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Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 2 de agosto de 2023

1541-02-08-2023

Sobre a 3ª Edição do Acampamento Internacional de Jovens do BRICS

 

A região de Ulianovsk acolhe, entre os dias 1 e 6 de agosto, a 3ª Edição do Acampamento Internacional de Jovens do BRICS, cujo tema central será a esfera dos media. Hoje, na cerimónia de abertura oficial, deverá ser exibida a mensagem em vídeo do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov.

Jovens jornalistas, especialistas em tecnologias da informação e da comunicação e design gráfico dos cinco países discutirão as perspetivas de implementação de projetos conjuntos e aprenderão a trabalhar em equipa. Acreditamos que este evento contribuirá significativamente para o reforço da atmosfera de confiança e compreensão mútua entre os povos dos países do BRICS.

A participação ativa da geração mais jovem no nosso trabalho comum é uma boa prova de que a ideia e o conceito de união do BRICS, que se tornou um dos pilares da arquitetura multipolar mais justa emergente da ordem mundial, são muito atrativos.

A Federação da Rússia atribui, como sempre, especial importância ao desenvolvimento de laços multiformes entre os cinco países. Este ano, o nosso país acolherá uma série de outros eventos do “cabaz humanitário”. No próximo ano, altura em que a Rússia presidirá à associação, deverá realizar-se um grande número de reuniões, incluindo entre jovens.

 

Sobre a realização de uma série de eventos sobre segurança internacional da informação no âmbito da 2ª Cimeira Rússia-África

 

No contexto de esforços consistentes para o reforço da segurança nacional e internacional da informação, os resultados da Segunda Cimeira Rússia-África (realizada em São Petersburgo nos dias 27 e 28 de julho deste ano) tornaram-se uma base sólida para elevar as nossas relações com os Estados africanos (em geral ou com cada país individualmente) a um nível completamente novo, num espírito de respeito mútuo e em conformidade com os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas.

O facto de a Cimeira ter aprovado a Declaração Política e a Declaração Temática e o Plano de Ação do Fórum de Parceria Rússia-África para 2023-2026, atesta a disponibilidade da Rússia e dos países africanos para reforçar o diálogo político e pragmático no domínio da segurança das tecnologias da informação e da comunicação. Os documentos acima mencionados refletem um elevado nível de confiança e compreensão das tarefas que estão a ser implementadas, em particular, no âmbito da ONU: o Grupo de Trabalho Aberto sobre a segurança das tecnologias da informação, o Comité Ad Hoc para a elaboração de uma convenção internacional sobre o combate ao crime informático e a União Internacional das Telecomunicações.

A organização de um painel de discussão com o tema "Segurança do Espaço de Informação: Desafios e Oportunidades de Cooperação" permitiu aos peritos governamentais e representantes de empresas tecnológicas líderes da Rússia e de países africanos trocar pontos de vista sobre questões-chave neste domínio. A tónica foi colocada na formação de um ambiente digital único, seguro e estável, acessível a todos os países. Foi apoiado o desenvolvimento de instrumentos internacionais juridicamente vinculativos que regulem o domínio de tecnologias da informação e comunicação. Foi manifestada a vontade de coordenar os esforços tanto a nível regional como nos principais fóruns internacionais.

A assinatura de acordos intergovernamentais de cooperação no domínio da segurança internacional da informação com a República do Zimbabué e a República Federal Democrática da Etiópia, à margem da Cimeira, tornou-se um exemplo para outros países africanos. Os documentos refletem a unidade das posições dos nossos países em relação à criação de um sistema de segurança internacional da informação mais justo em pé de igualdade e não discriminação. Preveem novas oportunidades para o desenvolvimento de capacidades na utilização das tecnologias da informação e da comunicação, principalmente em termos de formação de pessoal qualificado. Criam condições para o desenvolvimento da cooperação entre as autoridades competentes dos países envolvidos.

 

Ponto da situação na crise da Ucrânia

 

O regime neonazi de Kiev está a aumentar as proporções das suas atividades terroristas.

A 28 de julho, unidades armadas ucranianas dispararam, empregando artilharia pesada, contra instalações em Donetsk, entre as quais um terminal de transportes, uma paragem de autocarros, um centro comercial e dois hospitais.

Naquele mesmo dia, o regime de Kiev lançou um míssil antiaéreo do sistema de defesa antiaérea S-200 convertido numa versão de ataque contra infraestruturas residenciais da cidade de Taganrog. O míssil foi intercetado pela defesa antiaérea russa, com os destroços do míssil a cair no território da cidade. Vinte e duas pessoas precisaram de ser hospitalizadas.

A 31 de julho, as forças ucranianas atacaram bairros residenciais da cidade. Um dos projéteis atingiu um autocarro com passageiros, outro, uma casa privada, tenho quatro pessoas morrido e outras onze ficado feridas.

Naquele mesmo dia, as forças ucranianas bombardearam a cidade de Alioshki, na Região de Kherson, tendo uma pessoa morrido.

Também a 31 de julho, uma mercearia onde estavam muitas pessoas foi atingida no vilarejo de Basan, na Região de Zaporojie, tendo três pessoas morrido, cerca de 15 ficado feridas e uma criança de 12 anos ficado debaixo dos escombros.

Na madrugada de 30 de julho e de 1 de agosto, os drones lançados pelo regime de Kiev embateram contra as torres do conjunto “Moscovo-City”. É evidente que os neonazis ucranianos, ao lançarem drones contra edifícios de escritórios civis, seguiram o guião dos seus antecessores, os terroristas internacionais que atacaram muitas instalações civis de uma forma semelhante. Ataques semelhantes, de proporções maiores, foram levados a cabo em Nova Iorque a 11 de setembro de 2001.

Não tenho nenhuma intenção de comparar as proporções. É uma blasfémia comparar atentados terroristas em termos de dimensão dos danos e número de mortos. Mas é impossível não ver o óbvio, ou seja, uma metodologia semelhante que prevê a destruição de infraestruturas civis, ameaça à vida civil e, claro, o fator psicológico. Esta metodologia é normalmente utilizada pelos terroristas e foi adotada pelo regime de Kiev.

Recorde-se que o Ocidente condenou sempre os atentados terroristas, mas apenas os cometidos nos seus países, qualificando-os de inadmissíveis, maus, proibidos, demonstrando plenamente a natureza desumana dos terroristas. Descreveu-os como ações que não podiam ser toleradas e declarou (até têm uma expressão especial) "tolerância zero" em relação a tais atividades. Quando atentados terroristas semelhantes foram perpetrados noutros países, por exemplo, nos países do Grande Sul, na Síria ou na Rússia, o Ocidente não proferiu uma só palavra de comiseração ou condenação.

Desta vez, o Ocidente foi ainda mais longe, declarando sem rodeios, por intermédio das suas personalidades oficiais, que o regime de Kiev pode escolher alvos a atacar a seu critério.

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, disse que as autoridades ucranianas podiam escolher alvos a atacar na Rússia a seu critério. Imagine-se que alguns representantes oficiais de um país teriam dito, a 11 de setembro de 2001, que os terroristas podiam escolher a seu critério alvos a atacar nos EUA. Como é que Washington teria reagido? Ou como Paris teria reagido a esta declaração após o ataque à redação do Charlie Hebdo? O Presidente francês, François Hollande, apelou à união de todo o mundo e pediu aos dirigentes e funcionários de várias nações que marchassem unidos pelas ruas de Paris. Como é que o Palácio do Eliseu teria reagido se algum representante oficial de um país tivesse dito algo semelhante ao que foi dito pelo representante de Washington no sentido de que os terroristas podem escolher a seu critério alvos a atacar? Deixamos do lado de fora dos parêntesis deste caso particular o facto de o regime de Kiev estar a fazer tudo isto com o dinheiro, com o apoio técnico, armas e informações dos serviços secretos do Ocidente.

Foi exatamente assim que a Rússia, os moscovitas que trabalham neste centro de escritórios, foram agora tratados. De facto, os Estados Unidos justificaram oficialmente os métodos terroristas, confirmaram que é possível destruir instalações civis e pôr em perigo a vida dos civis. Nem uma palavra de condenação. Por outro lado, conhecemos o conceito de que tudo é em prol dos “mil milhões dourados", e todos os outros são de segunda categoria. Conhecemos também a posição do Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, segundo a qual eles são um "belo jardim" e todos os outros são uma "selva". Esta atitude de segregação das pessoas enquadra-se neste conceito.

Os nazis de Kiev, conscientes de que não serão condenados pelo Ocidente, reivindicaram corajosamente os ataques e não escondem as suas verdadeiras intenções - intimidar os civis. Ao mesmo tempo, afirmam que estas instalações não são civis. Como é que não são civis? As torres atacadas alojam habitações, escritórios onde trabalham pessoas que não têm nenhuma ligação com a indústria de guerra. O porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuri Ignat, declarou sem rodeios: "Não haverá mais paz nas regiões internas da Rússia. Eles têm o que queriam". Aconselhamos Yuri Ignat a voltar à realidade. Que não tenha esperanças - não há pânico no nosso país. Pelo contrário, a sociedade russa só se consolida e reforça a sua convicção de que é necessário atingir os objetivos da operação militar especial, porque a junta ucraniana revela cada vez mais a sua natureza monstruosa. Se, numa determinada altura, alguém podia duvidar do que é o regime de Kiev, agora já ninguém tem dúvidas.

Sabemos também que os países ocidentais não se limitam a elogiar os métodos terroristas do regime de Kiev, participando diretamente na organização de ataques terroristas, fornecendo armas e informações ao regime de Kiev.

No entanto, todos os criminosos ucranianos receberão inevitavelmente um castigo. As autoridades competentes russas estão a investigar minuciosamente os crimes cometidos pelo regime de Kiev. Os mentores e os autores dos crimes sentar-se-ão, mais cedo ou mais tarde, no banco dos réus.

Foi isso aconteceu a 18 elementos da unidade nazi ucraniana proibida “Aidar”, que, segundo os investigadores, estiveram envolvidos no massacre de civis, na tortura de prisioneiros, em pilhagens e roubos. O seu julgamento começou recentemente em Rostov-no-Don.

O regime de Kiev continua as suas arbitrariedades contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana. Na semana passada, Vladimir Zelensky assinou um projeto de lei, segundo o qual o Natal passará a ser celebrado na Ucrânia no dia 25 de dezembro e não a 7 de janeiro, o que está em linha com a política ucraniana de acabar com a ortodoxia canónica no país.

Este facto começou também a ser reconhecido pela comunidade de peritos ocidentais. A 22 de julho, em Viena, a secção austríaca do Centro de Estudos Geoestratégicos realizou uma conferência sobre as violações dos direitos dos cristãos ortodoxos na Ucrânia. Os participantes concordaram que o regime neonazi de Kiev está a destruir a Igreja Ortodoxa canónica perante os olhos da comunidade internacional.

Neste contexto, gostaria de chamar mais uma vez a atenção para o relatório "Sobre as ações ilegais do regime de Kiev contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana, o seu clero e paroquianos", publicado no sítio web do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo a 25 de julho passado. O documento contém factos de violações grosseiras dos direitos dos cristãos ortodoxos por parte de Kiev, com a conivência do Patriarcado de Constantinopla, dos EUA e de vários outros países ocidentais.

A luta contra tudo o que é russo na Ucrânia está a ganhar ímpeto e a passar dos limites. Como parte da política de apagar a cultura russa da vida da população, a Academia de Música Mikhail Glinka, de Dnepropetrovsk, passou a chamar-se Academia de Música de Dnepropetrovsk. Aparentemente, este gesto deve ter melhorado muito a qualidade do ensino nessa escola de música. O que é que vão fazer com a música? "Arrancar” as notas, mais frequentemente encontradas nas obras de compositores russos, estragar os seus retratos, retirar das suas partituras partes associadas à cultura russa?

Em Kiev, estão a planear mudar o nome do monumento "Mãe Pátria" para "Mãe Ucrânia". Foi recentemente pintado com as cores da bandeira norte-americana. Porque é que lhe deram então o nome "Mãe Ucrânia"? Já começaram a retirar-lhe o brasão de armas da União Soviética. Mas não foram vocês que construíram este monumento e disponibilizaram dinheiro para isso. Desmantelar não é construir. Tudo isso está a tornar-se num teatro do absurdo. Mais um ato de vandalismo do regime de Kiev, a pretexto da chamada campanha de "descomunização", virou mais um escândalo de corrupção. Verificou-se que o aço adequado de alta qualidade não era produzido na Ucrânia e que os materiais tinham de ser comprados no estrangeiro. Sob este pretexto, o orçamento do projeto quase triplicou. A Ucrânia não tem aço, o regime de Kiev não consegue fazer nada, só sabe desviar dinheiro.

Nem o vazio ideológico de iniciativas inúteis, nem as enormes despesas orçamentais num contexto de empobrecimento da população ucraniana podem deter as autoridades de Kiev. A sensação é que eles, tal como os ideólogos de Washington, acreditam que é necessário matar o maior número possível de pessoas - só que, neste caso, não russas, mas ucranianas, os seus cidadãos, condenando-os a morrer de fome ou na guerra.

Na opinião dos analistas políticos, o problema está na corrupção que atingiu dimensões tremendas em todas as esferas da vida na Ucrânia. Não podia deixar de atingir a Ucrânia numa altura em que o Ocidente e Washington destruiu, durante décadas, o sistema estatal deste jovem país, enviando para lá os seus "conselheiros", estrategistas políticos, desestabilizando todas as instituições de poder existentes, substituindo a voz e a vontade do povo por intermináveis campanhas de propaganda. Nessas condições, nenhum sistema poderá ter imunidade contra a corrupção, o banditismo e o crime. Tudo isto faz normalmente parte orgânica de um mecanismo estatal, com os seus pontos positivos e negativos, com as suas vitórias e derrotas, êxitos e fracassos. Os EUA, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a Polónia, apoiados pelos países bálticos, destruíram o sistema estatal ucraniano, fazendo os possíveis para colocar a Ucrânia sob a sua dependência. O que é que eles querem agora?

Cada projeto atualmente proposto na Ucrânia é um motivo para os funcionários fascistas ucranianos encherem os bolsos com o dinheiro do Estado, ao que parece, antes de fugir para o estrangeiro. Acreditam que criaram o seu futuro político no estrangeiro, contando intermináveis histórias fantasiosas sobre como foram "atormentados” e “impossibilitados de viver em paz” na Ucrânia. Agora, querem "arrancar um pedaço maior" antes de abandonarem o país. Ao mesmo tempo, o sistema de governo da Ucrânia encoraja este roubo quase flagrante. A ditadura do regime de Kiev não permite a dissidência e pune severamente os dissidentes.

De acordo com uma análise recente do Inspetor-Geral do Departamento de Estado dos EUA (quero citar o representante norte-americano para que não digam que fazemos isto por "aversão" ao regime de Kiev; estas são as pessoas que elogiam publicamente, quase todos os dias, o regime de Kiev), numa perspectiva de longo prazo, a corrupção no governo ucraniano cria riscos à eficácia da ajuda dos EUA. Traduzido em linguagem corrente, isto significa que, quanto mais os EUA ajudarem a Ucrânia em dinheiro, mais dinheiro será desviado pelo governo ucraniano. Os norte-americanos planeiam controlar rigorosamente a aplicação dos fundos disponibilizados à Ucrânia. Para o efeito, de acordo com um documento do Departamento de Estado, vão aumentar o número de funcionários da embaixada norte-americana em Kiev. Que ingenuidade! Pensam que, se criarem mais postos de trabalho na embaixada norte-americana, o regime de Kiev irá certamente roubar menos. Talvez partilhem o dinheiro desviado com os diplomatas norte-americanos a exemplo do que aconteceu muitas vezes com os "conselheiros" norte-americanos enviados ao nosso país nos anos 90 pelos serviços secretos norte-americanos? A anedota acabou por ser. Os norte-americanos enviaram-nos ao nosso país para nos ajudarem a construir uma democracia e uma economia liberal. Mas eles ficaram tão atolados em corrupção que, ao regressarem aos seus países, foram submetidos à investigação e julgamentos. No caso da Ucrânia, vai ser de um modo diferente? Como é que eles podem garantir que a ajuda não é pilhada lá? Este é um oximoro. Há um milhão de contradições só nesta frase. Não pode acontecer. Nenhum diplomata norte-americano vai fazer nada a ninguém.

Talvez o próximo passo seja a criação na Ucrânia de unidades especiais da polícia norte-americana para controlar a aplicação da ajuda norte-americana. Se houver controlo, quem é que vai precisar da ajuda norte-americana na Ucrânia? Ingénuos. Há muitos anos que lidam com o regime de Kiev e ainda não perceberam o que ele é.

O dia 27 de julho é uma data trágica para todo o nosso país. É um dia de homenagem às crianças vítimas da guerra no Donbass. Desde 2014, os nazis ucranianos mataram centenas de menores da região, de todas as idades. Já falámos sobre isto no briefing anterior.

Há nove anos, neste dia, os criminosos de Kiev submeteram a cidade de Gorlovka a um bombardeamento maciço, fazendo dezenas de mortos e feridos, entre os quais muitas crianças. Uma cerimónia de homenagem foi realizada na Alameda dos Anjos, um complexo memorial em Donetsk.

Os neonazis ucranianos decidiram voltar a dar o seu contributo negro nesta data. Não se contentaram com o que haviam feito em Gorlovka. Organizaram um envio em massa de mensagens cruéis e cínicas aos habitantes da região em que prometeram matar mais crianças, comparando o dia de luto ao "dia do hambúrguer" e enviando imagens trocistas com fotografias de crianças mortas.

Não percebo o objetivo nem a razão disso. Para que Donetsk e Luhansk odeiem ainda mais o regime de Kiev. Para gravar o seu nome em letras sangrentas na história desta região para sempre? Em princípio, tudo já está feito. Parece-me que não há necessidade de continuar. Estes crimes nunca serão esquecidos. Nunca! Pelo que vemos e dizemos, não devemos esquecer que, na Ucrânia, as forças armadas russas estão a lutar contra uma ideologia fascista e misantrópica. Não estão a lutar contra alguns indivíduos que não cumprem os requisitos básicos de moral e ética, mas contra todo o sistema, criado exatamente para "limpar" o seu espaço de dissidência e segregá-lo em categorias, permitindo que os de primeira categoria vivam e não permitindo que os de segunda sequer existam.

Todos estes factos (este é uma pequena fração do que está a acontecer no país) confirmam que as metas e os objetivos da nossa operação militar especial são justos e relevantes.

 

Sobre os crimes do regime de Kiev desde 2014 e a utilização de métodos terroristas

 

As atividades criminosas praticadas com os métodos terroristas tornaram-se há muito normais para o regime de Kiev, como já dissemos várias vezes. Os seus representantes não têm mais medo de o admitir diretamente, assumindo abertamente a responsabilidade por ataques às instalações civis e atos terroristas contra civis. A única coisa é que continuam a sublinhar que se trata, por assim dizer, de alvos não civis. Os representantes do regime de Kiev admitem que o fizeram, ressalvando, contudo, que as instalações por ele atacadas não eram civis. Por que razão os edifícios residenciais que são deliberadamente bombardeados e onde não há depósitos de armas e munições deixaram de ser instalações não civis?

O início a esta prática foi dado há muito tempo. Os acontecimentos na Praça de Maidan em 2013-2014, quando o golpe de Estado armado levou ao poder forças nacionalistas-radicais, para as quais o terror era um dos instrumentos para derrubar o governo legítimo. Sim, foi um verdadeiro terror. As primeiras vítimas dos extremistas e nacionalistas que levaram a cabo o sangrento golpe de Estado em Kiev, em fevereiro de 2014, foram políticos, jornalistas e figuras públicas ucranianas.

A 18 de fevereiro de 2014, a sede do Partido das Regiões, no poder, foi atacada. Os assaltantes lançaram cocktails Molotov e bombas de fumo contra o edifício, incendiaram o edifício e espancaram as pessoas que tentaram abandonar o local. Como resultado, dois funcionários morreram. Mais tarde, a mesma tática foi utilizada em Odessa, a 2 de maio de 2014, quando nacionalistas armados, encorajados pelas autoridades (e depois indulgenciados por elas), promoveram um banho de sangue na Casa dos Sindicatos de Odessa. Incendiaram o edifício para matar os opositores ao novo regime e dispararam contra as pessoas que tentavam fugir do edifício em chamas. Lembro-me de como o mundo inteiro se havia solidarizado com os que tentavam escapar das Torres Gémeas em 2001, em Nova Iorque. Todos nós ficámos com a respiração suspensa em frente às nossas televisões, rezando pelas pessoas presas nos edifícios, sabendo que estavam condenadas. Lembro-me bem das "vaias" e dos "apupos" dos bandidos extremistas que se encontravam em frente à Casa dos Sindicatos de Odessa esperando que as pessoas que estavam dentro do edifício ardessem vivas. Ninguém no Ocidente proferiu uma palavra de comiseração (não digo condenação, apenas de comiseração humana) quando o mundo inteiro viu estas imagens terríveis do que os extremistas de Kiev fizeram. O Ocidente fechou os olhos porque morreram as pessoas erradas, de outra categoria. Mas isto foi apenas o início. Provavelmente, alguém ainda tinha a ilusão de que estes bandidos eram indivíduos isolados e não um sistema e que o governo ucraniano não iria permitir coisas do gênero.

No entanto, os anos passaram e vemos que esta é uma abordagem sistémica baseada na sua ideologia, filosofia, com um grande número de manuais de procedimentos que justificam estas ações e exortam a destruir tudo o que possa fazer a mínima alusão à natureza desumana daqueles que levam a cabo tais ações.

Naquela altura, 42 pessoas morreram em Odessa às mãos dos neonazis ucranianos, sob as "vaias" da multidão que acreditava que se devia proceder dessa forma a todos os que não se juntassem às suas fileiras.

O conflito no Donbass, desencadeado pelo regime de Kiev em abril de 2014, fez com que o regime de Kiev usasse ainda mais os métodos de terror. Os bombardeamentos de povoações da região tornaram-se sistemáticos. A 2 de junho de 2014, a cidade de Lugansk foi atacada pro aviões de assalto SU-25 ucranianos. Os ataques foram concentrados no centro da cidade onde havia um jardim de infância, um jardim público, casas residenciais e o edifício da administração da cidade. Se não acreditam em mim, vejam as imagens. O objetivo do ataque era intimidar a população e semear o pânico, matar civis. Como resultado, oito pessoas morreram, 28 pessoas ficaram feridas. Porquê e para quê tudo isto foi feito? Porque esta é a ideologia neonazi do regime.

Os habitantes de Gorlovka chamaram ao dia 27 de julho de 2014 “Domingo Sangrento de Donetsk". Naquele dia, o exército ucraniano lançou um ataque maciço de artilharia contra a cidade, cujos habitantes, ainda não habituados aos bombardeamentos, não tiveram tempo de se abrigar rapidamente. Morreram civis e crianças. Dezenas de pessoas ficaram feridas.

Posteriormente, as forças ucranianas bombardearam regularmente bairros residenciais de Donetsk, Lugansk e outras povoações do Donbass. Entre 2014 e 2022, milhares de civis da região morreram nos bombardeamentos ucranianos.

Com o início da operação militar especial, o regime de Kiev passou a utilizar de forma generalizada métodos terroristas. Utilizando armas ocidentais, os neonazis ucranianos estão a bombardear bairros residenciais, a instalar posições de fogo e depósitos de munições em escolas, hospitais e edifícios residenciais, usando civis como “escudo humano” e fuzilando refugiados e prisioneiros de guerra.

Mais exemplos? Por favor. Budenovsk é outra das nossas tragédias. Não são coisas comparáveis? Sim, na altura isso tinha outro nome. A região era diferente. Mas quando terroristas armados usam civis para se escudarem de ataques, o seu significado mantém-se. Há um ano referimos isso, e disseram-nos que não era o caso, que o regime de Kiev não tinha essa prática. Agora, o regime admitiu que as forças ucranianas haviam utilizado infraestruturas civis (jardins de infância, escolas e hospitais) para se defender contra ataques. Simplificando, estavam a entrincheirar-se nesses locais. Dispararam contra essas instalações, fizeram encenações sem pensar nas consequências para a população civil.

Lembram-se de como os civis não podiam sair das suas casas porque os efetivos ucranianos não os deixavam sair, obrigando-os a ficar nos apartamentos, servindo-se deles como reféns. Agora há provas documentais de que o regime de Kiev admitiu publicamente este facto.

Uma categoria distinta de métodos terroristas do regime de Kiev visa a realização de objetivos políticos. Desta categoria consta a explosão no duto de amônia Togliatti-Odessa, na região de Kharkiv, ocorrida a 5 de junho passado. Esta conduta tinha importância global para a segurança alimentar, sendo um dos elementos-chave do "acordo de cereais" – um pacto de entendimentos sobre a exportação de produtos agrícolas e fertilizantes da Rússia e de cereais da Ucrânia.

Desde julho de 2022, as forças ucranianas bombardearam a central hidroelétrica de Kakhovka, usando, entre outros, lança-foguetes HIMARS fornecidos pelos EUA. Como resultado, a 6 de junho passado, a barragem de Kakhovka foi destruída e a água saiu da albufeira a jusante do rio Dniepre, provocando uma grave catástrofe humanitária e ambiental na região. Além disso, poderá haver problemas em termos de arrefecimento dos reatores da central nuclear de Zaporojie. Isto não é novidade. Já comentámos isso. 

Se alguém lhes disser que tudo isto se deve à nossa operação militar especial e que esta é uma resposta legítima (na verdade, pseudo-legítima) do regime de Kiev, não acreditem nele. Eles estavam a fazer isto em 2014, 2015 e nos oito anos seguintes. Minaram linhas de alta tensão que conduziam à Crimeia, cortaram o abastecimento de água, fizeram tudo para levar a cabo estes ataques terroristas.

Contaram-nos sobre o "grande realizador de cinema" Oleg Sentsov. No entanto, ninguém viu as suas "obras", mas ele foi apanhado em flagrante a colocar uma mina num monumento. Lembram-se do que fez o Ocidente? Promoveu uma campanha inteira a dizer que ele era artista e que não podíamos tocar nele. Na realidade, porém, o “artista” era terrorista. Tudo começou há muito tempo.

Os dois ataques à Ponte da Crimeia efetuados a 8 de outubro de 2022 e a 17 de julho passado também são terroristas, pois a parte da ponte reservada aos automóveis é utilizada exclusivamente por civis, sobretudo turistas. Este facto era bem conhecido de todos. Tanto o regime de Kiev como o Ocidente sabem-no muito bem. Em resultado dos ataques, morreram civis. O carácter terrorista dos atentados é óbvio. O regime de Kiev assumiu tranquila e cinicamente a responsabilidade por eles. Ainda há pouco, estavam a sussurrar que estavam a fazer tudo isso, só não precisavam de falar sobre tais coisas em voz alta. Agora estão a falar sobre isso em voz alta. Porquê? Consigo perceber porquê. Porque nada do que o Ocidente lhes havia prometido se materializou, pelo que decidiu optar pelas atividades terroristas.

As autoridades ucranianas estão a utilizar métodos de terror contra jornalistas, personalidades públicas e políticas, tanto no seu próprio país como na Rússia. Eis alguns exemplos. A 15 de abril de 2015, um ex-deputado ucraniano pelo “Partido das Regiões”, Oleg Kalashnikov, foi assassinado à porta do seu apartamento em Kiev. No dia seguinte, a 16 de abril de 2015, o jornalista Oles Buzina foi morto a tiro perto da sua casa em Kiev. Os assassinos ainda não foram levados à justiça. A 20 de julho de 2017, o conhecido jornalista russo e ucraniano Pavel Sheremet morreu na explosão do seu carro em Kiev.

A 31 de agosto de 2018, o governador da República Popular de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko, foi morto pela detonação de um engenho explosivo.

A 20 de agosto de 2022, a jornalista e cientista política Daria Duguina foi assassinada em Moscovo. O Serviço Federal de Segurança da Rússia apurou o envolvimento do Serviço de Segurança da Ucrânia neste crime.  A 6 de março deste ano, as autoridades policiais evitaram um atentado à bomba contra o carro do fundador do canal de televisão “Tsargrad”, Konstantin Malofeev. A 2 de abril passado, o correspondente de guerra Vladlen Tatarski foi assassinado em São Petersburgo. Segundo a investigação, a explosão que matou o jornalista fora organizada pelos serviços secretos ucranianos. A 6 de maio passado, o escritor e publicista Zakhar Prilepin foi ferido na região de Nizhny Novgorod na sequência de um atentado à bomba contra o seu automóvel. A 22 de julho passado, um carro civil que transportava jornalistas foi atacado na região de Zaporojie com munições de fragmentação fornecidas pelos Estados Unidos. Rostislav Zhuravlev, correspondente de guerra da agência RIA Novosti, foi morto. Quatro dos seus colegas ficaram feridos.

Tudo o que o regime de Kiev está a fazer agora são métodos dos terroristas internacionais. Lembrem-se de como o regime de Kiev e as forças ucranianas abusaram e executaram prisioneiros de guerra perante as câmaras. Não foi isso que os terroristas do proibido EI fizeram quando filmaram todos os seus crimes sangrentos e os enviaram para todo o mundo? Para quê? Não iríamos perceber. Porque para isso é preciso ter a lógica de um terrorista para intimidar, semear o terror, mostrar o seu poder e utilizar tudo isso para os seus fins.

Ultimamente, as autoridades ucranianas têm utilizado cada vez mais métodos terroristas. Já referi alguns deles. E inventam novos métodos. Isto se deve principalmente ao aparente fracasso da contraofensiva das forças ucranianas, generosamente financiadas pelos Estados Unidos e outros países da NATO.

A prática de terror usada pelo regime de Kiev é um fator que agrava a crise ucraniana e afasta as perspetivas da sua resolução pacífica. É sabido que as armas e o equipamento fornecidos à Ucrânia pelos seus patrões ocidentais são frequentemente utilizados em atos terroristas, o que os torna diretamente envolvidos em todos estes crimes.

Recorde-se que a expressão "o regime patrocinador do terrorismo” e "Estado patrocinador do terrorismo” é correntemente utilizada no Ocidente, embora os países ocidentais estejam a patrocinar as atividades terroristas do regime de Kiev.

 

Sobre a declaração do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a propósito do primeiro aniversário dos acontecimentos em Elenovka

 

Registámos outra invetiva antirrussa do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk. Desta vez, o responsável decidiu fazer-se notar ao emitir uma declaração a propósito do primeiro aniversário da morte dos prisioneiros de guerra ucranianos no centro de detenção preventiva de Elenovka na sequência de um ataque de mísseis das forças ucranianas.

Gostaríamos de apelar uma vez mais ao Alto Comissário para que respeite os princípios da objetividade e da imparcialidade no seu trabalho e o mandato que lhe foi confiado. Não fica bem a um funcionário das Nações Unidas arvorar-se em procurador-geral global e avaliar as ações de Estados soberanos sem quaisquer provas.

É de estranhar a afirmação de Volker Turk de que a morte de mais de cinquenta prisioneiros de guerra ucranianos no centro de detenção de Elenovka não foi causada por um míssil disparado por um HIMARS. É lógico perguntar como é que o Departamento por ele chefiado, que não tem competência numa área tão especial, chegou a essa conclusão. Alguém lhe terá dado orientações? Gostaria de conhecer a pessoa que lhe entregou os documentos e os próprios documentos. As referências do Alto Comissário a certos "testemunhos das vítimas e dos seus familiares" não resistem à crítica. Uma vez que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos do Homem não efetuou qualquer investigação ou peritagem, não há nada o que comentar. Na realidade, assistimos a mais uma revelação oca no estilo de “highly likely”. Até mesmo comentámos a graduação de declarações do gênero. Esta é uma delas.

Ao mesmo tempo, Volker Turk ignora as informações oficiais divulgadas pelo Ministério da Defesa da Federação da Rússia e do Comité de Investigação da Rússia.

Lamentamos que o Alto Comissário tenha, mais uma vez, demonstrado a posição baseada no duplo padrão e uma falta de vontade de avaliar objetivamente as ações do regime de Kiev.

 

Sobre a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a utilização sistemática de métodos terroristas pela Ucrânia

 

A 31 de julho deste ano, por iniciativa da Rússia, realizou-se uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a utilização sistemática de métodos terroristas pela Ucrânia.

Os relatores foram o subsecretário-geral do Escritório de Contraterrorismo das Nações Unidas, Raffi Gregorian, e o ativista social Serguei Chaulin, que foi vítima do ataque terrorista contra o correspondente de guerra Vladlen Tatarski em abril passado.

O representante russo no Conselho de Segurança da ONU citou exemplos concretos e descreveu em pormenor a natureza terrorista do regime de Kiev, responsabilizando os seus aliados ocidentais por estas ações. Além disso, foi assinalado que a recusa do Secretariado da ONU e de outras estruturas internacionais em reagir às ações cada vez mais flagrantes do regime de Kiev, contribuiu para o seu deslizamento para o terrorismo.

Por sua vez, como era de esperar, os países ocidentais tentaram desviar o foco do debate para a "agressão russa". Alguns dos mais fervorosos apoiantes do regime de Kiev chegaram ao ponto de justificar a prática terrorista usada pelo regime de Kiev. Citei a declaração de um representante do Departamento de Estado dos EUA de que os terroristas podem escolher alvos a atacar a seu critério. A bem da verdade, ele evitou qualificar os de Kiev como “regime de terroristas de Kiev”, limitando-se a chamar-lhes “regime de Kiev”. No entanto, se os de Kiev utilizam métodos terroristas, eles são um regime de terroristas.

Não é de surpreender que, sentindo a sua absoluta impunidade, a direção militar e política da Ucrânia não tenha medo de admitir cometer novos e novos ataques contra civis e infraestruturas civis que não têm finalidades militares.

A Rússia continuará a chamar a atenção da comunidade internacional, em especial no Conselho de Segurança das Nações Unidas e outros órgãos especializados dessa estrutura, para as graves consequências humanitárias das atividades terroristas do regime de Kiev.

 

Sobre as declarações do Diretor do MI6, Richard Moore, em Praga

 

Não podemos deixar passar despercebido o discurso especialmente russofóbico feito a 19 de julho passado pelo Diretor do Serviço Secreto britânico (MI6), Richard Moore, na Embaixada Britânica em Praga. Há muito tempo que tal não acontecia. Na qualidade de chefe das "operações secretas" de Londres no estrangeiro, o responsável voltou a falar de uma espécie de "agressão russa" e da necessidade de continuar a prestar toda a assistência possível às forças armadas ucranianas. Ao mesmo tempo, não negou o envolvimento dos serviços secretos britânicos em atos terroristas cometidos contra a Rússia, especialmente na ponte de Kerch, referindo que a Ucrânia tem o direito à autodefesa e que o Ocidente deve ajudá-la. Aparentemente, pouco se importou com o facto de o alvo de ataque ter sido uma infraestrutura civil.

Registámos também as palavras de Richard Moore, que testemunham a intenção de Londres de semear uma discórdia nas relações da Rússia com os países africanos, bem como com o Irão e a China. Como mostrou a Cimeira Rússia-África realizada em São Petersburgo, estas tentativas de provocação dos britânicos não têm qualquer hipótese de sucesso. Mesmo assim, os britânicos não querem abandoná-las.

Tendo-se esquecido completamente dos princípios mais elementares (da honra e decência nem falo) do código de um cavaleiro, Richard Moore apelou aos nossos cidadãos para traírem a sua pátria - para cooperarem com os serviços secretos britânicos.

É uma ideia interessante. Suponho que deveríamos responder à altura. Talvez devamos convidar os súbditos britânicos e os cidadãos de outros países do "eixo do mal" da NATO a colaborarem com os nossos serviços secretos. Penso que é uma excelente ideia convidar os cidadãos britânicos, dos quais muitos se encontram numa situação financeira extremamente difícil, a colaborarem com os serviços secretos russos. Por que não? Qual é o problema? Afinal de contas, do ponto de vista de Londres, é normal. Não encontro nenhuma razão para não o fazer.

Para nós, a política antirrussa de Londres há muito que é óbvia. Mas agora a insolência e o atrevimento do chefe do serviço de espionagem britânico passam dos limites imagináveis. De um modo geral, ele golpeou a si próprio. Antes, eles eram mais espertos.

Tudo isto faz lembrar muito os métodos de propaganda de estilo Goebbels, entre os quais a russofobia desenfreada. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazis sugeriram aos cidadãos da União Soviética e da Grã-Bretanha que colaborassem com eles, dizendo que o seu país não os apreciava e o Ocidente os apreciava muito. O Ocidente começa a querer os nossos cidadãos sempre que o seu "ataque relâmpago” contra o nosso país sofre um fracasso. Vendo o seu “ataque relâmpago” malogrado, o Ocidente passa ao plano "B" e oferece-se para cooperar. Porque "gostam muito" da nossa gente.

Há coisas que não professamos, mas há ações a que sabemos responder de forma igual. Fiquem à espera. Não gritem depois que nos intrometemos nos assuntos internos da Grã-Bretanha. Não estamos. Será simplesmente uma resposta equivalente.

        

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: No final da semana passada, a senhora disse que a Rússia está a negociar com vários países africanos a hipótese de abertura de embaixadas russas nesses países. O Ministério está a capacitar um novo pessoal diplomático em trabalhar em Áfricas ou enviará para lá diplomatas que tiveram de deixar os países da UE e dos EUA antes do fim das suas missões?

Maria Zakharova: Atualmente, existem acordos sobre a abertura de embaixadas russas em alguns países africanos com os quais mantemos há muito relações diplomáticas. O Ministério enviará para as novas embaixadas especialistas em questões africanas que estão disponíveis no Ministério dos Negócios Estrangeiros em quantidade suficiente e que já provaram ser excelentes profissionais neste domínio. Quanto ao pessoal das missões estrangeiras fechadas na Europa, o nosso Ministério tem todo um programa para a sua contratação, de acordo com as suas qualificações, nível de formação profissional e competências linguísticas, tanto na Administração Central do Ministério como nas nossas missões no estrangeiro. As decisões serão tomadas em cada caso concreto, mas a abordagem é sistemática. Em cada caso concreto, serão considerados diferentes critérios de emprego. Tudo está estipulado num programa especial (quando digo um "programa" refiro-me a um documento).

Quanto a planos de abrir embaixadas, iremos informá-los assim que o processo de negociação com os nossos parceiros nos permitir fazê-lo.

Pergunta: O Departamento de Estado dos EUA confirmou o início das negociações sobre as garantias de segurança da Ucrânia esta semana. De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, as conversações centrar-se-ão em compromissos a longo prazo referentes à ajuda a Kiev em matéria de segurança que não estão ligados aos fornecimentos atuais. Anteriormente, o chefe do gabinete do Presidente ucraniano, Andrei Ermak, afirmou que as garantias estariam em vigor até à adesão do país à NATO. Na sua opinião, o que significam estas garantias de segurança à Ucrânia e como é que o lado russo avalia estas ações de Washington em geral?

Maria Zakharova: Tudo isto são malabarismos verbais. O seu objetivo é encontrar belas formulações políticas, mas a essência permanece a mesma: usar a Ucrânia como instrumento de guerra híbrida antirrussa desencadeada pelo Ocidente, para preservar o território ucraniano como cabeça de ponte (no sentido literal da palavra) para o alcance do seu objetivo que mencionei anteriormente.

Washington desempenha fielmente as funções de estado-maior da guerra híbrida do Ocidente "coletivo" contra a Rússia, não poupando forças e fundos próprios nem europeus, não considerando as perdas militares sofridas pelos ucranianos no intuito de transformar o país que nos é vizinho numa fonte permanente de ameaças para a Rússia. Só nos últimos 18 meses, os norte-americanos gastaram mais de 43 mil milhões de dólares em ajuda militar.

O regime de Kiev esperava receber sinais sobre as perspetivas da sua adesão à NATO na cimeira da Aliança atlântica em Vilnius, a 12 de julho passado. Vladimir Zelensky estava ansioso por recebê-los, mas ficou histérico, lançando a propósito uma ampla campanha propagandística que beirava uma chantagem. No entanto, por razões diferentes não existe consenso sobre esta questão entre os membros da Aliança. Após a reunião de Vilnius, a administração Biden decidiu escolher as frases "certas" e prometer ao regime de Kiev algumas "garantias de segurança" para motivá-lo a continuar a lutar. O seu objetivo é óbvio. Já falei sobre isso.

Gostaria de recordar a nossa posição, que expressámos em numerosas ocasiões, de que uma solução de paz para o conflito ucraniano passa pelo estatuto de neutralidade da Ucrânia. Quaisquer tentativas de admitir o país na NATO, de lhe dar garantias de segurança ou de inventar alguma formulação, ou seja, tudo o que possa ser equiparado à filiação da Ucrânia na Aliança complicará muito a situação em torno da crise ucraniana e terá consequências incontroláveis para a segurança na Europa e no resto do mundo. Penso que todos já se apercebem disso.

É importante ter persente que, para os EUA, a Ucrânia é, antes de mais, um instrumento para garantir os seus interesses geopolíticos. Mais cedo ou mais tarde, Washington terá de se conformar com as novas realidades geopolíticas e dizer adeus às suas pretensões de hegemonia. Este processo será para eles doloroso (porque são excecionais), mas inevitável.

Pergunta: O seu Ministério participa nos trabalhos relativos ao regresso dos militares russos que se encontram em cativeiro na Ucrânia?

Maria Zakharova: Este trabalho está a ser realizado principalmente através do Ministério da Defesa da Federação da Rússia e da Provedora dos Direitos Humanos, Tatiana Moskalkova. Se necessário, o Ministério dos Negócios Estrangeiros também participa. No entanto, o trabalho principal está a ser realizado pelos organismos acima mencionados. 

Pergunta: O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou que "um punhado de donativos" não substituiria todo o volume que podia ser exportado em segurança através do Mar Negro quando o acordo sobre os cereais estava em vigor. Poderia comentar a sua declaração?

Maria Zakharova: "Um punhado de donativos" é uma expressão estranha para o Secretário-Geral de uma organização que lida com questões globais. Deveríamos perguntar aos destinatários, aos países a que se destina este "punhado”, como o consideram e o que pretendem. Talvez António Guterres devesse ter perguntado a estes países antes de fazer declarações perante as câmaras de televisão? Talvez isso seja extremamente importante para eles.

Lembro-me de como a sala cheia de delegações africanas aplaudiu o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, quando disse que a Rússia tinha a intenção de fornecer aos países africanos necessitados géneros alimentícios russos a título de ajuda humanitária. É preciso ter cuidado com as expressões quando se trata de ações humanitárias, em que um país as realiza em relação a outros de forma exclusivamente gratuita, com o coração aberto e boa vontade. É preciso ter consciência de que um cargo tão alto obriga a ter cuidados com as declarações.

Haverá quem interprete e apresente esta frase de uma forma diferente. Por exemplo, que um "punhado" de funcionários do Secretariado da ONU não pode remediar as consequências dramáticas da destruição do sistema jurídico internacional. Isto abre a porta a uma retórica escandalosa. Acontece que os esforços feitos de acordo com os poderes e de boa vontade podem ser alvo de uma reação negativa. Não é preciso dizer isso a ninguém.

Fica-se com a sensação de que os "acordos de cereais", as "iniciativas do Mar Negro" - tudo isto foi elaborado devido à alegada incapacidade da Rússia de fornecer os alimentos e cumprir as suas promessas. Isso não é verdade. Penso que o Secretário-Geral da ONU sabe que não haveria qualquer problema com a entrega, venda ou doação de alimentos russos se não fossem as sanções ilegítimas do Ocidente, concebidas para bloquear completamente tudo o que vem do nosso lado, sem ter em conta as necessidades da comunidade mundial.

António Guterres deve endereçar as suas declarações patéticas aos países que, todos os meses, produzem pacotes de sanções ilegítimas, sem pensar nas consequências diretas e indiretas que daí advirão. A palavra "punhado" deveria ter-lhes sido aplicada. "Um "punhado" de países ocidentais criou pressupostos para as consequências dramáticas do fim do acordo sobre os cereais, tendo preparado, antes disso, o terreno para as consequências dramáticas que afetam a segurança alimentar mundial. Neste caso, "punhado" é a palavra que calha bem. A função do Secretariado da ONU é “repreender” os países que minam o sistema económico global e impõem sanções ilegítimas e explicar-lhes que as suas ações são destrutivas para a ONU e para o mundo em geral.

Não são as ações do nosso país que ameaçam a segurança alimentar. A Rússia está pronta a vender e a fornecer alimentos e fertilizantes como cargas humanitárias. Da nossa parte, nada mudou. Tudo o que agora ameaça a segurança alimentar global deve-se às ações do "Ocidente coletivo", à sua política irresponsável no domínio de alimentos, ecologia, fontes de energia, às suas especulações nos mercados, à sua incapacidade de ter em conta os indicadores económicos básicos. Alguns países ocidentais registam manifestações de crise, recessão, etc. Esta é uma ótima oportunidade para o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, fazer uma análise aprofundada às consequências e usar devidamente a palavra “punhado”.

Pergunta: Moscovo espera receber um convite para a próxima reunião sobre a "fórmula de paz" ucraniana na Arábia Saudita? Irá o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo acompanhar a situação em torno desta reunião?

Maria Zakharova: Já comentámos esta questão. Estamos em contacto com vários países que propõem iniciativas de paz. As reuniões convocadas por iniciativa do regime de Kiev e pelos seus patrões ocidentais para promover a "fórmula" de Vladimir Zelensky são um logro. Esta reunião não será uma conferência científica ou prática, nem um encontro de diplomatas para encontrar soluções políticas, mas sim uma tentativa de aproveitar as intenções sinceras de alguns países para criar uma coligação antirrussa. É um chamariz. Os países que estão sinceramente preocupados e que querem resolver a situação e evitar que um conflito na Ucrânia ganhe uma maior dimensão, estão a ser convidados para uma reunião dedicada alegadamente à "fórmula" de Vladimir Zelensky com o objetivo de "elaborar" uma espécie de iniciativa de paz. Mas é falso, é uma encenação. Sob o pretexto de conversar com os países que não são indiferentes, os ocidentais querem na verdade criar uma coligação antirrussa, mostrando que os países do mundo são unânimes em rejeitar as ações da Rússia.

Digo isto porque a "fórmula" de Vladimir Zelensky nada tem a ver com a paz e com o plano de paz. A Federação da Rússia tem declarado repetidamente que esta fórmula é inaceitável. Para nós, este "enredo” não funciona nem funcionará. Não faz sentido comentar a referida reunião e pensar que a Rússia nela participará.

As reuniões do gênero são uma tentativa do regime de Kiev de monopolizar o direito de apresentar iniciativas de paz. Todo o mundo já viu como o regime de Kiev reagiu de forma grosseira às iniciativas de paz avançadas pelos países ou políticos que não são indiferentes. Porquê reagiu deste modo? Porque não precisam de ninguém. Só querem dominar sozinhos, desvalorizar as propostas de mediação e humanitárias apresentadas por outros países. A "fórmula" de Vladimir Zelensky contêm coisas que nunca funcionarão.

Lembram-se da "fórmula" ocidental? Lutar até ao fim, nenhumas conversações de paz. O regime de Kiev foi impedido de realizar conversações, e depois proibiu-se a si próprio de as realizar. Não existe uma agenda de paz. O objetivo do Ocidente é matar o maior número possível de russos (conforme disseram George W. Bush e o Senador Lindsey Graham). O objetivo do regime de Kiev é matar o maior número possível de cidadãos ucranianos. É isso que eles estão a fazer. Para o efeito, criaram a "fórmula" de Vladimir Zelensky, que é obviamente irrelevante e não é aceitável em nenhum ponto. Estão a propagandeá-la em todo o mundo, rejeitando o que é oferecido pelos países, potenciais mediadores, que não são indiferentes.

O pseudo-plano de paz do regime de Kiev não tem, de facto, nada a ver com a paz. Consiste em ultimatos deliberadamente inaceitáveis. As exigências feitas à Rússia são impossíveis de cumprir e não serão cumpridas. Os seus autores compreendem-no perfeitamente e estão a usar esta iniciativa para justificar as ações militares do regime de Kiev e receber uma maior ajuda. Um nexo corrupto. Se essas reuniões ajudarem o Ocidente a aperceber-se do impasse da intriga com o plano de Vladimir Zelensky, não serão inúteis.

Pergunta: Há algum tempo, um tanque russo capturado foi exposto ao público em frente à embaixada russa em Berlim. A Rússia está a planear uma resposta adequada e colocará armas ocidentais capturados em frente às embaixadas dos respetivos países em Moscovo? Um tanque Leopard abatido em frente à embaixada alemã, um Bradley, em frente à embaixada dos EUA, um Challenger, em frente à embaixada britânica e veículos blindados de transporte de pessoal, em frente à embaixada francesa? Que material de guerra abatido a senhora colocaria em frente à embaixada da Polónia?

Maria Zakharova: A questão do material de guerra abatido e da sua exposição ao público em frente às embaixadas dos respetivos países deve ser endereçada ao Ministério da Defesa russo e às autoridades de Moscovo. Esta questão é da sua competência. Estamos cientes do desejo da sociedade de concretizar este plano. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo tem todo o direito de apoiar a vontade do povo. Nós utilizámo-la. No entanto, os aspetos práticos desta iniciativa (se for levada à prática) são da competência do Ministério da Defesa russo e das autoridades de Moscovo.

É inadmissível o que os países ocidentais se permitiram fazer ao expor ao público os tanques russos para gozar com os nossos antepassados e com a atual situação trágica em torno da crise ucraniana. Estas coisas não devem ser perdoadas, não por sermos vingativos ou por respondermos sempre em termos equivalentes. Antes, não respondíamos à altura. Refiro-me a outros métodos para mostrar que é possível viver de forma diferente, não tão selvagem como o "Ocidente coletivo" sugere. Há coisas que não podem ser perdoadas. Não é que fiquemos magoados, não é que queiramos mostrar a nossa superioridade ou ser sarcásticos, mas é preciso colocar as pessoas na atmosfera em que elas colocaram os outros para fazer com que elas se apercebam disso. Mas não o conseguirão fazer na totalidade. Não o conseguirão fazer. Afinal de contas, trata-se de material de guerra moderno.

Só posso dizer que, se uma ação do género tiver lugar, porquê deve realizar-se apenas em Moscovo? Temos nas nossas outras cidades consulados gerais e representações dos países hostis que fornecem equipamento de guerra à Ucrânia. Mas esta questão deve ser endereçada àqueles que vão organizar esta ação.

Quanto ao “equipamento de guerra concreto a ser exposto ao público”, esta pergunta não é para mim. Não sou especialista, esta questão deve ser endereçada àqueles que entendem do assunto e que vão implementar esta iniciativa.

Pergunta: Os meios de comunicação social alemães retratam a Cimeira Rússia-África como fracassada. Quais foram os principais resultados da Cimeira? A "COMPACT-TV" transmite diretamente na Alemanha, ultrapassando a censura ocidental.

Maria Zakharova: Penso que foi a Cimeira da NATO que falhou. Toda a gente foi lá. Para quê? Qual foi o resultado? Tudo terminou com um grandioso escândalo, demonstrando não só uma falta de entendimento entre os participantes, mas também a ausência de unidade nas suas fileiras. Mostraram a todo o mundo um ditador, um monstro criado com o dinheiro ocidental, mas recusaram-se a admiti-lo na NATO e num círculo de pessoas onde se conversa de igual para igual mesmo quando se aplicam regras protocolares. Este sim, foi um fracasso.

A Cimeira Rússia-África teve um sucesso e dimensão com que os países da NATO só podiam sonhar. Eu sei do que estou a falar, sei como as cimeiras se realizam hoje em dia. Normalmente, conforme o protocolo estabelecido, à porta fechada, seguidas de uma conferência de imprensa. No entanto, a Cimeira Rússia-África de 2023, em São Petersburgo, foi diferente e até revolucionária. Penso que esta foi a cimeira do futuro. Incluiu reuniões ao mais alto nível e uma exposição em frente ao edifício do Expoforum para mostrar o objeto dos acordos, contratos e futuras decisões. Se os jornalistas ocidentais se tivessem atrevido a escrever a verdade, teriam dito ao seu público como foi organizada a Cimeira. Permitam-me que vos apresente alguns factos e números.

Participaram na Cimeira as delegações oficiais de países africanos, com 27 países a fazerem-se representar pelos dirigentes máximos ou os seus vices. Participaram na Cimeira cinco grandes associações de integração africanas. Realizaram-se duas sessões plenárias.

Durante os debates, os relatores reafirmaram o seu compromisso de trabalhar em conjunto para construir uma nova arquitetura multipolar mais justa que se baseie na igualdade soberana dos Estados e numa cooperação mutuamente benéfica. Esta é uma importantíssima tese no mundo atual. Infelizmente, não a ouvimos em mais lado nenhum. Antes, ouvíamo-la nas organizações internacionais do sistema das Nações Unidas.

Atualmente, a ONU raramente utiliza palavras como justiça quando discute a futura ordem mundial. É lamentável. Raramente recordam o direito internacional ou falam em garantir uma verdadeira igualdade soberana dos Estados. A Cimeira reencarnou todos estes valores, demonstrando o quão muitos países e estruturas regionais os partilham só na vertente Rússia-África. Se os juntarmos aos países do Sul Global, teremos uma maioria global.

Durante a Cimeira, foram adotados cinco documentos fundamentais: quatro declarações (1, 2, 3, 4) e o Plano de Ação do Fórum de Parceria Rússia-África 2023-2026. Foram assinados dois documentos com as principais associações de integração africanas: o Memorando de Entendimento entre a Federação da Rússia e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD) sobre os Fundamentos das Relações Mútuas e da Cooperação e o Memorando de Entendimento entre o Governo da Rússia e a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) sobre os Fundamentos das Relações e da Cooperação.

Estiveram presentes nove mil participantes e dois mil jornalistas, entre os quais 400 a 500 repórteres estrangeiros. Para além da Rússia e países africanos, outros países estiveram também representados na Cimeira. Os homens de negócios estrangeiros vieram aos milhares. Havia mais de dois mil empresários russos, cerca de 1100 delegações oficiais estrangeiras. O programa incluiu 59 sessões de painel em que intervieram 457 relatores. Houve quatro temas principais: “A Nova Economia Global”, “Cooperação em Ciência e Tecnologia”, “A Esfera Humanitária e Social: Trabalhar em conjunto em prol de uma nova qualidade de vida” e “A Segurança Integrada e Desenvolvimento Soberano”. Realizou-se igualmente um fórum dos meios de comunicação social. Foram assinados 161 acordos. Foram concretizados um programa para a juventude e um programa cultural, um festival de cinema, um projeto gastronómico, etc.

Foi um verdadeiro fórum do futuro. É assim que se devem realizar eventos deste género, sem dividir os países em “belo jardim” e “selva”, sem segregar os povos por quaisquer motivos, sem atribuir rótulos ou avaliar a situação da democracia em países. Na Cimeira prevaleceu o espírito de igualdade e o desejo de conseguir o desenvolvimento pacífico, a justiça, rejeitar o colonialismo, o imperialismo e a discriminação racial sob todas as suas formas, de conseguir a soberania genuína e respeito mútuo com base no direito internacional, principalmente na Carta das Nações Unidas.

Pergunta: O Presidente da Rússia, Vladimir V. Putin declarou que a "Rússia e a África estão unidas por um desejo inato de defender a verdadeira soberania". Se o Presidente fala de uma soberania genuína, quererá isso dizer que os problemas de soberania da Rússia são semelhantes aos dos países africanos? Os organismos internacionais (por exemplo, o FMI) não nos classificam como país desenvolvido. O Ocidente quer transformar a Rússia, tal como os países africanos, numa colónia?

Maria Zakharova: Podemos dizer que temos problemas semelhantes, mas também temos experiências diferentes. Uma coisa não contradiz a outra. Pelo contrário, complementa a tese do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A nossa experiência histórica é diferente. O continente africano foi uma colónia para os países a que hoje chamamos "ocidentais" e que se chamavam antes metrópoles. "Comandavam" tudo em África: desde os recursos à vida das pessoas. E quando foram obrigados a abandonar o continente no processo de descolonização, criaram tantos problemas aos povos africanos "para o futuro" que muitos deles "continuam a sangrar" ainda hoje.

A Rússia não tem essa experiência. Nunca fomos colónia de ninguém. Ao mesmo tempo, o mais importante é que nunca fomos colonizadores. Mas temos um entendimento e uma visão comuns, não apenas da situação atual, mas também do passado. Apesar das nossas diferentes experiências, temos a mesma opinião sobre a inadmissibilidade do renascimento dos sistemas coloniais, do imperialismo, da reencarnação sob todas as formas de coisas como a discriminação racial e, em geral, qualquer discriminação (por motivos étnicos, cor da pele, geografia, língua, forma do crânio, etc.).

Houve épocas diferentes: vários séculos de colonialismo, subjugação de África às metrópoles, escravatura. A nossa experiência remonta ao século XX: havia planos de nos escravizar ou exterminar, se os planos de escravização não dessem certo. Estou a falar do nazismo e do fascismo que tinha por base a ideologia de segregação. Em África os motivos para a segregação eram a cor da pele, no nosso caso, a origem, a nacionalidade e a região. Estes são os nossos pontos de convergência.

A experiência que temos, em alguns aspetos diferente, noutros, semelhante, leva-nos hoje à compreensão de que a reencarnação da segregação de pessoas com base em qualquer princípio, da opressão de algumas pessoas por outros países, Estados, sistemas é inadmissível. Este é o caminho comum (creio que o percorremos juntos) da descolonização. Sem o papel da União Soviética, a descolonização não teria acontecido. Não se trata apenas de lutar e apoiar estes países na luta pela sua independência e autonomia. Trata-se também de os ajudar a estabelecerem-se após a independência.

Depois de terem sido colónias durante muitos séculos e de terem conquistado a independência, estes países poderiam ter perdido a sua independência devido aos inúmeros problemas criados pelos colonizadores quando saíram de África, devido à pobreza artificialmente criada, devido à "incipiência” política (na altura) desses países. Só o apoio de um amigo forte, poderoso e fiável (não vou usar o termo "parceiro" ou "player") era uma garantia de que manteriam a sua independência, não voltariam a perder a sua liberdade e se desenvolveriam a seu critério. Foi isso o que a União Soviética fez pelo continente africano. Tudo isto, em conjunto, dá-nos agora a possibilidade de ter uma opinião comum sobre a verdadeira soberania.


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