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Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 22 de junho de 2022

1308-22-06-2022

Sobre futura participação de Serguei Lavrov no Conselho Ministerial do «Grupo dos Vinte»

 

Nos dias 7 e 8 de julho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Da Rússia, Serguei Lavrov, participará numa reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros do “Grupo dos Vinte” (G-20) sob os auspícios da presidência da República da Indonésia em Bali.

Esse formato vem ganhando peso consistentemente e tornando-se um importante mecanismo de coordenação das abordagens das grandes potências. A aspiração ao diálogo diplomático está a crescer num ambiente de tensão e confronto nas relações internacionais e de riscos crescentes para a economia global.

Deixe-me lembrar aquilo que muitos hoje em dia, provavelmente, não sabem. O “Grupo dos Vinte” surgiu como resposta à ameaça ao espaço económico global causada pelo colapso da economia norte-americana. Se se lembram bem, o colapso no mercado imobiliário dos EUA levou ao descalabro das bolsas de valores mundiais. Isso afetou economias soberanas e empresas transnacionais, empresas e pessoas comuns em todo o mundo. Como a economia e a economia mundiais poderiam vir a ser salvas e restauradas? Nenhum de formatos vigentes na época dava resposta a essa pergunta. Então a comunidade mundial decidiu criar um novo formato - o “Grupo dos Vinte”, projetado para encontrar respostas a perguntas que todos enfrentavam em pleno após as atividades económicas e atitudes irresponsáveis ​​dos Estados Unidos. Muito tem sido feito a favor dos esforços coletivos e conjuntos. Os Estados Unidos, como país, Estado e regime, não participaram na compensação dos custos que então vieram afetar mundo inteiro.

Desta vez, na discussão serão abordadas questões prementes do fortalecimento das bases do multilateralismo numa ordem mundial policêntrica, bem como a construção da segurança alimentar e energética. Espera-se que seja dada especial atenção à restauração do crescimento econômico, à eliminação das consequências da pandemia de coronavírus e à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no contexto da transição energética e da transformação digital.

O lado russo pretende reafirmar a importância do papel coordenador do “Grupo dos Vinte” no sistema de gestão global. Será enfatizada a necessidade de construir a cooperação interestatal com base na igualdade, levando em consideração os interesses de cada um, a resposta conjunta aos desafios e ameaças transfronteiriças. Apelamos aos nossos parceiros para que façam uma avaliação objetiva dos efeitos perniciosos e prejudiciais das sanções ilegítimas, da concorrência desleal, do protecionismo e da contenção artificial das perspetivas de emergência de novos centros económicos.

Observamos a agenda intensiva de reuniões bilaterais do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov. "À margem" do Conselho Ministerial já estão a ser preparados contactos do Ministro com os seus homólogos de vários Estados, nomeadamente da China, África do Sul, Brasil, México, bem como consultas com líderes de organizações internacionais convidadas.

A reunião do Conselho Ministerial tornar-se-á marco na preparação para a Cimeira dos Líderes do “Grupo dos Vinte” em 15 e 16 de novembro em Bali. Pretendemos dar uma contribuição eficiente para o difícil processo de negociação. Esperamos que o imperativo de chegar a acordos prevaleça sobre as considerações oportunistas individuais que claramente não se destinam a esse trabalho coletivo e conjunto. Vamos esforçar-nos por alcançar resultados práticos no trabalho do “Grupo dos Vinte” no decurso deste ano.

 

Por ocasião do 77º aniversário do Desfile da Vitória na Praça Vermelha

 

Há 77 anos, em 24 de junho de 1945, um desfile histórico ocorreu na Praça Vermelha em Moscovo para comemorar a vitória da URSS sobre a Alemanha nazista na Grande Guerra Patriótica.

Em 22 de junho de 1945, nos jornais soviéticos centrais foi publicada uma ordem do Comandante-em-Chefe da URSS, Iossif Estaline, № 370: “Por motivo da Vitória sobre a Alemanha da Grande Guerra Patriótica ordeno realizar, em 24 de 1945, na Praça Vermelha em Moscovo, o desfile das tropas do Exército, efetivos da Marinha de Guerra e da Guarnição de Moscovo”. Foi o Vice-Comandante Supremo, marechal de Vitória, Gueorgui Jukov, que depois de receber a capitulação das tropas nazis em 9 de maio, passou revista à parada militar enquanto o marechal da União Soviética, Konstantin Rokossovsky, comandou o desfile.

O evento contou com a presença de dez regimentos reforçados, representando todas as Frentes de Combate empenhadas na Grande Guerra Patriótica na fase final. Para a fabricação de estandartes de primeira linha, foram convidados de antemão especialistas das oficinas artesanais junto do Teatro Bolshoi. Centenas de fitas também foram feitas lá, coroando hastes do total de 360 ​​estandartes de combate.

No total, 24 marechais, 249 generais, 2.536 oficiais, 31.116 sargentos e soldados, que se distinguiram na batalha e receberam ordens e medalhas, participaram no desfile. Diante dos espetadores passaram 1850 unidades do material bélico.

Como parte do regimento misto da 1ª Frente Bielorrussa, os representantes do Exército polaco também marcharam pela Praça Vermelha. O comandante do 1º Exército Búlgaro, general V. Stoichev, figurou entre os comandantes do regimento misto da 3ª Frente Ucraniana.

A procissão foi acompanhada pela orquestra militar da guarnição de Moscovo, composta por 1.313 músicos.

O ponto culminante do desfile foi a passagem de uma coluna de soldados que carregavam 200 bandeiras e estandartes capturados do exército alemão derrotado. Esses estandartes foram atirados ao pé do Mausoléu ao rufar de 80 tambores.

Os soldados da linha de frente que participaram na Parada da Vitória foram os primeiros a receber a medalha “Pela Vitória sobre a Alemanha na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945”, aprovada em 9 de maio de 1945.

O desfile marcou a derrota do nazismo na Europa, evidenciando o triunfo do povo soviético e do Exército Vermelho. Desde 1995, nomeadamente a partir do cinquentenário da Vitória, os desfiles festivos no Dia da Vitória tornaram-se uma tradição que assinala a continuidade das tradições do povo e a memória imortal da façanha do povo.

 

O ponto da situação na Ucrânia

 

Oitenta e um anos depois do evento marcante, os militares russos voltam a lutar contra o nazismo, o neonazismo, com aquele mesmo fascismo empedernido (que, aparentemente, não foi liquidado naquela época), libertando a Ucrânia do domínio neonazista ali alimentado ao longo dessas décadas por "parceiros" ocidentais. Agora os nossos combatentes estão novamente a ser mortos por armas que hoje em dia são produzidas nos países da NATO. Deixe-me lembrar qual era o lema do Terceiro Reich "Drang nach Osten". Agora, na verdade, tornou-se o lema da aliança (eu não inventei isso, são que o dizem). Convém recordar as declarações dos representantes da UE, da NATO, feitas separada e coletivamente sobre o “campo de batalha”, dizendo ser impossível pensar em algo positivo relacionado com a Rússia, para não falar da vitória, bem como a sua negação do nazismo e do fascismo, a recolha de fundos e o envio de equipamentos militares para o leste de Bruxelas? Tudo isso no contexto de aproximação da infraestrutura militar da aliança para junto das nossas fronteiras que durou muitos anos.

Enquanto isso, os agrupamentos armados ucranianos, recuando do campo de batalha, têm organizado um verdadeiro terror contra a população civil. Mesmo agora, os seus curadores ocidentais não percebem a sua natureza nacionalista e misantrópica. Em Lisichansk (RPL), os neonazistas montaram fortalezas e depósitos de munição nas escolas. São escolas concretas, não são as de contas das redes sociais, retocadas, inventadas, coladas a partir de fotografias. São as escolas reais: nº 9, 14 e 28, também o jardim de infância nº6, são os prédios residenciais situados na rua Pobeda, em que eles instalaram posições de metralhadoras e atiradores. Veículos blindados, artilharia e MLRS estão colocados em áreas adjacentes aos edifícios. A evacuação de cidadãos das áreas perigosas não se faz de forma alguma, pelo contrário, os moradores são retidos à força. Uma situação trágica semelhante tem sido observada em outras povoações controladas pelo regime de Vladimir Zelensky - Privolny, Kramatorsk, Zaporozhye e muitas outras.

Verificam-se ainda casos da tomada deliberada de reféns para os colocar nas posições de nacionalistas ucranianos. Somente na fábrica Azot em Severodonetsk, de acordo com o Ministério da Administração Interna do RPL, 1,2 mil civis estão a ser retidos à força. Deste modo, a população civil está de novo a ser usada como "escudo humano". Aparentemente, tais práticas estão a ser atribuídas e ensinadas aos militares ucranianos a partir da sede da NATO.

Não é pelo primeiro ano que os neonazistas criam propositadamente as condições de vida insuportáveis ​​para a população das repúblicas de Donbass. As Forças Armadas da Ucrânia estão a destruir prédios residenciais, deixando as pessoas sem comida e água, remédios, luz e calefação. Seguindo os manuais de treinamento da NATO, eles deliberadamente não atacam alvos militares, mas se concentram em alvos civis.

De acordo com dados oficiais da RPD e da RPL, desde o dia 17 de fevereiro, quando ambas as repúblicas começaram a ser submetidas a bombardeamentos maciços das Forças Armadas da Ucrânia. Mais de 230 civis, incluindo 10 crianças, foram mortos, caindo vítimas dos ataques. Mais de 1.000 civis ficaram feridos, incluindo 66 menores. Mais de 5.000 prédios habitacionais, mais de mil instalações de infraestrutura civil, incluindo dezenas de instituições médicas e quase 200 de ensino, foram danificadas. Criminosos de guerra ucranianos dispararam mais de 50 mil munições de vários calibres sobre as cidades e aldeias do RPD e RPL, incluindo 47 mísseis Tochka-U, milhares de mísseis MLRS de vários calibres, incluindo Smertch (calibre 300 mm) e Uragan (calibre 220 mm), "Grad" (calibre 122 mm).

Obviamente, o regime de Zelensky não pretende parar as suas atividades criminosas. No entanto, isso tudo convém aos países do Ocidente que o empurram para essas coisas. Eles receberam uma oportunidade única de utilizar e descartar equipamentos militares obsoletos na Ucrânia, equipando os seus próprios exércitos com novas armas, proporcionando emprego às suas empresas militares, recorrendo a fraudes diversas: financeiras, materiais, etc.

Enquanto isso, na Ucrânia está a intensificar-se a repressão política contra dissidentes. Isso é feito nas piores tradições de regimes totalitários. A julgar pelas declarações do Ministro da Justiça ucraniano, D. Maliuska, até ao final do verão, Kiev fará a prática de confiscações em massa de empresas ucranianas aos cidadãos que, por uma decisão arbitrária das autoridades, se qualificam como simpatizantes da Rússia, sendo isso já uma norma cotidiana. Terá isso algo a ver com a legitimidade, a democracia, o liberalismo? Esta é a pior coisa que já aconteceu na história do mundo. Membros de alguns partidos políticos, da Plataforma de Oposição - Pela Vida e do Bloco de Oposição, que não apoiaram o golpe de 2014, já perderam os seus bens.

A política de ucranização forçada e perseguição de tudo o que é russo continua. Em 19 de junho, a Suprema Rada apoiou projetos-lei que proíbem efetivamente a apresentação de música russa nas ruas das cidades ucranianas, nas salas de concerto, nos estádios, no rádio e na televisão. O mais surpreendente é que o compositor infantil mundialmente famoso, natural de Kiev, V. Shainsky, também foi afetado por essas "medidas draconianas". Morreu em 2017, já não pode ver esse pesadelo. Ele não sabe ser impossível hoje interpretar canções infantis da sua autoria.   Em simultâneo, os livros, jornais e revistas da Rússia e da Bielorrússia estão proibidos de entrar no mercado ucraniano. Autores de língua russa são desalistados do curso de ensino da literatura mundial. Além disso, isso não é feito por decretos secretos ou confidenciais, tal é a posição pública do regime. A poetisa Anna Akhmatova, oriunda de Odessa, escreveu outrora: “Não é assustador estar morto sob o fogo de balas, não é doloroso ficar sem abrigo, por isso, vamos te proteger a língua russa, a grande palavra russa amiga”.

Tudo isso torna mais relevantes certas metas e objetivos estabelecidos pela liderança russa em relação à operação militar especial. Continuaremos a informá-los sobre o que está a acontecer nesta área.

 

Sobres ameaças à segurança alimentar global e fornecimento de cereais ucranianos aos mercados mundiais

 

Gostaria de comentar declarações, artigos e materiais estupendos que agora fazem parte da campanha informativa. Em foco figura a acusação do nosso país de criar ameaças à segurança alimentar global.

Ultimamente temos visto cada vez mais declarações lançadas por representantes ocidentais e, infelizmente, organizações internacionais, incluindo a ONU, sobre a ameaça de uma crise alimentar de larga escala devido à escassez de cereais e fertilizantes nos mercados mundiais, provocada por supostas ações da Rússia na Ucrânia. Tais acusações falsas pela sua natureza, tornam-se infelizmente uma tónica obsessiva de discursos proferidos por governantes norte-americanos e europeus, em relação aos quais é mister fazer recordar de novo as verdadeiras causas dos problemas que surgem.

Quanto à questão de bloqueio do transporte marítimo de cereais ucranianos, enfatizamos que o lado russo nunca impedira e não impede a exportação de cereais dos portos do Mar Negro da Ucrânia. De facto, a navegação segura nas águas territoriais ucranianas e o uso de portos são atualmente impossíveis devido ao alto risco de explosão de minas e à ameaça de bombardeamentos. Tudo isso foi criado por Kiev. De acordo com as informações disponíveis, as autoridades ucranianas instalaram cerca de 420 minas-âncora nos mares Negro e Azov, algumas das quais à deriva no mar, nos estreitos Bósforo e Dardanelos, nas águas costeiras dos Estados do Mar Negro, incluindo a Turquia e a Romênia. Além disso, Kiev bloqueou e retém 70 navios estrangeiros de 16 países em seis portos - Kherson, Nikolaev, Chernomorsk, Ochakov, Odessa e Yuzhny. É surpreendente, mas pouco tem sido dito sobre o facto de existirem pelo menos várias outras maneiras de deixar sair cereais do território da Ucrânia, inclusive por via férrea e fluvial. Nada é dito sobre as formas de fornecimento de armas ocidentais para o país.

A falta de lógica do que agora está a ser espalhado por todo o mundo sobre este tópico está no seguinte. Todo mundo refere-se ao facto de que nada (principalmente alimentos de cereais) pode ser retirado do território da Ucrânia por causa das ações da Rússia. Ao mesmo tempo, praticamente essas mesmas pessoas declaram todos os dias que fornecem armas para o território da Ucrânia, as entregam ao regime de Kiev. O armamento é «algo” material de grande porte, bastante pesado. Embora os volumes em que essas armas são fornecidas sejam comparáveis a uma enorme e colossal escala de transporte de cargas. Daí uma pergunta. O Ocidente terá possibilidades de importar armas à Ucrânia, mas, por algum motivo, ninguém conseguirá exportar nada do território da Ucrânia? Vejam-se fotos e imagens a circular pelas redes sociais em que filas de camiões, obviamente carregados de alimentos, atravessam a Europa no momento em que estão a abandonar o território da Ucrânia ou descarregando produtos vindos do território da Ucrânia numa ou outra região da UE. Como é que tudo isso se combina? Como é que tais coisas absolutamente contraditórias são mencionadas pelos mesmos políticos ocidentais permanece mistério. Na minha opinião, é impossível compilar mensagens falsas como essa e culpar alguém pelos problemas que eles mesmos criam. Como podemos ver, eles conseguem.

Por sua vez, os militares russos criaram condições necessárias para realizar uma operação segura de dois corredores marítimos humanitários: no Mar Negro para saída dos seis portos ucranianos na direção sudoeste das águas territoriais e no Mar de Azov para sair na direção do Mar Negro. Hoje é possível utilizar os portos de Mariupol e Berdyansk para a exportação de produtos agrícolas. Além disso, confirma-se a disponibilidade da Rússia de ajudar a garantir a exportação livre de cereais ucranianos por navios estrangeiros, desde que sejam sujeitos ao controlo de contrabando de armas e haja recusa de Kiev de provocar, criar ameaças de minagem e a tensão no Mar Negro.

Falando das questões de segurança alimentar, vale a pena lembrar que, desde o início de 2020, os preços de alimentos e energia aumentaram significativamente no contexto da pandemia de coronavírus, além de fenômenos climáticos adversos e, principalmente, aos erros nos cálculos sistémicos nos setores financeiro e económico dos países ocidentais. As dificuldades que surgiram a este respeito nos mercados mundiais (aumento das taxas de frete e seguro, interrupções nas ligações de transporte). Isto para não dizer mais. Ao colapso causado pela logística de transporte acresça o colapso do sistema de seguros causado pela pandemia. A isso foram adicionadas todas as sanções unilaterais.

Tudo isso e, em primeiro lugar, as sanções unilaterais impostas por Washington, e, sob a sua pressão, pela UE, agravaram a situação ao extremo. Eu chamaria isso não tanto de sanções unilaterais, mas de uma cruel e pungente campanha sancionária, desencadeada contra o nosso país. A violação do sistema de pagamentos e da logística de transporte, de fornecimentos, o fechamento de portos estrangeiros para cargas russas e a proibição de entrada em portos russos, ameaças de detenções em massa dos navios para o transporte de carga seca e a recusa de segurá-los - esta é apenas uma lista superficial das consequências destrutivas da política de sanções, porque tudo isso vem frustrar quaisquer possibilidades de exportar alimentos e fertilizantes para os mercados mundiais. Eles devem comparar os regimes ocidentais, as suas ações com a visão e a perceção desses atos pela comunidade mundial. Eles estão bem cientes de que, mesmo que consigam, de alguma forma, enganar o público em geral, existem estruturas especializadas em países independentes, como o Ministério da Agricultura, o Ministério da Indústria e Comércio, o Ministério dos Transportes, que entendem que os regimes ocidentais estão a fazer a fim de bloquear completamente o continente europeu e impedir a menor possibilidade de restabelecer a atividade económica normal. Isso tem provocado não apenas problemas com a comida, mas também leva aos demais problemas. Porque isso está a ser feito?

Face a esse pesadelo em curso, os representantes ocidentais referem-se declarativamente a isenções humanitárias para produtos agrícolas, que na verdade são anuladas por medidas duras para controlar o cumprimento de sanções anti-russas, até incluindo castigos penais com o efeito concomitante de intimidação.

Ou seja, por um lado, dizem ser preciso minimizar a ameaça à segurança alimentar e, por outro, fazem de tudo para criá-la, bloqueando a logística de transporte, o sistema de pagamentos financeiros, punindo fornecedores e todos aqueles com quem estão a cooperar nesse sentido. Para que isso serve? O objetivo é óbvio - isolar e causar danos máximos à economia russa, ao continente europeu (isso agora é óbvio). Isso deve ser reconhecido, sendo, pois, um dos objetivos de Washington e do atual governo. Eles nem sequer pensam em consequências inevitáveis ​​para a economia mundial e em avultados gastos em outros países. Washington sempre se considerou excecional e colocou os seus próprios interesses acima de tudo. É assim que eles fazem desta vez também.

Por nosso turno, reafirmamos a nossa disposição de continuar a cumprir as nossas obrigações de exportação de cereais, fertilizantes, recursos energéticos e outros produtos vitais. Até ao final do ano, poderemos fornecer cerca de 25 milhões de toneladas de cereais e pelo menos 22 milhões de toneladas de fertilizantes para os mercados mundiais.

Apesar da pressão sem precedentes através das sanções, continuamos o fornecimento de alimentos por via de canais bilaterais e a prestação de assistência alimentar aos necessitados através do Programa Mundial de Alimentos (PAM), em particular ao Iêmen, Quirguistão, Líbano, Sudão, Tadjiquistão e Cuba.

Com base nisso, apelamos aos representantes dos países ocidentais e da ONU a se absterem de acusações infundadas e a investigarem as verdadeiras causas da atual situação de crise, provocada principalmente por suas próprias ações míopes e viciosas.

Observo como os regimes ocidentais estão agora a fazer reservas de alimentos. Uma pergunta: eles não se vão engasgar, de boca cheia, a bradar aos quatro ventos que o mundo está a morrer de fome? Tudo está bem? Não têm remorsos?

 

Sobre o novo endereço da Embaixada dos EUA na Rússia

 

A Embaixada dos EUA na Rússia recebeu um novo endereço oficial. Agora, a missão diplomática dos EUA tem um endereço seguinte: Moscovo, Praça da República Popular de Donetsk, casa №1, prédios 1–9.

A iniciativa de perpetuar a memória dos defensores de Donbass no mapa da cidade partiu de deputados da Duma (parlamento) da cidade de Moscovo. Vimos como a Embaixada dos EUA apoiou totalmente essa iniciativa. Agradecemos aos diplomatas norte-americanos a sua atenção, o apoio e a publicidade relacionados com essa ação. Ao mesmo tempo, o governo de Moscovo recebeu inúmeros apelos de cidadãos com várias variantes do nome. A contribuição da missão diplomática norte-americana em forma de consulta gratuita foi inestimável. Obrigada. Escrevam mais.

Os habitantes da capital russa falaram muito sobre o nome no âmbito do projeto “Cidadão Ativo”. Cerca de 45% dos 278.684 participantes votaram na opção vencedora.

Espero que os Estados Unidos não adiem, doravante, o reconhecimento das jovens repúblicas de Donbass. O potencial lá é excelente, as potencialidades industriais também, para não falar do pessoal. A todos os desejosos aconselho escrever cartas para o novo endereço.

 

Sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: Na semana passada, os líderes da Alemanha, França e Itália visitaram Kiev, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, após a visita, anunciou que a União Europeia e a Alemanha, em particular, continuariam a armar as Forças Armadas da Ucrânia. Até quando essa orgia com armas vai continuar?

Maria Zakharova: Eles não escondem os seus objetivos. Não se pronunciam pela paz, por negociações, via diplomacias, mas pela solução da questão no "campo de batalha". Eles são bastante francos nesse sentido. Outra coisa é que eles são contraditórios. Em palavras e declarações têm defendido o direito internacional, mas na realidade estão engajados em coisas completamente diferentes.

Entendemos essa posição e levamos em consideração. Enquanto têm ainda reservas nos seus arsenais, é melhor perguntar a eles próprios. Tirámos as conclusões. Historicamente, a União Europeia já tem o seu papel traçado. Aqui, parece-me, não há ninguém para culpar. Já não se trata de erros ou erros de cálculos, dos quais ainda se podia falar durante oito anos, quando, infelizmente, falharam na sua missão de mediadores na resolução da situação interna ucraniana. Agora não estamos a falar mais das falhas cometidas pela União Europeia e regimes ocidentais relativas às estimativas, mas da sua política agressiva intencional.

Pergunta: Como avaliaria a preparação por Londres de uma lei sobre menosprezo das decisões do TEDH?

Maria Zakharova: Como se correlacionam a Grã-Bretanha e os direitos humanos? Nem valeria a pena raciocinar. Tudo isso é um palavreado manifesto e declarativo. Veja o que está a ser feito. Há um grande número de exemplos na história recente quando cidadãos de estados soberanos eram aniquilados, como no Iraque. A Grã-Bretanha desempenhou um papel importante nisso. Há exemplos de estrangulamento não apenas e não tanto de direitos humanos, mas da destruição da individualidade. Julian Assange que durante muitos anos, por ordem dos Estados Unidos da América e pelas mãos da Grã-Bretanha, esteve preso, foi destruído como pessoa. Embora os Relatores Especiais da ONU qualifiquem isso como tortura. Nenhuma pessoa deve, em teoria ou na prática, ser submetida ao que uma pessoa foi submetida apenas por uma coisa - porque ele tinha uma ilusão de que, estando no território desses regimes ocidentais muito liberais, pudesse usar as suas próprias leis e as suas próprias declarações sobre o primado da liberdade de expressão e a proteção dos direitos dos jornalistas. Devido a essa errônea ilusão de que tudo funcionasse conforme, ele pagou não apenas com a sua saúde, mas com a sua vida.

Entendo que esta é a relação da Grã-Bretanha com uma instituição internacional, mas será muito interessante para mim assistir a isso. Vejamos formulações.

Os nossos jornalistas, por exemplo, foram pura e simplesmente expulsos do seu espaço informativo e mediático. No início, os jornalistas russos e a comunicação social haviam sido alvo de perseguições e depois acabaram por ser desligados e apartados. Além disso, foram alvo de uma brutal campanha de difamação. Tal é a atitude do Ocidente para com os direitos humanos e as liberdades fundamentais.

Pergunta: Em relação ao convite da Ucrânia para a União Europeia. Por um lado, a Rússia não parece se importar, porque a UE é vista como uma "organização económica". Por outro lado, Serguei Lavrov, em entrevista à NTV em 16 de junho deste ano, disse que a UE é um projeto geopolítico, que os EUA esmagaram Bruxelas “com o próprio peso". Estaria em vias de se formar uma espécie da "União Euro-NATO"?

Maria Zakharova: Não vejo contradições. Todos os tipos de integração económica são ótimos quando se trata da economia e das finanças. Tudo é completamente diferente quando a economia começa a ser “dirigida” a partir de centros políticos ou baseada na conjuntura. Então deixa de ser economia, transforma-se em economia política. Claro que a geopolítica, a economia, os interesses nacionais estão interligados, mas não deve haver ditadura. Ora devem existir algumas democracias liberais, ora haver regimes totalitários. Sob uma democracia liberal – há primado da lei e a liberdade, e sob um regime totalitário – as atitudes políticas que dominam e predominam o resto. As suas tarefas económicas são ideologicamente incompatíveis com as ações deste ou daquele país no mundo. Isso é certamente possível. Só é preciso agir com base na lei, nas obrigações jurídicas internacionais, que, segundo as suas declarações, são algo sagrado para eles. Quando a política de Estado é construída desta forma, então é possível dizer que graças à inaceitabilidade política ou ideológica da parte da UE e às ações deste ou daquele país, seriam introduzidas certas medidas, estruturando-se, desse jeito, a sua atividade económica. Tudo tem de ser alicerçado na lei. Se o “látego” exclusivamente político (não necessariamente interno, mas que fique do outro lado do oceano), for uma ferramenta dominante, servindo do imperativo e de meio de manipulações, então já não podemos falar da economia.

Um convite à adesão (ou, como foi dito, “associação a membros”) está amplamente ligado não à realidade económica objetiva, não ao potencial ou ao desenvolvimento económico, mas à situação política. Não há sequer critérios que os próprios membros da UE possam oferecer ao público para explicar os seus próprios passos. Caso contrário, eles contradizem os critérios declarados há seis meses ou um ano, segundo os quais uma decisão positiva foi recusada ou, pelo contrário, uma decisão positiva foi tomada em relação a outros Estados. Mas os critérios devem ser os mesmos, inalteráveis. De qualquer modo, isso não parece uma tonalidade política, uma configuração qualquer, mas se assemelha à manipulação. Por outro lado, eles não escondem isso, e, por conseguinte, chamam aquilo em que pretendem viver, de uma “ordem mundial baseada em regras”, em constante mudança conforme o jogo avança, e não na lei que não muda em consonância com as regras políticas.

O convite para ingressar na União Europeia deixou de ser algo previsível, lógico e baseado em indicadores objetivos do desenvolvimento da economia, social, jurídica e outras esferas dos Estados europeus. A atual liderança antirrussa das estruturas europeias rejeita e negligencia os critérios claramente declarados e consignados nos seus documentos. Eles também se contradizem. Em que se baseia a UE nas suas ações? Onde está esse “conjunto de regras de ouro”, tábuas que alguém poderia conhecer? A impressão é que os principais critérios são a russofobia e um juramento antirrusso que deve ser prestado em Bruxelas. Depois, há de surgir novas promessas, infinitas possibilidades expressas em palavras destinadas para candidatos, afiliados para a futura filiação comunitária. Tudo isso é uma manipulação e fraude.

Na fase atual da "evolução" da União Europeia, as decisões começaram a ser tomadas com base em considerações oportunas, no quadro de uma política de expansão, desenvolvimento de novos espaços e expansão das "esferas de influência" na Europa, e não à base de verdadeiros critérios económicos. Tudo isso leva a crer que a UE esteja cada vez menos atenciosa aos interesses fundamentais dos Estados que são membros ou candidatos. O desenvolvimento socioeconómico, a integração profunda e a prosperidade pacífica deixaram de ser diretrizes para a associação em rápida militarização. Os objetivos e métodos da UE já são dificilmente distintos dos que se aplicam na NATO. Eles falam sobre a comunhão de ideias e pensamentos. Contudo, a União Europeia está a perder a sua identidade, fundamentalmente pervertida, tornando-se um instrumento geopolítico nas mãos dos Estados Unidos. Os norte-americanos, por sua vez, estão a sacar e esgotar os recursos financeiros e económicos dos Estados europeus e dos europeus comuns para "conter" (segundo afirmam) a Rússia. Nos últimos anos, a Casa Branca tem pressionado Bruxelas e a direciona para confronto com outros países. Não somos os únicos. O processo abrange a China. Isso enfraquece diretamente o continente europeu que gasta os seus recursos ou, em princípio, desiste de recursos só para "agradar" a Washington.

Tudo isso afeta o prestígio da UE como ator independente. Não lhe permite realizar-se independentemente.

Pergunta: Em vésperas da cimeira do grupo BRICS, a China apresentou o primeiro relatório abrangente sobre o desenvolvimento global. Aponta, em particular, para o surgimento de novas economias e países em desenvolvimento nos próximos anos, da redistribuição da economia mundial, da aceleração da reestruturação do sistema de gestão global, que dará aos países emergentes e às novas economias um novo impulso para o desenvolvimento e a oportunidade de elevar a sua voz. Como iria classificar este relatório no seu conjunto? Que papel, em sua opinião, os BRICS podem desempenhar nesse processo de reestruturação do sistema de gestão global?

Maria Zakharova: Eu gostaria de chamar a sua atenção para o facto de que este tópico foi descrito em detalhe em entrevista do Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Ryabkov, que ele deu à sua corporação em 21 de junho deste ano.

Posso repetir que o grupo BRICS reúne cinco países que são líderes nas suas respetivas regiões. Isso já demostra o seu potencial significativo na formação da agenda internacional. Na verdade, essa associação foi criada justamente para promover a formação de um sistema de gestão global mais democrático e representativo, inclusive, fortalecendo a voz dos países em desenvolvimento na resolução das questões-chave da agenda internacional. Hoje, os BRICS, de facto, atuam como defensores consistentes das abordagens coletivas para resolver os problemas atuais urgentes, formando um guardião do verdadeiro multilateralismo (já o introduzimos como um termo), que se baseia no direito internacional, no respeito dos interesses e a escolha soberana pelos Estados do seu próprio caminho de desenvolvimento.

A população dos nossos países é superior a 3 bilhões de pessoas (cerca de 42% da população mundial), território abrange cerca de 30% do globo. O “quinteto” conta com reservas impressionantes de recursos naturais. A sua importância na economia mundial está em constante crescimento. Segundo estimativas do FMI, até ao final de 2021, o PIB dos países-membros do BRICS, em termos de paridade do poder de compra, chegaria a um total de 45,5 trilhões de dólares, deixando para trás o “G7”. Esses números atestam eloquentemente o papel global dos BRICS.

O «quinteto» deve tornar-se um dos "pilares" da nova ordem mundial. Pode desempenhar um papel de liderança no que se refere a respostas aos desafios e ameaças. Isso inclui ameaças de terrorismo e crimes transnacionais, incluindo o uso ilegal de novas tecnologias, o aumento do número de conflitos, as mudanças climáticas e outros fatores.

No âmbito do BRICS, já se formou uma arquitetura ramificada de interação. Permitam-me mencionar o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), cuja carteira de empréstimos já ultrapassou os 29 bilhões de dólares. Foi lançado o processo de aumento do número de membros do NDB, o que indica o papel global desse mecanismo. Em particular, foi tomada a decisão de integrar no NDB o Bangladesh, os Emirados Árabes Unidos, o Uruguai e o Egito. Está a ser efetuado um diálogo para aumentar o papel da moeda nacional nas transações e criar mecanismos de pagamento eficazes.

Ao mesmo tempo, o BRICS declara-se aberta ao mundo, manifesta a prontidão de levar em conta os interesses de uma ampla gama de Estados, principalmente dos países em desenvolvimento. A associação está determinada a aprofundar o diálogo com parceiros externos, inclusive no âmbito de mecanismos “outreach” e BRICS+. Em particular, foi recentemente realizada a reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros neste formato (19 de maio de 2022 no formato on-line). E em 24 de junho deste ano, como parte da cimeira do BRICS, está programado um diálogo de alto nível com a participação dos líderes de vários países em desenvolvimento. Estamos interessados ​​em construir conjuntamente um sistema mais justo, livre do paradigma neocolonial, da desigualdade e de duplos critérios.

Lemos com interesse o Relatório de Desenvolvimento Global divulgado na segunda-feira pelo Centro de Conhecimento da China. Avaliamos positivamente o seu conteúdo e os esforços de Pequim no sentido de promover a implementação da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. Na conturbada conjuntura internacional atual, devem-se acolher apenas iniciativas que visem não introduzir restrições artificiais e fragmentar o espaço económico internacional, mas estimular e aprofundar ainda mais os processos de integração.

Estamos prontos para estreitar a coordenação com parceiros chineses nesta área em várias plataformas internacionais, incluindo a ONU e os BRICS.

Pergunta: A vice-secretária de Estado dos EUA para os Assuntos Europeus e Eurasiáticos, Karen Donfried, disse em entrevista durante a sua visita ao Cáucaso do Sul que os Estados Unidos apoiam o processo de copresidir o Grupo de Minsk, considerando esse formato muito importante e estão prontos para continuar a cooperação com a Rússia no âmbito do Grupo de Minsk da OSCE. Como avaliaria a declaração do Secretário de Estado dos EUA sobre a prontidão para a cooperação? Qual é a posição da Rússia como um país co-presidente neste formato?

Maria Zakharova: Permito-me duvidar da sinceridade da afirmação de Karen Donfried. Se Washington e Paris considerassem realmente importante o formato único de mediação da copresidência do Grupo de Minsk da OSCE, não se permitiriam descurar o mandato aprovado por todos os Estados participantes, rompendo de forma desafiadora os contactos com o co-presidente russo do Grupo de Minsk em 24 de fevereiro deste ano sem quaisquer consultas. Desta forma, o trabalho da Troika sofreu danos irreparáveis ​​em muitos aspetos. Agora eles estão a dizer coisas assim. Nenhuma explicação clara das razões para este passo ultrajante ainda foi recebida. Da mesma forma, não há garantias de que tais atos irresponsáveis ​​não se repitam. Fingir que nada aconteceu não vai dar certo. Novas realidades terão que ser levadas em conta. A aposta foi feita no facto de que estaríamos “imersos” no isolamento, mas novamente eles calcularam mal, falharam com o seu conceito, isolaram-se de nós num momento em que o mundo exterior não se limita apenas ao euro-atlântico.

O lado russo, como ninguém, está interessado em normalizar as relações entre o Azerbaijão e a Armênia e não pode permitir que as medidas politizadas de atores externos individuais prejudiquem os já difíceis esforços para restaurar a paz e a estabilidade na região. Continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para cumprir incondicionalmente as obrigações e tarefas estabelecidas nas declarações dos líderes da Federação Russa, da República do Azerbaijão e da República da Armênia de 9 de novembro de 2020, 11 de janeiro e 26 de novembro de 2021.


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