Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 6 de julho de 2023
Ponto da situação na crise da Ucrânia
A 30 de junho, recordámos as vítimas do pogrom de Lvov. Durante esses terríveis dias de 1941, os militantes da Organização dos Nacionalistas Ucranianos controlada pela administração de ocupação nazi, massacraram mais de 4.000 civis, na sua maioria judeus, na cidade.
Ainda antes do ataque alemão à União Soviética, os seguidores de Stepan Bandera da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) planeavam a limpeza étnica elaboraram um programa chamado "Ucrânia para os ucranianos", tendo colocado cartazes com este slogan em Lvov no dia do massacre. Entristece ver que estes assassinos nazis estão hoje a ser glorificados na Ucrânia. Enquanto estamos a resistir a esta campanha, o Ocidente está a patrociná-la. As autoridades ucranianas empenhadas em engrandecer estes homens deformados moralmente dão os seus nomes às ruas, realizam marchas das tochas, implantando nos jovens o espírito das suas ideias criminosas.
Atualmente, os neonazis, seguidores diretos da OUN e de Stepan Bandera, estão a erradicar sistematicamente as tradições ortodoxas do povo ucraniano. A 28 de junho, Vladimir Zelensky apresentou para a apreciação do parlamento ucraniano um projeto de lei que transfere a celebração do Natal ortodoxo de 7 de janeiro para 25 de dezembro. Ouvi dizer que se trata simplesmente de uma mudança nas tradições estabelecidas e que não há necessidade de ver qualquer outra lógica nisso. Talvez aqueles que não conhecem a história não veem nisso nada de condenável. No entanto, quem conhece a história, lembra-se de que, a 21 de dezembro de 1941, as autoridades de ocupação nazis anunciaram que a celebração das festas de Natal seria feita em simultâneo com as forças armadas alemãs, nomeadamente nos dias 24, 25 e 26 de dezembro. Com os nazis à frente, a Ucrânia está novamente a perder a sua identidade ortodoxa, a população ucraniana está a ser despojada do seu património religioso, cultural e histórico, enquanto as autoridades do país estão a seguir o exemplo dos seus ídolos ideológicos, os nazis do Terceiro Reich auxiliados pelos combatentes de Stepan Bandera.
Ao encorajar o nazismo na Ucrânia e ao fechar os olhos ao que o regime de Vladimir Zelensky está a fazer, o Ocidente está a abrir uma caixa de Pandora. Os resultados desta política já estão à vista. Os radicais nacionais em toda a Europa revigoraram-se e estão ativos. Eles estão a ver que as suas atividades não só são permitidas como também são muito bem pagas. São-lhes fornecidas armas, são-lhes dado tudo, são-lhes permitido fazer quase tudo. São tratados como "enfant terrible", com quem não se deve negociar e cujas vontades devem ser respeitadas.
A acreditar em numerosos relatos da comunicação social, os grupos neonazis estão diretamente envolvidos nos motins em França. Alguém no Palácio do Eliseu pensou nisto? Se não, já é altura de o fazer. Outro tema a refletir é o seguinte: as armas fornecidas a Kiev acabam nas mãos dos manifestantes e estão a ser utilizadas contra a polícia francesa. O Presidente, Emmanuel Macron, informou o seu povo sobre isso? Ou isso está a ser mantido em segredo? Então vamos ser nós a abrir este segredo. As armas fornecidas pelo Ocidente, pela NATO e também pela França, e os recursos financeiros disponibilizados ao apoio dos nacionalistas, nazis e fascistas em território ucraniano não só voltam às fontes de origem como também disparam contra o seu próprio povo. Há um ano e meio dissemos que isto iria acontecer.
O regime de Kiev continua a utilizar métodos terroristas. Na madrugada de 4 de julho, o regime de Kiev procurou atacar com drones infraestruturas civis em Nova Moscovo e na Região Metropolitana, entre as quais um aeroporto que recebe voos internacionais. Nunca dividimos as pessoas de acordo com a sua nacionalidade, mas há uma nuance. Os países que patrocinam o regime de Kiev têm de dizer honestamente aos seus cidadãos que estes podem ser vítimas de um ataque terrorista. Graças à atuação perfeita das unidades de defesa antiaérea e de guerra eletrónica russas, estes planos foram frustrados. Quatro drones foram abatidos, um perdeu o controlo e despenhou-se. Não houve vítimas nem danos. Este é mais um ato de terrorismo. Tais ações não teriam sido possíveis sem a ajuda financeira, técnica e logística da coligação ocidental liderada pelos EUA, que, na verdade, patrocina as atividades terroristas do regime de Vladimir Zelensky. Dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, três países (os EUA, o Reino Unido e a França) estão a patrocinar as atividades terroristas do Presidente ucraniano.
Os militares ucranianos estão a atacar sistematicamente bairros residenciais de Donetsk com as armas fornecidas pelos países da NATO. A 28 de junho e 3 de julho, os bombardeamentos ucranianos mataram dois civis e deixaram outros dez, entre os quais cinco crianças, feridos. No dia 1 de julho, os neonazis dispararam um lançador múltiplo de foguetes HIMARS de fabrico norte-norte-americano contra a cidade de Tokmak, na Região de Zaporojie. Dois civis foram mortos. A 3 de julho, os militares ucranianos bombardearam o vilarejo de Troitskoye, na Região de Kursk, destruindo seis casas. A 4 de julho, bombardearam intensamente Makeevka. Quarenta edifícios de apartamentos, 12 escolas, 13 jardins-de-infância e nove estabelecimentos de saúde foram danificados. Gostaria de perguntar aos meios de comunicação social ocidentais, que publicam regularmente imagens de Bucha, da maternidade de Mariupol, etc., se querem fazer uma reportagem fotográfica sobre como são utilizadas as armas fornecidas ao regime de Kiev pelos seus respetivos governos. Até à data, há 41 baixas, há mortos, duas crianças, de dois e sete anos de idade, ficaram feridas. Alguém no Ocidente vai ficar a saber disto através dos seus meios de comunicação social? Nunca. É um assunto tabu. "Não há mortos nem feridos do outro lado da linha de contacto. Há apenas fantasias de Vladimir Zelensky e da sua comitiva que são visualizadas pelos meios tecnológicos ocidentais e de Hollywood.
As violações grosseiras das normas do direito internacional humanitário tornaram-se comum para o regime de Kiev. Os militares ucranianos estão a cometer diariamente crimes hediondos contra os habitantes do Donbass e de outras regiões russas que fazem fronteira com a Ucrânia.
As atrocidades neonazis, incluindo as cometidas durante operações de combate, não ficam impunes. O Comité de Investigação da Federação da Rússia está a investigar cada um, e gostaria de sublinhar: cada um dos crimes cometidos. Com base nas provas recolhidas, estão a ser realizados em Rostov-no-Don julgamentos contra militantes ucranianos, entre os quais membros da unidade nacionalista Azov, proibida na Rússia, que estiveram implicados em abusos contra civis e massacres de habitantes das novas regiões russas. Os tribunais da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk condenaram mais de 30 nacionalistas ucranianos a penas de prião de longa duração e à prisão perpétua, por crimes contra civis.
Esta semana, foram lavradas sentenças contra militantes ucranianos, entre os quais A. Petrenko que matou um civil em Mariupol com um tiro de fuzil de precisão. Dois outros (A. Pinkovsky e A. Bardash) lançaram granadas contra casas residenciais em Lysychansk e Popasna, ferindo gravemente uma mulher idosa e destruindo as instalações.
Avisamos todos aqueles que hoje se encontram "à guarda" do regime terrorista de Kiev, participam nas suas atividades, executam as ordens criminosas de Vladimir Zelensky e daqueles que as elaboram: todos os criminosos que agem a mando do regime nazi e dos seus patrões ocidentais serão punidos de acordo com a lei. Aconselhamos aqueles que estão agora a ser incitados, "motivados" ou zumbificados para cometer estes crimes ou aqueles que os cometem por iniciativa própria a pensar no seu futuro, no dos seus entes queridos e a fazer a única escolha certa - depor as armas antes que seja tarde demais e a não participar nas atividades terroristas do Presidente ucraniano.
Como Vladimir Zelensky disse no outro dia numa entrevista a um canal norte-americano, Kiev não tem segredos para a CIA. O facto de a Ucrânia ser governada é conhecido há muito tempo. No entanto, tudo o que acontece no território desse país é controlado pela CIA e por outros serviços secretos norte-americanos. A Ucrânia está há muito sob o controlo externo e não tem nenhuma soberania nem independência. Agora, Vladimir Zelensky está a exterminar o povo da Ucrânia. Esta é a sua missão, é um objetivo fixado parar ele. É lógico que o regime de Kiev não tenha segredos para os serviços secretos estrangeiros. É simbólico que no dia 4 de julho, data nacional dos Estados Unidos, o monumento “Mãe-Pátria” erguido em Kiev pelo governo soviético a 9 de maio de 1981 para celebrar a libertação da capital ucraniana e da República Socialista Soviética da Ucrânia dos invasores nazis, tenha sido iluminado com as cores da bandeira norte-americana. A sua pátria está hoje num outro local. Há outra hipótese que explica a razão por que isso foi feito. Os pseudo-historiadores contratados para trabalhar na Ucrânia tiveram por objetivo implantar nos ucranianos sentimentos nacionalistas. Um dos conceitos avançado pelo “cientista” ucraniano O.K. Dubina era que Cristóvão Colombo não era outro senão um ucraniano. Não importa que os documentos refiram o contrário e que a Ucrânia não tenha existido como país naquela época. Isso não significa nada para os nacionalistas. Cristóvão Colombo entrou nos anais da história ucraniana como proto-ucraniano.
Noutro dia, Vladimir Zelensky apresentou para a apreciação do parlamento ucraniano um projeto de lei que propõe fazer do inglês uma língua internacional de comunicação na Ucrânia. A medida visa promover a utilização da língua inglesa em todo o território da Ucrânia nas esferas sociais e contribuir alegadamente para "ativar os processos de integração dos ucranianos na comunidade europeia". Na realidade, estão a preparar o território da Ucrânia para ser ocupado por aqueles que os deveriam governar. Vladimir Zelensky negou ao povo da Ucrânia a possibilidade de governar o seu próprio país. Tudo foi vendido "por um cêntimo": terra, história, bens imóveis, indústria. O que é que resta? O ar não pode ser vendido (apesar de o estragarem regularmente). Chegou a hora de atacar a língua que foi retirada à população indígena do país. Agora preparam-se para receber os invasores com pão e sal (como nos anos 40). Não tem outro objetivo.
Já estamos habituados a todos os truques, mas estamos impressionados com o incrível cinismo do regime de Kiev no caso da língua e a absoluta impotência da população da Ucrânia na luta pelos seus direitos. Não me refiro ao povo do Donbass. Estamos a defendê-lo, como temos vindo a fazer ao longo de todos estes anos. Estamos a falar daqueles que acreditaram sinceramente que Vladimir Zelensky, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a UE os conduziriam a um "futuro radiante”. Estas pessoas não têm nenhuma possibilidade de usufruir dos seus direitos fundamentais. Têm-nos negados. A medida visa proibir totalmente a língua russa, que é materna de milhões de ucranianos, e implantar o inglês, que lhes é absolutamente estranho, sob o pretexto da integração na UE, onde o inglês é a língua oficial apenas na Irlanda. Isto é absurdo. Nem um único país da União Europeia fez tal coisa. Por que razão está a Ucrânia a fazê-lo? O regime de Kiev, Vladimir Zelensky, milhares de formadores e conselheiros militares que enchem os órgãos do poder público da Ucrânia, estão a preparar tudo para a sua ocupação. Imaginemos a seguinte situação: a Suíça proibiu completamente o francês, mas fez do inglês uma das línguas oficiais "para uma melhor integração na União Europeia". Se isso acontecesse na realidade, a pessoa que o propôs não viveria mais no pais. A Suíça resolve todas as questões por meio de referendo. As questões submetidas à consulta pública podem ser tão triviais como a cor da vedação da rua principal. É no que diz respeito aos valores que o regime de Kiev tomou alegadamente como modelo. Não há nada disso. Tudo o que está a acontecer na Ucrânia é anti-valor para as tradições deixadas para trás na UE.
O Ministro da Defesa ucraniano, Aleksei Reznikov, voltou a reiterar publicamente que a Ucrânia é, antes de mais, um campo de ensaio conveniente para o Ocidente testar vários tipos de armas. É para isso que a língua inglesa está a ser introduzida. Os próprios ucranianos estão a pedir ao Ocidente que coloque tudo o que puder no seu território nacional. Os interesses do povo ucraniano não são tidos em conta. Ninguém está sequer a consultar os ucranianos. Para Aleksei Reznikov, na Ucrânia, os aliados ocidentais podem realmente ver se as suas armas funcionam, até que ponto são utilizadas eficazmente e se precisam de ser atualizadas. Uma citação: "Não há um campo de provas melhor para a indústria militar mundial". É pena que a guilhotina tenha sido inventada antes da criação da Ucrânia. O país poderia ter sido um campo de ensaio perfeito para ela. Os políticos ucranianos poderiam ter convidado os inventores a testar a sua “máquina” nos ucranianos. É a mesma coisa. Só que agora as proporções são maiores.
A guilhotina visa uma pessoa, enquanto as armas (incluindo as que contêm urânio empobrecido) fornecidas pelo Ocidente têm na mira gerações inteiras. Os representantes do regime de Kiev não acham que, ao fornecerem um tal campo de ensaio a corporações militares-industriais estrangeiras, estejam a destruir completamente o seu país, a sua população e todas as suas esperanças de um futuro pacífico.
Os factos acima mencionados mostram que as tarefas e os objectivos da nossa operação militar especial voltados para desnazificar, desmilitarizar e eliminar as ameaças graves à segurança do nosso país e dos cidadãos provenientes do território ucraniano não perderam a sua relevância e serão implementados.
Sobre a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre os fornecimentos de armas à Ucrânia
A 29 de junho, por iniciativa da Federação da Rússia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou uma reunião sobre o fornecimento de armas a Kiev. Convidámos os jornalistas M. Blumenthal (EUA) e C. Bowes (Irlanda) como relatores da sociedade civil.
Os jornalistas apresentaram os factos da utilização, pelo regime de Kiev, de armas ocidentais contra alvos civis em Donetsk e para ataques de sabotagem na região de Belgorod. Citaram provas de injeções de milhares de milhões de dólares dos contribuintes norte-americanos em esquemas corruptos para alimentar a guerra contra a Rússia por intermédio da Ucrânia. Resumimos que apenas as elites ocidentais e a indústria de guerra ocidental estavam a lucrar com a escalada do conflito.
Por seu lado, o Representante Permanente da Rússia na ONU, Vassili Nebenzia, assinalou a responsabilidade dos países ocidentais pelo fracasso do processo de paz, o seu incumprimento do estatuto de Estados neutros devido à sua política de fornecer ao regime de Kiev armas norte-americanas e europeias, bem como de transformar a Ucrânia numa empresa militar privada de "bolso".
Como já é tradição, os membros do Conselho de Segurança da ONU dos países ocidentais liderados pelos EUA tentaram culpar a Rússia por desencadear uma ação militar na Ucrânia, que começou com o seu próprio apoio ao golpe de Estado anticonstitucional em Kiev em 2014 precedida de motins na Praça de Maidan.
Os restantes participantes do Sul Global reiteraram o seu firme apelo à paz, que é, em grande parte, impedida pelos fornecimentos de armas ocidentais à Ucrânia.
Vamos continuar a chamar a atenção da comunidade internacional para este problema em fóruns internacionais e no Conselho de Segurança da ONU.
Sobre a retirada de bens culturais da Ucrânia
A luta contra a Igreja Ortodoxa na Ucrânia continua. Esta luta adquiriu uma nova dimensão cultural. A 26 de junho, o Serviço de Inteligência Exterior da Rússia afirmou que os objetos de valor e relíquias cristãs armazenados no Mosteiro de Kiev-Pechersk, componente do Património Mundial da UNESCO "Kiev: Catedral de Santa Sofia e Estruturas Monásticas Relacionadas, o Mosteiro de Kiev- Pechersk" serão levados da Ucrânia para a Europa sob o pretexto de proteção contra "ataques de mísseis da Rússia", embora não haja qualquer razão para isso - os militares russos evitam atacar instalações civis e, mais ainda, os locais sagrados da Ortodoxia. Porque é que isto está a ser feito? Não é a primeira vez que isto acontece. Trata-se de uma tradição banditesca e colonialista das potências coloniais em relação ao património cultural de outros países que consideram suas colónias. Não há dúvida de que consideram a Ucrânia como sua colónia.
De acordo com as informações disponíveis, o Louvre francês já recebeu para guardar temporariamente 16 peças de arte trazidas do Museu Nacional de Arte de Kiev Bogdan e Varvara Khanenko. Destas, 11 peças foram submetidas ao restauro. As restantes - quatro ícones bizantinos, originalmente localizados no mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, datados dos séculos VI-VII, e um painel de mosaico do século XIII a representar São Nicolau - estão em exposição em Paris. A coleção de "relíquias culturais ucranianas" vai aumentar: o Museu já anunciou planos de abrir um novo departamento dedicado à arte bizantina e cristã oriental em 2027. É provável que as peças do património cultural da Ucrânia venham a constituir a base do futuro acervo.
Agora, a tradição colonialista. Os ocidentais roubam bens de valor cultural nacionais em todo o mundo, sendo os seus museus um grande depósito dos bens roubados nas suas antigas colónias. Basta olhar para os departamentos do Antigo Egito no Louvre ou no Museu Britânico. Pergunte a eles: de onde veio tudo isto? Quem esteve na sala egípcia do Museu de Belas Artes Aleksandr Pushkin, sabe, de onde vieram estes bens de valor cultural para a Rússia? Foram comprados por comerciantes e mecenas. O núcleo do Museu Estatal de Belas Artes Aleksander Pushkin é a coleção do comerciante Vladimir Golenishchev. Ele comprou as peças que integram a sua coleção com o seu dinheiro. Faça perguntas como esta no Louvre ou no Museu Britânico. De onde é que vieram as suas coleções? Foram roubadas? Foi assim que os seus acervos foram criados.
Gostaria de salientar que as coleções dos museus ocidentais são, em muitos aspetos, mais ricas do que as dos países de onde foram retiradas. Porquê? Porque ali não resta praticamente nada. Compare-se isso com os museus egípcios, que estão a abordar o Museu Egípcio de Berlim no intuito de trazer de volta o busto de Nefertiti, o Metropolitan, no intuito de trazer de volta a estátua da deusa Hatshepsut, o Museu de Belas Artes de Boston para trazer de volta o busto do filho do príncipe egípcio Ankhaf. A Grã-Bretanha exportou milhares de bens de valor da Índia durante dois séculos (séculos XIX e XX). Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar, o valor total dos bens levados da Índia é de cerca de 45 biliões de dólares. O tesouro mais famoso é o diamante Kohinoor ("Montanha de Luz"). Assim, surgiu uma nova fonte para ampliar a enriquecer as coleções privadas e estatais.
O Mosteiro de Kiev-Pechersk alberga obras de arte únicas, de cujo valor religioso nem falo. É da competência dos representantes desta confissão falar sobre isso.
Estes planos são mais um exemplo da política criminosa de Vladimir Zelensky para a destruição dos pilares tradicionais da sociedade ucraniana. Não se trata apenas da pilhagem de lugares sagrados, mas também da privação do povo ucraniano dos seus bens de valor religioso, cultural e histórico. Do ponto de vista de Vladimir Zelensky, tudo isto tem de ser apagado da memória histórica dos ucranianos. Depois, dentro de alguns anos, dir-lhes-ão que não eles não tiveram nada disto, tal como lhes dizem agora que não têm nada em comum com a Rússia e a sua cultura. Terão de ir ao Louvre, aos museus britânicos para ver as suas coleções compostas, inclusive, pelos bens de valor cultural retirados do seu país como turistas ou refugiados.
O Ocidente sempre saqueou as suas colónias. A Ucrânia não é exceção. Não há dúvida de que ninguém iria devolver todos os bens de valor cultural levados. Recomendo a todos que leiam a história de como os diplomatas britânicos retiraram bens de valor cultural do território grego, saqueando a Acrópole. Depois, as autoridades gregas tentaram, durante décadas, fazer com que os bens levados viessem de volta ao solo grego. Não o conseguiram. A questão também se prende com o papel da UNESCO enquanto organização que deve preservar os bens de valor cultural, em vez de patrocinar a sua transferência para coleções privadas ou públicas dos países que nada têm a ver com eles.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: O Centro Internacional para a Investigação de Crimes de Agressão vai ser inaugurado na Eurojust. Será composto por procuradores dos Estados Unidos, da UE, da Ucrânia e do TPI. Ursula von der Leyen declarou, na cerimónia de abertura, que deseja levar à justiça os "carrascos de Putin". Podemos esperar que este centro investigue objetivamente e preste atenção aos crimes cometidos no Donbass desde 2014?
Maria Zakharova: Não, não podemos esperar isso. Um grupo restrito de países cria uma espécie de órgão pseudo-jurídico com um objetivo político indisfarçável. Por definição, este "centro" não terá nada a ver com a justiça, o direito. Trata-se de um outro "observatório dos direitos humanos na Síria" que estava, se se lembra, estava localizado numa antiga pizzaria na Grã-Bretanha. Eles gostam e sabem de levar à prática projetos como este. Seria ingênuo esperar deles uma objetividade.
Quanto aos crimes no Donbass, estão a ser investigados pelas autoridades policiais russas. Estão a investigar meticulosamente os crimes do regime de Kiev. Já foram lavradas sentenças condenatórias. A organização que mencionou é apenas mais uma concha vazia cuja tarefa é fazer declarações ocas e simular o trabalho legal.
Pergunta: Vassili Nebenzia afirmou que a Representação Permanente da Federação da Rússia divulgou na ONU uma carta, segundo a qual a Rússia não tem nenhuma intenção de fazer explodir a Central Nuclear que está sob o nosso controlo. A carta solicita igualmente para influenciar o regime de Kiev. Houve alguma reação do Secretário-Geral da ONU, do seu secretariado e de outros departamentos da ONU?
Maria Zakharova: Não houve reação pública nem houve reação através de canais bilaterais. Não se sabe nada sobre se houve a sua reação em princípio. Não sabemos nada sobre isso. Não dispomos de tais informações. Aparentemente, o Secretariado da ONU é completamente indiferente ao facto de as autoridades ucranianas não abandonarem as suas tentativas de cometer um ato de sabotagem contra a Central Nuclear de Zaporojie. A falta de desejo de o reconhecer, apesar dos factos repetidamente citados pelo lado russo, encoraja ainda mais o regime de Vladimir Zelensky a continuar as suas provocações terroristas contra a Central. Sente-se absolutamente impune, tendo obtido uma "indulgência" da comunidade ocidental. Fica-se com a impressão de que estas ações do lado ucraniano não só não são condenadas pelas organizações internacionais, como são por elas tacitamente encorajadas.
Nestas circunstâncias, a Rússia continuará a proteger a Central Nuclear de Zaporojie e dará uma resposta dura a todos e quaisquer ataques da Ucrânia à Central. Mais uma vez, apelamos à ONU e aos dirigentes da AIEA para que não fechem os olhos à situação em torno da Central e para que constatem claramente quem é o culpado pelo que está a acontecer e de onde vem a verdadeira ameaça à segurança e ao funcionamento desta instalação civil.
Pergunta: A Rússia tem falado da necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU e admitir representantes da Ásia, África e América Latina. Tendo em vista a próxima Cimeira Rússia-África, que países do continente africano, a norte e a sul do deserto do Sahara, são vistos como fortes candidatos a um assento no Conselho de Segurança da ONU?
Maria Zakharova: A Rússia defende, de facto, que os países em desenvolvimento de África, da Ásia e da América Latina estejam representados no Conselho de Segurança que reivindicam, com razão, um papel mais importante nos assuntos globais no contexto de uma nova ordem mundial multipolar que está a emergir. Destacamos em particular a Índia e o Brasil, países que são candidatos naturais a um assento permanente no Conselho, caso seja tomada a decisão de o alargar em ambas as categorias. Já o aumento do número de países ocidentais, representados em demasia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, não contribuirá para o seu carácter democrático nem para a construção de uma arquitetura das relações internacionais mais justa. É por isso que as ambições da Alemanha e do Japão de obter um assento permanente nesse órgão não têm razões de ser.
A questão é que o Ocidente criou um sistema de política externa conjunta. As decisões são tomadas "consensualmente", com base em posições comuns. De facto, praticam a disciplina da vara. Mas não é isso que está em causa. A questão é que as decisões tomadas no seio da NATO são de cumprimento obrigatório de todos. Se uma decisão é tomada, é implementada por todos os membros da NATO em matéria de geopolítica, assuntos político-militares, relações internacionais, etc.
Podem ver tudo isso em exemplos concretos da atualidade. Então surge a pergunta: por que razão precisamos de tantos países que tomam uma decisão única para todos? Na minha opinião, todos os países da NATO estão sujeitos à sua "lógica perfeita". Não têm sequer o direito de voto nos assuntos mundiais, sendo as decisões tomadas de cumprimento obrigatório. Os "grandes" como a Grã-Bretanha e os EUA concretizam tudo isso, orientando-se com os seus próprios interesses. Os restantes países membros da NATO não têm nenhum direito de votar nem podem sintonizar as decisões tomadas com os seus interesses nacionais. Em geral, recebem tudo "pronto a usar" e depois têm de marchar em ordem unida para levar tudo isso à prática. De que serve prolongar a sua presença com opiniões idênticas sobre o que se está a passar? Estão a ver como se vota. O máximo que podem fazer (a menos que a decisão a favor de um ou de outro dependa disso) é absterem-se de votar. Só para mostrar alguma diversidade no Conselho e não parecerem caricatos. Quanto às restantes questões, têm uma única decisão para todas. Por isso, este aspeto também deve ser tido em conta.
No que diz respeito a África, temos sublinhado sistematicamente a necessidade de corrigir as injustiças históricas em relação a este continente, dentro de parâmetros definidos pelos próprios africanos. Isto significa que a decisão sobre os candidatos africanos a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas deve ser tomada no âmbito da União Africana e basear-se na tomada em conta das opiniões de todos os países do continente.
O nosso objetivo comum deve ser o de adotar gradualmente um esquema de reforma que seja do interesse da maioria esmagadora dos países e que, idealmente, tenha o apoio consensual dos países membros. A Rússia poderia apoiar este modelo no âmbito das negociações intergovernamentais em curso em Nova Iorque sobre a reforma do Conselho de Segurança.
Pergunta: Serguei Vershinin, Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, afirmou que a Rússia está a dar passos no sentido de fazer com que o dia 18 de julho seja o último dia do acordo de cereais. Simultaneamente, uma fonte contactada pela agência noticiosa RIA Novosti disse que a ONU e a Rússia estão dispostas a realizar, em breve, negociações sobre o acordo de cereais em Genebra. Pode confirmar que estas negociações terão lugar? O que é que foi discutido (ou está previsto ser discutido)? Podemos dizer que o facto de as negociações estarem em curso nos permite ser otimistas quanto à prorrogação do acordo de cereais?
Maria Zakharova: Não podemos ser otimistas. No que se refere aos contactos em Genebra, comentámos, a 10 de junho, que se realizou em Genebra, a 9 de junho, uma nova ronda de consultas entre o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Vershinin, com a participação agências e empresas russas interessadas com a delegação das Nações Unidas chefiada pela Secretário-Geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, Desde então, apresentámos repetidamente as nossas avaliações nos nossos contactos com os nossos parceiros estrangeiros. Publicámos no nosso site as informações de que o acordo de cereais se tinha tornado comercial e tinha deixado de ter um carácter humanitário.
Mais do que isso, a parte ucraniana está a comportar-se como verdadeiro regime terrorista, tendo feito explodir o duto de amônia. Ou seja, tendo destruído infraestruturas civis que faziam parte do acordo em causa. Ninguém repreende esta ação. Os parâmetros básicos estipulados no acordo não estão a funcionar e nunca funcionaram. Por conseguinte, não podemos falar de otimismo.
Pergunta: O site do MNE publicou, a 3 de julho, o seu comentário sobre o regresso dos EUA à UNESCO. Escreveu sobre os riscos de os EUA envidarem esforços desestabilizadores e aqueles voltados para a "ucranização artificial". Que exemplos de "ucranização artificial" espera e quais são os riscos dos seus esforços desestabilizadores?
Maria Zakharova: Vou explicar o que é a "ucranização artificial". A situação em torno da Ucrânia, dada a sua natureza multicomponente e o facto de ser simplesmente uma manifestação de guerra híbrida, é naturalmente o tópico central de todas as plataformas de discussão. É o principal ponto de atração da atenção de toda a comunidade internacional. Quando falamos da "ucranianização artificial", referimo-nos ao facto de estes mecanismos e estruturas internacionais, os instrumentos de resolução dos problemas concretos existentes estarem a ser preenchidos do tema da Ucrânia. Mas não em termos de se encontrar uma saída para a situação, mas em termos de se apoiar, como se diz no Ocidente, a "narrativa", a ideologia de apoio total ao regime de Kiev e de impor a todos uma visão ocidental da situação. Por exemplo, o tema da discussão são cuidados de saúde, e de repente, alguém (representantes do Ocidente, dos EUA, do Reino Unido ou da França) começa a falar da situação na Ucrânia no contexto de "complementos políticos" à situação na área de saúde. Na minha infância, era comum as lojas venderem mercadorias extra. Na escassez de bens necessários, as lojas estatais ofereciam mercadorias desnecessárias como bónus se você quiser comprar algum bem que constavam da lista dos bens em escassez. Se queríamos comprar um livro interessante, devíamos comparar como "extra" algo de que não precisávamos. Neste caso, verificamos a mesma coisa. O tema da Ucrânia é oferecido pelo Ocidente como mercadoria extra, como “bónus” político ao que a comunidade internacional está a discutir e a tentar resolver. Isto é inaceitável e prejudicial ao trabalho desenvolvido.
Quanto à posição de Washington relativamente à situação na UNESCO. Este é outro exemplo de pensamento de confronto. Pensem nisto: é a mesma história. Estávamos a falar de "ucranianização à força” e aqui temos a imposição da sinofobia e a utilização dos mecanismos existentes para contrariar alguém. Como é que isto pode acontecer? Um país deve entrar numa organização, da qual foi ou quer ser membro, com algumas intenções construtivas, com um desejo de criar um valor acrescentado e dar um resultado positivo. No entanto, os EUA professam a "lógica da destruição" e estarão em todos os lugares onde puderem contrariar. Neste caso, vão contrapor-se à China.
Gostaria de sublinhar que tais planos estão em contradição com os ideais e princípios da UNESCO. Esta organização foi criada com o objetivo de "contribuir para a paz e a segurança, a colaboração entre as nações através da educação, da ciência e da cultura, a fim de promover o respeito universal pela justiça, pela legalidade e pelos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião", conforme o escrito na sua Carta. Os EUA chegam e dizem que decidiram "jogar" contra a China e que precisam urgentemente de estar na UNESCO, apesar de terem uma dívida enorme de 600 milhões de dólares. Os EUA dizem que poderão pedir ao Congresso que pague a sua anterior presença na organização, mas não há garantia de que isso venha a acontecer. Para mim, é algo energúmeno. Não excluímos que, para além da sinofobia inerente à diplomacia dos EUA, as considerações antirrussas tenham sido também um fator importante para o rápido regresso dos EUA. Neste contexto, esperamos um novo surto de "ucranização" na agenda dos órgãos diretivos da UNESCO, incluindo o seu Conselho Executivo. Não excluo nada num futuro próximo. Poderá haver todos os "milagres" nesse sentido.
Quanto à Rússia, temos uma posição tradicionalmente construtiva e despolitizada em relação à UNESCO que visa construir uma cooperação verdadeiramente multilateral, inclusiva e profissional num vasto leque de questões relacionadas com a educação, a ciência, a cultura, o desporto, a comunicação e a informação. Ao contrário dos anglo-saxónicos, não é nosso costume nem a tradição da nossa diplomacia agir "contra" alguém.