Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 17 de fevereiro de 2022
Ponto da situação na crise da Ucrânia
O dia 14 de fevereiro deste ano marca o 80º aniversário da libertação de Voroshilovgrad (atualmente Lugansk) dos invasores nazis. Foi o primeiro centro regional da Ucrânia soviética que foi libertado pelo Exército Vermelho do inimigo, marcando assim o início da desocupação de todo o Donbass. Felicitamos os habitantes de Lugansk por esta data tão especial. Estamos convencidos de que as tão sofredoras Repúblicas Populares de Lugansk e de Donetsk serão em breve libertadas dos neonazis ucranianos que têm aterrorizado os seus povos desde 2014.
No mesmo dia, 14 de fevereiro deste ano, realizou-se em Bruxelas, na sede da NATO (simbolicamente), a nona reunião do Grupo de Contato para o Apoio, Defesa, à Ucrânia na Base Aérea de Ramstein. Como sempre, houve declarações grandiloquentes sobre a "vitória inevitável" de Kiev e a intenção dos ocidentais de fornecer armas e equipamento militar. Os planos de fornecer tanques pesados à Ucrânia foram confirmados. No entanto, a questão de quantos e quando as forças armadas ucranianas os receberão ficou de fora da equação. Para eles, o mais importante era apregoar aos sete ventos. O Ocidente é bom nisso. A reunião ordenou, de facto, ao regime de Vladimir Zelensky que parta para a contraofensiva na próxima primavera. Aparentemente, Bruxelas considerou que ainda restavam cidadãos ucranianos, não importava quantos nem quais. Do ponto de vista euro-atlântico, é tempo de proceder ao extermínio dos últimos cidadãos daquele país. Não foram tomadas nenhumas decisões relativas aos fornecimentos de aviões, tão almejados pelos líderes ucranianos. Hoje vou debruçar-me mais detalhadamente sobre o Conselho da NATO.
Não deixámos passar despercebidas as notícias dos meios de comunicação ocidentais (e não só) de que a Ucrânia poderia organizar, em cooperação com a Grã-Bretanha, a produção licenciada de munições e armas e de que as autoridades de Kiev estão a planear estabelecer empresas da indústria de guerra semelhantes com outros países da NATO. É evidente que os fornecimentos de armas e as hostilidades estão a ser fomentados pelo grande capital ocidental, cujo principal objetivo é lucrar com o conflito. Ninguém se preocupa com o destino do povo ucraniano. E tem sido sempre assim.
O preço desta política mercantil é a vida de pessoas inocentes. Por muito que o Ocidente tente fazer-nos crer que é alegadamente Kiev que escolhe os alvos para os ataques, é evidente que os alvos são escolhidos em coordenação com os EUA e os seus satélites da NATO (este facto foi confirmado por Victoria Nuland, a principal arquiteta da atual "felicidade" da Ucrânia), que não se importam se os "alvos" são bairros residenciais, escolas, hospitais ou jardins de infância. As ONG de bolso também são silenciosas. Raramente se permitem dizer alguma coisa, mas quando o fazem são feitos imediatamente calar pelos seus patrocinadores. Mesmo depois disso, os países da NATO tentam provar, com o ar de inocente, à comunidade internacional que não são parte no conflito. Não é claro porquê? Eles estão completamente envolvidos, desenvolvendo ao longo dos anos a atividade provocadora e orientando diretamente, nesta altura, o regime de Kiev. Existe um nexo: corrupção, dinheiro, armas, etc. Tudo está interligado. Mesmo assim, eles negam serem parte no conflito. É o cúmulo do cinismo e, mais importante, da cobardia admitir estarem implicados nos crimes cometidos pelos militares ucranianos.
A Ucrânia continua a assistir ao espetáculo intitulado "luta contra a corrupção". O novo episódio chama-se "pantomima "trabalho". Na semana passada, houve buscas nas instalações dos Departamentos Aduaneiro e Fiscal, como se os titulares de cargo que estão agora a ser denunciados tivessem sido nomeados há alguns meses. Não, eles têm ocupado tranquilamente seus cargos durante anos. Dado que os EUA estão cientes de tudo o que se passa na Ucrânia (orientam o regime Kiev a selecionar alvos), eles sabem tudo o que se passa nas estruturas internas do regime ucraniano. Então, porque é que se mantiveram calados durante todos estes anos? Porque não divulgaram os montantes de dinheiro transferidos nem os nomes dos destinatários? Porque esses personagens eram responsáveis por garantir a livre passagem dos fundos enviados pelo Ocidente para a Ucrânia. Havia um único esquema de corrupção, agora chegou a hora de se livrar do lastro, para "estimular" a população, ou seja, os ucranianos comuns que não estão no poder e não participam nas falcatruas ocidentais. Não é mais possível caçá-los nas ruas das cidades, metê-los em carros e levá-los para a guerra para morrerem e, ao mesmo tempo, continuar a encher os bolsos com o dinheiro obtido com a guerra, como foi o caso de Petro Poroshenko e como é o caso de Vladimir Zelensky que o faz em quantidades maiores. Devem ter achado necessário dinamizar o povo e dar-lhe ou um "doce" ou um "osso". É assim que eles desviam a atenção da opinião pública.
Muitos titulares de altos cargos nas estruturas centrais e regionais foram demitidos. O secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Aleksei Danilov, anunciou a campanha de "grandes expurgos" entre as forças de segurança, inclusive no Conselho de Segurança e na polícia. Noticiou-se que, num futuro próximo, haverá remodelações ministeriais. Há quem não exclua a hipótese de demissão do atual governo e do Primeiro-Ministro, Denis Shmygal. Factos de discórdia crescente na liderança militar e política da Ucrânia estão a tornar-se públicos. A equipa de "jovens reformadores" de Vladimir Zelensky está a lutar desesperadamente para ficar no poder. Outro esquema para enganar o povo.
O regime de Kiev continua a sua guerra de sanções contra a Rússia. Desde o início do ano, impôs restrições a centenas de pessoas singulares e coletivas da Rússia e endureceu as restrições impostas anteriormente, prolongando-as, a partir deste mês de fevereiro, por 50 anos. Parece-me que esta é a única forma de o regime de Kiev prolongar a sua existência: emitir ordens malucas "em papel" ou prolongar sua vigência por 50 anos. Entre os dias 5 e 12 de fevereiro, 200 empresas e instituições científicas do setor de energia nuclear russo, bem como a sua diretoria executiva e cientistas nucleares proeminentes foram incluídos nas "listas negras" ucranianas, ao todo, 198 nomes. Os assistentes do Presidente da Federação da Rússia, Iuri Ushakov e Larissa Brycheva, também estão sob as sanções ucranianas.
A 29 de janeiro, por ordem de Vladimir Zelensky, a Ucrânia impôs restrições a 182 empresas de transporte e químicas russas e bielorrussas, entre as quais as fábricas de fertilizantes. Esta é uma prova eloquente da posição real da Ucrânia em relação à implementação da "Iniciativa do Mar Negro" que prevê a retirada dos seus cereais dos portos da Região de Odessa e o acesso dos produtos agrícolas e fertilizantes russos ao mercado mundial. No entanto, o regime de Kiev achou que as restrições impostas não são suficientes e exigiu que os EUA e a UE se lhe juntassem para desferir um golpe na segurança alimentar de diferentes continentes do mundo que seja recordado por muito tempo.
As autoridades ucranianas não abandonaram as tentativas de repressão da maior Igreja canónica Ortodoxa ucraniana do país. O parlamento ucraniano está a considerar quatro projetos de lei que preveem restrições às suas atividades, alienação de propriedade e mudança de nome. A 12 de fevereiro deste ano ficou conhecido que o governo submeteu à apreciação do parlamento um projeto de lei que proíbe a Igreja Ortodoxa Ucraniana. Todos estes documentos violam de forma flagrante a Constituição do país. As normas que a maioria dos países, entres os quais europeus, subscreveram foram relegadas ao esquecimento. Não é de estranhar que a campanha contra a Igreja Ortodoxa desencadeada pelo regime de Kiev esteja a causar descontentamento em várias camadas da sociedade ucraniana. As pessoas não compreendem porque as autoridades ucranianas estão a agravar ainda mais a já difícil situação na Ucrânia. A Igreja Ortodoxa Ucraniana, um dos últimos "raios de esperança", está a ser destruída diante dos seus olhos. Isto não é cinismo? Creio que este é um dos sinais do genocídio que está agora a ser praticado na Ucrânia por intermédio das estruturas e elites da Aliança do Atlântico Norte. O povo está a exigir que Vladimir Zelensky pare de atacar a Igreja Ortodoxa. Mas quem lhe dá ouvidos? Foi para organizar o suicídio da Ucrânia que Vladimir Zelensky foi colocado à frente do país. Ele deve fazê-lo de modo a que se tenha a impressão de que foram os processos internos que levaram o seu país a este ponto. Tudo o que temos visto na Ucrânia nas últimas décadas é o resultado das atividades dos diferentes grupos do Atlântico Norte, do Estado Profundo nos EUA, do Reino Unido e dos serviços secretos destes países. As autoridades ucranianas permanecem indiferentes à voz do povo e continuam a fazer tudo para aprofundar as divisões e aumentar as tensões religiosas no país.
Ao mesmo tempo, não ouvimos que o Ocidente "democrático" e "liberal", empenhado em resguardar os direitos humanos, o pluralismo, a liberdade de expressão e de opinião, condene clara e coerente as ilegalidades crassas praticadas pelo regime de Kiev. Todos os anos, o Departamento de Estado norte-americano publica relatórios e análises sobre a forma como se observa a liberdade religiosa em diversas regiões do mundo. O Departamento de Estado dos EUA irá qualificar o que está a acontecer agora na Ucrânia em relação à Igreja Ortodoxa Ucraniana? Porquê esperar por outro relatório? Um bom motivo para publicar um comunicado de imprensa (mesmo em russo) para relatar como Washington vê as ilegalidades praticadas na Ucrânia e como pode qualificá-las. Os ocidentais, como antes, são benevolentes para com os seus "pupilos", contemplando silenciosamente como eles estão a destruir a maior confissão religiosa do país. Não se trata de uma simples confissão, mas dos crentes que se identificam como pertencentes a esta religião. Não é apenas a destruição de livros (como podemos ver, já é normal para o Ocidente), é a destruição da fé, a tentativa de "reconfigurar" a consciência, a vontade e a mentalidade do povo.
O regime ucraniano continua a lutar contra os monumentos aos heróis do Exército Vermelho. Agora chegou a hora das sepulturas. Na aldeia de Bodnarov da Região de Ivano-Frankovsk, as autoridades planeiam desmantelar o monumento ao Herói da União Soviética Aleksandr Koriakov, que morreu pela libertação da Ucrânia dos nazis aos 21 anos. O objetivo é "proteger o espaço cultural da Ucrânia", segundo afirmam as autoridades locais. Pretendem também "exumar e transladar os restos mortais para sepultá-los" no cemitério da aldeia. É normal? A "democracia" chegou a Ivano-Frankovsk. Pessoas que não são indiferentes dizem que se as coisas avançarem como avançaram até agora, restar-nos-á esperar que Vladimir Zelensky mande demolir a lápide da sepultura do seu avô. Eu não ficaria surpreendida. Ele é capaz de fazer qualquer coisa, dado o estado inadequado em que ele se encontra.
Recentemente, foi apresentado ao parlamento ucraniano um projeto de lei sobre a abolição das datas comemorativas "soviéticas". Quais delas? Vocês não acreditarão: o Dia 8 de Março, para eles esta data é "soviética". O facto de esta data, ou seja, o Dia Internacional da Mulher ter sido importada pela URSS do Ocidente "iluminado" não incomoda o regime de Kiev porque os seus representantes são pessoas incultas. Não tenho a certeza de que eles seriam "pessoas", pois os processos de desumanização observados (desde a exumação dos restos mortais dos heróis que libertaram o país do fascismo até às tentativas de reescrever a história) dificilmente podem ser considerados como uma característica da condição humana. Compreendo que alguém precisa que lhe lembrem algumas coisas, mas aparentemente não restam pessoas nas estruturas de poder ucranianas que conheçam ou, pelo menos, tenham ouvido dizer que existe uma coisa chamada história mundial.
Houve na história pessoas como Clara Zetkin e Róża Luksemburg, claro que elas foram muito soviéticas. O 8 de Março é celebrado não só na Rússia (e na antiga União Soviética), mas em todo o mundo. É o Dia Internacional da Mulher.
Que outros feriados são como osso que está preso na garganta do regime de Kiev? A solução é proibir o 1 de Maio e o Dia da Vitória para que vida melhore. É lógico, dado o que eles estão a fazer aos heróis da Grande Guerra Patriótica e da Segunda Guerra Mundial. Querem substituir estes feriados por feriados ucranianos. Por exemplo, o Dia da Mulher vai ser comemorado a 25 de fevereiro. Não adianta estranhar, eles distorcem tudo, põem as coisas de cabeça para baixo. O mês de fevereiro costumava ser um mês em que todos, inclusive os ucranianos, celebravam o Dia do Defensor da Pátria. Agora o regime ucraniano quer, em fevereiro, que só se celebrem o "Dia da Mulher Ucraniana" ou "Dia da Lesya Ukrainka". O 9 de Março será celebrado como "Dia de Shevchenko" ou "Dia de Nascimento de Taras Shevchenko", os dias 1 e 9 de Maio serão dias úteis, enquanto o 8 de Maio será denominado "Dia da Memória e Reconciliação". Do Dia da Vitória ou da Grande Guerra Patriótica ninguém fala. Penso que continuarão a fazer referências ao Dia da Vitória nos seus contactos na Europa, reservando, contudo, para o seu uso interno o "dia da memória e reconciliação". Para estar mais próximo dos seus patrões americanos e europeus, o regime de Kiev está pronto para tudo. Não lhe interessa o que precisa de destruir para isso, as cidades pacíficas do Donbass, a memória histórica do povo da Ucrânia ou os resquícios do pensamento crítico em si mesmo e no seu povo.
Tomámos nota das novas afirmações falsas do Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba. É uma obra-prima. Coisas que são raras de encontrar. Ele superou a si mesmo, dizendo que "O Império Russo foi criado pelos franceses, alemães e ucranianos, e agora temos de decidir o que fazer com ele a seguir". Gostaria de perguntar: foi exatamente nesta sequência que eles seguiram? Primeiro, os franceses, depois os alemães e depois os ucranianos? Ou isto não tem nada a ver com datas históricas? Inacreditável. Os Rurik estão presentes nesta sequência? Estão mais próximos dos franceses ou dos ucranianos? Aparentemente, cegos pela russofobia primitiva (selvagem) e pelo afã de "cancelar a Rússia", muitos em Kiev começam a ter graves surtos de esquizofrenia e megalomania. Todavia, nem mesmo esta tendência é capaz de explicar o que afirmou Dmitro Kuleba. Gostaria de o ver desenvolver mais a sua teoria (se isso se pode chamar assim).
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia é difícil de ser vencido, mas há seguidores. No outro dia, o Museu de Artes de Nova Iorque decidiu transformar os grandes pintores russos Ivan Aivazovski, Ilya Repin e Arkhip Kuindzhi em pintores ucranianos. Gostaria de recordar ao museu: não só as suas pinturas ostentam os seus nomes, eles existiram na realidade. Eles não são personagens fictícias de contos de fadas ou de lendas. Eles tiveram datas de nascimento, o sexo (naquela altura, o sexo indicava-se nos documentos), a língua para falar. Durante a sua vida eles disseram repetidamente (havia o direito de apresentar factos, direito esse que no Ocidente estão agora a tentar cancelar) que se consideravam exclusivamente russos. Tiveram em mente algo especial, dizendo isso. Ou devemos acabar com o direito (que sempre existiu) de guardar a memória e a verdade sobre as pessoas que morreram?
A questão deve ser colocada de forma mais ampla. Não é simplesmente uma questão da substituição, falsificação, erro ou politização. Estamos a observar como o maior museu do mundo está a praticar atividades anticientíficas. Existem factos comprovados por documentos que estão a ser deturpados deliberadamente pelo pessoal do museu. Fazer isto publicamente e fazer disso uma campanha propagandística é anticientífico. Pode ser que os historiadores da arte de um museu tão prestigioso dos EUA não conheçam a biografia destes três artistas russos? Ou aqueles que a conheciam foram enviados às caves do museu e amarrados para que não protestassem? Algo deu errado no museu nova-iorquino? O diretor e o pessoal que sabia lidar dos factos foi preso? O que é que se passa? Quem usurpou as funções de diretoria? Se nada disso aconteceu, então é uma simples falsificação completamente conforme a política dos ocidentais de cancelar a cultura russa, é uma fraude e sabotagem, ou seja, coisas que são da competência da justiça. O que vai acontecer a seguir? Vou-lhes dizer agora e não o tomem por uma obra de ficção. É uma cadeia lógica. A seguir, mudarão os nomes russos para os ucranianos, tal como como mudaram a sua nacionalidade. Afinal de contas, funcionou. O público norte-americano aceitou. E a seguir? Os críticos de arte americanos incultos vão mudar os nomes nas pinturas dos artistas, vão colocar, por exemplo, no lugar do nome de Rafael o nome de um artista americano para o notabilizar para os séculos vindouros ou, vice-versa, colocar o nome de um pintor desconhecido num quadro de um artista famoso ou colocar o nome de um pintor renomado numa pintura de um autor desconhecido. O processo já foi posto em marcha. Depois começarão a mudar os nomes das pinturas sem submete-las a uma análise pericial, as datas de acordo com as suas preferências. Que diferença é que isso faz? Nenhuma. Se é possível mudar a nacionalidade de um pintor sem qualquer fundamento, ao arrepio dos factos e documentos, é possível mudar tudo. Acha que eles vão ficar por aqui? Não. Com o tempo, começarão a mudar o seu sexo e a contar ao público que Ivan Aivazovski ou, por exemplo, Michelangelo não eram homens, mas transgéneros. Porque não? Já estão a fazer isso em relação a personagens históricas e icónicas descritas nos livros, reconhecidas por milhares de milhões de pessoas como "santos". Os "eruditos" britânicos começaram a afirmar que tudo o que foi descrito no Novo Testamento aconteceu a um transexual ou uma pessoa sem sexo. Em resultado, Ivan Aivazovski e Arkhip Kuindzhi e Ilia Repin acabarão por ser mulheres ou transgéneros? E daí? Não há nenhuma diferença. Elas podem proceder da mesma maneira em relação às raças. Viu uma capa ontem. Não acreditei. Acontece que os personagens de A. Dumas, os três mosqueteiros não eram caucasoides, mas representantes de raças diferentes. Tal é a visão do artista. Os ocidentais procuram colocar nas nossas cabeças esta realidade histórica, não escondendo que não se trata de tolerância, mas de falsificação dos conceitos. Esta questão deve ser dirigida àqueles que devem dar uma avaliação jurídica a tais coisas. O Ocidente conseguiu criar nazis e criminosos ucranianos, mas não conseguirá criar grandes humanistas, pensadores e artistas para o regime de Kiev. Aparentemente, tem de fazer o que tem feito melhor ultimamente: roubar sem vergonha.
O "Ocidente coletivo " está a dar sinais muito claros de que está determinado a continuar a alocar milhares de milhões para apoiar o regime neonazi de Kiev que se afoga no banho de sangue e corrupção, apesar de este grande fardo estar a pesar muito sobre os europeus comuns. Já as autoridades ucranianas, que servem os interesses das potências hegemônicas ocidentais, pretendem continuar a travar uma "guerra até ao último ucraniano" e a realizar uma campanha para cortar os laços espirituais e culturais entre as pessoas (não digo países) contra os interesses destas pessoas que, silenciosas, são forçadas a participar na mesma. Digo "silenciosas" porque é perigoso na Ucrânia dizer o que se pensa, isso passou a ser perigoso muito antes de 2022. Basta lembrar quantos ativistas dos direitos humanos, jornalistas, publicitários foram mortos. Penso que todos se lembram bem disso.
Por muito que eles tentem prejudicar a Rússia, a verdade triunfará, como já aconteceu muitas vezes na história. Cada vez mais países, figuras públicas e políticas estão a aperceber-se da falsidade das políticas ocidentais para manter o seu domínio a qualquer custo.
Sobre a declaração do Comité Coordenador da Federação da Rússia para a Resposta Humanitária sobre a próxima provocação de Kiev de acusar a Rússia de contaminação radioativa do território ucraniano
Prestámos atenção à Declaração, de 14 de fevereiro, do Comité Coordenador da Federação da Rússia para a Resposta Humanitária da Federação da Rússia. O documento afirma que as autoridades ucranianas, com o apoio dos seus supervisores ocidentais, não estão a abandonar as suas tentativas de seguir o caminho trilhado de provocações e acusações de violação da segurança nuclear na Ucrânia por parte da Rússia. O regime de Kiev planeia apresentar à comunidade mundial algumas "provas concretas" que alegadamente confirmam que a contaminação radioativa de grande parte do território ucraniano teria ocorrido como resultado de ações de militares russos na central nuclear de Chernobyl e na zona de exclusão entre fevereiro e abril de 2022. Não sei, talvez estejam a referir-se a Vladimir Zelensky, tentando explicar assim o estranho estado em que ele se encontra? O traço marcante e a base para tais falsificações são dados falsificados. As autoridades ucranianas aproveitam todas as oportunidades para espalhar a desinformação sobre ameaças nucleares alegadamente vindas da Rússia. Ao mesmo tempo, permitam-me lembrar que a principal fonte destas ameaças são eles próprios, o que é confirmado por numerosos casos de bombardeamento da central nuclear de Zaporojie pelos militares ucranianos documentalmente registados.
Sobre a prática dos EUA de pressionar os países neutros a cumprir as sanções antirrussas
Numa tentativa de causar o maior dano possível à Rússia, os EUA estão cada vez mais pressionar os países neutros a cumprir as sanções antirrussas. Já falámos sobre isto (no briefing de 1 de fevereiro de 2023) e estamos prontos a citar outro facto.
Tomámos conhecimento de que várias dezenas de navios russos foram proibidos de fazer escala nos portos do Bangladesh. Sabemos que esta medida hostil foi tomada pelas autoridades do país não por iniciativa própria, mas sob a ameaça de sanções secundárias por parte dos EUA. Este é outro exemplo da política de intimidação norte-americana.
Lamentamos que esta não seja a primeira vez que Dhaka sucumbe à pressão descarada de Washington. Ao ceder à chantagem direta, corre o risco de fazer com que o futuro das relações tradicionalmente amistosas entre a Rússia e o Bangladesh passe a depender dos caprichos de um país terceiro que persegue os seus próprios objetivos geopolíticos.
Esperamos que o governo do Bangladesh tenha forças para defender os seus interesses nacionais de forma mais assertiva.
O desenvolvimento de uma parceria mutuamente benéfica com a Rússia, que ajudou o país muitas vezes em diferentes períodos da sua história, é do interesse nacional do Bangladesh.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: O Ministro da Defesa Nacional polaco, Mariusz Blaszczak, disse que não considerava o envolvimento de mercenários polacos no conflito militar na Ucrânia como problema. Poderia comentar a sua afirmação?
Maria Zakharova: De facto, a 13 de fevereiro, numa entrevista ao canal televisivo polaco "Polsat News", o Ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczak, foi questionado sobre o número de polacos a combaterem na Ucrânia. O Ministro da Defesa evitou dar uma resposta direta e disse que "não vê isto como problema". Este é o nível da democracia. Para eles, este tipo de comportamento significa "democracia", ou seja, não dar respostas a perguntas diretas. Neste momento, no Ocidente não há contactos entre os meios de comunicação social e as autoridades.
Vou responder ao canal de televisão polaco. Varsóvia está a tentar por todos os meios esconder os factos bem conhecidos de os seus cidadãos, encorajados pelas autoridades polacas, estarem a participar nos combates na Ucrânia, ao arrepio das leis polacas. Além disso, os polacos participam há décadas no treinamento do pessoal ucraniano. Foram eles que haviam treinado aqueles que, sob o disfarce de manifestantes supostamente pacíficos, cometeram atrocidades e assassinatos, inclusive aqueles na Praça Maidan em 2014.
Tais ações de Varsóvia demonstram claramente o aventureirismo político tão característico dos polacos que resultou tantas vezes no grande problema para o seu país.
Pergunta: O artigo de investigação do jornalista americano Seymour Hersh de que os EUA haviam planeado e realizado a explosão nos Nord Streams foi praticamente ignorado pelos EUA e pelos media ocidentais durante uma semana depois de ter sido publicado. A 15 de fevereiro, Hersh publicou um post acusando os principais meios de comunicação social dos EUA e as autoridades norte-americanas de esconderem a verdade sobre a explosão nos oleodutos. Poderia comentar esta notícia?
Maria Zakharova: Já comentámos o assunto. Este é um conluio. Hoje citámos os exemplos de conluio entre a administração dos EUA, serviços secretos e os meios de comunicação social, entre os quais os média tradicionais e os digitais. Isto não é novidade. As proporções do conluio são mesmo de surpreender. Afinal de contas, trata-se de um ato terrorista à escala global. Como é sabido por todos, os atos terroristas têm sempre causado compadecimento. As pessoas costumavam mudar os seus avatares, ornar com cores de luto edifícios administrativos. Ninguém foi ferido na explosão nos North Streams. Mas se trata da destruição de infraestruturas civis. Nenhuma reação foi dada, só o silêncio, nalguns casos, confusão (refiro-me à Europa do Norte).
Os jornalistas começam a chegar ao fundo da verdade quando vêem o silêncio total das suas autoridades (como se nada tivesse acontecido). Penso que foi isto que levou os jornalistas americanos a tentar compreender o que tinha acontecido. Quando publicaram as suas suposições acompanhadas de dados, factos e materiais, acabou por ser ainda mais terrível do que era. Começaram a ser desprezados ou acusados de serem quase loucos, lunáticos, com o Departamento de Estado e a Casa Branca a reagirem com comentários trocistas nos seus briefings. A questão é outra: onde estão os factos que a própria administração dos EUA poderia ter publicado? Se o que o jornalista Seymour Hersh citou lhes parece algo que não merece a sua atenção, algo ridículo e não conforme os elevados padrões da democracia, onde estão os factos que merecem a sua atenção? Onde estão os dados que a administração dos EUA pode publicar? Não tem nada a dizer? Afirma ser gendarme do mundo, controlador, envolvido em tudo o que acontece no mundo. Eles escutam os seus aliados, conduzem operações em todo o mundo, apoderam-se de países inteiros.
O que aconteceu aos North Streams? Não têm eles nenhuma informação? Eles sabiam o que aconteceu na Grã-Bretanha e quem usou o famigerado Novichok. Disseram a todos que tinham provas. Eles sabiam o que estava a acontecer noutras regiões do mundo. Esta zona é da responsabilidade da NATO. Como é sabido, o incidente teve lugar no território controlado pelas forças da NATO. Quem "está no comando" na Aliança? Os EUA. Esta região está "recheada" de equipamento de informação, material de guerra e de instalações militares. A questão é para a administração dos EUA: o que foi que aconteceu lá? Se os resultados das investigações e as informações obtidas publicados não tiverem qualquer valor para as autoridades americanas, então elas são obrigadas a dar a sua hipótese. Estão totalmente envolvidas nisto. Eles disseram durante muitos anos que não era do seu interesse que este projeto de infraestruturas energéticas viesse a ser concretizado e que este deveria ser destruído. Agora têm de dizer qual é a sua versão e apresentar factos concretos. Eles têm-nos. Repito, toda esta região está sob o controlo do seu equipamento de vigilância. A Rússia solicitou que uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU seja realizada a 22 de fevereiro. O tema é a explosão no Nord Stream. A Rússia pretende exigir que seja elaborada uma forma para realizar a investigação do incidente, apesar de que o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, já disse, através do seu porta-voz, que "a ONU não tem autoridade para realizar tais investigações". Seria uma boa ideia fazer com que todos fiquem a saber quais são as competências e autoridade de organismos internacionais. Ultimamente, a ONU, como organismo internacional, que não tem autoridade nem a disposição especial da Carta, dedica-se justamente a investigá-lo. Este não é apenas um ato terrorista, mas um ataque às infraestruturas civis que causou enormes danos ao ambiente e colocou uma grande perturbação no sistema energético mundial. Provocou o colapso de muitas corporações, empresas. Para não falar dos custos suportados por centenas de milhões de cidadãos do continente europeu. Este ato terrorista reverberou em todo o mundo em termos económicos e ambientais (como dizem os ambientalistas). Precisamos de compreender o que se está a passar.
Pergunta: Os embaixadores da UE aprovaram a criação de um grupo de trabalho especial sobre a utilização de ativos russos congelados no interesse da Ucrânia. Serguei Lavrov descreveu isso como ilegalidade, citou os laços com os países amigos, mencionou a necessidade de fazer pagamentos em moedas nacionais e criar entidades financeiras alternativas. Que medidas pode tomar Moscovo para retaliar a UE e os países europeus individualmente se os ativos russos forem efetivamente utilizados pela UE?
Maria Zakharova: Gostaria de começar por abordar a questão-chave: qualquer restrição de acesso legal livre do Estado russo, das suas entidades jurídicas e singulares aos seus próprios bens é, em si, uma medida completamente ilegítima que viola as regras geralmente aceites do direito comercial e internacional. Os planos da UE de utilizar os ativos russos para solucionar os seus problemas políticos e económicos são vistos por nós como atentado grosseiro contra a nossa propriedade soberana. Pode ter a certeza de que isto irá causar uma resposta decisiva e adequada caso esta questão venha a ser escalada.
Não queremos que a situação evolua neste sentido e apelamos ao Ocidente para que volte a observar os princípios da democracia, da economia aberta, do mercado livre e inviolabilidade da propriedade privada, independentemente da conjuntura política e slogans políticos, e da independência do poder judicial (do que o próprio Ocidente começou a duvidar após o caos que agora aí se verifica). É com base nestes pilares da ordem mundial, da esfera financeira e económica, que as autoridades russas estão a considerar todos os mecanismos legais possíveis para voltar a ter acesso aos ativos russos no estrangeiro.
A recusa dos países hostis em cooperar com a Rússia no campo jurídico demonstrará a todos os integrantes da arquitetura financeira global que os bens soberanos dos Estados estão em dependência das visões geopolíticas conjunturais de alguns países ocidentais. A este respeito, ocorre a expressão do Antigo Testamento "hoje é você e amanhã será outra pessoa". Por isso, apelamos à comunidade internacional para encarar a arbitrariedade em curso com plena responsabilidade e para não andar às ordens dos "extortores" ocidentais.
Os exemplos de outros países mostram que todos os slogans políticos aplicados a estes ou aqueles países que passaram por histórias semelhantes e tiveram os seus bens bloqueados tendem a mudar para os opostos. Lembre-se, costumava dizer-se que, uma vez que a Venezuela tinha um governo ilegítimo, o seu dinheiro deveria ser-lhe retirado, e quando o "legítimo" Juan Guaidó (pseudo-presidente da Venezuela) estivesse no poder, então tudo lhe seria dado. Neste momento, ninguém no Ocidente quer ajudar Juan Guaidó. Ele foi abandonado à sua sorte. Em alguns anos, a tese política apresentada pelo Ocidente mudou exatamente para o oposto. As delegações ocidentais vão agora ter com Nicolás Maduro (para nós ele sempre foi Presidente legítimo) como se nada tivesse acontecido. Tudo o que dizem sobre a Rússia, acusando-a, intimidando, chantageando aqueles que querem contactar connosco, pode mudar para o oposto num instante. Lembrem-se disto. Todos irão virar as casacas e irão dizer com o mesmo ar descarado que foram mal compreendidos. Ou irão dizer que isto pertence ao passado, que não há necessidade de tocar na história e sugerir que vamos juntos rumo a um futuro radiante.
Se hoje não for dada uma resposta inequívoca e clara às ações obviamente ilegais e injustificadas dos infratores, amanhã os Estados livres e independentes que confiaram no sistema financeiro construído pelo Ocidente poderão experimentar todos os "benefícios" do seu funcionamento "imparcial". Não devem cair na escuridão medieval nem na barbárie. Este é um caminho para lado nenhum. A humanidade já o percorreu e parece tê-lo abandonado. Não devem esquecer-se dos bens estrangeiros dos países ocidentais, das suas empresas e cidadãos que se encontram no território do nosso país. Como sabemos, os países da União Europeia têm sido tradicionalmente grandes investidores na economia russa, a propósito, obtendo benefícios significativos para o desenvolvimento das suas próprias empresas e economias. Isto levou à concentração de ativos tangíveis significativos de empresas e cidadãos europeus no nosso território, o que, a propósito, excede significativamente o volume de recursos russos "congelados" no estrangeiro. Isto é para "refrescar" a memória. Procedemos sempre com base na legalidade. Damos a última oportunidade aos parceiros e "não-parceiros". Estamos prontos para tomar todas as medidas possíveis, inclusive medidas compensatórias equivalentes, para proteger a nossa propriedade nacional. Digo isto para que ninguém tenha ilusões.
Pergunta: Os laços entre a Europa e a Rússia estão agora completamente cortados. Na sua opinião, quais são as perspetivas, ou seja, quando as relações podem voltar ao normal? E o que tem de acontecer para que isso aconteça?
Maria Zakharova: Não sei. Não formos nós que as estragámos. Fizemos tudo para construir estas relações durante muitos anos numa nova base, isenta de motivos políticos e ideológicos, com base no pragmatismo, direito internacional e acordos bilaterais. Tentámos construir relações em pé de respeito mútuo, vantagem mútua, imbuídas de espírito de interdependência, coparticipação nos destinos da outra parte, convivência dos povos e comunhão dos destinos históricos dos povos em determinadas etapas históricas. Tentámos tudo o que estava ao nosso alcance. Sugerimos grandes projetos e implementámo-los apesar de todas as dificuldades. Historicamente, demonstrámos, em muitos aspetos, uma abertura e boa vontade sem precedentes. Mas não houve uma decisão política independente no Ocidente (refiro-me à Europa); não lhe foi permitido tomar a decisão soberana e acreditar que era possível construir um novo tipo de relação com a Rússia. A Europa, pressionada pelos EUA, rejeitou todas as nossas propostas. Além disso, ela própria começou a destruí-las. O que é possível fazer com que as nossas relações sejam retomadas? Não é a nós que deve dirigir esta pergunta. Não podemos andar sempre propondo a amizade, cooperação e colaboração e ter sempre as nossas propostas rejeitadas, deparando-nos sempre com as provocações sujas e acusações.
Temos com quem construir relações: BRICS, OCX, OTSC, ASEAN, o continente africano, a América Latina, o mundo árabe. Eles valorizam a boa vizinhança e o respeito mútuo. Estão prontos a usar a lei como base, a respeitar as tradições e os valores uns dos outros.