17:13

Intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, durante a conferência de imprensa conjunta após a reunião com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino do Barém, Abdullatif bin Rashid Al Zayani, Manama, 31 de maio de 2022

1138-31-05-2022

Senhor Ministro, Caro Amigo,

Senhoras e Senhores.

Gostaria de agradecer sinceramente mais uma vez aos nossos amigos baremitas pelo caloroso acolhimento e excelente organização da estadia da nossa delegação. Gostaria de fazer uma menção especial ao nosso encontro com Sua Majestade o Rei do Barém, Hamad bin Isa Al Khalifa, que foi dedicado à análise estratégica das nossas relações no contexto dos contactos de Sua Majestade com o Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, durante os últimos anos e da sua conversa telefónica em março passado, durante a qual discutiram, em princípio, todo o conjunto de relações bilaterais e a situação internacional.

Tivemos uma reunião proveitosa com o Príncipe Herdeiro e Primeiro-Ministro do Reino do Barém, Salman bin Hamad Al Khalifa, e prosseguimos as nossas discussões com o meu colega e amigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Abdullatif bin Rashid Al Zayani.

No início de abril, encontrámo-nos em Moscovo e mantivemos um diálogo aberto e proveitoso. A regularidade dos nossos contactos mostra mais uma vez a necessidade de manter o contacto neste momento difícil, de "acertar constantemente as agulhas" e de procurar oportunidades para desenvolver relações neste ambiente em mudança.

Discutimos detalhadamente questões da nossa cooperação económica e comercial. As trocas comerciais entre os nossos dois países vêm crescendo. Todavia, o seu valor modesto não satisfaz os nossos amigos nem os operadores económicos da Rússia. Concordámos em promover a implementação dos nossos projetos conjuntos nas áreas de indústria, de transporte e de farmacêuticos e em utilizar melhor as oportunidades proporcionadas pela Comissão Intergovernamental Rússia-Barém de Cooperação Económica, Comercial, Tecnológica e Científica, cuja próxima reunião deve acontecer este ano em Manama.

Manifestámo-nos satisfeitos com a maneira como o Fundo Russo de Investimento Direto e o fundo baremita Mumtalakat cooperam entre si na área de investimento. Os nossos amigos baremitas duplicaram a sua contribuição para esta plataforma de investimento conjunta. Este importante passo irá produzir resultados positivos.

Concordámos em desenvolver o intercâmbio de delegações e estimular contactos diretos entre as nossas empresas. Discutimos uma série de potenciais projetos que poderíamos concretizar juntos em países terceiros. Valorizamos os nossos contactos humanitários e a nossa cooperação na ciência e educação. Cerca de uma centena de estudantes baremitas frequentam o ensino superior, principalmente cursos superiores de medicina. Reafirmámos a nossa vontade de aumentar o número de bolsas de estudo reservadas aos nossos amigos baremitas.

Temos planos impressionantes relacionados com a concretização de projetos conjuntos na área de cultura, entre os quais as Jornadas da Cultura Russa em Manama agendadas para este ano, um fórum bilateral sob o lema "Diversidade de Culturas como Base para o Diálogo, uma exposição itinerante de museus no Barém e um Festival de Cinema Russo. Estes eventos irão despertar grande interesse nos nossos dois povos e contribuir para o desenvolvimento dos nossos contactos.

Concordámos em tomar medidas para concluir o trabalho sobre os acordos concebidos para reforçar o quadro jurídico da nossa cooperação. Abordámos a agenda internacional. Mantemos consultas intensas sobre uma vasta gama de questões. Dispensámos especial atenção à situação no Médio Oriente e no Norte de África e ao conflito israelo-palestiniano. A falta de solução para o conflito em causa faz com que o foco de tensão na região se mantenha há muitas décadas, causando grande preocupação devido aos recentes acontecimentos em território palestiniano e em Jerusalém. Salientámos a necessidade de a Palestina e Israel retomarem as negociações diretas. Para tanto, existe uma base legal: a Iniciativa de Paz Árabe que foi apoiada por todos, inclusive a ONU. Consideramos muito importante intensificar os esforços, inclusive no âmbito do Quarteto de mediadores internacionais para o Médio Oriente e da Liga Árabe, para a criação de condições para o reatamento do diálogo, o mais rapidamente possível, e o início de passos rumo à solução dos dois Estados. Tal como os nossos amigos baremitas, estamos preocupados com a persistente falta de unidade palestiniana. Temos feito muita coisa para ajudar os palestinianos a acabar com a divisão, com vista a criar condições necessárias ao início de conversações sérias sobre um acordo de paz.

Abordámos a questão da Síria, realçando a necessidade de cumprir a Resolução 2254 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Acentuámos os esforços da Rússia para o conseguir, inclusive no âmbito formato Astana, juntamente com os nossos parceiros iranianos e turcos.

Informámos a parte baremita dos nossos esforços para criar condições favoráveis ao trabalho do Comité Constitucional em que o governo e as delegações da oposição estão a discutir o futuro do seu país. Abordámos também muitos outros aspetos da crise síria. Em muitos aspetos, estas questões serão solucionadas de uma forma mais eficaz, se a Síria voltar a integrar a "família árabe", a Liga Árabe, e nisso as nossas posições coincidem. Continuaremos a encorajar esta atitude.

Num plano mais amplo, abordámos a situação no Golfo e a necessidade de garantir uma segurança de excelência para os países árabes do Golfo e a República Islâmica do Irão. Desde há muitos anos, a Rússia tem vindo a promover o Conceito de Segurança Coletiva para o Golfo Pérsico. Há seis meses, atualizámos o respetivo documento e realizámos uma série de reuniões com a participação de peritos dos países do Golfo. Continuaremos a trabalhar para garantir a estabilidade, a paz e a confiança mútua na região. O nosso conceito inclui um conjunto de passos neste sentido.

Informámos a parte baremita de como a Rússia participa nos esforços para a retomada do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) sobre o programa nuclear iraniano. A tentativa dos EUA de colocar condições adicionais em detrimento da ideia e conteúdo iniciais do JCPOA aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas criou alguns obstáculos neste caminho. Consideramos que, para manter as coisas justas, o JCPOA deve ser retomado sem quaisquer isenções nem adições.

Mencionámos a situação no Iémen. Apoiamos os esforços patrocinados pela ONU, que receberam outro impulso positivo na sequência da iniciativa da Arábia Saudita em consequência das tréguas anunciadas. Esperamos que a trégua seja prorrogada.

Abordámos em pormenor a situação na Ucrânia. A pedido dos nossos amigos, informámo-los dos mais recentes desdobramentos e da situação alimentar, além das medidas que a Rússia tem vindo a tomar há mais de um mês para garantir a livre exportação de cereais ucranianos por navios que ainda se encontram presos em portos ucranianos. Para tanto, a Ucrânia deve remover as minas das águas costeiras do seu mar territorial. Se as minas forem removidas, (há muitas semanas que chamamos a atenção dos nossos colegas ocidentais preocupados com esta situação para este facto), a Marinha russa garantirá a livre saída destes navios para o Mediterrâneo e para os seus destinos. As atuais iniciativas para garantir a segurança alimentar devem ser implementadas devem ter em conta que a Rússia fez tudo o que estava ao seu alcance para resolver esta situação. Os países ocidentais, que criaram artificialmente um monte de problemas ao fechar os seus portos aos navios russos e ao romper as cadeias logísticas e financeiras, devem pensar bem no que é mais importante para eles: fazer propaganda, usando o problema da segurança alimentar, ou dar passos concretos para resolver o problema. É agora a vez deles se pronunciarem.

Sua Majestade e o Príncipe Herdeiro, assim como o meu colega e amigo, mostraram interesse pela nossa análise da situação na Europa e no cenário internacional. Os nossos amigos compreenderam que a crise da Ucrânia é um reflexo de processos muito mais amplos. Informámos a parte baremita dos esforços feitos pelo nosso país nos últimos 15 anos para garantir eficazmente a segurança na Europa e na região euro-atlântica.

Inteirámos a parte baremita dos resultados das nossas numerosas iniciativas dirigidas aos membros da NATO e diretamente aos EUA, que, infelizmente, não receberam uma devida consideração nem reação. Esta situação mostrou que os nossos parceiros ocidentais preferem negociar com base no diktat e na sua firme convicção de que estão destinados a governar o mundo, e não com base na igualdade e nos princípios da Carta das Nações Unidas, incluindo o princípio do respeito pela igualdade soberana de todos os países. Agora, estão a promover intensamente o conceito de unipolaridade. Continuaremos a defender os princípios do direito internacional e da Carta das Nações Unidas que estão a ser violados pelos nossos colegas ocidentais. Em vez do direito internacional, eles avançam o conceito de ordem baseada em regras. De acordo com este conceito, o Ocidente resolve tudo, reservando à NATO (que não é nada uma aliança de defesa) o papel de polícia global. A NATO "garante" a segurança global, inclusive, como dizem, na região Indo-Pacífico, declarando abertamente que é necessário conter a China e a Rússia. O conceito de ordem baseada em regras implica que o domínio ocidental é exercido com os EUA a controlarem tudo.

Um diálogo como este é útil. Penso que os fóruns de cientistas políticos em todo o mundo que estão interessados em promover um diálogo mutuamente respeitoso com vista à procura de consensos e compromissos são mais necessários do que aquilo a que a Conferência de Segurança de Munique se resumiu, tornando-se condutor de conceitos e teorias ocidentais.

Assinalámos o papel positivo do Diálogo Manama, fórum tradicional de ciência política cujo objetivo é aproximar as posições, atrair pessoas que representam diferentes pontos de vista e procurar um equilíbrio de interesses. É nisso que reside a política externa da Rússia.

Agradecemos aos nossos amigos do Barém as suas posições equilibradas e sensatas que visam alcançar resultados em todas as questões hoje abordadas, e não fomentar a confrontação e emoções.

Muito obrigado pelo excelente acolhimento que nos foi reservado.

 


Дополнительные материалы

  • Фото

Фотоальбом

1 из 1 фотографий в альбоме

Некорректно указаны даты
Дополнительные инструменты поиска