armas à Ucrânia, estão a "alimentar" a Ucrânia com promessas intermináveis de apoio e esmolas momentâneas. Só para manter o fogo da guerra aceso. O objetivo é "atiçá-lo". Bruxelas tenta não acentuar o facto de que, na realidade, se trata de conseguir a escravização da Ucrânia por dívida por décadas com a ajuda do regime de Kiev. Todos se lembram de como o Ocidente, sendo aliado na luta contra um mal comum (a Alemanha nazi), recebeu tudo "até ao último cêntimo" como compensação pelo envio de equipamento à União Soviética. Lutámos contra um mal comum, um fenómeno gerado pelo Ocidente que destruía todos os seres vivos. Apesar disso, pagámos tudo aos nossos Aliados. O que é que vai acontecer no caso da Ucrânia? Que fardo recairá sobre a população ucraniana?

Ao mesmo tempo, a UE não está disposta a continuar a sustentar a Ucrânia com os seus meios e às suas custas. Afinal, os eleitores irão, mais cedo ou mais tarde, perguntar (e já estão a começar a perguntar) para que serviram os impostos pagos por eles quando virem criminosos a matar os seus concidadãos com armas que entraram nos seus países vindas da Ucrânia através do mercado negro, porque as armas destinadas à Ucrânia não chegaram aos seus destinatários (e aquelas que chegaram foram imediatamente revendidos). O esquema em que o regime de Kiev está envolvido não implica que essas armas estejam registadas. Então as populações dos países da UE irão fazer estas perguntas, depende delas quando começarem a fazê-las. Para onde foi o seu dinheiro? Onde está o retorno das anteriores injeções financeiras no regime de Kiev? Onde está a guerra relâmpago prometida pelo Ocidente? Todas as perguntas terão de ser respondidas e as respostas serão negativas ou simplesmente silenciosas. O Ocidente, que afirma ser uma sociedade aberta, aprendeu a manter silêncio “com estilo”.

Neste contexto, a UE está a tentar implantar abordagens "inovadoras" no intuito de se apoderar dos fundos e bens "congelados" dos russos para os transferir para o regime de Kiev e conferir um aspecto de legalidade às suas ações. É óbvio para todos que se trata de um flagrante "banditismo económico" por parte da União Europeia, supostamente um bastião do primado da lei e da santidade dos direitos de propriedade. Agora estamos a ver onde estão todos estes direitos. Desapareceram. Foram postos de lado como uma coisa desnecessária. Também nunca se ouviu falar de direitos humanos por parte do Ocidente no contexto da situação na Ucrânia. O mais importante é fornecer armas, os direitos humanos serão lembrados um pouco mais tarde. Algumas instituições europeias já estão a dar o alarme, afirmando publicamente que o roubo de bens russos causará danos ainda maiores à economia da UE e à zona euro. Acabará por pôr fim à reputação da UE como  jurisdição outrora atrativa para fazer negócios e investimentos.

A posição da Rússia sobre esta questão é simples e clara: a UE deve, incondicional e imediatamente, devolver os ativos roubados aos seus legítimos proprietários: pessoas singulares, coletivas e o povo do nosso país.

Pergunta: Os últimos números do Departamento do Tesouro dos EUA mostram que a dívida nacional do país ultrapassou os 32 biliões de dólares pela primeira vez na história, nove anos antes da previsão anterior. A 2 de outubro do ano passado, a dívida nacional dos EUA ultrapassou os 31 biliões de dólares, tendo aumentado em mais de um bilião de dólares em apenas oito meses. A 3 de junho, Joe Biden promulgou uma lei que autoriza o aumento do teto da dívida a partir de 2 de janeiro de 2025. O que pensa da crise da dívida nos EUA e das ações do governo norte-americano? Como irá afetar a economia mundial? Irá acelerar o declínio da "hegemonia do dólar"?

Maria Zakharova: É aquilo a que os media chamaram o "circo político da dívida" do Congresso dos EUA. Não só deu luz verde à Administração Biden para continuar a aumentar a astronómica dívida nacional, que ultrapassou os 32 biliões de dólares, ou seja, 1,5 vezes o PIB dos Estados Unidos, como nem sequer estabeleceu um limite para os empréstimos. Acontece que Washington está a gastar o dobro do que pode ganhar.

Na vida "quotidiana", as pessoas, as empresas e as organizações que se comportam desta forma recebem nomes diferentes, mas o resultado final é o mesmo: quem ganha metade do que gasta e não consegue pagar as suas dívidas, fica falido. Não estou a perceber a razão por que tudo isto seja acompanhado de discursos políticos e económicos sobre recessões, reduções e crise e não se diz nada sobre o óbvio. Parece um esquema clássico de pirâmide, que é ilegal, em primeiro lugar, do ponto de vista dos países ocidentais. Como é que podemos encarar isto de outra forma? Uma economia é incapaz de existir sem uma injeção regular de novas "doses". Mas não há nada por detrás delas que garanta a "saúde" da economia. Trata-se de uma enorme bolha. Já houve muitas nos Estados Unidos. Um dos exemplos mais brilhantes é a crise imobiliária de 2008. Mal garantida e construída com base em especulações, a bolha rebentou, apesar de grandes injeções financeiras, provocando colapso no sector bancário, bolsas de valores, não só nos EUA mas também noutros países. Um grande número de pessoas perdeu tudo, empresas foram arruinadas. O mundo entrou numa fase de crise generalizada. Washington não pediu desculpas, nem reconheceu o fracasso do seu modelo económico. Em vez disso, foi criado o G20. Mais uma vez, a comunidade mundial teve de pagar as "experiências" dos Estados Unidos. É difícil dizer quanto tempo mais isto vai durar. De acordo com as leis da economia política clássica, o colapso económico já deveria ter ocorrido há muito tempo, se os EUA não estivessem a imprimir quantias de dólares sem precedentes. Por enquanto, as autoridades norte-americanas têm conseguido desviar a ameaça de incumprimento com constantes injeções de dinheiro e ações agressivas no estrangeiro. No entanto, esta é uma solução temporária, que contribui para uma maior desestabilização do comércio e das finanças mundiais e impede as empresas de elaborarem estratégias de desenvolvimento a longo prazo.

De facto, a Administração e o Congresso dos EUA adiaram solidariamente a resolução do problema fundamental do desequilíbrio do sistema financeiro dos EUA para depois das eleições presidenciais de 2024,  apesar das disputas interpartidárias. O regime globalista liberal no poder está a apostar em ganhar tempo e, independentemente de quem seja eleito Presidente, em transferir o fardo da manutenção da hegemonia global do dólar para o resto do mundo, principalmente (como antes) para os países em desenvolvimento. Por outras palavras, está a tentar impor uma nova ordem neocolonial baseada nas "regras" norte-americanas que implica a preservação do modelo "Norte rico - Sul atrasado", ou "mil milhões dourados" e o "resto do mundo”, conceitos a que Josep Borrell deus os nomes de "belo jardim" e "selva". O apego desenfreado dos EUA à política de sanções e ao uso do dólar como arma está a minar a confiança na moeda norte-americana, levando os Estados da Maioria Mundial a procurar instrumentos alternativos, incluindo moedas nacionais, para os desembolsos recíprocos e acumulação de reservas. Este processo, no qual estão envolvidos a Rússia, a China e outros países que não aceitam o diktat e o modelo especulativo global de Washington, com um enorme potencial de crescimento e desenvolvimento (por detrás do qual está a economia real e não "bolhas" financeiras), está a ganhar força, criando condições para a adoção de uma ordem mundial multipolar mais justa, baseada no respeito mútuo e na igualdade soberana, ou seja, nos princípios fundamentais do direito internacional.

Pergunta: Numa entrevista à Reuters, um representante do Ministério da Integração Europeia da Ucrânia afirmou que Kiev estava em conversações com fabricantes de armas ocidentais para estabelecer a produção de armas ocidentais em território ucraniano. Esta iniciativa exige uma reação adicional de Moscovo?

Maria Zakharova: Um grande pedido. Da próxima vez que for entrevistar um representante do regime de Kiev que vá dizer que os países ocidentais vão construir fábricas de armas no território da Ucrânia, por favor peça para especificar as coordenadas. Precisamos muito delas.

Pergunta: Por que razão a Rússia não permitiu que os representantes da ONU se deslocasse à margem esquerda do rio Dniepre, à zona do acidente da Central Hidroelétrica de Kakhovka?

Maria Zakharova: Foi publicado um comentário pormenorizado no sítio web do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Este comentário contém todas as respostas a todas as perguntas.

O princípio fundamental é o seguinte. Se se trata de uma norma única, o Secretariado das Nações Unidas deveria ter-se interessado pela situação nos gasodutos Nord Stream,  ter verificado de que lado é bombardeada a Central Nuclear de Zaporojie, ter falado da sua atenção para com este grave problema, dada a paixão maníaca do regime de Kiev por destruir tudo e danificar a população civil e o ambiente (a Central Nuclear de Zaporojie é um alvo cobiçado por ele). O Secretariado da ONU não deve fugir às perguntas e dizer que não está a par do assunto, mas tratar seriamente estes casos sem tentar ser seletivo em relação aos temas em questão para ver de que lado a "bola está". Se a ONU é uma organização mundial, deve ser um “árbitro” e não um "honest broker" (afinal, não estamos num mercado). Este é o princípio básico, ou seja, uma norma única para todos. Caso contrário, é, para nós, uma manobra a favor de determinadas forças e lados.

Pergunta: Após o ataque terrorista à barragem de Kakhovka, os funcionários da ONU começaram a insistir no acesso urgente às zonas de catástrofe de origem tecnológica sob o controlo da Federação da Rússia. Toda a gente se lembra de quanto tempo Rafael Grossi levou para obter um mandato para uma visita da missão da AIEA a outra zona de potencial desastre nuclear: a Central Nuclear de Zaporojie. O que é que acha que está a acontecer? O Secretariado da ONU começou a reagir mais rápido a situações de emergência?

Maria Zakharova: Não. Estamos a assistir a uma duplicidade de critérios que encobrem não só uma incerteza, inércia ou falta de profissionalismo, como também as tentativas de fazer o jogo de um determinado grupo de países ou de promover os seus interesses. Para ser objetivos, há que respeitar uma lei importante e abster-se de políticas de padrão duplo. Se houver um único padrão, então a objetividade pode ser assegurada. Foi isso que exortámos sempre o Secretariado da ONU a fazer. Por exemplo, o Secretariado conseguiu deixar passar despercebidas as explosões nos gasodutos Nord Streams (neste caso, os países ocidentais também deram a sua contribuição, impedindo a aprovação da nossa resolução que propunha uma investigação sob os auspícios do Secretário-Geral da ONU). Houve explosão no duto de amônia. Esta é uma área de responsabilidade do regime de Kiev. Ouviram alguma condenação por parte do Secretariado da ONU? Nenhuma. Gostaria de chamar a sua atenção para o facto de que o duto de amônia é um mecanismo, uma  infraestrutura, uma instalação civil que transporta fertilizante necessário a 45 milhões de pessoas. É uma questão da segurança alimentar de que tanto ouvimos falar. Como a explosão ocorreu na área de responsabilidade do regime de Kiev, o Secretariado da ONU e as suas instituições especializadas poderiam, pelo menos, ter manifestado uma preocupação, ter dito que este foi um ato mau. Mas os seus representantes fingem não estar a par do assunto, a não ter dados. Quando solicitados a esclarecer, somem-se e não se apressam a dar respostas.

Temos todas as razões para duvidar da imparcialidade dos funcionários internacionais, especialmente após as afirmações do Secretário-Geral da ONU de que, independentemente de quem é responsável pelo incidente na Central Nuclear de Kakhovka, este não teria acontecido se não tivessem sido as ações da Rússia. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, respondeu, dizendo que a situação deveria ser vista de forma mais ampla: se não tivesse sido o golpe de Estado na Ucrânia deflagrado com a ajuda do Ocidente (que  ("injetou" dinheiro e interferiu nos assuntos internos da Ucrânia, colocando pessoas de nacionalidade ocidental em altos cardos), tudo isso, incluindo o bombardeamento e a destruição da barragem da Central de Kakhovka, não teria acontecido. A que ponto os funcionários internacionais podem chegar? Têm de ser objetivos e agir com base nessas construções políticas e com referência à história. Mas eles também não querem olhar para aí. Quando eles são solicitados a qualificar, pelo menos, a situação do ponto de vista do momento atual, dizem que "não estão a par do assunto” e que precisam de mais tempo. Depois, somem-se e não dão nenhuma resposta.

Para nós, os autores e as circunstâncias da tragédia são muito claros. Já a 21 de outubro de 2022, informámos o Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre os planos do regime de Kiev de destruir a barragem na Região de Kherson. As teses russas foram reforçadas por informações sobre ataques aéreos ucranianos registados contra as comportas da barragem hidroelétrica, que tinham como objetivo provocar um aumento do nível da água no rio Dniepre. Já depois da destruição da barragem, distribuímos aos membros do Conselho de Segurança um resumo cronológico exaustivo de tudo o que se tinha passado durante esses meses. Estes são os factos. Eles falam por si.

Pergunta: Quando é que a Rússia iniciará o procedimento legal para denunciar o tratado bilateral com a Ucrânia sobre a sua soberania?

Maria Zakharova: O lançamento do processo de denúncia do tratado bilateral com a Ucrânia sobre a sua soberania é dificultado pela ausência de tal tratado. No Artigo 1.º do Tratado sobre os Fundamentos das Relações entre a República Federativa Socialista Soviética da Rússia e a República Socialista Soviética da Ucrânia, assinado em 19 de novembro de 1990, as duas repúblicas reconheceram-se mutuamente como "Estados soberanos". O Tratado de 1990 foi substituído pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria entre a Federação da Rússia e a Ucrânia, de 31 de maio de 1997 (Artigo 39.º), que foi denunciado pela Ucrânia e deixou de vigorar no dia 1 de abril de 2019.

Pergunta: Houve notícias de que as delegações africanas, asiáticas e latino-americanas que participaram no Fórum Económico de São Petersburgo, na Rússia, receberam ameaças de sanções pessoais. Poderia comentar mais detalhadamente este assunto e este fenômeno da diplomacia ocidental? O que sabe o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo sobre o escândalo diplomático (ou incidente) que envolveu a delegação sul-africana no aeroporto de Varsóvia, onde os agentes da segurança pessoal do Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, e os jornalistas não foram autorizados a sair do avião durante 24 horas. Foi-lhes também negado "o acesso ao espaço aéreo húngaro". Como resultado,  não conseguiram chegar à Federação da Rússia numa missão de paz.

Maria Zakharova: Não é a primeira vez que enfrentamos esta atitude dos EUA e do "Ocidente coletivo". Citámos muitos exemplos de como eles chantagearam e intimidaram aqueles que votaram a favor das resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas (e não do Conselho de Segurança), que são de natureza recomendatória.

Nós apostámos sempre nos métodos políticos e diplomáticos, entre os quais a negociação, para resolver as diferenças e contradições existentes. Temos uma rica tradição diplomática, bem como a trágica experiência de travar guerras defensivas no nosso próprio território. O povo russo multinacional não procura o confronto. Mas, ao mesmo tempo, compreendemos que temos de manter a nossa segurança, tendo em conta a nossa experiência histórica. Temos vindo a honrar os nossos compromissos internacionais. É com base nesta lógica que procuramos construir as nossas relações com todos os nossos parceiros. É com base nos princípios da boa vizinhança e respeito mútuo (princípios básicos consagrados na Carta das Nações Unidas) que temos vindo a estabelecer contactos no âmbito da OTSC, da UEE, da CEI, dos BRICS, da OCX, com os nossos colegas da Eurásia, de África, do Médio Oriente e da América Latina.

Os diplomatas russos não utilizam chantagem nem outras formas de pressão política, económica ou psicológica para atingir os seus objetivos. Mesmo que o Ocidente obtenha resultados a curto prazo, em última análise, eles acabam por se virar contra ele. Mantemos um diálogo honesto e aberto com os nossos interlocutores, apresentamos-lhes os nossos argumentos baseados em factos e damos-lhes a oportunidade de elaborarem livremente a sua posição em relação a tudo o que está a acontecer. A palavra-chave aqui é "livremente".

Ouvimos tantos discursos do Ocidente sobre um princípio tão importante como a liberdade que, quando vemos o que fazem na prática, temos uma sensação de total incoerência entre as suas posições declaradas e o que aplicam na prática. Nós partimos do princípio da liberdade nas nossas relações com os nossos parceiros, com aqueles com quem mantemos relações de aliança ou de amizade, de boa vizinhança, ou simplesmente com aqueles com quem fazemos negócios. Esta posição é, na maioria dos casos, plenamente aceite pelos nossos parceiros. É, em muitos aspectos, um elemento essencial para encontrar um terreno comum quando a situação não é propícia a isso.

É frequente ouvirmos os interlocutores do Sul Global dizerem que os norte- americanos, pelo contrário, praticam aquilo a que chamam "diplomacia coerciva". Por outras palavras, usam ameaças de sanções e outras medidas "punitivas". E não só contra os próprios negociadores, mas também contra os seus familiares que têm imóveis, vivem ou estudam no Ocidente. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, falou várias vezes sobre isso. Os seus colegas e parceiros disseram-lhe, durante as negociações, que viam esta atitude do Ocidente para com eles. Muitas das votações dos últimos anos na Assembleia Geral da ONU basearam-se nesse princípio: a coação. Serguei Lavrov costuma recordar um caso muito revelador. Quando um colega seu de um país em desenvolvimento se queixou da pressão dos EUA sobre o seu governo para que deixasse de cooperar com Moscovo, Serguei Lavrov perguntou-lhe o que é que os norte-americanos ofereciam em troca. A resposta foi surpreendente: prometeram não impor sanções. Não dão uma espécie de bónus, mas prometem não piorar a situação. Esta é a resposta à questão de saber o que está por detrás dos pensamentos ou estratagemas que os movem.

Quem é que gosta disso? Ninguém. É que alguns podem resistir-lhe e, infelizmente, outros não. Que os ocidentais resolvem sozinhos os  problemas com as suas posições. Nós temos uma posição diferente. Estou certa de que, de uma forma ou de outra, como já aconteceu antes, eles tornar-se-ão vítimas das suas próprias políticas. Eles não têm mais diplomacia, não são capazes de travar um diálogo profissional. O problema deles está no seu sentimento doentio de excecionalismo, na sua arrogância exorbitante, no seu desejo de impor a todos, sem exceção, a sua visão distorcida do mundo, de utilizar métodos sujos de combate à Rússia, de financiar formas ilegítimas de "jogo internacional". Os países da NATO continuam a interferir nos assuntos internos de outros países. É uma situação dolorosa que prejudica todo o mundo.

Sabemos com certeza que os emissários dos EUA, do Reino Unido e da UE pressionaram os funcionários e representantes de empresas de outros países a recusarem-se a participar no Fórum Económico de São Petersburgo de 2023, enviando-lhes cartas, negociando com eles, chantageando-os e ameaçando-os, usando inclusive os métodos de influência manipuladora. Os emissários norte-americanos viajaram aos países com atitudes construtivos para com a Rússia para destruir os acordos alcançados com o nosso país. Diziam: "Sabemos que têm acordos fechados com a Rússia, agora têm de os denunciar. Em troca, diziam eles, não iriam tornar as coisas piores do que estavam naquele momento. É essa a lógica. Estes truques são bem conhecidos. As provas e os factos chegam e sobram. Gostaria de sublinhar que os ocidentais acabarão por ser vítimas da sua mentalidade, da sua posição, como já ocorreu muitas vezes. A nossa posição é completamente diferente.

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