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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 27 de abril de 2023

802-27-04-2023

 

Ponto da situação na crise ucraniana

 

Hoje faz nove anos que foi proclamada a República Popular de Lugansk. Em 2014, a sua população e o povo da República Popular de Donetsk disseram a uma só voz "não" ao golpe de Estado deflagrado pelos nacionalistas em Kiev e levantaram-se em defesa dos direitos, liberdades, interesses e valores históricos da população russófona do Donbass. A 11 de maio de 2014, foi realizado um referendo sobre a autodeterminação da República Popular de Lugansk que culminou com a proclamação, a 12 de maio de 2014, da soberania nacional. Durante todos estes anos, o povo de Lugansk tem estado indissoluvelmente ligado à sua pátria histórica, a Rússia, o que acabou por predeterminar a sua escolha de se tornar parte da Federação da Rússia após o referendo de setembro de 2022.

Prestámos atenção a outra declaração extremista de Mikhail Podoliak, conselheiro do Chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia. Em declarações à cadeia de televisão ucraniana TSN no dia 25 de abril, o responsável afirmou que Kiev "tem o direito legal de destruir tudo o que se encontra no território das regiões da Crimeia, Lugansk, Donetsk, Zaporojie e Kherson". Todo o mundo viu que esta é uma lógica da destruição de tudo o que é desregrado e desobediente e não compatível com o conceito de nacionalismo. Esta é exatamente a ideologia do regime de Kiev. Gostaria de agradecer ao regime de Kiev por ter voltado a admitir isso publicamente e deixar de esconder aquilo de que temos vindo a falar ao longo de todos estes oito anos. Naquela altura, o regime de Kiev tentava fazer-nos crer que essas coisas só existiam na nossa imaginação. Não, elas existem na realidade. Provavelmente, consciente de que não têm mais forças nem possibilidades de se conter, o regime de Kiev passou a falar sem rodeios sobre a destruição, afirmando fazer jus a isso. Na verdade, ele não se importa de saber se tem ou não direitos legais a isso, vai seguir a sua política de destruição de qualquer maneira. Isso mostra mais uma vez como o regime de Vladimir Zelensky encara as regiões supracitadas da Rússia e as suas populações as quais pretende "libertar". Aparentemente, no seu entender, a palavra "libertar" significa "destruir". Os ataques devastadores e o extermínio impiedoso de civis são os métodos usados pelos representantes do regime de Kiev que acusámos de neonazismo e de propensão para reencarnar as práticas fascistas usadas nestes territórios no passado. Os representantes do regime de Kiev estão a falar abertamente sobre isso. Lembram-se das atrocidades cometidas pelos nazis nos territórios soviéticos ocupados? Nessa altura, também havia a ideia da aniquilação total das pessoas que ali viviam. É isto que Mikhail Podoliak está agora a dizer. Os seus apoiantes ideológicos entre os neonazis ucranianos estão a esforçar-se por seguir estas práticas. Para eles, estas são terras e povos estrangeiros. Nestas circunstâncias, a escolha consciente dos habitantes da Crimeia, Donbass, Kherson e Zaporojie a favor da reunificação com a Rússia foi oportuna e a única correta, como o tempo demonstra. A Rússia é capaz de defender os seus cidadãos e de fazer frente a qualquer inimigo.

No dia 2 de maio, completam-se nove anos da tragédia de Odessa que fez gelar o sangue nas veias e resultou na morte de um grupo de manifestantes antigovernamentais refugiados na Casa dos Sindicatos que foi incendiada por nacionalistas ucranianos radicais. Dezenas de pessoas foram queimadas vivas, enquanto os autores do incêndio criminoso estavam a contemplá-lo alegres e satisfeitos. As imagens horríveis dos cadáveres carbonizados correram o mundo. As imagens de pessoas a saltarem para a morte das janelas do edifício na tentativa de escapar e a serem abatidas a tiro no chão pelos neonazis foram ainda mais chocantes.  Lembrem-se agora do que Mikhail Podoliak, representante do gabinete de Vladimir Zelensky, acabou de dizer: eles vão destruir e têm o direito de o fazer. Isto é, vão atuar tal como em Odessa, respondendo ao chamado e não de acordo com a lei. Eu diria "chamado do coração", mas eles não têm o coração. De facto, em Odessa, os neonazis ucranianos reproduziram o crime perpetrado pelos carrascos banderitas há mais de 80 anos em Khatyn, na Bielorrússia. Em Odessa, o prédio era mais forte. Filmaram tudo com telemóveis e câmaras de vídeo, obtendo imagens a cores.

No entanto, o caso não chegou a ser investigado, os autores do crime não foram punidos. Além disso, muitos dos que foram apanhados pelas câmaras a praticar o massacre continuam em liberdade, praticando atividades públicas na Ucrânia, país que afirmou ser o "porta-estandarte da democracia" na região. Só pessoas como essas podiam chegar ao poder na Ucrânia no meio das ilegalidades, arbitrariedades policiais, autoritarismo e violações grosseiras dos direitos humanos.

O regime de Kiev escolheu como "bode expiatório" o ex-chefe da polícia de segurança pública, Dmitro Fuchedzhi, para desviar a atenção da opinião pública. No passado dia 18 de abril, o tribunal de Odessa condenou-o a 15 anos de prisão à revelia "sob a acusação de ter organizado motins em massa e de ter excedido a sua autoridade, o que resultou nos trágicos acontecimentos". Acontece que incendiar pessoas vivas é um abuso de poder e abater as pessoas que saltaram das janelas na tentativa de escapar ao incêndio é um motim em massa? Esta gente nunca vai parar, portanto, deve ser feita parar.

O resultado da reunião de 21 de abril do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, em Ramstein, na Alemanha, parece ter dececionado muito o regime de Kiev, a julgar pela declaração do seu "diplomata" Andrei Melnik. Os tão cobiçados aviões, mísseis de longo alcance e outras armas de ataque não seriam fornecidos. Assim, no outro dia, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrei Melnik, conhecido pelas suas declarações inadequadas quando era embaixador ucraniano na Alemanha, declarou com indisfarçável irritação que o atual montante da assistência militar ao regime de Kiev não era suficiente, "precisamos de uma ajuda no valor dez vezes superior". Segundo ele, os parceiros devem cruzar as "linhas vermelhas artificiais e alocar 1% do PIB para o fornecimento de material de guerra". O apetite de Kiev está a crescer exponencialmente. Os países da NATO já disponibilizaram mais de 65 mil milhões de euros para as necessidades das forças armadas ucranianas. O treinamento de militares ucranianos prossegue sem interrupção. A 24 de abril, o coordenador das comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, "gabou-se" de que os Estados Unidos estavam a treinar batalhões de soldados ucranianos fora do país no emprego da chamada manobra de armas combinadas. A medida une infantaria mecanizada e armas e defesa antiaérea para poder operar em terreno aberto. Ainda na semana passada, segundo John Kirby, foram entregues ao regime de Kiev equipamentos militares no valor de 325 milhões de dólares. O Reino Unido enviou milhares de munições para tanques Challenger-2 para a Ucrânia, entre as quais os projéteis com urânio empobrecido, sem se preocupar com as consequências da sua utilização. Disseram ontem que esses projéteis já estão na posse do regime de Kiev e que não têm qualquer responsabilidade pela forma como serão utilizados ou pelas consequências que daí advirão. É verdade. Para eles, a Ucrânia é um instrumento, um campo de ensaio. Tudo o que lá acontece não lhes interessa, de nenhum ponto de vista, exceto um: como (nas suas próprias palavras) infligir uma derrota estratégica, militar, "no campo de batalha", política e económica à Rússia. Qualquer derrota. É apenas deste ponto de vista que lhes interessam o território chamado Ucrânia, o regime de Kiev e os ucranianos. De resto, exoneram-se da responsabilidade pelo que aí vai acontecer. Os ocidentais declaram abertamente que farão tudo o que estiver ao seu alcance para que a contraofensiva das forças armadas ucranianas anunciada para acontecer "num futuro próximo" seja bem-sucedida. Não escondem sequer que são eles que estão por detrás de todo este "planeamento". Estão a organizar a sua disposição não só em termos táticos como também estratégicos. O "Ocidente coletivo" também está a exigir aos seus aliados que causem à Rússia o maior dano possível. Ao fazê-lo, o Ocidente confirmou mais uma vez em voz alta que está envolvido diretamente no conflito. O regime de Kiev continua a utilizar métodos terroristas nas hostilidades. Os neonazis ucranianos estão a montar posições de fogo e depósitos de munições em escolas, hospitais e edifícios residenciais, usando civis como "escudo humano" e disparando contra os refugiados. Os serviços secretos ucranianos continuam a organizar ataques terroristas com engenhos explosivos em território russo. A 24 de abril, o regime de Kiev tentou atacar a base da Frota do Mar Negro em Sevastopol com três lanchas não tripuladas. Os especialistas não excluem que os drones navais tenham sido lançados a partir da zona de Odessa e que a sua rota tenha passado pelo corredor humanitário utilizado para a implementação da "Iniciativa do Mar Negro" que o Ocidente quer prorrogar. Estas ações criminosas do regime de Kiev desferem um forte golpe no "acordo de cereais" que ainda está em vigor.

A iniciativa de Vladimir Zelensky de realizar uma cimeira presencial em Kiev, nos dias 8 e 9 de maio, para assinalar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, é uma zombaria cínica da história e da memória dos nossos antepassados. Estou curiosa para saber: eles irão colocar retratos de Stepan Bandera nas ruas por onde passarão as limousines dos convidados, ou dentro dos prédios, ao lado de retratos de outros colaboradores nazis? É desta forma que pretendem assinalar o fim da Segunda Guerra Mundial? Uma vez que comemoram as datas associadas ao nazismo, renomeiam ruas e praças em homenagem aos colaboracionistas, então têm de ir até ao fim, não é? Alegadamente, a iniciativa supracitada é suposta estabelecer paralelos entre a agressão nazi e o que está a acontecer atualmente na Ucrânia. Existem paralelos, mas não os paralelos de que fala Vladimir Zelensky. São óbvios: a glorificação dos colaboracionistas, a glorificação das suas "façanhas" e, sob estas bandeiras, a implantação da lógica neonazi. Eles querem virar tudo de cabeça para baixo mais uma vez. Os neonazis ucranianos pretendem celebrar desta forma a revanche da ideologia nazi. Consideramos que "reuniões" do gênero (se esta reunião se realizar) são uma zombaria da memória dos povos da ex-União Soviética, que sofreram perdas colossais. Os historiadores ainda não conseguem responder à pergunta: quantas pessoas foram deliberadamente exterminadas nessa altura. Hitler e todos aqueles que o apoiaram na altura tinham a mesma ideologia. Eram muitos na Europa. Um extermínio consciente e deliberado de pessoas que não tinham nenhum valor para a Alemanha nazi e para a Itália fascista ou que apenas impediam a exploração de recursos naturais e de terras ricas. Hoje, Mikhail Podoliak afirmou que eles têm o direito legal de exterminar as pessoas que habitam estes territórios. A ideologia é a mesma e é por isso que eles necessitam de convocar esta "cimeira".

Gostaria de lembrar (não tenho a certeza de que isto chegue ao ouvido do regime de Kiev) que o dia 3 de setembro marca o Dia do Fim da Segunda Guerra Mundial (1945), enquanto o dia 9 de maio marca a Vitória sobre a Alemanha Nazi. Foi neste dia que terminou a Grande Guerra Patriótica dos povos da União Soviética. Há também uma resolução da Assembleia Geral da ONU que menciona duas datas: 8 e 9 de maio é o Dia da Vitória. Há lá quem leia tudo isso? Eles não têm tempo para isso. Estão ocupados a destruir a população e não o escondem. Afinal de contas, o avô de Vladimir Zelensky lutou contra a "peste castanha". Assusta-me imaginar o que ele diria ao neto se visse o que ele está a fazer agora.

O regime de Kiev não deixa de impor sanções à Rússia. A 22 de abril, foram impostas novas medidas restritivas a 100 pessoas singulares e 320 pessoas coletivas russas. Desta vez, foram incluídas na "lista negra" empresas da indústria de guerra, dos setores da automação, eletrónica e fabrico de instrumentos, os seus parceiros, incluindo os estrangeiros, bem como todos os nossos partidos políticos parlamentares.

As autoridades ucranianas estão a gerar ideias para endurecer as sanções à Rússia. A 25 de abril, foi apresentado um plano elaborado por Andrei Yermak, chefe do Gabinete de Vladimir Zelensky, e pelo ex-embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul (sem ele nada funciona). Este grupo de "pensadores" não apresentou nada de novo. Sugerem estender as restrições ilegais ao urânio russo, aos produtos metalúrgicos, à joalharia, a todas as empresas petrolíferas e de gás, entre as quais a Gazprom, impõem uma tributação total às empresas petrolíferas e de gás ocidentais que permanecem na Rússia, bloquear o acesso do nosso país aos serviços petrolíferos e de gás estrangeiros e impedir o fornecimento à Rússia de produtos de alta tecnologia que "ajudam os militares russos". Além disso, as sanções pessoais poderão afetar a gestão da empresa estatal de energia atómica Rosatom. Estas decisões e propostas inadequadas do regime de Kiev mostram mais uma vez que a Rússia está a seguir a política certa para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, proteger a população russa e eliminar as ameaças à segurança da Rússia que emanam do território ucraniano.

 

Sobre o relatório do MNE da Rússia relativamente à situação dos direitos humanos na Ucrânia

 

Gostaria de chamar a vossa atenção para o facto de o nosso website ter publicado mais um relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia sobre a situação dos direitos humanos na Ucrânia.

O relatório refere, em particular, que a situação em termos de promoção e proteção dos direitos humanos na Ucrânia se agravou muito nos últimos 18 meses e que as tendências evidentes neste domínio são motivo de grande preocupação. A supressão sistemática dos direitos humanos, da oposição e da dissidência na Ucrânia passou a ser uma verdadeira política deliberada do regime de Kiev desde 2014, sendo um dos seus objetivos lutar em todas as frentes contra tudo o que esteja associado à Rússia. Os numerosos casos documentados de graves violações dos direitos humanos em todas as esferas da sociedade e a falta de vontade de fazer alguma coisa para remediar esta situação catastrófica são prova disso.

Além disso, ainda recentemente, a pretexto da lei marcial, o regime de Kiev usurpou o poder no país, tendo criado um sistema autoritário de governo, caracterizado pelas represálias extrajudiciais, censura ferrenha, encerramento dos meios de comunicação social independentes e combate à oposição política, propaganda estatal total, caça a traidores e presumíveis espiões "russos" e sabotadores entre aqueles que não o são.

Além disso, a campanha do regime de Kiev contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana canónica atingiu um nível de cinismo e hipocrisia completamente novo. Todos nós podemos ver que não se trata apenas de uma luta política de bastidores, mas de uma verdadeira tentativa de destruir a Igreja Ortodoxa, de a proibir totalmente e de retirar os templos pertencentes à Igreja. O estado de guerra e a utilização da mais vasta gama de medidas repressivas são necessários para aqueles que estão atualmente no poder em Kiev, como a única e mais segura forma de prolongar a sua própria existência. Isto exige a supressão de qualquer dissidência, inclusive aquela que está fora do controlo do poder executivo, nomeadamente a igreja e a religião. Ao mesmo tempo, o regime de Kiev não faz nada nem mesmo tenta fazer alguma coisa para remediar a situação em matéria de direitos humanos. Praticamente a única esfera em que as autoridades de Kiev estão a tomar a iniciativa é a glorificação do nazismo e a distorção da história. Neste domínio, não têm igual.

Todas estas manifestações negativas, que também são apoiadas por uma extensa lista de provas, estão refletidas no relatório publicado no sítio web do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Recomendo a todos que se familiarizem com este documento. Exorto os profissionais da comunicação social, os peritos internacionais e os cientistas políticos a familiarizarem-se com ele.

 

 Sobre o jornalista espanhol Pablo Gonzalez

 

Sobre a dimensão internacional da hipocrisia no contexto do que está a acontecer na Ucrânia sob os auspícios do "Ocidente coletivo". Vou dizer algumas palavras sobre um jornalista espanhol. Esta história está diretamente relacionada com a situação na Ucrânia, as ações do "Ocidente coletivo" e a sua ideologia.

Prestámos atenção à história do repórter espanhol Pablo González publicada pelo jornal português "O Público" na sua edição de 9 de abril deste ano. Segundo o periódico, Pablo González, que trabalhava como repórter da cadeia de televisão espanhola La Sexta na Ucrânia, caiu sob suspeita dos serviços secretos ucranianos ainda antes do início da operação militar especial de ter feito reportagens que iam contra a propaganda oficial do regime de Kiev. Apesar da pressão e ameaças, Pablo Gonzalez, empenhado em fornecer informações imparciais sobre o que estava a acontecer na Ucrânia, continuou as suas atividades profissionais. No final de fevereiro de 2022, mudou-se para a cidade polaca de Rzeszow, onde planeava cobrir a situação dos refugiados ucranianos. O que é que acham que lhe aconteceu? Foi detido pelos serviços secretos polacos sem ter sido formalmente acusado. Está preso há mais de um ano enquanto o período máximo de três meses de detenção permitido nestes casos foi prorrogado várias vezes. Enquanto preso, Pablo Gonzalez teve uma única visita da sua mulher. Nem os esforços dos diplomatas espanhóis, nem sequer o facto de o seu caso ter sido abordado pelos Primeiros-Ministros espanhol e polaco permitiram resolver o problema, refere o jornal. Comentando esta situação, a imprensa portuguesa afirma que é a primeira vez que um Estado-membro da UE prende um jornalista de outro Estado-membro sem culpa formada. Conseguem imaginar? É sobre a hipocrisia total. O jornalista norte-americano Evan Gershkovich foi apanhado em flagrante. Todo o material necessário para sustentar estas acusações foi fornecido, inclusivamente no espaço público. Recebemos cartas de periódicos, entre os quais europeus, sobre este assunto. Publicações de Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e outros países solicitaram aos embaixadores russos que prestassem atenção a esta situação e que fizessem alguma coisa para a resolver. Tenho uma pergunta para as publicações europeias e da UE. Trata-se de um jornalista norte-americano que foi apanhado em flagrante na Rússia. Quando é que vão começar a enviar apelos coletivos aos vossos embaixadores, por exemplo, na Polónia, sobre a detenção de jornalistas dos vossos países na Polónia? Quando é que vão começar a levar esta questão à UNESCO? Esta pergunta não é só para as publicações da UE, mas também para os representantes dos governos da União Europeia. Quando é que a questão do jornalista espanhol preso na Polónia começará a ser discutida internacionalmente? Poderá haver alguma resolução da PACE a este respeito? Ou vão atribuir-lhe um Prémio Sakharov? Nada de interessante para vocês? O seu destino não está a causar tanto interesse? Porquê? Ele é o vosso jornalista. Os países da UE não se importam com ele. Estão preocupados com o destino do jornalista norte-americano, mas não como jornalista, mas como alguém que tentou obter documentos secretos ilegalmente. Portanto, as declarações do "Ocidente coletivo" sobre a sua preocupação com o destino do jornalismo, jornalistas e a liberdade de expressão não valem um tostão furado. Eles não só não se preocupam em tirar da prisão o seu próprio jornalista (refiro-me agora à "UE coletiva"), não consideram sequer necessário submeter esta questão à consulta pública. Esta história é um exemplo marcante da política de duplo padrão praticada pelo Ocidente sempre que a opinião de um jornalista vai contra a opinião oficial de Washington. Além disso, é um exemplo crestomático de como um jornalista é metido na prisão e descartado como fator incómodo e desnecessário. Nada dizem sobre a necessidade de se interessar pelo seu destino. Por outro lado, continuando a acusar a Rússia de todos os pecados mortais, incluindo a perseguição a jornalistas, os ocidentais são bastante hábeis a "limpar" os representantes dos meios de comunicação social independentes e o seu espaço de informação se registarem uma tentativa de se transmitir um ponto de vista alternativo à opinião dominante sobre os acontecimentos em torno da Ucrânia.

 

Sobre a participação russa nos Jogos Desportivos da ALBA

 

A 21 de abril deste ano, teve lugar a cerimónia de abertura dos Jogos Desportivos da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), Caracas, La Guaira. Cerca de 3500 atletas de 11 países irão competir em 35 modalidades no âmbito desta grande iniciativa desportiva inter-regional. É a primeira vez que os Jogos se realizam num formato aberto. A Rússia é um convidado especial da Aliança e o único participante extrarregional. A equipa nacional russa integra 48 atletas e irá disputar provas em sete modalidades. O Ministro dos Desportos da Federação da Rússia, Oleg Matitsin, participou na cerimónia de abertura dos Jogos.

A participação de atletas russos nos Jogos da ALBA sob a bandeira nacional e sem quaisquer restrições discriminatórias e ilegítimas impostas pelo Comité Olímpico Internacional mostra um elevado nível de relações com os países da ALBA. Tudo isto constitui um importante contributo para o reforço da amizade entre os nossos países e povos e uma prova da nossa disponibilidade para nos opormos conjuntamente às tentativas de politização do desporto empreendidas por alguns países e instituições internacionais.

Penso que este é um bom exemplo de como se pode e se vai dar uma resposta a todos aqueles que estão empenhados em destruir o movimento desportivo mundial. Sim, eles vão atacar o movimento olímpico internacional. Infelizmente, pelo que estamos a ver, o COI não é capaz de resistir a estes ataques. Mas isso não significa que o desporto mundial, a cooperação internacional no desporto, os contactos entre os atletas (aqueles nos eventos desportivos) não tenham futuro. De modo algum.

Estou certa de que o mundo, os países, as nações saberão encontrar soluções para isso, semelhantes a esta competição regional, intercontinental, no seio de associações interestatais. Aqueles que pensam que podem subjugar o desporto mundial à vontade de um pequeno grupo de países que se consideram no direito de decidir quem deve e não ganhar medalhas, estão enganados. Isso não vai acontecer.

 

Sobre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

 

Este ano celebra-se o 30º aniversário da proclamação do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio). Criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas por iniciativa da UNESCO, a data tem como objetivo atrair a atenção dos governos e da opinião pública para a necessidade de garantir a liberdade de imprensa e a segurança dos jornalistas. Isto é, de facto, uma palhaçada. A ONU, Assembleia Geral, dia 3 de maio, liberdade de imprensa, UNESCO, necessidade de atrair a atenção - e tudo isto num contexto de recusa de vistos a jornalistas russos que foram enviados para cobrir eventos na ONU, num contexto de perseguição a um dos principais jornalistas de investigação do mundo, Julian Assange, num contexto de vilipêndio dos meios de comunicação social que não se enquadram na tendência internacional, mundial (não internacional em termos de qualidade interestatal, mas no sentido de mundial, unindo um certo número de representantes dos meios de comunicação social do "Ocidente coletivo"). Aqueles que não se enquadram são apagados, expurgados e perseguidos. Tudo isto quando alguns jornalistas se encontram atrás das grades. Já falei de Julian Assange, vou citar também Marat Kasem, e hoje falei também do jornalista espanhol. As celebrações continuarão a realizar-se, aparentemente dentro do cronograma previsto. Tradicionalmente, o Secretariado da UNESCO organiza uma conferência temática comemorativa do Dia Mundial. Este ano, o evento comemorativo terá lugar na sede da ONU, em Nova Iorque, sob o lema "Construindo o futuro dos direitos: a liberdade de expressão como motor de todos os outros direitos humanos". Onde é que a UNESCO esteve durante o último ano, para já não dizer: durante os últimos anos? Onde está a reação da UNESCO ao caso de Marat Kasem, aos numerosos casos de assédio a jornalistas na Ucrânia, aos casos de assassínio de jornalistas e publicistas russos? Ou não há tempo nem dinheiro para isso? Tudo gasto para organizar as comemorações em Nova Iorque? Alguém que vai falar em nome do secretariado da UNESCO vai encontrar forças para, pelo menos, citar os nomes de Daria Duguina e de todos os que foram mortos ou estão na prisão devido à sua posição como jornalistas e publicistas? Ou continuará a falar de direitos humanos sem perceber de que pessoa concreta estão a falar?

Infelizmente, apesar de esta iniciativa ser ambiciosa, os organizadores não é que tenham falhado, simplesmente não se preocuparam em criar condições básicas para a liberdade de expressão, como o pluralismo de opinião e a inclusão, na própria conferência.

O processo de seleção de intervenientes, entre os quais burocratas internacionais, dirigentes de ONG de defesa dos direitos humanos e empresas de comunicação social do "Ocidente coletivo", não foi transparente e não deixa grandes esperanças quanto ao carácter representativo e imparcial dos debates. É certo que não haverá uma participação igual e não discriminatória. O facto é que os defensores neoliberais da liberdade de expressão seguem abertamente a lógica do Ministério da Verdade descrito no romance do escritor britânico George Orwell e dividem a paisagem mediática multifacetada em "amigos" e "inimigos" (em meios de comunicação social "amigos" e em meios de comunicação social "inimigos) em " jornalistas certos" e (como lhe chamam) em "propagandistas".

Apelamos aos secretariados das instituições internacionais envolvidas na promoção de uma agenda não universal no jornalismo e na comunicação social para que se guiem pelo princípio da imparcialidade na preparação de eventos que pretendem ter um alcance internacional. Quanto ao próximo fórum de Nova Iorque, seguindo o pensamento de Josep Borrell, pensamos que este "encontro" de habitantes civilizados do belo "jardim" não traz qualquer valor acrescentado aos habitantes da "selva".

 

Sobre o concurso "Líderes da Rússia

 

Gostaria de salientar que continua em andamento o processo de inscrições para a 5ª Edição do Concurso de Gestores "Líderes da Rússia" - o projeto emblemático da plataforma presidencial "Rússia – País de Oportunidades". De acordo com o Comité Organizativo, 70 países já se inscreveram para o concurso.

Os cidadãos estrangeiros participam no concurso desde a sua segunda edição. Desde então, o concurso recebeu inscrições de 150 países, o que representa quase 80% de todos os Estados membros da ONU. Os vencedores da quinta edição entre os participantes estrangeiros terão, para além dos prémios, a oportunidade de obter a cidadania russa pelo procedimento simplificado enquanto os finalistas receberão um certificado de residência na Federação da Rússia.

Gostaria de recordar que, 27 participantes na 4ª Edição, entre os quais nacionais dos EUA, França, Polónia, República da Moldávia, Israel, Bulgária, Grécia, Arménia, Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão e Bielorrússia, obtiveram a cidadania russa através de decretos do Presidente russo, Vladimir Putin.

Em quatro edições, o concurso recebeu mais de 840 mil inscrições de 150 países. A inscrição para o concurso pode ser realizada até ao dia 14 de maio no site лидерыроссии.рф.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: O responsável pela política externa da UE, Josep Borrell, afirmou, há dias, que a UE iria estabelecer relações com outros países tendo em conta as suas posições relativamente à Rússia e à China. "Temos de trabalhar com muitos mais países terceiros, temos de combater as narrativas russas na Ásia, em África e na América Latina", disse Josep Borrell, acrescentando que tem pronto um plano nesse sentido. Poderia comentar esta sua declaração?

Maria Zakharova: A Missão Permanente da Rússia junto da UE já publicou um comentário sobre esta declaração no dia 25 de abril. Da minha parte, só gostaria de acrescentar algumas palavras. Esta declaração de Josep Borrell é mais uma afirmação inadequada. Ele é simultaneamente um diplomata e um representante da União Europeia, fingindo ser uma pessoa que exprime a posição não só dos Estados-Membros da UE, mas também dos seus povos. No entanto, isto não corresponde, de nenhum modo, aos seus interesses. Ninguém os consultou quando Josep Borrell formulou a sua posição. Este é mais um exemplo de ideologização do projeto europeu (refiro-me à União Europeia), de violação, pelos seus dirigentes, de um dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, relativo ao respeito pela soberania dos Estados e pelo seu papel independente na determinação do seu caminho de desenvolvimento e das suas políticas externa e interna.

A segregação também é evidente aqui. Estamos a assistir novamente à divisão em aqueles que têm o direito de viver do jeito que quiserem, contactar com quem quiserem, construir uma política interna e externa soberana de forma independente, e aqueles que não têm este direito e a que o primeiro grupo de países irá dizer como devem viver, trabalhar, etc.

Recentemente, nos seus contactos bilaterais e discursos públicos, os países da UE negaram indignados que confrontem os países com a escolha geopolítica artificial de "estar connosco ou estar contra nós". Agora falam abertamente sobre isso. Antes, costumavam falar da liberdade dos países de escolherem como interagir com um ou outro ator das relações internacionais, aplicando, ao mesmo tempo, "estímulos" económicos e controlos monetários e impondo medidas restritivas contra aqueles que não queriam servir os interesses ocidentais. Também usavam para a pressão todo o conjunto de instrumentos relacionados com a temática de vistos. A lealdade à UE não garantia o bem-estar: os recursos eram retirados dos países controlados, estes tornavam-se dependentes da UE e, quando surgiam problemas económicos ou tensões sociais, eram abandonados à sua própria sorte. As revelações de Josep Borrell não surpreendem ninguém: ele faz regularmente declarações inadequadas, "inadequadas" porque estão cheias de ultimatos e hipocrisia. Infelizmente, estes são os principais "pilares espirituais" da ideologia de uma "ordem mundial baseada em regras". Este facto não contribui para a popularidade da União Europeia. As tentativas de remediar esta situação através de uma propaganda agressiva, da intimidação, da rejeição total de pontos de vista alternativos e da imposição de uma lógica de confronto apenas contribuem para um isolamento maior da UE. Em última análise, a UE é a que mais vai sofrer com as suas tentativas de dividir o mundo, erguendo uma nova "cortina". Antigamente, havia uma "cortina de ferro", desta feia, a "cortina será, botânica". A divisão será feita com base nos princípios vegetais. Acho que estão a julgar a humanidade pelo seu código de valores, encarando-a como plantas.

Pergunta: A 20 de abril, o parlamento da Letónia aprovou a lei que proíbe a realização de celebrações do Dia da Vitória. Tem algum comentário sobre isso?

Maria Zakharova: É outro ato blasfemo do regime da Letónia e prova de que os legisladores letões estão ao serviço das aspirações revanchistas dos dirigentes neonazis locais. Para eles, o 9 de Maio não é o Dia da Vitória, mas sim um dia de derrota. E para nós é o Dia da Vitória sobre o fascismo e o nazismo; para eles (já o admitiram) é o dia da derrota. Não há outra forma de o interpretar este ato. Gostaria também de recordar que o parlamento letão não representa a totalidade da população da Letónia, porque um número significativo de habitantes, "não cidadãos", está privado da oportunidade de votar, do direito democrático básico de participar em eleições e não pode determinar a composição do mais alto órgão legislativo daquele país. Por conseguinte, tudo o que está a acontecer mostra o verdadeiro caráter do regime que está no poder na Letónia e não reflete as determinações na sociedade letã em geral.

Este regime não esconde o seu apoio ao neonazismo. A situação atual em torno da Ucrânia está correlacionada com a sua visão histórica. Tudo isto demonstra que estamos certos ao chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome e acusando-os de complacência para com as novas manifestações do nazi-fascismo. Esta história mostra que esta não é a opinião de alguns políticos isolados, nem palavras retiradas do contexto, mas sim uma política deliberada de um regime (também patrocinado pelo Ocidente) que apoia o colaboracionismo existente durante a Segunda Guerra Mundial e - na fase atual – a promoção de manifestações neonazis sob a égide do regime de Kiev e as tentativas de as fixar em território ucraniano.

Pergunta: James Rubin, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, na época de agressão da NATO contra a Sérvia, quando o edifício da companhia de rádio e televisão sérvia foi bombardeado, e agora enviado especial do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, exige através da Rádio Europa Livre, que a RT Balcãs seja encerrada e afirma que gostaria que os meios de comunicação social russos não estivessem presentes em nenhum lugar do mundo. Alguns dias mais tarde, a mesma fonte afirmou que a UE estava a elaborar sanções contra a RT Balcãs no âmbito de um novo pacote de sanções antirrussas. Poderia comentar esta situação e como explicaria o desejo dos líderes ocidentais de sufocar os meios de comunicação social que não trabalham do modo como eles entendem?

Maria Zakharova: A situação é absurda. Estas declarações falam por si. O Ocidente não esconde mais nada, diz tudo diretamente. Comentámos várias vezes este assunto hoje: comentámos como Mikhail Podoliak, conselheiro do Chefe do Gabinete do Presidente ucraniano, disse que era necessário e possível destruir pessoas nas regiões da Crimeia, Lugansk, Donetsk, Zaporojie e Kherson. Da mesma forma, as declarações que citou demonstram um desejo de destruir, neste caso os meios de comunicação social. Comentar o quê? Chamou o mal pelo seu nome e pede que eu lhe dê uma designação adicional? Não pode haver outra designação para estas coisas. Costumávamos tentar chamar a atenção para a duplicidade de critérios e a hipocrisia. Agora estão a dizê-lo abertamente: dizem que não deve existir a Rússia na forma como ela existe agora, não deve existir a cultura russa nem a língua russa, pelo menos nas dimensões atuais. Dizem que não deveria haver media nem jornalistas russos. Dizem isso sem rodeios. Não é necessário mais nenhum comentário. A única coisa possível é afirmar que este é um ponto de vista imperialista, uma manifestação de neocolonialismo. Alguns países usurpam, sem quaisquer fundamentos morais, o direito de modelar o mundo e o seu desenvolvimento a seu critério, de dizer quem pode ou não viver, falar, comerciar, produzir, ter filhos. Esta é a versão moderna do sistema de escravatura, em que as metrópoles se arrogam o direito de se considerarem a si próprios senhores e os outros, seus escravos. Pode-se falar deste modo com aqueles que não têm capacidade física para responder. Mas não se pode falar deste modo connosco. Nós temos como responder. Aqueles que gostam destas regras do jogo têm o direito de as seguir. Nós não gostamos delas. Foi contra isso que nos revoltámos.

Os ocidentais dizem sem rodeios que Washington quer que a Rússia não tenha nenhuma hipótese de divulgar a sua opinião sobre os processos mundiais, quer o próprio conceito de meios de comunicação social russos no estrangeiro inexista. Isto porque os meios de comunicação russos não permitem que o "Ocidente coletivo" liderado pelos EUA lave os cérebros do público internacional no sentido que lhe é conveniente. Os nossos meios de comunicação social, os nossos jornalistas fazem reportagens a partir dos epicentros dos acontecimentos mundiais, fazem análises baseadas em factos, encorajando assim as pessoas no mundo a avaliar de forma crítica a realidade (na verdade, é normal que as pessoas o façam desta forma). Aparentemente, isto vai contra os planos de zumbificação que os governantes norte-americanos têm em relação à sua população.

Se vir a televisão norte-americana, verá que as questões de importância global sã interpretadas com base na versão norte-americana, unilateral, quase esterilizada, refinada e adaptada às teses divulgadas por Washington. Por conseguinte, qualquer ponto de vista alternativo desacredita aos olhos do público norte-americano os seus próprios meios de comunicação social, que são tão tendenciosos que simplesmente se contradizem a si próprios. É evidente que os norte-americanos estão num impasse ideológico. Falamos disto regularmente. Esta é mais uma manifestação daquilo que estamos constantemente a afirmar e a exemplificar.

Pergunta: Poderia comentar as "eleições" no norte do Kosovo e Metohija, nas quais participaram apenas 13 sérvios? Porque é que os países ocidentais apoiaram estas eleições, apesar do anunciado boicote da população sérvia? O que é uma eleição sem eleitores e qual é o objetivo de tais eleições?

Maria Zakharova: Fizemos imediatamente um comentário sobre esta "eleição". Foi publicado no nosso site no passado dia 24 de abril e diz que "as instituições provisórias de governo autónomo de Pristina continuam a fomentar a situação no Kosovo, conduzindo deliberadamente o diálogo com Belgrado a um impasse. A população indígena de origem sérvia e os seus direitos e liberdades fundamentais estão novamente em risco.

A realização, a 23 de abril, das chamadas eleições municipais no norte da província autónoma, habitada pelos sérvios, foi mais uma prova do desdém. Apesar do boicote da maioria sérvia e da sua recusa em apresentar candidatos, a votação, sob pressão dos ocidentais, "aconteceu". Os resultados são os seguintes: os sérvios boicotaram unanimemente esta farsa do processo democrático - 96,5% dos eleitores não foram às urnas. No entanto, a baixa afluência de 3,5%, a falta de condições básicas para a expressão da vontade (dois terços das assembleias de voto foram instaladas em contentores móveis) não impediram Pristina de, com indisfarçável cinismo, qualificar as eleições como bem-sucedidas e até de anunciar os "vencedores". Os quatro vencedores eram naturalmente albaneses, que obtiveram, em diferentes municípios, entre 100 e 519 votos, enquanto os eleitores aptos a votar somam quase 46 mil. É o que é "Estado de direito" à maneira ocidental (neste caso, a maneira kosovar), de que os EUA e a UE tanto gostam de falar. É assim que vêem o futuro da região. É um exemplo crestomático. Podem emoldura-lo e exibi-lo a todos para mostrar como a democracia será organizada em todos os locais dos Balcãs por onde os EUA e a UE por eles liderada passarem. Trata-se de uma substituição provocatória dos procedimentos eleitorais universalmente aceites por uma imitação vergonhosa, que, no entanto, convém perfeitamente aos patrocinadores ocidentais de Pristina: encorajam a ocupação do norte do Kosovo e procuram privar definitivamente os sérvios do direito de voto, face à perseguição e ao terror desencadeados pelo "primeiro-ministro" local Albin Kurti.

Os kosovares estão a vangloriar-se de não terem cumprido os seus compromissos de diálogo em Bruxelas, ameaçando impedir a criação de uma Comunidade de Municípios Sérvios no Kosovo com poderes executivos, aumentando a presença de polícia de choque em regiões não albanesas e intimidando a população local. Os emissários de Washington e de Bruxelas há muito que alinham com a direção de Pristina, encorajando falsas acusações contra a comunidade sérvia e mantendo o silêncio sobre a ameaça crescente de um nacionalismo albanês agressivo. Em consequência, a mediação da UE tornou-se numa linha de produção de pseudo-soluções que beneficiam o lado albanês do Kosovo. Poder-se-á chamar a isto um acordo, uma convergência de posições, uma resolução de contradições? Não, isso é diametralmente oposto.

As "eleições municipais" na província puseram em evidência a perniciosidade da política ocidental para a região. Apostar na arbitrariedade, na discriminação, na limpeza étnica não pode resultar na paz e conciliação. O nexo EUA-UE, incapaz de ultrapassar o antagonismo sérvio enraizado, está a empurrar o Kosovo cada vez mais para a crise.

Por sua vez, os sérvios, que não quiseram participar na farsa eleitoral, demonstraram uma verdadeira dignidade nacional, unidade e coesão em condições difíceis, a determinação em lutar lado a lado com Belgrado.

Pergunta: Quanto aos sinais enviados por Serguei Lavrov a António   Guterres sobre as violações ou o incumprimento do acordo de cereais pelos nossos adversários. Qual poderá ser o limite da paciência da Rússia para continuar a participar no mesmo?

Maria Zakharova: Emendá-lo-ia de imediato. Não enviámos nenhuns sinais. A reunião entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, durou muito tempo e foi, quase inteiramente, dedicada à implementação (e, do nosso ponto de vista, à não implementação), na íntegra, da "Iniciativa do Mar Negro", a que o Ocidente chama "acordo de cereais". Isso é sobre os sinais e o limite da paciência. Recorde-se que a Rússia prorrogou o acordo por apenas 60 dias, dizendo, porém, que não estava satisfeita com a maneira como este se implementava. A parte russa expôs a sua posição. Recebemos um pacote de propostas do Secretário-Geral das Nações Unidas dirigido ao Presidente russo, Vladimir Putin, sobre o desenvolvimento, a implementação e os futuros progressos da "Iniciativa do Mar Negro". Tudo isto foi tomado em consideração. A decisão será tomada após a questão ser estudada por diferentes ministérios.

Pergunta: Após a nossa viagem à sede da ONU em Nova Iorque, como vemos o mundo multipolar, cuja ideia estamos a tentar transmitir?

Maria Zakharova: Eu dividiria a sua pergunta em duas partes. A nossa viajem, como referiu, a Nova Iorque, a nossa presidência da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas proporcionou-nos mais uma oportunidade para levar ao conhecimento da comunidade mundial as nossas posições fundamentais sobre esta questão. Não produzimos nada de novo, apenas expusemos os nossos pontos de vista para explicar a nossa orientação básica em matéria de política externa, chamar a atenção para ela e salientar algumas das suas áreas mais importantes.

A Rússia é a favor de uma ordem mundial mais justa e democrática que garanta uma segurança fiável, preserve a identidade cultural e civilizacional e assegure a igualdade de oportunidades de desenvolvimento para todos os Estados. Isto pode ser garantido precisamente no âmbito de um sistema de relações internacionais multipolar. Os princípios básicos podem ser consultados na nova redação do Conceito de Política Externa aprovado pelo Presidente da Federação da Rússia a 31 de março. Penso que muitos já o fizeram. Em particular, consagra como princípios fundamentais a igualdade soberana dos Estados, a não ingerência nos assuntos internos, a diversidade de culturas e civilizações, e muito mais.

Recomendo também que leia a intervenção de Serguei Lavrov no Debate Aberto do Conselho de Segurança da ONU realizado a 24 de abril.

Pergunta: O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, efetuou recentemente uma viagem pela América Latina. No final da sua visita ao Brasil, afirmou que, entre outras coisas, o tema dos BRICS também foi abordado. A Bloomberg citou recentemente sherpa da África do Sul nos BRICS que afirmou que 19 países manifestaram interesse em aderir aos BRICS. Durante a sua visita ao Brasil, o Ministro abordou o mecanismo de adesão de novos países à associação?

Maria Zakharova: Esta questão está certamente presente nos contactos com os nossos parceiros dos BRICS, tanto no formato bilateral como nas discussões a cinco. Também a discutimos regularmente com os nossos colegas do Brasil. A questão do alargamento do grupo BRICS é mais do que atual e está, evidentemente, no centro das atenções da associação. Estas questões são levantadas ao nível dos Chefes de Estado e dos Ministros dos Negócios Estrangeiros dos cinco países. A Declaração de Pequim da XIV Cimeira dos BRICS inclui uma incumbência de elaborar princípios diretores, normas, critérios e procedimentos necessários. Toda a gama de questões relacionadas está a ser discutida no âmbito do mecanismo de sherpas e sous-Sherpas dos BRICS. Tudo isto exige uma análise aprofundada e um trabalho interno delicado para se chegar a um consenso. Sim, discutimos este assunto regularmente e aproveitamos todas as oportunidades. Ao mesmo tempo, como temos repetidamente salientado, consideramos prematuro, nesta fase, revelar os pormenores do processo de ajustamento.

Pergunta: A senhora disse que o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enviou as suas propostas sobre a aplicação integral do acordo de cereais. A Rússia já teve tempo de ler as suas propostas? São aceitáveis para a Rússia?

Maria Zakharova:  Todos os materiais foram encaminhados ao Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin. Como já referi, a decisão será tomada após a questão ser examinada pelos ministérios interessados.

Pergunta: Segundo as declarações de Serguei Lavrov na sede da ONU, o acordo de cereais está num impasse. Dada a posição do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, o que é que o pode salvar neste momento?

Maria Zakharova: A resposta é trivialmente simples: o seu cumprimento na íntegra. O "acordo" tem duas partes, devendo ambas ser cumpridas. No entanto, o cumprimento deste acordo não pode ser seletivo. Não é um buffet, onde cada pessoa pode servir-se daquilo que deseja e não tocar naquilo que não lhe agrada. É um compromisso que tem de ser cumprido na forma como está escrito no papel. Quem dera que tudo isto fosse cumprido. Sabemos bem que a situação "no terreno" é complexa, é dinâmica e existem muitos obstáculos. Mas se isto foi acordado pelas partes e aceite como base de trabalho, então todas as partes devem cumpri-lo. Nas negociações em Nova Iorque ouvimos falar muito dos esforços que o Secretariado das Nações Unidas está a fazer para o levar à prática. No entanto, o esforço, por si só, não é suficiente. Entendemos que não há necessidade de pôr em dúvida as palavras do Secretário-Geral, António Guterres, de que estes esforços estão efetivamente a ser feitos. Ao mesmo tempo, é necessário tomar nota de que, infelizmente, estes esforços não estão a atingir plenamente o seu objetivo. Globalmente, a segunda parte da "Iniciativa do Mar Negro" não está a ser cumprida. Não está a funcionar.

Pergunta: O Grupo de Trabalho Internacional sobre as Sanções à Rússia, que integra cientistas e funcionários ocidentais e ucranianos, propôs baixar o "teto" dos preços do petróleo russo para 45 dólares (eventualmente para 30 dólares) por barril, e embargar os diamantes, metais, etc. russos. Estará a Rússia preparada para as novas restrições? E estará a Rússia já a preparar uma resposta preventiva a estas restrições? Qual poderá ser a natureza destas medidas de retaliação?

Maria Zakharova: As restrições unilaterais, as sanções, as medidas restritivas do "Ocidente coletivo" liderado por Washington são uma doença do atual sistema liberal ocidental. Esta é uma doença progressiva. A única pergunta que se pode fazer agora é: esta doença tem ou não cura? A devastação causada pelas restrições e sanções não é, para dizer o mínimo, insignificante nos próprios países ocidentais. Muitas delas são de natureza sistémica (outra vez surge a questão: são reversíveis ou não?).

Não estou a falar de oportunidades e potencialidades económicas globais, de mercados comuns. Este tema está a desaparecer. Aqui tudo é óbvio e claro. Durante muitos anos, os mecanismos de mercado foram construídos no Ocidente. A aplicação de novas e novas sanções antirrussas unilaterais que atingem também os seus autores acaba com toda a ideologia dos mecanismos de mercado. Não estamos a falar sobre mercados liberais, mas sobre mecanismos de mercado. É óbvio que as medidas restritivas unilaterais sem precedentes contra o nosso país por parte do "Ocidente coletivo" infligiram um forte golpe à economia global. A economia mundial está apenas a começar a recuperar-se gradualmente da crise causada pela pandemia da COVID-19. Em toda a parte, verificou-se um declínio da atividade empresarial, a destruição das cadeias de produção e de fornecimentos, o abrandamento das atividades de investimento, o aumento da volatilidade dos mercados financeiros e de matérias-primas, o aumento do desemprego, a diminuição dos rendimentos das empresas e das famílias e muito mais.

Os analistas discutem abertamente a ameaça de desindustrialização da Europa devido ao declínio da sua competitividade. Simultaneamente, os representantes da UE, devido à necessidade de substituir os fornecimentos de gás da Rússia, optaram, de facto, por reorientar as cadeias de fornecimentos globais de GNL, causando danos diretos e indiretos (aumento acentuado dos custos de transporte) aos países importadores de energia na Ásia e aos países em desenvolvimento. Por outras palavras, os Estados Unidos, ao lançarem uma espiral de sanções contra a Rússia, estão de facto a utilizar métodos de concorrência desleal contra os seus aliados europeus, os seus parceiros da UE, e estes últimos, por sua vez, apoiando-se no conceito de desenvolvimento "verde", procuram transferir o peso dos problemas para as economias em desenvolvimento. Tudo isto é acompanhado de declarações de que o "Ocidente coletivo" se preocupa com os necessitados e os países em desenvolvimento.

É certo que quaisquer restrições comerciais adicionais impostas ao nosso país só irão agravar os problemas da economia global, provocar uma escassez de matérias-primas e um aumento do custo dos produtos acabados. Tudo isto fará aumentar os preços ao consumidor, a inflação e os processos conexos. Infelizmente, em última análise, serão os países menos desenvolvidos a sofrer com estas sanções unilaterais. "O Ocidente coletivo", dado o seu passado colonial, aprendeu a transferir os seus problemas, por ele mesmo criados, para os mais fracos e menos preparados. Naturalmente, continuaremos a adaptar a economia nacional às novas realidades comerciais e financeiras externas. Intensificaremos as nossas atividades para a substituição das importações. Não há dúvida de que podemos substituir, de forma consistente, os mercados ocidentais para os nossos produtos de exportação e proteger os nossos interesses. Neste caso, temos uma noção clara de como atuar. Não temos tempo nem vontade de esperar que o Ocidente mude de ideias. Só devemos ir para a frente. Utilizaremos todas as oportunidades e instrumentos disponíveis para proteger os nossos interesses. O Ocidente já começa a dizer abertamente que estamos a resistir às sanções e a reforçar a competitividade da nossa economia.

Pergunta: O que pensa o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo sobre as notícias de que o G7 está a considerar uma proibição total das exportações para a Rússia?

Maria Zakharova: Já comentei esta questão. Posso dizer novamente que não é de surpreender. Penso que poderá haver formulações ainda mais absurdas, não posso excluir, porque isto é o que eles chamam uma "ordem mundial baseada em regras". Vão inventar "regras" e obrigar todo o mundo a "jogar por elas". As novas restrições e proibições comerciais impostas à Rússia minam os princípios do comércio multilateral e da concorrência universalmente aceites e desvalorizam completamente as normas da igualdade soberana e da cooperação mutuamente vantajosa. Não se preocupam com eventuais perdas, porque dizem respeito sobretudo aos países da UE. Quem é que em Washington vai pensar nos outros países? Se forem impostas novas sanções, reagiremos. Mas, como sempre, fá-lo-emos de forma ponderada e equilibrada, guiados pela tarefa de proteger os nossos interesses, os nossos cidadãos, manter a estabilidade da economia nacional e os interesses das empresas nacionais. Pretendemos continuar a desenvolver a interação com parceiros fiáveis que seguem uma política construtiva e não ideológica nas suas relações connosco, com parceiros que não estão empenhados em destruir tudo e todos, que são pragmáticos e agem em conformidade com as normas e regras internacionais estabelecidas e aceites por todos, e não com base em regulamentos inventados.

Por sua vez, estes países recebem a possibilidade de entrar no mercado em desenvolvimento dinâmico do nosso país e - num contexto mais amplo - da União Económica Eurasiática. Com a saída de algumas empresas estrangeiras da Rússia, alguns nichos do nosso mercado ficaram desocupados e podem ser ocupados por produtos de países interessados em manter uma cooperação pragmática connosco.

Pergunta: O coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, congratulou-se com o contacto telefónico entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e o Presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, e afirmou que era preciso ver se a conversa teria a paz como consequência. Como avalia esta reação dos EUA ao contacto telefónico entre Vladimir Zelensky e Xi Jinping?

Maria Zakharova: Continuamos a registar incongruências e contradições nas declarações norte-americanas. Ainda recentemente, os norte-americanos insistiram em que a situação fosse resolvida "no campo de batalha", afirmando que "não havia tempo" para negociações. Não apoiaram a iniciativa de paz chinesa. Agora estão a dizer outras coisas.

Eu já disse que não vale a pena comentar as declarações de particulares, opiniões pessoais quer da Casa Branca quer, mais amplamente, de todos os Estados Unidos, não faz sentido. Tais contradições levam qualquer análise a um beco sem saída. De facto, vemos uma resposta contrária dos EUA. Reside em aumentar o fornecimento de armas e em continuar a financiar o regime de Kiev e os seus crimes. Esta é a sua resposta que mostra a sua atitude para com todos os planos e iniciativas de paz. Os norte-americanos consideram-se a si próprios beneficiários da continuação das hostilidades.

Pergunta:  O Diretor do Departamento de Informações Militares da Ucrânia, Kirill Budanov, disse, ameaçando desferir um golpe nuclear: "Não haverá ataque nuclear se recuperarmos a Crimeia". Estas declarações não permitem afirmar que a Ucrânia está a fabricar armas nucleares para atacar o território da Federação da Rússia?

Maria Zakharova: Vou começar por dizer que nos lembramos muito bem das declarações altissonantes de Vladimir Zelensky, que dificilmente podem ser interpretadas senão como tentativa de "apalpar o terreno" no sentido de rever o estatuto não nuclear da Ucrânia. Recorde-se que falou repetidamente sobre isso. Lembramo-nos também dos apelos aos países da NATO para efetuarem ataques nucleares preventivos contra a Rússia. Lembramo-nos das declarações de forças políticas e políticos ucranianos em funções que apelaram a um ataque nuclear contra a Rússia. Fizemos várias vezes avaliações destas ideias totalmente inadequadas e totalmente inaceitáveis. Por conseguinte, não há nada de fundamentalmente novo e surpreendente para nós nos discursos dos capangas de Vladimir Zelensky. Lógica destrutiva, afirmações irresponsáveis, provocações, tentativas de manter à tona os temas relevantes que são cruciais para toda a humanidade sensata. Não consideramos necessário analisar todas as escapadas absurdas lançadas em abundância pelo regime de Kiev. Ele está realmente numa espécie de estado mórbido, por vezes inadequado. Isto demonstra, uma vez mais, a natureza dos "ativistas" de Kiev. As conclusões necessárias foram feitas há muito tempo - tanto por nós como pela parte da comunidade internacional que encara a clique de Kiev como fenómeno internacionalmente ilegal, porque tem a possibilidade de fazer análise com base na sua opinião e nas suas avaliações e não nas teses e orientações impostas pelo Ocidente.

Quanto à possibilidade de a Ucrânia adquirir armas nucleares ou construir uma bomba suja, agências russas competentes estão a monitorizar todos os indícios de tais atividades.

Pergunta: O partido no poder na África do Sul planeia retirar-se da jurisdição do Tribunal Penal Internacional. O partido afirma que a sua decisão se deve a "determinadas situações". Refere-se, na sua opinião, ao mandado de captura emitido pelo TPI contra o Presidente russo, Vladimir Putin? O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo congratula-se com o desejo de outros países de se retirarem também da jurisdição do TPI?

Maria Zakharova: Estas declarações foram feitas dentro de um país soberano. Penso que não é necessário comentá-las. Cada Estado tem uma posição oficial, cada país elabora a sua posição a seu critério. Quando há posição formulada, então comentamo-la. Não achamos que seja necessário comentarmos debates e discussões internas. Vimos estas declarações. Tomámos nota delas.

A nossa atitude para com o Tribunal Penal Internacional é do conhecimento geral. O TPI, como se designa a si próprio, não conseguiu tornar-se um órgão universal e imparcial de justiça penal internacional. Infelizmente, tornou-se mais num instrumento de propaganda e pressão política do Ocidente.

Recorde-se que, já em 2016, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin assinou um despacho "Da intenção da Rússia de não se tornar parte do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional".

A nossa posição neste caso não é oportunista, não depende de decisões, ou melhor, pseudo-decisões deste organismo. A nossa posição remonta a uma época muito anterior. Declarámo-la oficialmente há mais de seis anos. E reafirmamo-la muitas vezes.

Pergunta: Faço esta pergunta não só porque a senhora responde a todas as perguntas, mas porque tem uma credibilidade especial. Recentemente, passei cinco horas no terminal de autocarros em Cracóvia. Ali só se falou russo. Houve poucas pessoas a falarem polaco. As mães com crianças falaram russo muito bem. Os bebés de dois ou três anos falaram com os pais apenas em russo. Os polacos tomam estas pessoas por ucranianos. Nunca ouvi ninguém falar ucraniano. Houve apenas algumas pessoas a falarem pseudo-ucraniano. Quem pensa que são estas pessoas que vão para o Ocidente? A que etnia pertencem? São nossos ou estrangeiros? Refugiados? Estão a fugir do seu regime ou da Rússia?

Maria Zakharova: São vítimas das experiências do "Ocidente coletivo", dos regimes ocidentais obedientes à NATO. Os ocidentais decidiram que a história, a cultura, o desenvolvimento civilizacional não significam nada e que podem reescrever tudo a seu bel prazer: o passado e o presente, a história, as lições do passado, a memória dos antepassados. Já eram bons nisso antes. Não importa que essa experiência tenha tido maus resultados. Acharam possível fazê-lo. Há alguns séculos, e mesmo no século XX, pegaram numa régua e num lápis e traçaram arbitrariamente, em mapas geográficos, fronteiras, nalguns casos pelas rotas comerciais, noutros, pelas linhas pontilhadas, dividindo arbitrariamente povos e dando nomes aos novos países a seu critério. Foi assim que criaram as suas colónias, com dificuldades e problemas persistentes durante muitos anos. Neste caso, decidiram proceder da mesma forma. Pegando numa régua e num lápis e num compasso e segurando o punho atrás das costas, realizaram as suas experiências de reconfiguração de nações inteiras. Lembram-se do comando com o botão "reinício" oferecido pela ex-Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ao Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov? Com os olhos a brilhar de alegria, ela disse que a palavra grafada no botão significava "reinício", na realidade, porém, significava "sobrecarga". Parece-me que queriam "reiniciar" toda a nação que vivia no território da Ucrânia e tiveram uma "sobrecarga". Trata-se de pessoas de diferentes etnias, que se interrogam sobre como devem identificar-se na nova realidade ocidental.

Antes tudo era claro. Não porque fossem distribuídos guias de instrução sobre como proceder, mas porque assim se procedia e se falava em casa, em família. Havia atmosfera de não agravamento destas questões. Ninguém discutia com ninguém para saber a razão por que o seu sobrenome terminava em "-ko" (sobrenomes ucranianos) ou em "-ov" (sobrenomes russos). As coisas eram assim, tudo estava misturado. Atravessámos todos essa etapa histórica. Os ocidentais decidiram fazer um "reset" à maneira ocidental, a exemplo do crisol de raças ocidental. No entanto, deu-se uma "sobrecarga". O "caldeirão de raças" passou a ser "caldeirão do inferno", infelizmente.


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