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Resumo dos principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 15 de dezembro de 2022,

2571-15-12-2022

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

Outro discurso televisivo de Vladimir Zelensky, de 12 de dezembro, chamou a nossa atenção. E não foi pela sua novidade ou profundidade, mas pela sua natureza criminosa e falha moral e ética. Desta vez dirigiu-se aos líderes do G7 para pedir que continuem a apoiar o regime neonazi de Kiev no seu confronto com a Rússia. Pelo que já compreendemos, esta «unidade criativa" é incapaz de oferecer nada de novo. Pediu aos patrocinadores do regime de Kiev para fornecerem ajuda militar e financeira adicional e exigiu que a Rússia comece a retirar as suas tropas do "território internacionalmente reconhecido da Ucrânia" até ao Natal e que o mundo convoque uma cimeira global para implementar a "fórmula de paz" proposta por Vladimir Zelensky e totalmente divorciada da realidade. Quando as pessoas próximas do Presidente ucraniano foram contactadas para saber se Vladimir Zelensky estava bem, elas disseram que "ele está cansado". Isto pode ser visto a olho nu. Tentou disfarçar as suas iniciativas de pseudo-paz ao dizer que estava comprometido com métodos diplomáticos de solução. Isso mostra que ele está mesmo "cansado" e extenuado. Aparentemente, o regime de Kiev não pensa em pôr fim à guerra. O seu principal objetivo continua a ser vencer "no campo de batalha", para o que pede novos fornecimentos de armas. As negociações com a Rússia não estão entre os seus planos, tanto mais que são proibidos por lei. Este é o seu plano de "paz" simples.

Já o nosso país salientou repetidamente, respondendo a perguntas e dando os respetivos esclarecimentos, que não foi Moscovo, mas o regime de Kiev que interrompeu as conversações em abril de 2022. Portanto, a responsabilidade de abandonar os métodos diplomáticos de solução recai sobre o regime de Kiev e sobre o "cansado" Vladimir Zelensky. As novas realidades estão a formar um novo cenário no "terreno", pelo que, com o tempo, eles terão maiores dificuldades em conseguir uma negociação, como tem sido repetidamente afirmado pela liderança russa. Aparentemente, as pessoas lá estão realmente extenuadas, pelo que não devemos esperar delas passos adequados.

Todos estão bem cientes (embora o Ocidente esteja a tentar ignorar este facto) de que as forças armadas ucranianas utilizam métodos de guerra proibidos e que o regime de Kiev está a violar o direito humanitário internacional. As tropas ucranianas que se vêm transformando cada vez mais num exército mercenário, continuam a bombardear cidades e outros povoações na região fronteiriça russa, aumentando o número de mortos e feridos entre os civis e destruindo as infraestruturas civis, causando sofrimentos aos habitantes do Donbass, das Regiões de Kherson, Zaporojie, Belgorod, Briansk e de Kursk. Os ataques mais bárbaros são em bairros residenciais de Donetsk. Isto, a propósito, é bem conhecido da ONU (embora nem sempre falado). Estão em contacto com representantes de duas ONG humanitárias locais que permanecem na cidade. Em particular, esta informação foi divulgada num briefing em Nova Iorque, a 8 de dezembro, pelo porta-voz do Secretário-Geral da ONU, Stephane Dujarric. A única coisa que fortemente pedimos ao Secretariado da ONU é ser objetivo. Gostaríamos que dedicassem o seu dramatismo mostrado na situação de apoio ao regime de Kiev, não tanto ao apoio a Moscovo como à objetividade. É nisso que insistimos. Não deve ser uma questão de quem o Secretariado da ONU apoia. Recorde-se que a missão do Secretariado é ser objetivo na análise da situação. Dispõe dos instrumentos e mecanismos necessários para o fazer. Não compete ao Secretariado tomar a posição de ninguém.

A 12 de dezembro, sabotadores ucranianos dinamitaram pilares de uma ponte nos arredores de Melitopol. A 13 de dezembro, os ucranianos lançaram mísseis contra a cidade de Klintsi, na região de Briansk, a meia centena de quilómetros da fronteira com a Região de Chernigov, na Ucrânia. O regime de Kiev atua com a aprovação dos EUA que orientam o fogo da artilharia e dos mísseis ucranianos, fornecendo às tropas ucranianas informações obtidas via satélite. Os jornalistas norte-americanos escrevem abertamente que "o Pentágono deu luz verde ao uso de drones para atacar o território russo". Encorajados por este apoio, os políticos ucranianos já estão a anunciar a sua intenção de atacar infraestruturas críticas da Região de Moscovo. Washington, que quase se tornou parte no conflito, não poderá fazer crer que não esteja implicada nas ações de terror desencadeadas pelo regime de Kiev contra os civis russos e exonerar-se da responsabilidade pelas mortes e danos causados pelas armas norte-americanas orientadas por satélites norte-americanos. Algo semelhante teve lugar nos anos 90. Lembramo-nos bem de onde vieram as armas, o dinheiro, o apoio político, informativo, moral e psicológico aos militantes e terroristas entrincheirados no Norte do Cáucaso. Lembramo-nos bem de onde estavam os centros de decisão. Os homens infiltrados no Norte do Cáucaso e que recrutaram habitantes locais para as suas fileiras haviam sido treinados e financiados no estrangeiro. Tudo veio do estrangeiro. A história dessa terrível guerra travada pela Rússia contra o terrorismo internacional já está escrita e tem todos os factos registados. Será que os EUA querem que a história se repita? É uma pergunta que vale a pena responder. Não tiraram nenhuma conclusão do facto de o jogo travado pelo Ocidente com as mãos de outros no nosso território nacional ter terminado com a derrota total do terrorismo internacional? Os neonazis ucranianos continuam a sua prática implacável de menagem à distância de povoações russas, lançando contra elas minas antipessoal proibidas. Num comunicado de imprensa de 3 de dezembro deste ano, o Comité Internacional da Cruz Vermelha ousou finalmente referir-se publicamente às consequências das ações das forças armadas ucranianas para a população do Donbass, constatando ameaça que representam para os civis as munições não deflagradas e as bombas de fragmentação que têm sido utilizadas em abundância pelo regime de Kiev desde fevereiro último. O Ocidente não pára de fornecer armas à Ucrânia. O líder e o principal inspirador desta corrida armamentista é Washington. De acordo com várias fontes, desde fevereiro último, os EUA forneceram ao regime de Kiev armas, entre as quais unidades de artilharia pesada e lançadores múltiplos de foguetes, no valor de 21,5 mil milhões de dólares. Os EUA não pretendem ficar por aqui, para o contentamento da indústria de guerra norte-americana. Recentemente, o Pentágono atribuiu às forças armadas ucranianas mais 800 milhões de dólares para "necessidades de defesa".  A 9 de dezembro, a Casa Branca anunciou que estava a enviar à Ucrânia outro "pacote" de ajuda que contém munições para os lançadores múltiplos de foguetes HIMARS, 80 mil projéteis de artilharia, equipamento de combate a veículos aéreos não tripulados e de defesa antiaérea no valor total de 275 milhões de dólares.

É de salientar que a quantidade de munições norte-americanas gastas pelas forças armadas ucranianas surpreende até mesmo os peritos norte-americanos. Estes últimos assinalam que os ucranianos "batem recordes" neste indicador. De acordo com a Lockheed Martin Corporation, em quase 10 meses do conflito, as forças armadas ucranianas gastaram um stock de mísseis concebido para ser utilizado durante 13 anos. Evidentemente que Vladimir Zelensky não poupa a sua população. Ele não se importa com as baixas sofridas. É em público que ele declara ser "cidadão da Ucrânia" e usa, por engano, camisas tradicionais russas em vez de camisas ucranianas, realiza atos rituais em igrejas, não pertencendo, contudo, na realidade à cultura nem ao patrimônio espiritual da Ucrânia e do povo ucraniano. Compreendemos isto muito bem, dadas as ações criminosas por ele realizadas no estado de "cansaço", como dizem os círculos próximos do Presidente ucraniano. Tudo o que acontece do ponto de vista da "lógica" do regime de Kiev não é o limite. O regime de Kiev não tem pena de ninguém, a não ser daqueles que estão no comando na Rua Bankovaia. Os restantes são (em termos da lógica de Vladimir Zelensky) um material consumível.

Aparentemente, este não é um limite. A 13 de dezembro, foi anunciado que os EUA iriam fornecer à Ucrânia uma bateria de sistemas de defesa antimíssil "Patriot". Anteriormente, muitos peritos, incluindo os do outro lado do oceano, duvidaram de que esta iniciativas fosse sensata, pois provocaria uma maior escalada do conflito e aumentaria o risco de envolvimento direto do exército dos EUA nas hostilidades. Mas, como sói dizer-se: "Se é para se gastar, então que se faça com estilo!" Tanto mais que o que é para se gastar são as vidas de outras pessoas. Se analisarmos a vida do próprio Vladimir Zelensky, os seus interesses financeiros e as suas ambições estão espalhados por todo o lado. Será ele realmente o porta-voz dos anseios do povo ucraniano? Claro que não. Só "dança" para quem lhe paga. Washington continua a "torcer os braços" aos outros países da NATO, exigindo que estes contribuam mais para a militarização da Ucrânia. O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou numa reunião de ministros da NATO em Bucareste, a 30 de novembro, que o montante da ajuda militar prestada a Kiev pelos aliados e parceiros da NATO excedeu os 40 mil milhões de dólares em 10 meses. Isto é comparável ao orçamento militar da França para 2022.

A Europa está servilmente a seguir as instruções de Washington. No outro dia, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (também conhecido como "jardineiro"), Josep Borrell, anunciou que o " Fundo Europeu para a Paz", através do qual são fornecidas armas à Ucrânia, receberá mais 3,5 mil milhões de euros. O Secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a "melhor maneira de alcançar uma paz duradoura na Ucrânia é dar-lhe apoio militar". Lógico, isso faz tanto sentido. Aparentemente, o número de pessoas que morreram ali não é suficiente. Gostaríamos de lembrar que todas as armas fornecidas pelo Ocidente à Ucrânia são um alvo militar legítimo para as Forças Armadas russas e serão destruídas ou capturadas. Temos dito isso repetidamente. Não é segredo que as armas fornecidas pelos países ocidentais à Ucrânia são constantemente desviadas para o mercado negro. Na reunião de 9 de dezembro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Subsecretária-Geral para os Assuntos de Desarmamento, Izumi Nakamitsu, disse que existiam riscos de disseminação e desvio de armas fornecidas à Ucrânia no contexto do conflito.

Nos últimos meses, os países da UE começaram a falar diretamente sobre isto, registando os factos da sua entrada no seu território. Prestámos atenção à mais uma conferência dos "doadores" da Ucrânia, realizada em Paris a 13 de dezembro de 2022, onde a delegação de Kiev chefiada pelo primeiro-ministro, Denis Shmygal, voltou a pedir ajuda. Como resultado, foi anunciada a recolha de fundos e a criação de um mecanismo especial no seio da UE para prestar assistências financeira e outras à Ucrânia. Segundo a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desde 2014, a União Europeia disponibilizou mais de 90 mil milhões de euros em ajuda à Ucrânia. O resultado está à vista: o nível de democracia está fora das tabelas, e todos os problemas humanitários e económicos já estão evidentemente resolvidos. Olhem, os 90 mil milhões de euros desapareceram neste "buraco negro" chamado "regime de Kiev e as suas experiências". Gostaria de dizer, a propósito, que a opinião pública nos EUA começou a pedir a realização de uma auditoria para verificar a aplicação dos fundos alegadamente enviados ao regime de Kiev. Alguém vai auditar como foram gastos os 90 mil milhões de euros?

A ajuda ao regime de Kiev está a custar muito dinheiro aos contribuintes europeus, porque o dinheiro não é utilizado para resolver problemas, mas para os criar, o que requer ainda mais dinheiro. É um carrossel financeiro terrível e sangrento usado no esquema de ida e volta do dinheiro aos mesmos bolsos ocidentais através da Ucrânia. Como resultado, milhares de pessoas estão a morrer.

Quanto à reação dos próprios europeus, podemos ver que tudo isto provoca emoções que não são nada positivas, especialmente no meio do agravamento dos problemas socioeconómicos nos países europeus.

Apesar dos esforços envidados, todas as tentativas dos EUA, dos seus aliados da NATO e dos países da União Europeia de apoiar o regime neonazi em Kiev e prolongar ao máximo as hostilidades estão condenadas ao fracasso. É melhor que eles o compreendam mais cedo do que mais tarde. Infelizmente, nem todos compreendem depois do facto. Mas eles não poderão dizer que não os avisámos.

 

Sobre a visita do Subsecretário-Geral da ONU, Martin Griffiths, a Kherson

 

De acordo com as notícias divulgadas pela imprensa, desde 12 de dezembro deste ano, o Subsecretário-Geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, está a visitar várias regiões da Ucrânia, bem como a cidade de Kherson, devendo encerrar a sua viagem com uma visita a Kiev para relatar o que viu aos representantes do regime de Kiev. Valorizamos os esforços humanitários das organizações das Nações Unidas em diferentes regiões e países do mundo. No entanto, temos a impressão de que, neste caso particular, não se trata do nobre propósito de ajudar os necessitados, mas do desejo dos altos representantes do Secretariado da ONU de politizar os esforços humanitários e de especular sobre o sofrimento dos civis para cumprir a ordem política de Kiev.

A visita de Martin Griffiths à cidade russa de Kherson e à área metropolitana, cuja população se manifestou, em referendo, a favor da integração na Rússia, e que, portanto, foram incorporadas na Rússia, é provocatória e, portanto, inaceitável. O Secretário-Geral da ONU deve pôr fim a tais ações do seu pessoal do "bloco humanitário" e exigir que este, em vez de fazer viagens provocatórias, se dedique ao cumprimento das funções atribuídas ao Secretariado ao abrigo do Memorando Rússia-ONU, de 22 de julho deste ano, destinado a pôr fim às tentativas do Ocidente e do regime de Kiev de impedir a remoção de obstáculos à exportação de cereais e fertilizantes russos e aos fornecimentos gratuitos da Rússia aos países mais pobres de África.

 

Sobre a posição do Escritório do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos em relação aos acontecimentos na Ucrânia

 

Não podemos deixar sem resposta a atitude tendenciosa e preconcebida do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, e do seu Escritório para com os acontecimentos em torno da Ucrânia. Neste contexto, é reveladora a posição tomada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos relativamente à gravação em vídeo do fuzilamento dos prisioneiros de guerra russos pelos militares do regime de Kiev em novembro passado em Makiivka.

A autenticidade do vídeo e a sua ampla circulação na Internet, assim como a sua cobertura nos meios de comunicação ocidentais, impediram o Alto Comissário de silenciar as atrocidades perpetrados pelos nacionalistas ucranianos. Ao mesmo tempo, o responsável absteve-se de condenar veementemente as ações dos carrascos ucranianos. Podem perguntar-me: como pode isto ser? Na sua declaração, este responsável demonstrou ser mestre em malabarismo verbal, desviando deliberadamente o foco das execuções extrajudiciais realizadas pelos militares ucranianos, dizendo estar "chocado" com o "sofrimento dos ucranianos" devido aos danos causados às infraestruturas críticas da Ucrânia. Neste contexto, a sua reação ao massacre premeditado dos militares russos que depuseram as suas armas é muito mais contida. Volker Turk abordou a questão do tratamento dos prisioneiros de guerra durante a conferência de imprensa que se seguiu à sua visita à Ucrânia entre os dias 4 e 7 de dezembro. O responsável pronunciou-se, de forma neutra, sem mencionar ninguém em particular, a favor de um tratamento humano dos prisioneiros de guerra e exortou a pôr fim à perseguição aos mesmos por participarem nas hostilidades. Vemos esta posição a toda a hora. O Secretariado da ONU, os representantes do Secretário-Geral e os seus adjuntos articulam muito claramente tudo o que é necessário para o regime de Kiev: todas as coisas são chamadas pelo seu verdadeiro nome e são emocionalmente coloridas. Tudo o que é dito deve testemunhar a objetividade do Secretariado. Esta é a sua tarefa direta. No entanto, tudo se resume a uma coisa. Alegadamente, os representantes do Secretariado da ONU, os representantes do Secretário-Geral e os seus adjuntos não dispõem de informações precisas, e não é da sua competência avaliar tais ações. Dizem que os dados estão a ser recolhidos e só mais tarde poderá ser feita uma avaliação. Tudo está a ser feito para escapar à necessidade de fazer comentários diretos, declarações e avaliações diretas da situação. Isto é inaceitável. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, disse isso repetidamente ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, tanto pessoalmente como ao telefone. Enviámos-lhe mensagens através da nossa representação permanente na ONU. Os nossos materiais detalhados sobre as atrocidades cometidas pelos militares ucranianos, que são regularmente enviados ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não puderam encorajar Volker Turk a fazer uma avaliação imparcial desta tragédia. Ele dispõe de todos os materiais necessários para isso. Só precisa de mandar processá-los para expor a sua reação. Tenham a bondade de exercer as vossas funções diretas. Não podemos deixar de comentar a própria declaração de Volker Turk feita após a sua viagem à Ucrânia. O texto do comunicado de imprensa é emocionante e está cheio de frases e imagens expressivas, típico de uma "obra literária". O Alto Comissário pinta em traços largos a situação em Bucha e Izium após a retirada das tropas russas, acentuando crimes de guerra, execuções extrajudiciais, tortura, detenções arbitrárias e violência sexual como método de guerra, sem citar um único facto ou testemunho. Ao mesmo tempo, faz referência ao recém-publicado relatório antirrusso elaborado pelo seu Escritório e dedicado ao massacre de civis nas regiões de Kiev, Chernigov e Sumi da Ucrânia (já comentamos isto).

É óbvio que o estilo da declaração não foi escolhido por acaso e visa reforçar na mente da comunidade internacional a narrativa promovida pelos ocidentais no sentido de inocentar a escola de pensamento neonazi ucraniana e responsabilizar a Rússia pelo que está a acontecer na Ucrânia. Acontece que o Alto Comissário se esqueceu, para não dizer espezinhou, das suas declarações altissonantes aquando da sua tomada de posse de que estaria comprometido com os princípios da objetividade, imparcialidade e independência nas suas atividades. Se esta tendência se mantiver, a comunidade internacional acabará por perder a confiança na instituição do Alto Comissário e no seu Escritório. Isto, por sua vez, irá enfraquecer significativamente a cooperação internacional no domínio dos direitos humanos.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: No outro dia, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse que os países da UE não conseguiram chegar a acordo sobre o novo pacote de sanções antirrussas. Na sua opinião, é um sinal de que alguns países da UE estão cansados do regime de sanções imposto por Bruxelas à Rússia?

Maria Zakharova: De facto, os países da União Europeia têm cada vez mais dificuldades em explicar aos seus cidadãos as razões por que continuam com a política de restrições unilaterais. Não podem explicar nada nem dizer quem é o culpado. Não podem sair do impasse. Cada vez mais cidadãos europeus estão a sofrer com as consequências destas sanções que são ilegítimas do ponto de vista do direito internacional e destrutivas para eles, para os seus países e para os seus governos. Tudo o que a UE já fez na esperança de "destruir a economia russa" teve efeito bumerangue e causou uma alta da inflação e crises energéticas e alimentares na própria UE. A responsabilidade é toda das elites políticas dos países da UE. Ao mesmo tempo, fingem não pensar nas consequências. Eles não se preocupam com os problemas das suas populações. O mais importante para elas é fazer com que a campanha antirrussa continue. A que custo? Aparentemente, eles não têm a oportunidade de se indagar a si mesmos e cair em si. Precisam de dar ouvidos a Washington e a Londres (a famigerada "disciplina de bloco") e suprimir quaisquer vozes de bom senso que referem a nocividade desta política para os interesses da Europa. Vamos ver onde isto vai dar.

Pergunta: Numa série de entrevistas recentes aos meios de comunicação ocidentais, o Presidente francês assinalou ter desempenhado um papel importante na organização da missão da AIEA à central nuclear de Zaporojie. O que é que acha desta declaração do líder francês?

Maria Zakharova: As declarações de Emmanuel Macron são um género especial. Antes de mais nada, gostaria de me debruçar sobre a posição e os passos concretos do nosso país. Não posso revelar todos os aspetos do trabalho meticuloso realizado por diplomatas russos, todos os peritos e negociadores russos que estão diretamente envolvidos na discussão da situação em torno da central nuclear de Zaporojie. O facto é que temos repetidamente e muito explicitamente levantado perante a comunidade mundial a questão da responsabilidade do regime de Kiev e dos países ocidentais, entre os quais a França, responsáveis por lhe fornecer peças de artilharia e lançadores de mísseis, pelos constantes bombardeamentos do local da central nuclear que podem ter como consequência um desastre de origem tecnológica de dimensão planetária.  Falamos sobre isto em todos os nossos briefings.

O nosso país esclareceu ao mais alto nível, incluindo durante conversas telefónicas entre o Presidente Vladimir Putin e o Presidente francês, Emmanuel Macron, que havíamos sugerido, em junho passado, que uma missão de especialistas da AIEA visitasse a central. No entanto, no último momento, a visita foi cancelada devido a uma luta sem escrúpulos nos bastidores que pouco tinha a ver com as preocupações sobre da população.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, está ciente disso. Somos obrigados a ler todas as declarações relativas à segurança internacional. Naturalmente, notámos as suas tentativas de apresentar o papel da França e o dele na situação em torno da central de Zaporojie como muito importante. A verdade é que a França não teve nenhuma influência na organização da visita da missão da AIEA à central de Zaporojie, visita que aceitámos ainda no início do verão passado. Como costumava dizer o grande compatriota do Presidente francês Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, fingir não saber o que todos sabem é a essência da política. Quanto à declaração do líder francês sobre a sua disponibilidade para " intervir pontualmente para proteger a central nuclear ", precisa de ser clarificada porque pode haver muitas interpretações. Gostaríamos de avisar qualquer pessoa que deseje interferir na operação militar especial na Ucrânia das consequências mais graves de uma medida tão irresponsável e extremamente perigosa. Uma vez que se trata da ameaça a uma instalação nuclear, não vale a pena reiterarmos todos os perigos que uma ação improvisada destas pode implicar.

Salientámos repetidamente que discutimos os possíveis parâmetros de uma declaração sobre a criação de uma zona de segurança e salvaguardas nucleares na central nuclear de Zaporojie exclusivamente através de contatos diretos com o Secretariado da AIEA e Rafael Grossi, Diretor-Geral da Agência. Não precisamos de intermediários para isso. A França não é parte neste processo.

No contexto das entregas contínuas de armas francesas a Kiev, as declarações feitas por Paris discordam e, por vezes, vão contra as suas ações. Se os nossos colegas franceses estivessem mesmo preocupados com a segurança da central nuclear, a França, como potência nuclear responsável, deveria ter sido a primeira a apelar a Kiev, ao regime de Kiev e a Vladimir Zelensky para que parassem de bombardeá-la. Em vez disso, os franceses, aparentemente guiados por outras ideias, aproveitam todas as oportunidades para propagandear os seus pseudo esforços para normalizar a situação, demonstrando uma conduta bastante irresponsável, tendo-se em conta terríveis consequências que podem advir das atividades criminosas do regime de Kiev em torno da central nuclear de Zaporojie. Temos falado repetidamente sobre isso em todos os formatos.

Pergunta: Um alto funcionário norte-americano responsável pelos assuntos da APEC, Matt Murray, afirmou numa conferência de imprensa em Singapura que, como "bons administradores da APEC", os EUA convidariam a Rússia, que faz parte da aliança composta por 21 nações, para o fórum da APEC em 2023. A Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse, em abril passado, que a Rússia deveria ser expulsa do G20 e que os EUA boicotariam "uma série de reuniões do G20" se os funcionários russos participassem. O que pensa destas declarações dos EUA?

Maria Zakharova: Vemos muitas afirmações semelhantes. São muito contraditórias e vão contra outras declarações feitas nos EUA. Temos afirmado repetidamente que nos interessamos por ações, passos e medidas concretas. É-nos difícil orientar-nos pelas declarações do "Ocidente coletivo" e de Washington desirmanadas ou acopladas a outras coisas. Eles contradizem-se a si próprias. Mais do que isso, sabemos que os ocidentais nunca cumprem a sua palavra. Tudo é claro, a confiança foi perdida. Em quem é que devemos confiar? Só teremos em conta atos concretos.

Quanto à APEC, os eventos de lançamento da presidência norte-americana do Fórum a nível de altos funcionários, realizados entre os dias 7 e 9 de dezembro, em Honolulu, decorreram, como se costumava dizer nos velhos tempos, num ambiente construtivo e colaborativo. Todos os participantes estavam concentrados na agenda concreta do fórum. Acreditamos que é assim que os mecanismos multilaterais devem funcionar se têm como objetivo resultados práticos e não efeitos políticos.

Quanto à hipótese de expulsão da Rússia (ou outro país) de uma estrutura, em particular do G20, por razões políticas, é absurdo.

A época em que os norte-americanos que tentavam "mandar no mundo" pertence ao passado. Mesmo assim, eles continuam a "mandar", não vendo que o que mandam é a Macy's. O mundo está a tornar-se rapidamente numa estrutura verdadeiramente policêntrica com "vozes" independentes e autónomas de países fora do "perímetro ocidental".

Neste contexto, as ambições dos EUA e dos seus satélites de impor o seu ponto de vista à comunidade internacional não têm razões de ser. Os EUA não deveriam ter tentado abalar o G20 (à semelhança do que fizeram com os G8 e G7), proferindo discursos políticos, porque o G20 foi criado em resposta às suas ações que causaram o colapso da economia global em 2008. Isto não é apenas uma frase, um cliché ou um termo, são os destinos de centenas de milhões de pessoas que foram vítimas da "economia forte" norte-americana e, de facto, daquela parte da mesma que se chama "especulativa" e que é injustificada, não apoiada por nada, nem pelo setor real. A fim de tirar os EUA da crise financeira (que podia ser equiparada à Grande Depressão) e evitar que o mundo deslizasse para este abismo, foi criado o G20. Ninguém se lembra agora nem quer lembrar-se disso. Todos pensam que se tratava apenas de uma extensão do G7 e do G8. Não, não se tratou de uma expansão. Foi uma gestão de crise na época em que era necessário consolidar todos os esforços, antes de mais nada económicos e financeiros. Esta não foi uma declaração política. Todo o mundo queria dinheiro. Alguns países participaram com os seus instrumentos financeiros, outros, oferecendo oportunidades, cadeias económicas para devolver uma estabilidade económica ao mundo. Foi para isso que tudo foi criado.

Se não tivesse sido a consolidação de todas as principais economias com vista a ajudar Washington, ainda poderíamos estar "a colher os frutos" dos erros e falhas norte-americanos. Os norte-americanos não pediram desculpa a ninguém. Mas a questão não é do seu pedido de desculpa (embora isso também seja importante), mas da necessidade de obrigar os EUA a indenizar os danos causados à economia mundial em 2008. Que não se esqueçam disso quando desejarem elaborar novas "mensagens" e fazer novas "promessas".

Recorde-se que, naquela altura, os EUA e UE quase ficaram arruinados. O mundo não os repreendeu, apoiou-os, agindo em parceria, de forma amigável. Mas os norte-americanos não compreendem a linguagem normal, como agora sabemos. Agora precisam de ser realistas sobre a situação, dado que estão ligados à União Europeia, para não mergulhar de novo nas profundezas da recessão. Podem evitar usar este termo tanto quanto quiser nos briefings da Casa Branca. A tecnologia está ensaiada. Mas recessão é recessão. Podem silenciá-la, ela de qualquer maneira existe.

Antes que seja demasiado tarde, é importante aprender as lições necessárias com as sanções fúteis sobre a Rússia, mostrar a vontade política e começar a reconstruir, em particular, as cadeias globais de fornecimentos, abandonando as práticas nocivas de protecionismo e concorrência desleal. A posição da Rússia em fóruns internacionais como o G20 não depende dos caprichos dos "estrategas" de Washington. A procura de cooperação com o nosso país no cenário internacional continua a ser enorme. É especialmente sentido no G20. Apoiaremos esta abordagem construtiva da "maioria global" neste fórum e convertê-la-emos em acordos significativos com vista a um desenvolvimento sustentável, progressivo e abrangente. Chegará um dia em que Washington terá de responder à pergunta: acreditam ou não na democracia, reconhecem-na? Serão os EUA um país da democracia? Se sim, a democracia não termina dentro das fronteiras nacionais. A democracia, se Washington a reconhece, deve existir também nas relações internacionais. O que diz a maioria no Planeta Terra? Esta maioria é a favor da cooperação com o nosso país, da paz, do fim do derramamento de sangue, da solução das situações, da segurança internacional e da sua arquitetura global. Quando é que Washington vai reconhecer a vontade do povo? Quando irá aceitar o poder da maioria? Esta é a questão.

Pretendemos dar um contributo significativo para os objetivos da Presidência indiana do G20 em 2023 e uma cimeira de líderes bem-sucedida prevista para ocorrer nos dias 9 e 10 de setembro próximo em Nova Deli. Esperamos que o slogan anunciado pela Presidência indiana: "Uma Terra, Uma Família, Um Futuro" ajude o "Ocidente coletivo" a perceber adequadamente o espírito unificador deste fórum.

 


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