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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, São Petersburgo, 15 de junho de 2023

1179-15-06-2023

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

No dia 12 de junho, as novas regiões russas celebraram pela primeira vez o tão esperado Dia da Rússia. Os seus habitantes têm, de facto, muito a celebrar. Podem finalmente exprimir livremente as suas opiniões, falar a sua língua materna, formalizar documentos e sentir-se em casa. Como afirmou o Presidente da Câmara Municipal de Mariupol, Oleg Morgun, o Dia da Rússia é um dos feriados mais importantes para os habitantes de Mariupol, que sonham em fazer parte da Rússia desde 2014. Gostaria de recordar ao público estrangeiro (todos os habitantes do nosso país sabem) que a população do Donbass havia expressado a sua opinião sobre o seu futuro há muitos anos, após os acontecimentos de 2014. Nessa altura, os resultados dos referendos realizados na região foram tidos em conta. Por conseguinte, quando nos dizem hoje que os referendos são ilegítimos e que se trata de coisas oportunistas, isso não é verdade. Primeiro, os habitantes do Donbass expressaram a sua opinião em 2014 e, depois, lutaram de armas na mão durante oito anos para defender o seu direito de decidir livremente o seu futuro. Agora, as áreas residenciais e as instalações sociais - escolas, jardins de infância e hospitais - estão a ser reconstruídas. A Universidade de Mariupol reabrirá as suas portas a 1 de setembro, no início do próximo ano letivo. Em breve, haverá um parque tecnológico no lugar da fábrica “Azovstal.

A adesão à Rússia deu às novas regiões uma liberdade real, e não imaginária. A Região de Kherson tem atualmente três línguas oficiais:  russo, ucraniano e tártaro crimeano, podendo os três idiomas sido utilizados não só para a comunicação, mas também para a formalização de documentos. Há quem afirme que “teríamos fantasiado que a língua russa se deparava com os problemas na Ucrânia, na verdade, a língua russa podia ser livremente falada em todas as regiões da Ucrânia". Não, não é verdade. Era possível falar livremente até um certo ponto, com o tempo, os meios de comunicação social começaram a quotizar o uso da língua russa nos seus programas. Quanto à formalização e movimentação de documentos, não havia opções para a língua russa. A Rússia tem e terá sempre como prioridade a proteção dos seus valores culturais, históricos e espirituais. As novas regiões da Rússia receberão tudo o que se entende pelo apoio humanitário. Em consequência da destruição da Central Hidroelétrica de Kakhovka devido aos prolongados bombardeamentos efetuados pelas forças armadas ucranianas, 36 povoações da Região de Kherson foram inundadas. Não vou citar todas as informações disponíveis, podem ser consultadas nos portais do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Toda a cronologia dos bombardeamentos da Central Hidroelétrica de Kakhovka pelas forças armadas ucranianas foi elaborada especialmente para aqueles que dizem que isto nunca aconteceu e que nenhuma unidade armada ucraniana atacou a Central Hidroelétrica de Kakhovka. Publicámos uma cronologia de ocorrência dos bombardeamentos, especificando as armas utilizadas para o efeito, para aqueles que gostam de fazer vista grossa aos factos reais. A partir de agora vamos divulgar estes factos e não será mais possível deixá-los passar despercebidos. Durante todos os últimos dias, uma grande operação humanitária foi realizada nesta região russa. Os bombeiros russos resgataram quase duas mil pessoas, entre as quais centenas de crianças. É sobre a questão dos tribunais inventados e mandados de captura emitidos a pedido do regime de Kiev contra o nosso país sob a acusação de não estarmos a cuidar das crianças e a violar os seus direitos. Já viram imagens do que acontece após a inundação das povoações causada pela destruição da Central Hidroelétrica de Kakhovka? Terão os autores deste feito pensado nas crianças? Elas estão lá. E são muitas. Não lhes foi dado tempo para se prepararem para este evoluir dos acontecimentos. De que tribunal penal internacional e dos seus procuradores pode tratar-se quando, diante dos seus olhos, se desenrola a tragédia das pessoas que fogem ao regime de Kiev, que tem destruído sistematicamente as infraestruturas civis de ano para ano. Ninguém podia discipliná-lo até que a Rússia passou à fase ativa em fevereiro de 2022.

Gostaria de chamar a vossa atenção para o facto de que o regime de Kiev bombardeou sistematicamente a Central Hidroelétrica de Kakhovka (publicámos um cronograma detalhado dos seus crimes), ano após ano, destruiu infraestruturas civis nos territórios sob o seu controlo, na Crimeia e nas suas proximidades. Não houve tentativas do regime de Kiev de fazer explodir postes de alta tensão? Houve. A comunidade ocidental fez vista grossa. Cortar as vias fluviais usadas para o abastecimento de água da Crimeia não é destruir ou bloquear infraestruturas civis vitais? Lembram-se de como o regime de Kiev bloqueou as linhas férreas para impedir que as cargas chegassem ao Donbass? Não foi isso que aconteceu? Só depois de isso ter acontecido, a fase ativa começou.

O que foi perpetrado não pode ser qualificado de ato de sabotagem. Este é um ato de extremismo e terrorismo. Mais de seis mil pessoas foram retiradas. Os números estão constantemente a ser atualizados. Estou a citar os números dos últimos dois ou três dias, mas estes dados continuarão a ser atualizados. Cerca de 75 toneladas de alimentos e 30 toneladas de água engarrafada foram feitas chegar às áreas inundadas. É só neste momento que a Rússia está a fazer isso, salvando pessoas? Claro que não. Durante todos estes anos, a Rússia enviou comboios humanitários ao Donbass. Naquela altura, jornalistas ocidentais, em particular o The Guardian, escreveram, publicando fotografias dos camiões cobertos com película branca, que a Rússia transportava, dentro dos veículos, carros de combate para o Donbass. Estes foram os primeiros comboios de ajuda humanitária. Depois, a prática de envio de ajuda humanitária se prolongou por muito anos. Não imaginam quantas cargas foram transportadas lá para apoiar a população civil e as crianças. Quem é que na comunidade internacional pensou nas crianças do Donbass naquela altura? Ninguém. Agora decidiram que é preciso emitir um papelzinho intitulado “Cuidados para com as crianças”. Em Novaia Kakhovka, mais de 50 mil metros cúbicos de água foram retirados das casas e instalações infraestruturais inundadas. Os habitantes da cidade estão a começar a regressar às suas casas. Enquanto a Rússia faz tudo o que está ao seu alcance para resgatar os habitantes das zonas atingidas e fornecer-lhes todo o necessário, o regime de Kiev continua a bombardear instalações civis. No passado dia 10 de junho, os militares ucranianos bombardearam um ponto de evacuação na Arbatskaia Strelka, na Região de Kherson. Uma mulher foi morta. Foi um ataque com mísseis britânicos Storm Shadow. O ataque foi efetuado deliberadamente. Não se tratou de um acidente ou de um engano, mas de um extermínio deliberado de pessoas. Anteriormente, os militares ucranianos haviam disparado mísseis semelhantes contra um centro de férias infantil no distrito de Guenichek, na Região de Kherson. A responsabilidade por estes crimes recai sobre o regime de Kiev e os seus patrocinadores ocidentais.

Milhares de militares ucranianos estão a ser mortos numa contraofensiva mal sucedida das forças armadas ucranianas. No entanto, o regime de Kiev não se importa com estas perdas. Tem um objetivo diferente: demonstrar ao Ocidente, antes da cimeira da NATO em Vilnius, nos dias 11 e 12 de julho, que a sua ajuda militar não foi à toa. Tudo isto faz parte de uma campanha de informação e política orquestrada pelo Ocidente.

Por outro lado, os “orquestradores” ocidentais estão a apressar Vladimir Zelensky, confirmando assim que estão envolvidos no conflito. A 12 de junho, o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou: "Aumentámos as entregas de armas e munições, veículos blindados e também aumentámos o apoio logístico. De acordo com o calendário que anunciei [a Vladimir Zelensky], continuaremos a fazê-lo nas próximas semanas. E este homem se atreve a falar de planos de paz e de resolução do conflito? Ou a mão direita não sabe o que a esquerda anda a fazer, ou é mentira. Penso que o mundo inteiro compreende que a segunda hipótese é a mais certa.

Os EUA também estão a deitar azeite no fogo. Naquele mesmo dia 12 de junho, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que Washington estava determinada a continuar a dar o maior apoio possível à Ucrânia para que esta pudesse ter sucesso "no campo de batalha". É absurdo e estúpido. Coisas absolutamente ilógicas do ponto de vista de uma pessoa sensata, ou pelo menos de uma pessoa capaz de analisar a situação. Mas eles têm um objetivo diferente (que já foi expresso muitas vezes pelo senador Lindsey Graham e por George W. Bush): "matar o maior número possível de russos", não fazendo, contudo, estatística de quantos ucranianos morrem no campo de batalha. Para eles, os ucranianos são material dispensável. Não os consideram, de todo, pessoas. Antony Blinken prometeu um novo e impressionante pacote de ajuda política e militar. Segundo a lógica perversa dos ocidentais, o fornecimento de armas e o incitamento às hostilidades "conduzem à paz". Ou seja, segundo Antony Blinken, para que as negociações de paz comecem, milhares de soldados ucranianos têm de morrer a tentar matar o maior número possível de russos. É como eles entendem a "paz", a "justiça" e a "verdade". Em nenhum dos piores, mais enganadores e mais tenebrosos mitos podem ser encontradas coisas como estas. Nenhum realizador de um filme de suspense chegou até onde chegaram os "orquestradores” políticos da Casa Branca.

Enquanto isso, o regime de Kiev, empenhado em agradar ao Ocidente, continua a rejeitar todas e quaisquer hipóteses de negociação. Gostaria de recordar a todos aqueles que não se cansam de nos abordar para saber a nossa reação às iniciativas de paz. O regime de Kiev aprovou uma lei que proíbe todas e quaisquer hipóteses de negociação.

Não acho haver no mundo um precedente de um governo aprovar uma lei que o proíba de realizar negociações com outros países. Foi o que aconteceu na Ucrânia. O conselheiro do chefe do gabinete presidencial ucraniano, Mikhail Podoliak, afirmou, a 11 de junho passado, que "não havia bases indonésias, brasileiras ou africanas para iniciar negociações". Segundo ele, as conversações “não teriam sentido, seriam perigosas e mortíferas para a Ucrânia e para a Europa". Estão a ver esta lógica? Já estamos habituados a ela, nos seus países os homens são chamados de mulheres e vice-versa, e as crianças são qualificadas como sendo do gênero neutro. Penso que esta lógica também tem razões de ser lá. Mas num mundo onde existem constantes confirmadas historicamente, esta lógica é absurda e contrária à lógica.

No dia 11 de junho, no dia de Todos os Santos, no Mosteiro de Kiev-Pechersk, que foi retirado descaradamente pelas autoridades ucranianas aos crentes e monges ortodoxos e entregue à Igreja Ortodoxa da Ucrânia, os cismáticos celebraram missa de réquiem pelo hétman ucraniano Ivan Mazepa. Talvez valesse a pena deixar este assunto com os religiosos, se o contexto histórico e factual não fosse tão importante neste caso. Vou recordar-lhes. Quem foi Ivan Mazepa para ser homenageado hoje com o toque dos sinos do Mosteiro de Kiev-Pechersk? Para todos os russos e ucranianos, ele é, desde sempre, um símbolo de traição. Há 300 anos, a Igreja Ortodoxa Russa anatematizou-o por ter quebrado o juramento sobre a cruz e o Evangelho, feito ao czar russo, e por ter feito um juramento ao rei sueco Carlos XII, por ter permitido a entrada de suecos no nosso país que destruíram as nossas igrejas e profanaram os nossos lugares santos. Conseguem imaginar o mundo em que vivemos? E agora vão abrir um museu dedicado a este homem no território do Mosteiro de Kiev-Pechersk. Não estou a brincar. Estes são os objetivos declarados do regime ucraniano. Para os atuais nacionalistas e neonazis ucranianos, Ivan Mazepa é um herói, tal como o nazi Stepan Bandera. Após o que o regime de Kiev fez com a Igreja Ortodoxia na Ucrânia, apelidando-o de "cisma” ou de "separação”, é bem possível que tenha, em breve, a ideia de sagrar santo Ivan Mazepa. Estou certa de que, daqui a pouco, haverá propostas do gênero. Como resultado, Mazepa será proclamado mártir ou passará a ser venerado como herói e santo do regime de Kiev.

Foi anunciado o projeto de abertura de um museu de Ivan Mazepa no Mosteiro de Kiev-Pechersk, um lugar sagrado para os cristãos ortodoxos. Os funcionários de Kiev encontram as personagens mais desprezadas para a veneração na "lixeira” da história. O que está a acontecer agora está de acordo com a previsão feita pelos nossos antepassados: "temei os tempos em que haverá substituição de noções". Essa época chegou. Os canalhas, os patifes e os traidores estão a ser colocados nos pedestais no lugar dos verdadeiros heróis do povo e da história. Pode ser que uma das respostas ao porquê o regime de Kiev detesta tanto o poeta russo Aleksandr Pushkin seja o facto de ele ter escrito o poema Poltava, onde descreveu Ivan Mazepa do seguinte modo:

Nada é sagrado para ele,

Ele não se lembra da bondade,

Ele não ama nada,

Ele está pronto para derramar sangue como água,

Ele despreza a liberdade,

Não tem terra natal.

Foi deste modo que Aleksandr Pushkin descreveu Ivan Mazepa. Não acham que o mesmo pode ser dito sobre Vladimir Zelensky e todos aqueles que estão atualmente à frente da Ucrânia? Isso pode ser dito sobre cada um dos elementos do seu gangue. Eles não têm terra natal, eles associam-se a uma coisa: ao dinheiro. Eles não têm terra natal, nem tradições, nem história, nem sequer os antepassados que não só lhes deram origem como os criaram. Eles traíram os seus antepassados que lutaram na Segunda Guerra Mundial (na Grande Guerra Patriótica) de armas na mão ou foram vítimas dos ataques nazis. Insultar os sentimentos dos ortodoxos e perseguir os clérigos faz agora parte da política de Estado da Ucrânia, se o termo de política de Estado pode ser aplicado ao que o regime de Kiev está a fazer. Um sacerdote ortodoxo, o Padre D. Sidor, está atualmente a ser julgado na Transcarpátia ao abrigo do artigo "Discriminação por motivos religiosos". Sabem de que é que ele é culpado? Toda a culpa do arcipreste perante as autoridades nazis reside no que disse, durante o seu sermão, que era necessário manter o calendário juliano e celebrar o Natal a 7 de janeiro. Só isso. Como resultado, foi levado ao Tribunal para ser julgado. Defender os cânones, as regras e as tradições ortodoxas é um crime do ponto de vista do regime de Kiev.

O regime de Kiev não confia nos "seus" padres da Igreja Ortodoxa da Ucrânia. Como é que acham que agora vão ser avaliados quanto à sua fiabilidade? Seria cômico se não fosse tão trágico. Serão controlados pelo Serviço de Segurança da Ucrânia. Não estou a brincar. O Serviço de Segurança da Ucrânia vai controlar os clérigos da Igreja Ortodoxa da Ucrânia. Para além de uma entrevista, os padres terão de preencher um questionário e se submeter a um teste de detetor de mentiras. Aparentemente, esta é uma prática habitual num país que se afirma democrático, respeita os direitos humanos, defende o primado da lei e reivindica a adesão à União Europeia. A propósito, o que dizem os relatórios do Departamento de Estado dos EUA sobre o respeito pelos direitos dos crentes? Não ouviram nada sobre isso? Conseguem imaginar o que se está a passar?

Prestámos atenção à informação sobre o neonazismo ucraniano publicada nos Estados Unidos. Segundo o "The Forward", a Ucrânia está em primeiro lugar no mundo em número de instalações dedicadas aos nazis e aos seus cúmplices, incluindo nomes de ruas e monumentos. No total, são 362. Os ocidentais continuarão a fazer vista grossa? Esta é a última gota. Apesar disso, muitos políticos e ativistas sociais ocidentais continuam a afirmar que não existe nazi-fascismo na Ucrânia. Se não há nazi-fascismo, o que dizer da glorificação dos nazis e dos seus colaboradores? Recomendamos que consultem um mapa da Ucrânia onde estes sítios estão assinalados. A sua maioria está localizada no oeste do país.

Voltemos ao desastre na Central Hidroelétrica de Kakhovka. O regime de Vladimir Zelenski está a tentar imitar uma investigação. Ao rejeitar, de forma grosseira, (esta é a única forma de comunicarem agora com a comunidade internacional, porque a estão a chantagear. O seu comportamento é não só provocatório, tem um significado especial - demonstra à comunidade internacional que estão dispostos a fazer tudo para atingir os seus objetivos - preservar o seu regime) a iniciativa do Presidente turco, Recep Erdogan, de criar uma comissão internacional (recorde-se que o Ministro do Exterior ucraniano, Dmitro Kuleba, apelidou-a de "jogo de cedência com os russos"), o regime de Kiev decidiu recorrer ao Tribunal Penal Internacional, uma entidade politizada e descredibilizada, com reputação manchada, não reconhecida por mais de 120 países. Uma comissão deste tribunal foi levada a Kherson pessoalmente pelo diretor da CIA, William Burns. Esta é a justiça que eles têm. Os serviços secretos norte-americanos trazem comissões de uma entidade supostamente legítima ao local do crime, será, pois, essa uma nova instituição internacional em que o diretor dos serviços secretos norte-americanos é procurador? O objetivo é óbvio: apagar os vestígios do crime dos militares ucranianos, fazer crer que a barragem da Central Hidroelétrica foi destruída pela Rússia. Depois disso, de acordo com a lei do género, serão divulgados os nomes dos responsáveis governamentais russos alegadamente “culpados” e serão emitidos “mandados” para a sua detenção. Este roteiro foi ensaiado muitas vezes ao longo dos últimos anos.

Isto dá a impressão de mais uma produção teatral barata, mas muito cara para aqueles que foram vítimas deste ato terrorista. Não esquecemos as provocações de Kiev com muitas vítimas inocentes em Bucha. Até à data, o regime de Kiev não forneceu à ONU uma lista das pessoas que fez passar como tendo sido mortas pelas forças armadas russas. Já não fomos só nós que pedimos, mas também o Secretariado da ONU. Não houve nenhuma reação por parte do regime de Kiev. Fornecer uma lista daqueles cujos corpos foram exibidos pela televisão é uma coisa pouco ética? Ou seja, podem mostrar estas pessoas na televisão e não podem dizer quem são essas pessoas? É um novo viés em matéria de direitos humanos? Não. É um método de divulgação de falsificações desenvolvido e ensaiado pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. O mesmo pode ser dito sobre os alegados bombardeamentos russos da maternidade e do teatro de Mariupol, de Kramatorsk, de Irpen e de outros locais.

A prática de criar e difundir falsificações sobre a Rússia é bem conhecida graças às produções dos anglo-saxões e dos europeus. O terrorismo internacional ainda tem muito a aprender com o centro de operações psicológicas e de informação e os serviços de informação do regime de Kiev. Nunca ninguém atingiu este nível de desinformação e de terrorismo de informação. Mas há com quem aprender. Basta recordar o caso Skripal, o caso de envenenamento de Aleksander Litvinenko, o caso de Aleksei Navalny. Nenhuma destas provocações mereceu uma investigação honesta. Lembram-se de como o "paciente" de Berlim foi recebido com honras e levado de carro para o local de reabilitação na Alemanha? Como Angela Merkel o visitou e quão grande foi a atenção da opinião pública? Não tardaram a encontrar os culpados. No entanto, tenho uma pergunta a fazer: e o que dizer da investigação e dos materiais que podiam e deviam ter entregado às nossas autoridades competentes envolvidas no caso? Quantos pedidos foram feitos pelo lado russo? Eles fizeram alguma coisa? Não. Todo este espetáculo teatral só foi necessário naquele momento específico para um determinado objetivo: tentar influenciar a nossa situação política interna. Está em curso a investigação sobre os ataques terroristas a Daria Duguina, Vladlen Tatarsky, o atentado contra a vida de Zakhar Prilepin e os atos de sabotagem nos gasodutos Nord Streams e na Ponte da Crimeia. O que fez a comunidade internacional, que tanto se preocupa com a pureza do "género", com os aspetos jurídicos e com as investigações neste domínio? Onde estão os relatórios dos ativistas de direitos humanos e de organismos internacionais? Sabemos a resposta. Isso não lhes interessa.

 

Sobre a situação na Central Nuclear de Zaporojie

 

Recebemos muitas perguntas dos meios de comunicação social sobre o que está realmente a acontecer na Central Nuclear de Zaporojie. Podemos fazer o ponto da situação no dia 13 de junho de 2023.

Entre os dias 6 e 12 de junho, a Central Nuclear de Zaporojie e a cidade de Energodar não foram bombardeadas pelas forças armadas ucranianas, no que diz respeito ao funcionamento e à segurança da Central. Entre 8 e 9 de junho, as instalações de distribuição da Central foram atacadas pela Ucrânia com a utilização de drones kamikaze.

As necessidades em eletricidade da Central são satisfeitas através da linha de alta tensão de 750 kV Dnieprovskaia.

Continua a celebração de contratos com o pessoal da Central. Até 9 de junho de 2023, foram celebrados 3 540 contratos de trabalho. A Central possui um pessoal suficiente para garantir o funcionamento seguro da mesma em regime de desligamento frio e realizar os trabalhos de manutenção programados.

Na manhã de 13 de junho, o nível da água na albufeira de Kakhovka após a destruição da barragem na Central de Kakhovka é de 11 m, e o nível da água na lagoa de resfriamento da Central Nuclear de Zaporojie é de 16 m.

Em Energodar, foi reposta a iluminação pública danificada pelos bombardeamentos ucranianos. As informações sobre a situação real na Central podem ser consultadas em tempo real no sítio Web znpp.ru. O portal tem uma secção intitulada "Ponto da situação na Central Nuclear de Zaporojie" com informações atualizadas diariamente.

 

Sobre o tráfico de órgãos humanos na Ucrânia

 

Durante os nossos briefings falámos e apresentámos factos que provavam que a Ucrânia estava a tornar-se rapidamente num dos centros mundiais de transplantação "negra". Muitos dos factos foram divulgados no recente documentário "Tanques em troca de um rim”. A película apresenta novas provas de que o regime de Kiev pratica a extração de órgãos dos seus soldados feridos para os fins de transplante. Que horror. Vou agora citar os factos que confirmam as suposições que fizemos anteriormente. O negócio prospera com as elevadas perdas das forças armadas ucranianas no campo de batalha. Extraídos os órgãos, os corpos dos doadores são queimados, e os familiares são informados de que o militar está desaparecido. Estas práticas hediondas seriam impossíveis sem a autorização do regime de Kiev porque estão legisladas. De facto, o país tornou-se uma "mina de ouro" para os criminosos. Na Ucrânia, os transplantologistas "negros" estão a ganhar muito dinheiro e não vão parar.

Muito tem sido feito no país para simplificar a prática do transplante ilícito de órgãos. Em particular, a 16 de dezembro de 2021, o parlamento ucraniano aprovou a Lei n.º 5831 "Da regulamentação do transplante de materiais anatómicos humanos" que afasta a exigência da intervenção notarial para o consentimento por escrito de um doador vivo ou dos seus familiares para a realização de transplante. Estão a ver o que se passa nesta área e como este instrumento está a ser utilizado? Com a documentação, não será necessário autenticar as assinaturas. De facto, a extração de órgãos de crianças também foi permitida. A medida simplifica igualmente os procedimentos de extração de órgãos de pessoas falecidas que não deram, em vida, o seu consentimento na doação de órgãos. Será esta a primeira lei que legaliza atrocidades e perversões no território da Ucrânia? Não, não é a primeira, mas é hedionda. A lei permite também obter a autorização para extrair materiais biológicos ou anatómicos do corpo de um falecido junto da pessoa que se oferece para enterrar o falecido. A autorização pode ser obtida, por exemplo, junto do diretor de um hospital ou do comandante de uma unidade militar. Não só as clínicas públicas, mas também as privadas, ganharam o direito de efetuar transplantes. Fazem ideia do que é isso? O que é atualmente uma clínica privada na Ucrânia? Um estabelecimento onde tudo é possível: qualquer atestado médico, qualquer procedimento e, a partir de agora, qualquer intervenção cirúrgica. Eles sabem perfeitamente que podem realizar transplantes ilegais e nunca responderão por isso, agora têm uma indulgência. Porquê? Porque ganham montantes enormes com este negócio. 

A 14 de abril de 2022, o parlamento ucraniano aprovou a lei n.º 5610 "Das alterações ao Código Fiscal", que isenta de IVA as operações de transplante de órgãos. A questão não está na perda de receitas do orçamento ucraniano, mas no afastamento do controlo. Todos os funcionários da administração fiscal e os responsáveis governamentais estão bem cientes do que se trata. A nova leia tira do controlo as operações de transplante.

Os principais beneficiários dos esquemas de transplante negro na Ucrânia são os países ocidentais. Todo o cenário foi elaborado na Jugoslávia. Afinal de contas, todos os órgãos retirados aos que morreram nessa altura foram para satisfazer as necessidades dos ocidentais. O regime de Kiev está disposto a conceder-lhes qualquer coisa, incluindo os órgãos humanos dos seus cidadãos, pela sua ajuda militar.

Um dia, a Ucrânia vai perceber para que é que os seus "amigos" americanos e europeus precisavam realmente dela. Pode perceber tarde demais, mas mais vale tarde do que nunca. O país está literalmente a ser “esfacelado” e pode tardar a fazer reclamações. O paciente assinou um termo de consentimento para a cirurgia. Enquanto isso, as entidades internacionais competentes teimam em não notar estes fenómenos criminosos evidentes. Gostaria de recordar a este respeito o caso do Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia. Também nessa altura, muitas coisas eram ignoradas e não eram vistas. Quando a procuradora Carla Del Ponte se demitiu (não sei dizer porquê, nunca falei com ela sobre isso, talvez nas suas entrevistas ela o tenha explicado, ou talvez se tenha demitido por ter tido um peso na consciência), ela publicou as suas memórias nas quais descreveu precisamente estes episódios terríveis, salientando que ninguém foi punido por estes crimes horrendos e hediondos.

 

Sobre a "ucranização" da agenda do Conselho de Segurança da ONU

 

Prestámos atenção a um comentário feito pelo Secretário-Geral da Liga dos Estados Árabes, Ahmed Aboul Gheit. O responsável instou o Conselho de Segurança da ONU a prestar mais atenção à resolução de todos os conflitos militares no mundo e a não dar prioridade apenas à crise ucraniana.

Do que se trata? Todos sabemos que a situação na Ucrânia excede os limites regionais. Trata-se de uma guerra híbrida contra o nosso país e da tentativa do Ocidente de se manter como pseudo-líder. Por isso, o facto de o Conselho de Segurança estar a tratar da Ucrânia é justo e é óbvio, porque tem impacto em tudo. Vejam o quanto falámos hoje sobre segurança energética, sobre a Central Nuclear de Zaporojie, sobre a Central Hidroelétrica de Kakhovka, sobre a inundação de territórios. Isto é relevante não só para as regiões (de um lado e do outro) mas para o continente europeu em geral. Veja-se os projéteis radioativos com urânio empobrecido. A radiação não conhece fronteiras. É por isso que a questão da Ucrânia deveria ser objeto da atenção do Conselho de Segurança da ONU. Mas o que é que começam a dizer outros continentes? Que não se trata de uma discussão efetiva para encontrar soluções, mas de uma campanha propagandística desenvolvida atualmente no Conselho de Segurança da ONU pelos ocidentais sobre o tema ucraniano. Afirmam que nenhum dos países ocidentais está a tentar encontrar uma saída para a situação ou encontrar um terreno comum, utilizando o CSNU para promover, divulgar e fazer avançar a sua agenda política sem procurar soluções. Todavia, o Conselho de Segurança não é uma agência de publicidade onde se pode entrar, ligar o microfone e começar a promover apenas a sua opinião. É um órgão para promover a paz e a segurança internacionais. O que está a ser feito para esse fim? Procuram-se soluções. Quando foi a última vez que vimos ocidentais a tentar encontrar uma solução ou a aproximar posições sobre a situação na Ucrânia? Nunca. As nossas iniciativas, entre as quais as referentes à investigação dos ataques terroristas nos gasodutos Nord Streams, estão a ser bloqueadas. Propusemos que a situação em torno desta questão fosse objeto de uma investigação internacional sob os auspícios do Secretário-Geral da ONU. Os ocidentais bloquearam tudo isso e começaram a divulgar as suas teses nesta matéria. Agora, os outros continentes perguntam-se: se os ocidentais estão a utilizar as capacidades do Conselho de Segurança da ONU de forma tão infeliz, não seria melhor que eles deixassem de prestar tanta atenção a este assunto e se dedicassem aos assuntos em que existe a possibilidade de encontrar um terreno comum?

Há muitas crises graves na agenda do Conselho de Segurança da ONU em todo o mundo, desde África e América Latina até ao Médio Oriente e à Ásia-Pacífico. Milhões de pessoas estão a viver anos de guerra, enfrentando graves carências alimentares e outras consequências humanitárias. A comprová-lo estão vagas de refugiados e de pessoas deslocadas internamente em busca de uma vida pacífica. No entanto, os ocidentais invadiram o púlpito do Conselho de Segurança da ONU e da Assembleia Geral para usar a ONU para fins de propaganda, sem a possibilidade de encontrar uma verdadeira solução.

Este mês, o Conselho deverá debater a situação no Afeganistão, na Síria, na Líbia, no Iémen, no Sudão, no Sudão do Sul, na República Democrática do Congo, no Mali, na Somália e na República Centro-Africana. Esta lista não abrange uma série de questões temáticas e específicas de cada país que requerem uma apreciação não menos atenta do Conselho de Segurança da ONU. O que o mundo não quer é que todos estes temas sejam relegados para o segundo plano devido aos esforços dos ocidentais para pedalar todos os dias a questão ucraniana para que o mundo volte a falar da problemática ucraniana da forma que eles querem e não para encontrar uma solução.

Não são menos contraproducentes as tentativas de transferir algumas das questões da agenda do Conselho de Segurança para a agenda da Assembleia Geral da ONU com vista a impedir que os membros permanentes do CSNU utilizem o seu legítimo poder de veto. Um exemplo disso é a convocação da 11ª sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de condenar a operação militar especial da Rússia. Esta iniciativa retira muitos recursos que poderiam ter sido gastos na resolução dos problemas globais da atualidade. E a condenação? Vai mudar ou melhorar de alguma forma a situação das pessoas nessas regiões? Não.

Usando esta tática suja, o Ocidente coletivo tenta criar a ilusão de existir uma ampla frente antirrussa nos assuntos internacionais, para o que exerce pressão política, financeira e económica sobre países da ONU. Os seus representantes contam-nos sobre isso.

Recorde-se que, aquando da criação da ONU, a prática do veto foi adotada precisamente para que os principais atores se ouvissem mutuamente e tentassem encontrar compromissos. O uso do poder de veto é um sinal vermelho de alerta para a comunidade internacional. Mostra que o consenso falhou, que o Conselho de Segurança da ONU não foi capaz de ultrapassar as suas divergências. É um lembrete para todos de que o Conselho de Segurança foi criado para procurar e encontrar soluções, e não para fomentar os conflitos. Caso contrário, se esta lógica de destruição prevalecer, teremos como consequência a destruição da paz e da segurança internacionais. Tentar contornar esta prática significa corroer os princípios fundamentais da ONU.

Nós, a Rússia, como participante responsável na comunicação internacional e membro permanente do Conselho de Segurança, estamos prontos para o difícil trabalho de busca de soluções para todos os problemas existentes e prevenção de possíveis crises no âmbito dos atuais mecanismos das Nações Unidas. Apelamos a todos os membros da comunidade internacional, sem exceção, para que assumam a mesma posição responsável.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: O New York Times escreveu que os EUA estão a considerar oferecer à Ucrânia um "modelo israelita" de cooperação sem aderir à NATO. O que pensa o lado russo sobre esta opção? Poderá isso ajudar, por exemplo, a iniciar as negociações com a Ucrânia?

Maria Zakharova: Na minha opinião, esta comparação é humilhante para Israel. Os ideólogos da Casa Branca são conhecidos por ter inventado muitas coisas loucas, mas só cérebros doentes podem fazer uma comparação entre o regime de Kiev e Israel. O regime de Kiev está a degenerar perante os nossos olhos, passando de um regime obviamente neonazi e nacionalista para uma verdadeira célula terrorista internacional. Digo terrorista porque o regime de Kiev comete ataques terroristas, principalmente contra infraestruturas civis. Digo internacional, porque a Ucrânia está cheia de mercenários estrangeiros recrutados através das suas embaixadas, dos seus "diplomatas", etc., sem qualquer distinção entre "amigos" e "inimigos".

A questão é saber como é que um organismo internacional pode lidar com um regime terrorista criminoso. É provável que venha a surgir um precedente. Normalmente, a NATO tem apoiado células terroristas nos bastidores, informalmente, através de estruturas filiadas; agora, ao que parece, vai admiti-las como membros. Um know-how da Aliança do Atlântico Norte. É possível que isso venha a acontecer.

Gostaria de recordar que a NATO é uma aliança militar agressiva que representa uma ameaça para a segurança da Rússia. É deste ponto de vista que encaramos a cooperação de outros países com este organismo. A participação na Aliança e a cooperação com a mesma não melhoram a segurança nacional dos países membros da NATO nem contribuem para a segurança regional e internacional. A organização não deu provas de ser um fator de paz em nenhuma região do mundo.

Quanto à Ucrânia (ou melhor, ao que resta dela depois das experiências do Ocidente), as melhores garantias da sua segurança são o regresso à neutralidade não alinhada e a confirmação do seu estatuto de país livre de armas nucleares. Uma solução global e sustentável para a crise ucraniana exige o reconhecimento das novas realidades territoriais e que Kiev garanta os direitos básicos dos seus cidadãos, sobretudo russófonos, e das minorias nacionais e conceda ao russo o estatuto de língua oficial. Tenho sempre sublinhado que é estranho dizer que a população russófona da Ucrânia é uma minoria nacional, dado o número de falantes de russo no país. Mas esta prática existe. Como primeira prioridade, Kiev deveria parar de lutar e os países ocidentais deveriam para de fornecer armas à Ucrânia. É esta posição realista, e não a adesão à NATO ou a aplicação do "modelo israelita" de cooperação com a Aliança, que pode ajudar a colocar a situação no caminho de busca de soluções.

Pergunta: A senhora mencionou os gasodutos Nord Streams na parte inicial do seu briefing. O Wall Street Journal citou fontes que afirmam que a investigação alemã está a analisar provas que indicam que um grupo de sabotadores utilizou a Polónia como base para minar os gasodutos Nord Stream. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo tem conhecimento desta hipótese? Qual é a vossa atitude para com ela? O Kremlin e a senhora afirmaram que a Rússia não é chamada a participar na investigação. Dispõe de provas que sustentem a sua versão das explosões, se discordar do que os meios de comunicação ocidentais divulgam?

Maria Zakharova: Antes de mais, temos de nos basear em dados oficiais. Agradeço a todos os jornalistas (nacionais e estrangeiros) por terem desejado finalmente saber o que aconteceu com os gasodutos Nord Stream. Gostaria de salientar que, passado algum tempo depois de os ataques terroristas terem sido noticiados, todo o mundo acalmou-se. Agora, as atenções estão a voltar a este assunto. É lógico. Houve um ataque terrorista no centro do continente europeu que destruiu as infraestruturas civis que garantiam a segurança energética e a soberania energética da região. Do impacto ambiental nem falo. Seria bom investigar pelo menos este caso.

Agradeço a todos os que estão a prestar atenção a este tema. Tinha-se a impressão de que os EUA e o Reino Unido queriam fingir que este assunto não existia. Recorde-se a histeria dos tablóides britânicos, da imprensa norte-americana sobre o "novichok", o caso Salisbury, Amesbury - não houve nada para além de histeria, ou a história das PMC russas ou de outras estruturas filiadas à Rússia. Em todos os casos houve sempre histeria. Isso incomoda-os muito. Embora tenha havido vítimas no caso Salisbury, não houve vítimas mortais, pelo menos não houve registos oficiais de danos globais.

No caso dos gasodutos Nord Streams, os danos são avaliados em montantes gigantescos de dinheiro, foi causado um grande prejuízo à segurança e ao meio ambiente, etc, mas não há interesse, não há histeria. Tudo está "bem", todos estão calmos. É óbvio que o assunto está a ser gradualmente varrido para debaixo do tapete, como se fosse desnecessário. Mais uma vez, muito obrigada a todos aqueles que se interessaram pelo assunto. Em segundo lugar, penso que este tema deve ser comentado como avaliação de factos e acontecimentos, não só porque há dados nos meios de comunicação social, mas porque estes dados devem ser "postos em cima da mesa" daqueles que são obrigados a realizar investigações oficiais. Ou vice-versa, as pessoas que estão encarregadas de realizar investigações oficiais devem transmitir os dados verificados aos meios de comunicação social. É assim que deve ser. O que vemos agora é um jogo individual de alguns jornalistas que não conseguem obter comentários de personalidades oficiais dos países ocidentais que afirmaram estar a investigar o caso.

Não há nenhuns comentários oficiais da Suécia, Alemanha nem dos EUA. Disponibilizamos toda a informação de que dispomos. Apresentamos a nossa visão, segundo a qual os EUA se opuseram política e economicamente, durante muitos anos, a este projeto de gasodutos, dizendo depois que o iriam destruir. Salientámos que a investigação deveria iniciar-se a partir daí e que queríamos ouvir a posição oficial.

Quanto ao envolvimento (direto ou indireto) da Polónia e ao uso do seu território. Esta pergunta deve ser dirigida àqueles que estão a realizar a investigações sob os auspícios dos governos ocidentais. Que divulguem informações oficiais. De contrário, todos os esforços se resumirão novamente a uma tentativa de escapar à responsabilidade através dos meios de comunicação social, através de fugas de informação propositadas. Estou a referir-me àqueles que se opuseram à investigação transparente, normal e aberta proposta por nós sob os auspícios do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e que se comprometeram a realizar uma investigação honesta no Ocidente. Mas, por alguma razão, não se apressam a partilhar os pormenores.

Não vou mencionar que convocámos a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas a 21 de fevereiro passado para tratar deste assunto nem vou dizer que a 27 de março passado, durante a votação do documento, a troika ocidental composta pelos EUA, França e o Reino Unido se recusou a apoiar a criação de um mecanismo de investigação. Não vou dizer que vamos agora tomar providências para que o Conselho de Segurança das Nações Unidas volte a abordar este assunto. Tudo isso é sobejamente conhecido.

Gostaria de responder diretamente à sua pergunta mais uma vez. Esperamos que aqueles que assumiram a função de investigadores no Ocidente e que dizem que vão garantir que os ataques serão investigados não só comentem estes e todos os outros factos que aparecem nos meios de comunicação social, mas também informem regularmente a opinião pública internacional sobre o que descobriram, o que está a acontecer durante a investigação e a que conclusões chegaram.

Se quiserem declarar que nada será dito até que a investigação termine, lembrar-lhes-emos que, noutros casos, as sentenças (e não os resultados da investigação) foram lavradas sem julgamento em apenas alguns dias. Recordar-lhes-emos que as investigações que supostamente realizaram e não quiseram comentar não deram em nada. Hoje já mencionei o caso Aleksander Litvinenko. Muitos russos "desapareceram" na Albion Nebulosa. Em todos os casos deveria ter sido realizada uma investigação, mas isso não aconteceu, infelizmente.

Estas perguntas devem ser dirigidas a quem está a realizar estas investigações. Como sabe, na Rússia também foram abertos processos-crime e está a ser realizada uma investigação. O senhor muito bem disse que temos possibilidades limitadas, pois tudo se passou na região sob a jurisdição de países que, por alguma razão (nem sabemos porquê), não nos permitiram participar na investigação.

Pergunta: A propósito do bombardeamento da Central Hidroelétrica de Kakhovka. Em resposta a uma pergunta da revista “The International Affairs”, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, pediu ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que "consulte mais vezes a Carta das Nações Unidas para não se esquecer das suas atribuições e responsabilidades". Pode explicar o que é que ele quis dizer com isto?

Maria Zakharova: Ao dar a sua opinião sobre quem é o culpado, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, disse que, independentemente de quem foi o responsável pelo bombardeamento da Central Hidroelétrica de Kakhovka, o incidente em si não teria acontecido se não fossem as ações da Rússia. Em primeiro lugar, esta tese de "eles são crianças", "não teriam feito isso", "a culpa é toda da Rússia" porque "foi ela que começou tudo" foi posta em circulação pelos ocidentais. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, expôs a sua visão em resposta a esta tese. Explicou que, se usarmos a fórmula "isso não teria acontecido se não tivesse acontecido aquilo” (embora seja necessário investigar e encontrar os verdadeiros responsáveis), se olharmos para o passado para ver os motivos, a tensão nas fronteiras ocidentais da Rússia não teria aumentado tanto se os países ocidentais não tivessem apoiado o sangrento golpe de Estado anticonstitucional na Ucrânia que levou ao poder um regime que visava não tanto a construção de boas relações de vizinhança ou a democracia no seu país, como a perseguição à população russófona na Ucrânia, se o regime ucraniano não tivesse concedido o seu território e tudo o que deveria ser propriedade do povo ucraniano aos países ocidentais, a fim de construir aquilo que o Presidente russo Vladimir Putin apelidou como "anti-Rússia".

Pergunta: Após as decisões da Roménia, da Islândia e dos países bálticos, a Rússia tenciona baixar preventivamente o nível das relações diplomáticas com os "países hostis"?

Maria Zakharova: Os países que mencionou estão a baixar o nível das relações diplomáticas, porque não podem suportar o elevado nível oferecido pelos diplomatas russos. As relações no interior do continente europeu estão a ser atacadas por Washington, que está interessada em provocar o caos nas relações entre os países. É este o seu credo. Tenho dito repetidamente que, para além de visar a Rússia e a China, um dos "alvos" ocultos dos esforços dos EUA é a União Europeia. Em termos financeiros, nas últimas décadas, a União Europeia começou não só a recuperar o atraso, mas a ultrapassar os EUA. A moeda europeia foi apoiada, durante muitos anos, pela indústria real, pela economia real e não virtual. As coisas estavam a ir bem nas relações na Eurásia, o que não agradava aos norte-americanos, pelo que decidiram interferir nos assuntos internos dos países UE e desferir um golpe à UE. As expulsões de diplomatas é um dos seus métodos. Recorde-se que uma das "ondas" de expulsões começou após a alegada "interferência" nas eleições norte-americanas. Depois, houve os casos Salisbury e Amesbury. Foram produzidos com base no embuste concebido na Rua Downing Street. Naquela altura, também houve apelos à expulsão de diplomatas russos porque a Rússia foi acusada de tudo. Os países da UE, infelizmente, há muito que não têm uma opinião própria.

Pergunta: O que, na sua opinião, deve ser a nova ordem mundial após o fim bem-sucedido da operação militar especial?

Maria Zakharova: A minha opinião é a de que os seres humanos não mudam. Os problemas da humanidade também não mudam. Enquanto a humanidade não se aperceber de que se encontra num limiar muito perigoso, penso que, infelizmente, as experiências na humanidade ou da humanidade em si própria vão continuar. Este é um problema existencial global, é uma ameaça. Só isso nos pode fazer acordar. Não estou a separar-nos de ninguém neste momento. Há que levar a um denominador e colocar a questão: isto vai continuar? Ou vão aproveitar a oportunidade que vos foi dada? Gostaria de esperar que não chegássemos à beira do abismo, mas conhecendo a história, compreendo que só perturbações globais como estas, por vezes situações trágicas, conseguem "corrigir" a humanidade. Só depois disso é que a humanidade se "corrige". Um exemplo disso é a Segunda Guerra Mundial. Foi necessário chegar a um tal estado de degradação para levar as pessoas para câmaras de gás, para fazer luvas de pele humana. Só depois disso é que a humanidade estremeceu, viu-se no reflexo dos olhos daqueles que fuzilou, exterminou, envenenou, etc.

Sejamos otimistas, em primeiro lugar. Sejamos realistas, em segundo lugar. Em terceiro lugar, concordo consigo quando diz que os nossos homens estão ali a combater com dedicação de armas na mão, como o comandante de tropas decantado pelo poeta Vladimir Vysotsky.


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