Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 29 de setembro de 2022
Ponto da situação no Donbass e na Ucrânia
No passado dia 27 de setembro, na República Popular de Donetsk, na República Popular de Lugansk e nas Regiões de Kherson e de Zaporojie foram concluídos os referendos sobre a sua incorporação na Rússia. Ficaram marcados pela elevada afluência às urnas e os seus resultados falam por si: as pessoas não querem regressar às suas vidas anteriores. Elas sofreram duras provações e fazem jus a um futuro melhor e a uma vida pacífica. Elas levantaram-se contra o terror e a longa guerra desencadeada pelo regime neonazi de Kiev contra o seu povo, primeiro no Donbass e depois nas Regiões de Zaporojie e de Kherson.
Vou salientar mais uma vez aquilo que é óbvio para todos os que se interessaram na realidade pelo desenrolar dos acontecimentos sem confiar nas "notícias" divulgadas pelos Grandes Média mundiais. As populações daqueles territórios fizeram uma escolha consciente, tendo declarado firmemente a todo mundo que desejam estar, a partir de agora, com a Rússia, e ter o seu futuro vinculado ao nosso país, que foi, é e será para elas a sua pátria histórica.
Elas deram ao regime de Kiev a oportunidade de encará-las como cidadãos da Ucrânia. No entanto, o regime de Kiev e os políticos ucranianos, que deixaram de ser independentes e delegaram os seus poderes aos seus supervisores, não a aproveitaram. Talvez as testemunhas bem alimentadas e arrogantes do totalitarismo liberal, das quais muitos fazem fila em embaixadas estrangeiras não consigam compreender isto. Para esta gente, o termo "bem-estar" significa preservar a sua pequena zona de conforto. Esta gente não compreende o que significa pensar nos outros, não sabe o que é compaixão nem o que é sacrificar-se por outros, por aqueles que pedem ajuda ou chamam em socorro. Estou a dizer isto àqueles que, durante anos, tem seguido a lógica da ditadura liberal. O espírito é mais forte do que as circunstâncias, ameaças e tentações. Estou-me a dirigir aos países ocidentais. Estamos de lados diferentes. Vocês apostaram nos parceiros de "carne e osso" enquanto nós apostámos nos parceiros de "espírito".
Gostaria de salientar que os referendos nas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e nas Regiões de Kherson e Zaporojie foram realizados (quer gostem quer não) em plena conformidade com as normas e princípios do direito internacional, não divergiram da prática internacional e foram legais. Muitos irão perguntar: onde estão estas normas? Eles estão onde estavam. No corpo fundamental do direito internacional, na Carta das Nações Unidas e em muitos outros documentos adotados pela ONU. Têm de se permitir ser objetivos e ver não só o que querem ver ou o que lhes é recomendado ver para analisar ponderadamente as realidades atuais com base nos factos históricos e direito internacional.
Kiev e o Ocidente estão bem cientes disto e a fingir que não compreendem. Não querem permitir à opinião pública dos seus países compreender e avaliar a situação do ponto de vista do direito internacional. As populações do Donbass e das regiões sul da Ucrânia exerceram o seu direito à autodeterminação. Que alguém diga que este direito não existe. Elas procederam em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com as práticas e normas que nunca antes foram negadas pelo Ocidente, e por vezes, até por ele aplicadas. No entanto, o regime de Vladimir Zelensky e os seus supervisores norte-americanos não querem aceitar a realidade existente nem ver este lado do direito internacional, contestando cinicamente a forma como os referendos foram realizados e os seus resultados, considerando-os nulos e estranhos à democracia. Lembram-se das designações dadas por Vladimir Zelensky às populações daqueles territórios? "Não-humanos", "espécimes". É por isso que a sua vontade não vale nada? Não. O regime de Kiev e o Ocidente contestam tudo, tanto a forma como o conteúdo, fazendo-se de importantes e certos. Para tanto, utilizam o conceito "sagrado" de democracia. Tudo isso seria lógico se eles próprios não o tivessem abandonado há muito tempo. Durante anos, eles violaram grosseiramente os direitos humanos em toda a parte - na Ucrânia, nos países ocidentais, nos territórios por eles ocupados. Fizeram com que o jovem Estado ucraniano se transformasse num Estado totalitário, agressivo e neonazi a que fornecem dinheiro e armas para bombardear cidades civis. Para esta gente, os referendos realizados são nulos. Esta gente só ouve a voz dos canhões, não dando a mínima importância à voz dos povos e às vidas dos habitantes das referidas regiões.
Assim que foi anunciado que a Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e as Regiões de Zaporojie e de Kherson iriam realizar referendos, o regime de Kiev intensificou os bombardeamentos numa raiva impotente.
Não aconteceu a mesma coisa em fevereiro de 2022, altura em que a Rússia reconheceu a sua soberania? Não foi assim que tudo começou? Não foi a mesma coisa que havíamos visto depois de todos os participantes terem assinado os acordos de Minsk? Movida por boa vontade, a Rússia sugeriu que as partes optassem pelo caminho da paz, da negociação e do esforço político, tendo elaborado um pacote de acordos de Minsk. O que aconteceu alguns meses mais tarde quando todos deixaram Minsk? Vimos um ricto feroz do regime de Kiev, vimos como ele começou a "cumprir" estes acordos de paz. Se lhes tivesse sido permitido, eles teriam destruído tudo no seu caminho. Isso não lhes foi permitido nem lhes será permitido.
O regime de Kiev bombardeou deliberadamente locais apinhados para minar o processo de votação. Ouçam o que dizem os habitantes destes territórios: tiveram de se deslocar por lanços curtos e rápidos para chegar aos locais de votação para não serem atingidos por balas de canhão. Isso aconteceu no século 21. As democracias desenvolvidas estavam a bombardear as pessoas que quiseram ir às urnas num referendo. Quantas instalações infraestruturais foram destruídas ao longo destes anos? Só num dia foram alvejados um gasoduto, escolas, jardins de infância, hospitais, centros de cultura e eventos, mercados da cidade de Kherson. Não o vêem, seus amantes da liberdade? Ou vão argumentar novamente dizendo que essas pessoas não são "corretas"? Ou, do ponto de vista do Ocidente, elas não são humanos? O regime de Kiev usou lançadores múltiplos de foguetes "HIMARS" fornecidos pelos EUA. Os alvos para os “HIMARS” são escolhidos após consultas com o comando militar norte-americano, cujos representantes controlam evidentemente o seu uso. O objetivo dos seus ataques terroristas é óbvio: intimidar a população, forçá-la a desistir, encurralá-la e mostrar-lhe que não há e nunca haverá justiça neste mundo onde só vale o direito do mais forte. Mas isto não é assim. Porque essa gente é do Donbass e foi temperada por duras provações. Essa gente tem o espírito forte e a liberdade no seu verdadeiro sentido. A gente do Donbass, das Regiões de Kherson e de Zaporojie não se deixou vergar. Washington demonstrou mais uma vez até que ponto perdeu o contacto com a realidade, tornando-se efetivamente parte no conflito.
Outra prova disso é a decisão tomada outro dia pelo Congresso dos EUA de disponibilizar ao regime de Kiev um novo pacote de ajuda no valor de quase 12 mil milhões de dólares. Para onde irá este dinheiro? Para a construção de escolas, hospitais, de um oleoduto, um gasoduto? Para a compra de material didático, pagamento de subsídios aos necessitados, o combate à pandemia? Não, claro que não. A maior parte será novamente gasta com a compra de armas para Kiev e irá parar nos bolsos daqueles que o disponibilizam. Em breve, o montante do apoio financeiro norte-americano ao regime de Vladimir Zelensky atingirá a soma astronómica de 26 mil milhões de dólares (desde a tomada de posse de Joe Biden, Washington gastou mais de 14 mil milhões de dólares com a ajuda militar à Ucrânia). Os EUA não têm pena do dinheiro gasto, pois esse dinheiro foi para matar "espécimes" e não seres humanos, não é lastreado em nada e é emitido nos EUA. Vemos que nenhuma quantia de dinheiro ajudará o regime de Kiev a trazer de volta sob o seu controlo pessoas que escolheram a liberdade em vez da coerção. Não imaginam o que o regime de Kiev prometeu a essa gente, antes de intimidá-la. Prometeu-lhes "maná do céu", viagens sem visto à União Europeia (o que foi recusado ao nosso país por razões desconhecidas). Haviam-nos dito há alguns anos que não conseguiam chegar a acordo sobre alguns parâmetros técnicos e encerraram o processo de negociação. Quem jurou a fidelidade ao totalitarismo liberal foi agraciado com a isenção de vistos. A gente do Donbass recebeu muitas promessas. É de surpreender ver no século XXI as pessoas escolherem a liberdade de consciência e da memória histórica, a liberdade sem a qual não pode haver futuro. Recusaram-se a viver na escravidão doce e não quiseram renegar-se a si próprios.
O regime de Kiev não deve contar com a ajuda externa nas suas tentativas de desestabilizar a situação na Rússia. Não se saiu nem se sairá bem. Saberemos defender a liberdade e a independência do nosso país. O nosso povo permanece fiel ao legado histórico dos seus antepassados, que, em tempos de duras provações, se uniram e se ergueram lado a lado para defender a sua pátria, sem se discriminar por razões étnicas, sociais ou políticas. Eles viram que eram necessários, e levantaram-se para lutar, tal como os seus descendentes fazem agora. Aconselhamos aqueles que duvidam disto a reler as páginas da história, especialmente as da Grande Guerra Patriótica. Ao reler, vejam bem de que editora será o livro para não ler uma obra publicada com a bênção do regime de Kiev ou por algum instituto norte-americano (ou, Deus vos livre, por uma instituição britânica) e recheada de falsificações e emendas conjunturais. Leiam documentos reais que relatam o heroísmo do povo soviético ao derrotar o inimigo e o nazi-fascismo. Nessa altura, nem sequer compreendiam bem o que enfrentavam. Só nós, olhando para o passado, podíamos compreender as proporções do mal que eles nos queriam fazer. Eles prometeram aos nossos antepassados (quase aquilo que se promete agora, a par das ameaças) uma vida doce, um futuro de luxo, espalhando folhetos a dizer "Ivan russo, rende-te!" e, por outro lado, mataram pessoas em câmaras de gás. Muito antes de 1941, fora decidido o que nos fazer.
Mass media ocidentais continuam a fomentar insinuação em torno da cidade de Izium
Ao comentarmos a operação militar especial na Ucrânia, temos repetidamente feito notar que o exército ucraniano e as unidades de nacionalistas ucranianos utilizam métodos totalmente inaceitáveis e contrários aos princípios e normas do direito humanitário internacional. Guiados pelas recomendações da NATO e utilizando táticas do Estado Islâmico (EI), eles criam posições de tiro e depósitos de munições em escolas, hospitais e edifícios residenciais, utilizando civis como escudos humanos e disparando contra refugiados, causando assim muitas vítimas entre a população civil. Escusado será dizer que a infraestrutura é atacada precisamente para impedir que a população civil exista e sobreviva.
Neste contexto, estranhamos que a imprensa ocidental (espero que ainda têm um pessoal mais ou menos sensato), as principais agências ocidentais continuam surdas ao facto de dezenas de pessoas morrerem diariamente no Donbass em resultado dos bombardeamentos desumanos com armas pesadas fornecidas à Ucrânia pelos EUA e os seus aliados, entre as quais os lançadores múltiplos de foguetes "HIMARS", cuja utilização, como afirma Kiev, deve ser acordada com os EUA em cada caso concreto. Porque não têm interesse por estes factos? Porque não há investigações? Eu sei. Como muitos peritos norte-americanos nos dizem, qualquer pessoa que ouse fazer esta pergunta (nem sequer fazer uma reportagem sobre isso) fica banida do espaço mediático, deixa de ser convidada para conferências de imprensa e outros eventos e fica impossibilitada de fazer entrevistas. Nas redes sociais tudo é simples: aprenderam a "cancelar" pessoas.
Basta carregar no botão para banir uma conta, um meio de comunicação social ou um jornalista. Em relação à cidade de Izium, gostaria de salientar o seguinte. Após o reagrupamento das forças aliadas na região de Kharkov, o regime de Vladimir Zelensky está a tentar de todas as formas reproduzir o cenário de Bucha (criado por eles próprios) fabricando provas de "crimes" alegadamente cometidos por militares russos e usando os mesmos métodos. Afirma-se que a polícia ucraniana teria descoberto quase 10 prisões de tortura e valas comuns. Citam-se números aterradores: cerca de 450 sepulturas. Enviámos montes de materiais sobre valas comuns acompanhados de fotografias e vídeos autênticos para as capitais dos países ocidentais aos quais os meios de comunicação social também tiveram acesso. Não houve nenhuma reação. Tratava-se das pessoas que também eram nacionais da Ucrânia e às quais Vladimir Zelensky qualificou de "não humanos e espécimes". Não quiseram saber que, durante anos, pessoas têm sido enterradas, incluindo vivas? Agora, de repente, pelos guiões de Hollywood, "aprenderam". Para evitar "falhas" semelhantes às sofridas em Bucha, o regime de Kiev decidiu exumar os restos mortais. Mesmo assim, não se sai bem. O regime de Kiev sofreu um novo revés e não é mais possível empolar esta questão. Muitas pedras tumulares têm a data de 9 de março deste ano, enquanto as forças aliadas começaram a entrar na cidade a 15 de março, tomando-a no início de abril passado. Se essas pessoas morreram de torturas e maus tratos, foi às mãos das unidades punitivas ucranianas.
Curiosamente, imediatamente após Izium ter sido tomada pelas tropas ucranianas, a 9 de setembro, os locais de enterro foram visitados por jornalistas britânicos do "The Daily Telegraph". Eles não encontraram vestígios de massacres e citaram habitantes locais como tendo dito que "não tinha havido detenções, torturas nem fuzilamentos". A 20 de setembro, o Encarregado de Direitos Humanos junto ao Parlamento ucraniano, Dmitri Lubinets, já não permitiu que o local fosse visitado por jornalistas ocidentais (nem russos. Estes últimos não têm sido admitidos, durante quase 10 anos, a nenhum evento, têm sido detidos na fronteira, têm tido as suas acreditações retiradas, têm sido expulsos de volta à Rússia, têm sido incluídos na lista do site "Mirotvorets" (Pacificador) sob o pretexto de uma "ameaça de minas". Aparentemente, não teve pena dos jornalistas do The Daily Telegraph. Parece que não teria tido pena deles se tivessem sido atingidos por uma mina explodida. Terá sido essa a sua lógica? E imediatamente a seguir, um acesso de humanismo. Outra encenação.
Sobre provocações em relação aos Nord Stream 1 e Nord Stream 2
A 27 de setembro, houve acidentes em três ramais dos gasodutos marítimos Nord Stream de uma só vez. No dia anterior, foi detetada uma fuga de gás perto da ilha de Bornholm. O buraco no tubo causou uma queda de pressão de 105 bar para 7 bar, os detalhes ainda estão por apurar. A empresa operadora Nord Stream AG descreve os danos causados como "sem precedentes". Os peritos nem sequer podem prever quanto tempo será necessário para restaurar as infraestruturas danificadas. Imediatamente, "opiniões" ("fugas", informações fornecidas por "fontes anónimas" ou por certos "funcionários europeus") começaram a aparecer nos meios de comunicação social ocidentais como se fosse por ordem de alguém. Os Grandes Média ocidentais não tardaram a acusar a Rússia, porque não quer fornecer gás. Fica-se com a sensação de que a Europa não aceita, a nível existencial, a ideia de que aqueles a quem chamam "aliados" poderiam ter estado por detrás deste incidente, provocação, sabotagem. Para a Europa, esta ideia marca o ponto de não retorno e é tão monstruosa que os europeus não podem dar-se ao luxo de fazer outras hipóteses a não ser a já surrada sobre o "fator russo”. Têm medo de alçar os olhos do que "está escrito", porque então toda a ideologia entraria em colapso num instante e a terrível verdade virá à tona. Mas chegará um dia em que terão de começar a dizer a verdade. Bruxelas terá de explicar aos seus cidadãos o que fizeram ao seu continente que partilham, aliás, connosco. Vocês não nos deixam viver em paz. Numerosos "peritos" e "cientistas políticos" dos países da UE e dos EUA começaram a pronunciar-se, apontando a "implicação russa" direta ou indireta (usando, por vezes, palavras como "sabotagem" e termos ainda mais duros). A ideia principal: a Rússia fê-lo porque não quer mais fornecer gás à UE.
Declarações semelhantes são feitas por políticos "no poder" no Ocidente. A Vice-Primeira-Ministra e Ministra da Transição Ecológica da Espanha, Teresa Ribera, disse sem rodeios que a Rússia "está por detrás desta sabotagem". Penso que a próxima vaga de "revelações" não tardará a chegar. Claro que a Ministra da Transição Ecológica sabe tudo. Está com todas as cartas na mão. Posso fazer uma pergunta? Quando é que a Rússia quis exatamente deixar de fornecer recursos energéticos à Europa? Em termos desta lógica, isto tinha de acontecer em algum momento. Alguma coisa tinha de ser um ponto de viragem. Quando decidimos que já não "queríamos" mais fornecer recursos energéticos aos nossos "parceiros ocidentais"? Foi nos anos 60, altura em que o oleoduto Drujba foi construído? Gostaria de lembrar que, nessa altura, a Guerra Fria estava a ganhar força, havia a Cortina de Ferro, muros divisórios, falta de contacto entre as pessoas e sociedades civis. Não restava nada da aliança formada durante a Segunda Guerra Mundial. Foi então que decidimos não fornecer recursos energéticos aos nossos "parceiros ocidentais"? Ou durante a Crise das Caraíbas? Quando começámos a ser rodeados por sistemas de armas da NATO. Deve ter sido naquela altura que esta ideia surgiu? Por tudo o que a NATO nos tinha feito nessa altura. Não? Ou quando a URSS entrou em colapso? Talvez quando, pela primeira vez em 2014, foram impostas sanções em grande escala contra nós? Decidimos retaliar desta maneira? Afinal, foi então que foram impostas pela primeira vez sanções ao nosso país de forma tão desenfreada e frenética. Talvez quando começámos a construir o Nord Stream 1 ou o Nord Stream 2? Construímo-los, investimos dinheiro, ajudamos e apoiamos politicamente o projeto só para deixar de fornecer os nossos recursos energéticos à Europa? Será esta a lógica?
Durante todas estas décadas, apesar da Guerra Fria, apesar dos acessos de ódio antirrusso, apesar da pressão das sanções, apesar da guerra híbrida e de outras maldades lançadas contra o nosso país - nunca ninguém, a nenhum nível, disse que não iríamos fornecer os nossos recursos energéticos aos europeus. Isto nunca aconteceu. Temos sido sempre fornecedor fiável de recursos energéticos para a Europa. E quem realmente decidiu acabar com os fornecimentos de recursos energéticos russos e a própria hipótese de tais fornecimentos aos europeus? Vou dizer-vos.
Desde o início do projeto Nord Stream 2, todos os seus participantes - tanto da Rússia como de países terceiros - foram alvo de uma pressão económica e política sem precedentes por parte de Washington. Será isto uma revelação para alguém? Alguém pode citar factos que não deixariam pedra sobre pedra do meu argumentário? Obcecados em prejudicar, custe o que custar, a construção do gasoduto e em atrasar a sua entrada em funcionamento em 2020, os EUA chegaram ao ponto de legislar sanções pela participação no projeto ou prestação de serviços aos seus participantes. As ameaças deliberadas de sanções unilaterais, criadas em torno de um projeto puramente comercial cuja construção se destinava a reforçar a segurança energética da Europa, foram uma prova convincente de que os interesses económicos europeus são estranhos a Washington. A Rússia lançou a sua própria investigação. O anúncio foi feito ontem pelas nossas autoridades competentes.
Gostaríamos de acreditar que a investigação internacional sobre o que aconteceu nos gasodutos do Mar Báltico seja objetiva. Parece que uma explicação detalhada (e não as semelhantes às que são normalmente dadas pela porta-voz da Casa Branca) por parte dos EUA sobre as declarações feitas pelo Presidente Joe Biden na conferência de imprensa de 7 de fevereiro passado seria importante para o esclarecimento das causas do incidente: "Se a Rússia invadir, quer dizer, se os seus tanques e tropas cruzarem novamente a fronteira da Ucrânia, não haverá mais o Nord Stream 2, acabaremos com ele". Chocados com esta frase, os jornalistas norte-americanos perguntaram-lhe gaguejando: Como? O Presidente dos EUA deu uma resposta clara e inequívoca: "Prometo-vos que saberemos fazê-lo".
Declarações semelhantes foram feitas, a 27 de janeiro passado, pela Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland: "Se a Rússia invadir a Ucrânia, então de uma maneira ou de outra, o Nord Stream 2 não avançará... É atualmente um pedaço de metal no fundo do oceano". Isso foi há mais de seis meses. Mas este "pedaço de metal no fundo do oceano" não lhe dava sossego. Estavam preocupados com o tema das turbinas. Não se cansavam de intimidar os consumidores europeus no intuito de obriga-los a escolher os serviços norte-americanos. Não, não se tratava de um "pedaço de metal" ou "projeto congelado". Os países da Europa estavam a fazer muito trabalho à sua volta, sabiam o quanto precisavam dele. Enquanto isso, a Federação da Rússia cumpriu sempre conscienciosamente os seus compromissos e os seus contratos. Agora os EUA declararam, pela boca do porta-voz do Pentágono, que não têm nada a ver com o incidente. Mas sabemos como eles se comportam. Lembramo-nos de como não tiveram nada a ver com um grande número de sabotagens, investidas extremistas em todo o mundo, de assassinatos e raptos. Acontece que, desta feita, o Pentágono está a retratar as declarações do seu Presidente?
Em qualquer caso, Washington deve explicar-se e confessar. Porque é que confiam esta missão ao sr. Radoslaw Sikorski. Este eurodeputado agradeceu de todo o coração aos EUA o acidente ocorrido nos gasodutos russos (agora vemos como é grande o seu coração), tendo escrito no seu Twitter: "Obrigado, EUA". Acrescentou que estas eram as suas "hipóteses de trabalho sobre quem tinha motivos e possibilidades para o fazer". Os motivos são claros. Washington tem-nos vindo a anunciar ao longo de anos por intermédio dos Democratas e Republicanos. Ambas as administrações disseram apenas uma coisa: é necessário acabar com o Nord Stream 2 como fator de cooperação energética global. Tudo deve ser feito para que este projeto não chegue a concretizar-se. É preciso encontrar formas, esquemas e métodos para garantir que este tema nunca mais volte a surgir. Que outros motivos são necessários? Agora sobre as possibilidades. O que se tem em vista? Esta área não é da responsabilidade da NATO? Os seus membros não realizaram exercícios militares nas proximidades? Os soldados norte-americanos não estavam acantonados em países próximos? Não há nada disso?
Radoslaw Sikorski (um americanófilo e, ao mesmo tempo, nacional da Polónia) disse que a Polónia estava há muito interessada em desativar os gasodutos. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e atual eurodeputado afirmou: "Estou contente ao ver que o Nord Stream que foi combatido, durante vinte anos, por todos os governos polacos, está paralisado a três quartos. É bom para a Polónia". Ao mesmo tempo, faz uma pergunta sobre os motivos. Quem os tinha?
Não podemos ignorar o facto de, em julho passado, a NATO ter realizado ali, perto da ilha de Bornholm (pertencente à Dinamarca), exercícios navais com o uso de equipamento de profundidade. Do ponto de vista da lógica dos políticos ocidentais, esta era uma possibilidade interessante. Em geral, esta região está repleta de infraestruturas militares da NATO. Não é um fator? Ou ninguém lhe dará atenção? Houve ali forças navais russas a realizar exercícios navais? Parceiros ocidentais, vejam bem, partilhem a informação que têm. Ninguém viu lá ninguém, além de vós. Andam sempre às voltas com provocações e encenações que, porém, não são nada inofensivas e passaram de intrigas à sabotagem.
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que ninguém beneficia desta situação. Aí é? Esta situação não fez bem aos europeus, à Europa Ocidental e à Europa Central, à Europa que faz a ponte entre a Europa e a Ásia, formando um "nexo" eurasiático. Este grupo de países não ganhou com isso. O mundo também não ganhou. Porque esta situação demonstrou a imundície e o menosprezo pela moral e pela lei que é típico atualmente de muitos países ocidentais. O beneficiário absoluto desta situação são os EUA. Senhor Blinken, releia as suas declarações e as dos seus Presidentes. Talvez não considere Donald Trump como seu Presidente. Releia as declarações de Joe Biden, dos seus antecessores. O senhor falou muito sobre a razão pela qual o Nord Stream deveria ser destruído, fechado, retirado da agenda e porque isso seria do interesse dos EUA. Tem dito muito ao público norte-americano porque o Nord Stream não é do interesse dos EUA. Leia novamente as suas declarações. Então vai ver quem beneficia da explosão do Nord Stream e do Nord Stream 2.
Para resumir brevemente o que os funcionários norte-americanos têm dito ao longo dos últimos anos, se o gasoduto for posto fora de funcionamento, os EUA poderão aumentar as suas exportações de gás natural liquefeito para a União Europeia. Esta não é a minha avaliação. Estes são slogans, apelos e teses que foram espalhados pelos partidos norte-americanos (tanto Republicanos como Democratas) e concretizados por funcionários ao longo dos últimos anos. Os EUA nunca fizeram segredo do facto de que o seu principal objetivo é "afastar" a Europa dos recursos energéticos russos. Agora acontece que Antony Blinken não sabe quem poderá ganhar com isso? Vocês! Até 25, 26 e 27 de setembro de 2022, Washington malogrou. As suas ameaças, chantagem, promessas, garantias não deram resultado. Talvez porque, os eurograndes da UE aprenderam a distinguir as mentiras e a separá-las da verdade. Eles não acreditaram em Washington. Decidiram concretizar este projeto apesar das provocações e da chacina provocada por Washington na região. Os EUA trataram de tudo: da reparação de turbinas, dos fornecimentos de gás à Europa. Não conseguiram congelar o projeto, retirá-lo da agenda política e económica. Depois chegaram os dias 25, 26 e 27 de setembro em que uma série de explosões danificou os ramais do gasoduto.
A Rússia solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU que deve ocorrer amanhã, sexta-feira, dia 30 de setembro, relacionada com as provocações nos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2. Vou citar um facto curioso. Pedimos que a reunião fosse convocada hoje, dia 29 de setembro. Quem pensam que se pronunciou contra? Quem precisou de mais tempo? Quem decidiu adiar a reunião? Os países da NATO com assento no Conselho. Disseram que só poderiam estar presentes a 30 de setembro. Vamos insistir em que seja realizada uma investigação honesta e objetiva.