Briefing da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 20 de Fevereiro de 2020
Quanto à visita oficial à Rússia do Ministro dos Negócios Estrangeiros da República do Tajiquistão, Sirojiddin Muhriddin
Em 24-25 de Fevereiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da República do Tajiquistão, Sirojiddin Muhriddin, deslocar-se-á a Moscovo para visita oficial a convite do seu homólogo russo, Serguei Lavrov.
Durante negociações, as partes trocarão opiniões sobre questões atuais da agenda internacional, discutirão a cooperação bilateral baseada nos princípios de parceria estratégica e aliança, com enfoque no cumprimento dos acordos alcançados após a visita oficial do Presidente da República do Tajiquistão, Emomali Rahmon, a Moscovo em Abril de 2019.
Falar-se-á também da promoção da cooperação comercial, económica, cultural e humanitária, assim como da coordenação da atividade dos dois países nos formatos da CEI, OTSC e OCX.
As partes vão trocar as avaliações a respeito da segurança regional, da situação atual no Afeganistão, da cooperação antiterrorista e antidrogas.
Planeia-se também a assinatura do Programa de Cooperação entre os Ministérios dos Negócios Estrangeiros dos dois países para 2020.
Quanto à viagem para Genebra do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov
Em 24-25 de Fevereiro, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, fará visita a Genebra (Suíça) para participar em encontro de alto nível no âmbito da 43a sessão do Conselho da ONU para os Direitos Humanos e para pronunciar seu discurso na Conferência sobre o Desarmamento.
O titular da pasta diplomática russa deverá manter conversões com a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e uma série de encontros bilaterais com colegas estrangeiros.
Terá lugar o tradicional almoço de trabalho de Lavrov com os chefes das principais organizações internacionais com sede em Genebra.
Quanto às negociações do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, com o Primeiro-Ministro, Ministro dos Negócios Europeus e Estrangeiros da República da Albânia, Presidente em funções da OSCE, Edi Rama
Em 26 de Fevereiro, terão lugar em Moscovo as negociações entre o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, e o Primeiro-Ministro, Ministro dos Negócios Europeus e Estrangeiros da República da Albânia, Presidente em funções da OSCE, Edi Rama.
Serão discutidos problemas atuais europeus e regionais, as atividades da OSCE e os seus planos para 2020.
Serão examinados ainda aspectos diversos das relações bilaterais.
Quanto ao encontro entre o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e o membro do Comitê Central do Fatah, Hussein al-Sheikh
Em 27 de Fevereiro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, receberá o membro do Comitê Central do Fatah, Hussein al-Sheikh.
No mesmo dia, terão lugar negociações alargadas com o Representante Especial do Presidente da Federação da Rússia para o Oriente Médio e África, Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Bogdanov.
A situação atual em torno do processo de paz no Oriente Médio será o tema principal dos futuros encontros.
Quanto à visita à Rússia do Ministro dos Negócios Estrangeiros e Europeus do Grão-Ducado do Luxemburgo, Jean Asselborn
Em 28 de Fevereiro, estará em Moscovo em uma visita de trabalho o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Europeus do Grão-Ducado do Luxemburgo, Jean Asselborn. Deverá realizar negociações com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.
Em cima da mesa estará a cooperação bilateral que se desenvolve e abrange muitas áreas, a começar pela economia e pelos investimentos e a terminar pela cultura, ciência e educação.
O segmento internacional da conversa será dedicado à situação no continente europeu, à manutenção da estabilidade no mundo e aos temas essenciais regionais.
Quanto à situação em torno dos cidadãos russos a bordo do cruzeiro Diamond Princess
Não deixamos de informar-lhes, inclusive através dos nossos estabelecimentos estrangeiros, que no momento, é a prioridade do nosso Ministério estabelecer e manter o contato com os cidadãos russos no estrangeiro, nos países onde o vírus foi detectado e onde é combatido, assim como também nos países onde casos não foram detectados; estamos a estabelecer e manter contatos. Por isso, peço para sempre chamar a atenção dos viajantes às contas, páginas, números das “linhas quentes” dos nossos estabelecimentos estrangeiros. Nesse sentido, sem repetir o que já é dito nas contas das nossas Embaixadas, nas redes sociais, eu gostaria de comentar a situação em torno dos cidadãos russos que estão a bordo do cruzeiro Diamond Princess.
Estamos a acompanhar atentamente as medidas tomadas pelas autoridades do Japão em relação ao surto do coronavírus entre passageiros e tripulação do cruzeiro. Compreendemos que a situação está longe de ser otimista. Em 14 dias, o número de infectados cresceu 60 vezes. Só no dia de hoje, mais 79 passageiros foram diagnosticados com o vírus. Desta maneira, há 621 infectados. Infelizmente, o vírus levou a duas mortes. Estas informações já foram publicadas pela mídia.
Desde os primeiros dias da quarentena, a Embaixada da Rússia no Japão mantém a comunicação com os russos que estão a bordo (24 pessoas). Um compatriota nosso infectado foi hospitalizado na cidade de Okazaki (prefeitura de Aichi). Devido ao alto perigo de infecção, a sua esposa também deu entrada no hospital. Estamos a manter contato permanente com eles e com os médicos. De acordo com as informações que recebemos, o resultado do teste foi positivo em mais dois cidadãos russos, que serão hospitalizados em breve.
Como é sabido, em 19 e 20 de Fevereiro o Japão anunciou o fim da quarentena para seis cidadãos da Rússia. Eles obtiveram certificados de não estarem doentes e de confirmação de quarentena de 14 dias. Foram alojados em hotéis com a ajuda da Embaixada.
A Embaixada da Rússia no Japão continua em contato com os passageiros russos do cruzeiro, que ficaram em uma situação difícil, está disponível para prestar apoio necessário na solução de questões consulares e de visto.
Eu gostaria de aproveitar a presença de jornalistas no nosso encontro de hoje para pedir aos cidadãos russos para se dirigirem às nossas Embaixadas. Repito: os telefones das “linhas quentes” funcionam, há contas nas redes sociais, informações de contato no site. Em caso de necessidade de ajuda, apoio, respostas a perguntas, está disponível toda a informação para ajudá-los. Volto a lembrar da aplicação
especial “Assistência no Estrangeiro”. Por favor, usem-no de maneira ativa.
Quanto à situação na Organização para a Proibição das Armas Químicas devido aos incidentes na Síria
Como vocês sabem, em 7 de Fevereiro publicamos no nosso site oficial um comentário sobre o briefing na OPAQ dedicado às informações confidenciais na preparação do relatório da missão especial da OPAQ sobre o suposto uso de cloro em 7 de Abril de 2018 na cidade síria de Douma. Gostaria de voltar a comentar este assunto com novos aspectos.
O mesmo formato do evento surpreendeu, quando o Diretor-Geral do Secretariado Técnico, Fernando Arias González, só tinha 15 minutos para fazer o seu discurso, e depois, os representantes dos países participantes da Convenção para a Proibição das Armas Químicas (CPAQ) foram convidados para fazerem perguntas, mas só por escrito, apesar de terem estado preparados para uma discussão mais ampla. Nem parecia uma imitação de diálogo.
Quero dizer que o tema e o formato anunciados para o evento suponham precisamente a comunicação.
O algoritmo falhado da informação dos presentes sobre o ponto de vista e avaliações das autoridades do Secretariado Técnico a respeito desta situação absolutamente escandalosa, sem mencionar a recusa de admitir jornalistas e ONGs, surpreende. E estamos a observar isso na plataforma duma organização internacional especializada, que mereceu em 2013 um Prêmio Nobel da Paz, principalmente pela organização, com o apoio da Rússia, China, EUA, Noruega, Dinamarca e uma série de outros Estados, de uma operação internacional de grande escala da retirada da Síria de componentes de armas químicas para a sua posterior eliminação em instalações químicas do Reino Unido e também a bordo do navio norte-americano especialmente equipado Cape Ray.
Desde o momento em que, no final de 2015, a eliminação das armas químicas sírias foi levada a cabo, graças aos esforços conjuntos, a situação mudou radicalmente. Hoje, graças aos antigos peritos da OPAQ, que se importam com a autoridade da Organização e com a integridade da CPAQ, foi divulgada a falsificação politicamente motivada, inédita em termos de cinismo e escala, dos relatórios da estrutura especial que é a Missão Especial da OPAQ. Um exemplo flagrante de tais manipulações, que visam justificar o ataque de mísseis do território sírio pelos EUA, Reino Unido e França, foram as acusações contra Damasco presentes nas conclusões sobre a provocação química em Douma, por trás da qual estava a ONG pseudo-humanitária Capacetes Brancos e os serviços especiais ocidentais que a patrocinavam. A nacionalidade desses serviços especiais não gera muita polémica, já que a cada vez, desde 2013-2014, o mesmo cenário é repetido com provocações usando materiais tóxicos e armas químicas, que levam uma vez sanções e outra vez golpes militares. Foi assim em Ghouta Oriental, em Khan Shaykhun, em al-Latamna, elm Saraqeb e em outros incidentes semelhantes.
O supra comprova-se por factos provados. Disso falam, inclusive, muitos especialistas independentes, pessoas públicas e políticas, os media. Na verdade, estamos a acompanhar algo muito raro, ou seja, coincidência nas opiniões de representantes de vários grupos sociais. Como eu já disse, trata-se de especialistas que cumpriam o encargo da OPAQ a formar seu ponto de vista com base nos documentos, nas testemunhas e na análise própria, e também do ponto de vista dos media e dos representantes dos países que participam da investigação, seja por iniciativa própria, seja por serem alvo de acusações, sanções etc. Eles até se dirigiram colectivamente aos Estados membros da CPAQ e ao Secretário-geral da ONU em pessoa, na sua qualidade de depositante da CPAQ, para apelar à investigação da situação e tomar medidas urgentes para restaurar confiança à OPAQ. Esperamos que estes apelos sejam ouvidos e a justiça vigore. A falar da justiça, não tenho na mente uma noção abstrata, senão uma noção muito concreta: o aspecto jurídico. Aquilo que acontecia, como nós vimos, que é provado por testemunhas na plataforma da OPAQ nos últimos anos, deve ser avaliado não só politicamente, mas também juridicamente. Esperamos que todos os organizadores destas falsificações cessem as suas ações sujas e provocativas.
Quanto à intenção da UE de iniciar nova operação militar com vista a controlar observação do embargo de armas da ONU na Líbia
Temos seguido de perto os comentários do Alto Representante do Conselho da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrel, feitos no passado dia 17 de fevereiro, sobre os resultados da mais recente reunião do Conselho em que foi expressa a intenção da UE de efetuar, em vez da operação militar-naval “Sofia”, uma nova operação com objetivo de supervisionar o embargo de armamentos da ONU em relação à Líbia. Tais discussões, como tudo indica, se realizam no âmbito comunitário, embora sem resultar em uma resolução definitiva.
Partimos do facto de que, elaborando um conjunto de modalidades da nova operação, ou pelo menos, do seu formato, a União Europeia e os autores da mesma, deverão coordená-las com o Conselho de Segurança da ONU. Não se pode empreender quaisquer ações que sejam vistas como um desrespeito às prerrogativas desse organismo supremo no domínio de manutenção da paz e da segurança globais. Recorde-se que, no contexto da Líbia, uma série inteira de Estados e forças políticas têm negligenciado certas soluções de cumprimento obrigatório, assim como as recomendações do CS da ONU. Os efeitos disso fazem sentir até hoje.
Por isso, convém esclarecer informações segundo as quais Bruxelas teria considerado suficiente o atual mandato da ONU em relação à operação “Sofia” sem que seja necessário renová-lo. Lembramo-nos muito bem os acontecimentos ocorridos em 2011 em que os países da NATO e seus aliados acabaram por deturpar as disposições da Resolução 1973 da CS da ONU, tendo realizado, de facto, uma intervenção armada contra um Estado soberano, contra a Líbia, o que deu em derrocada do país e ao agudizar da crise migratória na Europa.
Cumpre citar, nessa ocasião, a declaração do Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, feita no decurso da preparação e realização da Conferência de Berlim em 19 de janeiro, segundo a qual quaisquer mecanismos de cariz nacional ou regional não podem ser usados na regularização da crise na Líbia ao critério de uma ou outra parte ou de um grupo de países. Digo uma vez mais – as consequências do género fazem-se sentir até hoje.
Somos da opinião que, atuando através do CS da ONU, os nossos colegas europeus poderão elaborar uma decisão conveniente. Com isso importa garantir o respeito das normas do direito internacional, inclusive as prerrogativas do CS ONU.
Quanto aos resultados das eleições presidenciais no Afeganistão
A Comissão Eleitoral Independente do Afeganistão divulgou, em 18 de fevereiro, os resultados finais das presidenciais que deram vitória ao atual Presidente, Ashraf Ghani.
Contudo, os resultados não foram reconhecidos por Abdullah Abdullah, chefe do Executivo e principal rival de Ashraf Ghani que propôs a formação de governo alternativo. Essa iniciativa, conforme algumas fontes, poderá vir a ser apoiada por outros candidatos a Presidente.
A Rússia mantém-se preocupada com tal cenário de conflito que se criou após as eleições presidenciais, capaz de acarretar o agravamento da situação interna. Tudo isso pode ter um impacto no lançamento do processo de pacificação interafegã.
Apelamos às forças políticas diversas para tentarem encontrar uma saída desta situação que corresponda aos interesses do povo afegão e favoreça o restabelcimento de paz sólida nesse país.
Quanto à troca de tiros na região de Donbass
Causam-nos uma profunda inquietação informações sobre combates na linha de contacto em Donbass.
De acordo com representantes de Lugansk no Centro de Controlo e Coordenação do Cessar-Fogo e Estabilização da Situação no Sudeste da Ucrânia (CCCF), no passado dia 18 de fevereiro, perto da zona de separação das tropas na povoação Zolotoye, a situação viu-se agravada. As Forças Armadas da Ucrânia (FAU) abriram fogo intenso de morteiros e rockets. O ataque foi rechaçado pela milícia popular da República de Lugansk.
É sintomático que essa provocação armada ocorreu em vésperas da sessão do CS da ONU dedicada ao 5º aniversário da assinatura dos Acordos de Minsk. Recorde-se que essa reunião foi convocada por iniciativa da Federação da Rússia.
Esperamos que o incidente seja examinado em próxima reunião do Grupo de Contacto em Minsk, agendada para 26 de fevereiro.
Quanto ao 6º aniversário do golpe de estado na Ucrânia
Amanhã, no dia 21 de fevereiro, completar-se-ão 6 anos do golpe de estado levado cabo na Ucrânia.
Há seis anos, fomos testemunhas dos acontecimentos trágicos em pleno centro de Kiev. Esses eventos dramáticos não foram resultado de uma situação de emergência ou calamidade natural. Tinham sido provocados e preparados pelas forças externas e Estados ocidentais no decurso de muitos anos. As intentonas de efetuar um golpe de estado tinham ocorrido reiteradas vezes. Por vezes, para o efeito, eram usadas ferramentas jurídicas, distorcendo as normas legislativas a que, as vezes, se alegava, de uma ou outra maneira. Há seis anos a componente jurídica foi rejeitada - tal era a premente necessidade de inverter a situação política na Ucrânia.
As múltiplas tentativas culminaram com um golpe de estado sangrento que fez abalar a Ucrânia, levou à separação da Crimeia e causou depois o conflito armado em Donbass que ainda não acabou. No país instaurou-se uma crise sistémica de alarga escala. Repito, em muito, ela foi instigada pelos países ocidentais com os EUA à frente. Os acontecimentos que se seguiram não podem senão ser caraterizados como um caos político infinito, o nigilismo jurídico e o desenfreio de ânimos ultranacionalistas. Ao mesmo tempo, eram empreendidas numerososas tentativas de deturpar a verdade sobre aqueles eventos, camuflar os factos reais sob alegadas acusações infundadas. Todavia, a verdade sempre acaba por triunfar. É difícil contestar factos consumados. Não se pode escamotear a verdade. Cedo ou tarde, tudo se põe à revelia.
Nos finais do ano passado, na Ucrânia eclodiu um escândalo em torno de materiais sobre a falsificação de listas das vítimas da Euromaidan, publicados pela antiga ministra da Justiça, Elena Lukash. Tem-se em vista os heróis da “centena celestial”. Como se apurou, entre elas havia pessoas que morreriam não devido aos ferimentos causados por armas de fogo, mas sim por terem tido problemas de saúde, sendo os naturais de outras regiões e não de Kiev. É apenas um retoque.
Há dias, nos EUA foi exibido um documentário da autoria de Michel Caputo “Resignação. Dinheiro de Baiden. Homicídios em massa” em que se revela, em pormenor, quem na realidade estava detrás da “revolução de dignidade”, quem é que se escondia nos bastidores. A exibição do filme e a sua divulgação nas redes sociais foram proibidas. Se puderem, aproveitem a oportunidade de romper o bloqueio informativo. Vejam-no.
Um destino idêntico tinham outras películas e materiais documentais que versam sobre os episódios da Euromaidan desconhecidos. Por exemplo, o filme de realizadores italianos “Ucrânia, segredos ocultos” sobre os franco-atiradores georgianos e o filme de Oliver Stone “Ucrânia em fogo”.
Um inquérito objetivo e imparcial poderia lançar luz àqueles acontecimentos trágicos de fevereiro de 2014. No entanto, as forças que ascenderam ao poder após o afastamento do Presidente legítimo, Viktor Yanukovitch, têm tido muita coisa por ocultar. Para não perder tempo, apressaram-se a eliminar provas e recorrer a invencionices sobre uma “revolta popular” e assim por diante. Havia quem se opusesse a tais cenários e manifestasse descontentamento. Houve erros políticos graves cometidos em diversas áreas, mas o certo é que foi perpetrado um golpe constitucional, uma ação levada a cabo por pessoas armadas e bem treinadas. Aquelas pessoas nem se pareciam com “donas de casa” simples, revoltadas ou com pessoas carentes de pensões da reforma ou cansadas de atrasos salariais. Nada disso. Aquelas pessoas eram caceteiros especialmente treinados em centros de instrução durante um ano inteiro.
Eles tinham vestido fardas paramilitares, eram bem equipados e preparados para organizar desordens de rua e para efetuar autênticos combates. Veja-se documentários daquela época e façam comparação com manifestações pacíficas. Parece-me existir a diferença.
Dias antes, em 21 de fevereiro de 2014, os vencedores, depois de assinar, com a mediação da RFA, França e Polónia, um acordo de trégua com Yanukovitch, “calcaram” esse documento a que temos chamado atenção dos nossos parceiros estrangeiros que, verdade seja dita, se encontravam detrás do golpe.
Entretanto, se fosse implementado, o acordo em causa teria aberto perspectivas de regularização pacífica e de saída da crise. Em vez de buscar soluções de compromisso e formar governo de concórdia nacional (o qual era mencionado no decurso das conversações com os parceiros estrangeiros), os chamados “oposicionistas” optaram pela via da confrontação e da violência. Por que eu digo “assim chamados” opositores? Porque depois de tomarem conta do poder, tornou-se claro quem os financiava. Parece ninguém ter escondido isso, alguns até se orgulhavam pelo facto de poderem revelar os nomes dos países que os levaram ao poder. Não é uma oposição interna. São as pessoas cuja atividade era paga, depois de terem sido contratados e encarregados de fazer um golpe de estado num país soberano. Convém notar que tudo isso aconteceu com a aprovação silenciosa dos países europeus que, a priori, deviam assegurar o cumprimento do acordo com as autoridades mas nem sequer se deram ao luxo de conter os ânimos de elementos “revolucionários”. Enfim, para que era preciso fazê-lo? Eles executaram a missão incumbida, tendo recebido o dinheiro. Na sequência disso, os esforços “pacíficos” do Ocidente, por mais bem anunciados que fossem, vieram causar efeitos graves. São bem conhecidos.
As avaliações mais pormenorizadas a esse respeito serão tornadas públicas no site oficial do MNE da Rússia.
Quanto ao discurso da Representante Oficial da Grã-Bretanha na ONU, Karen Pierce, sobre a prestação da ajuda humanitária russa à região de Donbass
Não escaparam à nossa atenção fragmentos do discurso da porta-voz da Grã-Bretanha na ONU, Karen Pierce, proferido por ela na recente sessão do CS sobre a Ucrânia. Afirmou que a Rússia “nada fazia para garantir a segurança da ajuda humanitária que se enviava para a população de Donbass carente de alimentos”. Uma vez mais, a representante britânica, na sala de reuniões do CS da ONU, ciente de estar a falar em direto e ser ouvida no mundo inteiro, anunciou que “a Rússia não teria feito nada para provir o envio da assistência humanitária para a população de Donbass”. Diante disso, o caso de Sripal nem merece ser evocado. Já que se propagam mentiras mesmo nessa questão em que, ao que parece, não se pode enganar as pessoas por existirem não somente factos, mas dezenas e centenas de horas de vídeos a mostrar que a Rússia não só envia a ajuda humanitária, mas também a recolhe. Posso dizer, como uma habitante de Moscovo. Penso vocês terem visto isso. A propósito, enquanto visitava outras cidades russas, também reparei nisso. Em Moscovo, ao longo de anos, em toda a parte, se montaram tendas para angariar a ajuda humanitária. Não só o dinheiro, mas também a roupa, brinquedos, livros e toda uma espécie de utensílios. No Conselho de Segurança da ONU, a representante da Grã-Bretanha, exorta a que seja assegurado bem o fornecimento da ajuda humanitária, lançando acusações de não estarmos a fazer nada nesse sentido.
Mais ainda, ela exige que a Rússia “cesse o envio de comboios com ajuda humanitária inesperados”. Parece um quadro de pintura surrealista.
Para dizer verdade, custa crer. Mas tal foi o discurso proferido pela porta-voz do Reino Unido em que, pelos vistos, estão a acontecer coisas estranhas. Queria recordar isso aos colegas britânicos e aos cidadãos britânicos. Pode ser que deste modo possamos levar ao seu as palavras dos seus representantes oficiais na sala de reuniões da ONU.
Gostaria de assinalar que a Rússia foi o primeiro país a prestar a assistência humanitária à população de Donbass. Era altura em que as tropas ucranianas desencadearam as ações militares. Claro que se lêssemos a imprensa britânica, por exemplo, o “Guardian”, dir-se-ia que se trate não da ajuda humanitária, mas de envio de tanques e armas estacionados e camuflados em camiões de cor branca. Lembro-me dessas publicações todas. Lembro-me de como nas redes sociais se postavam informações alarmantes sobre a necessidade de parar o envio de carros de combate que se alegam cargas com a ajuda humanitária.
Lembro-me de fotografias de camiões brancos supostamente repletos de tanques. Mas na verdade os veículos eram usados para transportar a ajuda humanitária que era devidamente verificada. Só depois disso, dos automóveis eram tiradas coisas a que se dá nome de ajuda humanitária – a roupa, utensílios domésticos, medicamentos, etc.
Desde o mês de agosto de 2014, o Ministério das Situações de Emergência enviou para Donbass mais de 85 mil toneladas de cargas humanitárias diversas. Repito que se trata de produtos alimentares, remédios, brinquedos para crianças, objetos de higiene pessoal. A informação acerca disso está disponível. Em determinada etapa, falávamos nisso a cada semana, tendo divulgado materiais nas redes sociais com as respetivas fotos. As pessoas passavam dias inteiros na rua recolhendo aqui e acolá a ajuda humanitária. Podem contar informações ao alcance das ONG, irão vos contar tudo. Todavia, parece que Londres não quer tomar conhecimento desta informação, tendo um desejo contrário de deturpá-la.
No que toca ao apelo lançado à Rússia pela Karen Pierce, gostaria de destinar o seu discurso ardente para os britânicos, os seus representantes e os demais países do Ocidente. Apelamos para persuadirem as autoridades ucranianas no sentido de levantarem o cerco económico-comercial e de comunicação do sudeste do país. O que vocês fizeram para que isso se tornasse a realidade? Como quem mantiveram negociações? Quando vocês colocaram essas questões nos seus contactos com a parte ucraniana, com o antigo “Presidente azarado”, com o atual que ainda dá esperanças? Quando é que vocês colocaram essas questões em reuniões oficiais? Não se esqueçam que as pessoas, há já muitos anos, se encontram a viver completamebnte cercadas e isoladas. Mais do que isso, estes factos estão registados em documentos oficiais internacionais que vocês próprios reconhecem.
Em conclusão queria acentuar que os esforços envidados pelo Ocidente no sentido de apelarem para o levantamento do cerco teriam, sem dúvida, facilitado a vida da população sofredora dessa região.
Quanto à representatividade do “quinteto” dos membros permanentes do CS da ONU no Secretariado das Nações Unidas
Referindo-se à ONU a propósito das falsificações que fazem os nossos amigos ocidentais, gostava de chamar a vossa atenção para a recente publicação da revista britânica “Times”. Tenho em vista um comentário redigido por Andrew Foxall contendo uma série de insinuações no contexto da ONU. Ali não faltam críticas ao nosso país. No meio dessas, o diretor de programas para a Rússia da Henry Jackson Society, com sede em Londres, acusa, sem fundamentos, o nosso país de tentativas de minar a cooperação internacional na esfera de segurança pública, aludindo a uma eventual indicação das “pessoas de confiança” para os cargos de peso nos organismos internacionais.
Gostaria de realçar que o assunto havia sido “examinado com muita atenção” nas páginas de outras edições. Mas como lidamos aqui com a renomada “Times”, quero aproveitar o ensejo para replicar em público. Note-se que não nos deparámos, de tal forma relevante, com as pretensões semelhantes misturadas com falsficações. Seria interessante saber - se tal material foi lançado - quão afastados da verdade são os autores que se permitiram publicar essa asneira.
Sem entrar em pormenores, espero que esses sejam analisados por autores de publicações futuras. Darei uma breve aula de alfabetização para o jornalista da “Times” no que concerne à representação dos membros permanentes do CS da ONU nos órgãos diversos desta organização mundial.
Recorde-se que para cargos no Secretariado da ONU podem candidatar-se cidadãos de qualquer Estado que é membro da ONU. Com isso, uma considerável parte de cargos possui quotas e, no contexto do seu preenchimento, o maior peso terá o fator de cotizações para orçamento da organização, e, como é natural, o fator populacional. Tal mecanismo deve assegurar um trabalho equilibrado da instituição internacional dada a opinião do número máximo dos seus Estados Membros. Não é a nossa invenção. É uma decisão conjunta, vigente há já muitos anos. Examinemos a situação de perto.
Vou citar agora as estimativas básicas.
Os EUA são os maiores contribuidores do orçamento da ONU e, na sequência disso, responsabilizam-se pelo terço dos cargos orgânicos de nível superior e maior no Secretariado da ONU. O número total dos americanos que trabalham nessa estrutura, sem contar agências especiais e os programas, estima-se em 2546 funcionários, cabendo aos 116 os postos dirigentes.
A segunda posição tangente a cotizações é ocupada pela China. No entanto, os cidadãos da RPC fazem-se representar de forma mais modesta: dos 572 funcionários chineses apenas 21 ocupam cargos de escalão superior.
Agora falemos dos russos. Eles ocupam, ao todo, 565 postos de categorias diversas, porém no Secretariado da ONU cabem-lhes somente 19 cargos dirigentes.
Enquanto isso, aos britânicos inquietados com a excessiva presença russa na ONU cabem 846 assentos, 53 dos quais pertencem à categoria de dirigentes.
Deste modo, com base em classificação geral da ONU e não em invencionices de um perito, a Rússia, a par dos EUA e da China, é um país com a falta de representatividade na ONU. O que isto significa? Estes países não preenchem em pleno as respetivas cotas orgânicas. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha, bem como a França, pertencem à categoria de países superrepresentados. Ao Reino Unido cabem 114 posições, funanciadas do orçamento da ONU, se bem que os subditos britânicos tenham superado esse limite, tendo enviado para lá 126 respresentantes. Por nossa vez, não podemos deixar de expressar a preocupação com a superrepresentatividade, visto que isso evidencia o financiamento factual do trabalho de cidadãos de uns países à custa dos meios destinados por outros Estados.
Por isso, há uma ligação ao orçamento e à cotização a cargo desses países.
Em geral, na política da ONU relativa ao trabalho do pessoal, assiste-se a um desvio pró-ocidental. Hoje em dia, no Secretariado, os 59 dos 156 cargos de nível superior são ocupados por representantes dos países do Ocidente que, por vezes, têm advogado dos interesses conjunturais. Antigamente dizíamos “os interesses nacionais”, mas agora estamos a alterar e a “encolher” esta noção por não podermos falar dos interesses nacionais reais quando nos referimos a certos países já que esses ainda não souberam definir bem este conceito ou se afastaram da sua compreensão.
Estão a realizar os interesses políticos da direção atual que se podem distinguir, de forma cardeal, dos interesses nacionais declarados há três ou cinco anos.
A coligação que se formou utiliza, amiúde, as abordagens discriminatórias, com o objetivo de não admitir candidatos dos países menos representados para essas posições por via de concurso. Além disso, os EUA, aproveitando-se do papel de um país anfitrião da ONU, ao seu critério, podem não conceder vistos a delegações estrangeiras, inclusive à delegação russa, o que viola, de forma grosseira, a Carta da ONU e o Convénio de Localização dos Serviços Centrais da ONU.
Não é de estranhar que numa situação vantajosa para eles, as potências ocidentais temam quaisquer alterações na correlação de forças, recorrendo a métodos desleais de promoção dos seus interesses, esquecendo que a principal tarefa de qualquer instituição internacional consiste em formar uma agenda que una as nações e não as divida como se fossem concorrentes.
Quanto à atual situação em torno do cidadão russo Aleksandr Vinnik.
Dado o grande número de perguntas e a repercussão deste caso, continuamos a comentá-lo publicamente.
No dia 17 de fevereiro, o tribunal francês rejeitou o pedido da defesa para alterar a medida de coação de prisão preventiva aplicada a Aleksandr Vinnik para prisão domiciliária. Ao mesmo tempo, a maneira como o processo é movido é de estranhar: os advogados não têm a possibilidade de contatar confidencialmente com o seu cliente. Mais do que isso, o juiz interrompeu a intervenção de Aleksandr Vinnik por tê-la achado desinteressante.
Os advogados e familiares de Aleksandr Vinnik partilharam as suas impressões sobre como funciona este “tribunal, o mais humano do mundo", durante a conferência de imprensa em Paris, no dia 18 de fevereiro. Aconselho-os a consultarem os materiais desta conferência de imprensa.
A Embaixada da Rússia em Paris está em contato permanente Aleksandr Vinnik e os seus representantes, prestando-lhe toda a assistência consular necessária.
Quanto às tentativas do jornal “Le Monde” de protelar a publicação de um desmentido da notícia falsa sobre o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
No dia 6 de fevereiro, a Embaixada da Rússia em Paris fez chegar ao diretor do jornal “Le Monde” Jerome Fenoglio uma mensagem do Departamento de Divulgação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia. A carta desmente a notícia falsa sobre o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia publicada pelo jornal. Encorajados pela França, que declarou uma "cruzada" contra "fake news” e a falsificação de informações, estamos a monitorizar a situação com muita atenção. Estamos muito atentos a tudo o que acontece nos fóruns promovidos pelas autoridades francesas, a todas as declarações do Presidente da França, Emmanuel Macron, em que ele exorta todo o mundo a fazer frente às fake news. Foi por isso que enviamos a Paris os respectivos materiais assim que vimos aquela notícia falsa no “Le Monde”. Hoje, completam-se duas semanas. Como nos disseram, o diretor do jornal ainda não teve tempo para tratar deste assunto. Portanto, durante duas semanas, os leitores do “Le Monde” encontram-se induzidos em erro por causa da publicação de uma notícia falsa. Solicitamos fortemente ao diretor Jerome Fenoglio que reserve tempo ler a nossa mensagem, para nos dar o direito de responder e pôr fim aos sofrimentos dos leitores franceses causados pela divulgação das fake news.
Prometo que iremos monitorizar como o “Le Monde” reagirá ao nosso pedido de publicar informações fidedignas.
Quanto à recusa da Noruega em realizar consultas bilaterais sobre o arquipélago de Spitsbergen
No dia 12 de fevereiro, a parte russa recebeu a resposta da Ministra dos Negócios Estrangeiros da Noruega, Ine Eriksen Søreide, à mensagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, alusiva aos 100 anos do Tratado de Spitsbergen de 1920.
Infelizmente, a proposta russa de realizar consultas bilaterais para discutir questões problemáticas das atividades económicas e científicas russas no arquipélago não foi vista com bons olhos. De modo geral, algumas afirmações contidas na mensagem da parte norueguesa, assim como as recentes declarações de personalidades oficiais norueguesas por ocasião dos 100 anos do Tratado divergem fundamentalmente da nossa interpretação deste documento. Não devemos esquecer que Spitsbergen, que, até 1920, era qualificado como "terra de ninguém", foi colocado sob a soberania norueguesa sob certas condições. Porém, nos últimos anos, o governo de Oslo tem, de fato, violado as disposições do Tratado que especificam os compromissos noruegueses a este respeito.
Não podemos aceitar esta posição. Como temos afirmado repetidamente, não se trata de discutir a soberania sobre Spitsbergen (a propósito, encontrei tais ideias em muitos materiais), mas de identificar vias da resolução das dificuldades concretas enfrentadas pelos operadores russos no arquipélago. Devido à posição não construtiva do lado norueguês, o número destes problemas cresce e as dificuldades aumentam.
A política do governo de Oslo para limitar a presença russa no arquipélago de Spitsbergen ensombra as relações bilaterais. Não compreendemos a relutância persistente das autoridades norueguesas em procurar formas construtivas para acabar com esta situação negativa. Esta política não pode contribuir positivamente para a nossa cooperação bilateral.
Jornalista: Ontem, foram anunciadas novas sanções contra a Rússia, nomeadamente contra uma sucursal da Rosneft, a pretexto de a Rússia estar a cooperar com a Venezuela. É possível que o Conselho de Segurança da ONU considere a aplicação de medidas legais contra países que impõem sanções ilegais, especialmente a países como a Venezuela, Cuba, Irão e Síria?
Porta-voz: Gostaria de chamar a sua atenção para o comentário publicado no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia. A publicação diz respeito aos referidos passos antirrussos dos Estados Unidos contra uma das sucursais da Rosneft. O senhor sabe a nossa posição sobre sanções, não a escondemos. Temos sempre enfatizado que a Rússia é terminantemente contra medidas restritivas unilaterais usadas pelos EUA, empenhados em conseguir a hegemonia global, para subjugar o mundo à sua vontade em contravenção ao direito internacional e às suas obrigações. Estas sanções não afetaram nem poderão afetar a política russa no cenário internacional nem a interação da Rússia com as autoridades legítimas da Venezuela, Síria, Irão ou qualquer outro país que possa tornar-se alvo de restrições unilaterais semelhantes.
Não é raro que os EUA utilizem os seus recursos administrativos não só para perseguir os seus "objetivos geopolíticos" como também para proporcionar vantagens às empresas norte-americanas que não resistem à concorrência leal por parte de outras empresas, em particular russas, nos mercados mundiais. Acreditamos que estes passos podem ser qualificados precisamente deste modo.
A política de sanções destrutiva dos EUA mina cada vez mais a liberdade do comércio mundial, defendida outrora pelos EUA. Por um lado, os EUA dizem-se favoráveis a este princípio, na prática, porém, fazem o contrário, conduzindo uma política contrária às suas afirmações e criando tensões internacionais ainda maiores.
Também temos afirmado repetidamente que é tempo de Washington perceber que a pressão económica e militar sobre a Rússia não dará nenhum resultado, é autoengano esperar que ter esperança nisso. O único resultado que eles podem obter é agravar ainda mais as relações bilaterais.
Quanto à sua proposta de usar os mecanismos da ONU, já os estamos a utilizar. Refiro-me à discussão destas questões nas respectivas comissões da ONU, na sua Assembleia Geral da ONU e durante os nossos contatos com os dirigentes do Secretariado da ONU. Naturalmente, vou consultar os nossos especialistas para ver se existe algum órgão especializado da ONU que também possa ser utilizado.
Jornalista: Hoje entra em vigor a proibição temporária de entrada na Rússia de cidadãos da China. Há planos de aplicar restrições semelhantes em relação a cidadãos de outros países, do Japão, por exemplo, onde a situação do coronavírus, como a senhora já mencionou, se agravou bastante?
Porta-voz: Gostaria de salientar que todas as providências, inclusive aquelas no cenário internacional, tomadas pela Rússia para evitar a disseminação da epidemia não têm conotação política. Este é um aspecto muito importante, espero que o mencione nos seus materiais. As medidas russas não têm conotação política e só têm a ver com as questões da segurança e da medicina e são consequência das avaliações dos nossos peritos que integram um grupo de combate ao coronavírus criado sob os auspícios do Governo russo. Posso dizer uma coisa: a situação é analisada todos os dias, a informação vem de diferentes fontes e é estudada por especialistas do ponto de vista da medicina e segurança e não do ponto de vista político. Politicamente, apoiamos sem reservas os países atingidos, sobretudo a China que desencadeou uma luta sem precedentes contra esta epidemia. Dissemos isso muitas vezes a todos os níveis. As nossas decisões têm por base os princípios que já mencionei. Assim que recebamos a respectiva informação, serão tomaremos medidas necessárias.
Este assunto não faz parte da competência do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Estas decisões não são tomadas por um departamento isolado e muito menos por um departamento político. São tomadas com base nos resultados do trabalho do grupo de combate ao coronavírus que íntegra representantes de diversas estruturas. A prioridade é dada aos representantes das autoridades competentes do setor de saúde.
Jornalista: O Irão está a cumprir todas as suas obrigações no âmbito do Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA). A AIEA confirma isso. Os países europeus, em particular a Alemanha, a França e o Reino Unido, atuam como vassalos dos Estados Unidos, embora tentem fazer crer que são players autónomos. A senhora vê mudanças positivas ou negativas na posição dos países ocidentais sobre esta questão?
Porta-voz: Em algumas questões a lógica vassala realmente prevalece, mas, neste contexto, não posso concordar com o senhor porque os países que mencionou “não se renderam” durante longo tempo, tentando seguir uma política independente. Devemos compreendê-lo. Quando os EUA se recusaram a cumprir os acordos alcançados, não posso dizer "retiraram-se” porque a “retirada” pressupõe o uso de um determinado mecanismo, ou seja, deixaram de reconhecer o JCPOA, todos os outros participantes sublinharam a sua fidelidade a este documento.
Também não podemos deixar passar despercebido o facto de ter sido feita uma tentativa de criar os seus próprios mecanismos de implementação destes acordos alheios a este documento. Era necessário criar uma estrutura financeira que garantisse a realização dos respectivos desembolsos.
Cabe-lhe a si avaliar as atividades destes países. Da minha parte, posso dizer que, provavelmente, os seus esforços poderiam ter sido mais intensos, a julgar pelas suas atividades desenvolvidas em outras áreas onde isso não é necessário. Para mim, é óbvio que, até recentemente, eles tentaram conduzir a sua própria política e, se não conseguiram total autonomia, pelo menos tiveram a sua própria voz neste assunto. Claro, é muito difícil resistir à pressão dos EUA. A decisão de se recusar à ideia de ter a sua própria voz nesta questão não foi tomada num instante. O processo de abandono da sua autonomia nos assuntos internacionais foi gradual.
Eu não posso falar por eles. Só posso dar a nossa avaliação das suas ações. Eles foram bastante ativos na tentativa de preservar estes acordos. Prova disso foram as suas declarações públicas e nas reuniões especializadas. Todavia, os EUA continuam a pressioná-los e eles não têm imunidade para seguir uma política autónoma em questões concretas. Porque eles não a têm? Porque assim que um país começa a abdicar da sua política independente, favorável aos seus interesses nacionais, nos assuntos internacionais, fica com dificuldades em defender a sua posição autónoma em questões concretas. É melhor endereçar a sua pergunta a estes países.
Jornalista: O mecanismo Instex foi criado há mais de um ano, mas até agora não nenhum negócio foi feito. Podemos dizer que este mecanismo não existe?
Porta-voz: Não tenho informações de que este mecanismo deixou de funcionar.
Jornalista: Dentro de alguns dias, o Presidente dos EUA, Donald Trump, pretende visitar a Índia. Como a Rússia encara estes planos do Presidente norte-americano?
Porta-voz: A visita do líder de um país soberano a outro país soberano é uma questão das suas relações bilaterais. Entendemos que cada país soberano tem o direito de desenvolver as suas relações bilaterais, implementar a sua política externa e os seus planos internacionais, contanto que estes não sejam contrários ao direito internacional e não representem ameaça.
Neste caso, qualificamo-lo como possibilidade de os dois países soberanos levarem à prática as suas relações bilaterais. Parece-me que, se há algo a comentar é o resultado da visita, se for necessária. Seguiremos esta visita, aguardaremos o seu resultado e, se os resultados desta visita forem relevantes para a agenda regional ou internacional, certamente comentá-los-emos.
Respeitamos o direito de cada país soberano de seguir a sua própria política externa e comunicar-se com outros países independentes no âmbito do direito internacional.
Jornalista: A senhora tem algum comentário sobre o acordo de paz entre o Talibã e os EUA? O que a senhora acha que vai acontecer quando os EUA e os seus aliados deixarem esta região?
Porta-voz: Não há nenhum resultado, nem mesmo preliminar, dos contatos do Talibã com representantes norte-americanos.
Pode crer, não tenho informações sobre a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão que lhe sejam desconhecidas.
Estou a operar os fatos universalmente conhecidos, decorrentes das declarações anteriores do governo norte-americano sobre a retirada de tropas. Não podemos confiar nas suas declarações quando anunciam a sua intenção de retirar tropas. Isso não tem sentido. Como mostra a prática, todas as suas declarações anteriores sobre a retirada de tropas sofreram, mais cedo ou mais tarde, alterações quanto à quantidade das tropas a ser retiradas ou à data da retirada ou à intenção dos EUA de retirar as suas tropas. Portanto, não faz sentido comentar as declarações. Os EUA têm uma tradição nacional de mudar constantemente as suas declarações. Portanto, será necessário ver quais resultados terão os acordos se estes vierem a ser alcançados e depois fazer conclusões.
Jornalista: Hoje, um ativista do movimento de libertação nacional, que defende a soberania do país, manifestou-se perto do edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, empunhando um cartaz que exortava a estabelecer a prioridade da Constituição do país sobre as decisões dos organismos internacionais. Trata-se da emenda ao artigo 79 da Constituição proposta pelo Presidente russo, Vladimir Putin, segundo a qual as decisões dos organismos internacionais, tomadas ao abrigo dos acordos internacionais da Rússia, e a sua interpretação contrária à Constituição não serão cumpridas no nosso país. A senhora acha que esta norma ajudará o Ministério dos Negócios Estrangeiros a defender melhor os interesses do país, dos seus cidadãos e dos seus bens no estrangeiro?
Porta-voz: No nosso trabalho norteamo-nos pela legislação russa, em primeiro lugar, pela Constituição do país, por todo o quadro jurídico-institucional daí decorrente e os acordos internacionais. Nenhuma delegação ou representante do país assumirá a responsabilidade de concluir um acordo que vá contra a legislação russa.
Nos anos 90, tais tentativas tiveram lugar, mas depois tudo voltou ao seu lugar. Os interesses nacionais baseados na legislação nacional, principalmente a Constituição, tornaram-se realmente "estrela-guia" para as nossas atividades, inclusive aquelas no cenário internacional. A nossa história teve esta experiência trise. Hoje, quanto mais memórias e documentos se tornam de domínio público, mais coisas interessantes se tornam do nosso conhecimento. Mais uma vez, assim que aprovamos o Conceito de Política Externa e priorizamos os nossos interesses nacionais, não assistimos mais a estes problemas. As decisões são tomadas em estrita conformidade com a nossa Constituição e a nossa legislação.
Quanto às emendas que estão a ser elaboradas, este é um processo que envolve especialistas no direito internacional, entre outros. Gostaria que prestassem atenção ao comentário feito a este respeito pelo Ministro Serguei Lavrov.
Jornalista: Na mais recente reunião, o Ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Toshimitsu Motegi, convidou o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, para uma visita ao Japão. Quando esta visita pode acontecer?
Porta-voz: Ainda não posso dizer nada de concreto sobre a agenda do Ministro nem se esta inclui esta visita. Assim que souber disso, irei informa-los.
Jornalista: Como o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo encara o apoio dos EUA à Iniciativa dos Três Mares? A senhora não acha que se trata de uma tentativa de criar uma aliança anti-russa nos países do Leste Europeu?
Porta-voz: Vou-me informar disso.
Jornalista: A julgar pelas declarações do lado turco, as negociações entre a Rússia e a Turquia mantidas em Moscovo e Ancara não foram satisfatórias. O Presidente turco, Recep Erdogan, fez um ultimato à Síria para deixar todos os territórios ocupados recentemente em um prazo de 10 dias. Anteriormente, uma declaração semelhante fora endereçada à Rússia. Prevê-se mais uma visita russa a Ancara?
Porta-voz: Estamos todos os dias em contato com os nossos parceiros turcos. Os contatos estão a ser mantidos permanentemente entre as duas diplomacias e entre os dois Ministérios da Defesa. Como sabem, há a Embaixada da Rússia na Turquia e a Embaixada da Turquia na Rússia, os contatos são mantidos tanto in loco entre peritos militares como ao telefone entre os chefes das diplomacias dos dois países. Há também um espaço público em que os dois lados analisam as declarações da outra parte. A possibilidade da troca de visitas é considerada na medida do necessário. Falaremos sobre isto à medida que as datas forem marcadas. Parece-me que isto tem importância secundária, dado o fato de os contatos entre os dois lados estarem a ser mantidos ininterruptamente.
Quando a situação in loco se agrava, preferimos agir pela via diplomática. Não obstante, toda uma série de países considera possível fazer declarações de toda a espécie. Na nossa opinião, nestas situações é preciso pôr em ação os canais especializados disponíveis, o seu potencial é enorme.
Quanto às declarações sobre o que as autoridades ou forças sírias devem fazer no seu território, não devemos esquecer que se trata de um país soberano. As forças armadas sírias estão no seu território, este é um princípio fundamental. O exército sírio colabora com militares da Rússia e de outros países, mas a comunidade internacional não deve esquecer-se do princípio básico que mencionei. Existem canais especializados para tais declarações e eles são mais eficazes.
Jornalista: O Tribunal de Apelação de Haia determinou que a Rússia pague 50 mil milhões de dólares aos ex-acionistas da Yukos. Não devemos tomar providências políticas para evitar o eventual arresto de bens russos no estrangeiro?
Porta-voz: "Tomamos providências políticas” há muito tempo, e não só no que se refere a esta questão. Como se sabe, a Rússia tem repetidamente declarado que o Tribunal Internacional de Arbitragem não tinha jurisdição para julgar a disputa e que a sua decisão em si não passa de uma ata politicamente condicionada lavrada ao arrepio dos procedimentos legais. Como já foi dito, a Rússia continuará a lutar para conseguir a anulação desta decisão junto do Supremo Tribunal da Holanda. Há advogados que lidam com esta questão na prática.
Jornalista: A minha pergunta é sobre a agência “Sputnik-Estónia”. Em uma conferência de imprensa em dezembro último, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Rússia não tomará medidas destinadas a “separar” os nossos povos. Passados dois meses, eu não acho que a questão da "Sputnik" tenha sido resolvida. Para mim, a “Sputnik” e a Rússia devem encarar esta situação como agravada. Neste contexto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo tem a intenção de exercer o seu direito e tomar em relação aos jornalistas estonianos medidas semelhantes às que a Estónia tomou em relação à "Sputnik"?
Porta-voz: Em primeiro lugar, não tomaremos medidas semelhantes, tomaremos outras medidas.
Em segundo lugar, a política seguida pela Estónia nesta área é uma política de total discriminação, violação de todas as obrigações assumidas. Já falamos disso e continuaremos a declará-lo em fóruns internacionais, comentando as respectivas ações. Eu gostaria de dizer outra coisa. A política seguida pela Estónia, Ucrânia e vários outros países cria um conjunto de provas, muito importante, que mostra que estes países estão a perseguir os objetivos políticos e a executar uma encomenda política. Cada caso, cada ação deve ter uma explicação. Quando os veículos de comunicação social se tronam alvo de perseguições, a primeira pergunta que surge é: qual foi o motivo? Terá sido a divulgação de fake news, atividade subversiva, conduta contrária ao status de jornalista ou correspondente, violação da legislação, do regime migratório ou do regime de vistos? Nada do que foi acima citado serviu de causa para a perseguição neste caso. Mas alguns países empreenderam ações simétricas. Não é difícil analisá-lo. Portanto, as provas existentes mostram que estes países estão a executar uma encomenda política. Digo “provas” porque ainda vamos precisar delas. Quanto mais eles se comportarem desta forma, mais provas criarão, provas que se virão contra eles. Vou terminar aqui a minha resposta à sua pergunta.
Jornalista: Em um dos seus tweets, a Embaixada dos EUA na Rússia chama a atenção do governo russo para os casos de perseguição aos seguidores da organização religiosa “Testemunhas de Jeová” e exorta-o a respeitar o direito constitucional das pessoas à liberdade religiosa. Como a senhora pode comentar o fato de as “Testemunhas de Jeová” serem uma organização religiosa extremista e proibida na Rússia?
Porta-voz: Não posso qualificá-lo do ponto de vista político, mas posso pedir que preste atenção ao fato de esta decisão ter um aspecto jurídico e não ter conotação política. O senhor disse que a "Embaixada norte-americana exorta a respeitar...” Antes de exortar, o requerente deve cumprir o que lhe compete.
O lado norte-americano retirou-se, há muito tempo, do campo jurídico internacional, praticando atividades incompatíveis com o status de Estado de Direito, entre as quais prisões ilegais. encarceramento de presos em celas solitárias por três meses sem acusações formais, pressão sobre os mass media, perseguição a países e povos, uso de questões de direitos humanos para fins políticos. Lembrem-se do “alvoroço” em torno da política de segurança na Conferência de Munique, uma verdadeira “marcha” desmotivada contra a China. E depois disso eles querem exigir algo?
O que é que eles podem exigir? Têm de pedir desculpas por aquilo que fizeram. Em primeiro lugar, eles devem explicar à comunidade internacional o que fizeram com as pessoas concretas: Maria Butina, Viktor But, Konstantin Yarochenko, com dezenas de outras pessoas, com países e povos inteiros. E o que dizer da campanha anti-russa! O que isso tem a ver com a lei? E aí, de repente, manifestam-se preocupados com a legalidade de algumas ações. Os EUA não têm o direito de falar disso. Eles desacreditaram-se a si próprios, não um movimento político isolado, nem uma administração concreta dos EUA, mas sim, um país como um todo. Este país retirou-se completamente do campo jurídico. Das suas agressões contra outros países soberanos que ceifaram a vida de milhões de pessoas e fizeram com que dezenas de milhões se tornassem refugiados nem falo. E eles, de repente, publicam um tweet exigindo que façamos isso ou aquilo.
Toda esta "máquina" deve ser virada para que as autoridades dos EUA cumpram as normas mais elementares do direito. Entendo que eles sempre querem (e isto faz parte da sua política) proteger todo o mundo e exigir o alcance dos altos ideias. Mas, na minha opinião, é necessário começar por fazer coisas concretas. Maria Butina passou mais de três meses em solitária (117 dias). Este caso não é tão grandioso como a defesa da civilização contra ataques de alienígenas e refere-se simplesmente à vida de uma pessoa concreta. Onde está a defesa dos direitos e liberdades? Onde está o humanismo aqui? Onde está a liberdade, inclusive a religiosa? Não vale a pena transformar os elementos da propaganda em veredictos acusatórios. Eles publicaram um tweet, responderemos hoje.
Jornalista: Como o governo chinês reagiu à decisão da Rússia de restringir a entrada de cidadãos chineses no país?
Porta-voz: Se o senhor fizer uma pesquisa na Internet, verá que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China fez um briefing, semelhante ao nosso, em que o porta-voz da diplomacia chinesa, G. Shuang, deu uma resposta. Não quero repetir o que ele disse.