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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 24 de maio de 2022

996-24-05-2023

 

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

No dia 20 de maio faz um ano da libertação da cidade de Mariupol. Num ano de vida pacífica, a cidade transformou-se e floresceu literalmente. Atualmente, é uma enorme praça de obras que emprega 25.000 trabalhadores de todas as regiões do país. No início do mês, foi restabelecida a circulação de elétricos. Estão em obras de reconstrução 1.800 edifícios, maioritariamente habitacionais. Mariupol está há muito na retaguarda da operação militar especial. No entanto, no dia do aniversário da sua libertação, na manhã de 20 de maio, o regime de Kiev tentou ataca-la com mísseis de longo alcance fornecidos por países ocidentais no intuito de vingar-se dos habitantes da cidade pela sua firme escolha de estar com a Rússia. Isto significa viver-se pacificamente, em harmonia uns com os outros, sem ódio, no amor. Felizmente, o ataque não causou quaisquer danos aos habitantes da cidade ou aos seus bairros reconstruídos.

Simbolicamente, o dia 20 de maio é o dia em que outra grande cidade da República Popular de Donetsk, Artiomovsk, foi libertada dos neonazis ucranianos. E este processo continuará. O Donbass tem de ser libertado dos banderitas neonazis. Por muito que o regime de Vladimir Zelensky e os países ocidentais liderados por Washington que o patrocinam tentem, não conseguirão reduzir a nada a vitória em Artiomovsk.

A incursão de um grupo de homens armados à região de Belgorod, a 22 de maio, concebida para criar nos patrões ocidentais do regime de Kiev uma falsa impressão de que as tropas ucranianas possuem um elevado poder combativo falhou. Todos os ataques terroristas deste género continuarão a ser duramente repelidos. Não é necessário dizer mais nada sobre a natureza terrorista do regime de Kiev e, aliás, dos seus patrões. As provas estão à vista. Quando as infraestruturas civis são deliberadamente atacadas com o objetivo de semear o medo e inculcar o ódio à dissidência - isso é terrorismo e extremismo. É precisamente isso que está agora a florescer nos escalões superiores do regime de Kiev. Registamos (esta é outra prova disso) as declarações cada vez mais agressivas de funcionários ocidentais que não hesitam em apelar ao bombardeamento de regiões russas. Atuam de forma infame porque não se reconhecem como parte no conflito. Não se cansam de falar sobre a necessidade de ajuda ao regime de Kiev, sobre a necessidade (como sempre fazem) de restaurar a democracia algures, de trazer a liberdade, etc. Basta pensar no que os representantes ocidentais estão a dizer. Veja-se uma declaração de Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do Presidente dos EUA. O responsável afirmou que Washington tinha "dado luz verde" à Ucrânia para lançar ataques contra a Crimeia. E até conseguiu justificá-lo dizendo que, para os norte-americanos, a península era a Ucrânia. Por isso, pode ser atacada, o que não pode ser feito em relação aos territórios geográficos da Rússia. Parece cínico, sobretudo numa altura em que o regime de Kiev afirma pretender libertar (em palavras) os seus cidadãos, devendo por isso valorizar a sua vida, e se nos lembrarmos que, durante décadas, os direitos humanos foram o primado da política norte-americana. Onde é que eles estão agora? Perdidos no curso da história. Quando é que Washington se esqueceu de que há pessoas vivas, civis, permitindo que o regime de Kiev atacasse a Crimeia de forma tão "desenfreada"? Washington sabe que há pessoas a viver na Crimeia, civis que vão ao trabalho todos os dias e levam os seus filhos à escola e aos jardins-de-infância? Ou se esqueceu disso? Ou todas as suas declarações sobre os direitos humanos servem apenas para conferências políticas e organizações internacionais, onde os EUA tentam impor a sua posição, obter um determinado número de votos para legalizar as suas ações unilaterais? Este exemplo gritante revela, da melhor maneira possível, a verdadeira natureza e objetivos da política externa dos EUA. As autoridades ucranianas há muito que não consideram nem os cidadãos da Crimeia nem os habitantes das novas regiões da Rússia como seus cidadãos. A recente declaração do Diretor do Serviço de Informações Militares do Ministério da Defesa ucraniano, Kirill Budanov, é outra prova da natureza desumana do regime neonazi de Kiev. O que foi que ele disse? Imaginem, disse haver planos de aniquilação física dos crimeanos inconvenientes, citando até estatísticas. Segundo ele, trata-se de três milhões de pessoas "modificadas", e "terão muito trabalho por fazer para aniquilá-las". Assim, os de Kiev não se diferem em nada dos seus ídolos ideológicos que deram, em tempos, ordens para aniquilar "sub-humanos", como chamaram àqueles que, no seu entender, não deveriam existir e continuar a espécie humana. Esta foi a diretriz do Terceiro Reich.

É impossível imaginar que as pessoas que dizem estas coisas sejam recebidas oficialmente em vários países. Mas é verdade.

O conselheiro do Gabinete do Presidente ucraniano, Mikhail Podoliak, emitiu uma nova parcela de declarações em que desejou que os russos "vivessem como Neandertais". O facto de terem uma ideologia nazi no seu núcleo é agora compreendido por todos. Antes, talvez alguém ainda tivesse dúvidas. Agora já não há mais nenhuma. Tudo isto é patrocinado pelo Ocidente, porque tem a mesma lógica. Recorde-se que, no início, o então Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, prometeu aos habitantes do Donbass que eles e os seus filhos iriam viver em caves enquanto os apoiantes do regime de Kiev iriam usufruir dos benefícios da civilização (as respetivas imagens de vídeo estão disponíveis na Internet, podem encontrá-las). A mesma tese foi expressa por Josep Borrell, Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. Este último dividiu toda a humanidade em aqueles vivem "num belo jardim" e aqueles que estão "na selva". Esta declaração é da mesma categoria. Julgam ter o direito de decidir quem é civilizado e quem é incivilizado e, sobretudo, de o fazer à margem das realidades, dos fundamentos jurídicos, dos factos. Além disso, todos estes representantes do regime de Kiev são ignorantes. Foram simplesmente treinados a pronunciar slogans nazis e nacionalistas. Devido à sua total falta de princípios e à sua disponibilidade para servir qualquer ideologia, inclusive extremista, e perseguir os seus próprios concidadãos e compatriotas, foram "colocados" nestes cargos.  Se Mikhail Podoliak tivesse alguma noção do planeta em que vive, ou pelo menos tivesse lido alguma coisa, saberia provavelmente que a palavra "Neandertais" vem do nome do Vale de Neandertal. Apercebo-me que estou prestes a destruir o frágil mundo de Mikhail Podoliak - este vale fica na Alemanha. Tenho pena das pessoas que fazem tais afirmações sem sequer compreenderem o significado das palavras proferidas. Isso não nos surpreende, porque o ódio às próprias raízes históricas é o principal ideologema das atuais autoridades ucranianas. Estamos a assistir à autonegação acompanhada de ignorância crassa. O "circo de chapiteau itinerante" de Kiev continua a sua digressão, acompanhada pelos êxitos das forças de libertação russas. Esta citação não é da minha autoria. Não a estou a reivindicar. É uma expressão de jornalistas franceses. Não creio que se possa dizer melhor do que eles.

Agora, o protagonista deste " show de circo" foi a Hiroshima para participar na cimeira do G7 e para pedir mais uma tranche de ajuda militar. Os resultados da "viagem" de Vladimir Zelensky foram dececionantes. Houve muita propaganda, muitas promessas, sorrisos e não houve nada de concreto. A promessa de um novo pacote de ajuda militar no valor de 375 milhões de dólares dececionou-o um pouco, pois era uma gota de água no oceano do que ele tinha pedido.

Qualquer entrega de armas ao regime de Kiev não poderá anular as metas e os objetivos fixados antes do lançamento da operação militar especial. Até onde leva toda esta "ajuda"? Isso leva a uma única coisa: a uma nova escalada do conflito e a novas baixas entre os militares e civis. Sabemos perfeitamente que os patrões ocidentais (Washington, Londres e Bruxelas) do regime de Kiev não se preocupam com os cidadãos da Ucrânia. Não querem saber do número de pessoas que estão a morrer ou a sofrer. O seu principal objetivo é utilizá-las como instrumento para promover a sua ideologia destrutiva. Enquanto este instrumento existe (independentemente do estado em que se encontre e em que venham a estar), isso é benéfico e conveniente para o Ocidente. A lógica destrutiva, infelizmente, impregnou todas as atividades internacionais dos dirigentes da NATO.

Gostaria de lhes lembrar que todas as armas ocidentais fornecidas ao regime de Kiev são um alvo militar legítimo para o exército russo. Os exemplos são muitos. O mais recente foi o ataque russo ao sistema de defesa antiaérea Patriot em Kiev. Há muito que a Ucrânia é vista pelo Ocidente como campo de ensaio para vários tipos de armas. E não é só isso. Recorde-se que foram os representantes do regime de Kiev que pediram, em direto na televisão, aos militares ocidentais para utilizarem o território do seu país como campo de ensaio para novos tipos de armas. Já comentámos este assunto muitas vezes. O facto de estas armas chegarem aos militares ucranianos sem passar nos testes não preocupa o regime de Kiev nem os seus patrocinadores. Estamos agora a assistir ao desenvolvimento desta ideologia. O conflito é um excelente pretexto (do ponto de vista do regime de Kiev e dos seus patrões ocidentais) para modernizar as armas e testá-las não só em território ucraniano, mas simplesmente em cidadãos ucranianos. A Espanha acolhe atualmente a maior exposição de armamento dos últimos anos, a Feindef, com cerca de 500 amostras de armas de 25 países. O evento reúne cerca de 100 delegações de todo o mundo e mais de 25.000 profissionais militares. Também estão presentes na exposição amostras de armas atualmente utilizadas no teatro de guerra ucraniano. Graças à política ocidental, foram criadas na Ucrânia condições ideais para o teste de novos tipos de armas, estratégias e táticas de guerra híbrida. Atualmente, o negócio militar dos países ocidentais está a viver um boom inédito. Ao mesmo tempo, está a tornar-se cada vez mais claro que, para eles, o mais importante é que este conflito militar nunca termine. Os EUA e os seus satélites estão dispostos a continuar a fornecer armas no regime de Kiev. A lógica de lutar até ao último ucraniano é algo absolutamente indispensável para os países ocidentais. O Ocidente gosta de afirmar que a Ucrânia está a dar grandes passos rumo à democracia e ao respeito pelos direitos humanos. No entanto, as liberdades democráticas naquele país só dizem, por enquanto, respeito à realização de desfiles Gay Pride. Mas dos direitos políticos ninguém fala na sociedade de Kiev, não posso chamar-lhe sociedade civil.

Ao ser perguntado recentemente pelo Presidente da PACE, Tiny Cox, sobre se Kiev se lembra das suas obrigações de realizar eleições presidenciais em 2024, o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei Danilov, disse que Kiev resolverá este problema sozinha sem qualquer assistência estrangeira. O país (se assim posso dizer), ou melhor as "lascas" do país continuam a existir e a lutar graças à ajuda do Ocidente que lhe fornece armas, medicamentos, produtos - tudo o que é necessário para se manter viável. O representante deste país está a dizer ao Ocidente que não precisa da sua ajuda em questões políticas (ou seja, no cumprimento das leis elaboradas na forma como lhe foi prescrito pelo Ocidente). Em princípio, é assim que se comportam sempre os representantes dos grupos terroristas.

Outro aspeto a assinalar da vida da "Ucrânia democrática" no período de declínio. Solicitadas pelos políticos polacos a pedir desculpa pelo massacre de Volyn (matança de dezenas de milhares de polacos pelos banderites nos anos 1943 e 1944), as autoridades de Kiev, que são ardentes apoiantes e admiradores de Stepan Bandera, recusaram-se, indignadas, a fazê-lo, apesar das suas relações aliadas com Varsóvia que são tão especiais que levaram o regime de Kiev a anunciar dispor-se a unir-se à Polónia num só Estado. É de perguntar como é que tudo isto se vai desenrolar, tendo em conta os factos históricos insolúveis que estão agora a agitar incessantemente as duas sociedades por provocação dos políticos. Aparentemente, Varsóvia precisa de se habituar à natureza do regime de Kiev, porque não haverá mudanças nesta matéria. Trata-se de uma questão existencial para eles. A lógica de estilo Stepan Bandera não será abandonada, podem crer. Haverá apenas uma acumulação.

Os patrões ocidentais tentam não reparar na corrupção na Ucrânia que atingiu uma dimensão catastrófica. Os exemplos abundam. Até os meios de comunicação social norte-americanos gritaram sobre os factos de corrupção na Ucrânia, tentando chamar a atenção para esta situação. Um exemplo recente (o escritor Nikolai Gogol deve estar, pela segunda vez, às voltas no túmulo) é a detenção do Presidente do Supremo Tribunal da Justiça da Ucrânia por subornos no valor de quase 2,5 milhões de euros. De que democracia se pode tratar na Ucrânia sob o regime de Kiev? Onze outros colegas do Presidente do Supremo Tribunal da Ucrânia são suspeitos de crimes semelhantes. Esta é a "democracia" ao estilo de Kiev sob os auspícios de Washington.

Na Ucrânia sob Vladimir Zelensky e sob Petro Poroshenko todas as nomeações foram efetuadas com a participação de Washington (a Casa Branca e outras estruturas). De um modo geral, atuaram como agência de recrutamento de pessoal para o regime de Kiev. Havia cidadãos dos EUA, do Canadá e de outros países da NATO no governo ucraniano. Todas as declarações de que os patrões ocidentais do regime de Kiev não estão a par do que se está a passar na Ucrânia não suportam a mínima crítica. Ao longo das últimas décadas, têm vindo a criar com as suas próprias mãos o tecido dos quadros administrativos e políticos do "beau monde de Kiev". Os dados de todas estas pessoas estavam nos arquivos norte-americanos, as suas nomeações foram feitas com a aprovação dos EUA, etc. Veja-se até onde tudo isto chegou.

Outro detalhe da observância, ou melhor, da não observância dos direitos humanos na Ucrânia. Como foi recentemente divulgado pelos meios de comunicação social, o Centro de Emergência da Ucrânia, dependente do Ministério da Saúde, está a retirar secretamente órgãos dos corpos dos soldados ucranianos mortos, num hospital em Kherson, para serem transplantados, escondendo-se este facto dos seus familiares. É claro que as estruturas internacionais fingem não se aperceber de tais factos e informações. Em princípio, não tomam nota disso. Hoje vou fornecer informações pormenorizadas a este respeito.

O mercenarismo está a prosperar na Ucrânia. Os mercenários polacos são recompensados pela sua participação em operações de combate ao lado das tropas ucranianas com terrenos gratuitos no oeste do país: nas Regiões de Volyn, Lviv e Transcarpátia. A legislação ucraniana prevê atualmente empréstimos preferenciais e a construção de casas para as famílias dos mercenários mortos, a expensas dos contribuintes ucranianos.

Isto não tem nada a ver com os cidadãos ucranianos. Ninguém os consulta. Há todos os sinais de que o Ocidente está a levar a cabo uma verdadeira limpeza étnica dos ucranianos em território ucraniano. Esta catástrofe que se está a desenrolar perante os nossos olhos não tem outra descrição ou definição. Os patões ocidentais do regime de Kiev estão a fazer tudo para destruir completamente os ucranianos como povo, como comunidade. Primeiro, retiraram-lhes a sua história e obrigaram-nos a reescrevê-la, depois simplesmente "corromperam-nos" através da corrupção, depois conduziram-nos a um golpe de Estado, em violação de todas as regras e normas existentes no Estado (que estava apenas a formar as suas instituições). Depois mergulharam-nos numa fase de confrontos internos sangrentos. Depois usaram-nos para (como dizem) "infligir uma derrota à Rússia". Tudo isto pode ser qualificado como tentativa pré-planeada, para além do objetivo principal de desestabilizar a situação no mundo e de contrariar o nosso país, de implementar a tarefa que a Europa Ocidental não conseguiu realizar no primeiro terço e em meados do século XX. Tudo aponta para isso. Como é possível permitir que os mercenários sejam pagos com recursos do Orçamento de Estado pela sua participação num conflito armado em que estão a morrer ucranianos e recebam terras? É mesmo impossível compreender. Não tenho a certeza de que tenha havido precedentes semelhantes na história (nem mesmo na história antiga).

Ao submeter o seu povo a um genocídio, o regime de Kiev está a dar terras a estrangeiros gratuitamente. Isto apesar do facto de, durante muitos anos, ter sido negada uma segunda cidadania na Ucrânia aos cidadãos que, devido a circunstâncias alheias à sua vontade, foram obrigados a viver em vários países após o colapso da União Soviética. Foi-lhes dito a toda a hora que só podiam ser cidadãos da Ucrânia. Isso quando a elite ucraniana integra pessoas das mais diversas nacionalidades. Agora acontece que os estrangeiros podem receber terras em condições favoráveis, desde que o "massacre" continue. Que coisa horrível está a acontecer ali.

 

Sobre o Dia de África

 

Amanhã, dia 25 de maio, celebra-se o Dia de África, data que simboliza a unidade e a vitória dos povos africanos na sua luta pela independência nacional e pela construção de uma nova vida.

Neste dia, há exatamente 60 anos, foi criada, em 1963, a Organização da Unidade Africana, dando início ao avanço progressivo do continente para a integração política e económica. Hoje, a União Africana é uma organização sucessora, cuja missão é forjar abordagens coletivas para com as questões da manutenção da paz e da segurança, reforço dos processos democráticos, desenvolvimento humano e crescimento socioeconómico.

O nosso país e África estão unidos por laços de amizade tradicionais, e é simbólico que seja neste ano comemorativo que realizamos a segunda Cimeira Rússia-África. A Cimeira Rússia-África, que se realizará em São Petersburgo em julho próximo, será um importantíssimo acontecimento internacional nas relações russo-africanas e dará um novo impulso a todo o conjunto das nossas relações com os países do continente a longo prazo.

As potências ocidentais não só continuam a explorar os povos africanos, desviando os seus recursos e ganhando lucros com eles, como também escamoteiam o seu passado desagradável, falsificando a história – refiro-me não só às tentativas de reescrever as causas, o curso e o resultado da Segunda Guerra Mundial, mas também a uma campanha cínica e descarada para silenciar os horrores da época colonial. O Ocidente tenta fazer crer que não tem nada a ver com o sofrimento por que passaram muitas gerações de africanos, o racismo, o tráfico de escravos, os assassínios e as operações punitivas, pondo em circulação um mito sobre as atividades desenvolvidas pelo homem "branco" em benefício da população "de cor". Mas, de facto, isso é um flash mob que mostra que não se tem consciência da perniciosidade de tal abordagem. Pelo contrário, a ideologia do "belo jardim" e da "selva" está a ganhar força.

O Ocidente finge que tudo o que se passou na altura, na época colonial, pode ou não ter acontecido. No entanto, a África lembra-se bem disso, lembrando-se também daqueles que a ajudou a libertar-se. A questão não é apenas da libertação dos povos e países deste continente. A questão é também que o próprio fenómeno do colonialismo é vergonhoso.

Na véspera e durante o Dia de África, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e as missões diplomáticas russas no continente africano publicam nas suas contas das redes sociais artigos sobre a história da luta colonial, sobre um grande contributo do nosso país para a libertação e a afirmação de jovens nações, sobre como continuamos a ser amigos, a cooperar e a interagir em pé de igualdade e vantagem mútua. Além disso, para amanhã, preparámos um pequeno presente, uma surpresa. Vão ver. Sigam as nossas contas das redes sociais. Penso que vão gostar.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: Poderia comentar a declaração do Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, sobre a necessidade de aumentar a assistência militar à Ucrânia feita a 22 de maio após a reunião do Conselho dos Negócios Estrangeiros da UE? Como é que isso se coaduna com os seus apelos à paz?

Maria Zakharova: Não me lembro de quando ele apelou à paz. Poderão ter sido algumas declarações teóricas isoladas. Vemos que o conflito na Ucrânia está numa fase aguda e ouvimos Josep Borrell dizer que tudo tem de ser resolvido "no campo de batalha". "Agora não é a altura própria para negociar, para discutir iniciativas de paz". Ouvimo-lo dizer isto. De que apelos à paz se trata? Não os ouvi. Se existem, são imediatamente anulados pelas suas exigências de fornecimento de novas e novas armas e apelos ao apoio ao regime de Kiev. Já não falam sequer da democracia nem da liberdade, apenas estão a promover a sua posição, dizendo que a sua ideologia e mentalidade devem vencer. Caso contrário, como dizem, "não sobreviverão". Esta é praticamente uma citação direta de Josep Borrell. A declaração a que se refere foi feita por Josep Borrell "à margem" das reuniões dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da UE nos dias 22 e 23 de maio em Bruxelas. A sua declaração mostra uma vez mais a absurdidade das posições da União Europeia que se baseiam na conjuntura política. Mais uma declaração beligerante do chefe da diplomacia europeia vai contra os interesses fundamentais dos europeus enquanto cidadãos comuns destes países, que os seus atuais líderes políticos arrastaram para o conflito na Ucrânia e tornaram cúmplices dos crimes do regime neonazi ucraniano. A degradação moral e ética da diplomacia da UE é óbvia. Quando um representante da diplomacia exige incondicionalmente que a situação seja resolvida "no campo de batalha" e afirma que não há lugar para a diplomacia, é evidente que se trata de uma disfunção completa. É certo que só na perceção irracional do mundo imposta por Josep Borrell é possível que os fornecimentos maciços à Ucrânia de armas pesadas, mísseis, sistemas de artilharia e agora aviões de combate, ou seja, o prolongamento e intensificação das hostilidades - seja apresentado como forma de salvar vidas. É pouco provável que, em qualquer outro conflito no mundo, a União Europeia siga a mesma lógica distorcida. Simplesmente não há exemplos. Não vou começar a falar de direitos humanos. É o tema preferido deles. Justificam tudo com a temática dos direitos humanos. Agora nem sequer o mencionam. É por isso que é óbvio que Bruxelas é movida apenas por motivos oportunistas e políticos, por aquilo que eles verbalizam como "derrota estratégica" da Rússia, necessidade de garantir o domínio ocidental na Europa e no resto do mundo. Nos seus três anos e meio como Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, descredibilizou não tanto a si próprio como o seu cargo. Não resta praticamente nada da diplomacia genuína nas suas atividades. Aliás, ele próprio o admite, regozijando-se cinicamente com o seu novo papel de "ministro da Defesa da UE". Assim, confirma indiretamente a sua responsabilidade pelas numerosas vítimas civis causadas pelos bombardeamentos com armas pesadas fornecidas por países da UE.

De facto, tornou-se, se não o ideólogo da política de confrontação da UE, então o seu "cantor" e continua a justificar o prolongamento das ações militares na Ucrânia e a propaganda antirrussa, encobrindo erros geopolíticos grosseiros (cometidos para garantir novas esferas de influência na Europa) e atividades criminosas em que os representantes da UE, juntamente com Washington, têm estado envolvidos na Ucrânia nos últimos anos, participando em golpes de Estado, elaborando a política interna de um Estado soberano a seu critério, obrigando-o a romper os laços históricos e económicos com os seus vizinhos e reconfigurar o país com base nos princípios aceites na UE. Esta lógica e ações criminosas resultaram na atual situação. O fluxo de desinformação continua. Basta ver a declaração falsa de Josep Borrell de que a Ucrânia não fazia parte dos planos de alargamento da NATO. Lembremos-lhe que a declaração final da cimeira da Aliança do Atlântico Norte, realizada em Bucareste em 2008, diz sem rodeios que "a Ucrânia e a Geórgia tornar-se-ão membros da NATO". Penso que há possibilidade de mostrar este documento a Josep Borrell.

Mas existe uma nuance. Talvez ele quisesse dizer que, quando estavam a escrever tudo isto em 2008, não previram que isso pudesse acontecer e estavam a enganar esses países. Não há outra interpretação. Ou ele está agora a desinformar, ou eles estiveram a praticar não tanto intrigas, mas crimes políticos e atividades de provocação durante todo esse período.

As revelações de Josep Borrell não são apenas o seu ponto de vista pessoal, mas também um reflexo do rumo tomado pela UE no sentido de uma militarização acelerada e da sua transformação num instrumento militar e económico do diktat norte-americano global. É óbvio que os atuais líderes da UE se sentem à vontade assumindo uma posição subordinada, sob o "guarda-chuva" dos EUA. Aparentemente, por enquanto estão á vontade. Outra coisa é que os resultados são desastrosos para a Europa e para países concretos. Por enquanto, eles acham-no mais vantajoso para eles. Não estão preparados para reconhecer e aceitar o facto de um mundo multipolar, onde é preciso lidar com outros centros de poder em pé de igualdade, respeitar a soberania de outros países e povos e ter em conta as especificidades do desenvolvimento socioeconómico e cultural-civilizacional. A UE, tal como o Ocidente em geral, está habituada a construir o seu bem-estar, organizando interações com base na experiência colonial, subjugando todos e retirar tudo o que lhes é necessário. Esta lógica colonial era seguida pela União Europeia já antes da operação militar especial, tinha então três teses: "repelir", "conter" e "interagir" com a Rússia. É a mesma coisa. Esta lógica é colonial. Por isso, a UE defende a manutenção do status quo baseado na tese de que o Ocidente está no centro, dividindo o mundo em "jardins" e "selva", considerando-se no direito de utilizar todos os instrumentos políticos, económicos e militares "no interesse dos seus mil milhões de habitantes". É o que diz a declaração conjunta UE-NATO de 10 de janeiro passado. Não inventei nada, encontrei todas estas teses nos documentos.

Não pode haver credibilidade numa UE que perdeu a sua subjetividade política, que age ao sabor de interesses alheios, que não responde aos interesses dos seus próprios povos e muito menos reflete sobre os interesses de países soberanos. A União Europeia dificilmente pode reivindicar o papel de "honest broker" na busca de um acordo de paz ou mediação, seja na Transcaucásia, nos Balcãs Ocidentais, em África, na Ásia ou na América Latina. O papel independente da UE foi apenas declarado e não chegou a ser realizado, ficando apenas "no papel".

Pergunta: Este mês faz exatamente um ano que foi lançado o projeto da UE para a exportação de produtos agrícolas ucranianos, chamado "corredores de solidariedade". De acordo com o recente relatório da Comissão Europeia, em 2022, o volume total de entregas de trigo ucraniano à UE aumentou 960% em relação a 2021, enquanto o crescimento de todas as importações agrícolas com origem na Ucrânia atingiu 88%.

Como é que, na sua opinião, este desvio, em grande escala, de alimentos da Ucrânia para a UE se enquadra nas declarações altissonantes de Bruxelas sobre a prioridade da segurança alimentar para os países mais necessitados?

Maria Zakharova: Trata-se de um engano e mentiras a nível global perpetradas pelas nações ocidentais. Todos nós já ouvimos as suas declarações de que estão preocupados com a situação dos necessitados. Este é um truque bem conhecido de Bruxelas que reside em desviar a atenção da opinião pública internacional dos verdadeiros objetivos e resultados das iniciativas "humanitárias" da UE. O projeto da UE que mencionou é mais uma prova disso. Como sabe, o projeto de "corredores" foi concebido para garantir os interesses dos países do Sul Global. O que é que vemos com o passar do tempo? Um ano após a iniciativa ter entrado em vigor, os mercados dos países da UE que fazem fronteira com a Ucrânia: Bulgária, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia, foram inundados com produtos agrícolas da Ucrânia. De tal forma que, em abril passado, se declararam "vítimas" de um excesso de oferta de produtos agrícolas ucranianos. Isto é absurdo, mas um facto. Tomaram medidas extremas: impuseram uma proibição unilateral à importação - e, nalguns casos, até ao trânsito pelo seu território - de cereais e outros produtos agrícolas provenientes da Ucrânia. Estavam tão preocupados com a situação dos países necessitados de África e da Ásia que se "abasteceram" ao ponto de os seus próprios mercados entrarem em "colapso". A Comissão Europeia foi instada a proteger o mercado da "avalanche" de produtos agrícolas baratos e, ao que parece, nem sempre de alta qualidade (por exemplo, peritos em segurança alimentar da Hungria, Polónia e Eslováquia detetaram nos cereais ucranianos a presença de 22 produtos químicos, entre os quais pesticidas, microtoxinas e OGM, proibidos na UE). Lembre-se da frase clássica do filme norte-americano "A Máscara": Alguém me salve. Algo semelhante verifica-se neste caso. Eles próprios criaram esta situação, sob a "falsa" bandeira da proteção dos outros, para se enriquecerem e depois exigirem proteção de si próprios.

Para se precaver contra qualquer imprevisto, um grupo dos países membros acima mencionados propôs, numa reunião do Conselho de Agricultura e Pescas da UE, a 25 de abril passado, a compra conjunta de produtos agrícolas ucranianos pela UE e pelo PAM da ONU, a fim de garantir que estes produtos chegassem aos países mais necessitados. Ou seja, só um ano depois do início do projeto de "corredores" é que a UE se "lembrou" dos seus destinatários. A bem da verdade, teve de se lembrar deles depois de se "abastecer" dos cereais ucranianos e arruinar os seus produtores agrícolas. Não estão a sair da crise por eles criada por conta própria, precisam novamente de ajuda externa. Desta feita, pedem ajuda às Nações Unidas. O facto de o lançamento do projeto de "corredores" ter sido acompanhado de medidas para a liberalização das exportações ucranianas para a UE (cancelamento das taxas aduaneiras, suspensão do sistema de preços de entrada e de contingentes pautais) mostra o seu verdadeiro objetivo. As medidas tomadas facilitaram a entrada dos produtos ucranianos no mercado da UE e não nos mercados dos países em desenvolvimento. Eis a prova. Ainda não há um ano que tudo veio à tona.   Outro exemplo não menos eloquente é o desenvolvimento acelerado de todas as rotas logísticas dentro da UE. Os dados sobre os participantes na plataforma informática especial criada para a procura de parceiros comerciais para a comercialização de produtos agrícolas exportados pelos "corredores" são igualmente reveladores. Das cerca de mil empresas registadas, mais de 90% são de Estados-Membros da UE e da Ucrânia, e apenas quatro são de África (Botsuana, Nigéria e África do Sul). Que mais provas precisamos para perceber porque é que isto foi concebido?

Acontece que os "corredores de solidariedade" também não ajudam muito os agricultores ucranianos. Segundo disse em abril passado no Parlamento europeu o Vice-Ministro da Política Agrária e dos Alimentos da Ucrânia, Markian Dmitracevich, 90% das explorações agrícolas ucranianas atuam com prejuízo.  Ao mesmo tempo, a UE continua a sublinhar publicamente a importância do fornecimento ininterrupto de produtos agrícolas provenientes da Ucrânia, ignorando as dificuldades artificialmente provocadas pelas sanções unilaterais da UE para o acesso das exportações agrícolas russas aos mercados agrícolas mundiais, o que afeta inevitavelmente os preços dos referidos produtos. Esta situação é muito vantajosa para os comerciantes e as holdings agrícolas europeias, que compram os produtos ucranianos a preços vis, independentemente do seu destino final e da necessidade da sua transformação. As vantagens por eles obtidas são tão grandes que Bruxelas continua a promover ativamente os "corredores de solidariedade", apesar dos prejuízos óbvios para os interesses dos seus próprios cidadãos.

Outra razão é a de que os produtos agrícolas ucranianos deixaram há muito de ser ucranianos, dada a área total de terras agrícolas da Ucrânia controlada, de uma forma ou de outra, por empresas agroindustriais da UE e multinacionais, bem como por várias instituições financeiras e de crédito dos Estados-Membros ocidentais da UE (tanto diretamente como sob a forma de participação no capital das holdings agrícolas ucranianas pertencentes a oligarcas ucranianos).

A decisão aprovada pela Comissão Europeia no início de maio, que legalizou efetivamente as medidas unilaterais temporárias dos países comunitários leste-europeus para proibir as importações de produtos agrícolas ucranianos e garantiu a sua livre circulação no território de outros Estados membros da UE, também mostra quem beneficiou destes "corredores". Aparentemente, nem todos os países da UE têm cereais ucranianos em quantidades suficientes. Na Europa Ocidental, boa parte deles, para não dizer a maioria, é utilizada como ração animal. A dependência da UE em relação à importação de cereais forrageiros é um facto bem conhecido. De acordo com o serviço de investigação do Parlamento Europeu, mais de 50% do milho ucraniano exportado, esta cultura é um componente importante de cereais forrageiros, são absorvidos tradicionalmente pela UE. Por outras palavras, ao continuar a encher os celeiros com cereais ucranianos e encher os bolsos com o dinheiro à custa dos países mais vulneráveis, a UE está a exacerbar os riscos para a segurança alimentar global. Toda esta situação mostra que é o Ocidente, através de falsas narrativas e objetivos, está a prejudicar a segurança alimentar internacional, transferindo a responsabilidade para a Rússia e para outros países, e não para si próprio.

Pergunta: No dia 22 de maio, o Vice-Primeiro-Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, afirmou que seria necessário tempo para preparar o 11º pacote de sanções antirrussas da União Europeia. Espera que as novas sanções sejam adotadas em breve? E qual será a resposta de Moscovo se o novo pacote de sanções for adotado?

Maria Zakharova: Chamo-lhe "autoflagelação da União Europeia". Aparentemente, a UE precisa de um novo salto de imaginação. A sua imaginação parece estar esgotada. Já não sabem como se magoar ainda mais a si próprios. Por muito que os países da UE limitem a sua cooperação com o nosso país, por muito que acalentem as ilusões de que a economia russa vai ruir sob pressão das suas sanções, isso não mudará nada para nós. Se nos lembrarmos do que disse o ex-Presidente dos EUA, Barack Obama, a nossa economia foi desfeita em pedaços há oito anos. Ele disse: "Pronto, despedaçámo-la". Agora, ao que parece, eles não sabem o que mais inventar para finalmente destruir a nossa economia. Que coisa absurda, estúpida, insana. Escolha o epiteto que lhe mais agrada. Por muito que tentem, isso não vai mudar nada para nós. Adaptámo-nos à nova realidade. Há números concretos, indicadores. A própria União Europeia admite que o arsenal de meios de pressão sobre a Rússia está esgotado. Reconhece que o seu objetivo era provocar colapso da economia russa e a desestabilização política, mas magoou-se a si própria. A nossa economia resistiu. Tudo o que conseguem pensar é em como se darem benefícios, empréstimos e oportunidades devido a crises sistémicas. Alguns Estados-Membros da UE - os mais corajosos que ainda têm vozes para se defenderem - estão a dizer sem rodeios que as restrições estão a prejudicar mais a economia da UE do que a Rússia.

A nossa economia está de novo numa trajetória de crescimento, a inflação apresenta taxas mínimas, o desemprego está em mínimos históricos. Além disso, graças às sanções ocidentais, reestruturámos substancialmente as nossas relações económicas externas, reforçámos a nossa soberania económica. Isto não significa de modo algum que não tenhamos problemas e que não sintamos a loucura do Ocidente. É a realidade. Mas, atualmente, conseguimos ultrapassar estes problemas. A UE apercebeu-se de que as suas sanções prejudicam ela própria em primeiro lugar. É evidente que estão a procurar uma saída para a situação. Há a sensação de que, depois do seu próprio fiasco político no domínio das sanções, querem descarregar a sua raiva em países terceiros. A julgar pelos numerosos comentários de Bruxelas e de outras capitais europeias, o novo "pacote" visa, em primeiro lugar, impor sanções "secundárias" contra países que se recusem a seguir o diktat da UE em termos de cumprimento das suas medidas restritivas unilaterais antirrussas. Parece quererem colocar "cães de guarda" em todo o mundo. E utilizam o pretexto das atividades antirrussas para o fazer. Na realidade, trata-se de uma política de controlo para regiões do mundo às quais não devem, certamente, impor a sua vontade. O que é que isto significa? A lógica do "belo jardim" e da "selva", uns a viver à custa dos outros, todos estão em dívida para com os "mil milhões dourados". O resto de nós é obrigado a satisfazer os caprichos dos "mil milhões dourados". Isto é desrespeito e desconsideração pelos interesses dos Estados soberanos. As sanções ocidentais contra o nosso país são ilegítimas, ilegais porque foram adotadas sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU. As restrições extraterritoriais que estão agora a ser elaboradas são ainda mais ilegítimas. É uma espécie de ataque híbrido contra o direito internacional. Este comportamento arrogante da UE irá repelir ainda mais outros países e reforçar a tendência para um mundo multipolar. Como bem sabe e como já foi feito anteriormente, a Rússia preparará uma resposta calibrada às novas sanções da UE e, mais importante, continuará a estreitar a cooperação mutuamente benéfica com parceiros confiáveis, independentemente de quaisquer restrições e chantagens do Ocidente.

Pergunta: Os EUA estão a ponderar entregar caças F-16 à Ucrânia e treinar pilotos ucranianos. Pode comentar o assunto?

Maria Zakharova: Os nossos altos funcionários já se pronunciaram sobre este assunto. Esta é mais uma etapa na escalada do conflito e na desestabilização da situação no continente europeu. Os parceiros ocidentais (estou a referir-me à UE) não estão a pensar nas consequências. Estão a ir na esteira dos EUA, não se dando conta de como esta experiência pode terminar.

Pergunta: Embaixador da África do Sul para a Ásia e os BRICS, Suclal, afirmou que 30 países se candidataram a membros dos BRICS. Pode dizer-nos quanto tempo levará o BRICS a considerar todos os pedidos de adesão? Quando serão tomadas decisões sobre a adesão de novos membros?

Maria Zakharova: É demasiadamente cedo para dizer quanto tempo será necessário para analisar todos os pedidos de adesão. De acordo com as instruções dos líderes dos cinco países, neste momento, estão a ser identificadas as modalidades do próprio processo de alargamento. Depois de se chegar a um consenso sobre todos os parâmetros e de ser tomada uma decisão adequada na cimeira do BRICS, poder-se-á discutir a possibilidade de proceder à análise de candidaturas concretas. Depois podemos voltar à sua pergunta. Neste momento, há ainda um processo preparatório a realizar.

Este processo requer algum tempo e um trabalho meticuloso. Não seria bom comentar prazos nesta altura. Trata-se de decisões que determinarão, em grande medida, o futuro da associação. Há muito trabalho a fazer. Dito isto, devo salientar que nos congratulamos com a determinação da presidência sul-africana para fazer avançar as discussões da temática do alargamento. Esperamos que, por ocasião da cimeira dos BRICS em Joanesburgo (entre os dias 22 e 24 de agosto próximo), esta questão receba a devida atenção. Em todo o caso, está na ordem do dia da próxima reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros dos BRICS que se realizará na Cidade do Cabo nos dias 1 e 2 de junho próximo.


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