Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, à pergunta da revista “The International Affairs” sobre as iniciativas para a resolução do conflito na Ucrânia, 4 de agosto de 2023
Pergunta: Como o senhor disse em várias ocasiões, cada vez mais iniciativas surgem com vista a resolver a crise ucraniana. Ao mesmo tempo, as propostas apresentadas pelos países ocidentais só visam a promoção unilateral da "fórmula de paz" de Zelensky e não têm em conta as realidades "no terreno" nem os interesses da Rússia. Que problemas o senhor acha que daí decorrem?
Serguei Lavrov: Em relação às numerosas iniciativas para encontrar uma solução para a crise ucraniana, reafirmamos que valorizamos todos e quaisquer esforços para alcançar uma paz justa e duradoura. É evidente que nenhum conflito terá uma solução justa se os direitos das minorias étnicas não forem estritamente respeitados por todos. Tanto mais na Ucrânia, onde o idioma russo foi sempre a língua materna da maioria da população. O Ocidente está a fazer os possíveis para impor ao Sul Global a “fórmula de Zelensky”, exigindo que a situação volte às fronteiras de 1991. Mas ninguém em Washington, Londres, Paris ou Bruxelas disse uma só palavra sobre a sua atitude para com a posição repetidamente declarada em voz alta pelo regime de Kiev: "Vamos tomar de volta a Crimeia, o Donbass e as nossas outras terras" e "vamos destruir tudo o que é russo ali".
A necessidade de pôr termo a estas ameaças neonazis é óbvia. No entanto, as numerosas iniciativas “para a Ucrânia" silenciam esta questão. Enquanto isso, os direitos da população russófona continuam a ser violados de forma sistemática. Em julho passado, a administração ucraniana proibiu a utilização da língua russa no espaço artístico público (nas canções, espetáculos de teatro, filmes e outros eventos culturais). Alguém repreendeu o regime de Kiev?
Em contrapartida, novos e novos convites são enviados a Zelensky para fazer tournées internacionais. Porque é que os seus empresários ocidentais não lhe pedem que apresente publicamente à comunidade internacional outra "fórmula" sobre a forma como o atual regime de Kiev vê a situação dos russos e de outras minorias nacionais no seu país após a "vitória", para a qual a NATO e a UE não poupam despesas nem armas? Estou certo de que isso ajudaria muitos países do Sul Global, que não são indiferentes, a compreender melhor o que se está a passar e a elaborar as suas posições. Durante as numerosas discussões e negociações mantidas na segunda Cimeira Rússia-África, em São Petersburgo, ficámos convencidos de que eles estão interessados em compreender todos os aspetos da natureza da crise e perspetivas de uma saída para a mesma.
Os anglo-saxões e os seus aliados defendem os nazis de Kiev, silenciando e, nalguns casos, justificando as suas ações voltadas contra os direitos humanos e os direitos das minorias étnicas. Em vez de entabular uma conversa séria baseada no reconhecimento da evolução das realidades "no terreno" ao longo dos últimos dez anos, eles convocam fóruns encenados com o único objetivo de atrair o maior número possível de países para simular os debates da “fórmula de Zelensky”, segundo a qual a Rússia deve nada menos do que capitular, aceitar ter a sua segurança prejudicada e abandonar à sua sorte milhões de russos cujos antepassados viveram nestas terras durante séculos, desbravando-as, construindo nelas cidades, estradas e portos. Todos aqueles que o Ocidente está agora a cortejar para fazer passar a "fórmula de Zelensky" devem estar conscientes de que está em jogo o destino das pessoas, que o regime de Kiev promete publicamente exterminar.