Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 23 de março de 2023
Sobre a próxima reunião de Serguei Lavrov com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Nicarágua, Denis Moncada
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, reunir-se-á, a 30 de março, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Nicarágua, Denis Moncada, que estará em visita de trabalho à Rússia.
Na reunião, os Ministros analisarão o estado atual da parceria Rússia-Nicarágua e identificarão os seus objetivos para o futuro, assim como abordarão questões relacionadas com o reforço do diálogo político, ampliação das trocas comerciais, relações económicas, técnico-científicas culturais e humanitárias bilaterais e a implementação de projetos prioritários de cooperação bilateral e a melhoria do quadro jurídico da cooperação bilateral.
Dispensarão especial atenção ao desenvolvimento de uma interação estreita nas atuais realidades geopolíticas nos fóruns internacionais, sobretudo na ONU. Abordarão a problemática do desenvolvimento do diálogo da Rússia com as principais associações de integração da América Latina e da América Central, em particular.
Ponto da situação na crise ucraniana
A vida pacífica está a voltar aos territórios libertados do regime neonazi de Kiev das regiões de Zaporojie e Kherson e das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk. Dezenas de milhares de especialistas de outras regiões da Rússia estão a reconstruir e a construir casas e infraestruturas civis e a recuperar centenas de quilómetros de estradas.
A 15 de março, foi montada uma fábrica de asfalto e concreto no distrito de Lutuga da República Popular de Lugansk, tendo um lote experimental de pavimento rodoviário já sido produzido. A fábrica permitirá recuperar cerca de 410 km de estradas, 20 pontes e viadutos. Em Mariupol, está prevista para este ano a recuperação de 54 km de estradas e de cinco pontes, a reconstrução completa do centro da cidade e a construção de mais 30 edifícios de vários andares com 2.700 apartamentos. Em Donetsk, um centro perinatal de última geração com 149 camas será colocado em funcionamento até ao final de 2023. O tempo mostrou que o regime de Kiev só é capaz de destruir. A Rússia regressou para sempre a estas terras (não há dúvida sobre isto) e está a reconstruir ativamente o que foi destruído pelos neonazis ucranianos. Naturalmente, eles não atuaram sozinhos, tendo sido muito ajudados neste processo de destruição por aqueles que os haviam criado e os haviam levado ilegalmente ao poder. Trata-se sobretudo da dupla anglo-saxónica (Washington e Londres). Falaremos sobre isto hoje.
No dia 18 de março, o Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, impôs novas sanções contra 300 pessoas singulares e 141 pessoas coletivas que visam, para além dos russos, alguns cidadãos iranianos e sírios, entre os quais o Presidente sírio, Bashar al-Assad, assim como algumas empresas da indústria de guerra, dos setores de aeronáutica, construção naval e automóvel, entre as quais as empresas Kalashnikov e Almaz-Antey, bem como algumas empresas do Irão e dos Emirados Árabes Unidos. O regime de Kiev procedeu deliberadamente à produção em série de sanções antirrussas para demonstrar, interna e externamente, a viabilidade da sua política e continuar a fazer o que faz melhor e onde atualmente não têm concorrente, ou seja, pedinchar, destruindo ao mesmo tempo tudo o que fora criado por gerações anteriores. O "Ocidente coletivo " não pára de fornecer armas ao regime de Kiev. A 20 de março, o Pentágono informou que, desde o início da operação militar especial, a ajuda militar dos EUA à Ucrânia ascendeu a mais de 32,5 mil milhões de dólares. Segundo o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, nove países da NATO concordaram em fornecer a Kiev mais de 150 tanques Leopard para formar nove brigadas de cavalaria blindada.
A UE informou ter disponibilizado fundos para a compra de mais de um milhão de projéteis para as forças armadas ucranianas. Como já é tradição, o dinheiro, cerca de dois mil milhões de dólares, será retirado do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz. A 21 de março, a Vice-Ministra de Estado de Defesa do Reino Unido, Annabel Goldie, fez uma declaração absolutamente irresponsável, anunciando a intenção de Londres de enviar ao regime de Kiev projéteis perfurantes contendo urânio empobrecido, para além dos tanques Challenger 2. A sua declaração foi confirmada a um nível oficial. Não foi uma gafe, não. É uma tolice que foi confirmada oficialmente pelo Reino Unido. Tudo isto é mais uma prova das intenções agressivas do Ocidente que não precisa que a paz se faça na Ucrânia, na região, ou em todo o mundo. Está obcecado com a ideia maníaca de infligir uma "derrota estratégica" à Rússia e está disposto a sacrificar um país inteiro, povos e milhões de vidas para atingir o seu objetivo. Prontifica-se a fazer tudo para que a ideia insalubre do seu excecionalismo venha a dominar, o que foi confirmado pelo Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. Comentando a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Moscovo, o diplomata norte-americano disse sem rodeios que o cessar-fogo na Ucrânia era inaceitável. Gostaria de lembrar a este respeito que a estrutura usada pelos satélites europeus dos EUA para enviar dinheiro ao regime de Kiev se chama Mecanismo Europeu de Apoio à Paz. Antony Blinken acredita que não há possibilidade de um cessar-fogo. É completamente incompreensível como estas coisas se encaixam nas cabeças das mesmas pessoas. A resposta só pode ser a seguinte: alguém está a mentir cinicamente e sabemos bem quem é. O Mecanismo Europeu de Apoio à Paz já devia ter sido rebatizado há muito tempo de Mecanismo de Apoio à Guerra. Então tudo fará sentido e não haverá nenhuma contradição.
O regime de Vladimir Zelensky continua a perseguir os dissidentes e opositores. No outro dia, o parlamento ucraniano aprovou, na generalidade, o projeto de lei "Do reforço do controlo civil democrático sobre as Forças Armadas". A medida visa restringir a possibilidade de os militares participarem na vida política do país. A razão é compreensível. A vida política do regime de Kiev é algo sagrado e só pertence àqueles que ocupam os assentos na Rua Bankovaia. E aqueles, graças aos esforços do regime de Kiev e de Vladimir Zelensky, se tornaram bucha de canhão, não devem interessar-se pela vida política. Eles serão proibidos de ser deputados, fazer declarações públicas e expressar a sua opinião sobre assuntos políticos internos. Por que razão? Porque o regime de Kiev compreendeu plenamente (na medida em que pode compreender qualquer coisa) a iminência do seu colapso e está a tentar fazer adiar este momento terrível. Quero desapontá-los. O momento terrível para eles já cá está há muito tempo. A falta de consciência e a falta de moralidade impediu-os de o perceberem. Ao tapar a boca aos seus militares, o regime de Kiev não está, de facto, apenas a tentar esconder a verdade sobre o que está a acontecer na zona de guerra. A Ucrânia, atormentada pelas experiências ocidentais e obrigada a atiçar os seus cidadãos uns contra outros a mando do Ocidente está a enfrentar o seu pior pesadelo. Lembram-se (não estou a falar de Vladimir Zelensky) de como os seus líderes anteriores a Vladimir Zelensky costumavam dizer que gostariam de ver a Ucrânia como país democrático e livre, onde todos tivessem o direito de dizer o que quisessem, tivessem o direito de participar nas atividades sociais e políticas, e as instituições de poder fossem controladas pelos meios de comunicação social, de acordo com a lei, para que houvesse abertura e transparência, a fim de serem resolvidos os problemas existentes? Infelizmente, o país está a enfrentar problemas típicos da Ucrânia, nomeadamente a corrupção e a burocracia e a sua coalescência. Gostaria de lembrar que o próprio Vladimir Zelensky deu prioridade à palavra "liberdade» sobre as palavras "bem-estar", "crescimento económico" e "estabilidade financeira". Tudo isso era, certamente, importante, mas secundário. Vladimir Zelensky colocou em primeiro lugar a "liberdade" e a "paz". Veja-se o que aconteceu na realidade. Primeiro, o regime de Kiev desferiu um golpe contra a paz, tendo permitido ao Ocidente transformar o seu país numa cabeça-de-ponte da NATO contra a Rússia, encher o seu país de armas e comprar o seu país. A seguir, a liberdade foi atacada. Os políticos, analistas políticos e jornalistas opositores começaram a ser perseguidos e assassinados. Depois, sobreveio a censura. Tudo isto começou muito antes de 2022. Cadeias de televisão começaram a ser pressionadas, a ser encerradas, a ser reformatadas e a ser colocadas ao serviço de outras forças de influência. Depois, aconteceu algo que não era possível evitar porque o desastre ocorrido era irreversível. Começou a formar-se uma ditadura total de um único representante do grupo de pessoas que estava no poder (de Vladimir Zelensky). Apenas um único canal foi deixado aberto para a divulgação de informação. Todos os outros tiveram de seguir a tendência principal. Os meios de comunicação social ucranianos passaram a ser censurados. O rapto e desaparecimento de pessoas deixaram de ser episódios isolados, tornando-se um sistema. Agora o parlamento ucraniano aprovou tudo isso em primeira votação. O projeto de lei em causa não se limita a "pôr um ponto final", mas marca o afastamento do atual governo ucraniano dos princípios que outrora articulou. Não haverá retorno. A partir de agora, as coisas só irão piorar.
Outra ameaça, no entender do regime de Kiev, está na preservação da Igreja Ortodoxa Ucraniana canónica. Porquê? Deve ser porque a Igreja não aderiu à ideologia nazi, não jurou a fidelidade ao regime criminoso e não traiu o que lhe tinha sido transmitido pelos seus antepassados. A 20 de março, o Presidente Vladimir Zelensky recusou-se a encontrar-se com os membros do Santo Sínodo que tinham tentado exortá-lo a evitar uma escalada do conflito religioso no país, a pôr fim à perseguição ao clero e aos fiéis da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Eles tentaram fazer tudo o que estava ao seu alcance para usar aquilo que restava do sistema de comunicação entre os cidadãos e o que era antigamente Estado e hoje é o regime de Kiev. Pediram que o santuário ortodoxo, o Mosteiro de Kiev-Pechersk fosse deixado em paz e que não fosse entregue aos cismáticos. Eles tentaram falar e ser ouvidos, tendo, contudo, o seu pedido sido negado. A julgar por tudo, os atuais cismáticos ucranianos incitados pelo regime ucraniano não pretendem parar por aqui. A 21 de março, o Presidente da Junta Regional de Ternopil, M.I. Golovko, disse que a expulsão do clero da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Mosteiro de Kiev-Pechersk é uma tarefa estratégica (palavras terríveis, mas eles disseram-nas), que deveria ser resolvida num futuro próximo. Falámos de todas estas tendências em fóruns internacionais, enviámos cartas, relatórios, apelámos e explicámos insistentemente durante muito tempo a situação quando ainda era possível prevenir os atuais desdobramentos. Refiro-me não só à divisão da Igreja e ao menosprezo por tudo o que foi proclamado como altos ideais na Ucrânia, e também na Europa. Em princípio, este tema poderia ter sido utilizado para evitar a degradação da situação geral na Ucrânia. A comunidade internacional, os países ocidentais em particular, que bloqueiam qualquer discussão sobre estes temas, manteve-se silenciosa. Uns países não quiseram compreender nada, outros, dar ouvidos. Outros ainda, ouviram e compreenderam tudo, mas não quiseram fazer nada. No entanto, houve quem se opusesse de forma enérgica. A nova fase da guerra religiosa na Ucrânia, iniciada pelo regime de Kiev, não levará a nada de bom e terá consequências trágicas.
Todos estes desdobramentos, especialmente a decisão britânica de fornecer munições de urânio empobrecido, mostram que nem Kiev nem os seus supervisores ocidentais estão interessados em resolver o conflito. Estão interessados em fazer escalar o conflito. Não se importam com o facto de as suas ações estarem a transformar a Ucrânia numa terra calcinada (no sentido mais direto da palavra, caso as munições de urânio venham à Ucrânia) e numa fonte de poluição radioativa. Por estas razões, a operação militar especial vai continuar. Os objetivos fixados pela direção russa foram repetidamente reiterados. Continuaremos a defender os princípios fundamentais, que, infelizmente, estão agora a ser desprezados na Ucrânia, a fim de demonstrar tudo o que aí se passa e de dar uma avaliação objetiva.
Sobre os fornecimentos militares da NATO e da UE à Ucrânia
Todos os dias lemos as notícias de que a União Europeia, os EUA e os seus satélites estão a aumentar entregas de armas, munições, equipamento militar ao regime de Kiev e a treinar o pessoal militar ucraniano. Este assunto foi abordado na recente reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia realizada a 15 de março na base de Ramstein, na reunião, de 20 de março, do Conselho dos Negócios Estrangeiros da UE com a participação dos Ministros da Defesa no âmbito do Fórum Schuman de Segurança e Defesa realizado em Bruxelas nos dias 20 e 21 de março. Sabemos que os serviços secretos ocidentais fornecem informações ao regime de Kiev sobre os alvos a atacar. Dezenas de milhares de milhões de dólares e euros estão a ser gastos. Estamos surpreendidos com a pompa com que isto é noticiado pelos meios de comunicação social ocidentais. Não se trata da reprodução de comunicados de imprensa divulgados por organismos oficiais, mas sim do trabalho de jornalistas. Acontece que eles também estão contentes com isso. Gostaria de lembrar que o dinheiro disponibilizado não se investe no restabelecimento da paz e da estabilidade no continente europeu, mas sim na escalada militar e na continuação da destruição. O Ocidente não tem nada de que se vangloriar aqui, pois só está interessado em ganhos unilaterais. As atuais autoridades dos EUA, a UE e os seus aliados estão prontos a sacrificar a vida de todos os ucranianos e de outros povos do espaço pós-soviético ao objetivo de conquistar o domínio global. Digo isto publicamente, mencionando os povos tanto dos países vizinhos como dos países da região pela seguinte razão. A intenção de fornecer ao regime de Kiev munições de urânio empobrecido anunciada pelo Reino Unido alteram, certamente, a situação. Com isso, nem os países vizinhos nem os países da região poderão controlar o impacto das munições e armas utilizadas pelo regime de Kiev. Não terão como fazê-lo. Pode-se participar na recolha de informações, pedir a Washington que controle o regime de Kiev para que este não ataque o território da Polónia, não abata veículos aéreos no espaço aéreo de outros países, pode-se fazer tudo o que se quiser. A única coisa que não será possível de fazer é chegar a acordo com a radiação. A radiação não aceita negociar nem pode ser controlada. Enfrentámos juntos a tragédia de Tchernobil e de Fukushima. As suas consequências terríveis continuam a ser sentidas ainda hoje. A lição é que não é possível chegar a acordo com a radiação. Quando ouvimos declarações de Londres de que "nada de especial aconteceu" e que "agem como sempre agiram" e "completamente em conformidade com a sua prática padronizada", temos uma sensação ambígua. Normalmente, damos sempre definições claras, mas existe aqui uma certa ambivalência. Por um lado, claro, estão a mentir quando dizem que estas munições não representam nenhuma ameaça. Representam. Os casos do Iraque e da Jugoslávia são exemplos disso. Mas quando dizem que tudo isso cumpre os seus padrões, não estão a enganar. É de facto a norma para eles. A utilização destas munições que atingem não só aqueles que participam nas hostilidades, mas também aqueles que estão simplesmente na área atingida ou por perto e, mais importante ainda, as gerações futuras e todos os que se servem dos frutos desta terra, é, de facto, um "padrão" para eles, para o Ocidente. Este não é um padrão para nós. É por isso que estamos a falar sobre isso. Esta posição destrutiva do Ocidente não é novidade. A história e os tempos modernos conhecem muitos exemplos semelhantes. Falamos sobre eles regularmente. Recorde-se que só conseguimos livrar o mundo da "peste castanha" graças aos esforços colossais da União Soviética, de todo o povo soviético. Nessa altura, muitas vidas foram perdidas, pensando-se que essa lição foi aprendida para sempre. Mas, como podemos ver agora, os nossos antepassados devem ter-se enganado. Não é segredo quem beneficia agora do prolongado conflito na Ucrânia. As corporações militares americanas estão a obter superlucros com o fornecimento de armas e equipamento de guerra à Ucrânia. Os estoques de armas dos países europeus esvaziados em apoio ao regime de Kiev estão a ser reabastecidos com novas armas norte-americanas e os seus orçamentos esgotados, com empréstimos norte-americanos. Entendemos perfeitamente o que são "empréstimos norte-americanos". A União Europeia está a tornar-se totalmente dependente de Washington na esfera político-militar, desmistificando a tese da sua "autonomia estratégica". Ainda recentemente, os europeus discutiam a ideia de "forças de segurança" próprias. Muita coisa foi dita pela União Europeia no que respeita à defesa da sua soberania. Aparentemente, nada disso será concretizado. Nestas circunstâncias, os países bálticos, a Polónia e alguns outros membros leste-europeus da UE e da NATO encontraram o seu nicho, utilizando abertamente o conflito ucraniano para levar à prática as suas ambições dolorosas, desviando recursos tanto dos seus aliados da coligação ocidental como da Ucrânia. Lembram-se das notícias de que a Polónia começou a levar da Ucrânia solos humíferos? Este é um dos mais "selvagens" atos extravagantes do atual regime polaco.
Fizemos algum trabalho e sintetizamos as informações publicamente disponíveis sobre o volume e a nomenclatura dos fornecimentos de armas e equipamento militar pela NATO e pelos países da UE à Ucrânia. Em breve publicaremos um material visualizado sobre este tema no website e no perfil do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo nas redes sociais.
Não afirmamos ter apresentado um quadro completo. Algumas organizações e instituições não governamentais ocidentais envolvidas em cálculos semelhantes apontam para números ainda maiores de ajuda militar à Ucrânia. De uma forma ou de outra, a informação recolhida fornece permite ter-se a ideia de quão envolvidos alguns países da NATO e da UE estão no conflito na Ucrânia, no massacre de civis, na destruição de infraestruturas civis e nos ataques terroristas contra russos e instalações sociais localizadas em território da Federação da Rússia. Só os EUA forneceram ao regime neonazi de Kiev armas e equipamento militar no valor de 33 mil milhões de dólares desde fevereiro de 2022. A ajuda do Reino Unido avalia-se em 5,2 mil milhões de dólares, da Alemanha, em 2,8 mil milhões de dólares, da Polónia, em 2,3 mil milhões de dólares. Trata-se de tanques e veículos blindados, sistemas de artilharia, lançadores múltiplos de foguetes, veículos aéreos não tripulados. No total, os países da NATO alocaram para a ajuda à Ucrânia pelo menos 65 mil milhões de dólares, e os países da UE, mais de 12 mil milhões de dólares, de acordo com declarações oficiais. Estes montantes substanciais poderiam ter sido investidos em projetos socioeconómicos na Europa, o que os cidadãos europeus estão a pedir tão insistentemente aos seus respetivos governos. Poderiam ter sido investidos no reforço dos órgãos de segurança pública, no combate ao crime multinacional, como o tráfico de droga. Há muito em que investir na Europa. No entanto, os governos europeus preferem investir no que se chama "guerra do Ocidente até ao último ucraniano".
As estatísticas apresentadas demonstram claramente o grau de cinismo e a violação da lei pelos regimes ocidentais, o seu desrespeito não só pelas vidas humanas, mas também por aquilo a que eles chamam "problemática dos direitos humanos". Desde fevereiro de 2022, os militares ucranianos disparam cerca de 110.000 munições contra as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, entre as quais mísseis táticos, veículos aéreos não tripulados, foguetes disparados por lançadores múltiplos, projéteis de artilharia de grande calibre, matando, durante o período mencionado, nos territórios das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, das áreas libertadas das Regiões de Kherson e de Zaporojie mais de 4,6 mil civis, entre os quais quase 200 crianças, e ferindo vários milhares de pessoas, entre as quais mais de 300 crianças. O número de baixas civis quadruplicou após o exército ucraniano ter começado a utilizar armas pesadas fornecidas por países ocidentais. Uma tabela-resumo será publicada em breve. O mundo deve conhecer os seus anti-heróis.
Sobre a expulsão da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Mosteiro de Kiev-Pechersk
A expulsão de clérigos e monges da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Mosteiro de Kiev-Pechersk autorizada pela direção política da Ucrânia é um apogeu de muitos anos de política do regime de Kiev contra a Igreja Ortodoxa. Muita gente só agora o notou, porque os monges ficaram literalmente na rua. Enquanto este assunto estava a ser preparado por legisladores, pelos meios de comunicação social, para ser resolvido "definitivamente", ninguém reparava em nada. No entanto, nós reparámos e entregámos aos organismos internacionais os respetivos materiais. Seria bom perguntar-lhes que decisões tomaram para evitar isto. Infelizmente, a resposta será "nenhumas". Há muito tempo que falamos em fóruns internacionais sobre flagrantes violações dos direitos dos crentes naquele país. A violência contra representantes da maior igreja da Ucrânia e contra milhões dos seus fiéis, medidas de repressão como apreensões de igrejas, buscas regulares, detenções, interrogatórios de clérigos, apreensão dos seus bens, privação da nacionalidade, pressão psicológica e assassinatos são há muito normais para o regime ucraniano. Esta é uma "nova normalidade". A "nova normalidade" suplantou a "antiga". Para fazer crer que pelo menos algo permanece imutável, o Ocidente cunhou o termo "nova normalidade". Na verdade, não existe "nova normalidade". A normalidade ou existe ou não existe. Estas são coisas absurdas. Aparentemente, estamos a viver num período de absurdo global.
No palco mundial, ouvimos algumas pessoas dizerem (não condenarem, apenas constatarem que o facto existe) que ocorrem alguns "exageros". Washington e as capitais europeias que supostamente apoiam a Ucrânia, empurrando-a, contudo, na realidade, cada vez mais para o abismo, mantêm-se vergonhosamente silenciosas. Eles não respondem às nossas perguntas. Fazemos-lhes perguntas, eles não respondem. Isto é conveniente. É assim que o processo democrático se desenvolve normalmente. O establishment político ocidental declara defender os direitos dos crentes e equipara isto aos direitos e liberdades civis fundamentais. De facto, foi estabelecida uma espécie de tampão de informação em torno deste tópico. O tema em si está sob um bloqueio no espaço mediático.
A 14 de março, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, enviou cartas ao Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, ao Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Csaba Korosi, ao Presidente em exercício da OSCE, Bujar Osmani, e à Secretária-Geral da OSCE, Helga Schmid. Estas cartas condenam as ações ilegais do regime de Kiev contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana e pedem uma qualificação das mesmas. O regime de Kiev está a violar pelo menos uma dezena de atos internacionais que garantem o direito humano inalienável à liberdade religiosa. Entre eles está a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e de Discriminação Baseadas na Religião ou Convicção, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, os compromissos da OSCE e muitos outros. Exortamos a comunidade internacional a dar a devida avaliação às ilegalidades praticadas pelas autoridades ucranianas contra uma grande parte da sua população e a fazer com que o regime de Kiev deixe de perseguir clérigos e crentes, inclusive utilizando métodos medievais (num mau sentido da palavra). Um aspeto importante a destacar. Quando apelamos à comunidade internacional, não devemos pensar que estamos a apelar unicamente aos países cristãos. Este tópico deveria ser comum a todo o mundo. Países onde a maioria da população ou grandes grupos de pessoas praticam outras religiões mundiais, seja islamismo, budismo ou judaísmo, também devem entrar em alerta. Esta política de destruição de pessoas e da religião continuará na Ucrânia. Há muitos exemplos disto. Ontem, recebemos uma notícia que não podia deixar de ser chocante. Pela internet circulam vídeos de como na Ucrânia o Alcorão está a ser vandalizado. O vídeo está disponível no perfil do Telegram do Governador da Chechénia, Ramzan Kadyrov, e nos meios de comunicação social e mostra um soldado ucraniano a usar um livro do Alcorão para fazer uma fogueira. Não é apenas um sacrilégio, é uma blasfémia, uma tentativa não só de destruir o livro, mas de o fazer de uma forma particularmente pervertida e cínica. A questão não é que em todos os países, sociedades ou grupos sociais há sempre um monstro moral, uma pessoa sem consciência, um criminoso que nunca ouviu falar de moralidade, mas que infringe conscientemente a lei. A questão é como o Estado, investido de todos os poderes (legislativo, executivo, policial e judicial), e a sociedade reage a isso. A forma como o Estado reage tem um grande impacto na forma como a sociedade reage. Se a sociedade sente um sinal claro do Estado e vê que o Estado é capaz de coibir estas coisas, condená-las e punir os culpados, então age de forma mais decisiva, compreendendo a que instituições deve recorrer, o que tem de ser feito para prevenir tais coisas, que lacunas existem no quadro jurídico-institucional. Se a sociedade vê a inação das autoridades, a "falsa tolerância" ou negligência criminosa por parte de organismos e representantes de vários ramos do poder, como é atualmente o caso na Ucrânia, apercebe-se de que ou tudo é inútil e não interfere, ou considera isto como sinal político a seguir.
Esta situação está a ocorrer na Ucrânia sob os auspícios do regime de Kiev. Vai ser assustadora. Em primeiro lugar, as pessoas têm sido postas umas contra as outras. Isso tem sido feito durante muito tempo. Muito dinheiro e recursos têm sido investido nisto. Depois de tudo ter sido misturado e as pessoas terem sido atiçadas umas contra as outras, política e socialmente, o regime ucraniano passou a tratar do tema das minorias étnicas, das línguas, da identidade cultural e étnica. Depois, chegou a vez da religião. Não posso listar todos os fatores necessários para que a situação vá a extremos. Dado que todos os meios de comunicação social são controlados pelo regime de Kiev, existe uma censura ferrenha, as fontes de informação são bloqueadas e não há possibilidade de expressar uma opinião nem de informar sobre o que está a acontecer, isto não é tensão na sociedade, mas uma combinação desastrosa de fatores que se tornam, ou melhor, já se tornaram críticos. A queima do Alcorão, a perseguição e expulsão dos monges ortodoxos dos seus lugares santos não são casos isolados, mas sistémicos. O regime de Kiev não se ficará por aí, mas irá mais longe. Recorde-se que, na Ucrânia, há muitas diásporas étnicas e comunidades religiosas. É por isso que queremos que esta informação seja levada, através de organizações internacionais e contatos bilaterais, ao conhecimento de representantes de Estados, governos, organizações sociais que lidam com religião, liberdade religiosa e confissões. Devem prestar atenção. Pelo menos, cometerão um erro catastrófico se não lhe derem a devida atenção.
Gostaria de salientar mais uma vez: se alguém acha que se trata de um episódio isolado ocorrido por causa de operações militares (compreendemos: tudo pode acontecer ali), é uma ilusão. Já há muitos anos que falamos sobre isto. Isto diz respeito a várias esferas da vida na Ucrânia atual, que infelizmente é refém do regime de Kiev. É importante fazer os possíveis para evitar, pelo menos por agora, uma maior degradação da situação. O Ministério dos Negócios Estrangeiros e as missões russas no estrangeiro farão tudo o que for necessário para informar a opinião pública internacional sobre este caso.
Sobre a natureza discriminatória do atual sistema monetário e financeiro mundial
Num dos nossos briefings recentes anunciámos a criação de uma nova secção no nosso website, contendo "livros brancos" (acervos de factos e documentos históricos) sobre crimes dos anglo-saxões e dos seus satélites em diversas regiões do mundo: no Médio Oriente, Afeganistão, Ucrânia, etc. Dissemos que não iríamos parar por aqui e que iríamos acrescentar novos materiais. Estamos a cumprir o que prometemos. Hoje publicámos uma compilação sobre a natureza discriminatória do atual sistema monetário e financeiro mundial.
A política de domínio do G7 na economia nem sempre é visível por detrás da óbvia atividade destrutiva de Washington e Londres no cenário internacional, que se manifesta no desencadear de conflitos abertos. Desde a crise financeira global e a pandemia do coronavírus, as autoridades monetárias dos EUA e da Zona Euro puseram em pleno funcionamento as suas máquinas de impressão de dinheiro para cobrir os défices orçamentais galopantes e manter artificialmente o bem-estar da sua população. Enormes montantes de dinheiro postos em circulação na economia foram imediatamente investidos fora dos mercados dos países emissores. Compras maciças de bens, serviços e ativos realizadas por empresas ocidentais em todo o mundo instigou a inflação global, o que agravou a situação dos países mais pobres e tornou a realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável muito mais difícil. A alta de preços, as crises alimentares e energéticas são o resultado das políticas monetárias e económicas do "Ocidente coletivo" e da sua posição neocolonial com vista a manter o nível de vida da camada mais rica da população mundial.
O maior desequilíbrio do sistema atual está no facto de que apenas os países que emitem as principais moedas de reserva têm o privilégio de aumentar os empréstimos e depois depreciá-los, enquanto o resto do mundo tem de viver de acordo com os seus meios e, mais do que isso, depender das "flutuações" no Ocidente. Esta é a encarnação atual do princípio imperial, segundo o qual "centro" prospera à custa da "periferia".
Instituições financeiras de importância global, criadas conjuntamente pela comunidade mundial para colmatar o fosso entre países pobres e ricos, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, tornaram-se reféns de acionistas "eleitos" que decidiram que têm todo o direito de atribuir ajuda financeira segundo o princípio "amigo-inimigo".
Os sistemas internacionais de pagamento e liquidação tornaram-se uma espécie de instrumento restritivo nas mãos dos políticos ocidentais. De facto, foram concebidos para funcionarem segundo os princípios da economia de mercado, mas foram sempre vistos apenas como instrumento, mecanismo neutro. O dinheiro dos países inconvenientes congelados nos bancos ocidentais torna-se uma fonte de financiamento gratuito para os mesmos. Os exemplos não faltam, são de surpreender e há anos que falamos sobre eles. A lista de recursos "congelados" por um prazo indefinido está em constante crescimento. De acordo com várias estimativas, o Irão não pode dispor de 100 mil milhões de dólares. Este é o dinheiro do Irão, do povo iraniano. A Líbia tem 60 mil milhões de dólares congelados nos bancos ocidentais, a Venezuela, 30 mil milhões de dólares, o Afeganistão, sete mil milhões de dólares. Como sabem, desde 2022, a Rússia tem cerca de 300 mil milhões de dólares congelados no Ocidente, em violação do seu estatuto soberano. Acrescente-se a isso "rusga" a utilização de instrumentos de pagamento internacionais não como mecanismo neutro, mas como mecanismo de restrição, como mecanismo de pressão e, por vezes, de chantagem. Uma situação curiosa, não é? Uma verdadeira pirataria financeira por parte do Ocidente!
Nas novas realidades geopolíticas, só é possível assegurar os laços comerciais e económicos e de investimento entre a Rússia e outros países soberanos, recusando-se a utilizar instrumentos de desembolso internacionais "vinculados" ao Ocidente. Estamos convencidos de que, nesta fase, todos os Estados soberanos estão interessados em estabelecer uma infraestrutura financeira e de pagamentos internacional que seja resistente à pressão externa e que satisfaça critérios mais elevados de segurança, confidencialidade e fiabilidade. Os esforços conjuntos para a criação de modelos alternativos aceleram a adoção de um sistema financeiro global multipolar mais justo.
Não posso deixar de mencionar a notícia que me impressionou muito hoje. Talvez os analistas financeiros já estejam habituados a isso. Para ser honesta, eu não estou tanto. Prestei atenção à declaração da Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Falando no Comité de Finanças do Senado dos EUA, ela disse que um "desastre económico e financeiro aguarda os Estados Unidos se o Congresso dos EUA não concordar em aumentar o limite máximo da dívida nacional". A dívida nacional dos Estados Unidos situa-se atualmente em mais de 31 mil biliões de dólares. De acordo com as notícias, a dívida nacional dos EUA está a aumentar em dois milhões de dólares por minuto. Não tanto para superar alguns fenómenos de crise como, como diz a própria Secretária do Tesouro dos EUA, "para prevenir desastres", o "teto" (que é, aparentemente, a palavra favorita dos EUA hoje em dia) tem de ser aumentado. Ou seja, pode-se conceder ainda mais empréstimos a si próprio. Isto é, o devedor não pergunta ao credor se este ainda pode confiar nele e se pode lhe conceder mais empréstimos. O devedor decide se vai tomar mais empréstimos e o que vai fazer com a sua dívida.
Isso é possível, não o vou esconder, mas não condiz com um país que reivindica o título de: a) grande potência; b) país estável; c) país capaz de impor a sua vontade aos outros. De facto, isso significa que os EUA admitem que a sua economia está a atravessar uma profunda crise sistémica. Como sói dizer-se: fiquem com o que lhes é de direito.
Sobre o recente acórdão do Tribunal Penal Internacional e as questões que este levanta
Antes de mais, gostaria de pedir que não confundissem as duas estruturas internacionais. Existe o Tribunal Internacional da ONU e existe o Tribunal Penal Internacional. O primeiro, ou seja, o Tribunal Internacional da ONU, é um órgão estatutário da ONU. Trata de disputas entre Estados, enquanto o Tribunal Penal Internacional é uma estrutura limitada e completamente estranha à ONU. Não integra muitos Estados, entre os quais a Rússia, a China, a Índia, a Turquia, o Irão, a Indonésia, a Arábia Saudita, o Paquistão e muitos outros. O mais surpreendente é que não inclui os EUA que elogiaram a sua decisão, reconhecendo a sua "componente" legal. Uma história espantosa. Mas os norte-americanos gostam de o fazer. Atuaram desta forma muitas vezes, abandonando várias estruturas internacionais, entre as quais a UNESCO, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU. De início, os EUA costumam ignorar estruturas internacionais. Depois, costumam tentar influenciá-las a fim de bloquear o seu trabalho, desejando, contudo, utilizá-las no seu interesse. E assim aconteceu desta vez. Ao contrário das afirmações que têm surgido em alguns meios de comunicação social russos, nenhuma ação do Tribunal Penal Internacional pode afetar a participação das nossas delegações nos trabalhos das Nações Unidas e na nossa presença nos seus órgãos.
O preconceito flagrante, a falta de profissionalismo, a corrupção e a duplicidade de critérios do TPI não são segredo para ninguém. Comentámos repetidas vezes este assunto. Este organismo desacreditou-se a si próprio há muito tempo. Cumpre as ordens políticas dos seus patrocinadores. Os seus patrocinadores são conhecidos, são países ocidentais. Este organismo não tem nada a ver com justiça, exercendo as funções de agência de publicidade ou de propaganda suja.
O "trabalho" deste organismo nunca contribuiu para a resolução de conflitos. As recentes decisões absurdas do TPI não fizeram nada de revolucionário. Apenas completam o quadro. É um órgão fantoche. Não tem nada a ver com os objetivos de procedimentos imparciais. É possível imaginar uma situação em que um tribunal recebe abertamente dinheiro dos seus patrocinadores para organizar o julgamento de um acusado que tenha sido pré-nomeado pelos mesmos? Como é? Já não é um suborno, é uma espécie de espetáculo de farsa. No entanto, para o Tribunal Penal Internacional, isto é normal. Anteriormente, citámos exemplos de subornos feitos por países ocidentais. Esta prática continua agora. Provavelmente, as suas proporções são diferentes, os objetivos, a estratégia, as táticas podem estar a mudar de alguma forma, mas, de modo geral, nada mudou. No outro dia, os Ministros da Justiça reuniram-se em Londres para juntar dinheiro para as atividades antirrussas do TPI, pois o seu "trabalho sujo" deve ser remunerado. Mais uma vez, a Rússia nunca fez parte do Tribunal Penal Internacional. A Rússia não cooperou nem cooperará com o Tribunal Penal Internacional, apesar dos apelos por ele lançados. Esta situação é ainda mais absurda do que se poderia ter imaginado. As ações daquele organismo em relação aos cidadãos do nosso país são legalmente nulas e sem efeito. No que diz respeito ao mundo exterior, ao abrigo do direito internacional, os responsáveis governamentais gozam de imunidade. No caso dos funcionários de alto escalão, a sua imunidade é absoluta. A decisão do Tribunal Penal Internacional não pode sobrepor-se a isto.
Recebemos diferentes questões, inclusive aquelas relacionadas com a realização de alguns eventos como, por exemplo, a cimeira dos BRICS. Estamos confiantes de que a Cimeira na República da África do Sul amiga será muito bem organizada e que as delegações de todos os países do BRICS poderão trabalhar de forma eficaz e eficiente.
Sobre o aniversário da agressão da NATO contra a Jugoslávia
Amanhã, a Rússia e todas as forças progressistas da Europa e do mundo assinalarão uma data trágica: 24 de março de 1999. Nesse dia, começou a agressão da NATO, infligindo muita dor e sofrimento ao povo da Sérvia e cobrindo a Aliança de indelével vergonha de crimes de guerra.
Os EUA e os seus aliados submeteram a soberana Jugoslávia a bombardeamentos bárbaros. Sob o cínico disfarce de "intervenção humanitária", aviões e frotas da NATO bombardearam cidades e aldeias durante 78 dias, destruindo infraestruturas civis, bairros, hospitais, escolas, pontes, transportes de passageiros e comboios de refugiados. Mais de dois mil foguetes e 14.000 bombas e outras munições, entre os quais as munições de urânio empobrecido, foram lançados. Foram usadas munições de urânico semelhantes às que o Reino Unido considera como armas padronizadas. Este urânio empobrecido foi largado sobre os habitantes da região, contaminando grandes áreas e levando a um surro de doenças entre a população local e, subsequentemente, entre o pessoal do contingente internacional instalado no Kosovo. Os "soldados da Força de Paz" ocidentais não pouparam ninguém; centenas de soldados das forças de segurança jugoslavas e mais de dois mil civis, entre os quais 88 crianças, morreram às suas mãos.
As atrocidades da NATO não podem de forma alguma ser justificadas, por mais que os políticos que lançaram a Jugoslávia numa catástrofe humanitária tentem esconder-se atrás das declarações sobre a proteção dos albaneses do Kosovo e outras "boas intenções". Podemos ver no que tudo isto se tornou. Não pode haver outra avaliação: foi cometido um ato de agressão, os princípios fundamentais do direito internacional foram espezinhados, e a "ilegalidade da ilegalidade" foi proclamada. E, de acordo com esta lógica perversa, só Washington tem o direito de decidir quando e onde é preciso usar a força. Reivindica o papel de árbitro nos assuntos mundiais sem qualquer fundamento legal, moral ou outro, para além da sua arrogância, grosseria e sentimento de absoluta impunidade.
Por mais paradoxal que pareça, o Ocidente não compreendeu até agora as consequências do massacre da Jugoslávia para o sistema de segurança europeu e global. Os ocidentais acreditam (ou fingem acreditar) que estavam a defender os valores da liberdade, a lutar pela democracia, a querer "fazer um favor à humanidade". Na realidade, o sistema e a base jurídica internacional do pós-guerra, estabelecida pela Carta das Nações Unidas, foram minados, houve muitas vítimas e destruições, que nunca receberam qualquer atenção por parte dos órgãos judiciais internacionais. Ninguém foi responsabilizado pelos crimes cometidos. Mais tarde, usurpando o papel de líder moral, os EUA fizeram, durante anos, vista grossa ao genocídio da população ucraniana no leste da Ucrânia (do que falámos hoje). Pelo contrário, incitaram os neonazis de Kiev a realizar limpezas étnicas e a aumentar repressão contra os civis, invocando as normas internacionais e as famigeradas "regras". O resultado é bem conhecido. As declarações sobre o "humanismo" feitas em 1999 desapareceram sem deixar um rasto: a NATO passou a incitar diretamente ao extermínio em massa de humanos. De facto, a Aliança tornou-se cúmplice de crimes hediondos, considerando os ucranianos, como todos podemos ver, um mero material dispensável. Ninguém nas capitais europeias nem do outro lado do oceano se preocupa com o seu destino. As recentes notícias de que o Reino Unido está disposto a fornecer ao regime de Kiev munições de urânio empobrecido mostram que os ocidentais chegaram ao extremo do cinismo. Repito, se esta ameaça (ou intenção - não sei como eles a qualificam) se concretizar, se as munições de urânio chegarem a ser utilizadas, como na Sérvia, tanto a água como o solo serão contaminados, o que, por sua vez, envenenará aqueles que aí viverão por décadas. Primeiro, seria bom se Londres experimentasse estas coisas na sua ilha. Tem aí instalações para tais experiências. Experimente, sinta toda a gama de consequências mortais, antes de exportar estas munições para outros lugares.
Os argumentos dos EUA e da UE sobre a necessidade de implantar uma ordem global baseada em "regras" inventadas em Washington são nulos. Eles não mostraram estas "regras" a ninguém, nem aos países ocidentais, porque simplesmente não existem. A reputação do "Ocidente coletivo" como pacificador, humanista e árbitro justo acabou na Jugoslávia. Talvez para cada erro, deva haver um perdão. Pelo menos a possibilidade de perdão. Mas há uma pequena nuance. Entre cometer um erro (não importa se intencional, deliberado ou acidental) e obter o perdão, deve haver um arrependimento sincero. Enquanto o Ocidente não se ter arrependido (pelo menos ainda não vimos que esta disposto a fazê-lo), não pode se tratar de nenhum perdão.
Audições sobre o derrube do voo MH17 da Malásia
A 17 de março, a 228ª sessão do Conselho da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) realizou uma audição sobre as objeções da Rússia à competência do Conselho de examinar as queixas da Austrália e dos Países Baixos contra a Federação da Rússia no âmbito do processo do derrube do voo MH17, da Malaysia Airlines. Haia e Camberra alegam que a Rússia teria violado o artigo 3º bis da Convenção sobre Aviação Civil Internacional de 1944 (Convenção de Chicago), que obriga os países a abster-se de utilizar armas contra aeronaves civis em voo.
A delegação russa apresentou ao Conselho argumentos jurídicos cuidadosamente elaborados de que o organismo não é competente para julgar o referido caso, além de ter enviado anteriormente à ICAO a sua posição formulada por escrito. Em particular, foi salientado que o artigo 3º bis da Convenção de Chicago não se aplica a situações de conflito armado interno que teve lugar na Ucrânia em julho de 2014. Além disso, é evidente que o Conselho não pode atuar como tribunal penal ou órgão de investigação nem fazer conclusões com base nos resultados das investigações externas que não cumprem os critérios de independência e imparcialidade. A Ucrânia, em cujo espaço aéreo que não estava fechado na altura, ocorreu o derrube, está ausente do processo. É igualmente importante o facto de o Conselho não ter, em princípio, autoridade para tomar as medidas solicitadas pelos queixosos.
No entanto, parece que muitos membros do Conselho não se deram sequer o trabalho de estudar os argumentos jurídicos apresentados e foram motivados unicamente por razões políticas quando votaram contra as nossas objeções. O Conselho, em que os ocidentais e os seus satélites surgem com a "maioria aritmética", votou a favor de ter competência para julgar o mérito do caso. Esta posição alarga arbitrariamente a competência do Conselho consagrada na Convenção de Chicago, minando a sua credibilidade enquanto órgão puramente técnico de cooperação em matéria de aviação civil internacional, e terá consequências negativas para toda a comunidade aeronáutica. Estamos agradecidos aos membros do Conselho que não cederam à pressão da maioria e não apoiaram a sua decisão ilegal.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Há dias, John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse numa entrevista à Fox News que a Rússia e a China estão a minar a ordem internacional estabelecida no mundo desde a Segunda Guerra Mundial. Poderia comentar a sua declaração?
Maria Zakharova: A sua declaração não só é absurda como também vai contra a verdade histórica. Gostaria de esclarecer que John Kirby, a julgar pelos seus comentários, falou de uma espécie de "ordem baseada em regras" que pressupõe, de facto, a subjugação de outros países à vontade do "Ocidente coletivo", a restrição e contenção do seu desenvolvimento e o menosprezo pelos interesses do Leste e do Sul globais. Aparentemente, o seu objetivo é manter a sua vantagem competitiva e explorar livremente os recursos de outros países. Esta é uma lógica dos parasitas. Acreditamos realmente que esta ordem mundial é inaceitável para a maioria esmagadora dos países e povos do mundo. Ela não foi estabelecida após a Segunda Guerra Mundial. Naquela altura, foi criado um sistema jurídico internacional com as Nações Unidas no seu núcleo. As "regras" apregoadas pelo Ocidente são comparáveis ao colonialismo, imperialismo do Ocidente que existe há séculos. Foi energicamente imposto pelos norte-americanos, britânicos e os seus satélites durante um longo período de tempo na história, e está agora a ser reencarnado. Defendemos uma ordem mundial mais justa e democrática. Ouvimos muitas declarações sobre a democracia nos EUA, inclusive as que formam feitas nos próprios EUA. Eles não param de ensinar-nos, dizendo que existem democracias desenvolvidas como os EUA, Grã-Bretanha, países da União Europeia (não todos, mas alguns) e as democracias não desenvolvidas (ou em desenvolvimento, híbridas). A classificação é feita na Casa Branca. Ouvimos falar muito sobre o assunto. Aprendemos que, para os EUA, a democracia é a coisa mais importante. Mas se para os EUA a democracia é tudo, "alfa" e "ómega", o ar e a água, então surge a pergunta: porque não consideram a democracia da mesma forma no contexto internacional? Porque reivindicam eles o seu excecionalismo nos assuntos mundiais? Porque falam de dominação e porque a democracia deve tolerar a unipolaridade nas relações internacionais? Para nós, tudo é claro, todas as suas afirmações são falsas. Não têm a mínima intenção de observar nenhumas normas democráticas nem interna nem externamente. É tudo um mantra que eles repetem para que só os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e os países ocidentais sejam associados à democracia. Na realidade, não é este o caso. As relações internacionais são um excelente exemplo disto. A situação interna em muitos países (EUA, Reino Unido, França, Alemanha) mostra que a sua democracia está a atravessar uma profunda crise.
Somos a favor de uma ordem mundial democrática mais justa, baseada na igualdade soberana dos Estados, no respeito pela diversidade cultural e civilizacional do mundo, e no direito de escolher livremente as formas de desenvolvimento. Não só a Rússia e a China, mas também a maioria dos países do mundo procuram diminuir a sua dependência de fatores externos, conseguir a autossuficiência, inclusive na tomada de decisões chave sobre questões da sua política externa e interna.
Estamos a trabalhar, juntamente com os nossos parceiros da CEI, Ásia, Médio Oriente, África e América Latina, para criar uma infraestrutura de relações internacionais sustentável nas mais diversas áreas que seja controlada pelo Ocidente. Tencionamos continuar a trabalhar em conjunto para resistir a sanções e outras práticas neocoloniais. Não permitiremos que as Nações Unidas e outras instituições e mecanismos multilaterais (falámos sobre isto hoje) sejam utilizados no interesse de apenas um grupo restrito de Estados. É isso que está na ordem do dia e não aquilo que Washington está a dizer.
Pergunta: Há dias, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Moldávia, Nicu Popescu, disse que Chisinau está pronta a aderir às sanções antirrussas e a impor restrições a 25 cidadãos russos. Poderia comentar a sua declaração?
Maria Zakharova: Claro que se trata das ações antirrussas. Admira-me ver como os mecanismos absurdos embutidos no chamado "processo democrático" sob os auspícios do Ocidente estão a revelar-se diante dos nossos olhos. Estamos a falar das autoridades moldavas. A sua política antirrussa é destrutiva para elas, para a região. Mas a sequência dos seus passos é clara. Há alguma lógica nisso.
O pior é que as autoridades moldavas estão a seguir uma política antimoldava. O cargo de dirigente máximo do país está a ser ocupado por uma nacional de outro Estado. A Presidente da Moldávia, Maia Sandu, e aqueles que chegaram ao país com ela estão a trabalhar para outros países. Eles não estão a adaptar a Moldávia aos interesses de outros países, mas estão a destruir a Moldávia no interesse de outros países. Não me lembro de um caso em que um Estado, tendo instituições democráticas concebidas para cumprir a vontade do povo, tenha destruído os fundamentos da sua soberania nacional, da cultura e da política. Não me lembro de casos em que estas coisas tenham sido feitas abertamente, são feitas tacitamente. O problema é que isso acontece na Moldávia abertamente e ninguém pode fazer nada para preveni-lo. Estou a falar da lei que "transformou" a "língua moldava" no "idioma romeno". A língua usada no país chama-se agora "romeno", apesar do facto de na literatura científica (não estamos a falar de uma opinião pessoal deste ou daquele político, mas da ciência) e na história, a língua moldava ter existido, existir e, de facto, irá existir. Um grupo de pessoas inventou, sem razão, uma lei para dar à língua nativa do país um nome diferente. Por outro lado, assistimos, durante décadas, às experiências linguísticas na Ucrânia vizinha. Este é um dos fundamentos conceptuais da eliminação e destruição da identidade nacional nos países controlados pelos ocidentais. Agora, infelizmente, a Moldávia amiga é alvo das experiências do Ocidente.
Quanto à declaração do Vice-Primeiro-Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros da Moldávia, Nicu Popescu. Pelo que entendemos, ele referiu-se à próxima adesão de Chisinau ao " Regime Global de Sanções em Matéria de Direitos Humanos" da União Europeia aprovado pelo Conselho da União Europeia em dezembro de 2020 e a uma série de listas de sanções adotadas no seu âmbito.
Repare-se, já no início do corrente mês de março, o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, apresentou a adesão da Moldávia como facto consumado. Incrível, não é? A Moldávia é um país soberano. Mesmo assim, há quem anuncie por ela as decisões que ela que ainda nem sequer tomou. Gostaria de compreender se a UE tenta "correr à frente de si mesma" ou o governo moldavo está atrasado na formalização de decisões tomadas por ele em Bruxelas? Provavelmente, os próprios cidadãos moldavos gostariam de ter uma resposta a esta pergunta. De qualquer modo, é difícil não notar como as autoridades moldavas, empenhadas em agradar aos seus supervisores ocidentais, estão a trabalhar com especial ânsia na vertente russofóbica, não se limitando a aderir às sanções antirrussas da UE. A 22 de março, o Serviço de Informação e Segurança da Moldávia ordenou o bloqueio de outros cinco websites da agência noticiosa russa Sputnik. É sobre o tema das reformas democráticas.
Como se sabe, as referidas medidas da UE não foram deixadas sem a nossa resposta. Consequentemente, se e quando Chisinau aderir a estas restrições, seremos forçados a retaliar de forma adequada. Gostaríamos de salientar que esta não será a nossa escolha, mas sim uma resposta a medidas inamistosas. A Rússia sempre considerou o povo moldavo como amigo. Temos muito em comum no contexto histórico e contemporâneo: a economia, os negócios, os laços humanitários e de parentesco, e, em muitos aspetos, temos um passado comum. Hoje, Chisinau oficial e os seus mentores ocidentais estão a tentar destruir artificialmente tudo isto.
O lado russo tem sempre defendido a preservação e o desenvolvimento mutuamente benéfico dos laços multilaterais, que sempre enriqueceram os nossos países e povos.
Pergunta: A visita de Xi Jinping a Moscovo foi histórica. A Rússia e a China concordaram, entre outras coisas, em continuar a defender o direito internacional. Moscovo declarou-se disposta a prosseguir fiel à política de "uma só China", segundo a qual Taiwan é parte integrante da China.
Maria Zakharova: A posição russa sobre a questão de Taiwan está fixada no Tratado de Boa Vizinhança, Amizade e Cooperação entre a Federação da Rússia e a República Popular da China, assinado a 16 de julho de 2001. Foi reiterada na Declaração Conjunta sobre o Aprofundamento das Relações de Parceria Global e Cooperação Estratégica entre a Federação da Rússia e a República Popular da China, que estão a entrar numa nova época, que foi adotada na sequência das conversações russo-chinesa ao mais alto nível. A nossa fidelidade ao princípio "Uma só China" é inabalável.
Neste mesmo documento, as partes manifestaram-se dispostas a respeitar as legítimas preocupações de todos os países em matéria de segurança. Não há dúvida de que a estreita coordenação entre a Rússia e a China no cenário internacional em todas as questões relevantes irá continuar.
Pergunta: Pode ser isso encarado como sinal a outros países de que a Rússia e a China irão apoiar outros países cuja integridade territorial está ameaçada, como a Sérvia, que está sob crescente pressão do Ocidente?
Maria Zakharova: Houve algum caso em que não prestámos apoio à Sérvia e ao povo sérvio irmão? Mesmo quando nós próprios estávamos em perigo crítico, quando se tratava da nossa própria sobrevivência, ajudávamos a Sérvia, evitando dizer "na medida do possível". Ajudámo-la sempre de todo o coração, apesar das circunstâncias existentes.
Acha que vamos desistir da nossa posição histórica de apoio ao povo sérvio? Não, não o faremos. Porque isso está no nosso sangue, na nossa alma. Mais importante ainda, independentemente das circunstâncias históricas, independentemente de declarações políticas por vezes bizarras de diferentes políticos, sabemos que esta posição é valorizada pelo povo sérvio. Eles têm sentimentos profundos pelo povo do nosso país. Passámos por muitas provações juntos, enfrentámos e estamos a enfrentar conjuntamente muitos desafios. Para nós, esta posição, como já disse, não é simplesmente uma posição de princípio, mas historicamente cunhada.
Como se sabe, existem conjunturas políticas em muitos países. Mas para nós há algumas coisas fundamentais (acabei de as mencionar) que não podem ser esquecidas ou abaladas.
Pergunta: Poderia comentar, especialmente no contexto dos acontecimentos atuais, a recente visita do líder chinês a Moscovo? A visita teve lugar após o TPI ter tomado a conhecida decisão. Ao mesmo tempo, a Ucrânia foi visitada por um representante japonês. Poderá a China desempenhar um papel especial na resolução do conflito ucraniano?
Maria Zakharova: Todos parecem ter comentado a visita do Presidente Xi Jinping à Rússia. Não há uma pessoa no planeta com acesso aos meios de comunicação social que, de alguma forma, não tenha falado ou lido um comentário sobre este assunto.
As negociações entre o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o Presidente chinês, Xi Jinping, tiveram ampla repercussão no mundo. Normalmente, isso acontece no caso de uma notícia semelhante à de desastres, acidentes, tragédias divulgadas ultimamente. No nosso caso, a repercussão foi provocada pelas boas notícias. Muitas coisas estranhas foram escritas a este respeito na imprensa ocidental. Alguns inicialmente tentaram ignorar estas conversações, outros disseram que eram irrelevantes, outros ainda, pelo contrário, afirmaram que este era o início de um confronto entre a Rússia e a China, por um lado, e o Ocidente, por outro. Tem razão quando diz que a repercussão no espaço mediático "abafou" as tentativas do Ocidente de interpretar a visita do líder chinês de uma forma diferente dos objetivos formulados e implementados nas conversações russo-chinesas.
A visita de Estado do Presidente Xi Jinping ao nosso país é sem dúvida o acontecimento político central deste ano para as relações russo-chinesas. As decisões tomadas terão importância fundamental para o reforço dos laços estratégicos bilaterais e para o estreitamento da interação interestatal. Durante as conversações, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o Presidente da China, Xi Jinping, identificaram as principais áreas para o desenvolvimento do diálogo político bilateral e da cooperação prática. Os acordos russo-chineses nas áreas política e económica, bem como as posições dos dois países em relação à resolução dos principais problemas internacionais, tiveram reflexos na Declaração Conjunta sobre o Aprofundamento das Relações de Parceria Global e Cooperação Estratégica. As partes dispensaram especial atenção à intensificação do trabalho conjunto em matéria de energia, cooperação industrial, agricultura, ciência e tecnologia, transportes, intercâmbios humanitários e turísticos. Acentuaram a necessidade de criar mecanismos financeiros e de investimento sustentáveis e seguros. Os acordos alcançados serão incluídos no Plano de Desenvolvimento de Áreas Chave da Cooperação Económica Rússia-China até 2030, sobre o qual os Chefes de Estado adotaram uma Declaração Conjunta especial.
Para os líderes dos dois países, as relações Rússia-China atingiram o nível mais elevado de sempre e continuam a desenvolver-se de forma progressiva. As relações entre a Rússia e a China não fazem parte de uma aliança político-militar semelhante às estabelecidas durante a Guerra Fria, são superiores a esta forma de interação interestatal, não são de natureza de bloco ou de confronto e não são dirigidas contra países terceiros. Não há tópicos tabu ou constrangimentos no nosso diálogo e cooperação. A experiência de coordenação entre Moscovo e Pequim e o seu elevado prestígio no cenário internacional são necessários nas novas circunstâncias geopolíticas. Moscovo elogiou mais uma vez a vontade de Pequim de desempenhar um papel construtivo na resolução política e diplomática da crise ucraniana. Estudámos cuidadosamente o documento publicado pelos nossos parceiros chineses e registamos a consonância das suas principais disposições com as posições russas. Este documento poderia constituir uma boa base para o trabalho futuro, desde que a coligação ocidental e o regime de Kiev estejam genuinamente interessados em resolver politicamente o conflito e tenham em conta a alteração da situação "no terreno". Como deve ter notado, logo ouvimo-los gritar que não têm a intenção de procurar pela paz e um fim do derramamento de sangue e que tudo isto deve continuar e continuar com o uso de sistemas mais avançados de destruição de humanos e contaminação ambiental. O reforço da cooperação estratégica russo-chinesa nas novas realidades geopolíticas dá-nos uma oportunidade histórica de aproveitar o mais possível o enorme potencial das relações bilaterais para efeitos de desenvolvimento multidisciplinar sustentável da Rússia e da China. Este objetivo é dos interesses dos dois países e dos seus povos.
Pergunta: Após as conversações com o líder da China, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que as disposições do plano de paz da China poderiam ser tomadas como base para a resolução do conflito na Ucrânia. Quais são exatamente as disposições com as quais a Rússia concorda, e quais as que precisam de ajustamentos? O Ministério dos Negócios Estrangeiros espera que as discussões com o lado ucraniano sobre estas disposições possam começar em breve? Podemos dizer que Pequim poderá servir de mediador nestas possíveis conversações?
Maria Zakharova: Já comentei este tópico, respondendo às perguntas anteriores. Gostaria de dizer o seguinte: quando o senhor fala sobre a forma como o trabalho sobre propostas chinesas irá ser realizado, não se esqueça de que aqueles a quem as propostas chinesas foram dirigidas já as rejeitaram. Assim que nós e os nossos amigos chineses começámos a discutir o plano chinês, o Ocidente declarou que "o plano chinês é desnecessário", que " a atual situação não serve para isso", que os ocidentais "irão fornecer mais armas" ao regime de Kiev, que "as conversações de paz estão fora de questão", que "tudo deve ser resolvido no campo de batalha", que "a Rússia deve ser derrotada". Todos sabem isto muito bem. Como ponto culminante, os ocidentais quiseram fornecer ao regime de Kiev munições de urânio empobrecido.
Como podemos trabalhar em algo que já foi rejeitado pela parte que era suposta ser o destinatário das propostas? A parte destinatária rejeitou as propostas irrevogavelmente, não deixando espaço para discussão e mostrando, a meu ver, um monstruoso desrespeito pela China e pelos parceiros chineses que haviam elaborado este documento.
Os diplomatas podem sempre encontrar as palavras certas e adequadas para articular corretamente a irrelevância de um tópico. Veja-se a forma grosseira como o plano chinês foi ridicularizado e ostracizado pelos ocidentais. Cientistas políticos, jornalistas, ministros dos negócios estrangeiros e líderes de muitos países começaram a gritar, a rir, a zombar das propostas chinesas como se estivessem num bazar. Isto mostra o nível de degradação da sua diplomacia. Da degradação do profissionalismo dos seus analistas nem falo. Manifestámos repetidamente os nossos agradecimentos ao lado chinês por ter mostrado a sua vontade de mediar. Sempre dissemos que respeitamos e estamos gratos a todos aqueles que estão do lado da paz para dar o seu contributo mediador para uma possível solução. Ouvimos diferentes ideias e estabelecemos contatos. Não estou a falar apenas desta situação. Historicamente, o trabalho sobre tais documentos tem sido feito em diferentes sentidos. Tudo pode sempre ser feito de uma forma normal. Estamos a viver o momento histórico em que o Ocidente se está a empenhar em autorrevelações. Na altura em que as duas grandes potências proferem palavras sobre a cooperação construtiva, cooperação eficaz, paz e estabilidade, os ocidentais estão a declarar a necessidade de fornecer ainda mais armas ao regime de Kiev. Portanto, querem que haja mais vítimas e mais derramamento de sangue.
Pergunta: Antony Blinken disse hoje que, num futuro próximo, Baku e Erevan poderão assinar um acordo de paz. Como é que Moscovo avalia a possibilidade da assinatura de um documento desses em breve?
Maria Zakharova: Comentemos os factos consumados e não as hipóteses, como alguns gostam de fazer. Entendemos que as coisas devem primeiro acontecer e só depois ser comentadas. Estamos sempre abertos a comentários. Por enquanto, não temos nada a dizer.
Pergunta: O Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que a administração norte-americana pretende elaborar uma estratégia para as regiões do Mar Negro, que incluirá componentes políticas e económicas. Como é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros avalia isto?
Maria Zakharova: Por enquanto, não podemos dizer nada de concreto. Como podemos comentar se até mesmo o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, não revelou o significado das suas iniciativas? Posso dizer que, antes, costumava considerar-se que os EUA não fazem parte da região do Mar Negro. Talvez algo tenha mudado e eles acreditam que o regime de Kiev já lhes proporcionou tal oportunidade. Que saibamos, os EUA não têm acesso ao Mar Negro. Por outro lado, temos visto repetidamente as tentativas dos Estados Unidos de elaborar "planos" para regiões do mundo onde não estão representados histórica nem efetivamente. Não me recordo dos casos em que isso tenha tido efeito positivo. Esta é uma resposta teórica. Na prática, não há nada a comentar aqui. Os Estados Unidos ainda não apresentaram o seu "plano" ao seu público. Se ouvir alguma notícia, por favor contacte-nos para o esclarecer.
Pergunta: O lado azerbaijanês disse que a missão da UE é utilizada para fins de escalada. Tem algum comentário a este respeito?
Maria Zakharova: Falámos hoje sobre a necessidade de atenuar as declarações mútuas para evitar uma escalada. O valor acrescentado da participação do Ocidente na "resolução" do conflito não dá resultado. Embora isto deva ter algum resultado. Deve haver algum sucesso nas suas atividades. Isto não está a acontecer. Pode-se dizer o que se quer, mas não é possível encontrar factos que confirmem o seu papel construtivo.
Pergunta: A 21 de março, a Bloomberg informou que a Hungria bloqueou uma declaração conjunta da União Europeia relativa aos mandados de captura contra Vladimir Putin e Maria Lvova-Belova emitidos pelo TPI. Foi também noticiado que a Hungria expressaria possivelmente a sua posição separadamente. Como avalia o MNE russo a posição da Hungria que se desuniu da UE nesta questão e a sua relutância em assinar a referida declaração?
Maria Zakharova: Em primeiro lugar, serão necessários mais de duzentos comentários para comentar a posição de cada um dos países em relação a este documento. Em segundo lugar, porque é que se está a concentrar na "unidade" da UE? Está a dizer que a Hungria "se desuniu da UE"? Porque só a UE lhe interessa? A União Africana, a ASEAN, a OCX, a OTSC não lhe interessa? É uma posição esnobe em relação a outras regiões do mundo? Como representante da Reuters, dificilmente pode permitir-se este luxo. Não creio que seja isso que quis dizer.
Demos a nossa opinião sobre o Tribunal Penal Internacional (já o fizemos tantas vezes, inclusive no briefing) e sobre o espetáculo por ele apresentado. Os países que tomaram a decisão do TPI como bandeira estimularam a criação do TPI, injetando nele dinheiro para fazer com que esta estrutura pudesse tomar estas decisões. Obviamente, a reação daqueles que apoiaram veementemente as decisões do TPI foi elaborada muito antes de a decisão em causa ser tomada. Muitos países distanciaram-se da polêmica, percebendo que Washington e Londres estavam por detrás deste "espetáculo" e que se tratava apenas das tentativas de fomentar a histeria.
É por isso que não penso que seja necessário comentar a posição de cada país individualmente. Estas são questões globais. Este passo particular insere-se no quadro geral da "bacanal" promovida pelo Ocidente por qualquer motivo.
Pergunta: Numa entrevista à cadeia de televisão "Piervy Kanal" (Primeiro Canal), no dia 21 de março, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Riabkov, disse que o número de países que desejam aderir aos BRICS estava a aumentar. Devido ao interesse pelos BRICS, houve recentemente uma proposta de criação de uma moeda única dos BRICS e do Mercosul. Em que fase se encontra o diálogo sobre a possibilidade de criação de uma tal moeda?
Maria Zakharova: A ideia de criar uma moeda de reserva com base no cabaz de moedas dos países BRICS que pudesse ser utilizada nos desembolsos entre os países dos BRICS foi expressa pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, na cimeira dos BRICS de 23 de junho de 2022. Em janeiro de 2023, o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também se pronunciou a favor. Não excluímos a hipótese de este tópico poder também ser levantado durante a próxima reunião dos líderes dos países dos BRICS na África do Sul. Claro que esta iniciativa visa o futuro. Requer uma análise detalhada a cinco, uma vez que a criação de instrumentos de pagamento supranacionais não é um processo fácil. Em qualquer caso, as questões relacionadas com os mecanismos de pagamento são objeto de atenção constante nas discussões dos departamentos especializados dos países dos BRICS. A situação atual das finanças mundiais e a utilização do dólar pelo Ocidente para obter vantagens competitivas e pressionar outros países só está a estimular o processo destinado a acabar com o monopólio da moeda norte-americana. Cada vez mais países estão a pensar em aumentar o papel dos meios de pagamento alternativos nos desembolsos mútuos. O BRICS não é exceção. Os seus esforços não visam destruir os sistemas existentes, mas garantir a sua sobrevivência nas condições em que as sanções unilaterais do Ocidente estão a destruir os mecanismos financeiros que estão em vigor há muitos anos.
Pergunta: O Presidente chinês, Xi Jinping terminou a sua visita à Rússia. Como avaliaria o resultado da sua visita? E quais são as perspetivas de cooperação comercial entre a China e a Rússia após a sua visita?
Maria Zakharova: Já comentei este tópico em resposta à pergunta dos seus colegas. Não vou repeti-lo.
Pergunta: O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês publicou recentemente um relatório intitulado "A Situação da Democracia nos Estados Unidos (2022)". Apresenta numerosos factos, comentários dos meios de comunicação social e avaliações de peritos e analisa os casos de manifestação da democracia nos EUA ao longo do ano passado. O que pensa deste relatório? O que é que acha da democracia nos EUA? Qual será o resultado da política dos EUA de impor a democracia em todos os lugares no mundo?
Maria Zakharova: Registamos o elevado profissionalismo dos nossos colegas chineses que elaboraram este relatório com rigor profissional. O relatório relata acontecimentos reais em países concretos e não especula sobre a situação nos países em análise. Agradecemos-lhes o trabalho realizado. Da nossa parte, utilizaremos este documento na elaboração de relatórios do nosso Ministério sobre a situação dos direitos humanos em alguns países do mundo, entre os quais os EUA. Estes relatórios são elaborados anualmente pelo Comissário para os Direitos Humanos, Democracia e Primazia do Direito do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. A próxima edição deve ser lançada no primeiro semestre deste ano. Esperamos que tanto os documentos russos como os chineses recebam a devida atenção dos organismos de direitos humanos das Nações Unidas e de outras organizações internacionais.
Pergunta: Ultimamente, têm sido ouvidas com crescente frequência declarações sobre o perigo crescente do conflito nuclear. Neste contexto, o que acha da hipótese de conversações diretas entre a Rússia e o Ocidente sobre a situação na Ucrânia?
Maria Zakharova: Parece-me que não ouviu atentamente a mim nem as conferências de imprensa, entrevistas e declarações de Serguei Lavrov, inclusive aquelas que ele fez nos últimos dias e semanas. Todas as opções para discutir iniciativas de mediação, onde a palavra "paz" está presente, são bloqueadas pelo Ocidente a nível político. O regime de Kiev também bloqueou isto legalmente. Não posso dizer-lhe nada de novo.
Pergunta: Refiro-me às conversações diretas e não às mediadas.
Maria Zakharova: Já ouviu as declarações de Antony Blinken e de outras figuras, certo? Dizem-no no contexto das conversações entre as duas grandes potências sobre as "iniciativas de paz" chinesas e a sua consideração. Também dizem que não é altura própria para pôr termo aos combates e que é necessário fornecer mais armas. Também dizem que "é necessário" fornecer munições com uma componente radioativa. Não é a nós que deve dirigir esta pergunta. Quando nos perguntaram e nos fizeram uma proposta, quando fomos solicitados a negociar, respondemos. Depois bloquearam o processo de negociação. Estamos simplesmente a registar isto. Entendemos que eles deixaram clara a sua posição (na medida em que podem deixar algo claro). Neste momento, a situação é esta. Estão a bloquear toda a retórica, defendendo a intensificação da agressão e da escalada do conflito.
Pergunta: O que pode dizer sobre a reação do mundo à apreensão do Mosteiro de Kiev-Pechersk? O que mais pode a Rússia fazer nesta situação?
Maria Zakharova: Eu já comentei no início do briefing. Não é que não haja uma reação suficiente no mundo, de facto, não há nenhuma reação no mundo. A reação deve ser dura e coletiva. Mas, infelizmente, não há nenhuma reação.
Pergunta: Falando na mesma conferência de imprensa sobre os direitos da população de Nagorno Karabakh a serem consagrados num futuro acordo, Serguei Lavrov disse que "não é tão difícil como parece" e que "tudo dependerá do comportamento honesto daqueles que implementarem os acordos que estão a ser alcançados". Ao mesmo tempo, citou como exemplo os acordos de Minsk sobre o Donbass e os acordos sobre os direitos dos sérvios no Kosovo. Vimos que os acordos de Minsk não foram implementados e tiveram como resultado uma operação militar especial. Os direitos da população sérvia no Kosovo são regularmente violados de forma grosseira. O Azerbaijão não honra e viola grosseiramente as declarações trilaterais. Tendo-se isto em mente, como pode ser resolvido o conflito de Karabakh e como podem ser garantidos os direitos da população de Artsakh?
Maria Zakharova: Temos acordos trilaterais. O que é necessário é a vontade política. Ter um plano concreto e uma vontade de o implementar é o caminho para o sucesso, para o sucesso de todos. Os acordos foram elaborados por todos. Não impostos, não inventados de alguma forma. Foram elaborados por todos. Quanto a não repetir o destino dos acordos de Minsk. Partimos do facto de as partes terem repetidamente reafirmado por si próprias a relevância dos acordos tripartidos. Recorde-se que, ao longo dos anos, o regime de Kiev inventou pretextos para não cumprir os acordos de Minsk. Depois disse que não eram relevantes, e acrescentou que, como tinham sido assinados pelos antigos representantes de Kiev, não eram relevantes para as autoridades atuais. Registámos sempre haver estratagemas por parte do regime de Kiev. Também registámos a relutância dos patrocinadores deste "projeto", aqueles que eram responsáveis pelo regime de Kiev, em ajudar a implementá-los, a falta de vontade política. Falámos disto a toda a hora. Esta é uma das respostas à sua pergunta.
Pergunta: A senhora falou sobre as posições das partes. Mas vemos que o bloqueio já dura 100 dias e que outras violações estão a ter lugar. Ninguém, nem mesmo a Rússia, pode influenciar o Azerbaijão a cumprir os seus compromissos ao abrigo destes acordos.
Maria Zakharova: Também vemos muitas coisas. Não temos problemas visuais.
Pergunta: Os meios de comunicação arménios e os canais telegráficos estão a noticiar sobre o ferimento de dois soldados russos por azerbaijaneses no território da Arménia. A administração regional da região de Syunik também informou que os soldados russos receberam tratamento médico. A este respeito, gostaríamos de saber o que a Rússia tenciona fazer quanto ao bombardeamento dos seus militares pelos azerbaijaneses no território da República da Arménia internacionalmente reconhecido. Não será o presente incidente uma consequência da confiança de Baku na sua impunidade, devido à ausência de qualquer reação dura por parte de Moscovo a qualquer violação da declaração bilateral?
Maria Zakharova: As circunstâncias do incidente estão a ser esclarecidas pelo Ministério da Defesa russo. Penso que deveríamos esperar pelos resultados da investigação. Quando estiverem disponíveis, poderei comentar o assunto. Os nossos departamentos envolvidos reagiram devidamente aos incidentes ocorridos.
Há outra pequena, mas importante nuance. A reação nem sempre se faz publicamente. Mantemos um diálogo quase ininterrupto. Espero que o senhor não pense que se algo não tiver sido dito publicamente, isso significa que não foi dito ao telefone, olho a olho, na troca de notas, etc. Não acha que isso é assim, pois não? Temos meios diferentes para levar a nossa posição ao conhecimento dos nossos aliados, parceiros, amigos.
Pergunta: Durante a reunião entre Serguei Lavrov e Ararat Mirzoian, foi dito que "a Arménia não se recusou a assinar a decisão sobre a instalação da missão OTSC". Quererá isso dizer que uma missão da OTSC será instalada juntamente com a missão da UE na fronteira da Arménia com o Azerbaijão? Em caso afirmativo, quando será tomada a respetiva decisão?
Maria Zakharova: Isto foi mencionado na conferência de imprensa entre Serguei Lavrov e Ararat Mirzoian. A questão da instalação de uma missão da OTSC na Arménia está a ser estudada.
Pergunta: Durante as conversações com Serguei Lavrov, o Ministro dos Negócios Estrangeiros arménio, Ararat Mirzoian, afirmou que Erevan espera cooperar com Moscovo no envio de uma missão internacional a Karabakh. O que pensa a Rússia da ideia da Arménia de enviar uma missão internacional para Karabakh?
Maria Zakharova: De acordo com a Declaração dos líderes da Rússia, Azerbaijão e Armênia, de 9 de novembro de 2020, um contingente da Força de Paz russa está instalado em Nagorno-Karabakh. Os nossos soldados da Força de Paz estão a fazer esforços consistentes para garantir a estabilidade e a segurança na região e para evitar uma escalada.
Muita coisa depende da vontade política e da disponibilidade das partes para resolver as divergências remanescentes e encontrar uma solução. É importante que eles (e todos nós) observem escrupulosamente todos os acordos trilaterais que estabelecem o roteiro para a resolução do conflito entre a Arménia e o Azerbaijão. Quanto a qualquer nova missão, só pode ser instalada com o consentimento de Baku e de Erevan. Por enquanto, não há consentimento das partes a este respeito.
Pergunta: O Presidente do Comité de Investigação da Rússia, Aleksandr Bastrykin, considera que a Rússia deve criar um tribunal internacional semelhante ao Tribunal Penal Internacional de Haia ou ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Poderia dizer-nos se o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo apoia esta iniciativa? Já começaram os preparativos para a criação de um novo tribunal internacional? Que países amigos são a favor desta ideia?
Maria Zakharova: Ainda não tenho informações sobre se existem algumas soluções prontas. Esta questão está na fase de análise. Se tiver alguma informação concreta, irei informá-lo. A questão é que muitas instituições internacionais, em particular o Tribunal Penal Internacional, se desacreditaram há muito tempo, fazendo-se passar por um "árbitro internacional absoluto". Isso vai contra o direito internacional, a lógica dos acontecimentos e a verdade histórica. É o que, infelizmente, suplanta na consciência social as funções de organizações internacionais universais. Claro que, quanto mais tais provocações ocorrerem, mais perguntas comunidade internacional terá. O que fazer a seguir? O que fazer? Afinal, não se pode simplesmente dizer que o direito internacional não existe mais, porque os países ocidentais já não sabem o que devem fazer para o destruir. Não, o direito internacional deve existir e agir. Haverá cada vez mais perguntas sobre qual será a saída.
Pergunta: O ex-Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente dos EUA, John Bolton, apelou à Ucrânia para lançar ataques contra alvos no interior da Rússia. Podemos considerar que as declarações internacionais desta semana avançaram para uma nova fase? Quando é que os peritos internacionais se darão conta de que os seus conselhos só estão a piorar as coisas?
Maria Zakharova: Não vou comentar esta declaração, ainda que tenha sido feita internacionalmente. Penso que só as pessoas com psique instável podem permitir-se tais apelos. Parece-me que, infelizmente, muitas das declarações que estamos agora a ouvir dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, feitas tanto por funcionários como por pessoas particulares, podem ser caracterizadas desta forma.
Pergunta: Estou em Iakutsk onde o segundo dia da conferência sobre as alterações climáticas terminou hoje. Para além de relatórios, ouvimos palavras de gratidão pelo seu apoio na organização de tão grande conferência internacional. Hoje, dia 23 de março, o Paquistão celebra a sua data nacional, o Dia do Paquistão. O Paquistão e a Rússia fizeram um grande trabalho diplomático para estabelecer relações de amizade e compreensão mútua. Hoje os dois países mantêm um diálogo político construtivo. Poderiam comentar as relações entre os dois países em 2023? O que desejaria ao povo do Paquistão no seu feriado nacional?
Maria Zakharova: Gostaríamos de felicitar todos os cidadãos deste país pelo seu feriado nacional, o Dia do Paquistão, e desejar-lhes sucesso, paz e prosperidade. O Paquistão é um importante parceiro da Rússia no cenário internacional. As relações com o Paquistão são valiosas em si.
Os nossos dois países mantêm um diálogo político regular. Interagimos produtivamente na solução afegã e no combate ao terrorismo. Moscovo e Islamabad assumem posições semelhantes sobre a maioria das questões prementes da agenda internacional e regional. A sua interação, como as suas relações bilaterais, está a expandir-se sistematicamente em formatos multilaterais, na ONU e na OCX. Estamos dispostos a consolidar os laços comerciais e económicos e aguardamos que projetos conjuntos na área de energia venham a ser concretizados em breve.
Muito obrigado pela sua avaliação do nosso apoio às atividades civis que mencionaram.
Pergunta: É provável que a Turquia e a Hungria ratifiquem muito em breve a adesão da Finlândia à NATO. É sabido que a Rússia é contra a expansão da NATO. Tentou influenciar a Turquia e a Hungria a travar o processo de adesão da Finlândia à NATO e, em caso afirmativo, como?
Maria Zakharova: Não escondemos a nossa posição. Temos dito honestamente como vemos os processos de construção da segurança comum. Vemos os riscos decorrentes das tentativas de dividir a segurança em "nossa" e "dos outros", de traçar linhas divisórias e de garantir a própria segurança à custa dos outros. Temos dito isso publicamente. Muitos eventos especializados, conferências, simpósios (não estou a falar de negociações) foram realizados. Seria estranho dizer que tentámos persuadir algum país individualmente. Tentámos convencer todos. Dissemos isso a todos os países. Propusemos construir coletivamente a paz. Oferecemos diversas opções e se prontificámos a ajustá-las. Infelizmente, o "Ocidente coletivo" recusou-se a cooperar connosco.
O novo ciclo de alargamento da NATO não só não ajuda a resolver os problemas acumulados em matéria de segurança europeia, como os torna ainda piores. A política de "porta aberta" da Aliança visa resolver a tarefa de conseguir a expansão máxima da Aliança do Atlântico Norte para conter Estados e regimes "inconvenientes", principalmente a Rússia. Podemos ver como, na última década, ficámos rodeados pelas bases da NATO.
Quanto à decisão da Finlândia de aderir à NATO, dificilmente pode ser considerada uma decisão equilibrada. Foi tomada sem consulta pública e sob a influência de uma campanha sem precedentes desencadeada pelos meios de comunicação social russófobos. Sabemos que os Estados Unidos e alguns dos seus aliados estão por detrás desta campanha política. Nem as garantias da Rússia de desejar construir coletivamente uma segurança comum, nem as nossas propostas a este respeito, nem a ausência de intenções hostis da nossa parte em relação à Finlândia, nem a nossa longa história de boas relações de vizinhança e de benefício mútuo convenceram Helsínquia da necessidade de manter a sua política de não-alinhamento militar. Temos repetida, honesta e abertamente salientado a natureza contraproducente deste passo. Apenas irá exacerbar a situação político-militar na Europa, militarizar a região do Mar Báltico e aumentar as tensões no Ártico. Surge aqui uma série de problemas. As relações russo-finlandesas, inclusive económicas, já foram negativamente impactadas pela decisão de Helsínquia.
Pergunta: A 23 de março de 2023, muçulmanos de todo o mundo irão celebrar o mês sagrado do Ramadão. O Ramadão durará até 21 de abril. O Ramadão é uma época especial para um muçulmano. Neste mês, ele tenta rezar mais e ler o Alcorão, bem como fazer boas ações, fazendo o bem às pessoas. Tivemos uma pergunta sobre soldados ucranianos a queimar e profanar o livro sagrado para todos os muçulmanos. A senhora já fez um comentário pormenorizado. A Rússia tem muitos amigos e parceiros no mundo muçulmano. Que votos faria aos muçulmanos de todo o mundo por ocasião do início do mês sagrado?
Maria Zakharova: Faço os meus melhores votos para todos aqueles que professam o islamismo. Faço-os, em grande medida, em meu nome. Sou plenamente solidária com a nossa posição de atitude respeitosa para com todas as religiões do mundo, para com aqueles que têm pacificamente diferentes visões religiosas e filosóficas, de acordo com as suas tradições e leis. Todas as coisas que foram criadas nas últimas décadas (a aliança de civilizações, o diálogo de culturas) - tudo isto está realmente concretizado no nosso país. Não porque tenha sido prescrito em alguns conceitos ocidentais, mas porque temos vindo a viver tradicionalmente desta forma. Por isso, faço os meus melhores votos.
Quanto ao caso horrível que mencionou, já o comentei. Só posso acrescentar algumas palavras. As ações dos militares ucranianos são, de facto, perigosamente provocatórias e visam insultar os sentimentos dos representantes de toda a comunidade muçulmana de não um país concreto, mas de todo o mundo. Episódios como este devem ser cuidadosamente investigados e exigem a consolidação dos esforços internacionais e a responsabilização penal dos culpados, para que isto não volte a acontecer e, consequentemente, não se torne um pretexto para incitar à intolerância religiosa e, Deus me livre, aos conflitos. Compreendemos que não podemos esperar que a comunidade internacional (estou a referir-me a organizações ocidentais especializadas) seja objetiva. A atmosfera de desprezo por outras culturas e religiões que prevalecem no exército e na sociedade ucranianos é o resultado lógico da política antirreligiosa seguida pelo regime de Kiev ao longo de muitos anos.
Não é uma questão do ateísmo ou de desenvolvimento de um Estado secular. É uma questão da atitude depreciativa para com as pessoas com opiniões diferentes (desde a política até à religião). Temos de admitir que a violação consistente dos direitos dos crentes na Ucrânia dificilmente contribui para o crescimento da harmonia inter-religiosa naquele país. Repito, os seguidores de todas as religiões do mundo são respeitados no nosso país. Condenamos firmemente estes atos inaceitáveis e instamos as autoridades ucranianas a respeitarem os direitos dos crentes, independentemente da sua religião. Têm toda a razão quando diz que o mês do Ramadão é uma época especial para todos os muçulmanos. O jejum observado neste mês implica a purificação espiritual e a concentração, cuidados práticos para com os próximos e reconciliação com aqueles com quem houve disputas e desacordos. Desejamos aos muçulmanos russos e aos seus correligionários em todo o mundo um jejum pacífico e tranquilo, o bem-estar dos seus entes queridos, paciência e concentração nas boas obras.